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quarta-feira, 18 de julho de 2018

CORONEL JOÃO BEZERRA - O COMANDANTE DA VOLANTE

https://www.youtube.com/watch?v=0XI_sxGev44

Publicado em 8 de mar de 2015

Prezados, saudações. É com muita alegria que disponibilizamos aos amantes da cultura nordestina, o primeiro trabalho áudio-visual totalmente dedicado à figura do Coronel João Bezerra da Silva, indubitavelmente, o comandante maior da volante policial alagoana, que no famoso combate da Grota do Angico, ocorrido no dia 28 de julho de 1938, pôs fim à "Era Lampião". Segue um pouco do histórico do documentário: Locações: Fortaleza, Recife e São Paulo Participações: Ângelo Osmiro e Antônio Amaury Depoimento In Memoriam: Cyra Britto Representando a família: Paulo Britto. Direção: Anne Ranzan (PE) & Renata Sales (CE) Produção e Apresentação: Charles Garrido Duração: 01:22:25 Agradecemos a todos que colaboraram em prol da consolidação dessa obra e desde já, pedimos a compreensão do público quanto às nossas limitações, pois não somos profissionais da área televisiva ou cinematográfica, mas sim, apenas pesquisadores e estudiosos do tema. Aceitamos críticas, sugestões e elogios. Entretanto, permitam-nos comunicar que, todo e qualquer comentário inserido será previamente analisado, caso algum fuja aos padrões, infelizmente será excluído, pois pautamos o respeito para com os componentes e personagens históricos que participam do vídeo. Seguimos uma ordem cronológica, inserimos cinquenta e três fotografias, dentre elas, vários documentos pessoais do militar. No final, uma surpresa, ouviremos um trecho da entrevista exclusiva (apenas em áudio) com João Bezerra, realizada pelo escritor Antônio Amaury, no ano de 1969, no município pernambucano de Garanhuns. Para um melhor aproveitamento, colocamos uma legenda sincronizada à fala do militar. Finalizamos citando que, o intuito maior é poder colaborar de alguma forma para o engrandecimento e divulgação dos temas, cangaço e volantes. Família Britto Bezerra & Charles Garrido
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A MORTE DE EZEQUIEL FERREIRA

Por João de Sousa Lima

Dia 11 de julho de 2018, eu, Sandro Lee e Nilton Negrito estivemos traçando um dos Roteiros do Cangaço em Paulo Afonso e demarcamos um dos mais famosos  pontos da história  em nossa região.Na Lagoa do Mel colocamos uma cruz marcando o local da morte de Ezequiel e onde também morreram 16 soldados.Essa ação faz parte do movimento Rota do Cangaço que eu e Sandro Lee estamos lutando há anos para tornar realidade em nossa cidade. Já pontuamos vários espaços onde houve histórias sobre o tema. Ainda falta alguns locais a serem delimitados para podermos finalizar esse projeto, que esperamos encerrar ainda em 2018.

PARA ENTENDER UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA SOBRE  O LOCAL ONDE ESTIVEMOS E ONDE MORREU EZEQUIEL, IRMÃO DE LAMPIÃO...

Um dos mais ferrenhos combates de Lampião na Bahia aconteceu em Paulo Afonso, no povoado Baixa do Boi. Nesse confronto morreu, a principio,  16 soldados  e posteriormente, em fuga e perdidos, morreram mais 3 policiais.

O cangaço era movido por tiroteios, mortes e ferimentos. Lampião foi grande estrategista e astucioso, com uma grande capacidade de pressentir o perigo que constantemente o rondava. O famoso cangaceiro vivia dividido entre os inúmeros combates e mesmo tendo desenvolvido uma quase perfeita estratégia de segurança, contando com o apoio dos numerosos coiteiros, tinha sempre a morte rondando seus dias e sofreu consideráveis baixas em seu contingente. Entre seus maiores dissabores ele sofreu trágicas perdas e ver alguns irmãos sucumbirem em combates sobre sua proteção, foi doloroso. No campo de luta ele viu três irmãos morrerem. O primeiro morto em combate foi o Livino ferreira da Silva, no ano de 1925, em um tiroteio acontecido na fazenda baixa do Juá, próximo a cidade de Flores, Pernambuco, com volantes paraibanas comandadas pelos sargentos José Guedes e Cícero de Oliveira. Livino faleceu oito dias após esse tiroteio, com 29 anos de idade.

