Morte do
cantor ganhou noticiário burocrático
Jackson,
celebrações à altura
Foto:
Divulgação
A morte de
Jackson do Pandeiro, em 10 de julho de 1982, foi noticiada com uma parcimônia
indiretamente proporcional à sua importância para a música brasileira. A
maioria delas, pequenas matérias burocráticas. Em algumas foi preciso
contextualizá-lo para leitores que não o conheciam, ou não se lembravam mais
dele. O Jornal do Brasil, por exemplo, enfatizou que o cantor tinha começado na
Rádio Jornal do Commercio do Recife, onde foi contemporâneo de Sivuca, que
estava então em bastante evidência.
Em O Globo, oito
dias depois do falecimento, o colunista Artur da Távola chamava atenção para o
descaso: “A televisão e o rádio brasileiros não homenagearam devidamente a vida
e a obra de Jackson do Pandeiro, que tantos programas lhes deu. Sua morte não
foi devidamente anotada, mas ainda é tempo e deixo aqui a minha sugestão”.
O
centenário de Jackson do Pandeiro, pelo contrário, chegou a surpreender pela
repercussão nacional que teve. O citado O Globo dedicou ao artista paraibano
generosos espaços, no impresso e no online (e também na TV). Na semana do
aniversário, no Sesc Santana, em São Paulo, Silvério Pessoa, Mariana Aydar,
Targino Gondim, Junio Barreto, Irene Atienza (cantora espanhola) e Nicolas
Krassik (violinista francês, que tocou na banda de Gilberto Gil), prestaram uma
homenagem ao Rei do Ritmo. O Sesc programou três apresentações com ingressos
esgotados.
Na mesma
noite, na capital paulista, Geraldo Azevedo, um dos responsáveis pelo
“redescobrimento” de Jackson nos anos 70, apresentou, no Casa Natura, show especial
para celebrar os cem anos do José Gomes Filho. Em Pernambuco,
estranhamente, a celebração foi tímida. As homenagens concentraram-se na
Paraíba, em Alagoa Grande, onde Jackson do Pandeiro nasceu, em Campina Grande,
onde cresceu, e em João Pessoa, onde trabalhou por pouco tempo.
A cidade natal
festeja o filho mais famoso com toda pompa. Um enorme pandeiro é o portal de
entrada do município, a 110 km da capital do estado. No Memorial Jackson do
Pandeiro, um ponto turístico da Paraíba, estão documentos, discos, matérias de
jornais e revista, objetos pessoais do artista. Ali está também um mausoléu com
seus restos mortais, trasladados para cidade em 2009. Algo que poderia servir
como lição para Pernambuco, que esnoba o Parque Aza Branca, onde repousa o DNA
do baião, abrigando os corpos de Luiz Gonzaga, Helena Gonzaga, Januário e
Santana, os pais de Gonzagão. E ainda a casa em que morou, com móveis e objetos
pessoais.
Uma
lição também é a forma como a Paraíba está cuidando da memória do artista: “As
escolas estão estudando Jackson do Pandeiro, desde o início do ano letivo, em
634 escolas, e cerca de 300 mil alunos. Para mim esta é a atividade mais
importante, porque além de mostrar um artista da terra, com a qualidade de
Jackson, com a alegria do repertório dele, a meninada e a juventude está tendo
a oportunidade ter acesso a um repertório que pode ser a base uma inspiração
para os tempos que virão. Com uma ação destas não dá para esquecer Jackson por
um bom tempo”, diz Fernando Moura, co-autor, com Antonio Vicente, da mais
completa biografia do cantor, Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo (Editora
34).
Moura
coordenou as ações do governo do estado da Paraíba para homenagear Jackson do
Pandeiro, que se estenderam além dos eventos oficiais: “O centenário estimulou
o surgimento de muitos cordéis, muitos mesmo. A gente está fazendo este
mapeamento. Toda semana surgem um, dois, três. São muito mais de 50, com
certeza, estou fazendo um levantamento”, informa Fernando Moura. Ele também fez
um cordel, com o pseudônimo de Filomeno Mourão, em parceria Rangel Júnior,
reitor da UEPB.
DISCOS
Dispersa
por várias etiquetas, a discografia de Jackson do Pandeiro teve uma maciça
caixa, com 15 discos, lançada pela Universal em 2018, e às vésperas do
centenário mais um pacote de LPs e compactos com selo da Sony Music, com
curadoria do pesquisador Rodrigo Faour. Os relançamentos tiram do limbo uma
raridade, primeiro compacto de Jackson do Pandeiro, Nortista Quatrocentão, de
1958, quando o formato ainda era novidade na indústria fonográfica brasileira,
e convivia com o 78rpm. Um 78, de 1959, está neste pacote com um samba de
sucesso, Lágrima. Os LPs são de uma fase em que o sucesso minguou para Jackson
do Pandeiro, nadando contra a corrente com o auge da Jovem Guarda, a música de
festival, e modismos circunstanciais feito a pilantragem: Jackson do Pandeiro é
Sucesso (1967), O Dono do Forró (1971), Sina de Cigarra (1972) e Tem mulher tô
lá (1973).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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