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segunda-feira, 7 de julho de 2014

O HOMEM, O VIRGULINO, O LAMPIÃO

Por Rangel Alves da Costa*

Erroneamente, ao se falar em Lampião logo vem a lume aspectos dizendo respeito ao maior dos cangaceiros que já existiu nas terras nordestinas, o exímio comandante e estrategista conduzindo o seu bando, as façanhas guerreiras, o quase invencível combatente, o insurgente contra as injustiças sociais reinantes no seu tempo.

E erroneamente porque ao se pensar assim o fenômeno Lampião, logo estará abrindo um fosso entre o cangaceiro e o homem. E é nessa divisa, na visualização entre o Virgulino e o Lampião, que deve partir todo o entendimento sobre quem verdadeiramente foi esse homem, o que o guiava na sua luta, quais os seus verdadeiros objetivos em manter uma vida tão perigosa ao lado de tantos que lhe deviam respeito e adoração.

Entender Virgulino, e também Lampião, exige um enveredar na busca do conhecimento do homem mais do que qualquer outra coisa. Ora, quem um dia, por força das circunstâncias ou não, decidiu levar uma vida errante foi o cidadão Virgulino Ferreira da Silva, o rapazote das bandas pernambucanas de Vila Bela.

Por outro lado, quem já estando na estrada um dia se fez líder, o maior entre todos os cangaceiros, foi Lampião. Virgulino repousava por baixo da pele lanhada de espinho e de sol, na inquietude de seu espírito, nas reminiscências próprias, íntimas e familiares, que nunca deixou de ter. Já o Lampião se fazia do olho adiante, debaixo do pé, no passo que dava. Este não vivia em função do homem Virgulino, mas como necessidade de se manter e se fazer ainda mais Lampião.

Juriti, Sabonete e Lampião - Sabonete era irmão do cangaceiro Borboleta

Aquele outro, o Virgulino, era o de nome e sobrenome, trazia na mente as recordações, as dores e os sofrimentos, mas também as alegrias do passado. Era o sujeito moreno, de média estatura, cabelos um tanto escorridos e desgastados, chegado a magro, com uma deficiência no olhar já adquirida na idade adulta. Neste repousava o coração, os sentimentos, o vigor físico, a disposição para a luta.

E ainda neste a infância, o percurso feito de meninote a rapaz, o trabalho na terra, a lide diária na família pobre em relação aos poderosos de então, os sonhos de todo rapazote, as raivas, o ódio criado quando da perseguição dos seus; a dor pela morte do parente, o sofrimento pela raiz familiar esfacelada, a difícil decisão tomada, a decisão em si e suas consequências, o adeus. E quando ele deu adeus e passou cancela adiante ainda era o Virgulino, o homem dentro da pessoa que era, para em seguida ser apenas de alcunha e renome. 

Contudo, antes da tão conhecida transformação, quando de liderado passou a ser líder maior, há ainda um espaço no homem fazendo uma ligação entre o que era e o que passou a ser. Não é de hora pra outra que uma pessoa se reconhece plenamente capaz de fazer aquilo que escolheu, nunca basta um querer para que tudo aconteça segundo o desejado. Neste momento ainda surgem as dúvidas e os temores.

No meio do mundo, já muito além da cancela de casa, ainda que sempre acompanhado de irmãos que enveredaram pelo mesmo caminho, Virgulino ainda não tinha deixado de ser mais a si mesmo do que a outro, aquele que viria crepitosamente mais tarde. Já sabendo bem o que queria, e que não era propriamente a continuidade de uma vingança pessoal contra os inimigos da terra, ainda assim buscava o reconhecimento com base na sua coragem, astúcia e firme personalidade.

Neste momento, neste percurso que ainda fazia para o reconhecimento, o homem procurava compartilhar seus sentimentos de indignação e ódio contra as injustiças sociais, contra os poderosos que tantas perseguições faziam, contra todos aqueles que semeavam os desmandos e abusividades pelo sertão. Estando vivendo uma nova realidade e com tais objetivos, logicamente que a luta que começaria já nascia plenamente justificada.

E justificada principalmente porque a opção pela vida cangaceira logo afastaria de si qualquer semelhança com criminosos comuns, com assassinos cruéis, bandidos de beira de estrada, com jaguncismos e pistolagens. Ora, basta ver que nem antes nem depois de se transformar em Lampião, Virgulino jamais aceitou matar por dinheiro, praticar crime de mando como um bandido qualquer. Talvez aí esteja uma essencial diferença entre o cangaço e o banditismo.