Ezequiel e Virgínio

O segundo irmão a deixar o mundo dos vivos foi Antonio Ferreira, nascido em 1896 e morto em janeiro de 1927, na fazenda poço do ferro, Tacaratu, Pernambuco, propriedade do coronel Ângelo da Jia, em decorrência de um acidente ocasionado por Luiz Pedro, que disparou sua arma acidentalmente atingindo o próprio amigo. O terceiro morto em combate foi Ezequiel Ferreira da Silva, o mais jovem irmão, nascido em 1908. Ezequiel passou a acompanhar Lampião em 1927, junto com o cunhado Virgínio. Ele tinha o apelido de Ponto Fino, alcunha adquirida pela justeza do seu tiro. Sua morte aconteceu em Paulo Afonso, Bahia, no povoado Baixa do Boi, terras pertencentes na época a santo Antonio da Glória do curral dos Bois.

O tenente Arsênio Alves de Souza chegou ás imediações do povoado Riacho com uma volante composta por aproximadamente 20 soldados e tendo como guia os dois irmãos Aurélio e Joví, que eram fugitivos da cadeia de Glória, preso pelo inspetor de quarteirão, o senhor Pedro Gomes de Sá, pai da cangaceira Durvinha. A volante chegou ao povoado riacho no dia 23 de abril de 1931, trazendo entre seu aparato bélico uma metralhadora Hotchkiss. O primeiro contato do tenente no lugar foi com Zé Pretinho e o jovem foi forçado a seguir com os policiais. Cruzaram o terreiro de dona generosa Gomes de Sá, coiteira de Lampião e foram armar acampamento na Lagoa do Mel, um tanque construído por Antonio Chiquinho.

Tenente Ascenio

Sargento Leomelino Rocha

Enquanto a policia se preparava para passar a noite na lagoa do Mel, outras fontes confiáveis de informações de Lampião se dirigiam para o povoado Arrasta-pé para avisar ao Rei do Cangaço sobre a presença dos militares nas proximidades. Lampião mandou avisar Corisco e Ângelo Roque, que estavam arranchados bem próximos e junto com eles combinaram um ataque aos soldados.

Ainda com o escuro da noite, próximo ao amanhecer, Lampião recolheu alguns chocalhos com Pedro Gomes e seguiu as veredas que davam a cesso a lagoa do mel.No coito da policia, prestes a amanhecer, o Zé Pretinho saiu com o intuito de pegar um bode para fazer parte do desjejum de todos ali. Com a escuridão se transformando em luz, os soldados ouviram o tilintar de chocalhos e imaginaram que seriam os bodes se aproximando para beber água (um dos sobreviventes desse combate, o soldado José Sabino, ordenança do tenente, relatou, anos depois, que realmente confundiram os chocalhos, achando que eram alguns caprinos se aproximando para beber água na lagoa). Na verdade eram os cangaceiros cercando o coito.

Despreocupados, os policiais sofreram um forte e inesperado ataque, uma verdadeira chuva de balas caiu sobre eles. Vários corpos caíram atingidos por balas mortais e certeiras. A dificuldade encontrada pelos soldados foi que eles cometeram um grande vacilo. A lagoa do Mel era rodeada por uma cerca de varas e eles haviam dormido dentro do cercado. Quando eles tentavam transpor as madeiras se transformavam em alvo fácil e caiam mortalmente feridos. Um exemplo dessas mortes trágicas foi a do sargento Leomelino Rocha que morreu e ficou de pé pendurado nas madeiras. Em um dos bolsos desse sargento lampião encontrou um bilhete do coronel Petro indicando alguns locais onde ele se escondia.



