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domingo, 17 de janeiro de 2016

A ESPERANÇA QUE RENASCE NA TROVOADA

Por Rangel Alves da Costa*

Para o povo sertanejo, a esperança sempre renasce na trovoada. Depois de tanto tempo de seca, de pastagens carcomidas de sol e calor, horizontes acinzentados e animais já no couro e no osso, só mesmo as chuvaradas para o retorno das alegrias. Tudo como um verdadeiro milagre: aqueles olhos cansados de tanto sofrer com os céus sem sinais, agora brilhosos e cheios de promessas após as nuvens prenhes se derramarem sobre sua porta, sua roçado, seu corpo em festa.

Os mais velhos já sabiam que não demoraria muito para a trovoada chegar. Um cágado apareceu na mataria e um velho sertanejo logo brilhou o olho. Quando um compadre disse que tinha avistado outro cágado saindo de uma loca, então não havia mais do que duvidar. Cairia chuva na certa, e trovoada. Somente o cágado sertanejo anuncia com precisão a chuvarada que vem.

É sabedoria antiga tida como certa. O cágado permanece escondido por meses ou anos a fio, mas se repentinamente sai da loca e começa a andar sem destino, a aparecer onde normalmente ninguém espera, então é porque sente que trovoada se aproxima. Quem quiser pode tirar a prova: quando o trovão ribomba o cágado já pode ser facilmente encontrado no meio do mato ou arredores. Muito caçador vai atrás de sua presa debaixo da trovoada.

Após encontrarem os cágados, os dois velhos sertanejos começaram a orar agradecidos pela chuvarada que logo cairia. Dito e certo. Não demorou muito e o horizonte escureceu totalmente, as nuvens prenhes e sombreadas tomaram conta do céu, os trovões barulharam, relâmpagos chisparam faiscantes. E a torrente começou a cair lá de cima e a se espalhar sertão adentro. E não faz muito tempo isso não.

Assim aconteceu nos últimos dias no sertão sergipano. Depois do calor sufocando a alma, as nuvens avançando tomadas de água, e prontas para despejar suas bênçãos sobre a vida tão necessitada de pingo d’água. Os horizontes foram escurecendo, a ventania açoitando as folhagens, os tufos secos se lançando de lado a outro, até que o dia tomou a feição da noite para os relâmpagos surgirem, os trovões estrondearem nos espaços, até os pingos grossos se derramarem sobre a terra adormecida. E que despertar feliz, contente, alvissareiro!


Em Poço Redondo, uma das localidades sertanejas mais devastadas pela estiagem, aconteceu algo verdadeiramente inesperado após as trovoadas da última quinta-feira. O riacho Jacaré, que nasce na Serra da Guia e passa entrecortando a cidade, e cujo leito degradado desde muito não sentia água correr, de repente reapareceu pedindo passagem numa força danada. As chuvas na cabeceira desaguaram riacho acima e o que se viu depois foram correntezas onde antes só havia pedra, empoçamento e devastação.

Há notícias de chuvaradas por todo o sertão, desde a Boca da Mata a Canindé do São Francisco. Não se sabe ainda se terão continuidade ou resolveram apenas minimizar a secura da terra. O sonho maior do sertanejo é que após as trovoadas outras chuvas de menor intensidade continuem caindo. Conhece muito bem que rompante de trovoada, ao encontro da terra tão seca, acaba em enxurrada e na destruição do que ainda reste vivo, pois as águas, ao invés de descer além das raízes e embeber todo o chão, apenas seguem adiante.

Mas desde muito que o sertanejo espera o relampejar e o trovejar. Mas bastou o surgimento dos cágados para tudo se confirmar. Tais sinais da natureza são como cortinas que se abrem para um encantamento, para uma festa, para a salvação. Os horizontes ainda continuam fechados, as nuvens gordas ainda passeiam pelas alturas, mas muito já foi conseguido ante o nada ter: água juntada no tanque, barreiro transbordado, o verde voltando a tomar conta das paisagens mortas e acinzentadas.

Muitos já fazem planos para a terra, para a semente, para o milho e o feijão. Ao menos por enquanto o animal sedento vai ter onde molhar sua língua. Não demora muito e os brotos já estarão sobre a terra e a fome restará expurgada. A enxada, a foice e o arado, logo sairão dos escondidos para se deitarem sobre o chão molhado. As velhas sementes, desde muito guardadas em cumbucas, ganharão a destinação da terra. E através delas o homem poderá sobreviver com dignidade.

