Seguidores

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
franpelima@bol.com.br

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.
http://araposadascaatingas.blogspot.com.br

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

ENTREVISTA

Por Sálvio Siqueira

NO DIA 31 DE OUTUBRO DE 2005, UMA TERÇA-FEIRA, HÁ EXATOS 12 ANOS, O JORNAL "O MOSSOROENSE", DA CIDADE DE MOSSORÓ, RN, PUBLICAVA UMA ENTREVISTA COM O PESQUISADOR/HISTORIADOR

Rostand Medeiros, João Gomes de Lira e Sérgio Augusto de Souza Dantas - Sobre o autor – Sérgio Augusto Dantas nasceu em Natal, é bacharel em Direito pela UFRN, magistrado desde 1993 e autor dos livros “Lampião e o Rio Grande do Norte  – A História da Grande Jornada” (2005), “Antônio Silvino: O Cangaceiro, O Homem, O Mito” (2006) e “Lampião, entre a Espada e a Lei” (2008). Publicado originalmente no essencial Tok de História

SÉRGIO AUGUSTO DE SOUZA DANTAS SOBRE SUA OBRA LITERÁRIA "LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE - A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA", A QUAL TEVE SEU LANÇAMENTO NO MESMO ANO.


A TRAJETÓRIA DE INFORMAÇÕES DESSE PRELO É SENSACIONAL. QUANDO DO ATAQUE A CIDADE DE MOSSORÓ, EM 13 DE JUNHO DE 1927, HÁ 90 ANOS ATRÁS, PELO BANDO DE LAMPIÃO, O QUAL FOI REPELIDO PELA FORÇA DEFENSORA DA RESISTÊNCIA LOCAL, UM DOS CANGACEIROS É MORTO DURANTE O CONFRONTO E OUTRO É BALEADO. O BALEADO É PRESO E MEDICADO. NA CADEIA UM JORNALISTA, DESSE PERIÓDICO, CONSEGUE UMA ENTREVISTA COM O PRISIONEIRO.


TRANSCRIÇÃO, NA ÍNTEGRA, DA ENTREVISTA:

No rastro de Lampião

O ataque do bando de Lampião a Mossoró vem sendo contado e recontado em prosa e verso, desde 1927, quando a resistência comandada pelo então prefeito Rodolfo Fernandes impediu que os bandoleiros saqueassem a cidade. O assunto parecia exaurido, com exceção de alguns pontos polêmicos, entre os quais as motivações e as verdadeiras circunstâncias da morte do cangaceiro José Leite Santana, o Jararaca, que ainda não foram e dificilmente serão esclarecidas. A verdade, contudo, é que havia muito mais a ser contado, um vácuo histórico de 400 quilômetros, compreendendo o início da marcha dos cangaceiros rumo à capital do Oeste potiguar e o caminho percorrido por eles após o confronto em Mossoró. E é essa lacuna que o juiz de Direito Sérgio Augusto de Souza Dantas, do Juizado Especial do Fórum Varela Barca, de Natal, propõe-se a preencher com o livro "Lampião e o Rio Grande do Norte - A História da Grande Jornada". Em entrevista exclusiva ao jornal O Mossoroense, o autor fala sobre a obra, revela dados coletados em seis anos de pesquisa, levanta nova hipótese para a execução de Jararaca e afirma que está apenas esperando o convite para lançar o trabalho na terra que derrotou o Rei do Cangaço.

Cid Augusto Repórter

Como surgiu a ideia de se refazer o roteiro de Lampião no Rio Grande do Norte?

Tudo começou em Martins. Em dezembro de 1993, logrei êxito em concurso público de provas e títulos para o cargo de juiz de Direito neste Estado. Aos primeiros dias de janeiro do ano seguinte, assumia, na qualidade de juiz substituto, a comarca serrana.

Nos dias subsequentes, fiz uma pequena correição no cartório, selecionando processos, organizando arquivos, vendo feitos ainda pendentes de julgamento. Quando verificava o arquivo geral, a fim de aferir a ordem regular dos processos, tive contato com antigo calhamaço judicial, onde apareciam como réus os cangaceiros Virgolino Ferreira da Silva, Massilon Leite, Sabino Gomes e outros. O processo era de 1927.