Seguindo percurso e destino, e já cortando estradas distantes, muito além das redondezas de origem, o homem já se firmava verdadeiramente como tal. Já estava no caminho que havia escolhido, tinha ciência das consequencias da nova vida abraçada, estava resoluto em seguir adiante e deixar de ser subordinado, apenas um entre tantos homens de bando cangaceiro, para se tornar num líder.

E quais seriam, então, as principais características que Virgulino deveria demonstrar para se tornar Lampião, em verdadeiro líder? Ora, nessa vida de guerras e guerrilhas sertanejas, quando o momento invoca rapidamente uma única forma de agir, sem tempo para pensar ou ponderar sobre o pior ou o melhor, logicamente que a experiência diante de cada situação surgida é o grande diferencial de um líder que quer sair vencedor.

Daí que as experiências adquiridas por Virgulino nos seus momentos de subordinado, quando sentiu as fragilidades e as forças nas ações levadas a efeito, não ficaram apenas a serviço do bando ao qual servia. Enquanto uns apenas agiam e depois relegavam o aprendizado, ele guardava cada experiência vivenciada como algo a ser sempre aprimorado.

Assim, quando decidiu tomar as rédeas do seu destino e formar o seu próprio bando, apenas procurou aprimorar os conhecimentos adquiridos sobre estratégias de defesa e de ataque, sobre os sinais da presença do inimigo, a rede de relações pessoais que deveria manter com a sertanejada, a influência que deveria conseguir e manter perante autoridades e poderosos.

Neste momento já era Lampião, já era aquele que fazia mosquetão alumiar e inimigo desabar, já era o líder cangaceiro, já era o chefe a quem todos deviam respeito e obediência. Até chegar a esse estágio passou por constante aprimoramento, por lições que não eram aprendidas senão no calor da luta, pelo desenvolvimento de manobras capazes de reverter as situações mais favoráveis. E tudo no mesmo instante em que se embrenhava pelas veredas de sangue, sentia a bala zunindo adiante e derredor, via o amigo ferido, sentia o outro já sem vida por cima das pedras bicudas.

Conhecendo tais aspectos e direcionando seus comandados para vencer armadilhas e emboscadas, impondo estratégias de não deixar rastros nem sombras do paradeiro, foi seguindo adiante, circundando, retornando ao mesmo lugar para fazer bem feito. E nesse ir e voltar, na extensa rede de relacionamentos que mantinha, criou dentro de si uma espécie de mapa mental. E a partir dele visualizava todo o sertão, cada lugar inimigo, cada caminho de fogo, cada abrigo mais seguro, cada coito e refúgio de pernoite.

E mesmo se tornando completamente Lampião, extraía de dentro do homem Virgulino que nunca deixou de existir tudo aquilo que precisava para não se desumanizar, para não perder a temência a Deus e a fervorosa religiosidade, para não se afastar dos sentimentalismos próprios de quem que precisava refletir sobre si mesmo, sobre sua vida e tudo aquilo que acontecia ao redor. 

Nesse momento, saindo um pouco de Lampião e se voltando ao Virgulino, demonstrava o amor que sentia por sua Maria, fazia as amizades, cantava no coito alguns prazeres que certamente possuía naquela vida difícil. Era o cangaceiro humano, o Capitão amigo de sua tropa, o homem que conversava e não escondia o seu desejo de um dia deixar aquela vida e poder armar uma rede num alpendre sertanejo. Viver, simplesmente poder viver.

Assim, quando na madrugada de 28 de julho de 38 foi cercado e chacinado na Gruta do Angico pela volante alagoana comandada pelo Tenente João Bezerra, tombou e morreu apenas o homem Virgulino. Lampião continuou vivendo nos braços da história na mente do povo sertanejo. E assim se eternizará.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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Cangaceiros Cariri


Grandes Temas, Grandes Debates: 
Jairo Luiz OliveiraManoel Severo BarbosaBenedito Vasconcelos MendesSousa Neto, presenças marcantes na Semana do Cangaço; de 24 a 28 de julho - Cariri Cangaço Piranhas 2014.

CONFIRA PROGRAMAÇÃO COMPLETA EM:


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Jornais sergipanos


Consegui hoje todos os jornais sergipanos entre fevereiro de 1929 e agosto de 1938, digitalizados para pesquisar sobre a passagem de cangaceiros por Sergipe. 

Aguardem! Muitas coisas boas chegarão a nós. De quebra consegui 20 fotos antigas de Aracaju, como esta de 1900.

Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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CHAGA VALADÃO X JOAQUIM CATANÃ

Por Heitor Feitosa Macêdo
           
Joaquim Leandro Maciel, ou Francisco de Assis Brasil, vulgo Joaquim Catanã, era um temido pistoleiro que agia entre os estados do Ceará, Paraíba e Piauí, em meados da década de 1950.

