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terça-feira, 4 de junho de 2019

INDUMENTÁRIA CANGACEIRA.

Por Geraldo Júnior

Bornal ao estilo cangaceiro que foi confeccionado pela ex-cangaceira Sila "Cila", companheira do cangaceiro Zé Sereno. 

Os bornais foram acessórios muito importantes que fizeram parte da indumentária cangaceira. Neles os cangaceiros carregavam de objetos pessoais a gêneros alimentícios. 

Os bornais tornaram-se peças indispensáveis da indumentária cangaceira e os adornos que passaram a ser confeccionados nessas peças, após a entrada das mulheres no cangaço, deram um destaque todo especial e transformaram um simples acessório em um objeto de cobiça e destaque na "moda" cangaceira.

Tendo sido Dadá, companheira do cangaceiro Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) o "Diabo Loiro", uma das mulheres que se destacaram na produção e aplicação de bordados e adereços em roupas e bornais utilizados por homens e mulheres do bando cangaceiro de Lampião.  

Geraldo Antônio de Souza Júnior 

VAMOS AO CASAMENTO DE ANGÉLICA FERREIRA IRMÃ DE LAMPIÃO?

Por José Mendes Pereira
Angélica é a 2ª. da esquerda para a direita

Vamos ao casamento da irmã de Lampião Angélica Ferreira da Silva com Virgínio Fortunato da Silva,  mas não precisa temer nada. Eu não sei de certeza, mas me parece que os irmãos Ferreira não estão lá. Se eles não estiverem não haverá tiroteio. Nós vamos entrar de mansinho observando se algum Ferreira está por lá.

Esta foto do Pedro Motta Popoff segurando o livro do escritor José Bezerra Lima Irmão é real. Fui eu quem pediu a  Carla Motta para fazê-la com ele segurando o livro "Lampião a Raposa das Caatingas". 

Para você saber tudo sobre o casamento da Angélica Ferreira com Virgínio Fortunado da Silva basta adquirir o livro "Lampião a Raposa das Caatingas" do escritor José Bezerra Lima Irmão através do e-mail abaixo. 

franpelima@bol.com.br

A página é 201.

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A FORÇA DO JACARÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
 Crônica: 2.121 
Diálogo no guichê da Estação Rodoviária de São Paulo, década de 30.
       -- Dê-me uma passagem para Jacaré dos Homens.
-- O senhor quer brincar comigo?
-- Não sou homem de brincadeira, quero uma passagem para Jacaré dos Homens, sertão de Alagoas.


O funcionário lembrou-se da lista de municípios e foi verificar se havia mesmo aquele tal Jacaré dos Homens.
Inúmeros municípios brasileiros possuem nomes estranhos, exóticos, desconhecidos para a maioria das pessoas. Muitos são de origens africanas e indígenas. Outras apenas pela combinação das palavras, como é o caso acima.
Jacaré dos Homens é uma pequena cidade do médio sertão alagoano, fincada na Bacia Leiteira, bem perto de Batalha. Sua população tem pouco mais de 5.000 habitantes. Em um dos logradouros da cidade há uma homenagem às origens, com tanque e jacaré atestando a história. Foi no início do Século XX quando ainda era uma povoação, que surgiu um jacaré no riacho próximo. O lugar passou a ser conhecido como Jacaré, bem como o próprio riacho. Ninguém conta de onde veio o bicho. É melhor acreditar que o crocodiliano foi colocado no riacho por alguma pessoa. Bem, visto como se deu o episódio do jacaré, vejamos o dos “homens”. Os “Peixoto” de Penedo negociavam na região e apontavam os comerciantes de Jacaré como pessoas corretas nos negócios. Chamados os “homens” de Jacaré, a expressão foi anexada.
“Distrito criado com a denominação de Jacaré dos Homens ex-povoado, pela lei estadual nº 1473, de 17-09-1949, criado com território desmembrado do distrito de Alecrim, subordinado Pão de Açúcar. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1955. Elevado à categoria de município com a denominação de Jacaré dos Homens, pela lei estadual nº 2073, de 09-11-1957, desmembrado de Pão de Açúcar. Sede no antigo distrito de Jacaré dos Homens. Construído do distrito sede. Instalado em 01-01-1959.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007”. (Fonte: IBGE). (FOTOS: PREFEITURA/DIVULGAÇÃO).