De muito há muito, entretanto, eu já ouvira sobre Lampião. Quando adolescente ainda, costumava escutar estórias contadas pelo meu avô materno, natural do município pernambucano de Triunfo. Deliciava-me com as narrativas sobre o "cabra Lampião", como o velho costumava chamar.

Então - voltando ao fio da meada - ao perceber documento de tamanha importância histórica naquele cartório, iniciei uma verdadeira batalha para decifrar as letras escritas à mão nas inúmeras folhas do processo. Vale lembrar, aí, que até a ortografia era relativamente díspare da atual, o que só aumentou o grau de dificuldade na interpretação. O processo, enfim, contava crimes havidos nos sítios Castelo, Cachoeirinha de Vítor, Jurema, Serrota e descrevia uma chacina ocorrida na madrugada do dia 12 de junho daquele ano, ocorrida nas imediações da atual cidade de Lucrécia. Três homens mortos pelo bando liderado pelo famoso cangaceiro. Também havia citações a assaltos a fazendas situadas no município de Pau dos Ferros. Até então - como a maioria acredita - eu cria que a passagem de Lampião pelo Rio Grande do Norte fora silenciosa, e tinha como objetivo único saquear Mossoró.

Lógico que até aí não havia interesse em escrever um livro. O que fiz foi copiar o velho processo e guardar a reprodução xerográfica para um momento futuro. Confesso mesmo que o colecionei como uma "raridade" histórica. Mas os fatos que ali encontrei narrados, me intrigaram bastante. Anos passaram, todavia a lembrança daquelas estórias e outras que ouvi pelo sertão afora, não se apagaram da memória.

Certo dia, algo em torno de uns cinco anos, resolvi pesquisar mais, saber mais. Voltei às folhas do processo. Tinha como certo que muito havia sido feito pela malta de cangaceiros pelo interior do Estado. Em pouco também consegui uma cópia do processo-crime instaurado também em 1927 na Comarca de Pau dos Ferros, aqui no Estado e em Crato, no Ceará, e fui montando um quebra-cabeças.

Talvez aí, nesse estágio, já houvesse a gênese de um livro. Afinal, tinha dados inéditos em mãos.

Resumindo a "Grande Jornada": em que cidade começa a narrativa e onde ela se encerra?

Aí onde está o ponto crucial do nosso livro. A descrição do ataque a Mossoró me parecia uma coisa vaga. Não só para mim, como para grande parte de pessoas com quem conversei. A grande maioria dessas - mesmo os habitantes do sertão - são totalmente leigas no assunto "cangaço". Poucos sabem diferenciar quem foi Jesuíno Brilhante, Silvino ou Lampião. Datas e fatos são confundidos, distorcidos e mesmo criados. Há, por exemplo, quem pense que Antônio Silvino fez parte do bando de Lampião. Na pesquisa de campo mesmo, encontrei quem afirmasse que Lampião havia morrido em Mossoró durante o combate. Veja como a ignorância a respeito do tema é de impressionar.

Assim - como disse há pouco - Mossoró parecia algo solto, sem um antes ou um depois. Havia a vitória da resistência encabeçada pelo intendente Rodolfo Fernandes, fato incontroverso, incontestável. Porém, não me eram fáceis encontrar explicações do porquê da invasão do Estado, quem patrocinou a ousada empresa, por onde o bando passou até chegar à grande cidade salineira. Também me assaltaram dúvidas sobre a veracidade de outros crimes ocorridos no interior do Rio Grande do Norte, além daqueles citados nos processos que há pouco me referi.

Grandes historiadores locais deixaram à margem de suas pesquisas o que foi vivido no interior do Estado entre os dias 10 e 13 de junho de 1927.

Resolvi, pois, cobrir as lacunas.

Esclareço, entretanto, que o livro não relata em compartimentos estanques as etapas das minhas inúmeras viagens a campo, até porque foram feitas em períodos às vezes distanciados um do outro em torno de seis meses e em lugares opostos entre si.

Porém, no que tange ao enredo em si, a história é o conjunto do que foi apurado na leitura da extensa bibliografia sobre o assunto, em documentos judiciais, jornais da época, documentos encontrados em arquivos públicos do Rio Grande do Norte e Paraíba. Em suma, a história narrada é rigorosamente cronológica e formalmente precisa: tem início no mês de dezembro de 1926, em Recife, quando o Governo de Pernambuco enceta violenta campanha contra o cangaço, forçando a "migração" dos bandos de Lampião, Sabino, Jararaca e outros para o extremo ocidente da Paraíba e depois Ceará. É nesse contexto que Massilon - misto de jagunço e cangaceiro já bastante conhecido no extremo sudoeste do Estado do Rio Grande do Norte - encontra Lampião em coito encravado em fazenda de importante político cearense, e o convence saquear Mossoró.

