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quinta-feira, 9 de junho de 2022

O FOGO DO SÍTIO TATAÍRA - A FEROZ RESISTÊNCIA DO CANGACEIRO MEIA-NOITE I.

 Por Cangaçologia

https://www.youtube.com/watch?v=os2NaqgHQGU&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Nesse documentário vocês conhecerão a casa do Sítio Tataíra (São José de Princesa - Paraíba) e todo o seu interior. Foi nesse local que o cangaceiro Meia-Noite I se viu cercado por dezenas de policiais e civis em armas e após uma intensa troca de tiros, milagrosamente, conseguiu escapar do cerco. Com exclusividade mostraremos todo o interior da casa onde Meia-Noite I e sua companheira permaneceram por aproximadamente cinco horas encurralados e sob forte tiroteio policial. Meia-Noite I entrou para a história do cangaço como sendo um dos cangaceiros mais corajosos e valentes e prova disso é o Fogo da Tataíra, cuja história vocês conhecerão ao assistir esse vídeo. Assistam e ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações. forte abraço... Cabroeira! Atenciosamente: Geraldo Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.

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" FOGO DA FAVELA " LAMPIÃO MASSACRA A VOLANTE

 Por Cangaço Eterno

https://www.youtube.com/watch?v=-dDtLhgdT0Y&ab_channel=Canga%C3%A7oEterno

Neste vídeo uso como base o livro " Lampião " Memórias de um soldado de volante de João Gomes de Lira ( Volume ll ). E neste apresento o terrível combate do fogo da Fazenda Favela onde Manoel Neto, Zé Saturnino e a volante enfrentaram o Lampião e seu temido bando.

Nesse dia o mundo se acabou em tiros e a força volante acabou levando a pior.

O combate da Favela ficou marcado pelas atrocidades cometidas pelos cangaceiros com os volantes que tombaram feridos na luta.

Para assistir basta clicar no link abaixo.

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FOGO DA ABÓBORA - 90 ANOS - POLICIAIS MORTOS EM COMBATE A LAMPIÃO E SEU BANDO SÃO HOMENAGEADOS PELA PM

 A Policia Militar do Estado da Bahia, através do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP, do 3º Batalhão de Ensino Instrução e Capacitação de Juazeiro, realizaram na manhã desta sexta feira (15/11), feriado da Proclamação da República, no distrito de Abóbora, zona rural de Juazeiro, um evento em homenagem aos 90 anos da morte de dois policiais militares componentes de uma volante que travaram uma troca de tiros naquele distrito no dia 7 de janeiro de 1929, no combate um cangaceiro do bando de Lampião também morreu.


O evento que iniciou pontualmente as 9h, com a entoação da canção Força Invicta - Hino Oficial da PMBA, executada pela Banda de Música Maestro Wanderley da PM Juazeiro, em seguida o historiador e Major da PM Raimundo José Rocha Marins, realizou uma explanação do episodio ocorrido no distrito, contou ao público presente que na data acima citada, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo "Lampião", Maria Bonita, outras mulheres de cangaceiros e seu grupo, em fuga do estado de Pernambuco, chegou a Bahia, faminto, cansado, porém com muito dinheiro na mochila, invadiram o distrito de Abóbora.

O embate ocorreu quando a volante chegou e os cangaceiros dançavam em uma casa, num forró, a causa do forró, na verdade, era alheia ao bando, eles participavam da festa em beneficio da construção de um Galpão na Praça da feira, quando chegou a "Força Volante de Juazeiro" e começou o tiroteio, ao cessar a troca de tiros morreram os soldados José Rodrigues e Manoel Nascimento e o cangaceiro Antonio Juvenal da Silva, vulgo "Mergulhão II".

O Mergulhão II, quando posou para Alcides Fraga, 
em 17/12/ 1928, em Ribeira do Pombal/BA.
Acervo Lampião Aceso

Dando continuidade ao evento a aluna a Soldado do CFAP, Fabrícia Souza conduziu uma coroa de flores em memoria aos dois policiais que deram seu sangue no "Combate de Abóbora", e entregou ao Comandante do 3º BEIC o Ten. Cel. José Carlos Soares Mariano e ao Diretor do CFAP o Cel. Carlos Alberto Neves da Silva, na sequência o corneteiro da Banda de Música Maestro Wanderley executou o toque de silêncio, posteriormente a turma de alunos a Soldado desfilaram na Rua principal do distrito. O evento foi finalizado com descerramento de uma placa na praça defronte a Igreja para materializar o ato em homenagem aos policiais mortos, e ao som da Banda da PM e fogos.

Na oportunidade o Diretor do CFAP o Coronel Carlos Alberto Neves da Silva falou a reportagem do Portal Jaguarari, sobre o evento, e aproveitou para abraçar a população de Jaguarari, bem como toda a região norte e destacando o papel do policial e que a população continue confiando nesta instituição.


"Estamos hoje aqui em Abóbora para rememorar, para homenagear os policiais que bravamente defenderam a sociedade e a paz social no combate ao banditismo de Lampião, então a Policia Militar com a justa homenagem através do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças o CFAP, está rendendo essa homenagem aos policiais, e também para que as novas gerações, os novos policiais  tenham a mesma noção e missão que é servir e proteger, e na nossa formatura o juramento é defender a sociedade com risco da própria vida e foi isso que eles fizeram a 90 anos, estamos aqui rememorando, todo esse evento, toda a passagem histórica de Lampião, então o Comandante Geral da Policia Militar o Coronel Anselmo Brandão e todos que compõe a nossa corporação temos a honra e a satisfação de estar aqui hoje em Abóbora para fazer essa justa homenagem aos policiais que tombaram no combate ao bando de Lampião.

Mando aqui um abraço a toda população de Jaguarari, eu que sou natural de Senhor do Bonfim, sou da região, e dizer que a população continue confiando na Policia Militar, que nos temos essa missão de servir e proteger a sociedade, então hoje estamos aqui homenageando esses policiais por isso, para que mostre também a comunidade, a população da importância da nossa Policia Militar, na defesa do cidadão, na defesa das leis e das instituições, então um abraço a todos os policiais que compõe o Comando Regional Norte, que Jaguarari também está inserido deixo aqui meu abraço, felicidades, e espero que esse evento continue que no próximo ano, que a prefeitura juntamente com a Policia Militar que retorne a Abóbora  para que se faça esta homenagem aos nossos guerreiros policias, abraço a todos e felicidades", disse o Coronel Neves do CFAP.


Segundo o vaqueiro Raimundo Bonfim de 87 anos, que relatou ao PJ, quando garoto contavam a ele sobre o "Combate de Abóbora". "Os policiais chegaram e Lampião e seu bando dançavam forró quando começou o tiroteio, e o cangaceiro Mergulhão mesmo ferido, todo baleado e ainda 'tava' com o pulso cortado e sangrando muito, continuou indo pra cima e atirando contra os policiais e acabou morrendo, o resto do bando fugiu e a população enterrou ele (Mergulhão) no meio do mato, e os policiais foram enterrados no antigo cemitério", disse.

