Seguidores

domingo, 9 de setembro de 2018

SCANS: REVISTA VEJA, 19 DE NOVEMBRO DE 1975. ENCONTRARAM O EX CANGACEIRO "CURIÓ"





Pedimos ao leitor desconsiderar o trecho: " Preso, Curió foi obrigado pelas volantes a cortar as cabeças de seu chefe, de Maria Bonita, Angelo Roque e Vila Nova..." pois, não corresponde a verdade histórica dos fatos.
 

Créditos: Ivanildo Alves Silveira

Para saber o destino do " velho pássaro" não deixe de ler este adendo de Messier Rostand.

Procurei mais detalhes e descobri no "Diário de Pernambuco, edição de domingo, 19 de Agosto de 1990, um dia antes, as 7:40, havia falecido no Hospital da Restauração, de embolia pulmonar, Marcos Alexandre da Costa. Ele tinha 88 anos, havia sido atropelado por um ônibus no Complexo de Salgadinho, no dia 16 de agosto de 1990.
 
Depois que foi solto em 1975, o então governador de Pernambuco, Moura Cavalcante lhe arranjou um emprego de marceneiro no Juizado de Menores. 
Morava na chamada Vila Popular, no bairro de Peixinhos, em Olinda. Havia residido anteriormente na Estrada da Caixa D'Água.
Do seu casamento, depois que foi solto, cuidou de três enteados, que lhe deram 26 netos e 22 bisnetos. 
Segundo a reportagem, Curió havia nascido no dia 7 de maio de 1907, na cidade de Bom Conselho, Pernambuco.

Primeiramente, entre 2006 e 2007, eu estava trabalhando em Caicó-RN, onde conheci uma senhora que nasceu em Olinda e vivia (acho que vive ainda) na cidade potiguar e me falou que quando morava em Olinda conheceu "Seu Marcos". Passou-me algumas informações que foram corroboradas, em parte, pela reportagem. Ela comentou que sobre sua vida cangaceira, ele era extremamente reticente em comentar este assunto. Mas na região onde eles viviam todos sabiam quem foi Curió.
 
Em 2007 postei sobre este encontro com esta senhora na comunidade do Orkut "Lampião, Grande rei do cangaço". Mas devido ao silêncio gélido "dos gênios" que aqui comentavam sobre cangaço, achei melhor me resguardar para depois não levar o nome de mentiroso. A única pessoa que se interessou e tentou encontrar alguma coisa sobre este cangaceiro em Recife foi nosso amigo Jal Gomes. Mesmo infrutífera na sua busca, valeu pela iniciativa maravilhosa.
 
Depois achei este artigo no "Diário de Pernambuco", mas aí assunto já tinha morrido. E agora vejo, de forma muito positiva, o amigo Ivanildo trazer este artigo da Veja. 

Lembrei-me de outros detalhes: Se não me engano, na época em que Curió foi atropelado, a senhora me comentou que a empresa proprietária do ónibus se chamava “Vera cruz”, mas não tenho certeza. Que a família do ex-cangaceiro ficou revoltada, cogitando até entrar na justiça.
Outra coisa que ela me falou foi que em Peixinhos ele igualmente havia morado próximo a um antigo local que foi um “matadouro”. Pessoalmente não conheço estes locais. Seria legal nossos amigos de Pernambuco comentarem se estas informações poderiam, ou não, terem sentido. È só o que recordo. 

Analisando esta questão do ex-cangaceiro Curió, percebemos que num primeiro momento ele teve até sorte e sua saída chamou atenção da sociedade local. O próprio governador pernambucano da época mandou buscá-lo em “carro oficial”, lhe recebeu como “herói” no palácio, lhe deu emprego e o utilizou (mesmo sendo ele analfabeto) como “garoto-propaganda” em uma feira regional de municípios. 
Interessante como estes acontecimentos apontam a mudança de percepção da sociedade pernambucana, e por tabela a brasileira em geral, em relação ao cangaço. 
 
Se em 1975, a saída de um ex-cangaceiro da prisão gerava toda esta notoriedade, se ele tivesse sido solto no final da década de 1950, certamente Curió buscaria inicialmente o anonimato, pois seria muito mais fácil ele ser execrado pela população como “marginal”, “bandido”, ou levar uma bala de algum desafeto.
Aparentemente, apesar da sorte inicial, sua vida posterior deve ter sido de muitos apertos. 
 
Comento isso analisando as várias fontes apresentadas neste tópico, pois mesmo com o seu emprego de marceneiro no Juizado de Menores, ele deve ter ralado muito o ex-cangaceiro. Vemos que primeiramente passou a residir na “Favela do Córrego do Euclides”, em Casa Amarela, depois aparentemente na “Estrada da Caixa D'Água”, seguindo para a “Comunidade de Peixinhos”, onde viveu próximo ao antigo “Matadouro”, ou na “Vila Popular”. Além disso, teve de cuidar da mulher, três enteados, vários netos e bisnetos. 
 
