Por Antônio Corrêa Sobrinho
Chico PereiraO OUTRO PADRE
CHICO
Há um padre
Chico, superior dos dominicanos em Campinas, que foi preso por dar guarida no
seu convento a universitários que se reuniram lá para uma grossa baderna com
propósitos nacionalistas.
A Igreja,
hoje, está mesclada de elementos considerados extremistas, quando deveriam
estar ensinando as letras do Evangelho e prestando assistência material e
espiritual aos que dela necessitam.
Há um outro
padre Chico – padre FRANCISCO PEREIRA NÓBREGA –, professor de
Marxismo e Existencialismo na Faculdade de Filosofia de João Pessoa, e de
teologia no Seminário Regional de Recife.
O padre Chico
(Francisco Pereira Nóbrega) esteve no dia 5 de agosto em Natal, Rio Grande do
Norte, onde fora lançar o seu livro RIO SECO, no qual conta a vida do
cangaço de seu pai, baseado no latifúndio e na necessidade de reforma de
estruturas sociais.
Em Natal
entrou em contato com a imprensa e tratou do assunto referente ao confinamento
do jornalista Hélio Fernandes, em Fernando de Noronha. Disse o padre: – “Não
foi erro ou sacrilégio. A sua atitude é um direito que assiste ao jornalista,
de dar a sua opinião livremente sobre qualquer homem que pertença à História
Nacional, que dirija ou tenha dirigido a Nação, vivo ou morto.
Divulgo apenas
o que li sem interesse, pois, como já me hei manifestado diversas vezes, sou um
marginal da política, com muito prazer.
Sobre a
posição da Igreja, digo melhor, sobre a posição do Clero, disse o padre
Chico: – “A Igreja precisa parar de construir santos. Deve, isto sim,
formar líderes cristãos. O paraíso é possível se o clero motivar a consciência
religiosa dos pobres, miseráveis, alfabetizá-los, politizá-los e organizá-los
em grupos para reivindicação de seus direitos. Do contrário o Evangelho será
engavetado”.
O padre tem a
língua solta e diz o que lhe vem no pensamento, como aquele frade Tomás
Campanella, que, por combater a Escolástica, foi encarcerado durante 27 anos. O
padre Chico se vivesse naquela época, seria torrado vivo nas fogueiras da
Santíssima Inquisição, diante daquele piedoso e santo frei Tomas de Torquemada.
Deseja o meu
curioso leitor saber quem é o padre Chico, expositor de libérrimas ideias?
É filho do
cangaceiro Chico Pereira, de quem o Chico se orgulha de ser filho, o qual foi
assassinado em 1928, em Currais Novos, pelo coronel Joaquim Moura, da Polícia
Militar do Rio Grande do Norte. O padre, quando lhe mataram o pai, tinha seis
meses de idade. Não chegou a conhecer o filho. No seu livro VINGANÇA, NÃO! o
padre Chico conta a vida de cangaço de seu pai. É emocionante e trágico.
Diz ele que
está terminando seu último livro que terá o título de A MINA, história
de uma mina de ouro “descoberta por um burguês paulista que não sabia sequer se
a Paraíba existia.”
O padre é
espeto, como se costuma dizer agora.
Gazeta de Sergipe – 10/10/67
Imagens de
CHICO PEREIRA e FRANCISCO P. NÓBREGA
http://blogdomendesemendes.blogspot,com