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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

1941 – O ATAQUE DE UM AVIÃO NAZISTA AO CARGUEIRO TAUBATÉ E O PRIMEIRO POTIGUAR A TESTEMUNHAR O HORROR DA SEGUNDA GUERRA

Por Rostand Medeiros

Clique no link abaixo e leia este belo trabalho do historiógrafo Rostand Medeiros.

https://tokdehistoria.com.br/2018/02/01/1941-o-ataque-de-um-aviao-nazista-ao-cargueiro-taubate-e-o-primeiro-potiguar-a-testemunhar-o-horror-da-segunda-guerra/

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OS QUATRO DA MODA DE ONTEM

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.835

proveitando marca de sapato exibida no Face pelo nosso compositor Remi Bastos, resolvemos reagir com este trabalho saudosista. Vamos relembrar quatro objetos que atuaram fortemente no modismo do Brasil, particularmente em nosso Sertão das Alagoas, em torno dos anos 60, não necessariamente pela ordem.

FEIRA DE SANTANA ANOS 60. FOTO: (DOMÍNIO PÚBLICO).

Um deles foi um pente longo e preto, dito inquebrável. Era muito maleável e vendido na feira de Santana do Ipanema. Vendedores e rapazes adquirentes do objeto dobravam-no e faziam outras piruetas com ele e o pente na quebrava. Na época predominava a moda da cabeleira farta e fazia sentido comprar, usar e exibi-lo. Dos falados de boas cabeleiras, lembramos apenas de alguns como o Gilson Alfaiate, o Pascoal de José Urbano, eu e um barbeiro, cujo nome não me recordo, mas havia pelo menos uns dez na disputa. Também não me chega à marca do objeto que foi após o pente menor e elegante marca “Flamengo”. Era o tempo da brilhantina.
Outra moda marcante foi a do relógio “Seiko” mesma época do “Oriente”. Os rapazes jogavam-no longe como uma pedra e nada acontecia a ele. Lembramos ainda o Jorge de Leusinger, fazendo isso na Rua São Pedro.
Teve também a moda – como escreveu o Remi – do sapato “Passo Doble”. Todo mundo queria comprar esse tipo de sapato que a novidade trazia como infinitamente durável, inclusive, seguido de boa propaganda que não era enganosa. Durava tanto que parecia sem fim! Muito bom para nós os estudantes (ginasianos) destruidores de sapatos. Era confortável, preto e sem beleza. 
E finalmente, a camisa mimosamente azul, manga comprida, elegante e também indestrutível chamada “Volta ao mundo”. Lindérrima e meu sonho de consumo.
Pense num rapaz: cabeleira vasta com brilhantina Coty, camisa Volta ao Mundo, calça de linho, pente Flamengo, meias Lupo, lenço italiano, cinto Ypu, sapatos Samello, relógio Oriente e perfume francês!
Ah! Somente no antigo Reino de Monte Mor.
      

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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018 COLOQUEI A CADEIRA. ESPEREI. NINGUÉM CHEGOU

*Rangel Alves da Costa

Coloquei a cadeira. Esperei. Ninguém chegou. A cadeira já estava lá - como sempre está logo adiante da minha -, a espera também. E esperei e esperei, e novamente ninguém chegou.
Os tempos nunca foram assim. Nunca houve tanta solidão, desalento, distância de tudo. É como se o mundo já estivesse completamente vazio e todos os amigos e conhecidos já não existindo mais.
Nas e entardeceres, quando o mormaço do dia começava a dar lugar a uma leve e refrescante aragem, eu sempre ouvia o portão sendo aberto e os passos caminhando na direção deste agora solitário recanto de proseado.
Era como um relógio sempre despertando na hora certa. Não apenas um, mas vários amigos chegando e ficando até perto da boca da noite. E quantas memórias, quantas relembranças, quantos achados perdidos.
Nostalgias e velhos baús reabertos, álbuns amarelados sendo revistados pela memória. Enquanto um relembrava um tempo de cafés em balcão, outro recordava o entregador de leite ao amanhecer. Pomares nos quintais, janelas abertas, ruas para caminhar. Tudo isso a cada reencontro.
Relembrar os cavaleiros de antigamente e seus impecáveis ternos de linho branco. As donzelas prometidas em casamento e compromissadas em noivado. Os namoros na presença dos pais, em cadeiras juntas e sem poder sequer tocar a mão sobre a perna da amada.
Instantes tão vastos e grandiosos, tão nostálgicos e até melancólicos, que muitas vezes as lágrimas brotavam de algum olhar. Depois tudo sumia nas novas imagens surgidas dos tempos idos. E mais tarde dirão que foi o meu tempo.
Mas de repente tudo foi se transformando. Um amigo de vez em quando, depois mais nenhum. O portão passou a não ranger mais ao entardecer, Os passos sumiram. Ficaram somente as cadeiras. E hoje apenas uma além da minha.