E certamente algum sertanejo de pouca palavra estará gritando em pensamento: Grandioso é o Deus que levanta o homem antes que se deite aos pés do político, da política, da autoridade, do governante, do poderoso. É no pingo d’água que cai e na porção que é juntada na fonte que o sertanejo se livra da submissão, da vergonha de ter de se humilhar em busca de uma carrada de água para matar a sede do homem e do bicho. Todo aquele que faz do sofrimento do pobre um meio de politicagem, agora terá de perguntar a Deus por que manda chuva a quem tem de viver na eterna penúria, e assim alimentar sua fome de poder.

Seja como for, a verdade é que a partir de agora muitas promessas serão cumpridas. Não pelo político, mas pelo homem da terra. Tantas vezes se humilhou, se submeteu, mas jamais perdeu sua fé na força maior. Rezas, promessas e orações, eis a palavra do sertanejo. E agora, aos poucos, a resposta dos céus. E por isso mesmo que o primeiro grão colhido será colocado aos pés do altar do Senhor.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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Massacre da Família Gilo e o Cariri Cangaço Floresta

Manoel Serafim, João de Sousa, Cristiano Ferraz e Marcos de Carmelita na Tapera dos Gilo

"Em dezembro de 1925 o senhor Gino Donato do Nascimento descobriu que 12 burros de sua propriedade tinham desaparecidos. Manoel Gilo, filho mais velho de Gilo Donato, seguiu as pistas dos animais indo encontra-los em Lavras de Mangabeira, Ceará, em posse do coronel Raimundo Augusto, que havia comprado os animais de Horácio Grande.
A verdade é que Horácio Grande foi processado e preso por esse roubo e depois jurou matar Gilo Donato.

Tempos depois realizou um frustrado ataque a residência de Gilo onde saiu baleado e perdeu o comparsa apelidado de Brasa Viva. Horácio Grande depois entrou no bando de Lampião e através de sua irmã e sua esposa forjou cartas falsas como se fossem de Gilo Donato afrontando o Rei do Cangaço...No dia "26 de agosto de 1926, quinta feira", às 4 horas da manhã, Lampião com um grupo em torno de 120 cangaceiros, atacou a fazenda Tapera. Um longo tiroteio rompeu o silencio do local. Por horas as pessoas da vizinha Floresta ouviram os tiros ecoando. O capitão Antônio Muniz de Farias, comandante das forças volantes que estavam na cidade, não mostrou coragem pra ir lutar contra os cangaceiros e defender a família Gilo. Quando a casa da sede se encontrava quase totalmente destruídos e vários mortos banhavam de sangue seus compartimentos, Lampião comandou a invasão a residência." Nos conta João de Sousa Lima.

"Gostaria de convocar todos os pesquisadores para debatermos sobre a data exata da Chacina ocorrida na "Tapera dos Gilo" . A maioria dos escritores registram 26/08/1926, poucos 28/08/1926. Qual a data correta?"
Marcos de Carmelita

Marcos de Carmelita ao lado de Dona Dejinha, filha de Cassimiro Gilo

Geraldo Ferraz um dos mais conceituados pesquisadores sobre a temática e neto de comandante Theophanes Ferraz confirma:"Acredito, pelo registro que possuo, que o tiroteio foi, realmente, no dia 28 de agosto de 1926, assim vejamos:Telegrama do comandante Muniz de Farias, para o comando da Força Pública (grafia da época): “Floresta, 29. São 9:30 quando sigo deligencia com 37 homens fim tomar conhecimento tiroteio consta fazenda Tapera distante daqui 2 léguas. Saudações Muniz de Farias. Capitão Comandante."

E continuamos com a narrativa de João de Sousa Lima ...
Manoel Gilo foi capturado ainda vivo, estando morto seu pai Gino Donato, o irmão Evaristo, o cunhado Joaquim Damião e Ângelo de Rufina. Na estrada ficaram mortos Permino, Henrique (casado com uma irmã de Gilo), Zé Pedro, Ernesto (da fazenda São Pedro), Janjão, Alexandre Ciriaco (morto quando tentava defender os Gilos e que tinha vindo da fazenda São Pedro), Pedro Alexandre (na Barra do Silva).