Ainda segundo o Sr. Raimundo o distrito foi crescendo e removeram o cemitério do centro de Abóbora que hoje serve de posto policial e construíram outro a uns 2 km do distrito, e os corpos dos policias foram exumados e levados para um outro local desconhecido.

Assista ao vídeo com um compacto do evento produzido pelo Canal de João Carvalho



Fonte: Portal Jaguarari
Fotos: Jair Paulo, Werick Lima

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DOCUMENTÁRIO - LAMPIÃO CONTINUA ACESO

Por TV Justiça Oficial
https://www.youtube.com/watch?v=6RKH-KCTFRk&ab_channel=TVJusti%C3%A7aOficial

O Rei do Cangaço é o tema do Documentários desta semana. Virgulino Ferreira, trabalhador rural, deu lugar a Lampião, o cangaceiro que amedrontou o nordeste brasileiro por 16 anos.

O que levou a essa transformação? Como era a vida fora da lei na Caatinga? Os amores, os ódios, a morte. Esses sentimentos estão vivos 80 anos depois da emboscada que matou o bando cangaceiro. Lampião continua aceso.

Quer saber mais sobre o programa? Acesse:
http://bit.ly/2XkGvoe Documentário na TV canal 53.1 🕖 domingo, às 22h; segunda, às 22h30; quarta, às 18h e quinta, às 13h30. Gostou desse vídeo? - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ✍ Deixe o seu comentário Compartilhe com os amigos Siga a TV Justiça! SITE www.tvjustica.jus.br
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O ATAQUE DE LAMPIÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS À FAZENDA MORADA NOVA, EM PAU DOS FERROS, RIO GRANDE DO NORTE

 

Rostand Medeiros – Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

No ano de 2010 soube do desenvolvimento do “Projeto Território Sertão do Apodi – Nas Pegadas de Lampião”, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Norte – SEBRAE/RN, do qual a gestora era a competente consultora Kátia Lopes. Fui ao seu encontro soube que Kátia planejava criar um grupo para percorrer o mesmo caminho palmilhado por Lampião e seus cangaceiros, como parte de um amplo reconhecimento histórico. Ali estava uma oportunidade imperdível de conhecer esse caminho e o que restava de sua memória.

Foi realmente um momento muito especial e um trabalho maravilhoso. Depois de 2010 eu tive a oportunidade de percorrer esse caminho em mais outras quatro ocasiões. As duas primeiras oportunidades, em 2012 e 2014, foram com pessoas que me contrataram para conhecer trechos no Rio Grande do Norte, com foco nas áreas da Serra de Martins e de Mossoró. Já em 2015 estive percorrendo esse antigo caminho dos cangaceiros durante dezessete dias.

Desta vez partindo da cidade cearense de Aurora, adentrando depois em território paraibano, percorrendo na sequência todo trecho potiguar e encerrando na cidade cearense de Limoeiro do Norte. O objetivo da jornada de 2015 foi à realização da película Chapéu Estrelado, um documentário de longa metragem da Locomotiva Produções Cinematográficas, do Rio de Janeiro, sendo dirigido pelo mineiro Silvio Coutinho, com roteiro de Iaperi Araújo e produção de Valério Andrade e o autor desse texto, esses últimos potiguares. Apesar de filmado com esmero em sistema 4K, com interessantes depoimentos, esse documentário nunca esteve no circuito de festivais e, afora algumas exibições em rede nacional através da TV Brasil, ele foi pouco visto pelo grande público. A razão principal foi o falecimento precoce do diretor Sílvio Coutinho, ocorrido no ano de 2018, em decorrência de um ataque cardíaco fulminante, ocorrido no Rio de Janeiro.

Trajeto dos cangaceiros em 1927, em um mapa do Exército Brasileiro, em escada de 1:100.00, com as propriedades invadidas marcadas. Existe um erro no mapa, pois um dos locais atacados foi denominado como “Carícia”, quando o certo é “Caricé”.

A última oportunidade se deu em 2017, quando uma grande parte do trajeto com o artista plástico e fotógrafo Sérgio Azol. Potiguar de nascimento, mas radicado há muitos anos na capital paulista, Azol me chamou para percorremos esse caminho visando o desenvolvimento de uma exposição fotográfica a ser realizada em São Paulo. Ele clicou as paisagens, as vivendas e as pessoas de forma magistral. Aquela era a segunda oportunidade que percorria o sertão nordestino com Sérgio Azol, tendo tido oportunidade em 2016 de visitar importantes locais ligados a história do Cangaço na Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

Em 2020 essa jornada foi transformada em livro – 1927 – O Caminho de Lampião no Rio Grande do Norte. – Ver –  https://tokdehistoria.com.br/2020/08/26/autor-natalense-refaz-caminho-de-lampiao-pelo-rio-grande-do-norte/

Agora apresento um pouco do que vi!

Os Caminhos a Seguir

Essa memória se inicia em um sábado, dia 11 de junho de 1927, o segundo dia de Lampião e seus cangaceiros em solo potiguar.

Antiga casa do Sítio Cascavel, zona rural de Pilões – Foto – Rostand Medeiros

Em meio a um grande lajedo ao norte da atual cidade potiguar de Marcelino Vieira, os cangaceiros vão acordando e se preparando para seguir a sua jornada em direção a Mossoró. Após acordarem parte em direção aos Sítios Cascavel e São Bento, cujas terras em dias atuais são parte do município potiguar de Pilões. Depois atacam os Sítios Poço Verde, Poço de Pedra e a Fazenda Caricé, do prestigiado pecuarista Marcelino Vieira da Costa. Sobre o assalto ao Caricé vejam esse texto que escrevi, onde trago alguns detalhes do episódio – https://tokdehistoria.com.br/2019/02/10/marcos-de-religiosidade-no-caminho-de-lampiao-no-rio-grande-do-norte/  

Punhal de um cangaceiro deixado no Sítio Poço de Pedra, zona rural de Pilões-RN – Foto – Rostand Medeiros

A partir da velha Fazenda Caricé, mesmo a distância, já é possível visualizar o grande maciço rochoso que formam as Serras de Martins e de Portalegre, onde se encontram alguns dos pontos de maior altitude do Rio Grande do Norte, com locais que ultrapassam os 800 metros. Essas duas grandes elevações se interpunham diante daqueles viajantes que seguiam em direção a Mossoró vindos do extremo oeste da Paraíba. Para os cangaceiros continuarem em busca do seu alvo principal, vários caminhos se colocavam a disposição. O matreiro Lampião, certamente secundado por Massilon, o mais experiente de todos aqueles bandoleiros em relação aos caminhos potiguares, perceberam que teriam de optar por um desses caminhos.

