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domingo, 2 de março de 2025

COMENTÁRIO DO RAUL MENELEU

Por Raul Meneleu

Essa é uma história que as populações, o povo das cidades por onde eles passaram, ou por suas redondezas, nunca deveriam esquecer. Tem que ser estudada nas escolas das vilas e cidades em sua grade curricular de História.

Considero essa, como mais importante que a história do descobrimento do Brasil, sem querer desmerecer a tal. Foram homens que combateram o banditismo, com grande garra e sem perspectivas de ganho material. O fizeram para protegerem suas famílias, o que foi extensivo a todas as famílias sertanejas. Lampião e seu bando entre outros cangaceiros, eram perversos e não respeitavam as famílias. Prestava serviços escusos para os coronéis fazendeiros assim como abertamente quando era de interesse amedrontar a população indefesa.

Se estudamos essa fase da história do sertão,  o cangaço,  não é porque gostamos de bandidos e sim para termos o entendimento que houveram pessoas no seio da sociedade que entregaram até mesmo suas vidas para combaterem a tais. Entre estes, estavam os Nazarenos. Chamados assim por terem fundado e residido na cidadezinha de Nazaré, distrito do município de Floresta, Estado de Pernambuco.

Há 101 anos atrás nascia essa cidadezinha como uma pequena Vila onde começava a sua história tivemos no ano passado 2017 as comemorações do Centenário desta cidadezinha que no ano de 1923 era apenas um Arraial de 40 casas formando uma pequena e única rua, ficando numa extremidade a igreja e na outra a barbearia de Manoel flor e a casa do Professor Domingos Soriano Lopes Ferraz que tinha sido quem tivera a ideia no ano de 1917 de fundar esse Arraial. 

Ficava em sua fazenda chamada algodões e foi ele mesmo quem marcou o alinhamento das casas, convidou amigos para virem morar no Arraial que estava construindo e muita gente aceitou o convite, para fugirem dos riscos da guerra  entre os Pereira e Carvalho. Também ficariam mais protegidos dos assaltos dos jagunços de Cassimiro Honório e de outros desordeiros.

Dentre os fundadores de Nazaré, o homem de maior posse, era Antônio Gomes Jurubeba conhecido como seu Gomes. Ele era dono da fazenda Genipapo. Estive nessa Fazenda Genipapo onde nos reunimos em confraria com os amigos do Cariri Cangaço, para fazermos uma homenagem a esse grande homem, um dos guerreiros nazarenos e de seus familiares que lutaram contra Lampião e seus cangaceiros. Fiz um vídeo que indico para os amigos assistirem como foi essa programação, (https://youtu.be/lpP8mvfjAqw).

O grande acontecimento no Arraial de Nazaré, era a feira livre às quartas-feiras. Uma vez por mês o Vigário de Vila Bela vinha Celebrar missa, batizados, celebrar casamentos. Ele chegava sempre na terça-feira e se hospedava na casa de Antônio Gomes Jurubeba e na quarta-feira depois da da missa ele voltava para Vila Bela. 

Nesse pequeno povoado foi onde aconteceram muitas desavenças entre Lampião e os seus moradores, seus residentes, inclusive um dos mais famosos dos casos que  se deu, foi o casamento de Maria Licor, que era prima de Lampião, filha de Dona Joaninha Ferreira. Lampião queria assistir ao casamento. Lampião já era desafeto dos Nazarenos, tinha uma certa fama de bandoleiro e todos esperavam que ele viesse para o casamento da prima. Para verem um relato desse casamento, temos o do Padre Frederico Bezerra Maciel, que pode ser visto aqui (https://meneleu.blogspot.com/2014/10/o-casamento-de-licor-prima-de-lampiao.html).

As histórias contadas pelos descendentes desses bravos Nazarenos são muitas. Os amigos podem ter acesso a vários livros e documentários. Indico para vocês o vídeo feito pelo amigo Aderbal Nogueira, aqui => (https://youtu.be/3RLjKEDn-nM) e aqui =>(https://youtu.be/CEGA9VsNu78) onde ele entrevista o Senhor João Gomes de Lira, tenente reformado da PM de Pernambuco, que conta como foi o início da intriga entre Lampião e os Nazarenos.

http://meneleu.blogspot.com/2018/

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COMENTÁRIOS AO LIVRO APAGANDO O LAMPIÃO

Por Raul Meneleu

Mesmo com as críticas contundentes dos amigos pesquisadores, autores de livros e documentaristas, a Frederico Pernambucano de Mello sobre a questão de quem matou Lampião, não podemos desmerecer os esforços deste grande pesquisador conhecido por todos nós.

