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domingo, 8 de setembro de 2019

OS ÚLTIMOS DIAS DO REI DO CANGAÇO PARTE 01

Por Volta Seca

Documentário feito pela TVE-CNL... Dividido em 04 partes, com direção do escritor/pesquisador/jornalista, João Marcos... (veja, o restante, nos comentários)...


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SEU GALDINO CONTA A SEU LEODORO GUSMÃO QUE QUEM FEZ LAMPIÃO CORRER DE MOSSORÓ FOI ELE

Por José Mendes Pereira

Não adianta duvidar do seu Galdino. Só porque ele conversa um pouquinho a mais? E assim faz com que algumas pessoas não acreditem nele.

Lá na vazante seu Galdino e seu Leodoro faziam um plantio de milho, feijão..., e entre uma carreira e outra plantavam Gergelim.

Seu Leodoro não tinha ambição nenhuma pelo o plantio de gergelim. Dizia ele que era muito trabalhoso, desde o plantio até a colheita, mas não contrariava o interesse do seu  compadre. E querendo saber o motivo dele tanto gostar do plantio do gergelim, fez-lhe a seguinte pergunta:

- Compadre Galdino, desde que nasceram as nossas amizades vejo seu interesse pelo o plantio de gergelim. Por que o senhor sempre gostou de plantar gergelim?

- O meu interesse pelo plantio de gergelim compadre Leodoro, é porque certa vez, consultei um médico ortomolecular que trabalhava com envelhecimento saudável, bem-estar e estética. Ele me reforçou que se deve comer bastante gergelim, porque oferece uma série de benefícios, como por exemplos: Importante para a saúde intestinal; controla bem o colesterol; faz diminuir peso; tem vitaminas que é importante para a saúde dos nossos ossos, olhos e fígado; faz diminuir o açúcar no sangue, e além disso, o médico me garantiu que é uma excelente fonte de proteínas. O gergelim compadre Leodoro, segundo o médico, combinado a uma alimentação saudável é um grande aliado para quem quer manter a forma com refeições saborosas e que realmente saciam.

- Sim senhor, compadre! – Fez seu Leodoro Gusmão. Muito obrigado pela sua explicação sobre o valor medicinal que tem o gergelim. É por isso que o senhor tem desejo do plantio deste legume. E eu acho que no próximo ano também estarei fazendo plantio de gergelim.

Já eram mais de 9:00 do dia e no gigantesco infinito o sol começava liberar fios solares mais quentes. E de pressa, os dois resolveram fazer lanches sob uma antiga quixabeira, possivelmente milenar, e ali, enquanto comiam, falaram sobre o que estava acontecendo sobre possível envolvimento de pessoas fugidas de outros Estados, alojaram-se aqui, e usavam desonestidades nas fazendas e em pequenos municípios.

- O que está acontecendo aqui em Mossoró compadre Galdino, até nos faz lembrar os velhos tempos de Virgolino Ferreira da Silva o bandoleiro Lampião.

E assim que seu Leodoro usou o nome “Lampião” seu Galdino de um pinote só, levantou-se do lugar em que estava sentado, e resolveu falar sobre a tentativa de ataque de Lampião e seu bando na maior cidade do Rio Grande do Norte - Mossoró, na tarde do dia 13 de junho de 1927. Inciou dizendo:

- Compadre Leodoro, eu até hoje sinto desgosto por ter sido excluído da história que organizaram sobre a tentativa de assalto à Mossoró, feita pelo capitão Lampião e seu honrado grupo.

- Oxente, compadre Galdino! Tenho lhe acompanhado de muitos anos, mas eu não sabia que o senhor entende um pouco da história de Mossoró sobre o falado capitão Lampião.

- E eu não te contei ainda não, compadre Leodoro?

- Não senhor! Até hoje não ouvi nada sobre Lampião contada pelo compadre.

- Eu não só entendo como também fui o responsável pela fugida de Lampião com o seu bando daqui...

- Verdade, compadre Galdino? – Fez seu Leodoro em tom de admiração.

