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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

NOVO LIVRO NA PRAÇA "O PATRIARCA: CRISPIM PEREIRA DE ARAÚJO, IOIÔ MAROTO".


O livro "O Patriarca: Crispim Pereira de Araújo, Ioiô Maroto" de Venício Feitosa Neves será lançado em no próximo dia 4 de setembro as 20h durante o Encontro da Família Pereira em Serra Talhada.

A obra traz um conteúdo bem fundamentado de Genealogia da família Pereira do Pajeú e parte da família Feitosa dos Inhamuns.

Mas vem também, recheado de informações de Cangaço, Coronelismo, História local dos municípios de Serra Talhada, São José do Belmonte, São Francisco, Bom Nome, entre outros) e a tão badalada rixa entre Pereira e Carvalho, no vale do Pajeú.

O livro tem 710 páginas.
Você já pode adquirir este lançamento com o Professor Francisco Pereira Lima ao preço de R$ 85,00 (com frete incluso) Contato: franpelima@bol.com.br 

fplima1956@gmail.com


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ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA


C O N V O C A Ç Ã O

A Diretoria da Associação dos Docentes da UERN – ADUERN/Seção Sindical do ANDES/SN, no uso de suas atribuições legais e regimentais, CONVOCA todos os professores da UERN para participarem da Assembleia Geral Extraordinária, que se realizará na Área de Lazer Prof. FRANCISCO MORAIS FILHO, no dia 23 de setembro de 2016, sexta-feira, em primeira convocação, com 20% do número de sindicalizados, às 08:30 horas, em segunda convocação com 10% do número de sindicalizados, às 08:45 horas, ou, em terceira e última convocação, com qualquer quorum, às 09:00 horas, oportunidade em que será apreciado o seguinte ponto de pauta:

1.     PARADA DO DIA 29 DE SETEMBRO

    Mossoró (RN), 20 de setembro de 2016

                            Prof. Lemuel Rodrigues da Silva
                                        Presidente

Jornalista

Cláudio Palheta Jr.
Telefones Pessoais :


(84)  88703982 (preferencial) 
Telefones da ADUERN: 

ADUERN
Av. Prof. Antonio Campos, 06 - Costa e Silva
Cep: 59.625-620
Mossoró / RN
Seção Sindical do Andes-SN
Presidente da ADUERN
Lemuel Rodrigues

Lázaro Emerson Soares - Mat. 08944-3
Agente Técnico Administrativo
Departamento de Geografia
Jionaldo Pereira de Oliveira
Chefe do Departamento de Geografia
Portaria 031/2016-GR

UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

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PRIMAVERA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2016 - Escritor Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.577

Vem chegando a nossa primavera. E quando falamos nossa, estamos nos referindo a primavera austral, ou seja, a do Hemisfério Sul. Por aqui, a estação tem início em 23 de setembro e termina em 21 de dezembro quando se inicia o verão.
   
Muitos estudos das estações do ano são interessantes, mas dificilmente professores de Geografia do Curso Médio, enveredam por determinados temas referentes a Astronomia. Movimentos do Sol, da Lua, dos planetas, cometas, marés, correntes marinhas e as periferias desses caminhos, quase sempre viram fantasmas das programações didáticas, saltados como brincadeiras de pular corda.

Quadro de Carl Larsson.
   
Para o rigor popular nordestino somente possuímos duas estações: verão e inverno. Época de verão, estio longo ou muito longo, sujeito às secas e às trovoadas. Tempo de inverno, chuvas fracas ou fortes muitas vezes seguidas de enchentes arrasadoras.
    
Na verdade, se observarmos bem, a primavera chega em todos os lugares, do litoral ao sertão, mostrando-se mais à vontade onde predominam os vegetais nativos. A Floresta Tropical resumida em reservas, recebe docemente e mostra a influência da temperatura amena. A vegetação de praia, mesmo com suas pequenas flores, pisadas pelos transeuntes glorifica o universo e são apontadas pelos mais atentos. Assim é o mangue, o agreste e a caatinga. É costume se falar sobre o início da primavera sertaneja, pelos próprios habitantes como: "Vai iniciar o verãozão!". De fato, a falta d'água no semiárido começa até mesmo no fim do inverno pegando a primavera e puxando na linha até o inverno do ano seguinte. Mesmo com a falta d'água, a Natureza não deixa de mostrar os sinais da estação nos arbustos, árvores, arvoretas, cactáceas e mato rasteiro. Tudo depende do modo de olhar os campos, assim como o modo de se olhar a vida. 
    
Cada florzinha formando os coloridos com outras flores, vai tentando amenizar os espinhos que nos furam os pés. A Craibeira, o Pau d'Arco, o Pereiro, mostram de longe o que recusamos a ver de perto. E vamos seguindo a nossa vida, muitas e muitas vezes avistando somente os garranchos queimados pela inclemência. Por que os garranchos são aquilos que carregamos e queremos ver. Nossa amarguras se perdem nas belezas discretas das pequenas flores que cercam o lajeiro ou nas flores brancas e compridas que cobrem os espinheiros. Cada um de nós transporta dentro de si a paisagem proscrita de qualquer uma das estações. A escolha é nossa.



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A REAL HISTÓRIA DO CANGAÇO SENDO RECUPERADA

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Os poetas, escritores, cineastas profissionais ou amadores, exercendo atividades criativas e técnicas, podem tudo. Podem contar a história como foi e é, mas também podem viajar na ficção, deixando que suas mentes vagueiem na criação de situações que nunca ocorreram, ou enfeitarem a narrativa e o visual, com a percepção ficcional. 

Já os historiadores e pesquisadores, ao fornecerem material colhido, devem ser isentos e registrarem literalmente o que ocorreu, deixando tudo como aconteceu, fazendo apenas a narrativa que encontraram, sem envolvimento emocional de pender para qualquer lado. Apenas a realidade do passado e presente interessa para tais.

Muitos livros trazem como objetivo principal trazer esclarecimentos considerados extremamente valiosos no que se refere à história. E na história do cangaço na época de Virgulino Ferreira da Silva, o célebre "Lampião", não pode ser diferente. Os historiadores e pesquisadores, de posse desse material, e que também se tornam escritores, devem mostrar o real papel de homens e mulheres envolvidos na saga, como bem o diz Manoel de Souza Ferraz, o Manoel Flor, um dos principais combatentes de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião; quando mostra que o cangaço "foi exaltado pela literatura popular sertaneja, mormente em sua forma mais difundida, a poesia. Nela, até os criminosos reconhecidamente empedernidos podiam ser glorificados nas ilusões do cancioneiro." - (1) ***

Trago aqui para os amigos, que não tiveram ainda a oportunidade de ler esse relato, desse bravo filho de Nazaré, que em seu depoimento referindo-se a essa veia poética que praticamente endeusava os criminosos, sabendo que o sertanejo tem uma grande simpatia por homens e mulheres valentes, chama-nos a atenção para a correção dessas narrativas desviadas da realidade. Vamos ao relato, retirado de suas memórias, pela professora, jornalista e escritora Marilourdes Ferraz em seu livro O Canto do Acauã - 2ª Edição:

Coronel Manoel de Souza Ferraz
"O trabalho aqui exposto revela a necessidade em trazer a público um depoimento que mude os conceitos, quase sempre distorcidos, impostos e disseminados sobre a era do cangaço no sertão do Nordeste. Esta urgência é justificada porque são poucos os sobreviventes que maiores participações tiveram nos acontecimentos e os quais se ressentem da deturpação dos fatos que viveram e presenciaram. Nosso objetivo é o de expor um relato, autêntico e verídico, daquele tempo conturbado, centralizando-o na região do rio Pajeú, em Pernambuco. O termo cangaceiro descreve um personagem de determinadas características que atuou no Nordeste; o termo engloba tanto o bandoleiro que formasse um grupo armado como o fazendeiro que possuísse a mesma atividade ou o simples agregado que defendesse os interesses do patrão por meio das armas. Sua principal característica era a valentia; era relevante que fosse ousado e mesmo insensato nos seus feitos. Os aspectos de valentia e coragem pertencem à admiração popular nas diversas culturas e épocas; também o cangaço foi exaltado pela literatura popular sertaneja, mormente em sua forma mais difundida, a poesia.