O primeiro trajeto poderia ser: subir a Serra de Martins, passar pela cidade homônima e descer do outro lado da elevação. Bastava seguir pelo antigo caminho que ligava essa cidade até a Vila de Alexandria. Segundo as pessoas da região, partes do antigo trecho dessa estrada ainda existem, fazendo parte da atual rodovia estadual RN-075.

Aspecto dos caminhos dessa região – Foto – Rostand Medeiros.

O segundo caminho, caso o grupo desejasse seguir em direção a Mossoró sem passar pela cidade de Martins, poderia ser feito do seguinte modo: cavalgar até a extremidade oeste do grande maciço rochoso. Nesse caso, os cangaceiros fatalmente chegariam próximo de Pau dos Ferros. Então, depois de passar ao lado da serra, eles percorreriam a antiga estrada que seguia pela cidade de Apodi e, depois de vários quilômetros, chegariam a Mossoró.

Teoricamente, esses dois caminhos não trariam maiores problemas para um viajante comum. Entretanto, aquele estranho grupo de homens armados poderia ser classificado de tudo, menos de “viajantes comuns”.

Desde a saída do bando no Ceará, os celerados deixaram de lado a discrição, passando para a prática aberta de toda sorte de delitos, chamando a atenção das autoridades potiguares. Inclusive, essas autoridades já tinham entrado em contato e combatido o grupo na Caiçara. Mesmo com a derrota da polícia estadual naquele entrevero, Lampião sabia que a qualquer momento as forças do governo potiguar poderiam dar o devido revide. Se decidissem subir a serra, poderiam facilmente esbarrar em um piquete de homens armados, já previamente alertados. Como o bando tinha poucos recursos humanos e bélicos para realizar combates contínuos, esse possível confronto poderia infringir sérios problemas aos cangaceiros na tentativa de galgar a grande serra.

Rostand Medeiros diante da capela da Fazenda Caricé, zona rural de Marcelino Vieira – RN em 2015 – Foto – Silvio Coutinho.

Se o bando seguisse próximo da cidade de Pau dos Ferros, a maior e a mais policiada da região, para depois trotarem em direção a Apodi (uma cidade invadida por Massilon apenas um mês antes), fatalmente homens armados poderiam estar aguardando o grupo em um desses locais, ou nos dois. Aí os resultados desses novos tiroteios poderiam ser extremamente negativos. Deve-se levar em consideração que, além da polícia potiguar, Lampião se preocupava igualmente com a polícia de outros estados no seu encalço, principalmente a paraibana.

Lampião na Fazenda Morada Nova

Havia outra alternativa: era possível contornar o grande maciço através da extremidade mais a leste dessas elevações, passando por um caminho que os levariam para a Vila de Boa Esperança, atual município de Antônio Martins.

O grupo de bandoleiros então se afastaria de áreas onde presumivelmente haveria mais atividade policial, poderiam então alcançar zonas teoricamente mais desprotegidas e possivelmente ainda não alertadas da presença deles na região. Esse caminho se mostrava mais promissor!

Casa da Fazenda Morada Nova, zona rural de Pau dos Ferros – RN – Foto – Rostand Medeiros.

Contudo, aparentemente, essa decisão não deve ter ocorrido antes ou durante a passagem pela Fazenda Caricé, pois, logo depois da saída da propriedade do fazendeiro Marcelino Vieira, os cangaceiros seguiram primeiramente na direção sudoeste, apontando para a cidade de Pau dos Ferros. Após rápida cavalgada, surgiu o próximo alvo daquela jornada insana – A Fazenda Morada Nova.

Quando visitei essa propriedade pela primeira vez em 2010, ali encontrei a senhora Firmina Aquino de Oliveira, então com 95 anos de idade, e sua nora Maria Ivaneide de Aquino. Ivaneide era neta de Antônio Januário de Aquino, antigo dono do lugar, que teve a difícil missão de receber Lampião em 11 de junho de 1927.

Lampião

Elas me informaram que não tinham conhecimento se o parente já falecido possuía laços de amizade, ou de inimizade, com o cangaceiro Massilon. Igualmente não souberam comentar se a chegada do bando se deu a uma indicação desse celerado, ou se a casa dos seus antepassados foi atacada simplesmente por ter sido um alvo que surgiu à frente do grupo.

Entretanto, essas senhoras relataram que antes do bando chegar à casa de Aquino, que não mais existia em 2010, eles arrombaram uma residência onde vivia um trabalhador da propriedade, que juntamente com sua família fugiu para o mato. Logo os bandidos pararam diante da casa grande da Fazenda Morada Nova.

Além do proprietário, na casa estavam sua mulher Raimunda Nonato de Aquino, seu filho Cosme e suas três belas e jovens filhas, Raimunda, Arcanja e Maria. Segundo Sérgio Augusto de Souza Dantas (Lampião no Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada, 1ª edição, págs. 119 e 120), foi exigido alimentos e dinheiro ao dono da Fazenda. Antônio Aquino era um produtor próspero, sendo apontado inclusive como dono de um engenho de açúcar e aguardente.

Diante da beleza das moças, alguns cangaceiros logo se mostraram interessados nas meninas. Sérgio Dantas relatou que Aquino pediu proteção a Lampião, que prontamente refreou os ânimos da cabroeira e o próprio chefe chegou a pedir desculpas ao pai das jovens pela falta cometida pelos seus homens. Após varejarem toda a casa e retirarem o que os interessava, a malta de bandidos seguiu viagem.

A Foto

As senhoras Firmina e Maria Ivaneide comentaram que a passagem do bando causou extrema comoção entre os membros da família Aquino. Todavia, Antônio Januário se sentiu até mesmo com “sorte”, pois, apesar de ter havido perda material com o saque praticado, o fato das suas filhas não haverem sofrido qualquer tipo de violência, principalmente sexual, foi considerado um resultado extremamente fortuito diante da extrema gravidade do problema.

No dia 11 de novembro de 1928, um domingo, quase um ano e meio depois da passagem dos cangaceiros, Antônio Januário reuniu sua família em um estúdio fotográfico de Pau dos Ferros para a realização de um interessante instantâneo. Essa fotografia, que trago com exclusividade e conseguida a partir do material original, possui no verso a seguinte frase “Uma pequena lembrança que ficará para sempre”.

Bando de Lampião, após o ataque a cidade de Mossoró em 1927.

Nela é possível ver Antônio e sua esposa Raimunda sentados em um pequeno sofá de madeira e vime, em uma posse de tranquilo comando de suas vidas e de sua prole familiar, que se encontravam todos presentes. De pé, logo atrás do móvel é possível ver Cosme, tendo a sua direita suas irmãs Maria e Arcanja e ao seu lado esquerdo Raimunda. Essa última e Arcanja trazem dois objetos que escaparam das mãos dos cangaceiros – são dois belos crucifixos com corrente e pedras.

