Por Raul Meneleu
Essa é uma história que as populações, o povo das cidades por onde eles passaram, ou por suas redondezas, nunca deveriam esquecer. Tem que ser estudada nas escolas das vilas e cidades em sua grade curricular de História.
Por Raul Meneleu
Essa é uma história que as populações, o povo das cidades por onde eles passaram, ou por suas redondezas, nunca deveriam esquecer. Tem que ser estudada nas escolas das vilas e cidades em sua grade curricular de História.
Por Raul Meneleu
Por No Rastro do Cangaço
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UM FORTE ABRAÇO!
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Por Raul Meneleu
Quando Lampião
à Bahia chegou, com muito dinheiro, iniciou negócios com o coronel
Petro, forte fazendeiro baiano que possuía mais de trinta fazendas na região e
era chefe absoluto da política local e em entrevista arranjada pelo padre
Emílio Moura Ferreira pároco da cidade de Glória, ficou muito satisfeito com
Lampião e colocou à disposição dele sua fazenda Três Barras, perto de Patamuté,
município de Curaçá, para passar o tempo que quisesse. Quase quatro meses de
intensa atividade desenvolveu Lampião nessa fazenda.
Ali Lampião
conquistou os habitantes das caatingas, fazendeiros e moradores, vaqueiros e
agricultores, através do dom de sua simpatia, fala maneirosa, fineza de trato,
cavalheirismo, "extrema bondade" — politica essa, inteligente e
sagaz, de conquista da população, objetivo-base de sua Grande Guerra de
guerrilhas.
Prodigalizou
caridade para com os desafortunados e humildes, não lhes deixando faltar comida
e ajudas pecuniárias. A todos atendia, com prontidão e solicitude, em casos de
saúde: partos, estrepadas, mordidas de cobra... aplicando seus conhecimentos de
medicina rústica e à base de raízes. Bom vaqueiro que tinha sido, era procurado
para curar bicheira, pisadura no lombo, mal triste; extrair bezerro entalado...
e por aí em diante, usando a medicina popular do sertanejo.
Dizia o
vigário de Glória, padre Emílio Ferreira: — "Lampião era melhor
conselheiro do que muitos vigários!" Recomposição de casais desajustados,
desfazimento de inimizades, respeito e obediência dos filhos... uma infinidade
de casos assim, que ele, atenta e pacientemente, ouvia e depois dava o conselho
"certo e com toda a clareza e segurança". Não somente de
“vigário-conselheiro” mas também de juiz que fazia as vezes. Todos os litígios
lhe traziam, confiantes na certeza do julgamento sereno e da decisão justa:
limites duvidosos de terras, traçados de cercados e travessões, direito às
cacimbas de beber e de gado, uso comum de caldeirões, acordos entro parceiros
para construção de barreiros e açudecos; indenização dos prejuízos nos roçados
ocasionados pela miunça destruidora, prisão e expulsão dos ladrões de bode,
solução das desonras pelo casamento imediato, repressão aos trajes femininos contrários aos padrões da época, pagamento dos fiados nas lojas, bodegas e
botequins, remuneração de salários justos aos trabalhadores
alugados... - Tudo isso confirmado pelo cangaceiro Zé Sereno,
testemunha de tantos fatos: "Certo rapaz se queixou a Lampião que o
dono da fazenda não queria pagar aos homens do eito. Lampião foi
à reuniu os trabalhadores e obrigou o fazendeiro a pagar. Na saída,
disse-lhe Lampião que não queria saber que algum dos trabalhadores fosse
mandado embora..."
Era assim.
Lampião "Gostava das coisas justas e respeitava quem merecia
respeito", testemunhou o cangaceiro Zé Sereno.
Via-se em
Lampião o homem de muita fé, e religioso fervoroso. Todas as noites, antes das
festanças, promovia rezas e novenas a vários santos. Não perdia sentinela de
defunto, na qual exigia respeito. Suas frases prediletas e constantemente repetidas:
"Querendo Deus!" e "Confie em Deus!".
Tomou-se a
fazenda "centro de eternas festas". Inculcava Lampião a alegria de
viver. Dizia: "A vida é curta. A gente precisa de distração boa!"
Cocos, xaxados, baiões... Danças: quadrilhas, maxixe, e principalmente o
xote... Contradanças: valsa, polca...
Desafios,
repentes, violeiros, cantadores... Tudo isso dentro do respeito. Os
contraventores eram advertidos ou expulsos. Pelo que, todo o mundo participava
das festanças: coronéis, vaqueiros, roceiros, os rapazes e a meninada e as
famílias...
Nas
vaquejadas, e principalmente na pega de boi, revelava-se ele o vaqueiro exímio
e famoso do Pajeú, tornando-se inigualável nos tabuleiros baianos.
"Como O
HOMEM, não tem aqui, na Bahia, quem corra no mato. Só vendo para
crer", dizia-se, a miúdo, naquela época: "Quem quiser dançar
xaxado, Valsa lenta ou baião, Corra, venha apressado Pras festas de
Lampião".