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SOBRE AMORES, LAÇOS E NÓS

*Rangel Alves da Costa

As separações, os adeuses, as brigas, as despedidas, os términos e as desavenças, jamais serão um tanto faz. Ao menos para aqueles que, mesmo fragilizados, nutriam algum sentimento.
Sentimento é laço que enlaça, é corda que prende, é arame que junta e não quer soltar. Sentimento é visgo, é carrapicho, é tessitura que larga e não solta. A pessoa pode até negar, mas depois de enlaçado por um amor se torna em bicho manso, domado.
Eis, então, o perigo. O visgo que não quer mais sair, o laço que não quer mais folgar, o cordame que não quer mais desfazer o seu nó. Coisa boa e ruim. Boa por que amar é bom demais. Mas ruim pelo sofrimento que pode causar.
Quando o laço é desfeito e cada um tem que tomar outro rumo, logicamente que vai levando consigo a dor, a angústia, a aflição e, quem sabe, já a saudade de um distanciamento tão recente.
Mentira - e absoluta mentira - de quem disser que um rompimento nada provoca, ou, como tentam fingir, apenas abre caminho para uma nova vida, para um renascimento. Não é assim não.
Toda despedida vem acompanhada de um doloroso processo de refazimento do próprio ser. Ora, o amor não é brincadeira, o compartilhamento de sentimentos não é um simples joguete, as relações não são tão fugazes assim que provoquem um tanto faz após o seu término ou até o mero distanciamento.
Quem ama não desama quando o outro dá as costas, quem ama não desapega no instante seguinte ao afastamento, quem ama não inventa “outro amor” apenas para dizer que está bem.


Quem ama, ama. Quem ama permanece amando até que as chamas do impossível amor vão se apagando e em cinzas se transformem de vez. E não de modo tão fácil como se imagina.
Mas, como dito, tudo a partir de um doloroso processo de refazimento da alma, do espírito, de todo o ser. Processo este que envolve tristeza, que chama a lágrima, que traz a saudade.
E não é covardia ou fraqueza mostrar que as sombras daquele adeus ainda permanecem. Não é covardia fazer aflorar os sentimentos e até de modo mais visível que o jamais feito no passado.
Feio é fingir, inaceitável é dizer que está bem melhor sem o outro, inadmissível é, como dito, “inventar alguém” para fingir estar amando e dizer que já deu a volta por cima. Mas nem todo mundo é assim.
Muita gente vive mesmo no e do tanto faz. O amor é feira, o sentimento é banal, o coração é sem janela ou porta. Eu sou daqueles que pensa muito diferente. Eu sou daqueles que trata o amor com o respeito que o amor exige.
Como diz a música, se é pra chorar eu choro, se é pra sofrer eu sofro, se é para sentir saudades eu não meço distância. Tudo por um amor que, ao invés de fingido, sempre vale a pena ser amado, mesmo depois do distanciamento.
Melhor não fingir sentimentos. Mesmo o sofrimento, será preciso aceitá-lo se por algo que fez bem ao coração. Não é por que o amor se vai que com ele vão também todas as lembranças boas do vivenciado.
Do contrário, qual a valia de tudo aquilo já vivido ao lado do outro? Por fim, é bom lembrar que todo coração de pedra não passa de um lenço aberto esperando ser molhado de lágrimas.