Hoje apenas uma cadeira além da minha, mas sempre vazia. Peço que tragam dois copos d’água e duas xícaras de café, depois começo a olhar para a mesinha sem ter quem se sirva. Tudo esfria ou esquenta. Tudo permanece do mesmo jeito.
Olho adiante, além da saleta de repouso e meditação, aonde se estende um velho jardim desbotado, e avisto apenas o vazio de tudo. Os restos das folhagens são como as ausências que agora atormentam tanto. Não queria que fosse assim.
Agora um outono em cor, em ausência, em desolação. É como se chegasse apenas o sopro calado de tudo. A mudez da ventania não traz mais consigo as boas notícias. Ora, ninguém vai chegar. Ninguém vai chegar.
Não nego que gosto de solidão. A solidão é minha amiga, é minha confidente, é minha namorada. A solidão me completa. Mas não em todos os instantes da vida. E passou a doer quando ela deixou de acontecer para se impor.
Faço da solidão um mundo que pode ser ajustado através do pensamento. Trago o que quero, busco o que desejo, transformo o que me for conveniente. Pinto paisagens e faço surgir retratos emoldurados daquilo que desejo. Mas a outra solidão. Não esta de agora.
A solidão de agora, por ser forçada a existir assim tão vazia de tudo, assemelha-se mais ao viver de um ilhéu ao longe avistando os amigos que foram para o continente. Todos se foram. E ele ficou sozinho.
Lembro-me agora daquela velha senhora que sempre esperava suas fiéis amigas para o chá das cinco. Somente ela restando em vida, ainda assim todo entardecer sentava ao redor de uma mesinha e mandava servir chá com bolinhos de chuva.
O tempo passava, a noite chegava e ela ali sentada, relembrando e relembrando, de olhos molhados e coração apertado. A solidão, apenas. Depois ali mesmo adormeceu para o sempre, deixando em cima da mesinha um singelo escrito:

O jardim e as flores já não existem mais
colibris e borboletas voaram para bem longe
talvez em busca de outros doces perfumes
e em mim a solidão que aflora em outono triste
uma estação que a tudo seca e tudo devora
e que agora me chama para também voar
e voando parto nas asas da solidão a esvoaçar.

E assim também noutras vidas, cuja solidão do dia após dia é como um desfolhado outono. E só chega a ventania. E ninguém mais. Ainda há a espera, ainda há o desejo do reencontro, mas depois só chegam as saudades. E tudo vai ficando mais solitariamente triste.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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COMUNICADO URGENTE - NOVA DATA DA ASSEMBLEIA GERAL DA ADUERN


A Diretoria da ADUERN informa o cancelamento da Assembleia Geral da categoria, anteriormente convocada para amanhã (01/02).

A decisão é motivada pela semana de mobilização contra o pacote de maldades de Robinson. Os servidores estaduais vêm montando um cerco em frente à Assembleia Legislativa, em Natal, buscando impedir a votação das medidas e garantir uma importante vitória para os trabalhadores e trabalhadoras do estado.

A diretoria da ADUERN avaliou a necessidade de cancelamento da Assembleia observando que seus membros estão em Natal, compondo a linha de frente contra os ataques de Robinson ao funcionalismo público estadual.

Enviamos em Anexo NOVA CONVOCAÇÃO para Assembleia Geral, que será realizada na sexta-feira (02/02) às 9h, na sede da ADUERN.

Jornalista
Cláudio Palheta Jr.