Nela, até os criminosos reconhecidamente empedernidos podiam ser glorificados nas ilusões do cancioneiro. Nas porfias entre grupos rivais o povo tomava partido como atualmente nos esportes e os entusiastas comentavam os últimos combates e defendiam com ardor apaixonado a facção que lhes parecia mais simpática. No sertão, naqueles tempos de enorme carência de apoio à população, principalmente no setor educacional e na estrutura jurídica que coibisse os abusos de poder do homem para com o seu semelhante, a criminalidade proliferou. 

Os habitantes dependiam do próprio valor pessoal para manter a sua integridade física e moral, e o uso amplo da força em seu pleno sentido já era estimulado na luta pela sobrevivência com a Natureza agressiva em tempo de estiagem. O grupo etário mais vulnerável a esse conjunto das influências era exatamente a infância, seguindo-se lhe a adolescência. Dependendo da intensidade dos diversos fatores e da orientação familiar poderia haver consequências desastrosas ou benéficas a vida dos moços. A estrutura básica para o fortalecimento do caráter e a formação da personalidade estava no lar, secundada pela orientação dos poucos mestres-escolas e dos religiosos que assistiam à população. Isso se tornou ainda mais notável na citada região do Pajeú, onde cresceram os irmãos Ferreira e os homens que os combateriam até o fim do ciclo. 

Os futuros grupos conflitantes, cangaceiros e policiais, receberam a mesma carga de influências culturais e do meio ambiente, frequentaram as mesmas escolas improvisadas ao ar livre e tiveram dificuldades como todos os sertanejos. Lampião conviveu e recebeu a mesma educação de muitos conterrâneos, mas com a vantagem de possuir sua família uma situação financeira bem melhor que a de inúmeros sertanejos. Assim, no estudo de sua adesão ao banditismo, é importante que haja uma análise dentro do contexto da época, da região e de sua conjuntura sociocultural. 

A personalidade agressiva e contraditória do famoso cangaceiro foi alimentada pelas variadas influências que também agiram sobre os seus contemporâneos. No decorrer dos anos a versão dos acontecimentos da época foi de tal modo deturpada, principalmente por motivos políticos e ideológicos, que se tornou comum atualmente uma profusão de mitos e inverdades, acarretando equívocas tentativas de explicar o personagem Virgulino Ferreira da Silva, em particular, e o contexto histórico-social que, indiretamente, representava. 

É difundida e alimentada a crença de que a Polícia executou nos sertões apenas o papel de verdugo em sua represália contra o banditismo; seus presumíveis atos de vandalismo teriam estimulado a proliferação de homens que, como Virgulino, se tornavam cangaceiros a fim de praticar justiça com as próprias mãos; por inexplicável ódio, o fazendeiro José Saturnino, pretextando o furto de um simples chocalho pelos jovens Ferreira, perseguiu-os com requintes de crueldade, forçando sua adesão ao mundo do crime como único caminho para a sua sobrevivência; que esses pacatos e ordeiros rapazes foram obrigados a lutas intermináveis contra as injustiças, lembrando Robin Hood a castigar os maus e ajudar os infortunados; e ainda que o povo sertanejo teria depositado enorme confiança naqueles "paladinos" da Justiça.

Tais incorreções foram alimentadas por deficiências na coleta e interpretação dos dados históricos e também por deturpação nos depoimentos fornecidos a alguns escritores que, por exemplo, chegaram a basear seu trabalho exclusivamente em versões de ex-cangaceiros ou de pessoas não possuidoras do necessário conhecimento dos fatos ou que os procuraram alterar em conveniência própria devido a estarem comprometedoramente envolvidos nos episódios da época, em detrimento de uma realidade mais ampla. 

Entretanto, não nos arrogamos na posse absoluta da Verdade nem procuramos rotular os cangaceiros de apenas bandoleiros ou transformar os soldados sertanejos que os enfrentaram em heróis isentos de erros; eram todos seres humanos e, como tais, vulneráveis equívocos e às forças que movem os povos e determinam a marcha da História; todos participaram de uma batalha de múltiplas origens e consequências, não sendo totalmente vilões ou totalmente santos muitos dos visados por preconceitos. 

Podemos, no entanto, afirmar com segurança que Virgulino Ferreira da Silva não foi obrigado por perseguições a adotar uma vida de banditismo; ao contrário, foi combatido por ter-se transformado em temível bandoleiro. Seu pai teve o fim precipitado pela turbulenta vida dos três célebres filhos. Antes que fosse muito tarde, Lampião recebeu conselhos e advertências e, o mais importante, o exemplo de numerosos habitantes da região em que vivia; contudo, fustigou-os de tal forma que os obrigou a se transformar de pessoas reconhecidamente pacíficas em arqui-inimigas do cangaço quando perderam a crença em sua sobrevivência sem os recursos da luta armada. 

Os irmãos Ferreira assaltavam indiscriminadamente e faziam conluios com pobres ou ricos para os mais diversos fins; os seus prisioneiros eram muitas vezes mortos com requintes de sadismo e a sua fúria não poupava idade ou sexo das vítimas; inúmeras famílias sofreram com a perda de seus haveres e entes queridos. Como Lampião conseguiu atravessar longos anos sem ser detido? Em consequência do secular abandono da região sertaneja, as autoridades governamentais não possuíam os meios adequados para encerrar em curto prazo tão calamitosa situação. 

A falta de estradas e meios de transporte, o reduzido número de policiais, o deslocamento de tropas de Estado para Estado, o alistamento de pessoas que não se adaptavam aos rigores da luta, foram algumas das dificuldades encontradas. Os sertanejos tiveram que, praticamente sós, iniciar e manter por longo período o combate a mais um dos flagelos que tão frequentemente os assolavam, enfrentando carência de abastecimento, munições e armamentos, às vezes comprados com seus soldos. 

As forças que combatiam o cangaço se compunham de unidades móveis denominadas "volantes", as quais realizaram verdadeira epopeia, anos a fio, em esgotantes travessias do sertão de vários Estados nordestinos. Entretanto, são hoje cada vez menos compreendidas em seu papel. Também a opinião popular, que exaltava os feitos de bravura da Polícia, do mesmo modo tendia a depreciá-la, fornecendo errôneas explicações da razão de ser da vida de bandoleiro de Lampião, como nos versos seguintes:

"Assim como sucedeu
Ao grande Antônio Silvino
Sucedeu da mesma forma
Com Lampião Virgulino
Que abraçou o cangaço
Forçado pelo Destino... 
Porque no ano de Vinte
Seu pai fora assassinado. . ." (2)

Certamente houve atos impensados por parte de policiais, mas não foram comuns e geralmente ocasionados pelas contingências da luta. A dureza da campanha e as condições em que se desenrolaram os combates podem explicar algumas dessas atitudes. Não se pode esquecer o indescritível desgaste físico provocado pelas marchas prolongadas e pelas emboscadas associadas à sede e à fome no semideserto sertanejo. 

A enorme dedicação dos soldados visava a que seus contemporâneos um dia usufruíssem da tranquilidade desejada. Muitos moços perderam a vida, outros a saúde física e mental; os verdes anos da juventude foram irremediavelmente gastos na luta. Apesar de tudo o que se diz, as pessoas de bem tinham confiança na atuação dos policiais. Isso é o que não pode ser omitido. Os erros de poucos não podem turvar a atuação de valorosos combatentes. Os que viveram os dias difíceis daquela época não poderiam mais calar ante as injustiças cometidas pelos que tentaram enlamear o sacrifício dos bravos componentes das Forças Volantes."

