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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

DECIBÉIS DO CÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.200

PARCIAL  DO COMÉRCIO SANTANENSE. (FOTO: B. CHAGAS).
O inconformismo e a ambição de comerciantes medievais infringem a lei constantemente com a poluição sonora. Da capital ao interior muitos Comércios adotam a gritaria através de aparelhos que não tem cristão que aguente. Em Maceió é cada um querendo ser mais troglodita do que o outro, pensando que zoada atrai consumidor, quando na verdade coloca-o a correr. No Comércio, corredor de ônibus, a tortura é imensa para os passageiros que aguardam muito tempo nos pontos. É um inferno de som que não tem critério e nem fim. Com muito atraso, fiscais do governo andaram medindo decibéis e orientando comerciantes.
 “A fiscalização voltará às lojas e, em caso de descumprimento da notificação, será aberto um processo administrativo, o equipamento será apreendido e emitido o auto de infração para pagamento de multa por poluição sonora com base na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998)”. Tribuna.
A poluição sonora pode prejudicar os sistemas nervoso e cardiovascular do idoso, crianças e pessoas com tendência à depressão, que têm mecanismos de defesa mais vulneráveis e costumam ser os mais afetados”, diz ainda a reportagem. Tardiamente, aqui por Maceió, ainda chegou à providência, mas no interior não há providência alguma, principalmente nas cidades polos, lugares de muita concentração de pessoas. 
Nas ruas é um carro de som atrás do outro com altura máxima desafiadora. Até aleijado pedindo esmola agora usa aparelhagem de som. Ainda tem vendedores de picolés e outros com som automático que não desliga nunca, enchendo malas e sacos da população. No comércio é som na calçada, na porta e no interior da loja numa rotina da peste e que não é incomodada por fiscalização nenhuma. Outros ainda acham pouco e obstruem o passeio com suas bugigangas, forçando os transeuntes ao desvio pela rua com o risco de atropelamento.
Dormem os defensores do meio ambiente.
Cochilam as autoridades sem denúncias.
Engolem ouvidos humanos, os DECIBÉIS DO CÃO.

FLORES EM VIDA

*Rangel Alves da Costa

As flores têm o poder de encantar, de aproximar os relacionamentos, de dizer além da palavra. Não há olhar que não se encante nem sentimento que não se enobreça ante um buquê florido.
Mas as flores precisam ser ofertadas em vida. As flores precisam ser recebidas por aqueles que as merecem. Rosas, jasmins, violetas, gerânios, girassóis, hortênsias, alecrins, todas as flores, mas sempre em vida.
Não torne o amor sentido em guirlanda de último adeus. Não transforme a afeição sentida num buquê de saudades. As flores são para a vida, para o instante, para o brilho no olhar e o perfume da alma.
Contudo, não apenas as flores dos jardins, das floricultoras, dos caqueiros, das praças ou dos campos floridos devem servir como buquês de reconhecimento e veneração. Nem sempre as flores exóticas ou raras possuem mais valor sentimental que uma florzinha nascida miúda debaixo de uma janela.
O perfume da flor precisa ser sentido com outro olfato. Igualmente perfumam, aromatizam e encantam as flores das palavras, dos gestos, das atitudes. Há um arco-íris florido em cada gesto que provoca uma sensação de beleza e contentamento no outro ser.
Flores da amizade sincera, flores da palavra amiga, flores do aconselhamento bom, flores do abraço, flores do conforto, flores do carinho e da presença em momentos difíceis. Tais são as flores que merecem ser cultivadas e doadas em vida. Em teu lábio há um jardim, então diga uma bela palavra.
Em teus braços há um abraço tão florido quanto uma rosa vermelha e perfumada. Em teu afeto, em teu dengo e cafuné, há um jardim inteiro de pétalas vivas. Estenda a mão e doe flores.
Aja como se no teu gesto estivesse um belo buquê. Não precisa dizer quais as flores que leva. O perfume é sentido e absorvido por aquele que reconhece o valor de um lírio do campo chegado na simples presença.
E uma primavera inteira se abrirá em mil cores de amor, de respeito, de amizade. Em vida, na vida e para a vida, as flores permanecem sempre belas e perfumadas bem dentro do coração.

Eis que do jardim
chegou-me uma fragrância
e em tão belo florido
que logo imaginei
ser a mais bela flor
brotada na primavera
mas não
era apenas ela
ela que chegava bela
e num abraço
deu-me um buquê de amor.