Mas o livro vai bem mais além da grande marcha sobre o solo potiguar. Segue os passos do Capitão Virgolino pelo Jaguaribe, Cariri, sertões adustos de Pernambuco, sempre com a polícia em seu rastro, durante o resto de 1927 e meses de 1928, demonstrando, aí, a resposta das autoridades públicas ao insolente ataque a Mossoró.

Enfim, concluo a narrativa em julho de 1928, quando Lampião e mais cinco cangaceiros remanescentes do grande bando que marchou sobre nosso Estado, cruzaram o Rio São Francisco. A partir dali, em território a princípio isento de perseguições policiais, o cangaço lampiônico reinará mais uma década. Digo a princípio porque em pouco tempo a Polícia da Bahia também passou a persegui-lo.

Lampião morrerá em julho de 1938.

O senhor também pretende refazer esse roteiro, lançando o livro em algumas cidades pelas quais o bando de Lampião passou?

Isso dependerá do interesse das Prefeituras e Autoridades locais. Seria interessante, de início, lançá-lo em Mossoró. Principalmente o habitante desta cidade deve entender com maior profundeza o contexto histórico, e perceber quão grande foi o heroísmo da urbe naquele dia e, principalmente, aperceber-se de que Mossoró representou um verdadeiro divisor de águas na carreira de Lampião. De lembrar que até o episódio Mossoró, Lampião tinha em seu rastro as polícias de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Com o ataque irresponsável a Mossoró - cidade já por demais importante à época - o cangaceiro atraiu contra si mais dois contingentes militares: o do Rio Grande do Norte e - por razões que não cabe aqui discutir, posto expostas no livro - também o do Ceará.

Cinco Estados contra um bando de menos de setenta homens. Não houve saída. Lampião não era mais bem-vindo nem no Ceará, lugar de antigos e indevassáveis coitos.

Em Mossoró morava gente importante, grandes comerciantes de algodão e sal. Ou seja, usando o dito popular, o vesgo "cutucou onça com vara curta". É provável que a grande maioria dos habitantes da terra de Baraúna não se dê conta dessa importância histórica. Só a resistência em si não explica nada. Denota, sem dúvida, a bravura de um povo. Porém, o principal aspecto é omitido: Mossoró enxotou - desculpe-nos a rudeza do termo -, vez por todas, Lampião do lado de cá do Rio São Francisco. E isso as gerações futuras têm que ter em mente. E ajunto, dizendo que a SBEC tem um papel preponderante neste particular, aguando sempre a planta, para o episódio não cair no esquecimento, como ocorreu em Uiraúna, na Paraíba, fato, aliás, que também narro em nosso livro. Raro o habitante daquela cidade que sabe pelo menos o ano em que se deu a grande vitória da população sobre o bando de uns trinta a quarenta cangaceiros liderados pelo próprio Lampião.

Por falar em Uiraúna, e voltando ao cerne de sua pergunta, penso em lançar o livro lá igualmente, como em outras cidades. Mas, repito, aguardo a manifestação das autoridades ligadas à cultura dos municípios de Luís Gomes, Pau dos Ferros, Marcelino Vieira, Antônio Martins, Frutuoso Gomes, Martins, Umarizal, Apodi, Governador Dix-Sept Rosado, só para citar algumas áreas cruzadas pela malta lampiônica naquele ano.

Que contribuições o livro traz para a história do cangaço?

Em parte já respondi a pergunta até este ponto. Todavia, lembro que o longo percurso que refiz, partindo de Missão Velha, no Ceará, foi pontilhado, em 1927, de pequenos e grandes eventos, todos, dentro do possível, contados no livro. Episódios inéditos ocorridos no Ceará, como o fogo de Porteiras, o combate de Riacho do Sangue, por exemplo, são narrados em minúcias. Outros fatos de grande importância ocorridos no Ceará, Paraíba e aqui no Rio Grande do Norte, e ainda não narrados, foram trazidos ao conhecimento do público. Em uma palavra: Mossoró foi o meio do caminho. Faltava o "início" e o "fim" da história e esse foi o meu maior propósito. E esses dois pólos - o digo com propriedade - estavam praticamente imaculados em termos de pesquisa.