O pistoleiro, Joaquim Catanã.

Era natural de São João do Rio do Peixe, na Paraíba, e abraçou a vida do crime aos dezessete anos, quando vingou a morte de seu pai, um pequeno agricultor assassinado por questões de terra. Era só o começo de uma vida de crimes. A partir de então, começou a matar por dinheiro, quase sempre sob a ordem dos babaquaras da época.
         
Em certa ocasião, homiziou-se em Valença, no Piauí, onde viveu como agricultor por alguns anos, com uma falsa identidade, até que em 1947 muda-se para Crateús, no Ceará, onde reiniciou a vida de crimes.[1]
         
Conta-se que quando se encomendava a morte de alguém a esse assassino, ao mostrar-lhe a foto da vítima, Catanã expressava-se energicamente: “Já estou com raiva”. Outra peculiaridade dele era usar de um “senso ético às avessas”, pois reza a tradição que quando empreitava para matar certa vítima, se esta lhe parecesse boa gente, findava preservando-lhe a vida em detrimento do mandante, que acabava sendo morto pelo mesmo matador dantes contratado. Catanã além de justiceiro também era judicioso.
         
Não tardou para que os serviços do célebre pistoleiro fossem locados para por fim a mais uma vida. Desta vez o alvo era o prefeito de Aiuaba, Armando Arrais Feitosa. Catanã, em seu iter criminis aproximou-se da casa do prefeito, pelo flanco, agachado por entre as madeiras empilhadas, ardilosamente engendrando a emboscada.
         
Contudo, em seu desfavor, algumas crianças brincavam naquele mesmo perímetro, e foram ter por esconderijo o mesmo lugar que o pistoleiro pusera-se à sorrelfa. Irritado, ele ainda relhou com as crianças, mandando-as partirem para longe de sua tocaia.
         
Imediatamente a meninada alardeou sobre a presença de um homem ocultado no oitão da casa. Isso foi o bastante para que o intento facinoroso se frustrasse, cabendo ao bandido “ganhar o mato”.

Chaga Valadão

Mais uma perseguição é iniciada, tendo a dianteira Chaga Valadão, novamente requisitado pelo Tenente Arnau ao patrão daquele, Zé Solano. Seguindo o rastro do foragido, vão esbarrar na porteira da Fazenda Murzela, pertencente a “Sá Tonha”, no município de Aiuaba.
Chaga ao reconhecer aquela propriedade como sendo de gente aparentada de seu patrão, recusou-se a invadi-la, comunicando expressamente ao Tenente Arnau, que ainda relutava em sede de alcançar o foragido. Então, em face do contumaz Tenente, o rastejador propôs que contornassem aquela fazenda e esperassem Catanã à margem do Rio Jaguaribe. Mas, essa manobra ficara frustrada, ante a fuga do pertinaz pistoleiro.
         
Os senhores da Murzela ficaram gratos por Chaga ter respeitado os limites de seus domínios, presenteando-o com um cordeiro e uma enorme consideração. No fundo, Chaga sabia das consequências de ignorar um valhacouto, pois, para um bandido livrar-se de qualquer pesrseguição, bastava transpor os cercados dos poderosos fazendeiros.

Armando Arrais Feitora

Por fim, Armando Arrais findou sendo assassinado por mãos de outros pistoleiros, no alpendre de sua casa no dia 1º de maio de 1972, por intrigas políticas fomentadas dentro de seu próprio círculo familiar.[2] Joaquim Catanã, depois de preso na Capital do Ceará, em consequência de outros crimes, foi transferido para um presídio em Terezina, onde se mostrava arrependido de seus desatinos, debruçado sobre livros de direito. No entanto, vez por outra saía do presídio para ceifar mais vidas, até que foi morto por envenenamento.  

[1] Fortes, José. As façanhas do pistoleiro Catanã. Meionorte.com. 25/11/2008. Disponível em: 
Acesso em: 05/04/2011.
[2] Grande parte dessa narrativa foi confidenciada pelo irmão mais velho de Chaga Valadão, José Francisco Valadão, em entrevista cedida no ano de 2010.

http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com.br/2013/03/chaga-valadao-x-joaquim-catana.html

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O Troféu de Leonardo Motta: Zé Pinheiro

Por Plínio Bortolotti
Aderbal Nogueira, Manoel Severo, Plínio Bortolotti e Marisa

Esta postagem é a sexta história sobre o cangaço que reproduzo do livro “No tempo de Lampião”, de Leonardo Mota [1891-1948 ], cearense de Pedra Branca que dedicou-se a pesquisar as coisas do sertão nordestino.