O tenente Arsênio diante o desespero do momento, conseguiu efetuar uma rajada de metralhadora e acabou acertando a barriga de Ezequiel Ferreira. A arma depois emperrou e o tenente conseguiu retirar o percussor (ferrolho) da arma e fugiu levando a peça que deixaria a arma inutilizável. Nesse dia Lampião chorou amargamente a morte do irmão caçula e teve que enterrá-lo, com a ajuda de Antonio Chiquinho, próximo a Lagoa do Mel.Era a vida dos que viviam pelo poder das armas, que tombavam no dia a dia, pelo aço lacerante do pipocar das artilharias dos diversos grupos que traçaram as páginas do cangaço no nordeste brasileiro.

João de Sousa Lima
Paulo Afonso 12 de julho de 2018
https://joaodesousalima.blogspot.com/2018/07/a-morte-de-ezequiel-ferreira-as-cruzes.html
Membro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso – cadeira 06

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PADRE AGOSTINHO, CAPELÃO DO CARIRI CANGAÇO POR:RANGEL ALVES DA COSTA

Junior Chagas, Padre Mário e Padre Agostinho
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Agora em junho Poço Redondo e os sertões sergipanos e baianos tiveram o imenso prazer de conhecer Padre Agostinho. Mas quem é este homem calmo, pacífico, de voz mansa, que anda sempre carregando lembrancinhas religiosas para distribuir onde passa, que lentamente caminha para suportar uma pequena deficiência numa das pernas, que celebra missa aonde chega e anda de chapéu cangaceiro de canto a outro? 
Saibam, pois, que o Padre Agostinho Justino dos Santos é gigante, é grandioso, é imenso. Entronizado Capelão do Cariri Cangaço, Capelão aposentado da Marinha do Brasil, é Padre Católico e do mundo. Apaixonado pelo Nordeste, principalmente pela região do Cariri, abdica de estar no seu Rio de Janeira para cruzar caminhos nordestinos e sertanejos. 
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Ivanildo Silveira, Louro Teles e Padre Agostinho no Cariri Cangaço em Nazaré do Pico
Padre Agostinho e Caravana Cariri Cangaço no Edição de Luxo em Juazeiro do Norte
Padre Agostinho na Fazenda Patos, Cariri Cangaço Piranhas 
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Desde muito que atua fortemente no contexto histórico nordestino. Apaixonado pela história do Padre Cícero e pelas dioceses do Crato e de Juazeiro, transita entre as duas - e por toda a região - como um sacerdote respeitado e venerado. É, pois, a partir da Diocese de Juazeiro que o Padre Agostinho sai pelos carrascais nordestinos acompanhando o Cariri Cangaço. Não perde um evento sequer. A cada nova edição, mesmo na distância que for lá estará o Padre Agostinho acompanhado de um ajudante, também da diocese. 

A presença deste servo de Deus também a serviço da história, da cultura e das tradições, tornou-se fator marcante a cada evento do Cariri Cangaço. Alguns conselheiros deixam de comparecer, mas Padre Agostinho não. Uns e outros apaixonados pelas andanças do Cariri Cangaço até deixam de estar presente, mas Padre Agostinho não. Chega sem alarde, instala-se quase ocultamente, mas depois vai surgindo para o encantamento de todos.Em meios aos abraços pelos reencontros, em meio aos preparativos e correrias, de repente ele vai surgindo lentamente, calmo, paciente demais. “Oh Padre Agostinho, por aqui? Que bom revê-lo!”. E ele, sempre de sorriso leve, vai logo repassando um terço de boa sorte, uma fitinha do Padre Cícero, um calendário religioso, algo sempre valioso como dádiva sagrada de reencontro e recordação. 