As flores do amor. As flores do amar, da presença, do carinho e do afeto. E tudo tão perfumado como uma primavera chegada no olhar, na voz, no abraço e no coração.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

BIOGRAFIA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO


Antônio Vicente Mendes Maciel (Nova Vila de Campo Maior13 de março de 1830 — Canudos22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino",[1] foi um líder religioso brasileiro.[2] Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.[3]
A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio[carece de fontes], retrataram-no como um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista perigoso. No dia 14 de maio de 2019, a Lei 13.829/19 incluiu Antônio Conselheiro no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.[4]

Infância e vida no Ceará[editar | editar código-fonte]

Igreja do Bom Jesus, em Crisópolis, Bahia, construída por Antônio Conselheiro.

Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em 13 de março de 1830, na cidade de Quixeramobim, então um pequeno povoado perdido em meio à caatinga do sertão central da paupérrima província do "Ceará Grande". Desde o início da vida, seus pais queriam que Antônio seguisse a carreira sacerdotal,[2] pois entrar para o clero era naquela época uma das poucas possibilidades que os pobres tinham para ascender socialmente. Com a morte de sua mãe, em 1834, a meta de transformar Antônio Vicente em padre tem seu fim. Seu pai casa-se novamente,[3] e existem registros de que a madrasta espancava e maltratava o menino severamente[carece de fontes]. Em 1855 morre o pai de Antônio, e aos 25 anos de idade ele é obrigado a abandonar os estudos e assumir o comércio da família. Malogram de vez quaisquer sonhos sacerdotais. Estes negócios não vão nada bem, e mais tarde Antônio será processado devido a não quitação de suas dívidas[carece de fontes].

A Revista Ilustrada, de Angelo Agostini, veículo de propaganda republicana durante o Império, retratava Conselheiro de forma caricatural, com séquito de bufões armados com velhos bacamartes, tentando "barrar" a República.

Exemplo de como a imprensa da época reagiu ao messianismo.

Em 1857 Antônio casa-se com Brasilina Laurentina de Lima, jovem filha de um tio seu. No ano seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral, onde Antônio Vicente passa a viver como professor do primário, dando aulas para os filhos dos comerciantes e fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo clientes em troca de pequena remuneração. Passa a mudar-se constantemente, em busca de melhores mercados para seus ofícios; primeiro vai para Campo Grande (atual Guaraciaba do Norte),[2] depois Santa Quitéria e finalmente Ipu, então um pequeno povoado localizado na divisa entre os sertões pecuaristas e a fértil Serra da Ibiapaba. Em 1861 ele flagra a sua mulher em traição conjugal com um sargento de polícia, em sua residência na Vila do Ipu Grande. Envergonhado, humilhado e abatido, abandona o Ipu e vai procurar abrigo nos sertões do Cariri, já naquela época um pólo de atração para penitentes e flagelados, iniciando aí uma vida de peregrinações pelos sertões do nordeste.[3]

Peregrinações[editar | editar código-fonte]

Em Sergipe, em 1874, o jornal O Rabudo traz a primeira menção pública de Antônio Maciel como penitente conhecido nos sertões:

Há seis meses que por todo o centro desta Província e da Província da Bahia, chegado (diz ele) do Ceará, infesta um aventureiro santarrão que se apelida por Antonio dos Mares. O que, a vista dos aparentes e mentirosos milagres que dizem ter ele feito, tem dado lugar a que o povo o trate por S. Antônio dos Mares. Esse misterioso personagem, trajando uma enorme camisa azul que lhe serve de hábito a forma do de sacerdote, pessimamente suja, cabelos mui espessos e sebosos entre os quais se vê claramente uma espantosa multidão de bichos (piolhos). Distingue-se pelo ar misterioso, olhos baços, tez desbotada e de pés nus; o que tudo concorre para o tornar a figura mais degradante do mundo.[5]

Já famoso como "homem santo" e peregrino, Antônio Conselheiro é preso em 1876 nos sertões da Bahia, pois corre o boato de que ele teria matado mãe e esposa. É levado para o Ceará, onde se conclui que não há nenhum indício contra a sua pessoa: sua mãe havia morrido quando ele tinha seis anos. Antônio Conselheiro é posto em liberdade e retorna à Bahia.[2]

Em 1877, o Nordeste do Brasil passa pela Grande Seca, uma das mais calamitosas secas de sua história; levas de flagelados perambulam famintos pelas estradas em busca de socorro governamental ou de ajuda divina; bandos armados de criminosos e flagelados promovem justiça social "com as próprias mãos" assaltando fazendas e pequenos lugarejos, pois pela ética dos desesperados "roubar para matar a fome não é crime". Cresce a notoriedade da figura de Antônio Conselheiro entre os sertanejos pobres; para eles, Antônio Conselheiro, ou o "Bom Jesus", como também passa a ser chamado, seria uma figura santa, um profeta enviado por "Deus" para socorrê-los.

