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quarta-feira, 20 de maio de 2020

CHICO ALBUQUERQUE DANDO UMA ENTREVISTA QUE FOI PUBLICADA NO DIÁRIO DA NOITE DE 29 DE JULHO DE 1938


No dia seguinte à morte de Lampião, foi publicada uma entrevista dada por Chico Albuquerque (1917 – 2000), filho do proprietário da Aba Film, na primeira página do Diário da Noite, onde contou a história da produção do filme sobre Lampião produzido por Benjamin (Diário da Noite, 29 de julho de 1938).


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BENJAMIM ABRAHÃO



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BENJAMIM ABRAHÃO FOI ASSASSINADO EM ÁGUAS BELLAS


Benjamin Abrahão foi assassinado com 42 facadas, em Águas Belas, hoje Itaíba, no interior de Pernambuco, em maio de 1938 (Diário da Noite, 9 de maio de 1938, na quarta coluna,  Diário de Pernambuco, 10 de maio de 1938, na quarta coluna e Diário de Pernambuco, 19 de maio de 1938, na quinta coluna). 

Os motivos de sua morte ainda não estão esclarecidos. As hipóteses vão desde crime passional até queima de arquivo, já que ele sabia do envolvimento de autoridades com Lampião.


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LAMPIÃO ATESTA A AUTENTICIDADE DAS FOTOGRAFIAS FEITAS PELO SR. BENJAMIM ABRAHÃO



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OS CANGACEIROSA FORAM SURPREENDIDOS



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O AZULÃO IV


Já em 19 de Março de 1962 passados pouco mais de 20 anos do fim do cangaço o jornal Última Hora do Rio de Janeiro noticiava a morte de outro pássaro inquieto. A matéria é um tanto intrigante, evidente que as informações foram fornecidas por familiares, talvez pelo ex cangaceiro em matéria anterior. 

Acontece que a reportagem afirma que João Balbino Pereira ou se preferir João Ferreira Filho, 55 anos, teria entrado para o bando de Lampião em "1930" permaneceu por "cinco anos" tendo sobrevivido ao massacre de Angico... como ??? Será que a redação queria se referir à década de 30 ao invés do ano de 30?


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A CHACINA NA FAZENDA PATOS

Jornal "A Noite" - 05/08/1938

ARRASTADAS PELOS CABELOS PARA A DEGOLA!
DEPOIS DA FORMIDÁVEL CHACINA, PERPETRADA COM INOMINÁVEIS REQUINTES DE CRUELDADE, “CORISCO” E SEU BANDO DANÇAM ALEGREMENTE AO SOM DO REALEJO – POUPADAS À SANHA ASSASSINA “PARA CONTAREM A HISTÓRIA”

DECAPITADAS VIVAS
NENHUM TIRO FOI DISPARADO CONTRA AS VÍTIMAS DA FAZENDA DOS PATOS
DUAS MULHERES NO BANDO DE “CORISCO” – VISTO, ONTEM, NA FAZENDA BEM FEITA, EM MATA GRANDE – O BILHETE RECEBIDO PELO PREFEITO DE PIRANHAS

PEDRA (Alagoas), 5 (Dos enviados especiais de A NOITE) – Segundo informações aqui recebidas em Piranhas, “Corisco”, à frente de um grupo composto de oito pessoas, inclusive duas mulheres, foi visto ontem na fazenda Bem-Feita, em Mata Grande. A polícia do Estado, através de suas forças volantes, já está no encalço, nesta direção.
Refere-se também que o assalto à fazenda dos Patos, de propriedade do sogro do capitão João Bezerra, foi realizado sem se disparar um tiro sequer. Todas as vítimas foram degoladas vivas pelos bandidos, o vaqueiro Domingos, sua mulher e três filhos cujas cabeças foram mandadas para o capitão João Bezerra, na falta de prefeito de Piranhas, ausente no momento.