Quais pontos desse roteiro de Lampião ficaram marcados pela crueldade?

Há vários, porém não me cabe aqui aferir a gravidade de atos praticados neste ou naquele lugar. O meu objetivo é deixar o leitor tirar as suas próprias conclusões. Cito, entretanto, alguns exemplos: no combate de Riacho da Fortuna, no Ceará, o bando de cangaceiros matou vários soldados. Já na Paraíba, Massilon e Sabino praticamente destruíram o antigo povoado de Canto do Feijão, hoje cidade de Santa Helena. Lá, por questões pessoais, Massilon matou dois homens, inclusive o "chefete político" local. E, no mês anterior, enquanto Massilon atacava Apodi, Lampião com perto de quarenta homens - como citei anteriormente - tentava penetrar em Belém do Arrojado, hoje Uiraúna, sendo rechaçado por onze civis. Enorme quantidade de fatos inéditos são, repito, trazidos à baila. Tentativas de homicídio são descritas; a terrível chacina ocorrida no lugar Caboré, arredores da cidade de Lucrecia, no sopé da Serra de Martins, também é relevada em detalhes. Tudo, claro, fundamentado em documentos e em fonte primária. Portanto, cabe ao leitor, como disse, julgar se foram de fato "atos de crueldade" ou reação de homens rudes a um sistema político-judiciário capenga.

Lampião teve realmente receio de entrar em Mossoró pelo fato de a padroeira ser Santa Luzia, como diz a tradição da cidade?

Essa afirmação é do doutor Raul Fernandes, em seu clássico "A Marcha de Lampião". Creio que não se pode creditar só à lenda. Deve haver algum fundo de verdade. Essa informação teria sido passada a Fernandes por Jaime Guedes, genro do Coronel Antônio Gurgel. O poderoso Coronel da Fazenda Brejo deve ter ouvido essa afirmação da boca do próprio chefe cangaceiro. Entretanto, dado o longo tempo passado entre o fato estudado e a minha pesquisa de campo, nada ouvi neste particular. Portanto, não ousaria questionar a informação prestada por doutor Raul Fernandes em sua grandiosa obra.

Há poucos registros sobre a morte de Menino-de-Ouro, que não suportando a dor de um ferimento sofrido em Mossoró teria pedido a Lampião que o executasse. O livro desvenda esse episódio?

O episódio já foi desvendado desde 1995 pelo pesquisador Hilário Lucetti. Casualmente Hilário encontrou um certo Zeferino que trabalhava na fazenda Piçarra, do velho coiteiro de Lampião, Antônio Teixeira, o Antônio da Piçarra. Aos poucos lhe granjeou confiança e acabou com toda a história do Menino-de-Ouro em mãos. Todo o episódio - as confusões com o apelido, a prisão do ainda garoto - está contado no livro "Lampião e o Estado Maior do Cangaço", do próprio Lucetti.

De fato, eu não desvendo mito nenhum. Apenas referendo as palavras de Lucetti, o qual teve contato direto e quase diário com o chamado Menino-de-Ouro. E acrescento apenas o seguinte: o episódio da morte de Menino-de-Ouro é narrada por Raul Fernandes na obra a que me referi anteriormente, e teve como FONTE ÚNICA o depoimento de Antônio Luiz Tavares, o ex-cangaceiro Asa Branca. Raul chega mesmo a falar que desenterraram o cadáver do garoto ("A Marcha de Lampião", capítulo 14, nota número 11).

Todavia, minhas pesquisas no Arquivo Público do Estado e no Instituto Histórico e Geográfico não registraram a exumação de um garoto no lugar indicado pelo velho Asa Branca, mas de um homem adulto. Não lhe posso precisar agora a data da edição, mas há uma nota inserida em um exemplar do jornal "A República" sobre o fato. E veja mais um detalhe: segundo o próprio Lucetti me contou, Zeferino, quando vivo, lhe disse que seu apelido era Alagoano ou Oliveira, e raríssimas às vezes se referiam a ele como Menino-de-Ouro. Por fim, basta ver a foto do bando tirada em Limoeiro do Norte em 15 de junho daquele ano. Lá está o Alagoano, o Oliveira, o Menino-de-Ouro de Lampião posando para o instantâneo. Particularmente creio que o ex-cangaceiro Asa Branca - com todo o respeito que devo à sua memória - deve ter confundido nomes e passou de forma errônea a história para o doutor Raul Fernandes, ou mesmo a tradição oral criou o mito Menino-de-Ouro e a posteridade o repercutiu. Essa é a minha visão. Porém respeito a opinião de quem insiste em contrário.