Telefones Pessoais :
(84) 96147935
(84) 88703982 (preferencial)

Telefones da ADUERN:

ADUERN
Av. Prof. Antonio Campos, 06 - Costa e Silva
Fone: (84) 3312 2324 / Fax: (84) 3312 2324
E-mail: aduern@uol.com.br / aduern@gmail.com
Site: http://www.aduern.org.br
Cep: 59.625-620
Mossoró / RN
Seção Sindical do Andes-SN
Presidenta da ADUERN
Rivânia Moura

Enviado pelo professor, escritor pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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INAUGURAÇÃO DO CINE MUNICIPAL (João Pessoa/PB)

Por Petrônio Souto

Com a presença de seleto grupo de convidados, inclusive D. Sílvia e o governador Pedro Gondim, é inaugurado o Cine Municipal, em 1964.


Em cartaz, The V.I.P.s (Gente Muito Importante), de Anthony Asquith, filme britânico de 1963, que tinha no elenco Elizabeth Taylor e Richard Burton.


O empreendimento foi resultado da associação do empresário Luciano Wanderley e o construtor italiano Aldo D´Ambrosio, no qual o investidor adquiria cotas para receber mensalmente certa quantidade de ingressos, durante determinado período.


Detalhe importante, sobretudo para os amantes do rádio: Na FOTO 1, além de D. Sílvia Gondim, do frade que faz a bênção do cinema (que não consigo identificar), está o locutor Ary Silva, da Rádio Arapuan. 


Essa figura alta, que aparece de perfil, de óculos, à direita, é o meu amigão Otinaldo Lourenço, diretor geral da Rádio Arapuan. A presença deles aí indica que a cobertura do evento foi feita pela Rádio Arapuan de João Pessoa.


Agradecendo a colaboração de David Trindade Filho, que me repassou as fotos (exceto a última), obtidas através de um amigo colecionador, gostaria que D. Stella Wanderley e Luciano Wanderley Filho dissessem mais alguma coisa sobre a festa, pelo que já recebem os meus agradecimentos.


NR - A foto da fachada (a última) não é a da inauguração, embora mantenha as mesmas linhas arquitetônicas. Pelo filme em cartaz, é certamente do final dos anos 70.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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LAMPIÃO


Por Graciliano Ramos

Lampião nasceu há muitos anos, em todos os estados do Nordeste. Não falo, está claro, no indivíduo Lampião, que não poderia nascer em muitos lugares e é pouco interessante. Pela descrição publicada vemos perfeitamente que o salteador cafuzo é um herói de arribação bastante chinfrim. Zarolho, corcunda, chamboqueiro, dá impressão má.  

Refiro-me ao lampionismo, e nas linhas que se seguem é conveniente que o leitor não veja alusões a um homem só.

Lampião nasceu, pois, há muitos anos, mas está moço e de boa saúde. Não é verdade que seja doente dos olhos: tem, pelo contrário, excelente vista. É analfabeto. Não foi, porém, a ignorância que o levou a abraçar a profissão que exerce. 

No começo da vida sofreu numerosas injustiças e suportou muito empurrão. Arrastou a enxada, de sol a sol, ganhando dez tostões por dia, e o inspetor de quarteirão, quando se aborrecia dele, amarrava-o e entregava-o a uma tropa de cachimbos, que o conduzia para a cadeia da vila. Aí ele aguentava uma surra de vergalho de boi e dormia com o pé no tronco.

As injustiças e os maus-tratos foram grandes, mas não desencaminharam Lampião. Ele é resignado, sabe que a vontade do coronel tem força de lei e pensa que apanhar do governo não é desfeita.



O que transformou Lampião em besta-fera foi a necessidade de viver. Enquanto possuía um bocado de farinha e rapadura, trabalhou.

Mas quando viu o alastrado morrer e em redor dos bebedouros secos o gado mastigando ossos, quando já não havia no mato raiz de imbu ou caroço de mucunã, pôs o chapéu de couro, o patuá com orações da cabra preta, tomou o rifle e ganhou a capoeira. Lá está como bicho montado.