PIRANHAS (Alagoas), 5 (Serviço especial de A NOITE) – O assalto do grupo de “Corisco” à fazenda dos Patos foi realizado pela madrugada. Os bandidos puderam assim aproximar-se sem serem pressentidos, atacando de surpresa as vítimas. Seis pessoas, como já informamos, foram então decapitadas, sendo as cabeças enviadas ao capitão João Bezerra. Acompanhava os despojos, que incluíam duas cabeças de mulher, o seguinte recado: “As cabeças destas mulheres pagaram as duas mortas”.
O grupo de Corisco, depois da chacina, conseguiu montada na própria fazenda, batendo em retirada. Comunicado o fato às autoridades, saiu em perseguição do grupo o sargento Aniceto, que, anuncia-se, já conseguiu a pista dos bandidos.

IMPRESSIONANTE! – O FESTIM SINISTRO

PIRANHAS, 5 (Dos enviados especiais de A NOITE) – Urgente – Acabamos de chegar a Piranhas, a cidade do interior alagoano que Corisco escolheu para palco do seu sanguinolento revide pela morte de Lampião. Ainda todos os habitantes da localidade se encontram sob a penosa impressão do monstruoso crime. Ouvimos, a respeito, o Sr. Manoel João da Costa, cunhado do vaqueiro Domingos José Ventura, o infeliz morador da fazenda dos Patos que encontrou morte horrível, juntamente com toda a sua família, nas mãos ávidas de vingança do bandoleiro Corisco e seu bando.
Ainda tomado de profunda emoção, o Sr. Manoel João da Costa, narrou-nos o drama tremendo, verdadeiro festim de sangue e horror
Demos a palavra ao nosso entrevistado:
- “Corisco” chegou noite fechada já na fazenda dos Patos. Eram mais ou menos oito horas. Ao estrepito dos bandoleiros, que se aproximaram como demônios batendo as coronhas das armas no terreiro, a família do vaqueiro Ventura acordou em pânico. Mas nada mais era possível fazer; nem fugir! “Corisco”, à frente do bando, com os olhos verdes fuzilando de ódio, ordena rispidamente à mulher e à filha do morador:
- Faça café para todo o pessoal!
Em seguida, apontando para o vaqueiro e seu filho Manoel, ordena aos seus “caibras” que os levem para trás do curral, o que é feito imediatamente, sem qualquer gesto de resistência dos prisioneiros.
Os dois homens são amarrados e arrastados para fora.
No local escolhido, “Corisco” então contempla mais uma vez com uma expressão de sinistro sarcasmo as duas vítimas e, em voz ríspida, grita para os seus homens, que já haviam desembainhado os punhais agudíssimos:
- Degolem esses bandidos!

HEDIONDO!
- Uma angustiada expressão de desesperança perpassa pelas fisionomias dos homens que iam ser imolados. Inútil qualquer apelo a quem já perdeu o último resquício de bondade humana.
Os cangaceiros escolhidos para carrascos aprestam-se para a tarefa macabra. Fuzilam os punhais na meia luz do luar. Rápidas como raios, as lâminas cortam o espaço e duas cabeças tombam sobre a terra, entre golfadas de sangue. Os troncos decepados oscilam ainda uma última vez e caem pesadamente sobre o solo empapado de sangue.
ÓDIO DE BANDIDO
Não satisfeitos em sua insaciável sede de vingança, “Corisco” e seus homens, depois de amaldiçoarem em altos brados as vítimas indefesas, voltam à casa, onde tinham ficado os outros “caibras”, guardando os demais moradores. Um frêmito de horror circula pelo sistema nervoso daquelas pobres criaturas, ao verem de volta o sombrio “Corisco”, cujas pupilas com um ódio inextinguível.
Chegou a vez dos filhos do vaqueiro Ventura: José, solteiro, e Odon, casado. Os facínoras amarram-lhe as mãos para trás, conduzem-nos para o terreiro, e aí, entre imprecações demoníacas, degolam-nos de um só golpe, com a sua alucinante mestria de sangradores.
AGORA AS MULHERES!
- Agora as mulheres! – grita “Corisco”, enquanto seus homens agarram pelos cabelos a mulher e a filha do vaqueiro, Guilhermina Nascimento Ventura e a jovem Waldomira Ventura.