O senhor usa a expressão "horda maldita" para designar os cangaceiros. Isso significa que, na sua opinião, os cangaceiros eram bandidos e não excluídos sociais, como defendem alguns?

A expressão "horda maldita" é somente sinônimo para bando, chusma ou choldra. Todas significam a mesma coisa. Pode ser traduzido como bando de malfeitores. Porém, como já apontei acima, e torno a insistir, deixo que o leitor tire suas conclusões. O meu trabalho não tem cunho sociológico. Não trata Lampião como herói ou bandido. Narra somente um história, tem um bom enredo. Entretanto, em minha opinião pessoal, a aura do cangaceiro esconde um certo enigma, mas todo o conjunto parece ser fruto do coronelismo, da falta de Justiça, da desigualdade social, da miséria extrema. Enfim, um somatório de fatores que fogem à alçada de meu trabalho, o qual, repito, tem cunho exclusivamente histórico.

Deixo apenas uma pergunta: Se Lampião foi tão cruel como amiúde se dissemina, porque tanta idolatria ainda hoje? Lampião tinha coiteiros no Rio Grande do Norte?

Nada apurei a esse respeito. Sequer uma referência a esse fato foi por mim ouvida nesses anos de pesquisa.

Como a imprensa de Mossoró cobriu o episódio?

Olha, revirei vários jornais da época. Aqui do Estado, da Paraíba e do Ceará. Especificamente no caso do Rio Grande do Norte, a imprensa local praticamente se deteve no episódio ocorrido em Mossoró. Quase nada encontrei em relação às tropelias do bando nas vilas, sítios ou fazendas situadas no Oeste do estado.

Jararaca virou "santo" e, recentemente, a prefeitura ergueu estátuas de Lampião e de Maria Bonita no centro de artesanato do município, enquanto Rodolfo Fernandes pouco é lembrado nos meios populares. Como o senhor avalia essa questão?

Torno com a mesma resposta já aqui fornecida em pergunta anterior: se ele era tão cruel assim, por que se idolatra? Por que Lampião é tão procurado em lojas de artesanato Nordeste afora?

De lembrar, antes de qualquer coisa, que o cangaço forjou parte significativa da cultura nordestina em geral. A cultura da bravura, da valentia, do chapéu de aba virada para cima, das alpercatas em couro, do xaxado, só para lembrar alguns ícones materiais, que logo são associados ao Nordeste, ao sertão.

Agora, quanto à questão do ex-intendente Rodolfo Fernandes - mentor maior da resistência mossoroense - acho uma injustiça não muito se fazer para manter viva a sua memória. Neste particular, creio que o povo e seus representantes poderiam resgatar de maneira mais incisiva o valor heroico e o arrojo do antigo chefe político.

O estudo é fundamental para a difusão da cultura, e infelizmente a leitura não é um hábito brasileiro.

É preciso, de fato, ler para saber sobre Rodolfo Fernandes.

Já Lampião, você escuta histórias verdadeiras ou falsas o tendo como protagonista em qualquer esquina. Não há o esforço da leitura para o conhecimento. Os boatos se espalham rápido e por si sós.

Porém, se o Coronel Rodolfo é hoje pouco lembrado na cidade, não me cabe tecer comentários a esse respeito. Só os mossoroenses podem explicar esse paradoxo. Creio, pessoalmente, que Fernandes não ainda esteja no patamar que merece, mas de igual acredito que em tempo hábil, não só os mossoroenses, mas todos os potiguares entenderão melhor a grande figura que foi o político Rodolfo Fernandes.

A morte de jararaca: vingança, medo ou covardia?