Do depoimento de Manoel de Souza Ferraz (Manoel Flor) 
(1) O Canto do Acauã - Introdução
(2) Luiz da Camara Cascudo, cita essa ode para Virgulino Ferreira, pg 162 de Vaqueiros e Cantadores. onde o restante da exaltação diz:

Por que no ano de Vinte
seu Pai fora assassinado
da rua da Mata Grande,
duas léguas arredado.
Sendo a força de Polícia
Autora deste atentado ...

Lampeão desde esse dia
jurou vingar-se também,
dizendo: — foi inimigo,
mato, não pergunto a quem...
Só respeito neste mundo
Padre Cisso e mais ninguém! ...

*** Vejam o artigo Cangaceiro e Cordel onde avalio que "O povo sertanejo nunca admirou criminosos. Algumas pessoas são enganadas por aqueles que querem "branquear" a história de bandidos e querem confundir os incautos com a admiração que o sertanejo tinha e tem por homens valentes."

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/09/a-real-historia-do-cangaco-sendo.html

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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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A INVENÇÃO DO SUPÉRFLUO

*Rangel Alves da Costa

Vem da Bíblia a primeira afirmativa da rejeição ao supérfluo, ao dizer que Adão e Eva viviam nus, mesmo na presença de Deus. Somente após o pecado é que procuraram encobrir suas vergonhas com folhas de figueira e mais adiante com um tipo de avental de couro. Continuavam descalços e sem quaisquer outros objetos. Quer dizer, usava-se o mínimo possível de vestimenta e ainda assim vestindo o suficiente para toda e qualquer situação.

E o que dizer do homem da caverna com suas tiras de couro sobre o corpo? Mas nada igual ao índio, principalmente o nativo brasileiro, que sempre viu na nudez sua melhor roupa. Diferente era andar vestido, feio era querer encobrir aquilo que era tão natural ao ser humano, pois o seu próprio corpo. E ainda hoje muitos povos da floresta preservam o hábito da nudez em todos os instantes de vida. Certa feita perguntaram a um velho cacique por que viver assim, com as partes íntimas à vista de todos. Ao que ele respondeu: Usar roupa é ter vergonha do próprio corpo.

E por muito tempo foi defendida a ideia de o homem viver em estado natural, ou em estado de natureza. Em alguns pensadores acentua-se a defesa da premissa de que ao homem bastaria o suprimento de suas necessidades, sem a preocupação com posse, poder, propriedade ou paixões. Essa falta de senso materialista torna-se fundamental para o convívio harmonioso, baseado na igualdade e na fraternidade. Ao quebrar este estado, será o individualismo e a competição que passam a impor as regras sociais.

Nas observações acima, uma sucinta demonstração de que o ser humano bem poderia viver sem tanto lançar mão de usos e acessórios, de quinquilharias e bugigangas por cima do corpo e sem o afã de expressar imponência e riqueza. Fugindo do apenas necessário, logo buscou além da necessidade para depois chegar ao supérfluo. E a existência inteira foi se transformando numa intensa procura de futilidades. Coisas sem serventia, inutilidades, tudo isso fazendo parte dos anseios consumistas arraigados nos povos.


O supérfluo, porém, não é tão supérfluo assim. Ao menos nas suas imposições. Impôs suas regras, costumes e até leis. É passível de tipificação como atentado violento ao poder aquele que andar nu ou mostrar suas partes íntimas. É socialmente inaceitável a pessoa conviver usando somente tanga de folhas para encobrir as vergonhas. Tem-se como feia a roupa rasgada, carcomida e desbotada pelo uso. A pobreza e a miséria são desprezíveis a muitos, a pouca comida ou o nada ter é inaceitável a tantos. E assim porque o esbanjamento tomou o lugar da medida e da necessidade.

Ante tamanha valorização do desnecessário e do acúmulo de inutilidades, não há outra coisa a afirmar senão que a vida do ser humano passou a ser totalmente conduzida e mantida através de supérfluos, até mesmo perante classes empobrecidas. Comer o que geralmente se come é supérfluo, andar vestido é supérfluo, a maioria das moradias é supérflua, o casamento é supérfluo, a lei é, em muitos casos, é supérflua. Além de que todo luxo, modismo e materialismo do mundo pode ser visto como dispensável à vida.

Mas por que supérfluo, logo vem a indagação. O primeiro entendimento se revelará através dos conceitos e definições. Segundo os livros e dicionários, supérfluo é o desnecessário, o que é inútil ou pode ser descartado. É o que se mostra demasiado, que ultrapassa a necessidade, que é mais do que se necessita. Ou mesmo aquilo que nunca se necessita mas que a pessoa insiste em ter por vaidade ou luxo. Além do diamante, também o rubi, as joias de mais puro quilate. Não se viveria sem tais luxos?

Qual essencialidade há na vida, sobrevivência e subsistência, uma roupa de marca, uma bijuteria de grife, um prato de cardápio refinado, um carro importado, uma caneta de ouro e uma gravata caríssima? Qual a real necessidade de o ser humano gastar uma fortuna em passeios ao exterior, utilizar somente vinhos e iguarias importadas, viver de etiquetas e não do conforto, colocar cifras espantosas na sola de um sapato?

Contudo, são tais supérfluos que alimentam a vida de muitos. As vaidades e os egoísmos são tantos e tão exagerados que se renega até tudo que é nacional, de fabricação brasileira, para privilegiar somente o importado. Torna-se feio tomar um café em botequim, comer um pão com salame, experimentar um cachorro quente de rua, pedir um pacote de pipoca. Daí os shoppings, as importadoras, as lojas especializadas em estrangeirismos. Mas qual a necessidade de ser assim?

Há um conceito econômico denominado consumo supérfluo. E este seria o consumo de bens e serviços dispensáveis. No mundo consumista, as pessoas gastam enormes quantias em produtos que não são essenciais e poderiam muito bem deixar de serem adquiridos. Mas assim fazem porque o vizinho faz, a televisão mostra, a sociedade exige. O dinheiro, que hoje se tem como necessário, até que falta, mas o consumismo supérfluo jamais. Endivida-se pelo nada, pelo absolutamente desnecessário.

Escritor
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UM ENCONTRO DE GENTE FINA

Por Guilherme Machado

Encontrei na Bahia, exatamente na cidade de Acajutiba Bahia a professora aposentada dona Terezinha Gouveia Costa da Silva. Nascida na cidade de Santa Luz Bahia. Professora Terezinha é sobrinha do sargento Evaristo Carlos Costa a quem Lampião lhe preservou a vida em 1929, ao invadir a cidade de Queimadas, onde o sargento Evaristo era o chefe do destacamento militar, o mesmo que delegado.

Sargento Evaristo Carlos


Dona Terezinha se mudou para a cidade de Serrinha nos anos 70 para se dedicar ao ensinamento público, tendo lecionado em quase todo colégio municipal e estadual de serrinha. Citou vários nomes valiosos da educação serrinhense como professora Nolay, professora Brizolara, professora Clarice, professora. Nazaré, professora Angélica e muitas outras...!!!

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UM GUERREIRO VISIONÁRIO, DESTEMIDO E INTELIGENTE:

Por Virgulino Ferreira da Silva

Eles faziam do assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular “saboneteira” – da vítima. A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada, produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço. Quando não matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis, para que as marcas da violência servissem de exemplo. Desenhavam a faca feridas profundas em forma de cruz na testa de homens, desfiguravam o rosto de mulheres com ferro quente de marcar o gado.

