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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

MARIA SULENA DA PURIFICAÇÃO

Por José Mendes Pereira

A mãe dos Ferreira tinha uma porção de nomes os quais são: Maria Sulena da Purificação, Maria Vieira do Nascimento, Maria Vieira da Soledade,  Maria Lopes da Conceição, Maria Santina da Purificação e Maria Lusulina da Purificação. E todas é uma só pessoa, isto é uma só Maria, sendo a  mais conhecida Maria Lopes da Conceição. 

Era a esposa do pacato José Ferreira dos Santos ou Silva que foi assassinado pela volante do tenente Zé Lucena. Ela nasceu no ano de 1873, no Sertão Pajeú, Serra Talhada, Pernambuco, às margens do Riacho São Domingos um dos afluentes do Rio São Francisco. Era filha de Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jocosa Vieira. Batizou-se na capela de Vila Bela de São Francisco em Pernambuco, e seus padrinhos foram: Manoel Pereira da Silva (Manoel da Passagem do Meio), irmão de Padre Pereira e dona Constância Pereira da Silva (sua segunda esposa) eram os pais de Sebastião Pereira (Sinhô Pereira, primeiro e único patrão fora-da-lei de Lampião). 

O casamento de dona Maria Lopes com José Ferreira foi realizado na tarde do dia 13 de outubro de 1894, na igreja da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio. Ele tinha 22 anos e ela tinha 21. A cerimônia foi presidida pelo cônego Joaquim Antônio de Siqueira Torres. Na pregação o Padre Quincas declarou: "- Tenho a satisfação de assistir a este enlace matrimonial de gente que conheço: boa, amiga e cristã. Faço votos ao Bom Jesus Jesus pela felicidade do casal e o futuro muito grande de seus filhos. 

O casal teve 11 filhos dos quais 2 crianças faleceram ainda pequeninas. O terceiro, ficou famoso: Virgolino, mais tarde, Lampião.  É aí, onde essa Maria com tantos nomes passou para a história.

Maria criou os filhos com autoridade dentro dos rígidos costumes sertanejos. A vida da família era pacata, até Virgolino virar cangaceiro. A situação tornou-se insuportável para ela, sendo obrigada a deixar sua casa, viver de sobressaltos, perseguições etc. O coração não suportou e Maria Sulena morreu de infarto aos 47 anos em Alagoas no dia 30 de abril de 1921. Foi enterrada discretamente no Cemitério Santa Cruz do Deserto. 

Algumas informações do livro "Lampião a Rapósa das Caatingas" de José Bezerra Lima Irmão.

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HOJE 07 DE FEVEREIRO FAZ 26 ANOS DA MORTE DE DADÁ


Por Ilana Borboleta

Hoje dia 07 de Fevereiro, minha vó Dadá faz 26 anos de falecida. Como passou tão rápido!!

Para alguns era uma bandida fora da lei, mas para mim, foi a melhor vó que Deus poderia me dar de presente.

Tenho muito orgulho dela, era uma vó carinhosa, alegre, dedicada, guerreira, eram tantas as qualidades que ela tinha.

Uma pena que muitos dos que a criticam tanto, não teve o privilégio que eu tive de conhecer o ser humano maravilhoso que ela era.

Ela me deixou com muita saudade!! 


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JOSÉ FERREIRA DA SILVA OU AINDA DOS SANTOS.

Por José Mendes Pereira

José Ferreira da Silva ou dos Santos era pai dos Ferreira, principalmente do afamado capitão Lampião. Era filho de Antônio Ferreira de Barros e dona Maria Francisca da Chaga. José Ferreira nasceu no ano de 1872 e batizou-se na capela de Vila Bela de São Francisco, e seus padrinhos foram: Manoel Pereira da  Silva Jacobina o famoso Padre Pereira e Francisca Pereira da Silva (Dona Chiquinha Pereira), que eram pais do ex-cangaceiro Luiz Padre, e ele sendo tio do ex-cangaceiro Sinhô Pereira, primeiro e único patrão fora-da-lei do capitão Lampião. José Ferreira dos Santos era casado com dona Maria Sulena da Purificação.

Seu casamento foi realizado na tarde do dia 13 de outubro de 1894, na igreja da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio. 


A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no município de Floresta, Estado de Pernambuco, surgiu a partir de um antigo oratório da Fazenda Grande, dedicado ao Senhor Bom Jesus dos Aflitos – Foto – Rostand Medeiros. - https://tokdehistoria.com.br/2016/09/03/no-local-de-nascimento-de-lampiao-e-entendendo-que-a-historia-nao-tem-donos-ela-e-de-todos/

Ele tinha 22 anos e ela tinha 21. A cerimônia foi presidida pelo cônego Joaquim Antônio de Siqueira Torres. Na pregação o Padre Quincas declarou: "- Tenho a satisfação de assistir a este enlace matrimonial de gente que conheço: boa, amiga e cristã. Faço votos ao Bom Jesus Jesus pela felicidade do casal e o futuro muito grande de seus filhos.