Quando você começa a ler o livro não quer parar, porque as frases borbulhantes da mente maravilhosa deste Grande Professor, soam como música aos nossos ouvidos.

Por exemplo, quando chegamos à página 15, ele mostra que existem escritos valiosos da maioria dos escritores, mas que deixam em aberto boa parte do complexo de causas, sociais, econômicas, políticas e até tecnológicas que construíram para o grande desfecho de 1938 na grota do Angico.

Isso me lembrou nosso famoso escritor Sergipano Alcino Costa, que em um dos seus livros, mostra os mistérios que aconteceram neste desfecho, onde foi morto o cangaceiro mais famoso da história desta Saga Nordestina.

Mostra-nos Frederico Pernambucano de Mello, que escrever sobre Lampião, sobre todos os fatos que envolveram o rei dos cangaceiros, torna-se em determinados momentos, nos assuntos específicos, uma armadilha para o pesquisador. E diz " que cada tópico do episódio que cor o mundo afora se abre em armadilha para o pesquisador a ponto de nos trazer à mente verso com que outro repentista extraordinário, Pinto do Monteiro, converteu para si mesmo na imagem do perigo, fazendo uso de cores sertanejas quando improvisou:

Eu sou um pé de Cardeiro
Na beirada do Riacho,
Com um Arapuá por cima
E um rolo de cobra embaixo,
Mangangá se arranchando:
Só vem a mim quem for macho!

Com isso o autor prestigia aqueles escritos mais importantes que foram feitos por outros. Ele diz textualmente "O quadro é preciso nas tintas. Reproduzi-lo aqui vale por homenagem deliberada do autor deste livro, àqueles que se debruçaram sobre o tema com a coragem de enfrenta-lhe a complexidade, arrostando paixões que se inflamam a cada ano decorrido do acontecimento. Paixões que, longe de arrefecer, parecem cristalizar-se em desafio permanente, convertendo o tema em Campo Minado.
A despeito do comentário, tivemos o cuidado de não fazer tábua rasa de nenhuma destas fontes escritas, do que dá prova a bibliografia ao final. A todas analisamos demoradamente. Demora de anos. As obras que chegaram ao "cardeiro" e as que deste sequer se aproximaram."

E para concluir apenas a parte inicial do livro, antevendo a querela mais importante, ele diz: "Não nos surpreendem as dificuldades enfrentadas por seus autores. Afinal, debruçaram-se sobre um mito em vida, que a morte não fez senão ampliar. Dos mais completos exemplos do processo psicológico de sublimação de perfil humano que o Brasil pode ver em sua história, esse de Lampião."

Depois posto outros comentários, se não me der preguiça, pois só escrevo quando dá vontade. Mas... o "cardeiro" (para um bom entendedor uma palavra basta) enfrenta sem temor defender sua tese com argumentos. E doa em quem doer!

http://meneleu.blogspot.com/2018/12/comentarios-ao-livro-apagando-o-lampiao.html

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RESUMO DO LIVRO "LAMPIÃO NO SÉCULO 21: UMA VIAGEM NO TEMPO" (FICÇÃO) DE RAUL MENELEU

 


Premissa e Enredo:  

O romance mistura ficção histórica e científica, transportando o lendário líder cangaceiro Lampião e sua companheira Maria Bonita do sertão nordestino dos anos 1930 para o Brasil contemporâneo. Durante uma fuga após um confronto com autoridades, um fenômeno misterioso (uma tempestade de areia com elementos sobrenaturais) os projeta para os anos 2020.  

Adaptação ao Mundo Moderno:  

Desorientados, o grupo enfrenta o choque cultural: arranha-céus, tecnologia digital, redes sociais e mudanças sociais radicais. Lampião, inicialmente visto como um "personagem folclórico", torna-se viral, atraindo a mídia e o público. Sua habilidade estratégica o leva a explorar o mundo digital, enquanto Maria Bonita questiona o papel da mulher na sociedade atual, contrastando com o patriarcalismo de seu tempo.  

