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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

LAMPIÃO A RESSURREIÇÃO DE EZEQUIEL

A SUPOSTA MORTE DE EZEQUIEL FERREIRA, O PONTO FINO 
Por Raul Meneleu


Essa entrevista foi feita por mim no dia 14 de outubro de 2017, na cidade de Nazaré do Pico em Pernambuco, por ocasião das comemorações de 100 anos da cidade. O Senhor Pedro Ferreira, fala-me da visita que o irmão de Lampião Ezequiel Ferreira, na cidade de Serra Talhada, para tirar documentos.

O escritor do livro LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS, José Bezerra Lima Irmão, nos faz um relato detalhado desse episódio. Ele nos diz:

Para os leitores do Diário de Notícias, A Tarde, A Noite e Diário de Pernambuco, que não perdiam os relatos dos feitos de Lampião, 1931 estava sendo um ano "morno". A impressão que se tinha era de que não acontecia quase nada. Nas feiras, os cantadores e violeiros só falavam em Maria Bonita. Mas, na verdade, muita coisa estava acontecendo. A polícia é que tinha perdido o entusiasmo, alegando falta de verbas para continuar a campanha. Limitava-se a traçar planos para extinguir o cangaço. Em virtude disso, os informes passados à imprensa rareavam. Porém, nas caatingas, Lampião continuava em plena atividade. Três fatos marcaram aquele ano na história do cangaço: a admissão de mulheres no bando de Lampião, a morte de Ezequiel Ferreira e o esquartejamento de Herculano Borges. Dos homens, Ezequiel Ferreira da Silva era o irmão mais novo de Virgulino. Era um rapaz moreno-claro, simpático e brincalhão. Quando os manos mais velhos — Antônio, Livino e Virgulino — viraram cangaceiros, nos episódios que culminaram com a morte do pai, Ezequiel era um menino de apenas 9 anos. À. época, ficou com as irmãs solteiras, sob os cuidados de João Ferreira, o único dos adultos que não entrou no cangaço, se bem que pretendesse, pois Lampião decidiu que alguém tinha que se manter na legalidade para cuidar da família. Depois, em 1927, em face das perseguições sofridas pelos Ferreira, Ezequiel resolveu ser também cangaceiro. Tinha então 15 anos de idade. Lampião relutou, mas acabou cedendo. Quando Ezequiel entrou no bando, havia morrido um cangaceiro apelidado de Ponto Fino e, como de costume, o novato ficou com o apelido do finado. Os autores se repetem dizendo que esse apelido era devido à precisão da pontaria de Ezequiel, considerada infalível. Muito pelo contrário, Ezequiel nunca se distinguiu como atirador. Não se sabe de nenhuma morte atribuída a ele. Era um cangaceiro discreto, comedido. Atuava mais como guarda-costas de Lampião, quando este precisava fazer alguma coisa fora do olhar dos outros ou resolvia tirar um cochilo, deixando Ezequiel de prontidão. Não se prevalecia do fato de ser irmão do chefe para obter vantagem de qualquer espécie. Ocupava um lugar indeterminado na hierarquia do bando, já que o homem forte, depois de Lampião, era o cunhado, Virgínio, conhecido como Moderno, e as grandes atribuições eram confiadas a Luís Pedro e Mariano. Essa postura de Virgulino talvez fosse uma forma de preservar o caçula. 