Manoel Pereira da  Silva Jacobina Padre Pereira e Francisca Pereira da Silva (Dona Chiquinha Pereira).

No dia 29 de junho de 1920 José Ferreira dos Santos estava debulhando milho quando foi surprendido pela volante policial do tenente Zé Lucena, que procurava seus filhos, acusando-os de bandidos. O pacato homem enquanto respondia que os seus filhos não eram bandidos a autoridade atirou sem piedade no homem que era conhecido naquelas regiões como sendo um pacato, honesto, trabalhador e bom vizinho. 

Há outra versão que afirma que: quem matou José Ferreira dos Santos o pai de Virgolino Ferreira da Silva o Lampião, foi um volante comandado pelo tenente Zé Lucena de nome Benedito Caiçara. Após a morte o tenente Zé Lucena teria o agredido fortemente e tinha exonerado da sua volante. 

Algumas informações foram colhidas do livro "Lampião a Raposa das Caatingas" do escritor José Bezerra Lima Irmão.

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O MURRO DO DIABO.

Por João Filho de Paula Pessoa

No final dos anos 20, Lampião e seu bando estavam almoçando num coito pelo Sertão Nordestino. Durante a refeição Lampião comenta que a comida está muito ruim e enquanto a velha senhora que servia ao bando estava servindo os outros pratos, Volta Seca, um garoto, se levanta e desfere um forte tapa na pobre senhora, que esta cai “estatalada” no chão. 

Corisco o Diabo Loiro ao ver aquela cena, imediatamente se levanta e senta o murro na cara de Volta Seca, que também cai “estatalado” no chão. 

Lampião diante daquela situação reclama e brada com Corisco, dizendo que o chefe ali era ele e que não permitia que nenhum cabra seu apanhasse sem o seu consentimento. 

Corisco altivamente, retruca dizendo que se Volta Seca bater novamente naquela velha senhora ele o mata. 

Lampião então diz a Corisco que se ele matar Volta Seca, ele o mataria também. 

Corisco usando do bom censo e do respeito que tinha pelo capitão, diz que, se era para ser daquela forma, preferia sair do bando e criar o seu próprio grupo. 

Lampião por sua vez, sem perder sua autoridade fala à cabroeira que Corisco está saindo do bando, e quem quiser, pode acompanhá-lo. Momento em que quatro cabras se levantam e seguem Corisco em seu novo bando, que em verdade tornou-se um dos primeiros sub-grupos do bando de Lampião. 

O Respeito, a consideração, a hierarquia e a amizade entre Lampião e Corisco foram mantidas incólumes até o fim do Cangaço. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce., 07/02/2020.


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A MORTE DO PAI E DA MÃE DE LAMPIÃO

Por Raul Meneleu
Bico de pena de Lauro Villares com retratos da época

Não querendo faltar com o respeito aos direitos autorais do Padre Maciel, mas solicitando todas as desculpas, transcrevo uma parte da vida e morte desse homem que passei a admirar, que foi José Ferreira e desta mulher que seguiu seu amado esposo, Dona Maria Lopes, em cuidados com seus filhos, e suportarem tantas injustiças, somente e grandiosamente, para proteção deles.

Também fica registrado aqui nesse blog sem pretensão, a não ser no interesse em mostrar as perseguições sofridas por esta duas almas (que Deus as tenha), fatos acontecidos e testemunhados por pessoas que o autor entrevistou.

Quando li esses dois relatos escrito por esse autor, que pesquisou por 30 anos e somente por insistência de amigos, produziu essa preciosa obra, dividida em 6 livros, atinei em registar e incentivar os amigos a lerem essa obra.

Faço isso para aqueles que não tiveram a oportunidade que estou tendo em conhecer a história desde o princípio da saga guerreira de Lampião e de seus irmãos, Livino, Antônio e depois Ezequiel (quando se deu a morte da mãe e do pai, ele era menininho), que o acompanharam nessa aventura.

Fica também registrado o meu repúdio, aos perseguidores e destruidores de uma família humilde do sertão nordestino.

Vamos à história, pelas mesmas letras, do livro 'LAMPIÃO, SEU TEMPO E SEU REINADO' de Frederico Bezerra Maciel.

MORTE DE D. MARIA LOPES
21 de maio de 1920.