- Coompaadree Leeoodooro, quantas vezes o senhor já me viu contando mentiras?!

- Nunca, compadre! Nunca! – Confirmou seu Leodoro mesmo contra a sua vontade. Mas até hoje o senhor nunca me falou nada sobre Lampião. Sobre onças já me falou muitas vezes, mas a fugida do capitão Lampião de Mossoró...

- Pois bem compadre - atalhou seu Galdino - eu vou contar ao senhor Tim-tim por tim-tim. Quando o coronel Rodolfo Fernandes soube que Lampião estava caminhando em direção à cidade de Mossoró ele que era prefeito, iniciou uma espécie de alistamento para quem quisesse combater o cangaceiro e seu grupo. Eu que sempre fui corajoso, nunca temi a nada, isto o senhor sabe muito bem...

- Verdade, compadre! Isto eu sei bastante, que o senhor é homem corajoso mesmo! Homem que tem coragem de lutar com onça compadre, imagino...!

- E então, eu ainda era muito jovem, mas com um bom porte físico. Fui tentar entrar nessa lista para combater o cangaceiro com os seus comandados. Mas ao chegar à casa do prefeito, bem lá na Avenida Alberto Maranhão, no centro da cidade de Mossoró, um dos seus empregados me encaminhou até à sua presença, que naquele momento, ele se encontrava em reunião com um amigo lá nos fundos da sua casa. Mas tive o desprazer de ouvir dele a palavra não. Perguntei o motivo de não me aceitar na alista da empreitada. Ele me falou que eu era ainda muito jovem, adolescente sem experiência na vida para enfrentar bandoleiros...

- E o prefeito disse isso na sua cara, compadre Galdino?

- Sim senhor! Disse. Mas eu não insisti mais. Fiquei calado, e de lá, saí meio triste. E quando foi no dia 13 de junho de 1927, Lampião entrou na cidade com gosto de gás, e desejo de levar tudo que ele achava que tinha direito. Nesse tempo, eu morava sob os olhares dos meus pais. Já bem próxima da sua entrada na cidade eu me arrumei e fui tentar ver se conseguia falar com ele.

- Ele quem, compadre Galdino? - Interrogou seu Leodoro.

- Falar com o capitão Lampião, compadre Leodoro! Parece que o senhor não está acompanhando o meu raciocínio?

- Estou, compadre Galdino! – Disse seu Leodoro tentando não o contrariar.

- Mais ou menos 4 horas da tarde o tiroteio começou. Os resistentes atiravam e os bandidos respondiam. Haviam homens instalados por todos os lugares. Nas torres das 3 maiores igrejas: Matriz de Santa Luzia, Na Coração de Jesus e na Igreja de São Vicente. Também tinham defensores no Mercado Central, na Empresa Companhia de Luz, No Ginásio Diocesano, na sede dos Correios e Telégrafos, na Estação ferroviária, no Grande Hotel, na casa do prefeito Rodolfo Fernandes e outros locais.

- Mossoró estava muito bem preparada concorda comigo, compadre Galdino?