Conhecidos dele, velhos, subiram para o Acre; outros, mais moços, desceram para São Paulo. Ele não: foi ao Juazeiro, confessou-se ao padre Cícero, pediu a bênção a Nossa Senhora e entrou a matar e roubar. É natural que procure o soldado que lhe pisava o pé, na feira, o delegado que lhe dava pancada, o promotor que o denunciou, o propri
etário que lhe deixava a família em jejum.

Às vezes utiliza outras vítimas. Isto se dá porque precisa conservar sempre vivo o sentimento de terror que inspira e que é a mais eficaz das suas armas.

Queima as fazendas. E ama, apressado, um bando de mulheres. Horrível. Mas certas violências, que indignam criaturas civilizadas, não impressionam quem vive perto da natureza. Algumas amantes de Lampião se envergonham, realmente, e finam-se de cabeça baixa; outras, porém, ficam até satisfeitas com a preferência e com os anéis de miçanga que recebem.

Lampião é cruel. Naturalmente. Se ele não se poupa, como pouparia os inimigos que lhe caem entre as garras? Marchas infinitas, sem destino, fome, sede, sono curto nas brenhas, longe dos companheiros, porque a traição vigia… E de vez em quando a necessidade de sapecar um amigo que deita o pé adiante da mão…

Não podemos razoavelmente esperar que ele proceda como os que têm ordenado, os que depositam dinheiro no banco, os que escrevem em jornais e os que fazem discursos. Quando a polícia o apanhar, ele estará metido numa toca, ferido, comendo uma cascavel ainda viva.

Como somos diferentes dele! Perdemos a coragem e perdemos a confiança que tínhamos em nós. Trememos diante dos professores, diante dos chefes e diante dos jornais; e se professores, chefes e jornais adoecem do fígado, não dormimos. Marcamos passo e depois ficamos em posição de sentido. Sabemos regularmente: temos o francês para os romances, umas palavras inglesas para o cinema, outras coisas emprestadas.

Apesar de tudo, muitas vezes sentimos vergonha da nossa decadência. Efetivamente valemos pouco.

O que nos consola é a ideia de que no interior existem bandidos como Lampião. Quando descobrirmos o Brasil, eles serão aproveitados.

E já agora nos trazem, em momentos de otimismo, a esperança de que não nos conservaremos sempre inúteis.

Afinal, somos da mesma raça. Ou das mesmas raças.

É possível, pois, que haja em nós, escondidos, alguns vestígios da energia de Lampião. Talvez a energia esteja apenas adormecida, abafada pela verminose e pelos adjetivos idiotas que nos ensinaram na escola.

Crônica publicada na Revista Novidade, Maceió em 25 de abril de 1931.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/766614446880835/

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GUERREIRA DO PAJEÚ À MINHA AVÓ MARGARIDA ANA DOS SANTOS.

 Por Gilmar Leite

Margarida, guerreira do Sertão;
Descendente da tribo Cariri.
Foi rochedo e a flor do bulgari
Transbordando d’ amor o coração.
No trabalho buscava sempre o pão
Pra família puder alimentar
Enfrentou intempéries do lugar
Com vigor e coragem sertaneja
Não temia o cansaço da peleja;
E vivia num eterno trabalhar.

Descendente do povo lusitano
Foi Eusébio, esposo e pai dos filhos,
Que partiu pra morar em outros trilhos
E deixou a família no abandono.
Margarida assumiu de vez o trono
Pra mostrar uma índia no reinado
Sem tacape, sem flecha, no roçado,
A enxada era a arma para a luta
Do inverno ao verão, sua labuta,
Foi deixar cada filho alimentado.

Ela teve dois filhos e três filhas,
Duas delas morreram em tragédias,
Mesmo assim não perdeu as suas rédeas,
Nem fugiu pra buscar distantes trilhas.
Cada dia enfrentava mil guerrilhas
Pra viver no Sertão com honradez
No trabalho mostrava sua altivez
Duma forte guerreira mãe mulher
Que viveu no seu trono de Pajé
Sem temer o negror da languidez.