Depois de observar milhares de fotos antigas, ao longo de vários anos de pesquisas, posso comentar que, a exceção de Dona Firmina, todos os outros participantes do instantâneo se vestem com roupas modernas para os padrões sertanejos do interior potiguar da década de 1920. Inclusive suas filhas, onde é possível ver Maria e Arcanja utilizando saias acima do joelho, apesar de estarem com meias. Antônio e Cosme igualmente seguem um padrão de vestimenta masculina bem moderna para a época. Ao olhar detidamente essa foto, vejo o registro de uma família que aparentemente superou o susto causado pelo bando de Lampião.

Violeiros Cantam a História do Assalto

A senhora Ivaneide me comentou em 2010 que nessa propriedade era comum a apresentação de cantadores de viola afamados da região e até de outros estados. Mesmo com o crescimento das bandas de forró eletrônicas, da televisão e outros meios de entretenimento, na época essas cantorias de viola possuíam público cativo na comunidade.

Casa da Fazenda Morada Nova em 2010. Reparem os bancos feitos de troncos de carnaúba, utilizados para a comunidade assistir duelo de cantadores de viola. Ao fundo o maçiço da Serra de Martins – Foto – Rostand Medeiros.

Ela narrou que era praxe as pessoas do lugar transmitirem para os violeiros visitantes os acontecimentos testemunhados pela família Aquino em 1927 e o que eles sabiam do ataque do grupo de cangaceiros a Mossoró. Com isso, solicitava-se que esses artistas transformassem as histórias ouvidas em uma cantoria tipicamente nordestina.

Já as estradas existentes entre as propriedades Caricé e a Fazenda Morada Nova foram sem nenhuma dúvida o pior trecho percorrido para a realização deste trabalho. As maiores dificuldades se encontravam na já rotineira falta de sinalização, mas principalmente no péssimo estado de conservação desses caminhos.

A Fazenda Morada Nova está localizada em um ponto extremamente afastado de áreas urbanas. A cidade de Pau dos Ferros fica a cerca de 24 quilômetros de distância, já a zona urbana de Pilões se encontra a 16 quilômetros e a cidade de Antônio Martins a 19. Entretanto, o melhor acesso utilizado é a partir de Antônio Martins, onde o motorista percorre oito quilômetros de asfalto da rodovia federal BR-226 e depois segue por mais 11 quilômetros de estradas vicinais. Contudo, nesse caso, existe a imprescindível necessidade de contar com a ajuda de uma pessoa da região que conheça o trajeto. Nesse caso eu contei com o apoio do amigo Chagas Cristóvão, da cidade de Antônio Martins.

Junto a Chagas Cristóvão, da cidade de Antônio Martins, na Fazenda Morada Nova.

Atualmente, Pau dos Ferros é a principal cidade da Região do Alto Oeste Potiguar, com uma população acima de 30.000 habitantes, estando a 389 quilômetros de distância de Natal, ocupando uma área de aproximadamente 260 km² e possuindo uma história bem antiga.

Acredita-se que a toponímia Pau dos Ferros foi criada a partir de uma determinada árvore. Essa árvore certamente devia ser um excelente local para repouso e com ótima sombra, onde vaqueiros viajantes, utilizando ferro em brasa, deixavam marcado no seu tronco as marcas do gado sob sua responsabilidade. Em uma época onde as fazendas não tinham arames farpados e o gado era criado solto, essa prática serviu para esses trabalhadores conhecerem as marcas de outras propriedades. Isso tornava mais fácil a identificação dos animais perdidos nos pastos e a realização de troca das reses encontradas. Não é difícil imaginar como essa árvore ficou bem conhecida na região. Logo ao seu redor se fixaram pessoas e isso deu início a uma pequena comunidade. Já sobre a questão da posse da terra, consta que no ano de 1733, por ocasião da morte do Coronel Antônio da Rocha Pita, foi doada a sesmaria de Pau dos Ferros a seus filhos e herdeiros. Um deles, Francisco Marçal, foi a pessoa que mobilizou os que ali viviam para erguer uma capela em 1738. Somente através da Resolução Provincial nº 344, de 4 de setembro de 1856, Pau dos Ferros tornou-se um município, sendo desmembrada da cidade serrana de Portalegre.

Foto – Rostand Medeiros.

Na trajetória do bando em direção a Mossoró, ao se aproximar dos contrafortes da Serra de Martins, o caminho percorrido por Lampião passou onde atualmente estão localizadas as áreas territoriais das cidades de Serrinha dos Pintos, Antônio Martins, Frutuoso Gomes, Lucrécia e Umarizal.

https://tokdehistoria.com.br/2021/09/12/o-ataque-de-lampiao-e-seu-bando-de-cangaceiros-a-fazenda-morada-nova-em-pau-dos-ferros-rio-grande-do-norte/?fbclid=IwAR0vKL_6WBeNbs4FJvvKWJdepa-xxhYR4nRLgjUXyYrJkV7hNei8zOtX2A8

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CORREIO BRASILIENSE (DF) – 12, 13 E 14 DE MAIO DE 1966 - UMA HISTÓRICA ENTREVISTA COM FERREIRA DE MELO

 Transcrição de Antonio Correia Sobrinho

54 anos, neste maio de 2020, da publicação, pelo jornal de Brasília, o Correio Brasiliense, da histórica entrevista do Coronel Francisco Ferreira de Melo, concedida ao jornalista Antônio Sapucaia. Francisco Ferreira de Melo que, como sabemos, foi um dos comandantes das forças militares alagoanas que cercaram e mataram Lampião, em 1938, e se não escreveu livro para dizer deste impressionante e inesquecível acontecimento, como o fez o seu comandante, o Coronel João Bezerra, neste seu depoimento aos Jornais Associados, Francisco Ferreira de Melo apresenta suas impressões e diz sobre a sua participação em Angicos.

Registro que o amigo José Vanderli Silva é o maior responsável por esta postagem, a quem aqui agradeço, visto que foi ele que me consultou sobre esta entrevista, que me levou a buscá-la nos periódicos. E como sempre faço com o que leio e acho interessante, sobre cangaço, trago para os grupos, devidamente digitalizado, para conhecimento e deleite da gente.
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LAMPIÃO EM VERSÃO DEFINITIVA
PUNHAL CRAVADO NO PEITO LEVOU COITEIRO A DENUNCIAR LAMPIÃO


Texto de Antônio Sapucaia

Novas controvérsias sobre a figura lendária e quixotesca de Virgulino Ferreira da Silva – Lampião – levaram dois repórteres associados a percorrer o interior de Alagoas na busca do homem que comandou o ataque decisivo na destruição do bando que durante mais de 20 anos levou a intranquilidade e o pânico a toda região nordestina. Antonio Sapucaia e José Ronaldo localizaram o tenente-coronel da Polícia Militar de Alagoas Francisco Ferreira de Melo, numa fazenda do município litorâneo de Coruripe.