Detalhe; Não sei se procede (os colegas de Recife podem me corrigir), mas pelo que sei, estes locais que Curió morou na Região Metropolitana de Recife, são (ou eram) locais de alta periculosidade, de ocorrência de tráfico de drogas, etc. Mas, pelo menos até onde se sabe o ex-cangaceiro não se envolveu com nenhum tipo de problema envolvendo a marginalidade.
 
Não sei, mas creio que Curió foi o último cangaceiro a deixar vivo (e na época totalmente lúcido) um ambiente prisional no Brasil. Será? 
 
 
Perda de oportunidade
 

Fosse por que Curió não gostava de falar, ou talvez por que em 1975 os estudiosos do assunto “cangaço” tinham “material de sobra” para pesquisar (ainda haviam muitos dos velhos coronéis, ex-perseguidores, ex-coiteiros, etc). Fosse por que estes estudiosos entendiam que naquela época não valia à pena perder tempo com um cangaceiro que, talvez, não fosse considerado “importante”, ou no bando era apenas um "lavador de cavalos”. 
 

Fossem por estas ou outras razões, sei de uma coisa, para aqueles que gostam do assunto, faltou naquela época alguém ir até este Senhor e “furar” a sua barreira de prevenção em relação a falar sobre o seu passado. Faltou alguém ter tido a oportunidade de ao menos tentar conseguir dele a sua memória sobre este período. 
Faltou naquele tempo um “batalhador da história”, como um João de Sousa Lima, que trouxe a bela a rica saga de Moreno e Durvinha.
 

Vemos que este ex-presidiário só ganhou notoriedade pelas suas andanças no cangaço. Provavelmente a reportagem da Veja, edição de Novembro de 1975, gentilmente postada por Ivanildo, foi publicada a partir de algum “furo” conseguido por algum correspondente da revista lotado em Recife, ou através de notícias publicadas nos jornais recifenses. Se ele não tivesse sido o cangaceiro "Curió", a morte do aposentado Marcos Alexandre da Costa seria uma simples notinha de rodapé da cronica policial recifense. 

Um abraço.

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Curi%C3%B3

CANGACEIRO ESPERANÇA SUA PRISÃO E SUA HERANÇA

Por João de Sousa Lima
Cangaceiro "Esperança" ao centro.

A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um  dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória  e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema.

O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.
Ludugero, tio de Esperança, dono da fazenda Quirino.

João e Jovelina Barbosa, irmã do cangaceiro Azulão, 
povoado São Francisco.

Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.
    
Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.
    
Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada.  Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:
- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!
Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.
 Cabeça do Cangaceiro Cocada,
morto pelo "colega" Esperança

Na Várzea da Ema ele se entregou  as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias  depois  foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Ainda na prisão em Várzea da Ema.

O cangaceiro Esperança quando preso, já atendendo agora por Mamede, seu nome real, encontrou o com o jovem sobrinho José  Gonçalves Varjão, apelidado de Pororô e lhe confidenciou que na frondosa árvore lateral a casa de sua família, enterrado próximo ao seu tronco, tinha um material guardado e que ele tirasse e entregasse a seu pai. Pororô procurou ao redor da árvore mais diante da pouca idade não encontrou forças para continuar a empreitada de escavação no duro chão de cascalhos.

O tempo passou, Pororô cresceu e retornando certo dia de uma caçada, quando se aproximava de sua velha residência, viu quando seu cachorro passou acuando um preá, o cachorro parou próximo a antiga e frondosa árvore, Pororô se aproximou e viu o cão rosnando e olhando para um pé de macambira, Pororô tirou a cactácea e avistou uma lajota cobrindo um buraco, tirou a pedra, o preá correu com o cachorro latindo atrás, Pororô puxou um tecido em farrapos que cobriam algumas peças, entre elas: Uma colher de prata, 160 cartuchos de fuzil, um punhal, uma espora e algumas moedas.
 Colher de prata de Esperança 
presenteada ao escritor João de Sousa Lima pelo sobrinho do cangaceiro.

Era esse o tesouro de Esperança que ele havia pedido para o sobrinho guardar. Pororô vendeu os cartuchos a um dos prefeitos de Macururé. A colher de prata, algumas moedas, o punhal e uma das esporas ele me presenteou. Na colher encontramos as letras: MA. Talvez o cangaceiro tenha tentado escrever seu verdadeiro nome: MAMEDE. No punhal tem um “NA” ou “NH”.
Detalhe do cabo do punhal de Esperança

Pororô ainda reside e seu irmão Izidoro ainda residem no São Francisco e os Quirino é herança que ficou com a família. Aquele longínquo pedaço de chão ainda guarda as histórias do cangaço vivido em suas terras, memórias ainda latentes de um tempo que teima em não ser esquecido e nem deve....
João de Sousa Lima ladeado por Izidoro e José Pororô
Sobrinhos de Esperança.