Quando deixou a “Serra do Machado”
Pra morar em São José do Egito,
Não sentiu o seu coração aflito
No trabalho assumiu outro legado.
Com uma tropa de burros equipado
Levou água pras casas da cidade
Carregando no peito a honestidade
A coragem de mãe comprometida
Pra mostrar a grandeza Margarida
Uma rosa com brilhos da verdade.

O lugar onde teve a moradia
Batizaram de “Alto da Margarida”
Uma justa homenagem merecida
A Mulher Cariri, sem fidalguia.
Para mim ela será sempre guia
Uma avó como símbolo do Sertão
Que clareia minhas noites de verão
E me aquece nas rochas da frieza
Enfeitando minha alma de beleza
Confortando de luz meu coração.

Gilmar Leite

Margarida Ana dos Santos


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso

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A CASINHA DO VAQUEIRO SALES


Por Benedito Vasconcelos Mendes

A primeira casa de taipa que conheci em detalhes foi a do vaqueiro do meu avô, conhecido por “Sales da Fazenda Aracati”, a qual me causou uma excelente impressão pela sua simplicidade, limpeza e beleza. Tudo muito limpo e em seu devido lugar. O interior da casa transmitia um ar de serenidade e paz. Dona Lourdes, mulher de Sales, era muito trabalhadeira e caprichosa e tinha muito gosto em manter a casa em ordem. Sua filha mais velha, Ritinha, à época que entrei pela primeira vez em sua casa, tinha cerca de 12 anos de idade, ajudava a mãe na arrumação da casa e nos trabalhos da cozinha. Seu filho Totonho tornou-se meu maior amigo por ocasião das minhas férias escolares, que sempre passava na Fazenda Aracati, de propriedade do meu avô. Ele tinha, quando o conheci, aproximadamente 14 anos. Tínhamos mais ou menos a mesma idade. Dona Lourdes cuidava, além da casa, das cabras, das galinhas, dos dois cachorros de pegar gado, do gato e do papagaio.

A casa era de taipa, alpendrada, de dois quartos, coberta de palha de carnaubeira, de chão batido e não tinha luz elétrica. No terreiro, um frondoso e velho Juazeiro, onde o vaqueiro Sales amarrava seu garboso cavalo “Relâmpago”.

Em frente à porta, crescia um pé de pinhão roxo, plantado para livrar os habitantes da casa, do “Mau Olhado”. Para proteger a família contra raios, na porta da frente tinha uma cruz feita de palha de carnaubeira, benta pelo Padre, por ocasião da Santa Missa do Domingo de Ramos, durante a Semana Santa. Na parede, ao lado da porta, estava uma ferradura, para dar sorte. Pendurado na cumeeira, no meio da sala do oratório, observava-se um rabo de raposa seco, para espantar morcego. O alpendre cobria as duas laterais e a frente da casa. No alpendre da frente (copiá), situava-se um banco de pau roliço (estirpe de carnaubeira sobre duas forquilhas de aroeira), uma rede de malha de fibra de caroá, uma balança de corda (com pratos de madeira pendurados por longas cordas, apropriada para pesar sacos de algodão), duas colmeias de abelha jandaíra e algumas latas penduradas com plantas. O chapéu e o gibão de couro, a cela, os arreios e o chicote de pimba de boi ficavam suspensos em um torno de armar rede, no alpendre lateral. Várias gaiolas de talo de carnaúba, com canário-da-terra, cabeça-de-fita, graúna, sabiá-laranjeira, corrupião, asa branca e outros passarinhos ficavam penduradas nos caibros do alpendre. A frente da casa era de porta e janela, feitas de tábuas de imburana, não pintadas. A porta da frente era do tipo meia-porta, ou seja, porta partida ao meio. Durante o dia, a banda de cima ficava aberta e a de baixo fechada, com tramela de madeira. No alpendre da frente da casa, ficavam os banquinhos das mulheres fazerem chapéu de palha de carnaúba. Eram bancos de pernas curtas, para evitar que as mulheres, usando vestido, mostrassem as pernas.

A sala da frente, onde ficava o oratório, exibia na parede as fotografias do Beato Zé Lourenço e do Padre Ibiapina (foto do quadro “óleo sobre tela”, de autoria do pintor paraibano Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo) e, dentro do santuário, as imagens de madeira do Padre Cícero e de São José (o Santo das chuvas). Na parede via-se também um terço e um quadro de vidro, com a oração manuscrita do Responso de Santo Antônio (oração rezada para se reaver objetos perdidos ou roubados).