O troféu

"Zé Pinheiro, o celebérrimo facínora que tão sinistramente se afamou na sedição de Juazeiro contra o Presidente cearense Franco Rabelo, era um cangaceiro perversíssimo, ajutor de dezenas de homicídios bárbaros. 

O cangaceiro Antonio Silvino

O seu renome se fez no período que mediou entre o alumbramento da estrela de Antônio Silvino e o fulgor infernal da triste glória de Lampião. 


Conheci-o pessoalmente em abril de 1914, quando a jagunçada do Padre Cícero passava pela cidade de Quixadá. Acabou martirizado nos sertões alagoanos por uns rapazes, cujo pai fora por ele assassinado. Essa vingança foi terrível: convenientemente amarrado, não lhe deram pancadas nem tiros – esfolaram-no vivo, suplício que o bandido suportou, rilhando os dentes e sem a humilhação de inútil pedido de misericórdia.

Leonardo Mota

Quando Zé Pinheiro morava nos domínios do Padre Cícero, vivia também, a esse tempo, em Juazeiro, o Antônio Godê, outro cangaceiro famoso. O Godê era mais valente que o Zé Pinheiro; este tinha apenas mais perversidade. Incomodado com a fama do rival, Zé Pinheiro brabateou, um dia, que ainda havia de mostrar ao Godê quem dos dois era o homem mais homem. A ameaça chegou aos ouvidos do Antônio Godê que, sem dizer palavra, saiu ao encontro daquele que assim jurara despachá-lo, antes de tempo, deste para o outro mundo. Encontrou-o a beber cachaça e contar proezas, num quarto de feira. Aproximou-se, bateu-lhe levemente no ombro e pediu em tom camaradesco:

- Zé Pinheiro, meu cabôco, deixa eu ver aí a fralda de tua camisa!

- Que negócio é este, Antônio Godê

- Nada. É uma brincadeira, é uma caçoada que eu quero te ensinar…

E, dando o exemplo, pôs para fora das calças a camisa. Zé Pinheiro fez o mesmo e o Godê, dando forte nó com ambas as peças de roupa, falou, noutro tom:

- Agora que nós estamos amarrados um no outro e nenhum de nós pode correr, bata mão à sua faca, cabra severgonho, que chegou a hora de se decidir quem de nós dois é home mais home!


E já empunhando a sua pajeuzeira, deu vários panos no peito e no rosto do bandido acovardado, que não teve coragem de sacar o punhal e se desmanchou em desculpas e protestos de amizade. Cansado de o provocar, Antônio Godê falou, com desprezo:

- Eu não te mato, mundiça, porque cabra frouxo como tu, um home como eu inzempla é assim como eu fiz agora. Mas, olha: tu larga meu nome de mão, deixa de paleio com minha vida, senão eu te arranco o coração pelas costas! Tu cuida que eu sou o negro Quintino, que se o Padre Ciço não chega tão depressa, tu tinha comido a língua do cadáver dele crua e com cachaça?

E pôr termo à estranha xifopagia, cortando com certeiro golpe de faca a união que ardilosamente conseguira para o duelo mortal. Mas, cortando como? Por derradeiro escárnio, cortando do lado da camisa do Zé Pinheiro e pondo para dentro das calças, como troféu, o nó cego que fizera…"

Leonardo Motta
http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/o-trofeu-de-leonardo-mota/

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Laços entre pai e filho

Por Rubens Antonio

"Olhando sua arte, consegui viajar um pouco em minha imaginação, fazendo com que exista um estreitamento dos laços entre pai e filho. 


A colorização feita consegue aproximar a realidade que ficou lá atrás e deixa-la mais viva. 


Fonte: facebook
Página: Rubens Antonio

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VIRGOLINO – COMENTÁRIO.

Por Anildomá Willans de Souza
Anildomá e Manoel Severo

Observando bem, poucos são os personagens históricos que saíram do seio do povo, que viveu humildemente, mas que desafiou todas as instâncias de poder. Foi assassinado, mas seu nome continua vivo, cantado nos cordéis, no cinema, no teatro, na gastronomia, na dança, no mundo inteiro.


Os caminhos da história sempre surpreendem e possibilitam que personagens como Lampião, Padre Cícero, Frei Damião, Antônio Conselheiro, Zumbi dos Palmares (entre tantos outros) sejam objeto de estudo e de controvérsias. Fato é que, mesmo 117 anos após seu nascimento e 76 anos após sua morte, Lampião ainda desperta sentimentos extremos de admiração e ódio. Afinal de contas, trata-se de um personagem real e que foi construído rodeado de valores que envaidecem o nordestino: coragem, valentia, brabeza de cabra macho, obstinação, esperteza, etc.