Na manhã do último dia do Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, quando todos os participantes ou já tinham seguido ou estavam se preparando para seguir viagem, eis que o Capelão celebrava - ao lado do Padre Mário - a missa pelo aniversário de 78 anos de Alcino Alves Costa. Segundo ele, depois seguiria para Paulo Afonso, daí cortando outros caminhos até Juazeiro. Confessou-me que pagaria do próprio bolso o fretamento de um veículo até Paulo Afonso. 
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Padre Agostinho e a inauguração do Marco de Antonio Canela em Poço Redondo
Padre Agostinho e a benção diante do Marco da Cruz dos Nazarenos
Padre Agostinho a inauguração do Marco de Alcino Alves Costa
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Todas as igrejas abrem suas portas perante sua chegada. Todos os túmulos e cruzes da história se reconfortam perante sua presença. Ao ser perguntado sobre os motivos de usar chapéu cangaceiro e de abençoar os retalhos do passado, bem como celebrar a memória daqueles que a muitos causa ojeriza (como acontece com túmulos de cangaceiros), ele simplesmente afirma que todos foram seres humanos e, como tal, merecem a compaixão divina. Assim suas palavras, conforme citadas pelo conselheiro Raul Meneleu no artigo “O Padre e o Cangaço”: “Também os cangaceiros são filhos de Deus e merecem preces por suas aflitas almas, mesmo sendo injustos." (http://meneleu.blogspot.com/2015/08/o-padre-e-o-cangaco.html).

Foi neste sentido que abençoou as Cruzes dos Nazarenos na Maranduba e proferiu palavras acerca daquelas almas aflitas, comandando depois uma oração conjunta. No dia anterior, na baiana Serra Negra, após o almoço coletivo ele foi avistado recompensando com algum dinheiro as mulheres a serviço na cozinha. Apenas um reconhecimento pelo maravilhoso almoço, dizia ele. Pois bem. É assim o Padre Agostinho aonde chega e por onde passa. Convidado pelo Padre Mário para celebrar missa em Poço Redondo durante a próxima Festa de Agosto, do altar improvisado defronte ao Memorial Alcino Alves Costa, sorridente disse: “Estarei entre vocês, com fé em Deus!”. Seja bem-vindo, Padre Agostinho. Sempre. Em Poço Redondo e por todo o Nordeste, como assim será no Cariri Cangaço de São José do Belmonte.

E, desde já, rogo ao curador Manoel Severo e a todos os conselheiros Cariri Cangaço que além de Capelão o Padre Agostinho seja oficialmente reconhecido como Sacro Conselheiro do Cariri Cangaço.

Rangel Alves da Costa, Pesquisador e Escritor
Mantenedor do Memorial Alcino Alves Costa
Conselheiro Cariri Cangaço

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CRISTÃOS E MOUROS NA TRADIÇÃO DE SÃO JOSÉ DE BELMONTE

 Por Valdir José Nogueira

No século XIX e nas primeiras décadas do século XX a região do Pajeú foi cenário de episódios sangrentos protagonizado por membros das famílias Pereira e Carvalho. As mesmas davam nome às facções que disputavam o mando político em Flores, Serra Talhada e São José do Belmonte. 

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Pereiras e Carvalho (cristãos novos?) eram parentes. Pereiras militando no Partido Conservador; Carvalhos no Partido Liberal. Uns e outros, como era hábito no sertão, proclamando brasões e nobreza remota. No brasão dos Carvalhos predomina a cor azul, no brasão dos Pereiras predomina a cor encarnada.



O tempo vai longe das lutas de Carvalhos e Pereiras, porém, o embate entre azuis e encarnados ainda acontece anualmente em São José do Belmonte durante a festa da Pedra do Reino, através de uma das suas mais genuínas manifestações folclóricas; a Cavalhada. A Cavalhada resgata as históricas batalhas da população cristã contra as dramáticas investidas dos exércitos muçulmanos na Península Ibérica. No local do evento, 12 cavaleiros divididos entre mouros e cristãos, ricamente ornamentados encenam um belíssimo espetáculo com músicas específicas; carreiras eqüestres coreografadas e exercícios. 
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Rivais antigos, o encarnado e o azul se entrincheiram em campos diferentes. Encarnados, os mouros; azuis os cristãos. É justo que as gentes do Nordeste lancem mão desses símbolos ancestrais nas suas mais genuínas manifestações populares. As cores se perpetuam imortais nos seus significados, transparentes no que representam. Forte na questão cultural da cidade, a Cavalhada é algo tradicional entre a nossa gente, faz parte da história de São José do Belmonte.