- E como concordo, compadre! Pois bem, Lampião tinha ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região do nosso Estado. Um destes bandidos era um tal de Cecílio Batista o Trovão, que em anos remotos havia  morado em Assu no Rio Grande do Norte, e fora preso por malandragens e desordens. O José Cesário o Coqueiro mais um outro bandido de nome Júlio Porto. Estes dois últimos haviam trabalhado em Mossoró como motorista da empresa Algodoeira Alfredo Fernandes, e outros mais. Esta empresa era uma que muito fez Mossoró crescer, dando empregos aos mossoroenses. No início do tiroteio as balas voavam pelas ruas da cidade. Tanto saíam das armas dos cangaceiros como das armas dos combatentes. A cidade estava em pânico, mas quase sem ninguém, porque a maior parte da população tinha sido advertida para deixar a cidade o quanto antes possível. Nesse tempo, meus pais e eu morávamos nos alagadiços, hoje bairro Pereiros, não tão distante do combate. E eu saí devagarinho de casa sem comunicar aos meus pais, que o meu intuito era ver se conseguia falar com o capitão Lampião para ele desistir da empreitada. E assim fiz. Fui me aproximando, sempre me escondendo e lá mais adiante  fui me defendendo dos estilhaços de balas, tentando me contactar com Lampião. Ao longe,  em uma rua bem no centro, por trás da igreja do São Vicente avistei um homem magro, alto, que usava óculos..., e percebi que só poderia ser ele, porque eu já havia visto a sua foto no jornal "O Mossoroense". Eu levava aquele meu facão que é do seu conhecimento compadre Leodoro, até hoje ainda o uso quando caço onças nos tabuleiros... Olhando ao meu lado direito vi uma moita muito bonita, bem enramadinha e arredondada. Cortei-a, coloquei-a sobre mim, e fui andando bem abaixadinho. E fui me aproximando do suposto Lampião, suposto porque eu não tinha certeza que era ele.  E na verdade, era o capitão Lampião.

- O senhor estava dentro da moita, compadre Gadino?

- Sim senhor..., e bem escondidinho. Eu pensei sair logo de dentro dela, mas esperei uma oportunidade...

- Tinha cangaceiros por perto?

- Vi alguns deles com armas em punhos e atirando...

- E o senhor ficou com medo quando os viu?

- De forma alguma, compadre! Eu não sou homem de ter medo de nada..., e quando eu estava bem pertinho dele, de dentro da moita eu disse: Capitão Lampião!!! Aí Ele teve medo tão danado que em gritos exclamou fortemente, dizendo:

- "Valha-me meu Padim Padim Ciço!!" Nunca tinha visto uma moita falar!

- E lá, ficou rodeando a moita com o seu mosquetão em punho e o dedo no gatilho. E eu fui saindo. E ao me ver, quis logo me sangrar com um punhal. Mas eu disse-lhe que estava ali à sua presença somente para dizer a ele que desistisse do ataque, porque a cidade estava muito bem preparada, com mais de 800 combatentes. Eu aumentei o total de combatentes compadre Leodoro, só para ele desistir e não mexer com a minha cidade.

- E ele, o que fez, meu compadre Galdino?

- O que o capitão Lampião fez foi ir embora. Colocou um apito na boca, e fortemente, ficou chamando os seus cangaceiros para se mandarem de Mossoró. Com pouco tempo, o local em que nós estávamos, ficou coalhado de facínoras. Exceto o Colchete que ficara 
em frente à casa do prefeito estirado ao chão já pronto para se fazer o enterro. Um de nome Jararaca que saiu baleado porque quando foi desequipar o seu companheiro morto a bala o atingiu. Um dos combatentes acertou bem de cheio o seu peito, e ele se mandou, tendo sido capturado no dia seguinte, e dias depois, foi executado. 

- Já vi, compadre Galdino que o senhor tem coragem até para enfrentar dragão..., teve coragem de enfrentar até o capitão Lampião que não temia ninguém...

- E eu brinco, compadre! Eu não nasci de 7 meses não senhor...!

E assim que terminaram este bate papo cada um foi para sua casa. Seu Leodoro nem imaginava acreditar esta conversa contada pelo seu compadre. Mas o que era de fazer?

Informação: - Esta historinha é uma brincadeirinha com o capitão Lampião sem afetar a família Ferreira, e não tem nenhum valor para a literatura lampiônica.

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O MIRANTE DA SERRA RESTAURANTE


Você que está sem destino, porque ainda não sabe  o restaurante que vai almoçar hoje? Então vá conhecer as dependências do Restaurante "O MIRANTE DA SERRA" lá na Serra Mossoró e que já virou moda. Nos finais semana não temos nada para fazermos em Mossoró, então a solução é irmos até lá.

Como a cada dia a cidade de Mossoró está ficando mais violenta todos os mossoroenses que gostam de novidades nos finais de semana estão correndo pra lá. O almoço é de primeira e tem um bom atendimento. É um lugar tranquilo, seguro e atrativo. 