- Vocês vão pagar a morte de Maria Bonita e Enedina – diz o bandido olhando para as mulheres.
Nenhuma sombra de piedade naquelas fisionomias que só o ódio sabe fazer vibrar. As mulheres são brutalmente arrastadas para fora, e ainda o feroz “Corisco”, com a sua impassibilidade desumana, ordena e assiste ao seu degolamento.

MÚSICA!
- Parece momentaneamente aplacada a cólera do chefe. Seus cabeças jazem sobre o solo, imobilizadas numa última expressão de angústia e sofrimento. Mas nada comove o bandoleiro empedernido. Gritos de satânica satisfação atroam os ares. É a alegria das feras saciadas. Os bandoleiros estão superexcitados. Voltam à casa, no meio de um vozerio infernal. “Corisco” ordena então que se comemore condignamente a vingança.
Manda transformar em salão de baile a sala da casa assaltada. E, estimulados pela cachaça, entregam-se a desenfreadas manifestações de alegria, dançando e gritando. Alguns dos bandidos trazem violas e realejos com que animam a dança. É um festim macabro. Pantomina de horror e sangue. Farândula de demônios alucinados.
O SAQUE – BILHETE AO CAPITÃO BEZERRA
- Quando se dão por satisfeito, “Corisco” ordena o saque geral da fazenda, depois do que dá instruções para a retirada. Dirigem-se todos para a fazenda Pedrinhas, próxima à fazenda dos Patos, pertencente também ao Sr. Antônio José de Brito, vulgo, “coronel Antonio Menino”. Aí então “Corisco” redige uma carta injuriosa e violenta ao capitão Bezerra, endereçando-lhe as cabeças sangrentas. Entrega o bilhete ao portador, que foi o vaqueiro João Crispim Moraes, dizendo:
- Vá entregar isto ao tenente Bezerra. Diga a ele para comer uma, frita. Na falta dele, entregue ao prefeito.
POUPADOS PARA CONTAREM A HISTÓRIA!
- Os bandidos deixaram vivos três outros filhos do vaqueiro Ventura: Antonio, de doze anos, Silvino, de dez e Carmelita, de onze.

Por isso, ao despedir-se do portador da macabra encomenda, “Corisco” acrescentou:
- Os meninos ficaram para contar a história. Mas brevemente voltarei para matá-los, pois faço questão de extinguir toda a raça daquele vaqueiro traidor, que nos denunciou à polícia.
As cabeças foram enterradas no cemitério da cidade, sendo que aos corpos foi dada sepultura cristã na fazenda Patos.
O vaqueiro tão tragicamente trucidado tem ainda uma filha que reside em companhia da família do “coronel Menino”. Receia-se aqui nova façanha dos bandidos, que prometeu vingar a morte de Lampião impiedosamente.
Na carta dirigida ao tenente Bezerra enviando as cabeças, diz “Corisco”: “Matei duas mulheres para vingar a morte de Maria Bonita e Enedina.
A esposa de Odon Ventura, que também se encontrava na casa assaltada, foi perdoado pelos bandidos em virtude de ter dato à luz há oito dias. A criancinha também nada sofreu. Os três filhos sobreviventes do vaqueiro que foram mandados por “Corisco” juntamente com as cabeças de seus pais e irmãos, nada quiseram declarar.
Seguimos viagem para Angicos

Na mesma edição do dia 05/08/1938, este mesmo jornal, sobre a chacina na fazenda Patos, publicou notícia de uma outra fonte, a Agência Nacional, nos seguintes termos:

MACEIÓ, 4 (Agência Nacional) – A população desta capital continua sob a forte impressão da vindita tomada por Corisco e seu bando, composta todo ele dos fugitivos da fazenda Angicos. Os jornais dão amplo noticiário do fato sangrento. Conhecem-se, agora, os mortos da fazenda de Patos, onde Corisco chegou de surpresa, não tendo sido possível nenhuma resistência.