Ainda escuro, entre o primeiro e segundo canto dos galos, reuniu José Ferreira a família e seus haveres — tão pouco: uma pequena trouxa para cada um! — e partiu, de mudança pela terceira vez* — “os Proscritos!”  Conduzia sua esposa enrolada em desgastado cobertor, de algodão e montada no velho e serviçal Condave. Os seis filhos atrás, olhos arregalados de pavor a que já estavam afeitos, pés no chão para não acabar com as apragatas muito gastas e remendadas, tiritando de frio apesar do exercício do caminhar.

No arrasto da vida e do destino escuros, quiném aquela noite impenetrável, arrastava José Ferreira a família e a miséria. Seguia ele na frente, trôpego, puxando o animal; na outra mão, levantada para alumiar o caminho, o butirão aceso, feito de garrafa de meio litro, com gás e grossa torcida de molambo fumacento.

Caminhava devagar como vagaroso era o seu maginar e raciocinar diante da prepotência do destino nos enigmas das ditriminações divinas. Já perto de chegar, voltou-se, consolador, para sua esposa e disse com resignação e fé:

 — "Maria, é preciso aceitar a vontade de Deus!"

Ela, desde a chegada, continuava sempre amurrinhada. Não se sabe se do cansaço da viagem, embora curta, ou porque sorrateiramente se aproximava a sua hora derradeira. O certo é que, não fossem as tramas ocultas dos perversos, atiçando perseguições e injustiças, não estaria ela assim desacabando a saúde e a vida.

* A primeira mudança da fazenda Ingazeira (Vila- Bela) para a fazenda Poço Negro (Floresta), a quatro léguas de distância; — a segunda, do Poço do Negro para a fazenda Olho d'Agua de Fora (Água Branca, Alagoas), vinte e duas léguas; — a terceira, de Olho d'Água dê Fora para a fazenda Engenho (Mata Grande, Alagoas), quatro léguas; — total: trinta léguas ou sejam cento e oitenta quilómetros! Perseguiram assim José Ferreira ponto por ponto até matá-lo! Dal em diante a família Ferreira não teria mais descanso, tornar-se-ia como Ahasvero, o judeu errante. A perseguição em cima, sem parar. Que se perseguissem os três — Virgulino, Antônio e Livino — que se lançaram no cangaço, compreende-se. Mas a familia que nada tinha a ver com isso? Perseguição inominável! A familia vagueou por Águas Belas, Bom Conselho, Juazeiro do Padre Cícero, Picos no Piauí E com Eurico de Sousa Leão caiu na diáspora!

Não se adornava a natureza sua a uma vida assim acuada por toda parte. Sentia-se desinfeliz, sem poder viver. Inda bem ali não chegara e já as perseguições recomeçaram. Não tinha vindo para ali fugida delas? E ei-las de novo! Sempre injustas, e agora grumitadas pela autoridade. Foi mesmo muito pior ter vindo para Alagoas. O arreliado e vendido comissário de Matinha de Água Branca, o famigerado Amarílio, querendo desarmar seus filhos dela para desmoralizar, corregendo as casas e desassossegando as famílias, prendendo sem motivo e torturando um inocente, botando emboscada, atacando à bala, doido para ganhar mais dinheiro matando... Nessas aflições todas, teve durante o dia dois passamentos. Botaram-lhe até vela na mão, maldando estivesse nas últimas e não resistisse mais.

José Ferreira também agoniado, com as mãos apertando a cabeça e sem encontrar canto para aquietar o juízo, exclamava: "Não! Não é possível viver aqui! Não passo mais um dia nessa terra. Vou falar com o delegado de Mata Grande, que é meu amigo, para poder ficar por lá". Diante da melhora, súbita e surpreendente, da esposa, andando embora devagarinho e pegada, comendo e conversando alegre — não sabia ninguém que era a "visita da saúde" precedendo a morte! — resolveu José Ferreira, de madrugada, selar dois burros e com seu filho João ir logo à Mata Grande trazer remédios e falar com o delegado, seu amigo. Os três filhos mais velhos, tendo espalhado antes que iriam ao brejo de Triunfo, na verdade continuavam ocultos no mato por causa da policia.

Aproveitando a manhã, alegre e de esperança, daquele dia 22 de maio de 1920, conduziram as filhas a mãe para fora, no terreiro de frente da casa, a modo de ela despairecer, tomar um arzinho e uns esquentes do sol brando. Ficou ela sentada numa cadeira, distraindo-se feliz com Ezequiel e Anália, os dois caçulinhas, a brincarem de pega no terreiro. Não demorou muito tempo, deu-lhe nela inexplicável cansaço seguido de sonolência. As três filhas, cada qual com um pote de barro na cabeça, tinham ido vexadas ver água na cacimba. Naquele momento instante, voltando, notaram que sua mãe, de repente, pendia a cabeça de lado e virava os olhos para cima, enquanto o queixo afrouxava entreabrindo a boca.