Na minha opinião, queima-de-arquivo. Suspeito que a sugestão ou ordem para a execução não partiu daqui do Estado. Nas entrevistas que Jararaca deu à imprensa àquela época, apontou nominalmente coiteiros poderosos, coronéis do Ceará e de Pernambuco. Creio que se houve uma determinação para exterminá-lo, tal veio de fora. Todavia, desejo frisar, não há prova nenhuma em torno dessas hipóteses, e por tal não posso apontar uma opinião conclusiva. Seria temerário. Todavia, em meu trabalho, coloco algumas questões que levam o leitor a meditar um pouco sobre o assunto. Talvez um dia o mistério seja desvendado. Ou, do contrário, permanecerá enterrado como o cadáver do cangaceiro Colchete: sepultado em lugar secreto, recôndito, difícil de encontrar, para que os tentáculos da história jamais o desvende.

Fonte www2.uol.com.br
Foto www2.uol.com.br
google.com
cangaceiroscariri.com
PS// AS PESSOAS QUE APARECEM NA TERCEIRA FOTOGRAFIA SÃO, DA ESQUERDA PARA DIREITA, NOSSO AMIGO Gilmar Leite, VERA FERREIRA (NETA DE VIRGOLINO FERREIRA E MARIA GOMES DE OLIVEIRA) E O Drº SÉRGIO AUGUSTO DE SOUZA DANTAS.
BONS ESTUDOS!!!

https://www.facebook.com/groups/1617000688612436/?multi_permalinks=1846789438966892&notif_id=1509489643891845&notif_t=like

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

JOÃO MOSSORÓ CANTARÁ NO SÁBADO NO MERCADÃO CADEG NO RIO DE JANEIRO

https://www.youtube.com/watch?v=ixQ33HVOym4

PROJETO JOÃO MOSSORÓ - TOCANDO EM FRENTE

João Mossoró cantará no dia 4 de novembro (sábado) no Mercadão Cadeg, no bairro Bem Fica, na cidade do Rio de Janeiro.


O cantor João Mossoró do antigo "Trio Mossoró" carinhosamente foi apelidado de "CIBITO" pelo rei do baião "Luiz Gonzaga do Nascimento". Veja que no seu zabumba está escrito em letras maiúsculas "CIBITO".

João Mossoró, Cantor e Compositor, interpreta a música do Compositor: Renato Teixeira
Categoria
Licença
Licença padrão do YouTube
Música
"Tocando em Frente" por Thássio Oliveira ()

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SERIDÓ/RN E A LENDA DO POÇO DA BONITA

Por Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
São Joseense e professora de Geografia na UERN

O SURGIMENTO DO POVOADO DA BONITA

No dia 04 de novembro de 2017 o município de São José do Seridó estará comemorando o seu primeiro centenário de fundação. O processo de ocupação do lugar, deu-se em função das atividades agropecuárias, portanto, não fugindo dos padrões de ocupação que se desencadearam na Região Seridó Potiguar.
            
Segundo relatos orais de pessoas entrevistas durante a realização da pesquisa, acredita-se que a muitos anos atrás, o senhor Antônio Paes de Bulhões, doou a seu escravo, Nicolau Mendes da Cruz, uma de suas fazendas, localizada nas terras pertencentes ao atual município de Cruzeta.



O Sr. Nicolau cresceu financeiramente através da pecuária e chegou a aforar nove léguas de terra ao longo do Rio São José. Isto se deu por volta de 1752, e estas nove léguas de terra receberam o nome de Fazenda Bogarí. Esse crioulo-forro e vaqueiro é tido como um dos pioneiros no povoamento do Seridó.
            
Entretanto, existe uma outra versão, acredita-se que Nicolau adquiriu suas terras, através de uma petição feita ao Presidente das Províncias do Rio Grande do Norte, Sr. Tomás de Araújo Pereira, solicitando a posse dessas terras. Já que as mesmas se originavam da Sesmaria 406, considerada como “terras abandonadas da Capitania Hereditária do Rio Grande do Norte”, de acordo com Medeiros (1998).

http://historiadascidadesdoserido.openbrasil.org/2013/06/sao-jose-do-serido-rn.html
            
Depois de Nicolau, a Fazenda Bogarí pertenceu a Januário de Medeiros Dantas, que revendeu para seu irmão Manoel Inocêncio de Medeiros Dantas por volta de 1850. Este resolveu mudar o nome da Fazenda Bogarí para Fazenda Bonita, em virtude de nestas terras está localizado o lendário “Poço da Bonita”. Na Fazenda Bonita o Sr. Manoel Inocêncio criou os seus filhos, que posteriormente ficaram conhecidos como os “Quirinos da Bonita”.
            