Exatos 78 anos após a morte do principal líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a aura de heroísmo que durante algum tempo tentou-se atribuir aos cangaceiros cede terreno para uma interpretação menos idealizada do fenômeno. Uma série de livros, teses e dissertações acadêmicas lançados nos últimos anos defende que não faz sentido cultuar o mito de um Lampião idealista, um revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a injustiça do sertão nordestino. Virgulino não seria um justiceiro romântico, um Robin Hood da caatinga, mas um criminoso cruel e sanguinário, aliado de coronéis e grandes proprietários de terra. Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje sequestram, matam e corrompem nas grandes metrópoles do país.


Foram Lampião e os cangaceiros que introduziram o sequestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Mandavam cartas, nas quais exigiam quantias astronômicas para não invadir cidades, atear fogo em casas e derramar sangue inocente. Ofereciam salvo-condutos, com os quais garantiam proteção a quem lhes desse abrigo e cobertura, os chamados coiteiros. Sempre foram implacáveis com quem atravessava seu caminho: estupravam, castravam, aterrorizavam. Corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.

“A violência é mais perversa e explícita onde está o maior contingente de população pobre e excluída. Antes o banditismo se dava no campo; hoje o crime organizado é mais evidente na periferia dos centros urbanos”, afirma a antropóloga Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora do livro A Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão. A professora aponta semelhanças entre os métodos dos cangaceiros e dos traficantes: “A maioria dos moradores das favelas de hoje não é composta por marginais. No sertão, os cangaceiros também eram minoria. Mas, nos dois casos, a população honesta e trabalhadora se vê submetida ao regime de terror imposto pelos bandidos, que ditam as regras e vivem à custa do medo coletivo”.

Além do medo, Lampião exercia fascínio entre os sertanejos. Entrar para o cangaço representava, para um jovem da caatinga, ascensão social. Significava o ingresso em uma comunidade de homens que se gabavam de sua audácia e coragem, indivíduos que trocavam a modorra da vida camponesa por um cotidiano repleto de aventuras e perigos. Era uma via de acesso ao dinheiro rápido e sujo de sangue, conquistado a ferro e a fogo. “São evidentes as correlações de procedimentos entre cangaceiros de ontem e traficantes de hoje. A rigor, são velhos professores e modernos discípulos”, afirma o pesquisador do tema Melquíades Pinto Paiva, autor de Ecologia do Cangaço e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Lampião sempre afirmou que entrou na vida de bandido para vingar o assassinato do pai. José Ferreira, condutor de animais de carga e pequeno fazendeiro em Serra Talhada (PE), foi morto em 1921 pelo sargento de polícia José Lucena, após uma série de hostilidades entre a família Ferreira e o vizinho José Saturnino. No sertão daquele tempo, a vingança e a honra ofendida caminhavam lado a lado. Fazer justiça com as próprias mãos era considerado legítimo e a ausência de vingança era entendida como sintoma de frouxidão moral.

No mesmo ano de 1921, Virgulino Ferreira entrou para o grupo de outro cangaceiro célebre, Sebastião Pereira.

Exímio estrategista, Lampião distinguiu-se pela valentia nas pelejas com a polícia, como em 1927, em Riacho de Sangue, durante um embate com os homens liderados pelo major cearense Moisés Figueiredo. Os 50 homens de Lampião foram cercados por 400 policiais. O tiroteio corria solto e a vitória da polícia era iminente. Lampião ordenou o cessar-fogo e o silêncio sepulcral de seu bando. A polícia caiu na armadilha. Avançou e, ao chegar perto, foi recebida com fogo cerrado. Surpreendidos, os soldados bateram em retirada.

A capacidade de despistar os perseguidores lhe valeu a fama de possuir poderes sobrenaturais e, após escapar de inúmeras emboscadas, de ter o corpo fechado. No mesmo mês da tocaia de Riacho de Sangue, Lampião e seu bando caíram em nova emboscada. Um traidor ofereceu-lhes um jantar envenenado, numa casa cercada por policiais. Quando os primeiros cangaceiros começaram a passar mal, Virgulino se deu conta da tramoia e tentou fugir, mas viu-se acuado por um incêndio proposital na mata. O que era para ser uma arapuca terminou por salvar a pele dos cangaceiros: desapareceram na fumaça, como por encanto.

Mas o maior trunfo de Lampião foi o de cultivar uma grande rede de coiteiros. Isso garantiu a longevidade de sua carreira e a extensão de seu domínio. A atuação de seu bando estendeu-se por Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Lampião chegou a comandar um exército nômade de mais de 100 homens, quase sempre distribuídos em subgrupos, o que dava mobilidade e dificultava a ação da polícia. Em 1926, em tom de desafio e zombaria, chegou a enviar uma carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, propondo a divisão do estado em duas partes. Júlio de Melo que se contentasse com uma. Lampião, autoproclamado “Governador do Sertão”, mandaria na outra.

Punia indivíduos do bando que violentavam mulheres, castrava inimigos, como faziam outros tantos envolvidos no cangaço. Há controvérsias. “Lampião não era um demônio nem um herói. Era um cangaceiro. Muitas das crueldades imputadas a ele foram praticadas por indivíduos de outros bandos.

As narrativas de velhos cangaceiros contrapõem-se à versão publicada pelos jornais da época, que geralmente tinham a polícia como principal fonte. Com tantas histórias e estórias a cercar a figura de Lampião, torna-se difícil separar o homem da lenda. “Acho que está justamente aí, nessa multiplicidade de olhares e versões, a grande força do personagem que ele foi. É isso que nos ajuda inclusive a entender sua dimensão como mito”.

Lampião não era um revolucionário. Sua vontade não era agir sobre o mundo para lhe impor mais justiça, mas usar o mundo em seu proveito”, afirma a também a historiadora Grunspan-Jasmin, fazendo coro a um dos maiores especialistas do cangaço da atualidade, Frederico Pernambucano de Mello. Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e autor de Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Mello diz que o cangaceiro e o coronel não eram rivais. Os coronéis ofereciam armas e proteção aos cangaceiros, que, em troca, forneciam serviço de milícia. Dois dos maiores coiteiros de Lampião foram homens poderosos: o coronel baiano Petronilo de Alcântara Reis e o capitão do Exército Eronildes de Carvalho, que viria a ser governador de Alagoas. “Aprecio de preferência as classes conservadoras: agricultores, fazendeiros, comerciantes”, disse Virgulino em uma entrevista de 1926.

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X ARCO DAS CIÊNCIAS DO ESPAÇO EDUCACIONAL " ARCO-ÍRIS" , SUPERA ANOS ANTERIORES.

Por José Ronaldo Leite (Zé Ronaldo)

No dia 16 do corrente mês e ano de 2016, O Espaço Educacional "Arco-Íris" , situada em Pombal cidade interiorana do sertão da Paraíba realizou com maestria mais uma Feira De Ciências onde professores e alunos promoveram para o público, e pais presentes diversas atividades lúdicas, geográficas, históricas, cientificas, esportivas, literárias e artísticas, proporcionando lazer e informação ao público presente. Dentre as atividades desenvolvidas, foram apresentadas espetáculo de dança, recital poético, lendas folclóricas pelos pequeninos, exibição de stands com os seus referidos temas, Maquetes elaboradas que demonstraram com precisão os temas abordados em sala de aula, saindo assim das quatro paredes e interagindo com a população pombalense.


O Espaço Educacional "Arco-Íris", fez o uso ainda da elaboração estética em se tratando dos stands bem como o uso de placas personalizadas, cartazes, painéis cordéis também fizeram parte da programação, que contou ainda com a participação da Comunidade Remidos dando a benção inicial, com o objetivo de socializar o ensino aprendizagem das atividades desenvolvidas na escola juntamente ao espirito fraterno, a fé em Deus criador.