Compreenderam a evidência do desenlace...

Num sufragante, Virtuosa segurou a mãe pelas costas, levantando-a um pouco para Angélica retirar a cadeira. Ali mesmo foi ela deitada, a cabeça no colo de Virtuosa que se Sentara no chão. Posição essa mais favorável para ajudar a doente a desafogar o peito e a respiração, fazendo passar a agonia. Pela terceira vez — não sabendo que era a derradeira, Mocinha vigiou a vela benta e lhe colocou acesa na mão.
Ezequiel e Anália agarraram-se ao regaço da mãe, chorando e chamando:

— "Mamãe! Querida mamãe!"

Talvez para sua consolação, nesse instante derradeiro, tenha ela ouvido dos lábios infantis de seus caçulas essa doce palavra que traduzia inteiramente tudo o que ela fora na vida — mãe!

O semblante sereno, o olhar fugindo para a eternidade, tendo diante de si a imagem do Senhor Crucificado apresentado por Angélica, que a custo repetia entre soluços:

— "Meu Jesus, misericórdia”, entregou sua alma ao Criador.

— "Sem o mínimo estremeço o modo de um passarim!"

Mocinha apagou a vela. Soprava uma aragem macia e refrescante aliviando aquelas almas transidas de dor... Uma poeira de luz emoldurava aquele quadro de tragédia em terra estranha e de exílio... Lá para o meio-dia chegaram José Ferreira e João, simultaneamente com os três chamados de seus esconderijos. Encontraram a morta deitada numa cama de vento, amortalhada, com os lábios sorrindo para a morte, de vez que há muito deixara de sorrir para a vida!... Na dor e na lágrima lamentaram todos a desdita. Os três filhos perseguidos, às pressas colheram cravos amarelos e bugaris, enfeitaram o leito da mãe defunta e se esconderam de novo. Não podiam ficar velando.

Somente à noite, assim mesmo cismados e precavidos, voltariam para o velório. A família e vizinhos entre lágrimas e soluços de todos, inteiraram a noite fazendo a sentinela com os cânticos lúgubres das incelenças e o ofício das almas.

No dia seguinte domingo, pela manhã, conduzida numa rede pelos filhos, que se revezavam, foi feito o enterro, estrada a fora rezando, e sepultada numa cova do cemitério do povoado de Santa Cruz do Deserto*, após lhe terem o esposo e filhos beijado o rosto frio. Três coroas, lembranças do esposo, dos filhos e dos parentes, além de muitos buquês levados pelos acompanhantes, floriam a sepultura, que mais parecia um canteiro de festa, e de vida.**

* Povoado de Santa Cruz do Deserto no município de Mata Grande (cfr. cap. 24).

** Enviado, cor urgência, de Engenho para Vila Bela, um pombeiro, a fim de avisar aos Ferreiras das ribeiras do Pajeú e do São Domingos esta morte. Dona Mariquinha Ferreira, filha do Cândido Ferreira e prima de Virgulino, ao receber a dolorosa notícia — e ela bem se recorda que ainda na penúltima semana de maio de 1920 — exclamou, os olhos rasos de lágrimas: — "Tá! Maria Lopes morreu..." E ela mesma afirma que José Ferreira foi morto trinta e oito dias depois.

MORTE DE JOSÉ FERREIRA (29 de junho de 1920)

Penúria...

O pobre do José Ferreira, com tanta coisa amarga e trágica sem trégua se sucedendo, ficou desatinado, abatido, sem gosto pra nada na vida, curtindo os penares da dor e da saudade e os sobressaltos de uma desgraça ameaçadora e iminente. Chamou os três filhos que continuavam ocultos, e lhes disse: 

— "Vocês aqui não podem mais ficar. Vão para Pernambuco que depois eu tomo o mesmo caminho". 

Não podia, de súbito, se afastar de perto da sepultura da finada esposa. Seguiram os três filhos para Espírito Santo do Moxotó, onde ficaram; trabalhando na propriedade de seu Terto. José Ferreira vendeu os dois burros para comprar roupa de luto para todos de casa.

A diligência do diabo...