Segundo relatos, podemos dizer que a “antiga” povoação da Bonita, surgiu em função das necessidades dos fazendeiros da época, para que houvesse um ponto de convergência mais próximo. Foram notificadas diferentes versões para a lenda que originou o nome daquele poço e consequentemente do município.



Além da distância, devido a precariedade das estradas e inexistência de meios de transportes eficientes, entre as cidades mais próximas: Caicó, Jardim do Seridó e Acari (Cruzeta ainda não existia), a dificuldade da passagem para estas cidades era agravada no período chuvoso, pelo fato da existência de três rios (Seridó, São José e Acauã), que no período de “sangria” transbordavam e impediam o fluxo de pessoas e mercadorias.
            
Geralmente as pessoas eram transportadas a cavalo e as mercadorias eram trazidas em burros-mulos pelos “tropeiros” ou “matutos”. Estes “matutos” saíam em “tropas”, basicamente para a Região do Brejo Paraibano. Aí compravam farinha, rapadura, açúcar, café e tecidos, e levavam para vender lá sal e carne de charque.

            
Diante destes problemas, surgiu entre os fazendeiros locais, a ideia de fundação de um povoado. Este, resolveria os problemas que mais afligiam os fazendeiros, tais como os sepultamentos e o acesso às feiras. Portanto, a fixação de um povoado encurtaria a distância entre as cidades supracitadas e facilitaria a vida das pessoas.
     
A partir daí o local passou a ser estudado. O Sr. Joaquim Manoel do Nascimento (conhecido por Joaquim Loló), um dos filhos de Manoel Inocêncio, resolveu doar 12 (doze) braças de terra de sua propriedade (da Fazenda Bonita) para serem construídas as primeiras moradias, à margem direita do rio São José, numa planície que as ovelhas se juntavam à tardinha para dormirem.
            
Em setembro de 1917, Joaquim Loló foi a cidade de Jardim do Seridó, escriturar as terras para o povoado e escolheu como padroeiro do mesmo, o santo protetor das chuvas: o glorioso São José, e doou as terras para o referido santo.


Imagem inline 1

Tanto é que, ainda hoje, a Igreja Católica cobra anualmente uma taxa às pessoas que possuem, residências na área da cidade que foi doada por Joaquim Loló para o santo São José. A escolha do referido santo como padroeiro do povoado, devido à proximidade do vindouro núcleo de moradias com o rio que tem o mesmo nome.
            
Na época da fundação do povoado, o Presidente da Intendência do Jardim era o Dr. Heráclito Pires Fernandes, que atendeu a solicitação dos moradores.
            
Além de Joaquim Loló, outros nomes importantes na fundação do povoado da Bonita, comumente citados por moradores mais antigos são: Marcelino Franklin de Araújo (Marcelino Belizário), José Quirino de Medeiros, Raimundo Góis, Vicente Pereira e Cícero Dantas, dentre outros.

A LENDA DO POÇO DA BONITA

Existe uma lenda relacionada com a origem do nome do município. Diz respeito a lenda que deu origem ao nome do “Poço da Bonita”. No seu surgimento, a povoação chamava-se “Bonita” numa referência ao “Poço da Bonita” que ficava nas imediações do povoado.
            
A partir da instalação oficial do povoado, ou seja, da fundação propriamente dita, marcada pela realização da 1ª (primeira) feira livre em 04 de novembro de 1917, o povoado passou a chamar-se oficialmente de São José da Bonita. A origem do nome “São José” deve-se ao nome do rio, que ficava nas proximidades do povoado e ao santo padroeiro do mesmo.


Este poço está localizado em área rural do município, mais precisamente está nas terras pertencentes a Fazenda Bonita (pertencente a família do Sr. Pai Velho), que fica nas imediações da cidade. Uma característica interessante deste poço, de origem natural, é que, apesar de morarmos numa região de clima semi - árido, o mesmo é permanente, nunca secou, mesmo em períodos de secas intensas.

Durante a pesquisa, foram notificadas diferentes versões para a lenda que originou o nome daquele poço e consequentemente do município.
            
A primeira delas diz que, uma filha de Nicolau Mendes da Cruz (que foi o primeiro a estadiar por aqui, em meados do século XVIII) era dotada de beleza extraordinária, encantando a todos que a viam, e adorava tomar banho no poço da então Fazenda Bogarí. Certa vez, ela foi surpreendida por um pescador, que encantado com a beleza da moça, exclamou alto “oh que moça bonita” e esta ficou assustada e correu pelo matagal. A partir daquele momento, o pescador passou a chamar o poço de o “Poço da Bonita” (outros dizem que ela se transformou num sapo).
            