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ASSINALANDO OS 41 ANOS DO LANÇAMENTO DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LIVRO "O CANTO DO ACAUÃ" (1978 - 2019).


Por Volta Seca

Parabéns Dra. Marilourdes Ferraz, pelos 41 anos de entrega à sociedade, dessa maravilhosa obra sobre o cangaço e, sobretudo, sobre os Nazarenos, grandes perseguidores de Lampião /grupos...abs.


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ETERNIDADE DO PADIM


85 anos após sua morte, Padre Cícero é revisto pela Igreja Católica. A devoção dos romeiros ao sacerdote segue intocada. Desta quarta-feira, até sábado, dia 20, está programada romaria para celebrar a memória de fé. No dia em que morreu, mesmo enfraquecido e já devotado, chegou a abençoar os fiéis


As notícias sinalizavam que algo mais triste estava por vir, a partir das mensagens por telegramas enviados do Cariri, repassadas no dia anterior:

- “Crato, 19 - Padre Cícero muito mal”,

- “Joazeiro, 19 - Padre Cícero estado grave".

Na manhã de 20 de julho daquele 1934, a confirmação:

- "Joazeiro, 20 - 8hs.,45. Acaba de falecer padre Cícero. Povo em desespêro. Mandarei pormenores", alertou pelo telégrafo um colaborador chamado Jesus Rodrigues.


Partira do plano terreno, do chão dos romeiros, o sacerdote milagreiro do Nordeste, de fama que o vento espalhava além-sertão, muito além. Mesmo sem o endosso oficial do Vaticano, Padim Ciço já há muito é tido como um santo nos altares domiciliares - talvez já fosse ainda em vida. Igrejas e capelinhas da Região não fazem diferentes, apesar da ordem superior não ter sido dada.

Sobre o assunto:



Vespertino àquela época, O POVO ainda conseguiu, no calor dos fatos, estampar a informação na sua primeira página, naquela sexta-feira: "O falecimento do Padre Cícero: profunda consternação em Joazeiro". Foi o título, com a fotinha de rosto do religioso ilustrando a matéria. Sem mais detalhes apurados, e para não atrasar a edição, o texto se completou com dados biográficos do Padre. Também informado por telegrama, o final dizia: "Apesar profundo sentimento povo calmo".

Saiu logo abaixo da manchete principal: Getúlio Vargas tomaria posse naquela mesma tarde como presidente, eleito indiretamente, da então República dos Estados Unidos do Brasil. Faz 85 anos que a notícia da morte do Padim correu as ruas e conversas, mas ainda tem força e repercute.


Ele morreu 85 anos atrás, suspenso de todas as atividades de sacerdote. A motivação foi episódio ocorrido 130 anos atrás. Hoje, a Igreja conduz em sigilo o processo para reabilitá-lo (SAIBA MAIS NESTE LINK). O Vaticano reúne materialidades e entendimentos sobre o trabalho sacerdotal, a atenção aos romeiros e avida de fé. Está próxima o que pode ser a reconciliação entre ele a Igreja. Mais que isso, há perspectiva de ele ser reconhecido como um servo de Deus. É o passo anterior a se tornar venerável. Daí pode se tornar beato, até chegar ser canonizado - estes dois últimos postos dependentes de milagres atribuídos.


Nesta semana, desta quarta-feira (17) até sábado (20), está programada a romaria que marca as oito décadas e meia do falecimento do Padre Cícero. A agenda religiosa, com celebrações diárias, será fechada com a missa do dia 20 (tradicional a cada mês), na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. É lá que foram enterrados seus restos mortais.

Uma programação maior, que deverá durar de novembro deste ano a novembro do ano que vem, está sendo formatada pela Diocese do Crato, através de uma comissão organizadora, para marcar, em 2020, os 150 anos da ordenação de Cícero Romão Batista como padre. Ele foi seminarista em Fortaleza a partir de 1865 e se ordenou em 1870. Haverá um simpósio internacional para discutir a nova imagem de Padre Cícero, agora sendo analisada num processo de reabilitação conduzido pelo Vaticano.