Cartas do delegado de Água Branca — comprado por Zé Saturnino — ao Chefe de Polícia de Alagoas, carregando em cores os assucedidos mais recentes: a revolta dos Porcinos; a invasão de "perigosos bandidos" vindos de Pernambuco, onde cometeram "muitos crimes"; o caso do soldado Jagunço em Mata Grande; a desfeita à polícia em Água Branca quando ela, "com bons modos", procurou desarmar aqueles "criminosos bandidos", os quais ao depois desfeitearam o comissário de Paricônia;. um "bandido, ainda jovem, comprando armas"; "a ameaça e o terror ganhando as populações"... Alarmado diante de tudo isso, resolveu o Governo cortar pela raiz todos esses males. Para tal, determinou ao delegado de Viçosa, 2° Tenente José Lucena, famoso por excessos de severidade, fazer uma diligência por aquelas bandas conflitadas. Ao chegar em Água Branca, foi Lucena inteirado de tudo o que ocorrera. Inclusive por carta de Zé Saturnino tivera conhecimento do nome dos "três perigosos bandidos e criminosos": os irmãos Virgulino, Antônio e Livino, além de Antônio Matilde, que, armados, haviam descido do Navio para aquele município alagoano. De primeiro, dirigiu-se Lucena à fazenda Chupete, para perguntar ao Capitão Sinhô pelos irmãos Ferreiras. — "Despachei eles para o Coronel José Abílio, de Bom Conselho; não costumo ter bandido comigo" — descartou-se o capitão. Carecia não se inocentar. Lucena não ofendia coronel e protegido da política de cima. Mas somente cabra solto, isolado ou de grupo. Seguiu, então, Lucena, na pista deles, em direção de Santa Cruz do Deserto.*

* Da fazenda Chupete seguiu Lucena no sucaro dos Ferreiras guiado por Zé Batista Quirino e outros mais da mesma família. Zé Batista sabia exatamente para onde se havia mudado o velho José Ferreira. Tinham os Quirinos transações com os Ferreiras em razão do carguejamento de mercadorias. A aproximação dos Ferreiras com os Marcos, inimigos dos Quirinos, levou estes à denúncia de traição. Além de seus soldados, compunham a tropa de Lucena alguns cachimbos, juntamente com Amarílio e os Quirinos.

O assassínio...

Na casa de José Ferreira, só tristeza. Tinha ele ido ao cemitério e não compreendia por que desta vez chorara muito mais do que das outras. Revelara aos filhos o que dissera à falecida, já na cova enterrada, que não havia mais sentido para ele continuar a viver. Queria ir pra junto dela. Repassou, de minúcia e fagueiro, os bons tempos de antanho, de paz e ternura. Recordou particularmente a última festa; do Senhor São João, há dois anos atrás, em que a finada, tão bonita e saudável, tão vistosa e alegre, dançara com ele... Hoje, era ele mais morto do que ela morta! No dia seguinte, 29 de junho, terça-feira, precisamente 38 dias depois da morte de D. Maria Lopes, de manhãzinha, o tempo chuviscoso, ele com mais João e as três meninas fora adjutorar, como alugados, os trabalhos de um roçado vizinho, a modo de trazer para casa alguma coisa de ganho para o de-comer carecente. Voltara logo para casa José Ferreira, cansado e escanchado em Condave, trazendo dependurados, de cada lado das ancas do velho burro, dois sacos contendo quatro mãos de milho plantado em São José e colhido agora para o São João.*

* A mão de milho em Alagoas: 25 espigas não debulhadas; em Pernambuco: 50.

Ao chegar no terreiro de frente da casa, bem perto do lugar em que a esposa falecera, apeiou-se. Correram pressurosos e choramingando de fome os dois menores e lhe tomaram a bênção. Abraçou-os o pai, afetuosa e longamente, acarinhando e beijando. Em seguida tirou os sacos e derramou as espigas num balaio. De cócoras, apanhava as espigas, tirava a palha, que avoava para Condave comer. Debulhava o milho numa gamela para depois fazer xerém no pilão, facilitando assim o trabalho das meninas que, ao regressarem, era só preparar o angu. O qual dessa vez não seria comido puro. Tinha ele comprado um bom taco de carne de bode e um litro de farinha. O "café" (almoço) seria sustancioso.

Estava José Ferreira dessa maneira entretido quando, escornetando a concha da mão na orelha, ouviu um tropel. Com mais, estava sua casa cercada de soldados. A uma distância de três braças gritou Lucena para o velho José Ferreira: 

— "Cadê os seus três filhos bandidos?" 

Ferido em seus brios e honra, José Ferreira retrucou, com todo o desassombro e altivez, alto, firme e pausadamente: 

— "Não, sinhô! Bandidos, não! Meus filhos não são bandidos. Querem forçar eles a ser. Mas eles são é home!..." 

— "É assim que responde a um oficial, velho malcriado, cachorro da mulesta" revidou furioso Lucena.