Segue em anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os erros e incorreções:
“Aos três do mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi interrogado o bandido acima referido que disse:
   
“Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não sabe-se se isso efetuou-se,  mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
 
 Sargento Otávio Farias, radiotelegrafista da policia baiana.
Serviu na Várzea da Ema, sempre enviava as mensagens contando os combates 
dos cangaceiros contra as volantes.
Que sempre foi seduzido por “Lampião”  para fazer parte do seu grupo, mas nunca aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três  pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
   
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
   
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
   
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi emboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que enfrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
   
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilo acusando Lampião, por isso Lampião resolveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilo.
   
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns  rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
   
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
   
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deu-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.

Várzea da Ema, 7 de maio de 1932”
João de Sousa Lima,
Historiador e escritor, Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso.
Membro do IGH- Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso
Membro do Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará- Fortaleza- CE.

Tá tudo lá, no www.joaodesousalima.com

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Gavi%C3%A3o

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

BENJAMIM ABRAHÃO

O Enviado especial de Ademar Albuquerque?! 

Por: Aderbal Nogueira 

Pois é, a história nos causa muitas surpresas. Pelo que eu sabia ate ontem foi o libanês Benjamin Abrahão quem teve a iniciativa de filmar e fotografar Lampião, porém, em uma gravação de um documentário que estou fazendo com o amigo Gláuber Paiva, que não tem nada a ver com cangaço, surgiu o assunto Lampião. Pois o nosso entrevistado, Miguel Ângelo de Azevedo, o famoso "Nirez" que juntamente com Christiano Câmara são os dois maiores memorialistas e pesquisadores da história de Fortaleza, tendo um acervo incrível sobre nossa cidade, nos relatou que Chico Albuquerque, filho de Ademar Albuquerque lhe contou como foi que ocorreram as famosas filmagens de Lampião e seu bando. 
 
Pesquisador e Memorialista Nirez Azevedo
Foto: Jornal O Povo

Eu não tenho como provar a veracidade desse fato, porém Nirez é de uma sinceridade acima de qualquer suspeita. Se o que ele nos fala for a verdadeira versão, é mais um sinal de que a história sempre tem duas caras. Como dizia o famoso humorista: "há controvérsias, amado mestre".




Se pensarmos bem após esse depoimento, realmente o que um libanês que não tinha nenhum conhecimento de técnicas fotográficas poderia querer filmando Lampião? 

 Dadá, Corisco e Abrahão

Já Albuquerque era diferente, era empresário do ramo, vivia disso e conhecia os meios e como, depois, distribuir o material para o mundo. Tinha uma visão ampla do lucro que isso podia trazer, era influente e é muito mais plausível essa hipótese. Quero ressaltar que em momento algum Nirez tentou dizer nada a respeito de que o relato ia de encontro a tudo o que foi dito até hoje, não tentou criar nenhum tipo de polêmica, ele simplesmente relatou o que ouviu. 

Eu sim fiquei pasmo, na mesma hora vi que ali poderia estar a verdadeira história... mas quem sou eu para atestar?

Abraço
Aderbal Nogueira

Pescado no açude do Coroné Severo Cariri Cangaço

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Ademar%20Albuquerque

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LENHA NA FOGUEIRA!

Ademar ou Benjamim? 
Por: Renato Casimiro
Severo me pediu uma opinião sobre o excelente Depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abrahão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas.

Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.
Ademar Bezerra Albuquerque 
Pescada em Fortaleza Nobre

Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em 
http://www.juaonline.info/.

FILMOGRAFIA(I)...

Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.

FILMOGRAFIA(II)...

O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO

(Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc.

Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. 

Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residência trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela". 
(Jornal do Comércio, 02.12.1926)

FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.

FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.

FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para TV. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:
1931, 13 de Novembro 
-  DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: 
" Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. 
Joazeiro, 13, de outubro de 1931.  
Ass. Padre Cícero Romão Baptista. (Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas:
1931, 14 de Novembro 
DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra:
"Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. 
Saudações. 
Joazeiro, 14 de novembro de 1931. 
Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).

O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.

Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

 Benjamim

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois.

Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925.

Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.


Renato Casimiro

Pescado no açude do Coroné Severo: Cariri Cangaço

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Ademar%20Albuquerque

http://blogdomendesemendes.bogspot.com