Velório arrastou multidão

Cícero tinha 90 anos e quatro meses de idade quando morreu. Viveu intensamente, pode-se afirmar. A figura emblemática era o homem de batina e cajado, baixa estatura, pescoço curto e cabeça protuberante. Inofensivo na aparência, mas muito carismático e forte no posicionamento. Foi seminarista em Fortaleza e ordenado na Igreja Católica em 1870, mas afastado de sua atividade sacerdotal em 1892. Porque se envolvera na polêmica de um milagre não reconhecido pelos senhores bispos e cardeais, o da hóstia que virou sangue. O episódio incomodou do Alto Clero local aos graduados da Cúria Romana. Cícero teria omitido a informação aos seus superiores. O papa era Leão XIII. A diocese do Ceará era chefiada por dom Joaquim José Vieira. O Crato só teria diocese em 1917.

Clique na imagem


As ordens sacerdotais de Cícero foram suspensas, mas ele nunca foi excomungado - como se comentou por muitos anos entre fiéis e livros. Uma carta com esse teor mais severo, indicando de fato a excomunhão, chegou a ser remetida de Roma para o Ceará, nos anos 1920. Nessa época, o bispo do Crato era dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, então vigário à época do "milagre".

"Quando a carta chegou aqui, dom Quintino apresentou a correspondência ao Floro Bartolomeu (médico baiano, residente em Juazeiro desde 1908 e parceiro de padre Cícero na política), que era muito truculento. E ele disse que não sabia o que iria acontecer com a vida do Padre Cícero se a carta fosse mostrada. 'É capaz de ele morrer'. O bispo foi pedir ao Floro para que apresentasse a excomunhão. Mas (a ordem) era do tipo que se não fosse comunicada ela não existiria", descreve o professor e pesquisador Renato Casimiro, um dos principais estudiosos da vida do Padre Cícero. Não foi validada porque nunca foi apresentada.

Interditado, nunca se desfez do tratamento de padre - o título juntou-se a Cícero e tornou-se um nome composto. Cícero era ouvido e seguido por muita gente. Já bem antes de ser rezado e devotado como hoje. Foi o mediador ou personagem direto de conflitos e acordos políticos e querelas policiais, amigo de jagunços e do cangaceiro Lampião, próximo e bem relacionado com a aristocracia sertaneja mais poderosa ou chamado à ajuda em preces pelos fiéis mais miseráveis da região. Diziam que era explorador de fé, era acreditado como "enviado" pelos romeiros.

Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, cargo que ocupou por 15 anos seguidos. Também foi nomeado vice-presidente do Ceará e deputado federal. Por conta da saúde debilitada, não assumiu a vaga no legislativo federal com a morte de Floro Bartolomeu. Dividiu-se entre conceder suas bênçãos e uma agenda permanente com gente influente. A Igreja não concordava com ambas as atuações, mesmo ele proibido das funções eclesiais.


O fenômeno da hóstia.

Ao mesmo tempo, Padre Cícero foi protagonista da longa polêmica que viajou do Juazeiro do Norte até o Vaticano: o controvertido evento da Hóstia Consagrada que virou sangue na boca da beata Maria de Araújo. Tratado como milagre ou tachado como embuste, o Padim estava no epicentro do problema. A primeira vez do fenômeno se deu em 1º de março de 1889, durante uma missa celebrada por ele. O fato completou 130 anos.

Até a Semana Santa daquele ano, Renato Casimiro descreve que foram mais 103 vezes do mesmo evento, sem causa nem explicação palpáveis, sempre durante o momento da comunhão da missa. A jovem Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo tinha 28 anos à época. Era pobre, negra, analfabeta, costureira de profissão e, na saúde, sofria ataques de epilepsia. Na infância, teve meningite e passou por crises de espasmos. Sua vida era de jejum e orações. Vivia desde adolescente na casa do Padre Cícero.