Com o fim da escravidão, em 1888, muitos ex-escravos, libertos e expulsos das fazendas onde trabalhavam sem ter então nenhum meio de subsistência, partem em busca de Conselheiro.

Arraial de Canudos[editar | editar código-fonte]

Em 1893, cansado de tanto peregrinar pelos sertões e então sendo um "fora da lei", Conselheiro decide se fixar à margem Norte do Rio Vaza-Barris, num pequeno arraial chamado Canudos.[6] Nasce ali uma experiência extraordinária: em Belo Monte (como a rebatizou Antônio Conselheiro, apesar de encontrar-se em um vale cercado de colinas), os desabrigados do sertão e as vítimas da seca eram recebidos de braços abertos pelo peregrino, era uma comunidade onde todos tinham acesso à terra e ao trabalho sem sofrer as agruras dos capatazes das fazendas tradicionais. Um "lugar santo", segundo os seus adeptos. Durante o período em que liderou o povoado de "Belo Monte", escreveu os "Apontamentos dos Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Salvação dos Homens",[7][8] que consiste de uma coletânea de reflexões sobre temas diversos, de matiz fundamentalmente religioso.

O lugar atraiu milhares de agricultores pobres, índios e escravos recém-libertos, que começaram a construir uma comunidade igualitária inspirada no exemplo da doutrina Católica. Por meio do trabalho comunitário, conseguiu-se que ninguém passasse fome. Tratava-se de uma comunidade rural, com uma economia autossustentável, baseada na solidariedade. A religião era um instrumento da libertação social[9].

A Guerra de Canudos[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Guerra de Canudos

Em 1896 ocorre o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos: em 24 de novembro desse ano, é enviada a primeira expedição militar contra Canudos, sob comando do Tenente Pires Ferreira. Mas a tropa é surpreendida pelos fiéis de Antônio Conselheiro, durante a madrugada, em Uauá. Após um combate corpo a corpo são contados mais de cento e cinquenta cadáveres de conselheiristas. Do lado do exército morreram oito militares e dois guias. Estas perdas, embora consideradas "insignificantes quanto ao número" nas palavras do comandante, ocasionaram o retiro das tropas.[10] Em 29 de dezembro de 1896 tem início uma segunda expedição militar contra Canudos.[3] Assim como a primeira, esta expedição foi violentamente debelada (vencida) pelos conselheiristas.

No ano seguinte tem início a terceira expedição contra Canudos; comandada pelo capitão Antônio Moreira César, conhecido como "o Corta-Cabeças", por suas façanhas na Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Mas, acostumado aos combates tradicionais, Moreira César não estava preparado para eliminar Canudos, e foi abatido por tiros certeiros de homens leais a Antônio Conselheiro. A tropa foge em debandada, deixando para trás armamentos e munição. Para os conselheiristas, trata-se de uma prova cabal da santidade do beato de Belo Monte. Em 5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição contra Canudos; desta vez o cerco foi implacável; até muitos dos que se rendiam foram mortos; eliminar Canudos e seus habitantes tornou-se uma questão de honra para o exército.[3]


Em 22 de setembro de 1897, morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte "caminheira" (disenteria).

Em 5 de outubro de 1897 são mortos os últimos defensores de Canudos, e o exército inicia a contagem das casas do arraial. No dia seguinte o cadáver de Antônio Conselheiro é encontrado enterrado no Santuário de Canudos, sua cabeça é cortada e levada até a Faculdade de Medicina de Salvador para ser examinada pelo Dr. Nina Rodrigues, pois para a ciência da época, "a loucura, a demência e o fanatismo" deveriam estar estampados nos traços de seu rosto e crânio (ver: frenologia). O arraial de Canudos é completamente destruído.

Em 3 de março de 1905, um incêndio na antiga Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, em Salvador (BA), destrói a cabeça de Antônio Conselheiro, que lá se encontrava desde o final da guerra de Canudos, em outubro de 1897.