E, sem mais, descarregou ele próprio a pistola no peito daquele pobre velho, pacífico e indefeso, que caiu, por estranha coincidência, ali, no mesmo chão onde falecera sua esposa. Na queda, de chofre e de bruços, por cima do balaio, o corpo esparramado, o braço direito estirado segurando na mão um cabucé, torceu o rosto de lado e balbuciou: — "Coma... coma..."

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Há uma versão que afirma que quem matou o pai de Lampião José Ferreira da Silva foi o volante Benedito Caiçara, e que o José Lucena deu bravo, querendo matá-lo, porque não era o pai que eles procuravam e sim, os filhos de José Ferreira. (José Mendes Pereira".

Pareceu, nessa única palavra, que a derradeira preocupaçao de seu coração paterno era desafaimar 'as crianças. Elas, as crianças, apavoradas, dispararam, aos berros, por dentro do mato. Um soldado para agradar ao comandante deu na direção delas um tiro de fazer medo, provocando gargalhadas nos seus companheiros de selvageria. Lucena vasculhou a casa de Zé. Ferreira, encontrando de arma apenas um quicé!

Ao retirar-se notou dois homens ,vindo, desconfiados e irriquietos, na sua direção. Sem saber nem perguntar quem eram, ordenou uma descarga de fuzil, matando um e ferindo o outro, que correu. Uma senhora e u'a moça que vinham a certa distância ficaram levemente feridas. Não era ele o senhor absoluto da vida e da morte?!

Os dois eram o velho Fragoso e seu irmão Zequinha. Aquele, viúvo e dono da fazenda Engenho, onde, por caridade, cedera uma humilde casa de morador para José Ferreira ficar até que resolvesse seu destino. A senhora era a dona da casa e a moça sua filha. Atentando nos disparos, tinham ido ver, desarmados, o que acontecia, sendo seguidos pelas duas mulheres.*

* É absolutamente autêntica, _ com todos os seus pormenores, a descrição. 'assassínio doi. pobre; manso e indefeso velho José Ferreira., assim como das outras circunstâncias. Em vez de debulhando milho, alguém fantasiou José Ferreira tirando leite de uma vaca ...

Vez o da polícia, para justificar seus crimes: alegar que houve "resistência". Assim fez Lucena: O cúmulo do grotesco: o alquebrado velho José Ferreira enfrentando sozinho uma formidável volante e "tiroteiando" com uma quicé, isto é, com um toco do facas quando João Ferreira, filho da vítima, em entrevista, usou a palavra "tiroteio", entendeu dizer que houve tiros de um lado, o da volante.

Quase profético o Padre Epifânio Moura, vigário de Água Branca: — "Esse crime vai trazer muita desgraça para o sertão". O povo: — "Mataram dois cidadãos de bem só pru gosto de matar!" — "É do esperar que não fique nisso, não". E, de fato, o povo não se enganou. Tão revoltante crime lançou Virgulino e seus irmãos no cangaço. Criou Lampião! A situação piorou. Diante do ressurgimento do cangaceirismo, agora em forma diferente, recrudescido e desafiador. Chamou o Governador alagoano aquele homem de sua confiança, o único, a seu ver, que enfeixando poderes absolutos e indiscriminados, poderia liquidar, de um golpe, todo aquele mal, muito embora enegrecendo o seu nome e o da História. Este homem: — Segundo Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão. Esteve confabulando no Palácio do Governo, em Maceió, no dia 4 maio de 1921. Depois destituído da delegacia policial de Viçosa, iria com carta branca, acabar com o banditismo em todo o estado. E assim e vexado com uma poderosa volante de vinte e quatro homens, deixaria no dia 10 de maio, a cidade de Palmeira dos Índios “na direção do sertão.” A ação repressiva de Lucena chegou a ser "desumana", conforme ele próprio reconheceu. (Cfr. Adendo ao capítulo 45.)

A desolação da abominação! *

Alarmados pelos tiros, João Ferreira e as três irmãs abalaram para casa.
No maior desespero reviraram o cadáver, fecharam-lhe os olhos e o conduziram para dentro de casa. 

— "Mas, cadê Ezequiel e Anália?" 

— "Onde estavam escondidos?" 

— "Ou será que foram roubados?" — perguntavam-se angustiados uns aos outros, noutro desespero somado. 

