Por Raul Meneleu
Muito
interessante a história que nos é contada pelo autor do livro "Documentos
para a História de Missão Velha", nosso amigo historiador, memorialista,
escritor João Bosco André, que nos fala sobre o Padre Félix Aurélio Arnaud
Formiga que foi Vigário de Missão Velha durante 47 anos, que abrange de 28 de
dezembro de 1855 a 28 de fevereiro de 1902 quando faleceu.
Esse Vigário
foi muito querido na cidade de Missão Velha, trabalhando para os mais pobres e
para a comunidade em geral. No tempo da grande seca de 1877 o amigo Bosco André
nos conta que em suas pesquisas encontrou uma referência de um auxílio dado
pelo referido Padre Félix a uma senhora que chegou em sua casa com seus filhos,
todos com fome, chorando e o padre olhando para essa senhora e para os
seus filhos e vendo que não tinha mais dinheiro nenhum para ajudar, desamarra
sua rede retirando-a do armador entregando para aquela senhora e dizendo que
ela fosse no comércio tentar vender aquela rede e comprasse comida. Quando essa
senhora chegando na casa comercial do Senhor Aurélio Zabulon, comerciante
naquela cidade, sua esposa, senhora Rosinha Parente, comprou a rede. Reconheceu
que aquela rede era do Padre Félix Aurélio e depois de adquirida, entregou
novamente ao padre.
O Padre Félix
teve grande participação em ajudar os doentes de cólera morbus que veio a
abater-se sobre a cidade de Missão Velha. Fazendo papel de enfermeiro tentando
ajudar de todas as formas aqueles que padeciam sobre essa perigosa doença,
transmitida no menor contato que se tivesse, chegou ao ponto em que
os cadáveres eram tantos que não tinha mais pessoas para carregar para o
cemitério e o próprio Padre em carros de boi ia passando e amontoando os
cadáveres para levar para o cemitério porque não tinha mais pessoas para fazer
isso e no relato os carros de bois levavam de 15 a 20 corpos, transportados
pelo próprio Vigário Félix.
Padre Cícero Romão Batista
Ainda nos
conta o escritor Bosco André que Padre Félix integrou a comissão de sindicância
enviada à Barbalha pelo segundo Bispo do Ceará Dom José Joaquim Vieira, para
investigar os fatos que foram envolvidos o Padre Cícero e a Beata Maria de
Araújo no famoso milagre de Juazeiro em que a hóstia transformou-se em sangue
por diversas vezes quando recebida pela citada beata.
Sobre o Padre
Félix também o autor do referido livro nos conta que um sobrinho do
padre, o Senhor Pedro Juscelino de Aquino por ocasião das comemorações do
primeiro Centenário da Conferência do Sagrado Coração de Jesus da Sociedade de
São Vicente de Paulo de Missão Velha, no ano de 1986 contou uma história que
foi testemunhada por diversas autoridades do município inclusive autoridades
eclesiásticas sobre a morte do Padre Félix. Quando ele estava agonizante caiu
uma forte chuva, era inverno e choveu por toda a noite e o Alferes Cândido da
Cunha Camelo, sabedor de um trato feito entre o Padre Félix e o Padre
Cícero que era um assistir o outro durante a morte, mandou que fosse selados
dois animais para que ele mesmo fosse comunicar ao Padre Cícero em Juazeiro, da
gravidade do Padre Félix, ante o compromisso entre os dois, Padre Félix e Padre
Cícero, de um assistir a morte do outro. Chegando o senhor Cândido à margem do
rio Missão Velha este já se encontrava caudaloso, com um grande volume d'água e
mesmo assim ele conseguiu a duras penas atravessá-lo em uma pequena embarcação
improvisada pelos sertanejos chamada couche. Ao chegar à outra margem do rio,
mais precisamente no sítio Camelos, ali já se encontrava o Padre Cícero, sendo
abordado pelo Alferes Cândido Camelo, da enfermidade do seu colega Padre
Félix, este disse-lhes: "Compadre Cândido o Padre Félix faleceu a poucos
instantes!" Notem que o Padre Cícero estava do outro lado do rio Missão
Velha à cerca de três Km da Igreja Matriz o local onde o Padre Félix se
encontrava e já sabia que o velho colega havia falecido. E atravessaram então o
rio e ao chegarem, o Padre Cícero e o Alferes Cândido à sacristia da igreja, lá
se encontrava uma grande multidão em grande comoção, pelo falecimento do
querido Vigário, que tinha acontecido há poucos instantes. O Padre Cícero ao se
aproximar do corpo do colega já sem vida, disse, porém pausadamente, com o
sentimento da perda: "Félix! Félix! Nós não tínhamos um compromisso de um
assistir a morte do outro? Aquele que morresse primeiro? Estou
aqui!" disse o Padre Cícero e neste instante o Padre Félix abrindo os
olhos caíram duas lágrimas e voltou a fechar os olhos para não mais abrir-los.
Foi quando nesse instante o povo acorreu às ruas dizendo que o Padre Cícero
havia envivencido o Padre Félix, ressuscitado seu querido amigo.
Após esse
episódio e tudo consumado, foram providenciadas as exéquias do ilustre
Vigário de Missão Velha e o Padre Cícero na cidade até o sepultamento do
colega, que ocorreu no final da tarde do mesmo dia 28 de fevereiro de 1902.
Tamanha amizade entre os dois Levitas que o Padre Félix firmou Testamento
contemplando o seu colega de Juazeiro quando afirmava que por sua morte alguns
bens remanescentes que porventura houvesse seriam entregues ao colega Padre Cícero
Romão Batista, bem assim como um Bilhete de Loteria que fora ganhador e
que o seu produto seria revertido em favor do Padre Cícero do Juazeiro.
Estive recentemente com o amigo João Bosco André na cidade de São José do Belmonte, em encontro de pesquisadores, historiadores e escritores das Sagas do Nordeste, o famoso Cariri Cangaço, onde visitamos muitos locais históricos da vida de Lampião e das grandes querelas entre os Carvalho e Pereira, nesse caldal incrível de histórias, inclusive a da Pedra Bonita, local que Ariano Suassuna imortalizou como Pedra do Reino. Conversamos muito pois nos hospedamos na Fazenda Alto do Guerra, pertecente à dona Olímpia Novaes. Muitas histórias e causos revividos. O amigo Bosco é uma fonte inesgotável delas.
Estive recentemente com o amigo João Bosco André na cidade de São José do Belmonte, em encontro de pesquisadores, historiadores e escritores das Sagas do Nordeste, o famoso Cariri Cangaço, onde visitamos muitos locais históricos da vida de Lampião e das grandes querelas entre os Carvalho e Pereira, nesse caldal incrível de histórias, inclusive a da Pedra Bonita, local que Ariano Suassuna imortalizou como Pedra do Reino. Conversamos muito pois nos hospedamos na Fazenda Alto do Guerra, pertecente à dona Olímpia Novaes. Muitas histórias e causos revividos. O amigo Bosco é uma fonte inesgotável delas.
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