“Depois disso (do episódio da hóstia), ela foi levada a ser reclusa na Casa de Caridade do Crato, afastada portanto de Juazeiro”, conta. Maria de Araújo nunca mais foi vista publicamente. Morreu com 52 anos, em janeiro de 1914. Seu túmulo foi violado 16 anos depois do enterro. Ela havia sido sepultada no cemitério da Capela do Socorro, mas um monsenhor local, Vicente Sóter de Alencar, ordenou a retirada dos restos mortais alegando que o lugar era sagrado e ela seria "impura". Nunca foram reencontrados. A Igreja falava mal de Maria. Para a diocese do Ceará, a omissão de Padre Cícero sobre aqueles fatos foi imperdoável.

Linha do tempo:

1

24 de março de 1844

Em, Crato, nasce Cícero Romão Batista
2
1854
Criação da Diocese do Crato
3
1856
Passa a frequentar a Escola do padre João Marrocos, seu primeiro professor de latim
4
1860
Estudante no regime de internato no colégio Padre Rolim, em Cajazeiras (PB)
5
1861
Dom Luís Antônio dos Santos é nomeado o primeiro bispo do Ceará
6
1862
Com a morte do pai, Joaquim Romão Batista, Cícero deixa os estudos na Paraíba e volta para ajudar a mãe e as irmãs
7
1865

Cícero (à direita) deixa o Crato e vai estudar em Fortaleza, no Seminário Diocesano. A foto é da época de seminarista

Cícero (à direita) deixa o Crato e vai estudar em Fortaleza, no Seminário Diocesano. A foto é da época de seminarista
8
1870
Em 30 de novembro, é ordenado padre e, no ano seguinte, retorna ao Crato
9
1871
No ano seguinte à ordenação, atuou na paróquia do Trairi por alguns meses. Foi para regularizar sacramentos (batismos, casamentos) a pedido do então bispo do Ceará, dom Luis Antônio dos Santos
10
1872
Após rezar a missa do Natal no arraial de Juazeiro, permanece em definitivo na localidade
11
1883
Dom Joaquim José Vieira assume como o segundo bispo do Ceará
12
1885
Na capela de Nossa Senhora das Dores, funda as Conferências Vicentinas
13
1887
Foi nomeado para a paróquia de Caririaçu em 21 de dezembro, até 1892, quando foi suspenso. Foi a única em que ele foi vigário. Permaneceu, porém, residindo em Juazeiro do Norte
14
1888
Funda o Apostolado da Oração
15
1º de março de 1889
Durante comunhão na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia transforma-se em sangue na boca da beata Maria de Araújo. O dito milagre se repete 104 vezes nas celebrações da Semana Santa, em Juazeiro
16
1891
É instalada a primeira comissão para averiguar o "milagre da hóstia"
17
1892
A segunda comissão é instalada em abril e, em agosto, o Padre Cícero é suspenso de pregações, confissões e impedido de orientar os fiéis
18
1893
Uma carta pastoral é emitida por Dom Joaquim, desacreditando os fatos de Juazeiro
19
1894
O Santo Ofício Romano julga que o milagre seria uma farsa
20
1896
Padre Cícero é proibido de celebrar missas
21
1897
Roma ordena que o padre Cícero deixe Juazeiro e ele vai para Pernambuco
22
1898
No início de janeiro, padre Cícero viaja a Roma para trabalhar pessoalmente sua defesa. Permanece lá até outubro. Volta se declarando absolvido, mas a punição continuou
23
1908
O médico baiano Floro Bartolomeu, seu principal aliado político, chega a Juazeiro
24
22 de julho de 1911
O médico baiano Floro Bartolomeu, seu principal aliado político, chega a Juazeiro
25
1912
Além da gestão municipal, Padre Cícero passa também a ocupar a vice-presidência do Ceará
26
1914
Ano da Sedição de Juazeiro
27
1916
Padre Cícero recupera, momentaneamente, o direito de celebrar missas
28
1921
Volta a ser suspenso pela Igreja
29
1926
Floro Bartolomeu morre e, em seu lugar, Padre Cícero é eleito deputado federal, mas não assume o cargo
30
18 de fevereiro de 1931
No O POVO, é publicada sua última entrevista, concedida aos jornalistas Paulo Sarasate e Alpheu Aboim
31
20 de julho de 1934

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LAMPIÃO E A ELITE


Do acervo do pesquisador do cangaço José João Souza

A historigrafia do cangaço mostra que Lampião percebia o campo político ao seu redor e como se posicionava diante do jogo do poder, seja em relação aos coronéis e aos chefes políticos locais, seja em relação a soldados e oficiais das forças volantes, diante dos sertanejos e da imprensa. 