 Assim era o aspirante Ferreira na época do massacre

Pela primeira vez, desde o fatídico 28 de julho de 1938, o coronel Ferreira fala com franqueza e conta tudo sobre o morticínio do bando terrível que matou e saqueou sem piedade em sete Estados da Federação.

Esta, e a história inédita que o coronel Ferreira reteve por 18 anos.
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Durante mais de dois decênios, os sertões nordestinos viveram sobressaltados pelas truculências de Virgulino Ferreira da Silva, o famigerado Lampião, ao lado de outros cangaceiros que lhe obedeciam severamente às ordens recebidas.

Decorridos quase 30 anos do desaparecimento do mais perverso bandido que o Brasil conheceu, vemo-lo transformado em motivo inspirador da nossa música popular, romances, filmes, painéis, enquanto seus familiares vêm travando uma longa batalha: levar ao cemitério a cabeça dele e de Maria Bonita, que se acham insepultas no Museu Estácio de Lima, na Bahia. Ao lado de tudo isto, vem de surgir um fato curioso, envolvendo a “ressurreição” do “Rei do Cangaço” um velhinho paraibano radicado em Fortaleza, que conviveu, conheceu muito bem e até combateu Lampião nas caatingas”, divulgou recentemente que o desalmado cangaceiro não havia morrido e que a existência de Maria Bonita não passava de um mito, porquanto a mesma nunca existira a não ser na imaginação de trovadores e romancistas de feira. Disse ainda que Lampião “está mais vivo do que nunca, negociando gado em Campina Grande e vivendo como um nababo”. Chega a desafiar a qualquer “doutor” a provar o contrário.

Tais afirmações, bem como alguns pontos obscuros e controversos, que existem em torno do “Capitão” Lampião, levaram-nos a uma figura das mais autorizadas sobre o assunto, de vez que assistiu de perto o seu extermínio, lutando e comandando. Trata-se do tenente-coronel reformado, Francisco Ferreira de Melo, aspirante de então que comandara uma das volantes e que, em atenção ao tenente João Bezerra, seu compadre e amigo, e já na pista de Lampião, chegara a orientar o movimento das tropas que cercariam o cangaceiro e seus asseclas. Além disto, foi a sua tripa que primeiro se defrontou com os bandidos, abrindo fogo e os destruindo, na maioria.

A PALAVRA DO CORONEL

Fomos localizá-lo no Poxim, povoado pertencente ao município de Coruripe, estado de Alagoas, onde vive inteiramente voltado para o coqueiral que se estende ao longo dos fundos da sua residência, uma espécie de casa-grande. Durante aproximadamente 13 anos, em pleno vigor da sua mocidade, perseguiu Lampião, tornando-se um dos militares de grande confiança, o que é confirmado pelo fato de ter sido escolhido para comandar uma das volantes, as quais eram subordinas ao comando geral sob a responsabilidade do então coronel Lucena, um homem de fibra, bastante enérgico e vocacionado para a missão.

Homem de 61 anos, em cuja voz e traços fisionômicos percebem-se as pinceladas da velhice, o coronel Ferreira não se faz de rogado. Começa dizendo que retroceder a esse período da nossa história é nos deparar com uma série de atrocidades, lutas, fome, miséria, toda espécie de sofrimento. Fala com entusiasmo, gesticula e procura ser o mais fiel possível.

- “Para muita gente, que se mantinha distante dos acontecimentos, Lampião agia exclusivamente ao lado dos seus cabras, constituindo, todos, apenas um grupo. É puro engano dos que assim pensam. Do mesmo modo que a Polícia tinha as suas volantes, agindo em pontos diferentes, Lampião comandava também vários grupos, que se dispersavam pelas caatingas nordestinas, cometendo as piores misérias. Eu mesmo – prossegue o Coronel – cheguei a travar alguns combates com vários desses malfeitores, sem nunca ter me defrontado com o grupo em que se encontrava o perverso bandido. Com ele, travei apenas um combate – o primeiro e único – que foi o de Angicos, e que culminou com a sua morte.

O certo é que todos eram de uma perversidade extrema e, por onde quer que passassem, deixavam o rastro da sua periculosidade. Só mesmo com disposição, sangue frio e muito espírito de luta é que se poderia enfrentar e dar fim aqueles infelizes malfeitores.

 
 Aspirante Ferreira observa carro queimado por Corisco em 1938

HOMENS SELECIONADOS

- “Os nossos homens eram todos selecionados, escolhidos a dedo, e aquele que demonstrava sinal de fraqueza, não poderia figurar ao nosso lado. Muitos deles, bravos e destemidos, ainda estão por aí, relembrando os dias negros que vivemos, para vermos terminado um verdadeiro período de calamidade, que colocava em pânico todo o Nordeste. Afastados dos nossos lares – continua o Coronel – passamos muitas noites de olhos abertos, em meio à caatinga brava, e era comum passarmos muitos dias de estômago vazio. Se por vezes tínhamos as criações, bodes, carneiros, etc., às vezes nada tínhamos, a não ser a fome que nos deixava assustados.

Incrível que pareça, eu mesmo, certa vez, cheguei a comer pedrinhas, cuidadosamente catadas, tamanha era a fome que de mim se apoderava.

Em 1938, o aspirante Ferreira de Melo tinha o comando da sua tropa sediada em Pedra de Delmiro, a do tenente Bezerra em Piranhas e a do cabo Aniceto, em Mata Grande, enquanto o comando-geral situava-se em Santana do Ipanema.

No dia 27 de julho de 1938, uma quarta-feira, as tropas do aspirante Ferreira e do tenente Bezerra encontravam-se em Pedra de Delmiro, juntas, ocasião em que os seus comandantes traçavam planos para uma batida que julgavam de importância vital para o extermínio ou captura do adversário. Enquanto o tenente Bezerra deixara Piranhas para encontrar-se com o aspirantes Ferreira, na Vila de Pedra, o cabo Aniceto, deixava Mata Grande, sob a alegação de que teria faltado mantimentos que garantissem a permanência do seu pessoal ali, e demandara Piranhas, onde morava sua noiva, por sinal, filha do prefeito daquele Município.

Foi justamente nessa ocasião que, inesperadamente, segundo narra o coronel Ferreira, chegara a Piranhas um caboclo, meio assustado e tímido à procura do tenente Bezerra, manifestando o desejo de com ele se avistar. Interrogado sobre o que desejava, relutou em responder, posto que o sertanejo comumente é desconfiado. Depois de muita insistência, resolveu confessar então que, horas atrás, vira um grupo de cangaceiros em Entremontes, distante dali umas duas léguas.