Chegou e não conversou. Amarrou todas as pessoas encontradas, em número de seis, fuzilou-as, cortando, depois as cabeças e mandando-as num saco para o prefeito de Piranhas, com um bilhete, no qual dizia que as onze cabeças da fazenda de Angicos fariam rolar muitas outras. O saco com o presente macabro foi levado por uns caboclos, que chegaram a Piranhas pela madrugada. Esses caboclos, que vivem nas redondezas onde se deu a chacina, foram obrigados a cumprir a tarefa, sob a ameaça de que se não levassem o saco e não o depositassem no lugar determinado, mais tarde seriam sacrificados e decapitados.
O saco foi encontrado pela criada do prefeito, no batente da porta da rua. Alarmada, a empregada saiu correndo e gritando. As pessoas da casa vieram ver o que se passava, e deram com aquela coisa horrível. O prefeito de Piranhas também foi ver e deparou com as cabeças, empapadas em sangue e terra. A notícia espalhou-se com rapidez, e dentro em pouco a residência do chefe do executivo municipal estava cercada por uma multidão de curiosos, que ali ficou comentando a trágica represália, entre indignada e transida de pavor.

BRUTAL!
MACEIÓ, 4 (A. N.) – As pessoas mortas e decapitadas na fazenda de Patos pelo bandoleiro Corisco, em revanche à morte de Lampião, foram o vaqueiro do coronel Antonio Brito, sua mulher e quatro filhos menores. A família do proprietário da Fazenda lá não se encontrava. Mas a vingança foi tirada, somente porque essas pessoas trabalhavam para o coronel Brito, que é, como já mandamos dizer, avô da esposa do atual capitão João Bezerra. Corisco, entretanto, depois de sacrificar seis vidas inocentes, num ato de incrível barbaridade, incendiou a fazenda, que é, agora, por informações de pessoas vindas de lá, um campo ressequido e devastado.
NO COMANDO DAS FORÇAS VOLANTES
MACEIÓ, 4 (A. N.) – O primeiro-tenente Francisco Ferreira de Mello, por determinação do coronel Lucena, assumiu o comando das tropas volantes, que saíram em perseguição do novo bando de cangaceiros, chefiado por “Corisco”.
Imagens dos filhos do vaqueiro Ventura, ANTONIO e SILVINO, poupados por Corisco.
Encontrei no acervo do Antônio Corrêa Sobrinho.
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A GUERRA PELO PODER EM AURORA

Por Calixto Junior



No ano de 1908 chefiava a pequena vila d’Aurora, antiga Venda, o coronel Antônio Leite Teixeira Neto (Totonho Leite ou Totonho do Monte Alegre) – intendente municipal entre 1907 e 1908. Predominava, na época, o poderio estabelecido por Domingos Leite Furtado, chefe absoluto de Milagres e de grande prestígio ante os demais potentados do Cariri cearense, dentre eles, José Inácio do Barro, um de seus aliados principais.
Surgindo desacordos entre os chefetes citados, tendo em vista a demarcação das terras do sítio Coxá, dada pelo padre Cícero Romão Batista, proprietário, a Floro Bartolomeu da Costa, esta incumbência, Cândido Ribeiro Campos, ou Cel. Cândido do Pavão, homem da confiança de Domingos Furtado – assim como do Pe. Cícero – foi aproveitado para desabafo, nesta ocasião. Acentue-se já ser desafeto do coronel Teixeira Neto, Cândido do Pavão, citado.
Passava-se o mês de dezembro de 1908, quando o Cel. Teixeira Neto foi avisado sobre um grupo de cangaceiros, que em número estimado de 400, guiados por Cândido, comandados e fomentados por José Inácio do Barro e fornecidos por Domingos Furtado, fazer-lhe ia a deposição na vila d’Aurora.