É importante refletir sobre os valores da época, como: honra e valentia, prestígio e carisma, religiosidade e violência, etc. Muitos estudiosos do cangaço não acreditam que bandido seja parte da elite, ou que constitua uma elite diferente, mas, gradativamente, Lampião elevou o cangaço a uma forma distinta e poderosa de elite no vasto sertão nordesto.

Fonte: O CANGAÇO: poder e cultura política no tempo de Lampião
De: Marcos Edílson de Araújo Clemente.


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NOSSO PASSADO NO FUTURO

*Rangel Alves da Costa

O século passado já está muito distante. Outros séculos muito mais. Os anos 30 passaram, os 50 e os 70 também.
Olhando as velhas fotografias, logo uma percepção do quanto tudo era diferente. Roupas diferentes, penteados diferentes, comportamentos diferentes.
Mas nos amarelados retratos, porém, apenas a real expressão daqueles momentos. Nossos espantos surgem pelas diferenças.
Nossas surpresas aparecem quando comparamos o agora com aqueles idos. Alguém olha uma foto e pergunta: “Por que essas roupas são diferentes dessas que usamos agora?”.
Outro diz: “Que cabelo engraçado dessa mulher, parece peruca!”. Já outro arremete: “Tudo já acabou, tudo já morreu!”.
Contudo, o mais difícil é imaginar que daqui a cem, duzentos ou trezentos anos, aqueles que avistarem nossas fotografias de agora irão sentir as mesmas estranhezas.
No agora, no hoje, vivemos na lindeza, no modismo, no luxo, mas como as futuras gerações irão nos avistar?
Tudo será e estará muito diferente. O retrato de agora estará amarelado, os epitáfios dirão qualquer coisa sobre a vida passada.
O que somos agora, como vivemos agora, como vestimos agora, certamente servirão até como espanto ou chacota. Que jeito mais esquisito daquele povo do passado!


Os do futuro dirão: “Mas que povo mais estranho, mais esdrúxulo com essas roupas, esses penteados, esses jeitos de vida!”.
Não sei que roupas usarão no futuro, se andarão completamente nus ou vestindo apenas roupas mínimas. Não sei se haverá pudor ou qualquer restinho de vergonha.
Não sei se o sexo terá perdido totalmente o valor pela devassidão nem se a prática sexual se dará à luz do dia, nos bancos das praças ou nas calçadas, perante os olhos dos pais.
Não sei se o ser que fará parte desse mundo futuro poderá ser chamado de humano. Nada disso eu sei. Juro que nada sei.
Mas sei que o nosso tempo de agora, o nosso presente, já estará amarelado demais nas fotografias. Algumas nem serão relembradas.
E então, dependendo do grau da evolução, poderemos até ser chamados de recatados, conservadores e bem comportados.
Mas isso no futuro, perante as velhas e desgastadas fotografias, porque agora, agora mesmo, só Deus tendo misericórdia!