Escritor
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JANGADA - SÍMBOLO DAS PRAIAS DO SEMIÁRIDO


Por Benedito Vasconcelos Mendes

Uma das valiosas peças do acervo do Museu do Sertão, da Fazenda Rancho Verde, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, é a Jangada Nordestina, feita de seis paus roliços de piúba, sem uso de metais (pregos ou parafusos), fixados somente com tarugos de madeira. Este tipo de transporte marítimo de vela era usado em todo o litoral nordestino, principalmente, no Litoral Semiárido, onde a caatinga avança até a beira da praia (aqui não existe a frondosa Mata Atlântica, em a Região Agreste). Este litoral de chuvas reduzidas e irregulares no tempo e no espaço, de pouca nebulosidade, de ventos constantes, de baixa umidade relativa do ar, de elevadíssima insolação e alta evaporação, por situar-se próximo à Linha Equatorial, é também conhecido por Litoral Salineiro, pois daí saem 97% do sal marinho produzido no Brasil. Nos Séculos XVIII e XIX, esta única faixa litorânea seca do Brasil, que vai do Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte (nos arredores da cidade de Touros-RN), e se prolonga até o Delta do Rio Parnaíba, entre as cidades piauienses de Parnaíba e Luíz Correia, era chamada de Litoral Pecuário, porque aí estavam situadas as famosas oficinas de carne de charque, nas fozes dos rios intermitentes Jaguaribe, Acaraú e Coreaú, no Ceará, e dos rios norte-rio-grandenses Apodi/Mossoró e Piranhas/Assu e do Rio Parnaíba, que é um rio perene. Deste litoral saía carne de charque (conhecida também como carne do Ceará, jabá, carne seca ou carne do sol) para abastecer as usinas de açúcar de Olinda, Recife e Salvador e os garimpos da Chapada Diamantina na Bahia, de Goiás, Minas Gerais e de Mato Grosso. Aracati carneava de 20 a 25 mil bois por ano e Parnaíba (segunda cidade produtora de charque) chegou a exportar anualmente 1.800 toneladas de charque para várias regiões do Brasil e até para Portugal. A indústria saladeiril foi de grande importância econômica para estas cidades localizadas próximas às fozes dos rios, como as cidades cearenses de Aracati, Coreaú, Granja, Camocim e Sobral; Parnaíba, no Piauí, e Mossoró e Açú no Rio Grande do Norte.

Este litoral semiárido além de possuir as condições climáticas favoráveis à produção de sal marinho, tinha também vegetação tipo caatinga (rica em forrageiras de baixo porte e, sendo uma cobertura vegetal rala, aberta, permitia a criação de gado); tinha sal para salgar a carne; água doce nos rios e porto de onde partiam as sumacas, transportando o charque. Duas secas, praticamente, exterminaram o rebanho bovino da região semiárida e, em consequência, acabaram as oficinas de processamento de carne de charque no Nordeste brasileiro (os dois anos de seca (1777-1778) e a seca de quatro anos (1790-1793)). O aracatiense José Pinto Martins, fugindo das secas do Nordeste, foi em 1780 para a foz do Rio Pelotas, no Rio Grande do Sul, e estabeleceu a indústria saladeiril naquele estado sulino, o que deu origem a cidade de Pelotas-RS.

A jangada também protagonizou a aventura da inesquecível “Raid da Jangada São Pedro”, quando quatro jangadeiros-pescadores, da praia do Mucuripe, da cidade de Fortaleza, no Ceará, conhecidos como Jacaré (Manoel Olímpio Meira), Tatá (Raimundo Correia Lima), Mané Preto (Manoel Pereira da Silva) e Mestre Jerônimo (Jerônimo André de Souza) viajaram quase três mil quilômetros até o Rio de Janeiro em uma frágil e tosca jangada de seis paus roliços de piúba, sem nenhum equipamento de comunicação e navegação (rádio, bússola, cartas náuticas, GPS ou outro equipamento de orientação e segurança), orientando-se apenas pelo brilho das estrelas durante a noite e enfrentando o perigo das calmarias, tempestades e da presença de tubarões. Viajaram durante 61 dias até a Baía de Guanabara, onde aportaram no dia 15 de novembro de 1941 e foram recebidos como heróis pelo povo, pela imprensa e pelo Presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas.

