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sábado, 14 de dezembro de 2013

Bangu, Memória de um Militante - Lauro Reginaldo da Rocha - Bangu - Parte IX

Por Brasília Carlos Ferreira – Organizadora, 1992


Lauro Reginaldo da Rocha era Mossoroense

“OITAVO DIA”

Na noite anterior – Sexta-feira da paixão – graça aos ideais cristãos da polícia fascista, não fui levado à sala das torturas. Não fiquei sabendo se lucrei ou se perdi com a benevolência religiosa dos tiranos, pois o meu desejo era que terminasse logo o suplício, qualquer que fosse o fim a mim destinado: viver ou morrer.

O “quadrado” deixou de emitir os seus gritos e gemidos infernais, o silêncio emendou com o da noite, até o dia seguinte. Agora só ouço a voz que vem de dentro de mim com uma força irresistível: ÁGUA! Tenho que beber água de qualquer maneira! A sede está me deixando louco.

Torno a pensar no vaso da privada. Já fui algumas vezes até lá, com o propósito de beber água, mas o investigador que me acompanha não dá oportunidade, fica grudado como um carrapato. Tenho que ter cuidado para não despertar suspeitas, o melhor é esperar a mudança da guarda.

Os acessos de sono são, agora, intermitentes. Nos intervalos surgiu um novo fenômeno até então desconhecido: a cabeça tomba repentinamente para frente, mas de maneira rápida, numa sacudidela incontrolável. Creio que é uma consequência dos cochilos e dos sustos produzidos pelas pancadas da correia de couro sobre a mesa. As sacudidelas transformaram-se num cacoete insistente e penoso. Mas, tiraram ao vigia a oportunidade e o prazer de estalar a sua correia, pelo menos até que outro acesso de sono volte a me atacar. Só o aperto na nuca não me larga e continua a progredir. As dolorosas pulsações e a peso na nuca são duas coisas difíceis de descrever, eu nunca havia sentido nada na vida que se assemelhasse àquilo.

O doutor Mariosinho é um médico atento ao “seu serviço”, tem vindo diariamente me examinar e suas conclusões são sempre as de que eu ainda possuo reservas suficientes para continuar a suportar os suplícios. E repete os elogios às minhas qualidades de nordestino resistente, acostumado a aguentar as durezas da vida. Talvez ele pense que o nosso corpo esteja revestido de uma couraça protetora toda especial, que nos torna invulneráveis e insensíveis. O médico policial é uma espécie de batedor da “turma do esculacho”: vem sempre na frente. Depois do seu “diagnóstico”, fui levado ao “quadrado”.

Os espancadores reiniciaram o seu trabalho com certa apatia, como se realizassem uma tarefa demasiadamente corriqueira. Depois foram se reanimando, como que estimulados por um estranho e cruel sentimento que aos poucos desperta e se agita em seu íntimo. Dentro em pouco são acometidos de verdadeira exaltação.

Os carrascos dão vazão ao seu sadismo, vão se reversando na pancadaria. Com a desidratação do organismo, o meu hálito se tornara insuportável. Parecia que estava poder por dentro. Percebi que o meu cheiro incomodava até mesmo os espancadores – eles que estavam habituados a lidar com a podridão e que pareciam sentir-se bem em revolvê-la. Passei a usar o meu mau hálito como auto-defesa, à moda maritacaca: disfarçadamente jogava o bafo na cara do algoz mais próximo. Ele recuava tonto. É tudo que posso fazer com vocês no momento, dizia comigo mesmo.

Em algumas ocasiões os “tiras” davam mostras de cansaço, faziam uma pausa, e o silêncio reinava por alguns minutos. Surgia, então, da sala vizinha – de onde comandava as operações – o detetive Veras e vinha incentivar seu sequazes: “Baixa o pau nesse f.d.p.! Ele está bancando o “queixo duro”, mas aqui não tem disso não. Ou ele fala ou vai ficar mudo pra sempre”.

A voz de comando era obedecida incontinente, os monstros caiam sobre mim feitos um furacão; socos, pontapés nas canelas, membros retorcidos, o mundo girava, o terreno fugia sob meus pés. O meu corpo transformara-se numa carcaça; mas o massacre prosseguia.

O que mais me revoltava eram os apelos à deleção: “Fala Bangu! Fala e te daremos água, cessaremos as torturas! “Eu pensava, Ah”! Se eu ao menos pudesse dizer alguns palavrões! Nem isso eu podia dizer, para desabafar. Eu tinha que “engolir” os insultos calados, minha única resposta era o silêncio. Apenas o silêncio.

Na oitava noite de torturas. Paguei o dobro pelo “descanso da Sexta-feira da Paixão. 

CONTINUA... 