Não dispunha Teixeira Neto de elementos suficientes para reação (embora tivesse recebido do Governo do Estado ordem para receber destacamentos de Lavras e Iguatu), resolvendo aconselhar a população a abandonar a vila, o que fez rapidamente, parte dos residentes, devido à aproximação da horda de celerados. Todos os seus haveres, assim como os da população ficaram efetivamente a mercê dos bandidos.
Neste mesmo dia (23 de dezembro de 1908), pelas quatro horas da tarde, foi invadida a vila. Os algozes, não encontrando os inimigos para resistência, ordenaram logo proceder ao saque nas casas comerciais, sendo as principais, as seguintes: Cícero Calixto de Araújo, Sebastião Alves Pereira, Emídio Cabral, José Cabral, Manoel de Barros e a do coronel Paulo Gonçalves Ferreira, sendo os prejuízos avaliados em centenas de contos de réis.
No dia seguinte, data em que as famílias estariam reunindo-se para comemorar o Natal, os cangaceiros arrombaram quase todas as residências, roubando tudo o quanto puderam conduzir. Cristaleiras, mesas e cadeiras foram quebradas e atiradas às ruas, sendo depois incendiadas, gerando na pequena urbe, cenário desolador.
Após o saque da vila, foram divididos os cangaceiros em alguns grupos, tendo à frente de cada um, pessoa da confiança de Cândido: Jose dos Santos, Raimundo dos Santos e Joaquim dos Santos, seus cunhados; Ernesto da Pamonha, José Dantas, e os irmãos Paulinos (João, Antônio e Zinho) seus sobrinhos, seguindo cada um o destino apontado.


Em tempo: Raimundo dos Santos, citado, fora o mesmo que, em certa ocasião, viu seu sobrinho João Paulino, motivado por insatisfação, desfechar-lhe três tiros de revolver, fazendo-o tombar por terra. Por grande felicidade conseguiu escapar da morte Raimundo dos Santos, tendo recebido como sequela, uma lesão na perna que o deixou aleijado.
Para o sítio Monte Alegre, propriedade do Cel. Teixeira Neto, na passagem da antiga estrada que liga o município ao Estado da Paraíba, seguiu o grupo de Raimundo dos Santos que, ali chegando, comete grandes depredações, incendiando armazéns de cereais, a bolandeira, cercados e a casa de residência.
Para o sítio Gerimum, propriedade do coronel Antônio Leite Gonçalves (aliado político e sobrinho de Teixeira Neto), seguiu o grupo de José dos Santos, que como o outro, praticou as violências já citadas. No Sítio Barreiro, também de Antônio Leite Gonçalves, se apoderaram do gado ali existente, conduzindo a boiada para o consumo próprio, sendo de notar, conforme consta em O Ceará (Fortaleza, 25 de agosto de 1928, p.4), roubo de grande quantidade de fumo, que foi retirado do armazém e transportado ao Sítio Taveira, o qual, depois, foi enviado à venda para a cidade de Cascavel.
Os demais grupos seguiram para as propriedades Jitirana e Japão, ainda de Antônio Leite Gonçalves, as quais foram também saqueadas e incendiadas. A propósito, o citado Antônio Leite Gonçalves era o primeiro filho de um total de 16 do único casamento do coronel Barnabé Leite Teixeira com Maria Leite de Figueiredo (Maria Joaquina do Amor Divino). Barnabé, morador no sítio Barro Vermelho e falecido em 1903, era irmão dos coronéis Antônio Leite Teixeira Neto e Manoel Teixeira Leite (Cel. Teixeira) – citado adiante – e foi uma das figuras sociais e políticas de maior envergadura da história de Aurora; antigo delegado municipal (1862) e presidente da Câmara da vila (1890).