Outro jangadeiro cearense que fez história foi Dragão do Mar (Francisco José do Nascimento), natural da vila de Canoa Quebrada (Aracati-CE), que liderou em 1881 a primeira greve de jangadeiros do Brasil, quando os grevistas impediram o embarque de negros escravos do Porto do Mucuripe para as fazendas de café de São Paulo e do Rio de Janeiro. É que naquela época ainda não existia porto para embarque e desembarque, ficando o vapor (navio) distante da praia, necessitando que os passageiros e as cargas fossem levadas até o navio de jangada. 

Pelo seu destemor, espírito de liderança e vontade de ver seus irmãos negros livre da escravidão, Dragão do Mar tornou-se consagrado abolicionista. Em 1884, ele foi ao Rio de Janeiro receber a Medalha de Ouro da Sociedade Abolicionista e nesta ocasião foi recebido pelo Imperador Dom Pedro II, oportunidade em que fez a doação ao Museu Nacional de uma jangada que ele batizou de “Liberdade”, em demonstração da luta do povo cearense em prol da Abolição da escravatura.

O litoral brasileiro, do Amapá ao Rio Grande do Sul, é úmido, com exceção desta pequena faixa litorânea, que se extende do Cabo de São Roque ao Delta do Parnaíba, que é seco e é denominado de Litoral Semiárido, Litoral Salineiro, Litoral Turístico, Litoral Camaroneiro (devido aos recentes cultivos de camarão) e, no passado, foi também conhecido por Litoral das Jangadas e por Litoral Pecuário (em virtude da criação de gado, para a produção de carne de charque).

Atualmente, as jangadas usadas pelos pescadores não são mais de paus roliços de piúba e sim de isopor revestido por tábuas de madeira.

Enviado pelo autor

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TU SABE QUEM FOI INÁCIO? O HOMEM QUE TAPEOU ANTÔNIO SILVINO?

Era uma vez... Dois primos, Inácio e Severino, brejeiros dos bons, que viajavam semanas a fio, de vinte a trinta quilômetros por dias com os burros carregados, só parando para alimentação frugal e à noite para o cochilo mal acomodado, sempre debaixo de árvores que dessem uma boa sombra, e os protegessem do sereno da noite, como os Juazeiros, Mulungus, Trapiazeiros, Umbuzeiros e Craibeiras pelo Agreste Nordestino: Brejo, Curimataú, Seridó, Cariri e Sertão com uma tropa de burros: dois de sela e doze animais de carga, com seus arreios aonde dependurados iam à malotagem, bruacas ou os sacos com as mercadorias, sempre cobertas com lonas, fora a burra madrinha, velha e sabida que encabeçava e escolhia os caminhos melhores, sempre enfeitada com fitas e um sininho característico ou mesmo um chocalho com um som bem peculiar, onde os outros animais a seguiam quer de dia ou à noite; desses burros, dois eram animais com a troçada do dia a dia: comida, redes, água, capote feito de algodão grosso, onde matava o frio e os protegias da chuvas (poncho),  panelas, fumo de corda, cachaça, trempe de ferro para cozinhar, lona, sabão e o diabo a sete. A comida se resumia, quase que carne de charque, ou carne seca (chamada de sol) farinha de mandioca, queijo de coalho, toucinho, sal, café, açúcar, arroz, temperos, feijão dos dois tipos: o mulatinho e o de corda, xerém de milho e um tipo mais fino para fazer cuscuz.

Saiam sempre de Riacho Fundo, fazenda localizada entre Esperança e Areial na Paraíba, Próxima da fazenda Arara do meu avô Manoel Henriques (Virgolino) da Silva.

 
 Inácio

Viviam nas propriedades de seus familiares, onde há muito se produzia feijão de arranca (mulatinho), fumo, que era transformado em “fumo de rolo”, pronto para ser usado, erva doce, batatinha inglesa, agave, café e mais uma finidade de alimentos para sua sobrevivência e para a comercialização.

Muitos tropeiros também partiam do Brejo Paraibano, levando estas mercadorias como também o açúcar mascavo, a cachaça e a rapadura, produzida nos engenhos do Brejo.