Ainda tombou morto um soldado que havia ido com Mané Neto, que mesmo estando baleado e com poucos homens sob seu comando, mesmo assim contrariou as ordens do capitão Muniz e foi tentar salvar a família Gilo. Com a quantidade de cangaceiros sendo muito superior ao grupo de Mané Neto ele comandou uma retirada. Lampião pegou Manoel Gilo e perguntou o porquê dele mandar as cartas confrontando Lampião. Manoel Gilo respondeu que era analfabeto e não sabia escrever; nesse momento Horácio Grande pegou a pistola e atirou, matando Manoel Gilo. Só ai Lampião percebeu a trama que Horácio o havia colocado. O Rei do Cangaço o expulsou na hora do seu bando.

Marcos de Carmelita e o local onde foram sepultados

Leonardo Ferraz Gominho, renomado pesquisador de Floresta, assevera: "Se o dia 26 de agosto de 1926 caiu em um dia de sábado, a chacina ocorreu no dia 26. Lampião deixou parte dos seus cabras no caminho que levava à cidade, para aprisionar as pessoas que iam à feira em Floresta. E a feira era no sábado. Se sábado foi dia 28, perfeito ! Ouvi a história contada por meu avô ,Fortunato de Sá Gominho - Siato, e também por João Gominho, irmão de Siato. Ambos estavam em Floresta no dia da chacina;eram comerciantes, não perdiam feira;e afirmavam que chegavam a ouvir o som dos tiros. Um sábado, 28 de agosto de 1926. Sem sombra de dúvida".

Marcos de Carmelita, pesquisador e um dos organizadores do Cariri Cangaço Floresta, revela:"Amigos, quando em reunião com os Gilos eles sempre afirmavam que era dia 26/08/1926. Quando perguntei, em que dia da semana ocorreu o fato, eles respondiam sábado. Foi aí que mostrei o calendário de 1926 e eles disseram ser 28/08/1926. O quadro que foi pintado em Homenagem aos Gilos tem a data 28/08/1926. Alguns historiadores dizem que o Capitão Muniz só foi ao local três dias depois. Apesar do comandante ter sido um covarde, no local tombou o soldado João de Paula Ferreira da volante de Manoel Neto, ficando a Tapera a uns 10 km de distância. A polícia foi no local no outro dia. Ciato Gominho e outros familiares estavam em Floresta no dia da Chacina e Leonardo Gominho e Geraldo Ferraz estão certíssimos. "

E continua Marcos de Carmelita: "Todo Florestano tem conhecimento que a luta se deu em um sábado, dia da feira, não existia feira na quinta. Os filhos dos almocreves que foram capturados na estrada também confirmam a data. Os depoimentos do Senhor Eliseu que conviveu com os moradores da Fazenda Monte em Belém do São Francisco e que foram presos junto com os outros na Quixabeira do Riacho do Arcanjo, confirmaram a mesma história. Véio, filho de Zé de Anjo, ainda vivo e extraordinariamente lúcido, teve um caso amoroso quando era muito jovem, tinha uns dezoito anos, com Luciana Barros , a Lulu, que estava dentro da casa dos Gilos na hora do ataque e que perdeu seu pai, também morto pelos cangaceiros na casa de Joaquim Damião. O problema é que a Tapera e os outros grandes combates em Floresta foram muito pouco escritos e pesquisados."


"Quantos cabras estavam com Lampião por ocasião desse episódio na Tapera dos Gilo ?"


Segundo o pesquisador e escritor José Bezerra Lima Irmão em seu brilhante "Raposa das Caatingas" revela: "Lampião contava com 120 cangaceiros". Já Marcos de Carmelita acentua: "Não há como precisar a quantidade de cangaceiros. Ao sair da Tapera e chegar na Fazenda Água Branca, do Major da Guarda Nacional, Tiburtino Aĺves de Carvalho, fora quatro que foram mortos, o seu filho Alcides Carvalho contabilizou 94 cangaceiros na calçada da casa grande e vinham dois baleados que foram tratados por seu Alcides."

Já Geraldo Ferraz pontua: "Sobre a quantidade de cangaceiros liderados por Lampião, tenho a informar que, segundo o Cel. Veremundo Soares, em comunicação ao Governador Sérgio Loreto, no dia 31 de agosto, 03 dias após o massacre, Lampião liderava 112 (cento e doze) homens. O telegrama: "Salgueiro, 31 de agosto de 1926. Communico vossencia grupo bandido Lampeão composto 112 homens achava-se esta noite povoado Conceição municipio Belem Cabrobó tomando animaes e depredando. Dolorosa situação do sertanejo. Saudações. Veremundo Soares. Prefeito.