Detalhadamente, dissera que, no momento em que tangia alguns bodes, observou que alguns bandidos se encontravam em um roçado, quebrando milho e roubando melancias. Reconheceu que pertenciam ao grupo de Lampião. Diante do que vira, estava desejando falar com o tenente Bezerra, a fim de que o oficial rumasse para aquele povoado. Inteirado do fato, sem perder tempo o cabo Aniceto não teve outro caminho, senão telegrafar ao Tenente Bezerra: “Venha urgente boi curral”.

Tão logo a mensagem chegou ao poder do seu destinatário, este acusara o recebimento do telegrama, ao mesmo tempo em que solicitava do seu subordinado que providenciasse uma condução, e os viesse apanhar, pois em Pedra não havia nenhuma condução motorizada naquele momento. Apesar disto, as duas tropas, de Bezerra e Ferreira, partiram com destino a Piranhas, a pé, porque não se poderia perder tempo. Afinal de contas, a condução poderia vir ou não!

Depois de enfrentarem, durante algumas horas, as terras comburidas e o solo causticante, encontraram um caminhão, procedente de Mata Grande, conduzindo alguns feirantes e suas mercadorias. O Tenente Bezerra determinou, assim, que fosse descarregado o caminhão, fizesse a volta e os conduzisse até Piranhas, o que foi feito incontinente, enquanto os passageiros ficaram aguardando o retorno da condução.

NO ENCALÇO DE LAMPIÃO

Em Piranhas, trataram de providenciar uma canoa, a fim de que, através do rio São Francisco, eles pudessem alcançar a localidade onde se encontravam os bandidos. Depois de grande esforço, resolveram ajoujar três canoas – diz o coronel –, única solução viável naquele momento, uma vez que, eram aproximadamente 45 homens e se tornava necessária a presença de todos. O percurso dessa arriscada viagem foi feito à noite, sob forte aguaceiro, tendo os policiais chegado em Entremontes, cerca das 22 horas.

- “Quando alcançamos aquele povoado, ficamos à margem do rio, tendo o tenente Bezerra, comandante das tropas, determinado que o cabo Bida fosse à casa de Pedro de Cândida, bem próximo dali, e o trouxesse preso. Pedro de Cândida – esclarece o coronel – era um dos inúmeros coiteiros de Lampião, vivendo exclusivamente às expensas deste e sempre afirmava que botaria a policial em cima de todos os grupos, menos no de Virgulino Ferreira. Retornando sem haver cumprido a missão, o cabo Bida informou que Pedro de Cândida havia dito que por obséquio, o tenente fosse falar com ele em sua própria casa.

O pior de tudo, é que não trouxe o homem. Ficamos tomados de grande revolta e o único pensamento que me veio à cabeça era de que o Pedro havia fugido e ninguém mais o encontraria. Mas, graças a Deus e à sua ousadia, que era demais, o homem não se arredara de casa e dois soldados foram buscá-lo, dessa vez com fortes recomendações. E o trouxeram, sem muito esforço. Diante do tenente Bezerra – continua o coronel – a despeito dos apertos que levou, o coiteiro-mor nada confessou, afirmando sempre não saber onde esse encontrava Lampião.

Persistindo no intento de arrancar a confissão verdadeira, fosse de que maneira fosse, uma vez que ninguém tinha mais dúvida de que ele poderia tudo esclarecer, o comandante das nossas tropas resolveu encaminhá-lo para mim, no sentido de que eu desse um “jeitinho” para desvendar o mistério em torno do paradeiro dos bandidos.

PEDRO DE CÂNDIDO CONFESSA

- “Chamei-o para um lugarzinho afastado, já tomado de forte cólera, e conclui que a única solução do assunto dependia de uma medida rigorosa que, de fato, pudesse assustar ao maldito coiteiro. Saquei de um punhal que conduzia e encostei ao peito esquerdo dele, e disse com voz firme: “você tem dois caminhos a seguir: ou confessa ou morre. Por duas vezes, encostei-lhe o punhal, furando-o sem grande profundidade. Na terceira vez, quando ele percebeu que eu estava realmente disposto a mandá-lo para o outro mundo, resolveu falar, insistindo para que eu não o matasse.

- “Eu vou contar tudo – disse Pedro de Cândido ao aspirante – mas vai morrer muita gente...”

- Cientifiquei o ocorrido ao compadre Bezerra e mandei que ele próprio ouvisse a confissão. Sem muita demora, foi logo dizendo que os cangaceiros de fato estiveram em Entremontes, porém já haviam atravessado o rio, estando em Sergipe, e que um seu irmão, que residia a margem do rio, no outro lado, sabia esclarecer detalhadamente sobre o paradeiro dos bandidos, principalmente porque, no dia anterior, havia levado um bode assado para o “capitão” Lampião e sua gente. Não é necessário dizer que custamos a acreditar naquela conversa. Mesmo assim, atravessamos o São Francisco, conduzindo entre nós Pedro da Cândida, ocasião em que nos dissera que, se porventura não fosse verdadeiro o que ele acaba de confessar, pudéssemos matá-lo. A partir daquele momento, criamos alma nova e ficamos na certeza de que estávamos nos calcanhares de Lampião. A chuva não cessava e era cada vez maior a nossa esperança de vermos terminada aquela jornada, que havia começado há vários anos, sem ninguém saber quando terminaria!

CORONEL CONFESSA: DEGOLA DOS BANDIDOS FOI LIDERADA POR MIM

Após a confissão de Pedro de Cândida, os “macacos” perceberam que estavam no começo do fim. Ouçamos o coronel Ferreira:

- “ Quando atravessamos o São Francisco, encostamos as canoas em um lajedo e rumamos para a casa do irmão de Pedro de Cândida, cujo nome não consegui gravar. Deixamos o coiteiro em poder de alguns soldados, e procuramos falar com seu irmão, sem dizermos que Pedro se encontrava conosco. Insistimos bastante e ele nada queria nos confessar, sempre negando, até que a nossa paciência se esgotou. Daí, procuramos fazer a acareação dele com o irmão, tendo este, tão logo se avistaram, pedido que confessasse tudo, pois já havia descoberto o que sabia e estava tudo perdido. Seria inútil qualquer tentativa em sentido contrário. Nada mais restava fazer. E o rapazote despejou tudo com facilidade, inclusive confirmou que no dia anterior havia levado um bode assado para Lampião. E acrescentou que ele havia dito que, se não partissem naquela tarde, partiriam no dia seguinte, cedinho.
O Coronel Ferreira respira fundo, esfrega as mãos e diz que a partir daquele instante estava iniciada uma verdadeira via crucis. Estávamos cansados, molhados como patos n’água, mas tínhamos uma missão a cumprir – confessou-nos calmamente.