Conflitos e Reflexões:  

Enquanto alguns cangaceiros se adaptam à modernidade, outros resistem, criticando a desigualdade social persistente. Lampião é confrontado com seu legado ambíguo — vilão para uns, herói para outros — e enfrenta dilemas éticos ao usar violência em um contexto onde a justiça é mediada por instituições complexas. Uma trama envolve autoridades modernas tentando capturá-lo, misturando perseguições high-tech com táticas sertanejas.  

Temas Principais:  

- Identidade e Legado: Como mitos históricos são reinterpretados.  
- Justiça Social: Contrastes entre a resistência cangaceira e movimentos contemporâneos.  
- Tecnologia vs. Tradição: O impacto da hiperconexão na autonomia individual.  
- Gênero e Poder: Maria Bonita confronta o feminismo e o machismo estrutural.  

Clímax e Desfecho:  

Após envolver-se em uma crise urbana (como um assalto a um banco high-tech ou defesa de uma comunidade vulnerável), Lampião redescobre seu propósito. Uma segunda tempestade o leva de volta ao passado, agora com novas perspectivas sobre luta e liberdade. Maria Bonita, inspirada pelo futuro, questiona seu papel ao lado dele, sugerindo transformações pessoais.  

Estilo e Crítica Social:  

Meneleu mescla ação ágil com reflexões filosóficas, usando ironia para destacar paradoxos do progresso (ex.: fama efêmera nas redes vs. lendas duradouras). A narrativa critica tanto o romanticismo do cangaço quanto a alienação moderna, propondo diálogos entre eras.  

Simbolismo: 

A jornada temporal serve como metáfora da resistência cultural do Nordeste, que persiste apesar da modernização. O final aberto questiona se o passado e o futuro podem coexistir, ou se são realidades irreconciliáveis.  

Conclusão:  

Uma aventura que entrelaça história e ficção, "Lampião no Século 21" desafia o leitor a refletir sobre ética, memória coletiva e a eterna busca por justiça em um mundo em transformação.

http://meneleu.blogspot.com/2025/03/resumo-do-livro-lampiao-no-seculo-21.html

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CANGACEIRO ELÉTRICO E LAMPIÃO - COMPANHEIROS ATÉ A MORTE

 Por No Rastro do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=Rs5MDtXqjnY&t=79s

Lampião, o rei do cangaço, na hora de reforçar o seu bando de cangaceiros, escolhia sempre os cabras mais temidos e valentes do Sertão Nordestino. Um destes destemidos foi o Cangaceiros de alcunha Elétrico, que participou de vários combates sob o comando do Capitão Virgulino, era homem de confiança do chefe e morreu junto com ele, Maria Bonita e mais oito cangaceiros em 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, Poço Redondo-SE.

Temas relacionados:

Sertão Nordestino, Lampião e Maria Bonita, Grota do Angico, Contos do cangaço no sertão, Cangaço Lampiônico, Cangaceiros de Lampião, cabras de Lampião, História Nordestina, Literatura do Sertão Brasileiro, Crime de castração, história do eunuco, Lampião a raposa das caatingas, o governador do sertão, lampião mata inocente, crimes de Lampião, lampião herói ou bandido, Volantes Policiais no cangaço, volante policial Nazarenos, Volante Zé Rufino, Volante Mané Neto, Padre Cícero, Rota do cangaço, cangaceiro Corisco, cangaceiro Moreno, Cangaceiro Zé Baiano, cangaceiro Gato, histórias e contos, filmes completos, canais de cangaço, A morte do cangaceiro Corisco.
Assistam e ao final deixem seus comentários, críticas e sugestões. INSCREVAM-SE no canal e ATIVEM O SINO para receber todas as nossas atualizações.
#NoRastroDoCangaço Vejam também:

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GLOBO REPÓRTER - O ÚLTIMO DIA DE LAMPIÃO (1976) COMPLETO!

 PlayFredBR

https://www.youtube.com/watch?v=Hbe_WRZN-Eg

Documentário "O Ultimo dia de Lampião" provavelmente reprisado também em 1980 (Por conta do anúncio do show do Frank Sinatra no Maracanã). Mas o documentário foi exibido originalmente em 1975 pela Rede Globo com a apresentação de Sérgio Chapelin. Indo em referência pelas vinhetas do programa Globo Repórter que foi esse caso, esse programa com essas vinhetas pode ter ido ao ar em 1976.