Tudo isso e muito mais em breve...
Cariri Cangaço Floresta 2016
Em maio, Floresta do Navio e Nazaré do Pico

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CRIANÇAS PRODÍGIOS PERSEGUINDO SEUS SONHOS

Por Antonio José de Oliveira

Caro Professor e Pesquisador José Mendes Pereira: 

Aproveito a sua generosidade de sempre, para solicitar a postagem de uma modesta homenagem dedicada a CINCO garotos, que a meu ver são considerados crianças prodígios. Garotos esses, que em busca dos seus objetivos não desperdiçam o tempo quando as oportunidades surgem. Para a realização dos seus sonhos enfrentam os desafios - é claro -, com o incentivo e acompanhamento da família, levam avante os seus ideais.

Aleida Guevara

O SER humano para realizar os desejos necessários almejados, precisa sonhar. A grande médica cubana Aleida Guevara em uma das suas entrevistas na televisão, afirmava que "O HOMEM COMEÇA A MORRER, QUANDO DEIXA DE SONHAR". Não sei se este é um pensamento filosófico próprio, ou se está confirmando outro autor. E, Silvia Schmidt completa dizendo: "Sonhar é uma forma de poder enxergar o futuro em meio à escuridão", e faz uma alerta "as pessoas que afogam os seus sonhos, afogam também seus talentos".

Silvia Schmidt 

Os garotos, os quais vou mencionar os seus nomes, muito cedo descobriram seus talentos e não os afogaram, e sim, colocaram-nos em ação.


Começo com JOTA A (José Antonio Viana Holanda), nascido em Guajará-mirim, Rondônia em 1999, hoje reside em Sorocaba-SP.

Filho de pais evangélicos, aos três anos já cantava na igreja. Aos doze anos foi vencedor no Programa de Raul Gil, JOVENS TALENTOS KIDS, e no ano seguinte gravou seu primeiro CD e foi convidado para compor a bancada do júri do referido programa, ganhando logo mais, disco de ouro e de platina pelo seu excelente desempenho na aceitação e venda do seu CD.

JOTA A já chegou a cantar para uma multidão de duzentas e cinquenta mil pessoas num grande evento evangélico em Fortaleza.


DOUGLAS SEIFERT ESPÍNOLA, residente em Guarulhos, Estado de São Paulo, um ano após Jota A ser vencedor no programa de Raul Gil, o Douglas foi vencedor no mesmo programa.

É um garoto extraordinário, com a expressão de quem "canta com a alma" e de quem persegue com segurança e obstinação os seus sonhos. "Nós somos feitos de sonhos. E, quanto maior for o tamanho do sonho, maior será a nossa força para lutar e ir em busca da realização" - Kaay Oltramari.

O Douglas passa ao público uma alegria contagiante. Lembro-me que em Raul Gil, provocou lágrimas em uma das jovens que compunham o corpo de jurados ao cantar HERÓI DA VELOCIDADE, e foi aplaudido de pé pela plateia. É um garoto de sensibilidade admirável, interpretando músicas sertanejas de raiz, daquelas que o público aprecia. 

Peço a você que solicite ao GOOGLE a música HERÓI DA VELOCIDADE, na voz de DOUGLAS ESPÍNOLA e tire a sua própria conclusão, e veja se o que afirmo está correto.


ALEXANDRE NUNES. Mais um garoto prodígio, filho do nosso Nordeste Cearense - Cidade de Fortaleza, começou a cantar música sertaneja aos cinco anos, e aos dez foi apresentado ao Programa Jovens Talento Kids, o mesmo por onde foram vencedores Jota A, Douglas Espínola, e tantos outros meninos e meninas, inclusive MAÍZA quando bem novinha - agora cantora, apresentadora e atriz de novelas.


O Alexandre Nunes interpreta músicas sertanejas, tão bem quanto o Douglas Espínola. Participou do Programa de Raul Gil em 1912 e foi muito bem sucedido. Sabe selecionar um repertório que vai ao encontro dos ouvintes. Vem se apresentando com sucesso em canais de televisão e emissoras de rádio. O Alexandre é orgulho nem só da sua família, como da escola onde estuda, a diretora afirmando sê-lo um excelente aluno.