Município de Aurora no Vale do Salgado, Ceará

Voltando ao ataque de 1908, finalmente foram saqueadas as propriedades de Joaquim Miguel (Joaquim Gonçalves Ferreira), Manoel Carneiro Guerra e outros, cujos prejuízos foram calculados em mais de trezentos contos de reis. Figura de destaque na política local dentre os deportados por Cândido, logo que assumiu a chefia do município, estava o major Manoel Gonçalves Ferreira (o segundo, de três com o mesmo nome), irmão do coronel Paulo Gonçalves. O mesmo veio a se retirar para o Amazonas, onde chegou ainda a atuar na política, vindo a falecer ausente da família.
Decorreu a truculenta gestão de Cândido Ribeiro Campos, aos moldes dos governos municipais do período coronelístico no Nordeste do Brasil, até 1914, época em que rebentou a ruidosa revolução de Juazeiro. Com a mudança no governo do Estado após a queda de Franco Rabelo, foram entregues os destinos de Aurora ao coronel Manoel Teixeira Leite (Cel. Teixeira), irmão de Antônio Leite Teixeira Neto. Atente-se ao fato de o Cel. Teixeira ter sido o primeiro prefeito do município, já que, a partir de 9 de outubro de 1914, por força da Lei Estadual nº 1.794, foi extinta a função de intendente, passando, em substituição, a existir a figura do prefeito municipal.
Cândido, insatisfeito com a posse e administração do coronel Teixeira, estudou meios de galgar novamente o poder. Julgando que os troféus da vitória fossem ainda o bacamarte, reuniu a parentada e concertou planos. Decorreram-se alguns dias de 1914, quando na madrugada de 11 de julho, a população da pequena vila d’Aurora foi novamente despertada por fuzilaria terrível. Era o ataque dos Cândidos e Santos (Paulinos), à residência do coronel Teixeira, que não oferecendo resistência, tratou de fugir, e saltando uma janela, recebeu ferimento de bala de rifle no pé direito. Com a fuga de Teixeira, foi invadida a casa, ocasião em que fazia uso de arma de fogo a sua filha, Antônia Leite, reconhecida, logo depois, pelo ato de bravura. Neste ínterim, chegando grande parte dos parentes, houve luta armada, e depois de cerca de quatro horas, retiraram-se em debandada, os invasores.
Quanto à casa invadida, ainda hoje está erguida, apesar de desfigurada a fachada. Localiza-se na praça da Matriz (antiga rua do Quadro), centro de Aurora e lá funciona um restaurante (Churrascaria do Regivaldo). Este imóvel, que se avizinhava à esquerda com a casa de José Leite Teixeira e à direita com a casa do Professor Luiz Gonçalves Maciel foi adquirida por Manoel Teixeira a Hermenegildo de Sá Cavalcante (o primeiro deste nome) e sua mulher Dulce Emídia de Macêdo, pelo valor de duzentos mil réis, conforme registrado no livro de notas do Cartório da vila d’Aurora (Livro 1, 1890-1892, p.12-16), assinado pelo tabelião Casemiro Bezerra de Maria. No instrumento de escritura pública datado de 16 de outubro de 1890, aponta-se:
“(...) a compra de uma casa de morada encravada no patrimônio do Senhor Menino Deus da Vila d’Aurora, feita de tijolo e encoberta de telhas, com três portas e uma janela de frente, localizada na Rua do Quadro da mesma vila da Aurora, Comarca de Lavras, Estado do Ceará (...)”.
Vista atual da praça da Matriz de Aurora, Ceara