Escritor

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ALECRIM… – LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

Luís da Câmara Cascudo
Autor – Luís da Câmara Cascudo
Publicado originalmente – A República, Sábado, 10 de outubro de 1942
“O bairro do Alecrim, com todos os elementos sociais que caracterizam uma Cidade, já se espalha e derrama sua população em quilômetros e quilômetros, num avanço tentacular e dominador.
Há quem viva seis meses sem vir ao Natal porque o Alecrim é bastante para a ressonância de interesses comerciais e domésticos.
Como teria começado esse Alecrim?
Rua Amaro Barreto.
Não conta ainda cem anos de existência. Em abril de 1856, quando o Cemitério foi inaugurado, o Presidente Antonio Bernardo de Passos informava ter adquirido um carro fúnebre em razão da “grande distância entre o Cemitério e esta Cidade”.
O Alecrim ficava no fim do Mundo…
Em outubro de 1871, o Presidente Delfino informava que a única desvantagem da Fonte Pública (Bica), no Baldo, “era ficar no último ponto do bairro alto da Cidade”.
Foto postada no blog http://www.canindesoares.com
Em dezembro de 1878, o Vice-Presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro aludia ao Cemitério, “situado à grande distância da Cidade”.
Raríssimas pessoas residiam naquele descampado. Era terra de roçados de mandioca e milho, zona de caçada para os Morros. Umas quatro casinhas, de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas “capuabas”, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada.
Quando, a 7 de setembro de 1882, o Presidente Francisco de Gouveia Cunha Barreto pôs a primeira pedra para o “Lazareto da Piedade” (Asilo dos Alienados), o Alecrim era uma capoeira, entrecortada de tufos verdes de vegetação. Dizia-se que por ali passava a “estrada velha de Guararapes”. Nada mais.
Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92
Nos primeiros anos da República, o negro Manuel Lourenço possuiu o sítio mais distanciado, “Mangueira”, hoje Praça Gentil Ferreira.
Alguns cochicholos erguiam as humildes cumieiras na Av. José Bernardo e Praça Pedro II. No principio desta última residia uma velha que costumava enfeitar com raminhos de alecrim os caixões de “anjinhos” quando esses passavam caminho do Cemitério, carregados pelos meninos das escolas públicas. “A velha do Alecrim” deu origem ao apelido que se estendeu a todo bairro.
João Vicente Ferreira e Flora Lourival eram os únicos moradores, em casas distanciadíssimas, na primeira década republicana.
Igreja São Pedro e Praça Dom Pedro II no Alecrim – Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/
O ponto mais longínquo era “Mangueira”, de Manuel Lourenço (Praça Gentil Ferreira), onde depois Fausto Leiros plantou um roçado.
Seguia-se o “Alto da Bandeira”, tendo essa denominação porque o industrial Amaro Barreto, abrindo a estrada de Macaíba para Natal, ali fincou uma alta e grande bandeira para orientar os trabalhadores. Ficou o topônimo: – “Alto da Bandeira” no cruzamento da Rua Fonseca e Silva com a Av. Presidente Quaresma, num comoro.
Aí se levantava, assombrando os tardios transeuntes, a “Cruz do Amaro”, recordando o assassinato de Amaro Xavier do Nascimento, em 1894.
Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.
Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam.
Mesmo assim, de Natal até o Baldo (Praça Carlos Gomes), havia caminho limpo. Para cima era uma trilha serpeando no meio do mato.
Fonte – https://guiadeturismoblog.wordpress.com/2016/05/17/historia-do-bairro-do-alecrim/
Em 1912 a Escola de Aprendizes Marinheiros ficou no Refoles, articulando-se com os centros do Alecrim pela Rua Silvio Pelico. Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro.
Apesar desse progresso, ainda em 1910 caçavam veados e cotias na Av. Alexandrino de Alencar.
Atualmente, com suas praças iluminadas, auto-falantes, cinemas, jogos populares, elegâncias, confeitarias, cafés, bilhares, namoros, brigas, delegacia de polícia, farmácias, médicos, dentistas, comércio ativo e farto, Alecrim recebe, hospeda e fixa dois terços dos visitantes dos sertões seridoenses e do oeste, no amavio do seu conforto e nas possibilidades de sua atividade incessante.
Diariamente suas ruas transbordam para o sul e para oeste, crescendo, crescendo…
O Alecrim é de ontem. Em plena meninice mostra o que será na futura maturidade.”
Fonte: A República, Sábado, 10 de outubro de 1942.
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://blogdomendesemendes.blogspot.com