Sim, seu nome
próprio, "Virgulino", e seu apelido de guerra, "Lampião",
desapareceram diante das manifestações inequívocas de sua bondade e
benemerências.
Ficou
conhecido apenas como "O HOMEM!" E a palavra "homem" para o
sertanejo sempre significou o máximo do elogio. Assim, todos proclamavam
convictos e reconhecidos: — "O HOMEM é um justiceiro!" E até
popularmente era canonizado:
- "O
HOMEM' é um santo!"
A voz
consagrante do povo era propalada pelos cantadores ao pinicar das violas bem
ponteadas:
— "O
SANTO LAMPIÃO Era um home bem devoto. O SANTO LAMPIÃO Era um home bem
querido".
Apenas com
diferença de área geográfica, tornou-se para toda aquela gente dos sertões
baianos O MESMO QUE FORA O PADRE CÍCERO, no Juazeiro, para seus crentes. E qual
o segredo desse fascínio irresistível e poder de conquista que Lampião possuía?
— “Só porque
LAMPIÃO ERA BOM!" afirmou Manuel Gonçalves de Azevedo, cidadão probo,
agente corretor aposentado da Companhia de Seguros São Paulo, e que conheceu
pessoalmente Lampião.
Ainda, segundo
ele, Lampião, "não era aquele de quem se dizia com exagero: mau,
sanguinário..." Com a simpatia assim diplomaticamente conquistada dos
sertanejos, foi fácil ao sagacíssimo Lampião a eficiente e perfeita organização
da rede de coiteiros.
Era assim
Lampião, de personalidade contraditória. Ao mesmo tempo, valente e covarde,
frio e sentimental, calculista e violento. Comportava-se com excepcional
bravura para, às vezes, depois de vencer e dominar o inimigo, sangrá-lo
friamente.
Certa vez
brigou com um cangaceiro do bando chamado Alazão e o expulsou do bando. O
costume quando expulsava alguém do bando, era retirar-lhe os "arreios do
cangaço" ou seja, armas, cartucheiras, munições e os enfeites que
carregavam. Chamavam isso de "quebrar o orgulho do cabra".
Quando a ordem
foi dada, Alazão dirigiu-se diretamente a Lampião dizendo: "Venha quebrar
você mesmo se é homem, "seu" covarde!"
Um dos cabras,
apontando-lhe a arma para lhe dar um tiro olhou para Lampião, aguardando um
sinal para mata-lo e sem se alterar Lampião calmo ordenou ao cabra: "Baixe
a arma! Deixe ele ir com "orgulho" e tudo. Um cabra como esse não se
mata. Fica no mundo pra tirar raça de macho."
Era assim
Virgulino Ferreira da Silva. Tinha rasgos de herói e saídas de poltrão.
Inteligente e astucioso, era um homem de vocação perdida.
Já escrevi
por aqui, se aquele talento cru fosse devidamente aproveitado,
Lampião poderia ter sido, não simplesmente um bravo vaqueiro do Pajeú ou um
amaldiçoado chefe de cangaço, mas poderia ter sido um poeta, músico e artista,
qualidades que revelou em seus versos, tocando sanfona, confeccionando belos e
artísticos objetos de couro.
Poderia ter sido um bispo católico, ou quem sabe um general brasileiro, pois em seus combates que travou, demonstrou acentuada capacidade de estrategista. Não foram poucas vezes em que empregou planos bem arquitetados e bem executados para enfrentar e desestruturar seus inimigos. Possuía tato e qualidades de comando. Era na verdade um estrategista nato.
Fontes:
Lampião e seus cabras - Luiz Luna
Lampião, seu tempo e seu reinado - Frederico Bezerra Maciel
https://meneleu.blogspot.com/2014/12/o-homem-virgulino-ferreira-lampiao.html
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O artigo de Raul Meneleu, publicado em 2020, traz uma contribuição fundamental para a historiografia do cangaço ao abordar a questão da data de nascimento de Maria Bonita, figura emblemática da cultura nordestina. O texto combina rigor metodológico, crítica histórica e uma narrativa envolvente sobre os desafios da pesquisa em fontes primárias no Brasil. Abaixo, destaco os principais pontos de análise:
1. Correção
Histórica e Método Científico
O artigo centra-se na descoberta do pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, que, com apoio do padre Celso Anunciação, localizou o registro de batismo de Maria Bonita na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo (BA). O documento atesta seu nascimento em 17 de janeiro de 1910, invalidando a data tradicionalmente difundida de 8 de março de 1911. Meneleu ressalta a importância de "fontes primárias" (como o batistério) sobre relatos orais, muitas vezes imprecisos. A crítica a autores que perpetuaram erros sem comprovação documental reforça a necessidade de rigor na pesquisa histórica.