Valdir José Nogueira
Pesquisador e escritor
Presidente da Comissão Organizadora do Cariri Cangaço São José de Belmonte

E vem aí, de 11 a 14 de Outubro...


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A 'TERRA DO CONDOR' TAMBÉM REMEMORA ANGICO PAULO AFONSO CANGAÇO - 80 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO E MARIA BONITA



Participe!

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TRIGÉSIMO OITAVO VÍDEO CANGAÇO - A MORTE DE CALAIS.

Por Aderbal Nogueira

MORTE DE CALAIS

https://www.youtube.com/watch?v=FNTidQvEJ2Q&feature=share

Publicado em 10 de jul de 2018

Cerco e morte do cangaceiro Calais.
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DAMIÃO: UM SANTO NO NORDESTE

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de julho de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1944

Estando aqui na bifurcação da Rua Delmiro Gouveia com a Rua Manoel Medeiros, Bairro Camoxinga, encontramos amigos diante da estátua de Frei Damião. Ainda na fila das restaurações, a imagem de fato é bem feita e ainda não foi motivo de ataques de quem não tem o que fazer. Ao contrário, mesmo não se encontrando em boa altura, constantemente é visitada por devotos que costumam deixar fitas coloridas nos seus braços, como motivo de promessas. Os amigos indagam e nós vamos respondendo de acordo com as nossas limitações, sobre o frade que se tornou brasileiro, pregador e santo do Nordeste. O local é um dos mais movimentados da cidade – tanto pelo dia, quanto à noite – e um dos principais pontos de referências do Bairro.
Frei Damião na Praça. (Foto: Clerisvaldo B. Chagas).
Nasceu Frei Damião de Bozanno, na aldeia de Bozzano, município de Massarosa, na Toscana, Itália, em 5 de novembro de 1898. Adaptado ao Brasil, fez o Nordeste vibrar com as suas Santas Missões, pregando, aconselhando, peregrinando em procissões e celebrando missas. Gostava das madrugadas quando era seguido pelas multidões em busca de conselhos e curas para seus males. Sua presença, anunciada, gerava expectativas enormes e, quando o frei se aproximava de qualquer cidade, o povo mesmo ia ao seu encontro em caravana de veículos. O espocar de fogos marcava sua presença, quase sempre trazendo chuvas em sua bagagem espiritual. As filas para confissões com o frade pareciam não ter fim.
Considerado por muitos como o sucessor do padre Cícero Romão Batista, Frei Damião conquistou os sertões nordestinos e parecia estar no canto certo, no tempo certo, da sua nobre missão na terra. Gostava de peregrinar por Alagoas onde sempre encontrava calorosas boas-vindas das multidões sertanejas. Já com o peso da idade, veio a falecer no dia 31 de maio de 1997, com quase 99 anos, causando grande comoção no Brasil. O seu corpo foi sepultado no Convento de São Félix, no Recife. Inúmeras estátuas de Frei Damião de Bozzano estão espalhadas pelos logradouros nordestinos. Aqui em Santana do Ipanema, era o mínimo que se poderia fazer pelo santo popular querido e respeitado.