Suposta loucura[editar | editar código-fonte]

O diagnóstico de louco, mais especificamente de portador de uma Psicose sistemática progressiva (termo equivalente ao delírio crônico proposto por Magnan) e a paranoia dos italianos, (referindo-se à Eugênio Tanzi e Gaetano Riva) por uma célebre autoridade sanitária da época, o Dr. Nina Rodrigues (1862 - 1906), no qual se fundamentaram os escritos da época (inclusive de Euclides da Cunha), ainda hoje se constitui como um entrave para o reconhecimento de seu mérito como líder comunitário responsável pela organização de mais de 24 mil pessoas em um ambiente extremamente adverso (Martins [11]) e até mesmo como um homem religioso com verdadeiros ideais cristãos.

A pecha de loucura e fanatismo religioso com os conceitos da época de psicologia social inspiradas na obra de Gustave Le Bon (1841—1931) também são responsáveis por toda uma lógica de interpretação das revoltas sociais como ocasionadas por influência de uma personalidade psicopática, a insanidade moral proposta por Henry Maudsley (1835–1918), num ambiente de ignorância, pobreza ou degenerescência tal como se designava na época, incluindo entre esses fatores psicossociais características biológico raciais. (ver Rodrigues [12])

Memorial Antônio Conselheiro[editar | editar código-fonte]

Há dois centros culturais relacionados a Antônio Conselheiro e à Guerra de Canudos. Um localizado em Quixeramobim no interior do Ceará, conta a história de seu filho ilustre, e está situado no centro da cidade. O imóvel, tombado pelo Ministério da Cultura em 2006, foi a casa em que Antônio Conselheiro nasceu e viveu até os seus 27 anos de idade. Após o tombamento, foi criado no local a Casa de Cultura e Memorial do Sertão Cearense.[13] O outro centro cultural está situado em Canudos, Bahia, criado pelo Decreto 33.333, de 30 de junho de 1986, (publicado no Diário Oficial de 1º de julho) mantido e administrado em parceria com a UNEB.


Com o passar do tempo, a casa de Antônio Conselheiro em Quixeramobim foi se tornando palco de contos de assombração. Acredita-se na cultura popular, que a casa abriga espíritos e que existem tesouros enterrados em vasos de barro. Essas histórias passaram a fazer parte do folclore local.[14]


O ROMANCE O CABELEIRA



O Cabeleira é um romance regionalista do século XIX, do autor cearense Franklin Távora. Foi lançado em 1876. Conta a história de José Gomes (o Cabeleira) e seu pai Joaquim Gomes, ambos precursores do cangaço do nordeste brasileiro, e suas desventuras por Pernambuco.

É considerado uma das maiores obras do autor, além de uma das obras pioneiras no romance regionalista nordestino.

Adaptações[editar | editar código-fonte]

A obra foi filmada em 1963, com elenco formado por Hélio SoutoMilton Ribeiro e Marlene França.

As locações se deram na cidade de Mococa, em São Paulo, e Arceburgo, em Minas Gerais.

Em 2008, o livro de Franklin Távora foi adaptado para os quadrinhos pelos roteiristas Hiroshi Maeda e Leandro Assis e pelo desenhista Allan Alex.

Em 2009 foi publicado o livro Cabeleira e outros cordéis de cangaço, escrito pelo conterrâneo do Cabeleira, o cordelista Rafael de Oliveira, pela editora Coqueiro, do Recife.


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BIOGRAFIA DO CANGACEIRO JESUÍNO BRILHANTE



Jesuíno Alves de Melo Calado (Patu1844 — Belém do Brejo do Cruzdezembro de 1879) foi um cangaceiro brasileiro. É considerado um dos precursores do cangaço no nordeste brasileiro.[1]


Também chamado de "Jesuíno Brilhante" ou "O Cangaceiro Romântico", nasceu de uma família da aristocracia rural sertaneja, no sítio Tuiuiú, região da cidade de Patu, e virou bandoleiro em 1871 pelo fato de seu irmão ter apanhado no meio da rua de sua cidade natal e pelo roubo de uma cabra que lhe pertencia.[2]