A "morte" de Ezequiel e a sua aparição em Serra Talhada Como tempo, a versão da fuga passou a ser ridicularizada porque tudo ficava por conta de boatos e conjeturas. Mas foi então que se verificou um fato que reacendeu a hipótese da fuga: em novembro de 1984, um homem já idoso, de 70 para 80 anos de idade, residente no Piauí, chegou a Serra Talhada para tirar os documentos a fim de se aposentar. Ele procurou a casa de Genésio Ferreira, primo de Lampião, e apresentou-se: — Geneso, eu sou seu primo Ezequié. Genésio Ferreira assustou-se: — Ezequiel? O irmão caçula de Lampião? — É, sou eu — confirmou o homem. — Eu fui dado cumo morto, mais aquilo foi um jeito qui meu irmão deu pra me tirá daquela vida. E se aperpare pra iscutá mais: Lampião tamém tava vivo até treis ano atrais. Depois eu lhe conto tudo direitim. Vim aqui purgue tou quereno me apusentá e nun tenho documento nlhum. Nun sou nem registrado. Vim aqui pra me registra. Genésio Ferreira tinha visto Ezequiel quando garoto. Não havia como saber se aquele era de fato seu primo, dado como morto fazia mais de cinquenta anos. Genésio começou a fazer perguntas sobre coisas do passado, envolvendo a família, os lugares. O homem lembrava-se de episódios familiares, citava nomes, descrevia a forma das casas, as estradas... Genésio foi com o sujeito ao cartório de registro civil e expôs o fato. O tabelião recusou-se a fazer o registro. Disse que só podia registrá-lo se o juiz autorizasse. Foram ao juiz. O Dr. Clodoaldo Bezerra de Souza e Silva, juiz de direito da comarca de Serra Talhada, impressionado com a história, mandou chamar antigos moradores da cidade, dos tempos da gloriosa Vila Bela. Conversou com pessoas da família Godoy, pois o estranho personagem dizia que seu padrinho era Quinca Godói (Joaquim Godoy).  Ao final, convencido de que aquele senhor falava a verdade, o juiz autorizou o registro.2118 Ezequiel passou cerca de vinte dias na casa de Genésio Ferreira, na Rua Agostinho Nunes Magalhães. Várias personalidades importantes da cidade estiveram com ele: o monsenhor Jesus Garcia Riallo (que foi vigário de Serra Talhada por mais de meio século), o padre Afonso de Carvalho (da paróquia de Nossa Senhora do Rosário), o médico Dr. Elias Nunes, o tabelião e vereador Luiz Andrelino Nogueira, o ex-prefeito Luiz Conrado de Lorena e Sá (Luiz Lorena), o agricultor Luiz Alves de Barros (sobrinho de Zé Saturnino) e o tenente João Gomes de Lira, de Nazaré, ex-soldado de volante. De todas as pessoas com quem ele conversou, três merecem destaque neste caso. Uma é Luiz Alves de Barros, o famoso Luiz de Cazuza, companheiro de infância de Ezequiel na Serra Vermelha. Antes das desavenças dos Ferreira com os Saturnino, as duas famílias eram amigas, moravam vizinhas. Luiz de Cazuza e Ezequiel eram quase da mesma idade. Acompanhado de Genésio Ferreira, no dia 26 de dezembro de 1984 Luiz de Cazuza conversou durante mais de quatro horas com o estranho personagem. José Alves Sobrinho, filho de Luiz de Cazuza, escreveu um livro em que aborda a questão havida entre Lampião e Zé Saturnino, no qual há um capítulo com a descrição do encontro de seu pai com o tal indivíduo. Luiz de Cazuza conversou com o forasteiro sobre vários fatos da infância: quem estava presente em determinados eventos, quem morreu, como foi programado o cerco da fazenda Pedreira, como foi que Lampião atacou e queimou a casa-grande da fazenda Serra Vermelha. O homem se recordava de muitos detalhes, e em relação a outros alegou que não se lembrava mais. José Alves considera razoável o esquecimento, haja vista tratar-se de um homem com idade bastante avançada." Luiz de Cazuza deu um depoimento, gravado em videocassete, aos pesquisadores Paulo Medeiros Gastão, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), e Aderbal Nogueira. Alcino Costa assinala que naquele depoimento existem "pelo menos dois preciosos detalhes que comprovaram ser aquele senhor do Piauí, sem sombra de dúvidas, o próprio Ezequiel, em carne e osso. [...] Em dado momento o forasteiro perguntou a Cazuza se ele tem lembrança do encontro que o mesmo tivera com Lampião na Cacimba do Gado, no ano de 1927, e, como querendo refrescar a memória do velho caboclo, diz que naquele dia estavam presentes dezessete cangaceiros, dentre os quais Mourão, Sabino, além dele e Antônio, o outro irmão. Perguntou a Luiz Cazuza se ele tem lembrança do episódio dos dois pares de alpercatas encomendadas por Lampião e Sabino e que ficaram guardados por mais de cinco meses na casa de uma senhora dali do São Domingos e que naquele dia as mesmas foram entregues aos bandoleiros". Alcino Costa conclui: "Estas minuciosas particularidades desvaneceram as dúvidas de seu Luiz que ficou convicto de que aquele homem era realmente o mano mais novo de Lampião".