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A BUCHUDINHA, A FOFOCA E UMA CIDADE QUALQUER

*Rangel Alves da Costa

A mocinha apareceu buchuda e a cidade inteira parou para tomar conta da vida dela. Como se fosse o fato mais estranho e inusitado do mundo, com nenhuma outra coisa a cidade passou a se preocupar.
Os pratos ficavam sujos na mesa, as roupas imundas estocadas num canto, as calçadas cheias de poeira, as panelas queimando no fogão, os remédios esquecidos, os filhos chorando com fome, até os banhos e os asseios eram deixados de lado.
Nada mais na vida importava. A única coisa que importava era a mocinha que de repente apareceu buchudinha. Parecia coisa de fim de mundo. Talvez nem o aparecimento de um disco voador ou de uma porca falante fosse mais interessante.
Portas e janelas abertas, esquinas tomadas de pessoas, calçadas cheias de vizinhos e outros, por todos os lugares os olhares furtivos, as bocas em segredos, as línguas ferinas. Os ares tomavam-se de olhos, bocas, ouvidos, de tudo o mais que servisse para alimentar a boataria.
Tudo de mais desonroso passou a tomar conta de tudo: fofocas, fuxicos, boatos estapafúrdios, disse-me-disse, calúnias, aleivosias, um festim de maledicências. Uma dizia uma coisa e na outra esquina já havia se transformado numa condenação ainda maior. Tudo semeado para ser bem pior.
E também tudo tão próprio de quem não tem o que fazer e deixa de tomar conta da própria vida para se arvorar da vida dos outros. Certamente que as conversinhas e as fofocas acontecem em todo lugar, mas ali parecia nutrir suas forças e sua vitalidade como imprestável, que é o tomar conta da vida dos outros a todo custo.
Enquanto isso, a mocinha andava de canto a outro como se nada daquilo estivesse ocorrendo. Bonita, perfumada, arrumadinha - e buchudinha. Caminhava toda faceira, toda cheia de vida e de formosura, parecendo que nada daquilo estava acontecendo. E para ela tanto fazia, pois bem sabia que vivia num antro de cobras ruins, de serpentes inescrupulosas e linguaradas.


Mas para o lugar era o fim do mundo que a mocinha tivesse aparecido buchudinha. “Como pode uma moça que nem namora aparecer assim?”. Indagava um. “Quem vê a santidade não vê o pecado”. Dizia outra. “Safadeza pura, quenquice deslavada”. Mais uma dizia. “Aí não sabe nem quem é o pai”. Alguém falou. “O pai deve ser qualquer um”. A outra concluiu.
E bota fofoca nisso: “Comadre, bem garanto que nem é o primeiro bucho que pega. Toda desconfiadinha e não vale nada. Já deve ser muito passada e bem passada”. Uma chegava dizendo. E a outra completava: “É o que dá criar fia pro mundo. Pai e mãe são pior do que a própria fia. Depois vai virar rapariga, não vai dar outra...”.
Num canto de calçada, debaixo de pleno sol do meio dia, outras comadres - esquecidas de que existia casa pra cuidar, comida a fazer e tudo o mais - iam cuspindo aleivosias e falsidades. Segundo uma, só podia ser coisa do fim do mundo mesmo, pois quem já havia visto uma virgem engravidar. Contudo, pura ironia em tais palavras. Num repente e todas caíram numa gargalhada só.
E assim a cidade foi se esquecendo de que existia para entrelaçar e remendar maldades acerca da buchudinha. Mas a mocinha nem aí. Continuava passando feliz, alegre, cantando, toda cheia de contentamento. Levava a mão à barriga, sorria, no olhar com que fazendo planos para o amanhã.
A falta de reação da buchudinha aos ataques causava indescritível ferocidade aos fofoqueiros e fofoqueiras. Decidiram então arranjar um responsável pela gravidez da mocinha. De solteiro a casado, de velho a novo, tudo foi inventado. Mas não surtiu nenhum efeito. “O que vamos fazer agora?”. Esta foi a preocupação da fofoqueira maior.
Queriam de qualquer jeito que a mocinha reagisse e, com tal reação, acabasse dizendo ao mundo o que somente a ela e a quem desejasse deveria saber. Também uma forma de alimentar ainda mais a indignidade daqueles que unicamente se comprazem com o que os outros fazem ou deixaram de fazer.
Então outra disse: “Deixar pra lá, é o jeito”. “Não, de jeito nenhum. Sabe que a gente não vive sem falar mal da vida dos outros. A gente tem de continuar falando mal sim”. A maledicência falando. Então a outra ajuntou: “Se é pra falar mal, então vou logo dizer que sua filha logo vai aparecer igualzinha àquela. Não vê macho que não dê em cima”. “O que? Repita isso sua sirigaita, sua rampeira...”.
E foi vestido rasgado, cabelo puxado, saia levantada, um rolo pelo chão. E a cidade inteira ao redor observando feliz. Logicamente que para depois ter o que falar. E a buchudinha vivendo apenas o seu mundo e de vez em quanto se perguntando: será um menininho ou uma menininha?

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