Diferente da filosofia dos cangaceiros do século XX, que roubavam e pilhavam, Jesuíno Brilhante foi considerado um cangaceiro gentil-homem, um tipo de Robin Hood, pois adorava e era adorado pela população pobre e sempre os ajudavam em questões financeiras e sociais, como subtrair dos coronéis o que era dos nordestinos, quando saqueava os comboios de alimentos que eram enviados pelo governo, para as vítimas das secas, mas que ficavam nas mãos dos poderosos e nunca chegavam à população. Além disto, também era defensor dos fracos, das crianças agredidas, dos velhos e das moças ultrajadas. Entre 1871 e 1879, o cangaceiro romântico implantou um “Estado Paralelo” nos sertões brasileiros.[3][4]


O desfecho final de Jesuíno de Melo Calado foi numa emboscada na região das Águas do Riacho de Porcos, na cidade de Belém do Brejo do Cruz, na Paraíba, quando levou dois tiros e morreu pouco depois no local denominado de "Palha".

Seus restos mortais estão desaparecidos, pois, após a sua morte, seu corpo foi levado pelo médico Francisco Pinheiro de Almeida para exposição no Colégio Diocesano de Mossoró por longos anos e, na sequência, fez parte do acervo museológico do alienista Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, que por fim, removeu do acervo sem dar paradeiro do destino final.


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REVISTA "REGIÃO" DE CRATO/CE.

A vingança do Tenente Antônio

Reportagem de Osvaldo Alves

Jornalista Osvaldo Alves de Souza
Dizendo chamar-se legitimamente Antônio Manuel Filho, o tenente Antônio de Amélia, famoso por haver vingado a morte de um sócio, matando três cabras de Lampião, recebeu o repórter na sua Fazenda Piau, a cinco quilômetros da cidade de Ouricuri. Naquela visita fizemo-nos acompanhar do Dr. Edilton Luna, Promotor de Justiça de Bodocó e do jornalista Francisco Rocha, correspondente de "Região" no estado de Pernambuco.

A historia do tenente Antônio é longa e cheia de lances perigosos. Nascido em Alagoas, na cidade de Mata Grande, AL pertenceu a Policia pernambucana, na época de Lampião. Hoje é tranquilo fazendeiro em Ouricuri, somente molestado pela insistente curiosidade de algum repórter da revista Região, pois fomos os únicos, até agora, a localizar, no seu retiro, o valente oficial reformado da Policia pernambucana, muitos anos depois de sua arriscada aventura.

Trajando calça escura e camisa branca, óculos de grau a ponta do nariz, foi assim que encontramos Antônio de Amélia no alpendre da Casa Grande da Fazenda Piau. Inicialmente meio arredio, mas logo se derramou em cordialidade e falou com toda franqueza contando sua historia, suas proezas, suas aventuras, finalmente o desfecho com a morte de quatro elementos do grupo de Lampião. Foi bate-papo longo, aqui e acolá entremeado de risos do nosso entrevistado, quando recordava um episódio cômico ocorrido em meio a mais terrível expectativa, nas horas de maior perigo.

Corisco sangra Mizael e desfecha-lhe dois tiros na cabeça.


Primeiro veio a noticia: mataram Antônio Mizael. Corisco - Conta-nos o Tenente Antônio - Tocaiou o meu sócio Mizael. Ele tinha uma propriedade - O sitio Catinga. Deu feira em Inhapi, e depois foi empreitar umas terras para plantação de feijão.

Em lá chegando deparou com Corisco, cabra do grupo de Lampião. Com a ajuda de outros três bandidos Corisco amarrou o meu sócio, em seguida sangraram-no e depois deu dois tiros na cabeça. Recebi telegrama em Caruaru comunicando o fato.

Meio tonto com a noticia fui a Inhapi e comuniquei ao Prefeito Antônio Mota que iria fazer uma tragédia com a morte de Mizael. Só Deus evitaria de matar um dos cangaceiros. Mizael será vingado, custe o que custar. E preparei o plano.

Familiares do Tenente eram amigos de Lampião. 

Após um cafezinho servido as visitas, Antônio de Amélia prossegue no seu relato: "Estando, certo dia, em uma firma comercial, em Inhapi, em companhia do meu amigo corretor Pedro Paulo, expliquei para ele o meu desgosto por ter sabido da grande amizade de pessoas de minha família com Lampião e seus cangaceiros. Sendo eu da família, prefiro ir embora a ver acontecer alguma coisa desagradável com eles. A uma perguntas de Antônio Paulo, que o maior relacionamento de Lampião era com o meu parente Sebastião. Soube até que ele tem um rifle do bandido para consertar, além de um cantil que eles mandaram fazer de zinco e tem ainda umas cartucheiras enfeitadas de metal, também para conserto.