A segunda pessoa cujo testemunho merece destaque é Luiz Lorena, que foi quatro vezes prefeito de Serra Talhada, considerado a "história viva" da cidade. Conhecedor da história do cangaço, Luiz Lorena fez várias perguntas ao referido senhor sobre combates travados por Lampião nos quais Ezequiel, o Ponto Fino, estava presente. O sujeito narrava os fatos, dando detalhes: a hora do combate, quem morreu, para onde o bando foi depois... Ele conhecia todos os caminhos que ligavam as fazendas da beira do Riacho São Domingos. Falava de antigos moradores. Perguntava: "Sabe de fulano de tal? Ele ainda mora em tal lugar?". Luiz Lorena dizia: "Não posso afirmar que aquele sujeito era Ezequiel, mas, se era um impostor, tinha decorado tudo e sabia representar bem o seu papel terceira é o tenente João Gomes de Lira, um dos famosos "Cabras de Nazaré", que pelejou nas volantes de Manoel Neto e de Davi Jurubeba. João Gomes é autor de um livro que constitui referência indispensável para todos os pesquisadores do cangaço. Quando a obra estava pronta para publicação, ocorreu o encontro do autor com o homem que se dizia irmão de Virgulino. João Gomes acrescentou então um capítulo final, relatando a história contada pelo suposto Ezequiel. João Gomes expõe a celeuma que houve em Serra Talhada quando o povo soube da presença de Ezequiel na cidade, todo mundo querendo ver o ex-cangaceiro. Uns afirmavam que aquele era mesmo Ezequiel, outros ponderavam não ser possível, pois Ezequiel morrera na Bahia, outros diziam que o homem não parecia com os membros da família Ferreira. Os parentes ficaram em dúvida, pois as informações que tinham era de que Ezequiel havia morrido na Bahia em 1931. João Gomes conclui que, embora muita gente ficasse em dúvida, "Chegaram à conclusão de que, na realidade, era mesmo Ezequiel, quando aos poucos foi ele se identificando, como seja procurando por pessoas da região se ainda eram vivas ou mortas. Como também procurava saber se em determinados lugares ainda existiam velhas árvores, como procurou saber se, no terreiro da casa em que residiu seu velho José Ferreira, no lugar Poço do Negro, ainda existia um pé de umbuzeiro-cajá; na realidade lá está o frondoso pé de umbuzeiro. Foi assim chegando na mente daquela gente que na realidade era mesmo o Ponto-Fino". Segundo João Lira, desapareceram todas as dúvidas quando o homem passou a relatar os fatos e a expor o motivo de ter abandonado o cangaço. Aquele era Ezequiel. Não fosse ele, como seria possível uma pessoa residente no Piauí saber daquelas coisas?  

Esse indivíduo foi entrevistado por Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, autores de Lampião e o Estado-Maior do Cangaço. Ele assegurou ser o irmão mais novo de Lampião. Os autores perguntaram por que era que todo mundo dizia que ele tinha morrido na Bahia em 1931, e "Ele respondeu que tudo era mentira, que o irmão tinha inventado a estória prá ele poder sair do cangaço". Porém os citados pesquisadores se desinteressaram pelo caso porque o velho, ao ser "Inquirido sobre o nomes dos seus pais, respondeu errado", e "Disse ainda ter tido 3 irmãos e 3 irmãs, o que não é verdade". Além disso, ele errava os nomes dos irmãos, fantasiava a descrição dos combates e citava cangaceiros que não foram seus contemporâneos. Hilário e Magérbio, apesar de admitirem que o homem "tinha mais ou menos a mesma idade e aparência fisica" que teria Ezequiel se fosse vivo, consideram que "na verdade era uma farsa, não se sabe com que finalidade, pois não havia dinheiro na estória, nem estava muito interessado em promover-se". Os citados pesquisadores consideram que os familiares de Lampião "acreditaram realmente tratar-se do primo" por nada saberem sobre a vida do parente depois que ele foi embora, ainda menino. Hilário e Magérbio concluem dizendo que aquele homem "Morreu certo que era Ezequiel Ferreira, o irmão mais novo de Lampião". 