. Feito loucos, saíram João e Angélica às procura deles, chamando-os repetidamente com toda a força dos gritos. Encontraram, enfim, os coitadinhos, com bem cem braças, num estado horrível, assombrados e atordoados, rasgados dos espinhos e tocos de pau, sujos de terra, quase sem mais falar de tão roucos, caídos no chão, semimortos de fome e pavor! Tragédia de rara concepção ou de difícil visualização nesse quadro desumano de miséria e barbaridade! — "Pareciam (as crianças) dois filhotes de ema perdidos no mato, piando de fome!..." Atirados os irmãos aos ombros, retornaram às pressas. No entanto, o grave da situação era que ninguém cia vizinhança, com medo de Lucena, queria se aproximar, para amortalhar e sepultar as vítimas. João Ferreira mandou comunicar o triste acontecido ao delegado de Mata Grande, Maurício de Barros** que atendeu prontamente e pessoalmente veio ao local, providenciando, por sua conta e risco, o enterro, mas de um modo tão atabalhoado, dadas as circunstâncias de terror, que João Ferreira nem viu quando os corpos, altas horas da noite, candeeiro aceso na frente, foram levados! - "José Ferreira também era filho de Deus e não bicho para os urubus..." — dissera Maurício, essa destemida autoridade e mais tarde integrante da polícia pernambucana. Sem que, ninguém da família assistisse, José Ferreira foi sepultado numa cova do cemitério de Mata Grande, na manhãzinha do dia 30 de junho de 1920, a última quinta-feira do mês.***

Unidos à mesma gleba do Pajeú, que os viu nascer, unidos numa vida de vinte e seis anos de amor conjugal; unidos ao mesmo chão do Moxotó em que expiraram o último alento, deveriam seguir o mesmo destino de continuar diante de Deus.

* “Naquela época, culto sacerdote-vigário, corajosamente vergastou do púlpito e censurou severamente, condenando esses abomináveis fatos, tomando por tema de confronto as Sagradas Escrituras no famoso texto, cap. 9, v. 27, do profeta Daniel”: — "O maldito Coronelismo, simbolizado no deus pagão-político, prepotente, cruel e desumano foi erigido sobre o altar da Justiça — divina por natureza — sob à qual procuravam se abrigar os humildes e ofendidos, os pobres e fracos, cuja vida é um perpétuo holocausto de seus direitos sagrados! Profanação, na linguagem bíblica chamada de "abominação da desolação" ou desoladora e horrorosa abominação".

**. Maurício Vieira de Barros. Lampião, a 29 de novembro de 1930, o prendeu juntamente com um soldado, nas Negras (Águas Belas), quando ainda estavam deitados e dormindo. Levou-os presos até Pau Ferro (hoje Itaíba) município de Águas Belas. A porta da casa de Maurício, disse Lampião: — "Vou matar o soldado. Você não, porque lhe devo um grande favor: enterrou meu pai! Lhe poupando a vida, paguei a dívida. Se continuar a me perseguir e eu lhe pegar você não tem jeito, não. Morre, visse?!" Apesar das súplicas de Maurício, Lampião matou ali mesmo o soldado e soltou o prisioneiro. Maurício havia verificado praça na Polícia Militar de Pernambuco, chegando a ser sargento. Foi comandante de volante. Era perverso, cometendo muitos crimes. Etelvino Lins, Interventor do Estado, expulsou-o da polícia. Chamava a atenção seu bigodão, Ainda vive com seus noventa anos.

*** Defronte da igreja de Santa Cruz do Deserto visitou o autor deste livro um velho, em sua casa, o qual ajudou no enterro e, sem registro de óbito, no sepultamento de José Ferreira em Mata Grande, território da jurisdição policial do delegado Maurício Vieira de Barros. O nome do velho, o autor não guardou, mas tem como testemunhas o Dr. Tarcísio de Freitas então engenheiro chefe do DNOCS, em Palmeira dos Índios.


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HOJE A ENTREVISTA FOI COM O "BENJAMIN ABRAHÃO" DO FILME "BAILE PERFUMADO"





Duda Mamberti e Geraldo Junior

Foi para mim uma grande satisfação entrevistar e estar ao lado do grande ator Duda Mamberti que deu vida ao polêmico sírio-libanês, Benjamin Abrahão Calil Botto, no filme "Baile Perfumado". Benjamin Abrahão, antigo ajudante de ordens do Padre Cícero do Juazeiro/CE, que esteve presente em vários momentos importantes da história do Ceará e do Nordeste e foi o responsável pela única filmagem existente do bando de Lampião, além de produzir dezenas de fotos de excelentes qualidades para os padrões da época, fotos que permitem atualmente termos um melhor entendimento a respeito da vida e do cotidiano dos cangaceiros liderados por Lampião.

Segundo o escritor e pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, Benjamin Abrahão esteve com o bando de Lampião em três ocasiões, sendo a primeira no ano de 1935 e as demais nos anos de 1936 e 1937. Em abril do ano seguinte (1938), Benjamin Abrahão foi assassinado na localidade Pau-Ferro (Atual Itaíba/PE) com 42 facadas.