 O encontro com Sebastião

Sem mencionar o sobrenome de Sebastião, Antônio de Amélia conta as providências tomadas na articulação de seu plano para vingar a morte do sócio Mizael. Protestando, de inicio, suas ligações com o grupo de Lampião, Sebastião findou concordando com Antônio de Amélia. No momento travou-se este dialogo, entre os dois:
- Sebastião, vamos liquidar esses cabras?
- Não, porque ninguém pode. Eles são muito desconfiados e valentes como cobras venenosas.
- Confie no meu plano. Garanto que dará certo.
- Estou até esperando por alguns deles, para entregar umas encomendas.
 A longa espera

Atendendo a uma sugestão de Sebastião, Antônio de Amélia conta que, em companhia de pessoa indicada por Sebastião, se dirigiu para o local não muito distante do sitio onde o seu parente teria encontro com os cabras de Virgolino. Ali aguardaria as noticias de Sebastião ou a ordem para se apresentar na casa onde estavam os bandidos. Antônio de Amélia conta que, durante oito horas, escondido no mato, ficou a espera de Sebastião, que só apareceu as dez da noite, esclarecendo que teve que realizar algumas compras em Inhapi e, de volta, demorou numa festinha de casamento.

- Pensei - disse Antônio de Amélia - que você tivesse denunciado o plano e nós é que iriamos morrer: A seguir Sebastião meio pessimista quanto ao bom resultado do plano do seu parente:

- Não vai dar jeito para vocês, apesar de Lampião não ter vindo com os cabras que já estão aqui. Quem veio comandando os cangaceiros foi Luiz Pedro, agora, tem muita gente. Estão distante daqui, uma légua.

Fingiram haver morto um soldado para gozar da confiança dos cangaceiros. 

Distante uma légua do sitio onde se encontravam Antônio de Amélia, seu primo Sebastião e Antônio Tiago, compadre do primeiro e amigo para enfrentar as mais difíceis situações, estava acampado um dos grupos do famoso bandoleiro do Pajeú. Foi neste local, conta Antônio de Amélia, que Sebastião, conhecido do grupo, pois para eles trabalhava em serviço de consertos de armas, costura de embornais e outras atividades de sua profissão, apresentou-me a mim e ao compadre Antônio Tiago: - Aqui é gente minha - esclareceu na hora da apresentação, adiantando: - Eles mataram um soldado e estão refugiados na Casa de João Aires. A policia os anda perseguindo, embora não saiba onde eles se encontram.

A historia da "morte" do soldado, ardilosamente criada por Antônio de Amélia, foi o bastante para que os estranhos passassem a gozar da simpatia e confiança do grupo. Para eles, cabras de Lampião era herói quem assassinasse um soldado e duas vezes herói quem matasse um oficial.

Integrados ao grupo, Antônio e seus companheiros passaram a dar os últimos retoques no plano. Pelo menos já haviam conseguido penetrar no bando, o que muito facilitaria a execução de tudo quanto imaginaram perpetrar para vingar a morte do sócio Mizael. Naquele mesmo dia, a sombra das árvores, comeram, beberam e dançaram, homem com homem.
Antônio de Amélia é o 4º à direita.

Interessante observação nos fez o Tenente Antônio de Amélia, a nos explicasse que mesmo sendo em pequeno grupo, os cabras de Lampião jamais dormiram todos agrupados num mesmo local. Na hora de dormir se espalhavam a fim de garantir uma reação no caso de serem surpreendidos por uma visita desagradável dos volantes policiais.

Encontro com Lampião. 

Reunidos ao grupo chefiado por Luiz Pedro, prossegue Antônio de Amélia na sua narração - Fomos a Fazenda de Pedro Ferreira, um amigo de Lampião.

Ali recebidos com muito queijo e carne seca de bode. Neste local os cabras demoraram pouco tempo. Daí seguiram ao encontro do chefe. A apresentação da mais nova aquisição do bando foi feita por Luiz Pedro.

- É gente de Sebastião - explicou o apresentador sob o olhar meio desconfiado de Lampião. Dada a grande confiança que gozava Sebastião junto a Lampião e seus cabras, os visitantes logo puderam ficar a vontade.