Não obstante seus inegáveis conhecimentos sobre o cangaço, Hilário e Magérbio interpretaram mal as respostas daquele cidadão. Eles fizeram perguntas a um velho sobre coisas de sua infância e juventude. Após a morte de seus pais, a família andara de déu em déu. Ele não tinha nada anotado, pois era analfabeto. A rigor, suas respostas eram mais que razoáveis, pelo seguinte: Hilário e Magérbio consideraram que ele "respondeu errado" os nomes dos pais. Ora, como é que ele respondeu errado, se ninguém, nem mesmo o mais perspicaz estudioso do cangaço, sabe ao certo como eram os nomes dos pais de Lampião? Basta notar a divergência entre os dados da certidão de casamento em cotejo com as certidões de nascimento dos filhos. José Ferreira ora aparece como "dos Santos", ora como "da Silva", ora como "de Barros", e sua esposa, que devia chamar-se Maria Vieira Lopes, ora aparece corno Maria Sulena da Purificação (registro civil de nascimento de Virgulino), ora como Maria Vieira da Solidade (batistério de Virgulino), ora como Maria Santina da Purificação (batistério de Livino), ora como Maria Vieira do Nascimento (certidão de casamento religioso). Quanto aos nomes dos irmãos, é provável que em casa todos fossem tratados apenas pelos prenomes e apelidos. Ezequiel não tinha como saber ao certo os nomes completos dos irmãos, pois nem mesmo estes sabiam. Virgulino, por exemplo, que foi registrado simplesmente como "Virgolino" (sem sobrenome), tirou o título de eleitor com o nome de Virgulino Lopes de Oliveira. Durante algum tempo, se assinou Virgulino Ferreira dos Santos, até se decidir por Virgulino Ferreira da Silva. Ezequiel certamente não sabia o nome verdadeiro de Mocinha. 

Como Ezequiel não sabia assinar o nome, quem assinou por ele foi João Soares de Souza, tendo como testemunhas Genésio Ferreira Lima e Luiz Andrelino Nogueira (que era o tabelião público). 

Fonte da matéria: LAMPIÃO a raposa das caatingas de José Bezerra Lima Irmão.


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O RAIZEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.167

As plantas selvagens curativas utilizadas pela sabedoria dos pajés foram preservadas no crânio dos caboclos descendentes. O raizeiro ou a raizeira é pessoa simples que herdou os conhecimentos das plantas e com elas trabalha. Apesar do nome raizeiro, utiliza-se todas as partes da planta e não somente a raiz. Em todas as regiões brasileiras, encontramos esses doutores do mato, tanto fazendo garrafadas, quanto vendendo partes avulsas das plantas. Existem aqueles que apenas sabem fazer um tipo específico de garrafada, como exemplos têm a garrafada para alérgicos ou para bebida cachaça, chamada “misturada” ou “ninho de garrincha”, no sertão. Mas tem os que fazem garrafadas para todos os tipos de doenças.

FOTO: NATURAL & BELA GARRAFADAS
Em todos os mercados do Brasil, mulheres vendem ervas para os mais diferentes fins. Muitas delas apenas vendem, mas não fazem as garrafadas. Acumulam, porém, a experiência como elo entre o raizeiro e o cliente. Para todos os tipos de doenças, desde as mais simples às mais perigosas, não falta esse tipo de medicina nas bancas dos mercados. Se não tem o que você procura, o produto pode ser encomendado. E quando se pergunta os nomes de tanta coisa de dentro da garrafa, geralmente o raizeiro desconversa. Cita dois ou três produtos e complementa “com muito mais”. Quem é da profissão também tem os seus preceitos, assim como a parteira prática e o rezador (benzedor, curador). É comum o raizeiro encomendar produtos de outra região: casca, raiz, folhas e entrecasca.
Em vários lugares do país, os conhecedores de mato são valorizados em reuniões, seminários e congressos dos conhecimentos naturais. São bases para estudos e pesquisas. Em outros lugares, entretanto, a valorização do raizeiro fica apenas em parte da população que não dispõe do acesso a médicos e farmácias. 
E se você sente atração pela Fitoterapia, não precisa adoecer para acompanhar o prazeroso trabalho de um raizeiro. Isto é, se souber conquistá-lo, pois a profissão guarda vários segredos que não gostam de exposições.
Quer tomar um “ninho de garrincha”?