- “As tropas foram divididas. Cada grupo seguiu o seu rumo e coube à minha volante conduzir Pedro de Cândida, que nos mostraria o local onde se achava o assassino. Andamos de quatro pés, de joelhos, rastejamos, e quanto mais nos aproximávamos, em meio à escuridão, falávamos aos cochichos, evitando, assim, que algum barulho viesse a denunciar a nossa presença. Vivemos momentos de intensa apreensão. Ficou convencionado que o tenente Bezerra, tão logo se aproximasse do esconderijo, daria o primeiro tiro, no que seria seguido por todos nós. O correu, no entanto, que a minha tropa tanto se aproximou dos miseráveis, ao ponto de vermos, a poucos metros da nossa frente, um cangaceiro de cócoras, apanhando água, com uma cabaça, ou cantil. Mais tarde, viemos a saber que se tratava de Zé Sereno.

Ouvimos o chocalho dos animais, fortes gargalhadas, e naquele momento, entre o clarear do dia e a penumbra da noite, o soldado Abdon, viu-se tão perto de um cangaceiro, conhecido por “Quinta Feira” que, sem a menor demora, deu-lhe um tiro. Estava iniciado o tiroteio. Um minuto de indecisão, e naturalmente teríamos levado chumbo. Iniciada a batalha, confesso que nunca vi quadro tão horroroso, principalmente pelos gritos horripilantes que os cangaceiros davam. Eram gritos horríveis, que assustariam a qualquer cristão, mesmo preparado para o difícil momento. O tiroteio durou uns 20 minutos, aproximadamente, em meio a uma fumaceira terrível, onde se misturavam a neblina da manhã com a fumaça vomitada pelas armas, enquanto espirrava cangaceiro por todos os lados. Quando já havíamos derrubado seus bandidos, já a tropa do tenente Bezerra se aproximava, dando prosseguimento ao tiroteio, derrubando os que iam aparecendo.

 Volante do Tenente Ferreira de Mello Chico Ferreira, 
quando retornavam de Angico, dias após a chacina

LAMPIÃO E MARIA BONITA BALEADOS

- “Cessado o fogo, fomos dar balanço das vítimas. Dos nossos companheiros, o soldado Adrião fora baleado mortalmente. Lampião recebera apenas uma bala, atingindo-o no lado esquerdo da região umbilical. Ainda agonizava, quando um dos nossos soldados aproximou-se dele, e, apontando o fuzil em direção da sua cabeça, ia puxando o gatilho, no que foi obstado por um outro soldado, Sebastião Vieira Sandes, conhecido por Santos, meu compadre e um dos mais corajosos milicianos que conheci. Mesmo assim, a bala que se destinaria diretamente à sua testa, ainda o atingiu, embora de raspão.

Ao seu lado, Maria Bonita, com o fato todo de fora, pronunciava palavras incompreensíveis, arrancadas com esforço de moribundo. Luís Pedro, lugar-tenente de Lampião, ainda correu, tendo sido baleado a umas 10 ou 15 braças do local, acompanhado de um seu afilhado, o bandido “Vilanova”. Atingido por balas mortais, insistia com Vilanova para que este o acabasse de matar e que, como lembrança, ficasse com o seu mosquetão. Não resistiu, e o afilhado ficou com o mosquetão e o chapéu de como lembrança. No local – conclui o Coronel Ferreira – além de dois animais que eles conduziam, encontramos duas máquinas de costuras, manuais, comida de várias espécies, principalmente carne de conserva, jornais, medalhas, anéis de todo tipo, além de um verdadeiro arsenal.

DEGOLA: INICIATIVA DO CORONEL

Como se sabe, as vítimas da chacina de Angicos, excluindo o soldado Adrião, perfizeram um total de onze: Lampião, Luís Pedro, Quinta Feira, Mergulhão, Elétrico, Caixa de Fósforo, Cajarana, Diferente, Maria Bonita e Enedina, além de outro cujo nome não conseguimos reter. Cessada a batalha, jaziam alguns cangaceiros, enquanto outros ainda agonizavam.

Tomado de ingente revolta, o aspirante Ferreira chegou a sangrar um dos bandidos, que, num gesto de represália involuntária, jogou-lhe algumas golfadas de sangue, em meio aos horríveis gritos que antecedem aos instantes finais da vida.

- “Qualquer homem de bem, por mais pacato que seja – justifica o coronel – faria o que eu fiz. Bastaria que conhecesse de perto, colocando diante dos olhos os quadros de misérias que as terras sertanejas estavam cansadas de nos expor tendo com responsáveis aqueles perversos e miseráveis bandidos. Certa vez, não pude me controlar e cheguei a chorar, quando cheguei a uma casa e vi toda família, inclusive alguns menores, todos amarrados e queimados, vítimas de Lampião e seus comandados. Em plena caatinga, era hábito encontrarmos esqueletos dependurados em árvores, iniciativa do terrível Virgulino Ferreira. Seria ocioso mencionar as suas perversidades, por demais conhecidas, embora não na sua totalidade.

MARIA ERA MESMO BONITA E O “REI DO CANGAÇO” NÃO MORREU DORMINDO

Dizíamos, no meio desta série de reportagem, que existiam muitos pontos obscuros e controversos sobre Lampião, sua gente, suas façanhas. Um deles, por exemplo, prende-se ao coiteiro-mor Pedro de Cândido, o homem que conduziu o Tenente Bezerra e os seus comandados até ao esconderijo em que se achava o perverso cangaceiro, de conluio com algumas dezenas de divorciados da lei.

Numa série de entrevistas concedias aos Associados, o ex-cangaceiro “Volta Seca”, atualmente Antônio dos Santos, pai de sete filhos, funcionário da Leopoldina, no Rio, dissera entre outras coisas que, após a degola dos cangaceiros, as tropas da polícia alagoana deram cabo de Pedro da Cândido.

- “Nada mais inverídico e falso – refuta o Coronel. Na realidade, quando o conduzíamos em demanda de Angicos, levando-o com certa cautela, eu havia autorizado a dois soldados que, tão logo fosse iniciado o tiroteio, acabasse com a vida dele. Entretanto, apesar de não ser lá nenhum bom coração, resolvi pensar de modo diferente, atendendo aos seus clamorosos apelos, sobretudo com referência à família, que ia ficar desamparada. Assim sendo, através de gestos, eu transmiti aos soldados que nada fizessem, deixassem-no ir embora. E assim foi feito. Não posso esclarecer como ele escapuliu e foi bater em casa, mas uma coisa posso afirmar: um mês depois da chacina, Pedro de Cândida ainda tirava espinhos do corpo, um tanto inchado, em consequência da carreira que dera, enfrentando os mandacarus, xique-xiques e todos os tipos de plantas bravas.