Grupo se divide para confundir as volantes

Contou-nos Antônio de Amélia: Todos os elementos do grupo estavam reunidos. Lampião, tendo ao seu lado a companheira inseparável Maria Bonita, começou a distribuir ordens. Precisava demorar, por muito tempo, naquele acampamento, para repouso, depois de longas caminhadas e reiterados encontros com as volantes policiais e de ataques a indefesas cidades nordestinas. Chamando Suspeita, um dos seus fiéis comandados, ordenou que fosse a cidade de Mata Grande. E prosseguiu o Rei do cangaço:
- Receba umas encomendas de Sebastião e depois, da Mata Grande mate Alfredo Curim, Zé Horácio da Ipueira e faça 6 ou 7 mortes na família dos Bentos que é para ficarmos aqui despreocupados. De lá viaje para onde quiser, que passe fora uns 15 dias a um mês. 
Alegando Suspeita, que os cangaceiros do seu grupo precisavam arrumar certas coisas, Lampião autorizou que retirasse elementos de outros grupos. Foi aí que Fortaleza, que era do grupo de Luiz Pedro, Medalha, que sempre acompanhava o chefe, e Limoeiro, que pertencia a outro, passaram a compor o pessoal de Suspeita para o cumprimento daquelas ordens. Ao mesmo grupo nos incorporamos. Isto é, eu, Sebastião e Antônio Tiago. Mais tarde, quando estávamos de passagem pelo município de Santana, Zeca, irmão de Sebastião e Alfredo, seu primo, se reuniram a nós, após as necessárias apresentações.

Em diferentes direções outros grupos saíram.

Seguindo as ordens do capitão Virgolino, diversos grupos seguiram em diferentes direções, com o mesmo objetivo de desviar a atenção das volantes e facilitar a permanência de Lampião, naquele local: Um deles, disse-nos Antônio de Amélia, se dirigiu a Matinha de Agua Branca, terra da famosa baronesa, cujas joias foram roubadas por Lampião, no inicio de sua carreira.

Cangaceiros deram para desconfiar.

Acampados no meio da mata, Suspeita e sua gente aproveitaram a presença de Zeca, primo de Sebastião, que era bom rabequista, para, ao lado de uma fogueira, dançarem e beberem durante toda a noite.

Antônio de Amélia prossegue na sua narração: Aproveitando os cabras entretidos na dança, chamei Sebastião e disse para ele: vamos ter um pouquinho de cuidado com os cabras. Parece que eles estão um pouquinho desconfiados. Chamei depois o meu compadre Antônio Tiago e combinamos:
- O primeiro tiro será dado por mim em "Fortaleza". Compadre Antônio cuida de "Limoeiro" e Sebastião de "Suspeita".
Aguardaremos, com cuidado a melhor oportunidade. Neste momento pude observar que Suspeita e Fortaleza se isolaram do grupo e, todos equipados, se dirigiam a um riacho nas proximidades do lugar de nosso acampamento.

Foi aí que Sebastião se dirigiu até o local onde os dois se achavam e perguntou:
- O que está havendo com você, Suspeita, que está triste e capiongo? 
Ao que Suspeita exclamou:
- Nada não, companheiro. Quem anda nessa vida precisa ter todo cuidado. Precisa confiar desconfiando. 
Sebastião retrucou:
- Então está desconfiando de mim que tudo tenho feito por vocês e gosto de você e do Capitão? Neste caso não mande mais me chamar para coisa nenhuma. E saiu para perto da fogueira. 
Diante da reação de Sebastião tudo voltou ao normal no acampamento, mesmo porque advertir, - disse Antônio de Amélia - para cessar a dança e o barulho da rabeca, pois dada a pequena distancia daquele local para a estrada, poderiam ser surpreendidos por alguma volante.

Tentativa frustrada.

Prosseguindo na entrevista, comenta Antônio de Amélia: todos reunidos ao pé da fogueira contavam anedotas ou relembravam fatos pitorescos ocorridos em outras ocasiões. Medalha levanta-se e se encontra a um pé de catingueira, enquanto Fortaleza se ampara em um toco escorou o embornal e ficou voltado para o fogo. Limoeiro, ao lado de Antônio Tiago, ouvia as historias que outros contavam. Foi neste momento que, ao me aproximar cautelosamente de Fortaleza, baixei o mosquetão em cima dele mas pinou a bala. Foi quando procurei despistar colocando rápido o rifle as costas e fui passando debaixo dos galhos das árvores.