Os Diretores da Escola "Valdo e Jessé", sentiram-se felizes com os alunos e equipe que participaram das atividades com interesse e criatividade sob a orientação da supervisora " Maria Beatriz" . “Os alunos trabalharam de forma interativa durante o ano letivo com os assuntos relacionados aos temas trabalhados em sala de aula para que tudo viesse a acontecer com tamanho brilho. Parabéns a todos !!!

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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P R O F E S S O R B E N E D I T O LANÇA LIVRO SOBRE SUA VIDA


O Professor Benedito Vasconcelos Mendes lançará  amanhã, dia 22, quinta-feira (22-09-2016), às 18 horas, em Natal, na Academia Norte-rio-grandense de Letras seu novo livro "História da Minha Vida Profissional".


O Professor  Benedito Vasconcelos Mendes é Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Conferencista, Escritor, Cientista e  grande conhecedor do Semiárido nordestino, tendo publicado 22 livros, sobre os mais variados temas ligados ao homem e ao ambiente físico da área seca do Nordeste do Brasil, e agora brinda os seus leitores com um livro sobre sua vida profissional. 


Exerceu o magistério universitário na ESAM e na UERN. Dirigiu importantes instituições de ensino e pesquisa, como ESAM (hoje UFERSA), Fundação Guimarães Duque (Fundação de Pesquisa da UFERSA), CEMAD (antigo centro de pesquisa da UERN), EMPARN, EMBRAPA MEIO-NORTE (com atuação no Piauí e Maranhão) e Superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Norte. É o atual Presidente do Instituto Cultural do Oeste Potiguar-ICOP, Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço-SBEC e Curador do Museu do Sertão de Mossoró. 


Pertence a muitas Academias de Letras de vários Estados, inclusive a Academia Norte-rio-grandense de Letras. É Sócio dos Institutos Históricos e Geográficos do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. Foi um dos fundadores da Academia Mossoroense de Letras-AMOL e da Academia Norte-rio-grandense de Ciência-ANOCI. 

Em nível nacional, ocupou, também, a Presidência da Sociedade Brasileira de Fitopatologia  e da Sociedade Brasileira de Nematologia, quando se revelou exímio palestrante e se tornou conhecido no meio Agronômico brasileiro, por suas cativantes palestras. 

É um dos mais importantes estudiosos do homem e da terra nordestina, tendo escrito inúmeros e importantes livros sobre o clima, os solos, os recursos hídricos, a fauna, a vegetação e sobre o homem sertanejo.

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MARIA BONITA E LAMPIÃO EM TELA

Arte de Adriano Santori

Boa noite, rapaziada! Sou potiguar, leitor das coisas do cangaço e pintor. Fiz ultimamente este trabalho em óleo sobre tela sobre o Capitão Virgulino e Dona Maria do Capitão. (Foto: detalhe)


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O DRAMA DE SANGUE ENTRE A PROSTITUTA E O CANGACEIRO EM CAMPINA GRANDE

AMÉLIA E O CANGACEIRO SERROTE

Autor – Rostand Medeiros

As primeiras décadas do século XX foram tempos bem difíceis para qualquer mulher no Brasil. Era um período estranho, insatisfatório, cheio de aspirações ingratas em meio a uma sociedade dominada pelos homens.

Amélia

Era um tempo onde a mulher era vista como uma criatura diferente, onde se ofuscou suas qualidades e habilidades, onde o padrão duplo de moralidade privilegiava os homens no que se referia a absolutamente tudo[1].

O cangaceiro Serrote

Quem ainda tinha pais que se esmeravam em dar as suas filhas alguma educação, proporcionada por uma melhor condição financeira e social, poderia fazer esta jovem sonhar em ser uma professora, praticamente a única profissão aceita para as moças ditas de boa família.


Já quando uma mulher vinha de uma classe menos abastarda e a educação e os recursos eram limitados, ela poderia almejar ser uma empregada doméstica, trabalhando em condições desprezíveis e com salários miseráveis. Isso quando recebiam salário![2]


Permanecer solteira era considerado uma verdadeira desgraça e aos trinta anos uma mulher que não fosse casada já era chamada de velha solteirona.

Foto ilustrativa que mostra a diferença do padrão de vestuários entre homens e mulheres no início do século XX no Brasil. Percebemos que até na vestimenta as mulheres seguiam rígidas normas – Fonte – José Valdir Nogueira, de Belmonte-PE

E estando nesta condição, como essas mulheres sobreviviam depois que seus pais morriam? O que elas podiam fazer? Para onde poderiam ir?

Se tivessem um irmão, ou uma irmã com um cunhado benevolente poderia viver em suas casas, como hóspedes permanentes e indesejados. Ou então se tornavam freiras, o que às vezes nem era tão simples.

A típica filha de “boa família” – Fonte – – Fonte – Enciclopédia Nosso Século, Livro 1 – 1900/1910, Editora Abril, 1980, pág. 29.

Diante da pouca importância social dada as mulheres naquela sociedade arcaica, cedo as jovens brasileiras compreendiam que a instituição do casamento era única porta aberta para uma vida que fosse respeitável, pretensamente mais segura e menos difícil. 

Seguindo essa linha de pensamento, muitos pais acreditavam que uma educação séria para suas filhas era algo supérfluo. Sendo assim os bons modos, prendas domésticas e saber cuidar dos filhos e do marido seriam o suficiente para elas. Este era um pensamento comum, onde aprender aritmética não ajudava as filhas a encontrar um bom partido[3].

O cotidiano dessas mulheres então se baseava quase que totalmente nos afazeres domésticos. Muitas delas não tinham interesse para a instrução e a consciência de mudança através do conhecimento era quase inexistente.

Prostituta do início do século XX no Brasil – Fonte – Enciclopédia Nosso Século, Livro 1 – 1900/1910, Editora Abril, 1980, pág. 29.

Mas está casada por si só não era garantia alguma de estabilidade e uma vida sem privações. Neste contexto certamente não poderia haver nada de pior, de mais terrível, se algumas destas mulheres casadas fossem abandonadas pelos seus companheiros[4].

Nesse caso, se a mulher abandonada não tivesse uma estrutura familiar preparada para lhe apoiar, ficaria exposta à miséria. Mas é bom lembrar que naquela época a maioria das mulheres abandonadas pelos companheiros era terrivelmente discriminada pela família e pela sociedade.

Em 1912 o fotógrafo americano John Ernest Joseph Bellocq se aventurou por Storyville, o distrito da “luz vermelha” de New Orleans. Mas ele estava lá apenas pelo trabalho. Bellocq nunca conseguiu publicar as imagens, que só foram descobertas muito tempo após a sua morte. Lee Friedlander foi quem as encontrou em uma pasta empoeirada no velho estúdio do fotógrafo. Ele cuidou para que eles fossem impressos e liberados ao público – Fonte -https://www.ideafixa.com/as-prostitutas-de-new-orleans-em-1900/

Para muitas mulheres então a única maneira de não passar fome naqueles tempos duros era a prostituição (do latim “prostituere”: “colocar diante”, “à frente”, “expor aos olhos”)[5].

Os homens acreditavam (e muitos ainda acreditam) que as prostitutas vendiam seus corpos em um ato livre de busca pelo prazer, apenas para satisfazer seus desejos carnais, suas taras. Esquecendo que estas mulheres eram (e ainda são na maioria dos casos), impulsionadas à prostituição devido a elementos de diversas ordens.

Marinheiros norte-americanos negociando com prostitutas em um prostíbulo do Rio de Janeiro no início do século XX – Fonte – Fonte – Enciclopédia Nosso Século, Livro 1 – 1900/1910, Editora Abril, 1980, pág. 28.

