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domingo, 8 de setembro de 2019

JACKSON MAIS CELEBRADO DO QUE SE ESPERAVA



Morte do cantor ganhou noticiário burocrático
Jackson, celebrações à altura
Foto: Divulgação


A morte de Jackson do Pandeiro, em 10 de julho de 1982, foi noticiada com uma parcimônia indiretamente proporcional à sua importância para a música brasileira. A maioria delas, pequenas matérias burocráticas. Em algumas foi preciso contextualizá-lo para leitores que não o conheciam, ou não se lembravam mais dele. O Jornal do Brasil, por exemplo, enfatizou que o cantor tinha começado na Rádio Jornal do Commercio do Recife, onde foi contemporâneo de Sivuca, que estava então em bastante evidência.

Em O Globo, oito dias depois do falecimento, o colunista Artur da Távola chamava atenção para o descaso: “A televisão e o rádio brasileiros não homenagearam devidamente a vida e a obra de Jackson do Pandeiro, que tantos programas lhes deu. Sua morte não foi devidamente anotada, mas ainda é tempo e deixo aqui a minha sugestão”.

 O centenário de Jackson do Pandeiro, pelo contrário, chegou a surpreender pela repercussão nacional que teve. O citado O Globo dedicou ao artista paraibano generosos espaços, no impresso e no online (e também na TV). Na semana do aniversário, no Sesc Santana, em São Paulo, Silvério Pessoa, Mariana Aydar, Targino Gondim, Junio Barreto, Irene Atienza (cantora espanhola) e Nicolas Krassik (violinista francês, que tocou na banda de Gilberto Gil), prestaram uma homenagem ao Rei do Ritmo. O Sesc programou três apresentações com ingressos esgotados.

 Na mesma noite, na capital paulista, Geraldo Azevedo, um dos responsáveis pelo “redescobrimento” de Jackson nos anos 70, apresentou, no Casa Natura, show especial para celebrar os cem anos do José Gomes Filho. Em Pernambuco, estranhamente,  a celebração foi tímida. As homenagens concentraram-se na Paraíba, em Alagoa Grande, onde Jackson do Pandeiro nasceu, em Campina Grande, onde cresceu, e em João Pessoa, onde trabalhou por pouco tempo.

A cidade natal festeja o filho mais famoso com toda pompa. Um enorme pandeiro é o portal de entrada do município, a 110 km da capital do estado. No Memorial Jackson do Pandeiro, um ponto turístico da Paraíba, estão documentos, discos, matérias de jornais e revista, objetos pessoais do artista. Ali está também um mausoléu com seus restos mortais, trasladados para cidade em 2009. Algo que poderia servir como lição para Pernambuco, que esnoba o Parque Aza Branca, onde repousa o DNA do baião, abrigando os corpos de Luiz Gonzaga, Helena Gonzaga, Januário e Santana, os pais de Gonzagão. E ainda a casa em que morou, com móveis e objetos pessoais.

 Uma lição também é a forma como a Paraíba está cuidando da memória do artista: “As escolas estão estudando Jackson do Pandeiro, desde o início do ano letivo, em 634 escolas, e cerca de 300 mil alunos. Para mim esta é a atividade mais importante, porque além de mostrar um artista da terra, com a qualidade de Jackson, com a alegria do repertório dele, a meninada e a juventude está tendo a oportunidade ter acesso a um repertório que pode ser a base uma inspiração para os tempos que virão. Com uma ação destas não dá para esquecer Jackson por um bom tempo”, diz Fernando Moura, co-autor, com Antonio Vicente, da mais completa biografia do cantor, Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo (Editora 34).

Moura coordenou as ações do governo do estado da Paraíba para homenagear Jackson do Pandeiro, que se estenderam além dos eventos oficiais: “O centenário estimulou o surgimento de muitos cordéis, muitos mesmo. A gente está fazendo este mapeamento. Toda semana surgem um, dois, três. São muito mais de 50, com certeza, estou fazendo um levantamento”, informa Fernando Moura. Ele também fez um cordel, com o pseudônimo de Filomeno Mourão, em parceria Rangel Júnior, reitor da UEPB.

DISCOS

Dispersa por várias etiquetas, a discografia de Jackson do Pandeiro teve uma maciça caixa, com 15 discos, lançada pela Universal em 2018, e às vésperas do centenário mais um pacote de LPs e compactos com selo da Sony Music, com curadoria do pesquisador Rodrigo Faour. Os relançamentos tiram do limbo uma raridade, primeiro compacto de Jackson do Pandeiro, Nortista Quatrocentão, de 1958, quando o formato ainda era novidade na indústria fonográfica brasileira, e convivia com o 78rpm. Um 78, de 1959, está neste pacote com um samba de sucesso, Lágrima. Os LPs são de uma fase em que o sucesso minguou para Jackson do Pandeiro, nadando contra a corrente com o auge da Jovem Guarda, a música de festival, e modismos circunstanciais feito a pilantragem: Jackson do Pandeiro é Sucesso (1967), O Dono do Forró (1971), Sina de Cigarra (1972) e Tem mulher tô lá (1973).


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