Nisto gritou Limoeiro:
 - O que foi? 
- Foi o galho que pegou aqui na mira do rifle. 
Passando o episódio, frustrada a primeira tentativa de liquidar os bandidos, pude distanciar-me um pouco e sacudi a bala fora, colocando outra na agulha. Antes, justifiquei o caso afirmando inexperiência no uso de armas daquele tipo.

A hora da vingança.

O momento da vingança chegou: disse o tenente Antônio, de volta após mudada a bala que falhou e colocada outra na agulha, desci o mosquetão e o primeiro tiro pegou na cara do bandido Fortaleza, que enterrou os pés e caiu em seguida por sobre os paus. Dei o segundo tiro que o atingiu no ombro. Nisto ouvi disparo: Era compadre Antônio Tiago havia atirado em Limoeiro, enquanto numa sequência rápida, Sebastião pegou Suspeita pelo meio.

Alfredo ataca Medalha e saíram aos trancos e barrancos numa luta corporal danada. Corri para lá e encontrei suspeita com Sebastião imprensado na ribanceira do riacho tentando puxar o punhal que, por ser grande demais, não dava para arrancar da cintura. Sebastião então grita para mim: chegue se não este cabra me mata. Bati com a boca do mosquetão no pé do ouvido do cabra que o sangue acompanhou. Nisso Sebastião pode dominar Suspeita e joga-lo no chão. Quis usar novamente o mosquetão, mas Sebastião gritou:
Não atire que você pode errar e me atingir, e mesmo o bandido já está morrendo.
Em seguida corremos para o lugar onde António Tiago e Limoeiro se engalfinhavam numa luta de gigantes. Eram dois negros enrolados numa luta feroz.

Nisso Sebastião pegou nos cabelos de Limoeiro e exclamou: foi este bandido que sangrou o o finado Mizael. Fui mandado, disse Limoeiro.
- Pelo amor de Deus não me sangrem. Atirem na minha cabeça, mas não me sangrem. 
Um tiro reboou na mata. Caia morto o terceiro bandido. Estava vingada a morte do amigo de Antônio de Amélia. Partimos para o lugar onde Alfredo, pegado com medalha, tentava mata-lo. Alfredo é desses cabras vermelhos de cabelo ruim que quando pegam um não soltam. Ao nos ver disse:  
- Decá uma faca. Deixem eu matar este peste. 
Não permiti que matasse, explicando que deveria levá-lo para ser entregue as autoridades.

O diálogo entre Sebastião e Medalha

Outro episodio que nunca foi citado nos livros e reportagens sobre o rei do cangaço foi o que passamos a enfocar: já amarrado, pés e mãos, Medalha exclamou para Sebastião a que passou a tratar de Tião:
- Como é que você faz dessas... chamar seus parceiros para vir matar a gente?
Ao que Tião responde:
- Vocês estão acostumados a matar com facilidade, nós também podemos matar vocês na facilidade.
- Eu não sou homem para ser preso, me atirem na cabeça... me sangrem que eu fico satisfeito.
- Você está preso e garantido, explicou Tião.
No meio da luta uma segunda vingança

Praticamente encerrado o impasse entre matar ou prender, entra em cena novamente Alfredo, de arma em punho. Com revolver colocado por cima dos ombros de Tião, desfechou um tiro certeiro na cabeça de medalha. Tombou o quarto bandido. É o próprio Tenente Antônio de Amélia, explica a interferência de Alfredo no caso Medalha:

No meio da luta o velho Félix, pai de Alfredo, ao se aproximar do local do acampamento foi atingido por uma bala no peito esquerdo e foi fulminado na hora. O filho, como um louco, viu o pai cair morto e não teve outra alternativa a não ser a de matar, com a pistola de Limoeiro, mais um bandido do grupo sinistro de Lampião.

Exposição macabra dos bandoleiros e no caixão Félix Alves,
pai de Alfredo.


 O enterro coletivo dos quatro cangaceiros no cemitério de Mata Grande.
Noite Ilustrada, Edição 319 de 12 de outubro de 1935. Página 10
 Cortesia do scanner: Robério Santos

Créditos: Roberto de Carvalho
Transcrição Antonio Moraes para o Blog do Sanharol
Correções e adição de imagens: Lampião Aceso

Adendo Lampião Aceso

A literatura nos diz que este grupo foi orientado pelo tenente Joaquim "Grande", mas em nenhum momento este ou outro oficial é citado por Antônio de Amélia. De acordo com a legenda das duas primeiras fotografias o fato ocorreu entre 18 e 19 de setembro de 1935 em Mata Grande Alagoas.


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