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UMA CARTA

*Rangel Alves da Costa

“Bom dia, boa tarde, boa noite... Como vai, tudo bem? Espero que esteja sim, pois o que mais precisamos é de um pouco de paz nessa vida. Gostaria que o abraço fosse acompanhado desta xícara de café que agora tenho diante de mim. Na verdade, nunca estou sem uma xícara de café por perto. Outra coisa que jamais deixo de ter comigo é uma janela aberta. Ah quanto bem me faz uma janela aberta e a imaginação indo além de seu vão e seu umbral.
Custou-me muito escrever essa cartinha. Na verdade, quase não escrevo mais. Também abdiquei das muitas leituras. Agora somente o essencial. Mais fácil ler receita de bolo que filosofia, mais fácil ler horóscopo do que notícias sobre política. Um enojamento só. Também não admiro a filosofia como antigamente. Ora, vivemos num mundo real e assustador demais para que, além disso, adentremos nos infindáveis mistérios filosóficos. Diga-me, por favor: qual a valia da retórica filosófica ao mundo?
Não concebo mais me adentrar nas entranhas daqueles velhos filosóficos que nunca chegavam a consensos entre eles mesmos. Até hoje não sei se houve algum vitorioso na guerra do ser, do nada ser, do vazio, do caos, da síntese, da antítese, da síntese da antítese. Segundo um conhecido, viver de pensar só existe para quem não tem o que fazer. Certo que existe algo inteligível na concepção filosófico, mas - e repito - continuo não sabendo o motivo de se cavar um poço que nunca tem fundo. E a filosofia faz isso.
Na verdade, gosto mais do simples, do acessível. Gosto de imaginar apenas quando estou na minha janela. No demais, sempre achei com maior validade sentir a força do vento, a chuva molhando, a terra sobre os pés, o grilo cantando, o vaga-lume acendendo seu candeeiro, o cheiro de café na chaleiro ou do ovo de capoeira na frigideira. Ora, são coisas plausíveis, sensíveis, alcançáveis. Que luxo da vida poder beber da água fria de uma fonte que se mostra límpida e transparente bem adiante do caminhar.


Penso muito em também abdicar da cidade e ir de vez para as distâncias. A cidade não existe mais. O que se tem é apenas medo, violência, abusos, absurdos, buzinas, gritos, brutalidades e arrogâncias. Na cidade, um mundo de portas e vidas fechadas, e por medo de tudo. O homem da cidade também desumanizou, esta a verdade. Aquele que passa parece mirando um inimigo que também passa. Olhares arrogantes, frios, brutais. Aquele velho bom dia ou boa tarde já não existe mais. Ninguém mais se senta em banco de praça ou coloca sua cadeira na calçada. Ninguém é doido de fazer assim.
Nas cidadezinhas distantes ainda persiste outra realidade. Logicamente que o mundanismo e os modismos já abriram todas as cancelas e porteiras, mas ainda é possível viver com mais prazer, segurança e dignidade. Sei que muita gente é avessa a isso, mas vejo como possibilidade de me exilar pelos campos, pelos beirais de estradas, ou mesmo dentro dos matos, em refúgio numa casinha modesta, humilde, singela. Criar galinha, ter alguns bichos de cria ao lado, semear o grão e colher o necessário à sobrevivência. Que bom será dialogar com a natureza, caminhar pelas veredas, avistar o sol se pondo e a lua surgindo. E ter um oratório para dignificar minha fé.
Assim o que penso, amigo. Como dito, esse café de que me sirvo agora seria bem mais saboroso se houvesse sido preparado naqueles sertões que eu citei. Não me importo de tomar água de moringa nem de preparar comida em fogo de chão. Talvez um radinho de pilha ao lado e um caderno para escrever qualquer coisa. Ah! Isso eu não posso esquecer: uma rede para armar e nela adormecer para o sonho bom. Acho que será possível ainda encontrar esse mundo. E por isso mesmo me despeço agora para arrumar mala e sonhar. Até mais. E apareça por lá!”.

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LAMPIÃO ENCONTRA VOLTA SECA | O CANGAÇO NA LITERATURA | #341


Publicado a 04/07/2019
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LAMPIÃO E O MASSACRE DA FAMÍLIA GILO - PARTE I


Publicado a 20/08/2019

A história da maior chacina cometida por Lampião e seus comandados durante toda a sua história, sendo contada em detalhes no local dos acontecimentos por especialista no assunto e descendentes das vítimas. Simplesmente imperdível. Produzido por: José Francisco Gomes de Lima. LAMPIÃO E O MASSACRE DA FAMÍLIA GILO. 

Geraldo Antônio de Souza Júnior

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PARA SEMPRE FIDERALINA... CARIRI CANGAÇO 10 ANOS EM LAVRAS!