2. Colaboração
Interdisciplinar
A parceria entre Voldi e o padre Celso ilustra como a colaboração entre pesquisadores seculares e instituições religiosas pode revelar dados essenciais. A Igreja Católica, detentora de arquivos históricos, muitas vezes subutilizados, emerge como guardiã de memórias cruciais, ainda que sua conservação seja negligenciada. O artigo aponta para a urgência de políticas de preservação documental, especialmente em regiões onde a história é perpetuada por registros frágeis e esquecidos.
3. Reconhecimento
Acadêmico
Meneleu destaca o aval de nomes consagrados, como Frederico Pernambucano de Melo e Antônio Amaury Correia de Araújo, que revisaram suas posições após a descoberta de Voldi. Esse movimento demonstra a dinâmica saudável da academia, onde revisões são possíveis diante de novas evidências. A menção à correção na segunda edição do livro de Amaury (2012) enfatiza a ética intelectual de reconhecer equívocos.
4. Cultura
e Identidade
A data incorreta de 8 de março, associada ao Dia Internacional da Mulher, revela como mitos podem se sobrepor à realidade por conveniência simbólica. Meneleu critica essa romanticização, defendendo que a história deve priorizar fatos, mesmo que menos "poéticos". A correção não diminui Maria Bonita, mas a reinsere em seu contexto real: uma mulher que morreu aos 28 anos, após uma vida marcada pela violência do cangaço.
5. Desafios
da Pesquisa no Brasil
O artigo denuncia a falta de apoio institucional a pesquisadores independentes, que investem recursos próprios para preencher lacunas históricas. A menção à Wikipedia, que ainda reproduz a data equivocada, expõe a lentidão na atualização do conhecimento público. Meneleu faz um apelo implícito para que entidades culturais e digitais (como enciclopédias online) revisem seus conteúdos com base em fontes atualizadas.
6. Perspectivas
Futuras
Meneleu sugere que a descoberta do batistério abre caminho para novas investigações, como a possível indefinição sobre a paternidade de Maria Bonita (já que seu registro menciona apenas a mãe, Maria Joaquina). Além disso, a certidão da irmã Antônia reforça a necessidade de explorar arquivos paroquiais para reconstituir trajetórias familiares e sociais do sertão.
Conclusão
"Reminiscências
de Maria Bonita" não é apenas um artigo sobre datas, mas uma reflexão
sobre memória, poder e esquecimento. Raul Meneleu celebra a persistência de
pesquisadores como Voldi, que desafiam narrativas consolidadas, e alerta para o
risco de perdermos fragmentos da história pela negligência com acervos. Ao
corrigir o nascimento de Maria Bonita, o texto restaura não apenas uma data,
mas a integridade de uma figura que resiste ao apagamento — seja pelo descaso,
seja pela mitificação.
Recomendações:
- Atualização
imediata de verbetes em plataformas como Wikipedia.
-
Digitalização e preservação de arquivos paroquiais.
- Incentivo a
pesquisas interdisciplinares que unam história, sociologia e instituições
religiosas.
- Incorporação das descobertas de Voldi em currículos educacionais e produções culturais.
Este artigo,
assim, serve como um modelo de como a micro-história pode iluminar questões
macro: a luta pela preservação da memória em um país onde a cultura muitas
vezes é relegada a segundo plano.
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Por Elson Godoi
Mais ou menos
entre 1896 e 1897, um grande número de sertanejos, liderados por Antônio
Conselheiro, fundaram a comunidade de Canudos no interior da Bahia. Canudos
ficava perto de um monte chamado ‘Morro da Favela’.
O morro assim era chamado porque lá cresciam muitas favelas, plantas
euforbiáceas espinhosas, xerófilas, bastante resistentes à estiagem. ‘Favela’ é
diminutivo de fava (planta leguminosa, como os feijões), assim como ‘barbela’ é
de ‘barba’ e ‘costela’ é de ‘costa’. É que suas sementes são parecidas com às
da fava.
O gênero significa ‘espinho urticante’ (do grego ‘knídos’: urtiga; ‘skólos’:
espinho). O epíteto específico significa ‘folha de carvalho’.
Mas o nome comum, favela, apareceu, entretanto, por escrito só em 1902 na obra
‘Os Sertões’ de Euclides da Cunha.
Nesse livro, Euclides explica a Guerra de Canudos, o conflito entre os
seguidores de Conselheiro e o Exército Brasileiro, e cita, em certos trechos,
tanto a favela quanto o Morro da Favela. Depois do massacre de Canudos, os
soldados voltaram para o Rio de Janeiro, então capital republicana.
Após a guerra, deixaram de receber seus salários, e, por falta de melhores
condições, foram obrigados a se instalar em barracos nos morros da cidade sem
nenhuma infraestrutura. Os primeiros foram no atual ‘Morro da Providência’,
que, relembrando o Morro da Favela, em Canudos, passou a chamar simplesmente de
‘favela’.
Com o tempo,
qualquer aglomerado habitacional, de materiais improvisados, onde moram pessoas
de baixa renda passou a ser chamado assim, mesmo que não seja num morro.
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