As duas camarinhas eram interligadas por uma cortina de tecido. Lá dormiam, em redes, o casal dono da casa e os oito filhos (crianças e adolescentes), cinco do sexo masculino e três do sexo feminino. Os dois quartos se comunicavam com o estreito corredor por cortinas de chita colorida, com temas florais. No canto de cada quarto, no chão, havia um penico de barro, que na manhã do dia seguinte eram recolhidos e a urina e fezes despejadas na latrina. Em cada quarto havia também um caritó, para guardar pequenos objetos e utensílios domésticos, como lamparinas, caixas de fósforos, corrimboque, agulhas e carretéis de linha para coser, cachimbo, fumo de rolo, espingarda de caça, etc.

Da parede do corredor, pendiam um uru de palha e uma cesta de cipó. Na cozinha localizavam-se um fogão a lenha, com trempe para três panelas de barro, e uma mesa de pau-branco, não envernizada, com seis bancos, com tampos de couro cru. Ao lado do fogão, sobre um suporte de madeira, tinha uma grande tina de pau-branco com água para lavar as louças. No chão, um pilão deitado de duas bocas, feito de miolo de aroeira. Presos a tornos de madeira, via-se o abano, a urupema, a colher de pau, duas cuias e uma cuité. Do caibro sobre o fogão a lenha, descia uma corda de tucum com um “gancho de 5 pontas”, para espetar os alimentos salgados (linguiça, toucinho, tripa de porco, tripa de boi, coalho de boi e carne do sol). O coalho era usado para coalhar o leite, na preparação do queijo de coalho. A corda que sustentava o gancho atravessava o centro de uma cuité com a boca para baixo, que impedia a descida de algum rato, que por ventura existisse na cobertura da casa. O gancho ficava alto do solo e sobre o fogão, para evitar que o gato comesse estes alimentos e, ao mesmo tempo possibilitava, que os mesmos fossem defumados pela fumaça que saía do fogão. Na cozinha, também ficava a cantareira, com dois pequenos potes de água para beber. Os potes tinham as bocas cobertas por tecido de algodãozinho com elástico e por tampas de madeira. Sobre uma forquilha de Angico com três pontas, repousava a quartinha de água para beber, que era levada à noite para o alpendre e depois para o quarto. No quintal, confrontando com a janela da cozinha, situava-se um girau de varas de marmeleiro, para secar as louças de barro (panelas, travessas, alguidares e cuscuzeira).

Ao todo, a casa tinha duas portas, a porta da frente e a porta dos fundos, e quatro janelas, a da frente, a da cozinha e as dos dois quartos. A cerca do quintal era de varas de marmeleiro. No quintal ficavam a latrina a céu aberto, o banheiro, o chiqueiro das galinhas e o girau de secar panelas, tudo feito com varas de marmeleiro. A latrina e o banheiro tinham portas feitas de talos de folhas de carnaubeira e eram revestidos com palhas, para não se ver quem estava dentro. A porta da cozinha (porta dos fundos) e as janelas só eram fechadas por dentro, com trancas e tramelas de madeira, pois somente a porta da frente tinha fechadura. As portas e janelas da casa não tinham ferrolhos. No banheiro a céu aberto tinha uma grande jarra de boca larga (pote de barro grande) com água para o banho do pessoal da casa. A água era trazida em ancoretas, em lombo de jumento, de uma cacimba feita na areia do leito do Rio dos Patos. As pessoas tomavam banho de cuia, ao ar livre, sobre uma grande laje de pedra calcária. Parte do quintal era sombreada por uma frondosa pitombeira. No quintal, no pé do muro, repousava o caco (grande alguidar de barro, pouco profundo) de torrar café. O sabão (sabão da terra), usado para o asseio da família e para a lavagem de roupa e das louças, era feito na fazenda por Dona Lourdes, que utilizava para a sua fabricação, cinza e óleo de oiticica.

http://www.caldeiraodochico.com.br/a-casinha-do-vaqueiro-sales/

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