Na segunda versão, uma índia muito bonita morava num serrote da Fazenda Bogarí. Ao entardecer, ela vinha banhar-se no poço (os rapazes ficavam espionando-a) e certo dia veio a morrer afogada. Em sua homenagem, o poço passou a ser chamado de o “Poço da Bonita”.
            
A terceira versão conta que o senhor Manoel Inocêncio tinha uma vaca formosa por nome de “Bonita”. Ele mandava seus filhos darem água a “Bonita” no poço da fazenda. Em virtude de tanta água que essa vaca tomou no poço, o mesmo passou a chamar-se de o “Poço da Bonita”.
            
Acrescenta-se ainda que, alguns moradores da cidade discordam dessa lenda. E também que o nosso propósito não é o de contestar ou afirmar a veracidade da lenda, mas tão somente, falarmos da importância dessa lenda para a cultura local e de sua relação com o nome do referido poço.
            
Ressaltamos que um dos símbolos históricos de São José do Seridó, a sua bandeira, criada em 13 de novembro de 1986, sob a Lei nº 30/86, tem no centro de sua representação o “Poço da Bonita”. Evidenciando a importância histórica desse poço para a história do município, sendo representado inclusive nas placas de identificação pelas ruas da cidade.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Maria José (et al). Estudando alguns aspectos demográficos do município de São José do Seridó – RN. Caicó: [s.n.], 1999. (Mimeogr.)
______. A cidade de São José do Seridó em seu movimento histórico - espacial. Caicó: [s.n.], 2000. (Mimeogr.)
MEDEIROS, Edite. Resumo em geografia e história de São José do Seridó -RN. São José do Seridó: Editora do Autor, 1998.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

A FAMÍLIA DE LAMPIÃO

Por Pedro R. Melo
Foto: Alcides Fraga, a 17 de dezembro de 1928, em Vila de Pombal, Bahia. Lampião o 1º à esquerda, Ezequiel e Virgínio.

Ezequiel

Era o mais jovem dos irmãos Ferreira. Entrou no banditismo antes de completar 18 anos. Era exímio atirador. A sua infalível pontaria causava inveja aos cabras de Lampião. Ganhava todas as apostas nos exercícios de tiro. Daí o apelido: "Ponto Fino". 

Faleceu no dia 24 de abril de 1931, as 5 horas da manhã, na fazenda Capoeira do Touro, Estado da Bahia. O tenente Arsênio de Sousa foi cercado pelo bando de Lampião. 

Arsênio Alves faleceu vítima de acidente automobilístico no sul do Estado da Bahia, e seus restos mortais estão enterrados no CEMITÉRIO CAMPO SANTO em Salvador/BA. Causa da Morte: Fratura do Crânio. - http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2017/07/meu-tioavo-coronel-arsenio-alves-de.html

O tiroteio foi intenso. Ponto Fino combatia heroicamente. Tombou gravemente ferido. O tiro atingiu o osso da perna, penetrou na cartucheira e na barriga. Estava brigando de joelhos. Lampião avistou-o nos braços dos companheiros. Dizem que sacou o "parabellum" antecipando-lhe a morte. Ezequiel ainda se despediu.

Fonte: OLIVEIRA A.D.L -1970- Lampião, Cangaço e Nordeste

Acesse, participe, divulgue e compartilhe👍
Pedro Ralph Silva Melo (Administrador)

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1914363602220430&set=gm.1749984961968323&type=3&theater&ifg=1

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

OS CABELEIRAS

Por Pedro R. Melo

Após a morte do irmão mais velho, Lampião lamentou muito e de cabelos crescidos resolveu não corta-los, o que foi seguido pelos companheiros, assim como Lampião usava cabelos compridos, acabou virando moda entre os cangaceiros.


Foto: Revista "O Cruzeiro" acervo público.

A cabeça de um dos cangaceiros de "Lampião", com sua cabeleira abundante, conforme a moda do bando (O CRUZEIRO, - 6 de agosto de 1938)

Acesse, participe, divulgue e compartilhe
Pedro Ralph Silva Melo (Administrador)


http://blogdomendesemendes.blogspot.com