Sempre que for citado, Lampião será sempre centro de contradições e de fervorosas discussões, o que de certa forma contribui para perpetuar sua condição mitológica e despertar tanto fascínio nas gerações atuais e futuras.

Polêmicas a parte, seu nome e sua imagem continuarão influenciando a literatura, o teatro, a música, a culinária, o artesanato, o cinema, pois dentre todos os aspectos de abrangência da cultura popular é Lampião, sem dúvida, o personagem mais vivenciado. Sendo assim, não é estranho dizer que Lampião é um bem imaterial do povo brasileiro e que precisa ser reconhecido como tal. Salientamos que Lampião, antes de qualquer coisa, é um personagem histórico. Não é lenda. Não é folclore. É história. E nós não podemos negar a história. A história a gente não oculta.

Serra Talhada/PE, 07 de julho de 2014.
ANILDOMÁ WILLANS DE SOUZA
(Pesquisador do Cangaço – Secretário de Cultura de Serra Talhada/PE).

Se você quiser ler o artigo completo clique neste link:

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VIRGOLINO: HISTÓRIA

Por Xaxado Cabras DE Lampião

Lampião: 117 anos depois, uma lenda que continua viva e cada vez mais presente na identidade cultural nordestina.

Hoje é o aniversário de Lampião, 117 anos depois, uma lenda que continua viva e cada vez mais presente na identidade cultural nordestina. Nosso blog – www.pontodeculturacabrasdelampiao.blogspot.com Trás mais informações.

Hoje, 7 de julho, se LAMPIÃO vivo fosse, estaria completando 116 anos. Conforme sua certidão de nascimento nasceu nesta data, aqui em Villa Bella. O texto que segue é do livro LAMPIÃO. NEM HERÓI NEM BANDIDO. A HISTÓRIA, de Anildomá Willans de Souza.

José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação residentes no Sítio Passagem das Pedras, em Vila Bella, Estado de Pernambuco, tiveram os seguintes filhos:

1.   Antonio Ferreira
2.   Livino Ferreira
3.   Virgolino Ferreira
4.   Virtuosa Ferreira
5.   João Ferreira
6.   Angélica Ferreira
7.   Ezequiel Ferreira
8.   Maria Ferreira
9.   Anália Ferreira

O primeiro da lista - Antonio - era meio irmão dos demais.

Dona Maria, antes de contrair matrimônio com José, morava nas proximidades da vila São Francisco e namorava um rapaz da família Nogueira, do qual engravidou. Mas o mesmo, metido a valentão e filho de gente rica, não quis se casar, deixando a jovem em desolação.
            
Um certo rapaz, das bandas de Triunfo, Pernambuco, trabalhava como tropeiro e tinha a vila como um dos pontos de parada para descanso, e recompor as forças da tropa de burros no seu roteiro, quando se dirigia em suas andanças para o Ceará, Alagoas e Bahia, e há muito tempo paquerava a mesma moça, mas nunca quis se chegar, pelo fato de vê-la comprometida.
            
Porém, quando soube do acontecido, procurou-a e propôs casamento, assumindo a paternidade da gravidez.
            
Recebeu de presente do sogro uma faixa de terra - o Sítio Passagem das Pedras - e tiveram o restante dos filhos e filhas.

Agora caros leitores
Prestem-me bem atenção
Para entender o relato
Desta minha narração
Concentrem bem a memória
Que vou contar a história
Do famoso Lampião.

Nascido em Serra Talhada
Numa fazenda rural
Aprendeu desde menino
O trabalho artesanal
Com perfeição de ouro
Moldando as peças de couro
Em arreios de animal.
(Gilvan Santos)

O terceiro filho - Virgolino - de acordo com sua certidão de nascimento, que se encontra no cartório de registro civil de Tauapiranga (São João do Barro Vermelho, distrito rural de Serra Talhada), no livro nº2, folha 8, nasceu no dia 07 de julho de 1897. E, segundo seu batistério, que se encontra na Diocese de Floresta, no livro 13, página 145, nº 463, consta que ele nasceu em 04 de junho de 1898.

Mais duas filhas tiveram o casal: Maria do Socorro e Maria da Glória. Ambas tiveram morte prematura.
            