Em uma das suas apresentações, ao interpretar a música CANARINHO PRISIONEIRO, pediu permissão ao apresentador Raul Gil para conclamar em defesa dos pássaros.


NADSON - O FERINHA DO ARROCHA, residente em Tobias Barreto, Estado de Sergipe, garoto esse, descoberto pela equipe do Programa do Gugu, e levado a encontrar-se com o cantor Pablo do Arrocha - seu inspirador, onde cantaram juntos e gravou um CD. O Nadson faz carreira solo, ou em dupla com a garota Cássia Helen, formando assim uma perfeita harmonia musical.

O garoto, tanto quanto os demais mencionados, tem vários vídeos postados na Internet. É um menino bem intencionado e sensível ao sofrimento das pessoas. Afirma que seu principal sonho, além de ajudar à família, é tirar os mendigos das ruas. Em sua apresentação na TV Record encantou a plateia e os telespectadores.


Por fim, parabenizo um garoto de nove anos de idade, das Terras paulistas de Bauru - PEDRO MOTTA POPOFF. Um menino eclético, que canta do xote, ao xaxado e admira a música sertaneja de raiz. Conhece e canta as músicas de Luís Gonzaga, Sérgio Reis, Raul Seixas, Enezita Barroso e Tião Carrero.

O Pedro Motta tem um futuro promissor, tanto como cantor, músico, pesquisador e ator. Escreve pequenas peças teatrais baseadas em Lampião e o cangaço. Embora seja paulista ama as coisas do Nordeste.

Aguarde Pedro Motta Popoff, que o Escritor José Bezerra Lima já fez a dedicatória e estará ainda esta semana enviando-lhe a grande obra LAMPIÃO - A RAPOSA DAS CAATINGAS para você somar aos seus conhecimentos sobre o cangaço do nosso Nordeste.

Parabéns, portanto, aos CINCO novos artistas aqui citados e aos profissionais das comunicações que descobrem essas crianças: Raul Gil, Gugu, outros apresentadores de Rádio e TV, bem assim, os pesquisadores-blogueiros que publicam matérias sobre esses garotos que fazem sucesso.

Tive o prazer de conhecer a história do Pedro Popoff através do http://blogdomendesemendes.blogspot.com das Terras de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Parabéns de coração a todos vocês; mesmo evangélico que sou, não poderia deixar de admirar  e respeitar o gosto desses garotos  pela arte - pela cultura.

Que todos vocês continuem cantando o mesmo estilo aprovado pelo público ouvinte, e que continuem HUMILDES como sempre forram, para que essa aprovação permaneça sempre.

O amigo,
Antonio Oliveira - Serrinha - Bahia. 

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LEMBREI-ME DOS AMIGOS AO LER ESTE TEXTO

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Lembrei dos amigos ao ler este texto sobre a palavra "sertão" e seus significados, publicado no “O Estado de S. Paulo”, edição de 18/06/1960, de autoria do escritor e filósofo paraense Benedito Nunes, in comentário ao ensaio do intelectual paraibano Eidorfe Moreira: “sertão - a palavra e a imagem”.

IMAGEM DO SERTÃO

O ensaio de Eidorfe Moreira, “Sertão – A Palavra e a Imagem”* não é um simples trabalho de especialista. Geógrafo completo, Eidorfe Moreira é também um historiador com sólida formação filosófica e humanística. O seu extraordinário “background” cultural, revela-se, logo de início, na análise da palavra “sertão”, inspirada nos princípios gerais que regem a moderna semântica. Declarando que “todas as palavras são suscetíveis de certas disponibilidades semânticas” e que “por trás da crosta do significado comum, que é o seu valor usual como unidade de significação, elas encerram também certas possibilidades latentes”, o autor qualifica “sertão” como palavra-mundo. “Poucos vocábulos, diz ele, estarão tão intimamente ligados à vida nacional como este. Ele representa, para nós, o que ‘pampa’ representa para a Argentina, ‘estepe’ para a Rússia, ‘deserto’ para a Judeia ou para Arábia: um símbolo geográfico e um elemento de caracterização”. Essa palavra, importante no vocabulário administrativo do Brasil-colônia, indica um dos elementos dialéticos da nossa história. É o termo oposto a litoral, a costa, a vida urbana. A formação nacional se processou debaixo dessa tensão entre um exterior sujeito a influências oscilantes, que dependiam do ritmo da própria história europeia e de um interior que suscitava novas forças sociais e econômicas, e que é responsável tanto pelo movimento das bandeiras como pelos ciclos da mineração e da criação de gado. “O litoral representa as influências externas, aquilo que temos de comum e incaracterístico com os demais povos; o sertão encarna as nossas persistências históricas, o substrato real da nacionalidade. Pelo litoral somos universais; pelo sertão somos nós mesmos”. Daí por que a oposição litoral-sertão, uma das chaves dialéticas do nosso desenvolvimento como povo, não exprime uma simples dicotomia geográfica. Ela traduz uma antítese cuja importância e, simultaneamente, histórica e social.