Outros desentendimentos experimentaram Cândidos e Leites durante a gestão também truculenta do Cel. Teixeira em Aurora (1914-1919). Embora líder do Executivo, Teixeira amargou serrada oposição, já que atuava como presidente da Câmara Municipal, neste período, Manoel Ribeiro Campos, irmão de Cândido. Além do presidente, a Câmara era formada por mais quatro vereadores que se identificavam como correligionários dos Cândidos: José Cabral de Almeida (vice), Rubem Arrais Maia (secretário – que substituíra o também aliado Antônio José Ferreira), Raimundo Bernardo de Souza e Afonso Monteiro Damasceno. Apenas os vereadores Antônio Bezerra dos Santos e Raimundo Ferreira de Lira eram aliados do Cel. Teixeira.
Como prova disso, aponta-se o que ocorreu na sessão extraordinária da Câmara de Aurora de 30 de março de 1915, em que informaram ao presidente do Estado, por meio de ofício, sobre o “procedimento arbitrário” do prefeito Cel. Teixeira, que não permitia a colaboração da Câmara no “destino e engrandecimento do Município”, cientificando, o referido presidente, ser o cidadão Manoel Teixeira Leite “em tudo contrário aos lampejos de prosperidades, tão necessários aos habitantes da terra”.
Sete meses depois (21 de outubro do mesmo ano), em ata de seção extraordinária da Câmara, Manoel Ribeiro Campos deixa escrito sobre a ausência, à reunião, do prefeito Manoel Teixeira Leite, que fora convidado a tratar dos atos de sua gestão no ano anterior, assim como da elaboração da proposta de orçamento para o ano seguinte (1916). Afirma o dirigente da Câmara, ter o prefeito se “esquivado de cooperar para o engrandecimento e boa organização das coisas”.
Terminado o mandato do Cel. Teixeira, assumia como prefeito Antônio Landim de Macedo, ocasião em que saiam do anonimato em Aurora, os Macêdos, aliados dos Leites e Gonçalves, para frequentarem em regime de rodízio, altos cargos na administração do município, tanto de indicação do governo estadual, como de escrutínação.
Findos os dois mandatos citados, Cândido Ribeiro Campos, obstinado na política, por intermédio de Floro Bartolomeu, deputado federal eleito em fevereiro de 1921, com sua ajuda, inclusive, no município, conseguiu novamente a Prefeitura de Aurora, governando-a de 1921 a 1926, mas perdendo a eleição subsequente para José Gonçalves Leite, candidato dos Leites Gonçalves apoiado também pelos Arrudas e Macêdos. Os velhos aurorenses, mais em dia com os acontecimentos passados da terra de origem, afirmam terem sido numerosos os assassinatos, roubos e demais crimes durante o período da segunda administração de Cândido, sem que fossem tomadas muitas providências.
Dentre os crimes de homicídio que ficaram impunes, cita-se o de José Paulino dos Santos (Zim), sobrinho de Cândido, que assassinou o primo Pedro Saraiva dos Santos na estrada do sítio Carro Quebrado em 1925, e que ficou somente em corpo de delito, o processo, tendo sido fechado, somente na administração de José Gonçalves Leite, quando exerciam os cargos de juiz e delegado o Dr. José Garrido e o tenente Caminha, respectivamente.
Por fim e fazendo alusão ao ano anterior de 1917, observou-se em Aurora, que por questões de terra pendentes e “para não incomodar a justiça”, decidiram, alguns membros da família Santos, resolvê-las, amparados pela lei tradicional do bacamarte, tendo sido este, outro episódio tremendo. Travaram luta entre si, resultando três mortes, sendo: o velho José dos Santos, com 80 anos de idade, José dos Santos (José da Bestinha) e um outro membro do clã, sobre o qual falaremos em momento oportuno.
Calixto Junior
Juazeiro do Norte, Ceará, 15 de maio de 2020.

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A VINGANÇA DA FERRAÇÃO DE MARCAR BOI - CONTOS DO CANGAÇO

Contos do Cangaço

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ARQUITETO DO UNIVERSO

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

Arquiteto do Universo, quanta miséria?
A Covid-19 matando a humanidade
É coisa de gente grande, não pilhéria.
Depende de Tu, superior Divindade.

Se não bastasse no mundo desgraçado
Onde o desemprego é fábrica de prostituição
É o desenho ideológico aqui executado
Grande é o traçado de desamparo e ação.

O mundo que Tu fizeste com cuidado
E hoje se vê homens de carnes nuas
Máscara do ser invisível, ignorado
Mercado crescente do viver nas ruas.

É o inferno em vida tal sofrimento
Si vê más não se vê tantas crianças
Abandonadas vivendo de momento
Desnutridas e sem esperanças.

Crianças maltrapilhas sem futuro
Falta tudo: família, carinho e proteção
E ainda vivem de sorriso puro
Sem livro, caderno, lápis e pão.

Nas ruas vivem mulheres
De roupas sujas e descabeladas
Come o que recebe sem talheres
Assim vivem preocupadas...

São seres humanos renegados
Da sorte, esquecidos do poder estatal
São invisíveis e nunca cumprimentados
Partitura humana em carne e osso, sem jogral.

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