Era costume, naquele tempo, quando as mulheres  estavam nos dias de darem a luz, ficarem nas casas dos pais. Por isso, todos os rebentos nasceram na casa da avó materna, Dona Jacosa, que morava a umas trezentas braças de distância. Somente com alguns dias, após o resguardo, que durava em torno de trinta dias, era que voltava pra casa,

Dona Jacosa avó materna de Lampião

Virgolino, ao nascer, a avó, que a estas alturas tornara-se viúva, agradou-se tanto do neto, que ficou com ele para lhe fazer companhia. Portanto, nasceu e se criou na casa da avó.
            
Segundo os moradores antigos daquelas bandas, a parteira que segurou Virgolino ao nascer e, ao que tudo indica, de todos os rebentos da casa, foi uma senhora chamada Antonia Tonico, moradora da fazenda Situação.
            
Em 1905 fez a primeira comunhão na vila São Francisco e em 1912 foi crismado em Floresta.
            
Como naquela época não havia escolas na região e Virgolino era o mais interessado dos irmãos para aprender ler e escrever, estudou alguns meses com os professores Domingos Soriano Lopes e Justino Nenéu. O primeiro era  parente da família pelo lado materno.
            
A família vivia da agricultura, do criatório de bode e da almocrevia.
            
Isto mesmo, com dezesseis anos de idade possuía uma frota de burros e partiu para a almocrevia. Os burros são animais melhores para essa função, porque preferem água limpa e comem pouca ração. Vantagem muito boa para quem vive nessa profissão com o pé na estrada.
            
Saía com a burrama do Sítio Passagem das Pedras para Rio Branco onde comprava, vindos do Recife ou do sul do Estado, caixas de gás, caixas de bebidas Gato Preto, Old Tom, alcobaça, açúcar refinado, arroz branco, roupas e tecidos, bolachas marca “sertaneja” de Pesqueira - PE. e outras novidades em bugigangas. Tinha as pessoas certas para entregar esses produtos. No caso de Vila Bella um deles era Cornélio Soares quem recebia para comercializar. Entregava também para outras cidades como Belmonte, Ouricuri, Triunfo, Cabrobó, Petrolina e até outros Estados como Alagoas, Paraíba e Ceará. Foi nessas viagens que começou a conhecer palmo a palmo, ponto a ponto do Nordeste, que lhe viria ser útil na futura vida do cangaço.
            
Ao mesmo tempo, nos dias de feira das cidades, ele  vendia produtos fabricados por ele mesmo. Em Vila Bella era muito conhecido quando vinha com seus artefatos de couros confeccionados por suas próprias mãos, com perfeito acabamento e detalhes artísticos: alforge, chibata, colete, gibão, luvas, arreios, cartucheiras, selas, etc. Instalava sua banca ou forrava o chão com esteira ao lado da Igreja do Rosário, onde funcionava a feira livre nos tempos idos.
           
Também foi grande vaqueiro
Ágil e inteligente
Pegava boi na caatinga
Bravo sem nunca vê gente
Logo que o boi se espantava
Que o tropé começava
Ele partia na frente.

Trabalhou como almocreve
Viajando noite e dia
Com seu pai e seus irmãos
Levando mercadoria
Andavam de feira em feira
Por isso é que os Ferreira
Todo sertão conhecia.
(Gilvan Santos)

Virgolino tocava sanfona nas festas da redondeza, escrevia poesias e no repente desafiava os melhores repentistas da  ribeira, confeccionava artefatos em couro e madeira, corria vaquejada e pega de boi no mato. 
            
Quando se tratava de trabalhar, era um verdadeiro furacão em tudo que fazia: na roça, na compra e venda de mercadorias que transportava em lombo de burro.
            
Os títulos eleitorais de Virgolino, Antônio e Livino foram tirados no ano de 1915. Apesar de não terem idade, Metódio Godoy foi quem articulou tudo para garantir esses votos. Votaram esse ano no partido borbista, que tinha a frente o oposicionista candidato a governo do Estado Manoel Borba, que Mário Lira e os Godoy tinham a predileção. Os Carvalhos estavam de cima e apoiavam o candidato a reeleição para governador Dantas Barreto, contando com todo apoio dos Nogueiras e Saturnino.
            
Depois, no ano seguinte, 1916, sufragaram os Ferreiras o voto ao próprio Mário Lira - Mário Alves Pereira Lira, filho natural do Recife, contraindo matrimônio com uma moça da família Carvalho, veio residir em Vila Bella. Tornou-se um político de forte influência e foi eleito prefeito para a gestão 1916/20.
            
Ao que tudo indica, quando os Ferreira moravam em Poço Negro, cidade de Floresta - PE., foram correligionários de Idelfonso Ferraz.
            