No entanto, esses dois meus parentes, há muito tempo só negociavam com feijão, café e fumo, lá pras bandas de Parelhas, Ouro Branco, Macaíba e adjacências no Rio Grande do Norte. Numa dessas viagens, levaram apenas feijão e fumo de corda, não conseguiram vender o feijão, pois naquele ano o inverno fora bom e quase todo mundo tinha de sobra para comer e vender. Venderam o fumo ligeiro e Severino se decidiu tentar vender os sacos de feijão mulatinho na cidade de Natal,RN.

Disse para o Inácio – Vá levar os burros descarregados pra casa, avise a família meu destino e venha se encontrar comigo por lá.

Assim o fez. Um seguiu com seis burros carregados e o outro desceu em direção a Esperança para fazer o que haviam combinado.

Inácio logo que pode, empreendeu viagem, num burro bom, meeiro que o cabra chegava a cochilar em cima da sela. Num dia e meio espirrou na capital Rio-grandense, foi direto para o local marcado. Ficou meio contrariado por não encontrá-lo, danou-se a procurar pelos arrabaldes: locais onde sempre se reuniam os tropeiros, depois de desocupados, como ainda se ver hoje nos dias de feiras nas cidades do interior, (sempre um campo de futebol, em terreno abandonado). Bares, bodegas, lupanares, casas de jogos, pensões baratas, currais onde sempre os animais esperavam, pacientemente, pelos donos, a um preço módico, com direito apenas a água e a garantia de que de lá ninguém os roubariam.

Passou-se um dia e nada do primo. Tirou onda de detetive. Começou a fazer perguntas e nada de notícias, já aperreado, passado quase uma semana, mandou avisar pra família do acontecido e que iria continuar nas buscas. Era um mistério medonho. O homem desaparecera sem deixar rastros. Como o primo tinha vontade de conhecer o norte, ele logo pensou que esse seria o rumo que tomara, para vender o danado do feijão, achando que por ali não havia encontrado negócio, seguiu viagem, e na primeira cidade, teve finalmente notícias de um tropeiro com seus burros. Era só esta notícia que tivera, podia ser mentira mais também verdade, resolveu tirar suas dúvidas, pois já faziam mais de duas semanas da separação dos dois. Seguiu em frente e nada de alcançá-lo.

Notícia aqui e notícia acolá, depois de três meses chegou à cidade de Sena Madureira no Acre, local onde estava havendo migração de nordestinos para trabalhar com a extração da borracha, ficou por lá, sempre procurando o primo e trabalhando juntamente com aquela multidão de desgarrados da sorte. Lutou durante uns três a quatro anos até que resolveu voltar sem o parente, - o mato havia aberto e fechado e engolido o homem – e, como já havia amealhado um bom dinheiro. Fez finca pé de lá e em pouco tempo chegava ao seu velho Brejo, com o coração partido com o sumiço do amigo. Não sabia como se apresentar e narrar aos familiares do desaparecido. Havia de fato enviado cartas, mas falar de cara a cara era outra coisa, olhar nos olhos dos pais matutos e dizer que seu filho não existia era outra coisa mais dura de enfrentar.

Trazia consigo bastante dinheiro e muitas armas, frutos do seu trabalho como seringueiro.

A fama de “rico” logo chegou aos ouvidos de muita gente, inclusive de grupos de cangaceiros, que naquela época perambulavam entre o Brejo e o Cariri Paraibano como: Antonio Silvino, João de Banda, Nêgo Zé Luiz de Queimadas, João Pichaco e tantos outros desocupados.

Um dia lhe contaram que Antônio Silvino e João de Banda vinham tomar o dinheiro e as armas que possuía. Mudou-se da propriedade onde vivia e foi pra bandas de Pocinhos numa fazenda chamada Amaro. Enterrou as referidas armas e escondeu o dinheiro suado que havia conseguindo na luta do ouro branco e contra a malária (impaludismo), no Norte do País, na cidade de Sena Madureira no Acre. Dormia de dia e vigiava de noite, uma bela noite chegou Silvino com sua tropa, cutucaram tudo, reviraram todos os caixotes da casa fizeram ameaças a uns moradores velhos, mataram de tiros várias galinhas e nada de dinheiro e armas.