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Lampião e outras histórias - Cachorras das moléstias

Por Doizinho Quental

  
  
Apesar da coragem e ousadia do bando de Lampião, eles nunca foram bem sucedidos frente aos “Jurubebas”, homens destemidos, que tinha em Odilon Flor um dos seus maiores inimigos.

 Odilon Flor e Luiz Flor
             
Certa feita, Lampião atacou o reduto deles, mas precisamente no Saco-da-Roça, pequena aldeia da região do Pajeú.

A surpresa foi grande. Homens, mulheres e meninos defenderam a pequena vila com unhas e dentes.  Verdadeira alcateia esfaimada. Afinal, eram tudo cunha do mesmo pau. Tanto Lampião como os jurubebas nascerem e se criaram no mesmo caldeirão de lutas sangrentas.

A briga não engrossou mais porque o rei do cangaço sentiu que o buraco era mais embaixo. Não contou conversa, botou o coxim debaixo do braço e retirou o ardiloso bando.

Desta empreitada maluca, o famoso celerado nunca mais havia de esquecer. Sempre que tinha oportunidade, lembrava-se desta façanha dos jurubebas.

Lampião quando estava de bom humor conversava e, às vezes, brincava. Aproveitando um destes dias, alguém que privara da sua amizade, perguntou:

- Aí, “nego véi,” cuma foi a disgraceira do Saco-da-Roça?

Ele teria respondido:

- Ô mundiça disgraçada! Mexer cum aquela praga é o mermo que futucar um buraco de abeia capuxu. Até as muler saltaro pra fora e brigaro feito umas cachorra da molésta!”.

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Lampião e outras histórias - O santo Jararaca

 Por Doizinho Quental
 O cangaceiro Jararaca

Lampião foi convidado por Floro Bartolomeu e o Padre Cícero, em  1926, a juntar-se ao Batalhão Patriótico para enfrentar a Coluna Prestes que se dirigia àquela cidade. Chegando à cidade de Juazeiro do Norte, recebeu, além do título de Capitão, um arsenal de fardamento e armas das mais modernas, para a época.

Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Como a Coluna Prestes não chegou a Juazeiro, o Capitão Virgulino Lampião ficou de posse deste poderoso armamento.


Segundo comentam os historiadores, o coronel Isaías Arruda de Missão Velha, entrou em contato com o mesmo e, nesta oportunidade, fez-lhe ver que, com o poderoso material bélico, ele poderia atacar cidades maiores. 
 
 O cangaceiro Massilon Leite

Isaías Arruda e Massilon Leite incutiram na cabeça de Lampião a ideia de invadir a progressista cidade de Mossoró. O celerado, depois de muito preparo, resolveu, junto com o papa jerimum  Massilon Leite, atacar Mossoró. Conta a história que foi o mais desastrado ataque que Lampião enfrentou na sua vida de cangaceiro.

 Prefeito Rodolfo Fernandes - Defensor de Mossoró contra Lampião

A cidade de Mossoró foi defendida com honra e brio da sua população, organizada pelo valoroso prefeito Cel. Rodolfo Fernandes. Na ocasião, mataram o cangaceiro Colchete e balearam Jararaca que, depois de medicado, o assassinaram da maneira mais covarde possível, pois fizeram-no cavar uma cova e enterraram-no ainda vivo. Vejam o depoimento de um sertanejo potiguar, segundo Leonardo Mota, do livro no “Tempo de Lampião”.

Em uma noite enluarada,  destas que os raios lunares descrevem a nossa silhueta no chão, Jararaca foi algemado e conduzido da cadeia para o cemitério. Calado, sem resmungar, nem se maldizer, era conduzido aos empurrões pelos soldados da polícia. Chegando lá, mostraram-lhe uma cova e perguntaram se ele sabia para que era aquilo. O valente cangaceiro olhou nos olhos de todos e falou destemido: 

-“Saber mesmo, eu não sei... Não é para mim? Agora isto se faz porque eu estou nestas circunstâncias, com as mãos amarradas e totalmente desarmado! Um gosto porém eu não dou pra vocês: é de se gabarem de que eu afrouxei e pedi para não me matarem! Podem matar, mas, matam  o homem mais valente que já pisou nesta...”

O cangaceiro não teve tempo de expressar a sua indignação, logo foi abatido com um tiro de revólver na cabeça, por um soldado que estava atrás dele.  Segundo a testemunha ele caiu teso e de olho vidrado dentro da sepultura, ainda se tremendo. Os soldados não deixaram nem o infeliz morrer direito e começaram a entupir a cova.

 A cova do cangaceiro Jararaca em Mossoró é muito visitada por fieis

Fomos informados que algumas pessoas do campo daquele estado, ainda hoje, fazem promessas com o “Santo Jararaca” que, segundo eles, por ter morrido nesta injusta condição é considerado mártir e por isto obra milagres.

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