Os Ferreiras tinham uma excelente relação de amizade com Cornélio Soares. Inclusive, um parente de José Ferreira, chamado Cândido Ferreira, costumava se hospedar na casa desse chefe político. Quando Cândido começou a ser ameaçado pelos inimigos de Lampião, que teve de vir embora de Nazaré, foi este acolhido na fazenda Caxixola, localizada no outro lado do Rio Pajeú, de propriedade do coronel Cornélio Soares. Lá morou durante toda sua vida, na sua proteção.

Os Ferreira eram pobres
Para aquela região
Suas terras eram poucas
E de pouca criação
Mas como eram tropeiros
Ganhavam algum dinheiro
Nas viagens do sertão.
(Gilvan Santos)

Os Ferreiras comiam e vestiam, se divertiam e se solidarizavam com os amigos com o produto do suor dos seus rostos. Uma típica família sertaneja...
         
EM TEMPO: No período de 23 a 27 de Julho, será apresentado ao ar livre o espetáculo teatral O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO, na ESTAÇÃO DO FORRÓ, envolvendo mais de oitenta atores e atrizes, com texto de Anildomá Willans de Souza e direção de José Pimentel. Entrada FRANCA.

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David Leite e José Edilson lançam hoje antologia de poemas

Marcos Bezerra/Arquivo/NJ - Praça Rodolfo Fernandes, Mossoró

HENRIQUE ARRUDA
DO NOVO JORNAL

Seguindo a premissa de que todo bom mossoroense cresce entre Mossoró e Tibau (praia vizinha da cidade), o professor e escritor David de Medeiros Leite (48) lança hoje, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, o livro “Mossoró e Tibau em Versos”, antologia poética organizada em parceria com 


o biólogo e pesquisador José Edilson de Albuquerque, na qual a dupla reúne 50 poemas de autores potiguares e de fora do Estado sobre a relação íntima entre os dois lugares.


Natural de Mossoró, mas radicado em Natal há 20 anos, David garante que, na juventude, acompanhado da família, costumava deixar Mossoró rumo à praia de Tibau durante os finais de semana mais especiais do ano. Ele até já escreveu poemas sobre essas memórias, mas preferiu deixá-las fora do livro. “Tem muitos poemas que falam até dessa questão bucólica de Tibau e a convivência que era muito tranquila, por lá, há 20 anos. As pessoas viviam em alpendres, com casas de portas abertas, mas hoje em dia a realidade é completamente diferente”, frisa o professor da UERN, informando ainda que “Mossoró e Tibau em Versos” conta apenas com um poema de sua autoria, intitulado “Canoeiros de Mossoró”.

Nos versos, ele retrata a relação que a cidade tinha com o Rio Mossoró no começo da década de 40, antes de a primeira ponte sobre o rio ser construída e, consequentemente, extinguir a profissão dos “canoeiros” que transportavam pessoas e mercadorias de um lado a outro da cidade. “Antes da ponte esse transporte era feito por canoeiros e meu avô foi um deles, assim como o meu bisavô. Sabemos que foi para a melhoria e modernização da cidade, mas a ponte acabou extinguindo esses personagens históricos, que também merecem um meio poético de serem retratados”, defende.

A pesquisa desenvolvida há cerca de um ano para encontrar as poesias que retratassem os dois lugares resultou em um interessante recorte histórico, com 50 poemas escritos a partir de 1883 até os dias de hoje, tanto de autores potiguares, quanto de fora do estado.“Começamos a pesquisar inicialmente no nosso próprio arquivo, e então partimos para bibliotecas de Mossoró, antigos jornais e até mesmo a internet, porque hoje em dia o facebook é uma excelente ferramenta para publicação”, considera, destacando também que todos os poemas no livro estão acompanhados de uma pequena biografia dos autores e até mesmo a fonte de onde o texto foi retirado.

Entre os outros temas retratados nos poemas, a resistência de Mossoró ao bando de Lampião, em 1927, hoje retratada em um grande auto junino, é um dos mais comuns, junto com o fato de a cidade ter sido supostamente uma das primeiras brasileiras a acabar com a escravidão, em 1883, cinco anos antes de a Lei Áurea ter sido assinada pela princesa Isabel.


Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Gyumarães Segundo

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1930 – O VOO HISTÓRICO DE MERMOZ E NATAL SENDO NOTÍCIA NA FRANÇA

Publicado em 06/07/2014 por Rostand Medeiros
Jornal francês noticiando a chegada do aviador Mermoz ao Rio Grande do Norte

Um dos aviadores que marcou presença em Natal durante essa época foi o francês Jean Mermoz. (Auberton, Aisne, França, 9 de dezembro de 1901 – Oceano Atlântico, 7 de dezembro de 1936). No dia 13 de maio de 1930 este intrépido aviador realizou a sua primeira travessia. Partindo de São Luís do Senegal, na companhia do navegador Jean Dabry e do operador de rádio Leopold Gimie, chegou a Natal vencendo uma distância de 3.100 quilômetros.


Tarcísio Medeiros narra que Mermoz: “bateu, entre 11 e 12 de abril de 1930, o “record” mundial de permanência no ar, em circuito fechado, cobrindo 4.343 quilômetros em 30 horas e 30 minutos, em Laté-28, batizado como  “Conde de La Vaux”, equipado com flutuadores, no qual voou para Natal”.

Uma particularidade sobre este voo foi o papel fundamental  do rádio foi para guiar a aeronave no trajeto, já que o “conde de La Vaux” estava equipado com aparelhos modernos Radio LL. Ao longo desta jornada Leopold Gimie recebeu sinais em triangulação a partir de nove estações terrestres e transmissores a bordo de barcos postais. Uma das estações seria tema de uma película francesa, a localizada no Arquipélago de Fernando de Noronha.


Esta estação, que acompanhou o vôo de Mermoz durante todos o tempo, serviu de pretexto para o filme “SOS Noronha”, de Georges Rouquier, Feito em 1957, o filme estrelado por Jean Marais (e pelos 


atores brasileiros José Lewgoy e Vanja Orico), mostra este ator no papel de chefe da estação e o seu empenho para manter a comunicação com a solitária aeronave pilotada por Mermoz, em meio a conflitos com os nativos.

Voltando a Mermoz, é inegável que ele fez muitas amizades no Rio Grande do Norte. Um de seus amigos, Eudes de Carvalho, revelou que o francês “adquiriu, com o tempo, apego à terra e à gente potiguar e previu o futuro de Parnamirim como base aérea de destaque mundial”. Mas na realidade quem primeiro transmitiu esta mesma indicação da capital potiguar para o meio aeronáutico mundial foi o italiano Francesco de Pinedo no ano de 1927. Ele era o piloto do hidroavião “Santa Maria”.

O aviador francês voltou a Natal em abril do ano de 1933, pensando ainda em realizar o seu sonho: a viagem Natal-Dakar. Consta que ele passou dias na capital potiguar planejando a viagem de regresso, o que seria um fato inédito.

Jean Mermoz, finalmente, conseguiu concretizar sua antiga aspiração. Partindo de Natal num trimotor, o “Arc-en-Ciel”, pousou em Dakar.

O piloto francês era bem calejado. A carreira de aviador começou aos 19 anos. Reprovado no vestibular, Mermoz alistou-se no exército. Optou pela aviação não por vocação, mas por um melhor salário. Quatro anos depois, rebela-se contra a disciplina militar, busca a aviação civil e é admitido nas Linhas Aéreas Latécoère em 1924. Trabalha na oficina por três semanas, até o dia do teste, quando suas acrobacias desagradam o temido diretor da companhia, Didier Daurat, tido como extremamente rigoroso, responsável por enquadrar e estimular os “mais novos” – pilotos desempregados do pós-guerra: “Aqui não contratamos acrobatas. Se o senhor quer fazer circo, deve procurar outro lugar”…

Jean Mermoz desembarca no campo de aviação de Le Bourget depois de sua oitava travessia do Atlântico Sul a bordo de seu avião “Arc-en-Ciel”. Esta foto foi publicada na capa da revista L`illustration de 3 de Novembro de 1934. Nesta revista traz alguns aspectos interessantes da visão dos franceses sobre Natal como ponto de apoio de sua aviação comercial naquele período.

Em 1926, começa de fato a construir sua carreira como piloto ao voar sobre o Saara na mira dos mouros dissidentes do Marrocos espanhol e, na América do Sul, realiza vôos noturnos. Entretanto, o que definiu sua reputação e o seu nome na história da aviação ocorreu em 1930, com o feito da primeira ligação postal sem escalas sobre o Atlântico Sul.

Aos 36 anos, Jean Mermoz e sua tripulação desapareceram no Atlântico, durante a sua 25ª travessia do Atlântico Sul, a bordo de um hidroavião Laté 300, batizado “Croix-de Sud”, desapareceu nas águas do Oceano Atlântico.

Natal e o seu povo jamais o esqueceu!

Fonte - http://www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_11h.htm

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.com.br/2014/07/06/1930-o-voo-historico-de-mermoz-e-natal-sendo-noticia-na-franca/

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