Entre outras causas estavam as deficiências no meio familiar (era comum o fato de muitas mulheres terem sido violentadas pelos membros da sua própria família), ou uma gravidez inesperada com a consequente expulsão de casa e a falta de capacitação para desenvolver uma profissão que lhe sustentasse. Assim a prostituição em troca de favores, de sobrevivência, revelou-se uma opção[6].

A Mulher Livre de Campina Grande

Estudiosos e pesquisadores acreditam que as características de como se apresenta nos dias atuais aquela que é considerada “a profissão mais antiga do mundo”, é um resultado direto do desenvolvimento urbano. E o Brasil do início do século XX, não obstante ainda possuir sua economia atrelada basicamente a produção rural, começou a viver uma nova fase de sua história econômica.

Décadas antes havia sido extinta a estrutura escravista e as primeiras práticas capitalistas tornavam-se presentes no meio econômico do país. Logo essas mudanças ocasionavam profundas alterações nas relações sociais em algumas regiões do Brasil, modificando substancialmente muitos núcleos urbanos[7].

Luz elétrica em Campina Grande no ano de 1912 – Fonte –http://karinamariahistoria.blogspot.com.br/2012/05/luz-eletrica-na-paraiba.html

É uma cidade chamada Campina Grande, localizada no interior da Paraíba, aproveitou soberbamente as mudanças que surgiram no horizonte econômico do país e mudou para sempre a sua história, tornando-se uma referência no Nordeste do Brasil.

A história desta urbe possui características similares a criação de muitas localidades nordestinas no final do século XVII – Uma pequena propriedade agropecuária que gradativamente vai ampliando sua população na medida em que ocorre o seu desenvolvimento econômico. Mas no caso de Campina Grande a sua criação certamente foi acompanhada de uma interessante percepção geográfica dos seus criadores, pois o lugarejo estava fadado a se tornar um grande entreposto comercial da região.

Conforme o lugarejo crescia ele tornou-se um ótimo ponto de apoio para pessoas que se deslocavam entre o litoral e o interior da província, além de ser um bom ponto de parada para aqueles que negociavam produtos como carne, roupas de algodão e farinha. Campina Grande começou a ter em 1790 um governo formal, constituído por um conselho da cidade e um cartório.

Imagem de Procissão em 1912 na Rua Maciel Pinheiro, em Campina Grande – Fonte – Acervo do Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande /http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/index.php/processo-seletivo/category/14-dissertacoes-2012?download=109:joao-paulo-franca-cidade-e-imagens-cronicas-visuais-das-ruas-de-campina-grande-pb-1900-1950

Embora existisse muita atividade comercial, havia muito pouca construção real de casas e prédios do governo, tanto que no final do século XIX a cidade só possuía cerca de 500 habitações. O desenvolvimento da localidade foi estimulado pelo crescimento da indústria regional de algodão e a introdução da ferrovia, tanto como via de escoamento deste produto agrícola, como via de chegada de produtos manufaturados mais baratos e variados que impactaram a economia local de forma radical. Isso tudo causou a transformação de uma pequena aldeia com cerca de 2.800 pessoas em 1872, para uma movimentada cidade com 38.303 habitantes em 1900[8].

E é em meio a essa cidade pulsante, em franco crescimento em uma região pobre, onde o dinheiro é presente e circulante, que vamos encontrar no ano de 1915 a jovem Amélia Mendes da Silva.

Esta é uma mulher que naquele ano tinha 28 anos de idade, nasceu na localidade de Serraria, a cerca de 80 quilômetros ao norte de Campina Grande, e para sobreviver proporcionava prazer aos homens da terra com seu corpo e seus atributos sexuais[9].

Atacada Por Um Cangaceiro

Sabemos que Amélia era separada de João Bento da Silva, mas não sabemos a razão de sua separação e nem a razão da sua entrada no ramo da prostituição. Mas em 1915 ela aparentemente estava conseguindo tocar sua vida naquela atividade com certa garantia de sobrevivência.


Isso fica um tanto claro na única foto existente de Amélia. Ela mostra uma mulher com traços faciais interessantes e proporcionais, com belos lábios carnudos, utilizando um chapéu típico das mulheres urbanizadas da época. Vemos igualmente Amélia utilizando uma roupa com um interessante bordado e dois grandes colares em volta do pescoço. Sendo estes colares de ouro (o que infelizmente não consegui nenhuma indicação), apontaria claramente que Amélia não fazia seu trabalho em um prostíbulo, os populares cabarés. A jovem paraibana era uma prostituta independente, ou isolada, aparentemente sem ter a sombra de um cafetão para ditar regras, que habitava na sua própria casa, escolhia com quem teria as suas relações sexuais, quanto ganharia por cada programa. Assim ela poderia atender um menor número de homens e consequentemente ter uma renda melhor.

Assim Amélia evitava viver em uma casa normalmente com sérios problemas de higiene, onde as mulheres que ali trabalhavam eram obrigadas a receber todos aqueles que frequentavam o bordel e tinham pouco repouso proporcionado pelas donas dos prostíbulos. Além de estarem mais próximas da violência devido à alta rotatividade dos clientes.

Prostituta em 1900 – Foto de John Ernest Joseph Bellocq – Fonte –https://www.ideafixa.com/as-prostitutas-de-new-orleans-em-1900/ Mesmo assim a forma como Amélia praticava a sua profissão não lhe isentava de sofrer alguma violência. E foi isso que lhe aconteceu de forma contundente em maio de 1915, quando dois homens lhe aplicaram uma terrível surra em sua casa e lhe estupraram com extrema violência.

Esse ataque bestial teria sido realizado, segundo comentaram seus algozes, a mando de um cliente enciumado com a prostituta paraibana. Existe outra versão que afirma que a violência teria sido realizada a mando de uma rica senhora da sociedade de Campina Grande, que percebeu que seu marido se afastava cada vez mais em direção a cama de Amélia e direcionava seus carinhos a uma mulher que era tida como “descaída”.

O problema para Amélia é que um dos homens, o que comandava a dupla, prometeu que onde a encontrasse em outra ocasião lhe mataria[10].

Antônio Silvino

E o homem em questão não era alguém de promessas vazias. Ele havia sido um cangaceiro do bando de Antônio Silvino.

Um Cabra Complicado Até Para Outros Cangaceiros

Seu nome era José Maria de Oliveira, sua alcunha Serrote e teria nascido em algum local na Paraíba. Era conhecido por já ter praticado diversos crimes, entre estes assassinatos. Sempre agindo com requintada malvadeza na região do interior do estado onde nasceu. Ele foi descrito pelos jornais da época como tendo “estatura regular, preto, cabellos carapinhos, olhos grandes, nariz chato, orelhas grandes, pés e mãos pequenas, dentadura perfeita”.


Um jornal recifense aponta que em agosto de 1909, após Antônio Silvino retornar do Ceará, ele e seus homens foram vistos na região rural da cidade paraibana de Cabaceiras e na mesma nota é informado que Serrote estava com um pequeno bando de quatro membros, um “subgrupo” de Silvino, agindo de forma independente para atrair a atenção das volantes da polícia[11].

Entretanto outro periódico mostra que Serrote não havia deixado o bando de Silvino comandando um subgrupo, ele havia sido expulso pelo chefe, com mais outros cabras da sua laia, por Silvino não confiar nessa gente. Nesta nota ele foi tido como “Trahidor” e “perverso ao extremo” pelos seus próprios companheiros de cangaço.

Ainda em relação às andanças de Serrote como chefe de bando em 1909, ele parece não ter ido muito longe nesta função que requeria astúcia, companheirismo, uma boa rede de apoiadores e enorme capacidade de combate. Pois uma nota na segunda página do Jornal do Recife, edição do dia 4 novembro de 1909, aponta que Serrote havia sido preso no lugar denominado Bonita, próximo a Cabaceiras, ficando lá recolhido. É desta época a foto que trago deste cangaceiro[12].