Para desfazer totalmente as informações de Volta Seca, o coronel diz que os governos de Bahia e Alagoas (o interventor de Alagoas era o Dr. Osman Loureiro), juntos, ofertaram cem mil cruzeiros, a serem distribuídos com os participantes da luta, tendo ele e o Tenente Bezerra recebido maiores parcelas, enquanto o restante recebeu quantias iguais, inclusive o próprio Pedro de Cândido. Diz, ainda, que o referido coiteiro ingressara na polícia alagoana, na qualidade de cabo, tendo ido destacar em Entremontes, local em que residia.

 O aspirante Ferreira de Melo e o soldado Noratinho 
mostram a Melchiades da Rocha o local onde Lampião foi decapitado.

ASSASSINADO ANOS DEPOIS

E o coronel revela:

- “Destacando em Entremontes, Pedro de Cândido, que era muito mulherengo, habitualmente deixava aquele distrito, conduzido em uma canoa por ele mesmo remada, em demanda de Piranhas. Naquela cidade, Pedro tinha as suas aventurazinhas amorosas. Nessa época, começou a aparecer um boato de que existia “bicho” naquelas redondezas, chegando a ser “visto” por muitas pessoas. Certa noite, quando um rapazinho de 15 a 16 anos transitava nas imediações do rio São Francisco, e tendo que passar por um caminho que se localizava bem a sua margem, inesperadamente deparou-se com um vulto, braços abertos, dando a ideia de que iria abraçá-lo. Já ciente do boato que circulava em Piranhas, ficou na certeza de que estava fielmente diante do lobisomem. Deste modo, talvez impulsionado pelo próprio medo, puxou do bolso uma “faquinha de cabo preto”, que conduzia, e a cravou no peito esquerdo do suposto fantasma, saindo a gritar dizendo que havia morto o “bicho”.

Com grande surpresa para os habitantes dali, verificaram, depois, que se tratava de Pedro de Cândido, trajando um capote escuro, na época distribuído pela polícia de Alagoas.

LAMPIÃO NÃO MORREU DORMINDO

Outra inverdade divulgada pelo ex-integrante do grupo de Lampião, refere-se à morte do seu ex-chefe, quando afirma que o “rei do cangaço” morreu dormindo, sem tempo para acordar. E acrescenta que “foi encontrado no chão, mas já caiu da rede morto e ensanguentado, com o corpo crivado de balas”.
- “Lampião, diz o coronel Ferreira, sem dúvida alguma foi tomado de surpresa e longe estava ele de acreditar que àquelas horas, naquele seu infeliz amanhecer de 28 de julho de 1938, nossas tropas estivessem, ali, ao seu redor. A bem da verdade, torna-se necessário esclarecer que o fato de termos o agarrado inesperadamente, ajudou-nos bastante, visto que, bastaria uma simples falha nossa, ou até mesmo uma simples indecisão ao abrir fogo, e talvez poucos soldados das nossas volantes viessem a descrever aqueles instante de ferocidade e agonia. Apesar de o termos cercado de surpresa, afirmo categoricamente que Lampião não morreu dormindo, nem foi crivado por várias balas.

Todos os cangaceiros já se encontravam de pé, naturalmente se aprontando para a partida, pois o dia já estava amanhecendo e Lampião, conforme é sabido por todos, não era homem de dormir até tarde, principalmente com os seus subordinados acordados. Isto não passa de conversa mole, que não tem nenhuma razão de ser. Lampião já estava de pé e recebeu apenas uma bala, conforme eu já disse, empunhada pelo cabo Honorato, conhecido por Honoratinho. Todavia, ninguém poderia precisar, em meio ao fumaceiro, às apreensões e a balbúrdia do momento, que esse ou aquele policial tivesse atingido ao nosso terrível adversário. O verdadeiro, no duro, é que foi a minha tropa que exterminou Lampião. Esta é que é a verdade – diz energicamente o Coronel Ferreira.

 

ANTÔNIO FERREIRA É UM PSICOPATA

A entrevista está no fim. “Seu Antônio Ferreira, declarou que Lampião não havia morrido e que Maria nunca existiu, de vez que ele participava também do bando e nunca viu mulher ou mulheres entre eles.

Lemos para o Coronel as ousadas declarações do velhinho paraibano, ouvidas sobre forte gargalhada.

- “Só mesmo um psicopata, poderia fazer tão imbecil afirmativa, sem pé nem cabeça, decerto procurando um início de levar o nome às páginas dos jornais. Se Lampião não morreu, como é que os membros da sua família vêm lutando para sepultar a cabeça dele e de Maria Bonita? Se Lampião não morreu, como é que os próprios sequazes seus, que lado a lado viviam com ele, constantemente se referem ao seu desaparecimento, muito embora nem sempre historiando a verdade dos fatos? Existira prova mais fiel do que a existência da sua cabeça, já mumificada, no museu Estácio de Lima, na Bahia?

- “Não consigo entender como é que uma pessoa afirma que não existiam mulheres no bando de Lampião. Eu mesmo fiquei com algumas fotografias, pertencentes ao desgraçado cangaceiro, retiradas de uma lata que se achava em seu poder, onde se constata a existência das mulheres.

Folheia um álbum, que nos deu para examinar, no qual, dentre várias fotos, encontra-se uma do bandido “Pancada”, ao lado a sua companheira, cujo nome desconhece. Mais adiante, lá estão Lampião e Maria Bonita, esta sentada, entre dois cachorros, e aquele de pé, ao lado, em um jornal. da fotografia, vê-se que Maria Bonita era bonita mesmo e dona de umas lindas pernas.

 Ferreira e o jornalista

 HOMEM DE CONSCIÊNCIA TRANQUILA

Aos 61 anos de idade, o tenente coronel Ferreira de Melo é um homem que diz viver de consciência tranquila, não obstante algumas malvadezas que teve de praticar, forçado pelos ossos do ofício, nem sempre ossos bons de roer. Respeitado e admirado, vive sob a glória de haver concorrido bravamente para o extermínio do maior bandido que o Brasil conheceu e reconhece que o triunfo coube a todos que participaram da chacina e outros que direta ou indiretamente, deram a sua parcela de sacrifício, em defesa da tranquilidade da nação. Cita os nomes do coronel Lucena Maranhão, do Tenente Bezerra, do ex-cabo Aniceto, que morreu baleado em Santana do Mundaú, no de 1959, e não esquece, entre vários outros, o Dr. Osman Loureiro que, na qualidade de Interventor, muito fez para a extinção daquela praga social.

Ainda hoje, na tranquilidade em que vive, fala de Lampião com ares de revolta e ódio.

Bônus:

Francisco Ferreira de Melo em dias de paz.

A Ilustração ficou por conta do Blog Lampião Aceso

http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/1938

http://blogdomendesemendes.blogspot.com