Durante a visita realizei uma formidável entrevista com o ator e espero em um curto espaço de tempo disponibilizá-la no Canal (YouTube) "CANGAÇOLOGIA", para que todos vocês possam conhecer algumas curiosidades sobre o filme "Baile Perfumado" e parte do elenco.

Ao Duda Mamberti o meu sincero agradecimento pela confiança de abrir as portas de sua casa para me receber e pela entrevista concedida.

Breve estarei publicando o vídeo com a entrevista completa.
Grato.



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UMA ÚLTIMA PROSA ANTES DO ANO NOVO... POR MANOEL SEVERO

Pedro Luis, Manoel Severo e Aderbal Nogueira

Mesmo em dias de intensas atividades; compromissos naturais de final de ano; ainda conseguimos tirar um tempinho para um último "dedinho" de prosa com os confrades do Cariri Cangaço-GECC em Fortaleza. Na noite desta quarta-feira, dia 21, no restaurante Vignoli, os companheiros Aderbal Nogueira, Pedro Luis, Afranio Mesquita e Heldemar Garcia juntamente conosco, tivemos a oportunidade de "esmiuçar" os úlitmos capítulos do universo do tema cangaço, notadamente os assuntos da "hora": Sila, Pedro Moraes, Luis Pedro, enfim.

Nada como uma boa mesa, boas companhias, para proporcionar um bate papo sem igual, e quando o tema é cangaço, certamente uma noite só sempre será pouco. Os temas além de Sila, Luis Pedro, Mata Sete e Cariri Cangaço 2012, versaram também sobre vários aspectos periféricos do mundo do cangaço, sob o ponto de vista de nossos protagonistas da noite.

jornalista Heldemar Garcia

 "...mesmo como leigo; não sou pesquisador, nem escritor;  acho que não se pode tentar entender ou explicar o cangaço, a partir de uma visão simplista, sem considerar o ambiente e todas as condições sócio-econômicas da época, os conceitos e padrões éticos que regiam aquelas pessoas..."

Promotor de Justiça Pedro Luis

"...sob o ponto de vista jurídico, vamos encontrar muito "pano para as mangas" e muitos pontos para a polêmica, como por exemplo: a forma como se davam as abordagens das volantes ou ainda o destino de algumas jóias, de reconhecida origem e pertencimento, logo depois da morte de Lampião..."

Um dos pontos ressaltados pelos confrades, foi justamente a importância de instrumentos de integração entre aqueles que pesquisam e discutem o tema, como por exemplo; os blogs, os sites e os próprios encontros entre os pesquisadores da cidade, como é o caso do Cariri Cangaço-GECC com suas reuniões mensais e de várias regiões, como é o caso do encontro que também já se configura como mensal, entre o Cariri Cangaço-GECC e o Grupo de Natal, além naturalmente, dos Congressos e Seminários pelo Brasil afora, promovidos e ou apoiados pela nossa SBEC - Sociedade Brasielria de Estudos do Cangaço. Momentos importantes para aprofundamento, novos conhecimentos e acima de tudo o congraçamento entre a grande família que nos acostumamos a chamar: Família Cariri Cangaço.

Documentarista Aderbal Nogueira

"...quem conheceu a Sila, sabe que ela não ia falar aquelas barbaridades... o livro que mostra Sila com mais fidelidade é o livro do Daniel Lins, que foi feito sem pressa, na calma..."

Afrânio e Heldemar Garcia

No mais foi a celebração de mais um encontro dos amantes das coisas de nosso chão, de nosso nordeste, nossas origens e tradições e a certeza de um ano de 2012 cheio, intenso mesmo, de realizações; encontros, seminários, lançamentos de livros, filmes, documentários, enfim.

 E começaremos com a grande
Caravana Cariri Cangaço-GECC no Carnaval, serão mais de 140 horas de aventura, mais de 3.000 km de chão, e muita emoção, fique atento e saiba tudo através de seu blog:



A V I S O..!


Por Manoel Severo

Pedro Luis, Manoel Severo e Aderbal Nogueira


Estimados amigos; ATENÇÃO!

Tivemos uma questão de dificuldade logística em nossa data do Cariri cangaço Paulo Afonso; explico: na data anterior (01 de maio) teríamos dificuldades com relação a hospedagens em função de um evento esportivo; reunindo motociclistas de todo o Brasil, agendado ha um ano; daí para evitarmos desconforto para nossos convidados e amigos, estamos marcando uma nova data para nosso Cariri Cangaço em Paulo Afonso, AGORA CONFIRMADÍSSIMO para a data: 11 a 13 de Junho de 2020, aproveitando o feriado de Corpus Cristi. Ate lá, será uma alegria tê-los conosco. 


AVANTE!
Manoel Severo Barbosa (curador do Cariri cangaço).


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