Sobre o hiato de sete anos entre a prisão de Serrote a o ataque contra Amélia em Campina Grande eu não consegui nenhuma informação. Mas se este cabra safado, que possuía tão terrível fama e uma extensa ficha criminal, estava vivendo tranquilamente na rica cidade do interior da Paraíba, é que certamente era protegido de alguém muito poderoso. Onde provavelmente Serrote era utilizado, junto com outros de sua estirpe, para variados serviços violentos, como a surra e o estrupo cometidos contra Amélia.

Para esse bandido, que um dia se ombreou com Antônio Silvino, certamente a cidade de Campina Grande, com sua larga circulação monetária, proporcionava uma condição de ação muito mais facilitada do que andar de arma na mão no meio da caatinga.

Além disso, diante das sempre comuns querelas politicas e dos muitos conflitos sociais, um elemento com o seu nível de “expertise” não era de todo descartável e poderia ser sempre útil para abonados de baixo caráter. E certamente que sua fama de antigo companheiro do chefe cangaceiro Antônio Silvino só lhe ajudava nestas nefandas atividades em Campina Grande.

Luta na Noite de Campina Grande

Não tenho dúvida que diante das lesões provocadas em seu corpo e igualmente pelo medo daquele homem perverso e do seu companheiro de atividades criminais, Amélia passou um tempo escondida. Para não dizer acuada[13].

Mas ela não tinha ninguém para lhe proteger e precisava sair para se sustentar. Fugir certamente não estava nos seus planos, pois tinha seu local de repouso em Campina Grande, tinha clientela e ir embora significava viver em algum fedorento cabaré perdido no interior do Nordeste, com todas as incertezas que esta decisão acarretaria.

Foi então que Amélia passou a andar com um punhal e foi para rua para sua triste e dura luta de vender o seu corpo para sobreviver.

A imagem de violências praticadas contra as mulheres era muito comum no início do século XX – Fonte – http://www.pinterest.com

Mas o seu encontro com o antigo cangaceiro não demorou.

Eram por volta das seis da noite de uma terça-feira, 11 de maio de 1915, quando a jovem Amélia seguia por um beco que desembocava em uma avenida denominada Lauritzen. Neste momento, na esquina, ficou frente a frente com seu algoz[14].

Logo Serrote partiu para o ataque e desferiu pesada cacetada com um porrete na cabeça da mulher, que baqueou, mas suportou a pancada. Nesse momento, quando Serrote se preparava para desferir o segundo golpe, para sua total surpresa Amélia cravou-lhe com coragem e segurança o punhal no peito do cangaceiro.

Através da dissertação de Mestrado em História “Cidade e Imagens: Crônicas visuais das Ruas de Campina Grande? PB (1900-1950)”, do historiador João Paulo França, descobri a obra “Abrindo o livro do passado”, publicada em 1956, e de autoria do escritor e historiador campinense Cristino Pimentel. Ele afirmou em seu livro que o ferimento no cangaceiro foi embaixo do peito esquerdo e nem sangue saiu.  Para o falecido cronista Pimentel o conflito se deu em um beco que era conhecido pelo sugestivo nome de “Beco dos Paus Grandes”, atual Rua João Alves de Oliveira[15].


Segundo os jornais da época o perigoso Serrote saiu cambaleando e não fez uso de um revólver carregado com seis munições que trazia na cintura e que depois foi encontrado com ele. O violento ex-cangaceiro andou um pouco mais e foi cair na calçada, defronte ao comércio de Elias Montenegro[16].

Amélia por sua vez, ao ver que Serrote se afastava cambaleando e por não ver seu inimigo sangrando, decidiu sair discretamente do palco dos acontecimentos. Certamente acreditava que espantara aquele verdadeiro “encosto” de sua vida.

Dali seguiu tranquilamente para um hotel onde jantava com frequência. Lá soube por algumas pessoas que nas proximidades o temido cangaceiro estava morto na calçada e entendeu que aquilo foi o resultado de sua certeira estocada.

Do jeito que ela estava no hotel, ela continuou e não se abalou. Certamente com uma sensação positiva, ela não fez a mínima ação de evadir-se do local e jantou tranquilamente aguardando o seu destino. Ainda bem tranquila ela comentou com todos os presentes no hotel que ela era a responsável pela morte do cangaceiro e explicou a causa do assassinato.



Após encerrar seu jantar Amélia Mendes da Silva, certamente acompanhada de muitos curiosos e quero crer de cabeça erguida, se dirigiu para se entregar a polícia de Campina Grande. Junto à autoridade policial ela relatou o ocorrido e as razões do seu ato. Ficou presa.

No outro dia os jornais comentam que a cidade entrou em transe com os acontecimentos, exultando a morte deste perigoso elemento. Muitos foram ver o cadáver do homem que um dia andou junto a Antônio Silvino e depois seguiram para cadeia ver a mulher que o matou.

Mesmo sem haver encontrado nenhuma outra referência sobre violências praticadas pelo antigo cangaceiro Serrote em Campina Grande e região, é perceptível pelos jornais a descrição de um certo alívio pela morte do celerado.

Clementino Gomes Procópio, que ajudou na defesa de Amélia – Fonte –http://digitalizacao.fundaj.gov.br/fundaj2/modules/visualizador/i/ult_frame.php?cod=5412

Diante do que ocorreu Amélia recebeu apoios. O ilustre educador Clementino Gomes Procópio se prontificou a patrocinar a causa pela defesa da prostituta[17].

Fugindo Para Sobreviver

Segundo bem observou o historiador João Paulo França em sua tese de Mestrado, os códigos de comportamento da sociedade campinense de então reconheceram a “legítima defesa” de Amélia e a absorveram por unanimidade “aquela mulher da vida”. É plausível que o passado de “cangaço”, e os espancamentos feitos por Serrote, muito contribuíram para que seu assassinato fosse visto como um “alívio” para a sociedade. Todavia, Amélia a partir de então “deixava” de ser “Amélia Mendes da Silva”, para carregar pelo resto da vida a alcunha de “Amélia de Serrote”.

O historiador nos traz em seu trabalho acadêmico as palavras do cronista Cristino Pimentel, que em seu livro de 1956 comentou sobre o destino de Amélia de Serrote – “vítima da má sorte e dos homens, perseguida pelo destino, tomou o caminho dos ignorados, pois não se sabe como, nem onde foi ficar depois de absolvida pelo crime”.

Estando correta a afirmação do ilustre Cristino Pimentel, mesmo com a absolvição do seu crime, mesmo com toda a repercussão positiva em relação ao caso, é provável que Amélia de Serrote tenha decidido deixar Campina Grande pelas ligações que o antigo cangaceiro possuía junto a poderosos da cidade. Isso provavelmente fazia dela um elemento de risco para alguém. Enfim ela já tinha levado uma baita surra ordenada por alguém poderoso e algo pior poderia advir contra ela a qualquer momento.

O certo é que nenhuma referência mais eu encontrei sobre esta valente mulher paraibana, que um dia matou um cangaceiro.

Em tempo – E porque não pensar em um final feliz?

Talvez diante do feito de Amélia ao matar o cangaceiro, quem sabe se algum homem não lhe propôs uma união estável?

Ela então deixou a prostituição, saiu de cena e viveu uma vida tranquila e feliz!