Penetrando no conteúdo da palavra, Eidorfe Moreira extrai seis aspectos que se entrecruzam na gama de significados que o sertão exprime. Em primeiro lugar, “sertão” exprime uma relação topológica. É o interior (Backland, Hinterland), compreendendo “as terras situadas além da faixa litorânea”. Não há, porém, limites fixos entre a área do sertão e a do litoral. Tomando-se por base um só critério, seja fisiográfico, fitofisionômico ou climático, não conseguimos estabelecer fronteiras precisas. Igualmente, nem a natureza do solo, nem a incidência das chuvas podem enquadrar o sertão nessa moldura geográfica extremamente simples. O interior não é sertão para o Extremo-Norte e para o Extremo-Sul. A relação topológica é, portanto, grandemente móvel; os dois termos, sertão, sinônimo de interior, e litoral ou costa, ora se afastam, ora se aproximam muito.

Sertão significa, também “um tipo de paisagem, um quadro ou panorama caracterizado por certos traços geográficos e humanos”. Nada exuberante, indisciplinada e violenta, hostil ao homem, essa paisagem caracteriza-se por um certo abandono intrínseco que a agrestia eleva ao superlativo. Dela fazem parte o primarismo do regime econômico e o primarismo da cultura. O seu paradigma é o interior do Nordeste. Apresenta formas atenuadas de relevo, clima quente e seco, com pluviosidade irregular, além de vegetação rasteira, fraca expressão demográfica e, ao lado de uma economia tradicionalmente pastoril, populações em estado de penúria, com baixo padrão de vida.

O terceiro significado de sertão é grandeza, “vastidão, distância, lonjura”. A palavra em si, como observa o autor, já traz no seu corpo elementos sonoros ou fonéticos que lhe permitem sugerir o imenso e o ilimitado e que adjetivos como “grande” só podem fortalecer, acentuando a impressão de abertura espacial e também, diríamos, de profundidade. Nesse sentido o sertão vale por uma presença espiritual. É o sertão de Riobaldo que “está em toda parte” e “é sem lugar”.

Ainda não se esgotou a riqueza da palavra “sertão”, e ainda não se compôs a imagem correspondente que autor deseja transmitir-nos. Pois o sertão não é um só. Como topônimo, ele varia. “Na realidade não há sertão, há sertões”. Euclides da Cunha e Taunay não falaram de uma mesma terra sertaneja. E o sertão que eles conheceram não foi o solo que os bandeirantes pisaram e desbravaram.

Em torno dos dois últimos significados é que Eidorfe Moreira desenvolve as ideias mais interessantes, de um modo muito pessoal, completando a imagem múltipla do sertão, que possui, para ele, um sentido espiritual profundo, transcendente e decisivo para a realização do destino histórico do povo brasileiro. Daí por diante o geógrafo vai utilizar a análise sociológica e política, sem desprender-se da realidade viva que procura compreender e interpretar.

Sertão e acracia se confundem. O sertão é natural e socialmente acrático: um estado de anarquia permanente que as condições ambientes consolidam e estimulam. A presença do Poder Público nele se esfuma. A organização do estado dilui-se entre os chapadões altivos, no remanso traiçoeiro das veredas silentes, nos pés de serra, nas voltas dos caminhos ao longo dos descampados adustos, durante a dispersão determinada pelas secas, ou em torno dos santuários milagrosos.

O anarquismo do sertão não está só na arma do cangaceiro e no mandonismo dos coronéis e senhores de terra. Ao lado do anarquismo ativo, responsável por tantos “governadores”, que produz as empreitadas de sangue e o sistema ininterrupto de vinditas privadas que os interesses políticos perpetuam, há “o anarquismo com agitação intermitente” do sertanejo, “endêmico, pacífico e natural”. Essa última forma de anarquismo representa, em imagem grosseira, um “estado natural”, constante, que neutraliza a presença do Poder Público, estabelece a força disciplinadora da ordem jurídica, fazendo com que os costumes e as tradições prevaleçam sobre a lei tanto quanto as relações de ordem privada sobre os de ordem pública.