O danado do bicho também era sabido e jurou que Antônio Silvino não tomaria seus anos de trabalho.

Mudou-se para outra propriedade de nome Algodão perto de Soledade PB; a velha raposa logo descobriu o seu paradeiro e foi bater lá, mas o cabra dizia que “seguro morreu de velho e prevenido ainda estava vivo”, procurou ainda mais se esconder e despistar os cabras que viviam envenenados por dinheiro e armas.

Cada vez mais os cangaceiros ficavam com raiva, por não achar o que não era dele e desta vez, Antonio Silvino, fez o que não era seu costume. Inácio havia ido a fazenda Arara providenciar um enxoval de um sobrinho que havia nascido deixando um menino tomando conta da casa.        
Antonio Silvino emboscou-se com sua tropa atrás de umas pedras, esperando uma oportunidade; nisso viu o menino botar a cabeça fora de casa e aí pegou o molecote, vendo mais uma vez que havia dado o bote perdido, com raiva, deu uns riscos de punhal nos couros do pequeno vigia para que servissem de recado, matando dessa vez umas vacas que estavam no curral atrás da casa.

Inácio fugiu novamente, desta vez foi se embrenhar no lugar chamado Lajedo Vermelho, onde moravam outros parentes, perto da cidade de Soledade. Dizendo sempre que o que era dele ninguém botava a mão. Dessa vez quase que os cabras o pegavam, escapou por um triz. Aprendeu a lição e parou de se gabar e contar lorotas sobre quem era e o que tinha.

Nesse ínterim havia conhecido uma moça de nome Mônica do Município de Santa Luzia, formosa e rica, namorou, noivaram e casaram. Nunca mais Antônio Silvino teve notícias dele. Comprou duas fazendas: Canoa e Poço Salgado, juntamente com seu cunhado (Anysio) e com o dinheiro que tinha guardado montaram uma desencaroçadeira (bolandeira) e prensa de algodão, comprava e vendia gado, negociava com peles de animais num pequeno curtume que tinha na fazenda, possuía caminhões e um automóvel tornando-se um dos mais importantes chefes político e poderoso do lugar. (Ribinha). Antônio Silvino levou a breca, mas não pegou o seu dinheiro nem suas armas.

Muito tempo depois, voltava da feira, montado numa burra branca e pequena, mas que voavam pelas estradas pedregosas da região, enquanto seus filhos e meu tio vinham no caminhão com as mercadorias negociadas na feira, quando - já velho – subiu os degraus da casa e sua esposa abriu a porta contente e satisfeita, se surpreendeu com um cabra, que já o vinha seguindo, o atacando pelas costas, dando-lhe uma gravata com um punhal na mão, era um monstro de forte, dominando-o totalmente, a esposa tentou socorrê-lo, mas o satanás plantou-lhe um pontapé que a deixou desmaiada, nisso entra meu tio com seus dois primos e vendo aquela cena horrível, pegou uma trave de miolo de Aroeira que estava atrás da porta, danou na nuca do assaltante derrubando-o, o bicho ainda ficou ciscando no chão e imediatamente os outros tiraram suas facas e fizeram o resto do serviço. Mas, como era dia claro, engancharam o negrão pela gola da camisa no armador e esperaram que anoitecesse, para no silêncio e no escuro da madrugada, sem que ninguém visse, pudessem carregá-lo numa rede e jogá-lo num serrote que havia distante dali uma meia légua, num lugar quase inacessível.

Conto essa história dos meus parentes, hoje, porque já se passaram mais de cem anos e os personagens já não existem mais e nunca souberam quem era o bandido que tentou roubar o velho e cansado Brejeiro Inácio.


             Túmulo de Antonio Silvino no Cemitério Monte Santo em Campina Grande PB, reformado por iniciativa própria de Sulamita de Souza Buriti (Foto).

Pescado em Grijalva Maracajá


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