NOTAS

[1] Sobre as mudanças nas relações de gênero na passagem do século XIX para o século XX, ver “A MULHER URUGUAIA E A MULHER BRASILEIRA NO INÍCIO DO SÉCULO XX”, de Marcos Emílio Ekman Faber –http://www.historialivre.com/contemporanea/amemulher.htm
[2] Ver “A CONSTRUÇÃO DO PAPEL SOCIAL DA MULHER NA PRIMEIRA REPÚBLICA”, de Aline Tosta dos Santos –http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300669106_ARQUIVO_TEXTOOLIVIAANPUH.pdf
[3] Sobre a problemática do processo de escolarização que se realizou no Brasil desde a chegada dos jesuítas até a Revolução de 1930, sob a ótica do gênero ver “UM OLHAR NA HISTORIA: A MULHER NA ESCOLA (BRASIL: 1549 – 1910)”, de Maria Inês Sucupira Stamatto, do Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRN –http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdf Ver també “MULHER E EDUCAÇÃO CATÓLICA NO BRASIL (1889-1930): DO LAR PARA A ESCOLA OU A ESCOLA DO LAR?”, de Michelle Pereira Silva, Geraldo Inácio Filho, Universidade Federal de Uberlândia –http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/revis/revis15/art14_15.pdf
[4] Sobre o cotidiano das mulheres neste período ver “MULHER, MÃE, TRABALHADORA, CIDADÃ…: CONDIÇÃO FEMININA NAS TRÊS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX”, de Simone da Silva Costa, Doutora em História e Professora da  Prefeitura Municipal de Santa Rita – PB – file:///C:/Users/Isa%20Bezerra/Downloads/23811-47870-2-PB.pdf
[5] Ver “PROSTITUIÇÃO – CORPO COMO MERCADORIA”, dePaulo Roberto Ceccarelli, Psicólogo / Psicanalista, in: Mente & Cérebro – Sexo, v. 4 (edição especial), dez. 2008 –http://ceccarelli.psc.br/pt/?page_id=157
[6] Ver “O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA PATRIMONIAL CONTRA A MULHER: PERCEPÇÕES DAS VÍTIMAS”, de Rita de Cássia Bhering Ramos Pereira, Maria das Dores Saraiva de Loreto, Karla Maria Damiano Teixeira, Junia Marise Matos de Sousa –http://www.seer.ufv.br/seer/oikos/index.php/httpwwwseerufvbrseeroikos/article/viewFile/89/156
[7] Ver “ANÁLISE DA PRIMEIRA FASE DO PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES SOBRE A ECONOMIA DO NORDESTE”, de Alessandro Alves dos Santos Silva (PPGECON-UFPE) e Adelson Santos Silva (UAST/UFRPE) –http://www.bnb.gov.br/documents/160445/781488/3M3_art_1.pdf/72c361f4-5f4c-420d-9c72-039d1fcdf1a5
[8] Sobre a história de Campina Grande ver “CAMPINA GRANDE A CIDADE SE CONSOLIDA NO SÉCULO XX”, de Júlio César Mélo de Oliveira –http://www.geociencias.ufpb.br/~paulorosa/gema/images/stories/monografias/2007/mono_julio e “CIVILIZANDO OS FILHOS DA “RAINHA”, CAMPINA GRANDE: MODERNIZAÇÃO, URBANIZAÇÃO E GRUPOS ESCOLARES (1935 A 1945)” de Maria Raquel Silva –http://www.cchla.ufpb.br/ppgh/2011_mest_maria_silva.pdf
[9] Ver “AS DECAÍDAS: PROSTITUIÇÃO EM FLORIANÓPOLIS (1900 – 1940)”, de Silvia Maria Fávero Arend – file:///C:/Users/Isa%20Bezerra/Downloads/6175-18860-1-SM.pdf
[10] Ver “JORNAL DE RECIFE”, Recife-PE, edição de quinta-feira, 1 de julho de 1915, pág. 3.
[11] Essa tática de criar subgrupos entre os integrantes de Antônio Silvino não era novidade, sendo um dos mais famosos era o subgrupo do cangaceiro Cocada, cujo nome verdadeiro, segundo o cangaceiro Rio Preto, era Manoel Marinho, sendo natural de Guarita, vila localizada a menos de dez quilômetros da cidade paraibana de Itabaiana e teria cerca de 40 anos em 1906.  Mário Souto Maior comenta, sem informa datas, que Cocada morreu em combate no lugar chamado Serrinha, na Paraíba. No seu local de morte, o povo ergueu um cruzeiro. O folclorista Evandro Rabelo, ao passar pelo local, viu depositado na base da cruz, alguns ex-votos de pessoas que obtiveram graças por intermédio deste cangaceiro. Verhttps://tokdehistoria.com.br/2011/12/04/a-saga-do-cangaceiro-rio-preto/
[12] Ver “JORNAL DE RECIFE”, Recife-PE, edição de quinta-feira, 1 de julho de 1915, pág. 3.
[13] Eu não consegui nenhuma informação sobre que era o homem que ajudou Serrote na violência contra a prostituta Amélia.
[14] Essa suposta avenida, da qual não encontrei referências, seria alusiva a figura de Christian “Cristiano” Lauritzen. Este foi um imigrante dinamarquês nascido em 1847 e que chegou ao Brasil, mais precisamente em Recife, aos 21 anos de idade. Por volta de 1880 se estabeleceu em Campina Grande, quando a cidade tinha pouco mais de três mil habitantes. Em 1883 casou-se com a senhora Elvira Cavalcanti, filha do comerciante Alexandrino Cavalcanti, então Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, com quem teve dez filhos. Lauritzen foi prefeito municipal durante 19 anos ininterruptos e durante sua longa gestão ocorreu a chegada do primeiro trem na cidade, marco histórico para o desenvolvimento econômico da região. Em 1922 fundou o Jornal Correio de Campina Grande e faleceu no ano seguinte, ainda exercendo o mandato de prefeito.
[15] Ver PIMENTEL, Cristino. Abrindo o livro do passado. 1ª Edição. Campina Grande: Editora Teone, 1956, p. 46. Sobre a dissertação de mestrado “Cidade e Imagens: Crônicas visuais das Ruas de Campina Grande? PB (1900-1950)”, do historiador João Paulo França acessehttp://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/index.php/processo-seletivo/category/14-dissertacoes-2012?download=109:joao-paulo-franca-cidade-e-imagens-cronicas-visuais-das-ruas-de-campina-grande-pb-1900-1950
[16] Já para Cristino Pimentel, em seu atualmente raro livro, o cangaceiro Serrote não sentiu que estava ferido e foi tombar, para morrer, no “Beco de seu Lindolfo”. Ainda sobre Elias Montenegro eu descobri que naquele mesmo ano de 1915, poucos meses antes da morte de Serrote, mais precisamente no dia 12 de abril, o comerciante havia sido um dos sócios fundadores do time de futebol Campinense Clube, uma das mais tradicionais equipes de futebol da Paraíba e conhecido como o “aristocrático”. Ver –http://cgretalhos.blogspot.com.br/2009/09/campinense-clube-1-parte.html#.V-B_1_ArLIU
[17] Nascido na fazenda Chéus, no município pernambucano de Bom Jardim, em 1855, Clementino Gomes Procópio foi seminarista aos quinze anos, mas não concluiu os estudos para ser padre. Depois de uma breve passagem pela cidade de Batalhão, hoje Taperoá, na Paraíba, onde fundou uma escola, seguiu para Campina Grande em 1877. Foi político, jornalista e fez da educação seu ofício maior. Fundou o Instituto São José, uma escola particular que funcionava como internato e externato, no bairro de São José. Consta que a caridade era um traço forte de sua personalidade, talvez aí se explique se colocar ao lado de Amélia na sua defesa jurídica no caso do assassinato de Serrote. Faleceu aos 80 anos, em 1935. Verhttp://cafecomresenhas.blogspot.com.br/2013_08_01_archive.html

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

https://tokdehistoria.com.br/2016/09/20/o-drama-de-sangue-entre-a-prostituta-e-o-cangaceiro-em-campina-grande/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com