Penso que esse anarquismo intermitente está estreitamente relacionado com o sexto e último significado: sertão como “estado mental”, que não é interiorização da paisagem, nem apenas reação emotiva do homem ao ambiente em que ele vive. É toda uma atitude de espírito, um modo permanente de sentir, de ver, de dar valor às coisas. Mais do que arraigamento à terra, o estado mental correspondente a sertão é o de introversão psíquica. É o mundo interior, o Hinterland da alma que Guimarães Rosa soube compreender e retratar admiravelmente nas peripécias de Riobaldo e Diadorim.

Signo espiritual da vida brasileira no que ela tem de mais interior, profundo e secreto, o sertão tem sido e continua sendo um dos polos da nossa história e da nossa formação social. Contrabalançando as solicitações do litoral, o sertão, como termo antitético, é a reserva das forças sociais e econômicas que, convenientemente aproveitadas, servirão para garantir o equilíbrio, a unidade e o desenvolvimento harmonioso do pais.

* Eidorfe Moreira – Sertão – A Palavra e a Imagem. Ed. Particular. Belém, 1959

imagens: internet mirnacavalcanti.wordpres, arte1.band.uol.com.br correiodobrasil.com.br, respectivamente

Fonte: facebook
Grupo: O Cangaço

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A MORTE DE NENÉM DE LUIZ PEDRO


Sila juntou-se a Zé Sereno provavelmente no dia 07 de novembro de 1936. Ela conta que, na véspera, fez a “arrumação da trouxa” e para comemorar o fato Zé Sereno à noite deu uma festa que terminou tarde. Zé Sereno estava com seu grupo junto com o de Luiz Pedro. Naquela noite, Sila dormiu em sua casa pela última vez.

No dia seguinte – que ela chama de “data marcada” – ela e os irmãos foram ao encontro do bando, que se encontrava embaixo de uma quixabeira perto de casa. Deixando as terras de Poço Redondo, os cangaceiros partiram em direção a Paripiranga, na Bahia. Viajavam a pé.

Eram 12 pessoas. As únicas mulheres eram Sila e Neném de Luiz Pedro.

No terceiro dia, 9 de novembro de 1936, arrancharam-se na casa de um coiteiro na Fazenda Algodãozinho, perto do povoado Mocambo, na estrada de Carira para Itabaiana. Muita comida, muita cachaça. Ao anoitecer, o vigia deu o alarme: vinha chegando sorrateiramente a Volante do Sargento DELUZ. Iniciou-se o tiroteio. Neném, cangaceira experiente, pegou a novata pelo braço e correu com ela para o curral, ao lado da casa, enquanto os homens sustentavam o contra-ataque, a fim de dar tempo para que elas fugissem.

Aparentemente a fuga seria fácil, pois os cangaceiros contavam com a escuridão da noite. Quase todos já haviam transposto a cerca de arame farpado do curral, quando ouviram um baque surdo. Gumercindo, irmão de Sila, avisou:

- Luiz Pedro, Neném tá “ferida”!

Um cangaceiro que vinha atrás corrigiu:

- Tá não, tá morta “mermo”!

Luiz Pedro, desesperado, voltou para socorrer a companheira, porém um cangaceiro derrubou-o ao chão e arrastou-o para o mato. Luiz Pedro gritava:

- “Fios” da puta! Mato tudo, um por um, raça “disgraçada”!

Os cangaceiros meteram-se na caatinga. Foram dormir nas terras da Fazenda Lagoa Comprida, de Napoleão Emídio.

Enquanto isso, no curral da Fazenda dava-se um ato de SELVAGERIA:

OS SOLDADOS SERVIRAM-SE (SEXUALMENTE) DE NENÉM, JÁ MORTA.
POR FIM, ESTIMULARAM UM CACHORRO A FAZER O MESMO.

Na fotografia acima estão: Luiz Pedro, Neném do Ouro (Neném de Luiz Pedro) e o cachorro "Ligeiro" que pertencia a Lampião.

Fonte: Livro LAMPIÃO – A RAPOSA DAS CAATINGAS de José Bezerra Lima Irmão

Transcrição: Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Fonte: facebook
Grupo: O Cangaço
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