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O HOMEM Virgulino Ferreira (LAMPIÃO)

 Por Raul Meneleu

Quando Lampião à Bahia chegou, com muito dinheiro, iniciou negócios com  o coronel Petro, forte fazendeiro baiano que possuía mais de trinta fazendas na região e era chefe absoluto da política local e em entrevista arranjada pelo padre Emílio Moura Ferreira pároco da cidade de Glória, ficou muito satisfeito com Lampião e colocou à disposição dele sua fazenda Três Barras, perto de Patamuté, município de Curaçá, para passar o tempo que quisesse. Quase quatro meses de intensa atividade desenvolveu Lampião nessa fazenda.

Ali Lampião conquistou os habitantes das caatingas, fazendeiros e moradores, vaqueiros e agricultores, através do dom de sua simpatia, fala maneirosa, fineza de trato, cavalheirismo, "extrema bondade" — politica essa, inteligente e sagaz, de conquista da população, objetivo-base de sua Grande Guerra de guerrilhas.

Prodigalizou caridade para com os desafortunados e humildes, não lhes deixando faltar comida e ajudas pecuniárias. A todos atendia, com prontidão e solicitude, em casos de saúde: partos, estrepadas, mordidas de cobra... aplicando seus conhecimentos de medicina rústica e à base de raízes. Bom vaqueiro que tinha sido, era procurado para curar bicheira, pisadura no lombo, mal triste; extrair bezerro entalado... e por aí em diante, usando a medicina popular do sertanejo.

Dizia o vigário de Glória, padre Emílio Ferreira: — "Lampião era melhor conselheiro do que muitos vigários!" Recomposição de casais desajustados, desfazimento de inimizades, respeito e obediência dos filhos... uma infinidade de casos assim, que ele, atenta e pacientemente, ouvia e depois dava o conselho "certo e com toda a clareza e segurança". Não somente de “vigário-conselheiro” mas também de juiz que fazia as vezes. Todos os litígios lhe traziam, confiantes na certeza do julgamento sereno e da decisão justa: limites duvidosos de terras, traçados de cercados e travessões, direito às cacimbas de beber e de gado, uso comum de caldeirões, acordos entro parceiros para construção de barreiros e açudecos; indenização dos prejuízos nos roçados ocasionados pela miunça destruidora, prisão e expulsão dos ladrões de bode, solução das desonras pelo casamento imediato, repressão aos trajes femininos contrários aos padrões da época, pagamento dos fiados nas lojas, bodegas e botequins, remuneração de salários justos aos trabalhadores alugados...  - Tudo isso confirmado pelo cangaceiro Zé Sereno, testemunha de tantos fatos: "Certo rapaz se queixou a Lampião que o dono da fazenda não queria pagar aos homens do eito. Lampião foi à  reuniu os trabalhadores e obrigou o fazendeiro a pagar. Na saída, disse-lhe Lampião que não queria saber que algum dos trabalhadores fosse mandado embora..."

Era assim. Lampião "Gostava das coisas justas e respeitava quem merecia respeito", testemunhou o cangaceiro Zé Sereno.

Via-se em Lampião o homem de muita fé, e religioso fervoroso. Todas as noites, antes das festanças, promovia rezas e novenas a vários santos. Não perdia sentinela de defunto, na qual exigia respeito. Suas frases prediletas e constantemente repetidas: "Querendo Deus!" e "Confie em Deus!".

Tomou-se a fazenda "centro de eternas festas". Inculcava Lampião a alegria de viver. Dizia: "A vida é curta. A gente precisa de distração boa!" Cocos, xaxados, baiões... Danças: quadrilhas, maxixe, e principalmente o xote... Contradanças: valsa, polca...

Desafios, repentes, violeiros, cantadores... Tudo isso dentro do respeito. Os contraventores eram advertidos ou expulsos. Pelo que, todo o mundo participava das festanças: coronéis, vaqueiros, roceiros, os rapazes e a meninada e as famílias...

Nas vaquejadas, e principalmente na pega de boi, revelava-se ele o vaqueiro exímio e famoso do Pajeú, tornando-se inigualável nos tabuleiros baianos.

"Como O HOMEM, não tem aqui, na Bahia, quem corra no mato. Só vendo para crer", dizia-se, a miúdo, naquela época: "Quem quiser dançar xaxado, Valsa lenta ou baião, Corra, venha apressado Pras festas de Lampião".

Sim, seu nome próprio, "Virgulino", e seu apelido de guerra, "Lampião", desapareceram diante das manifestações inequívocas de sua bondade e benemerências.

Ficou conhecido apenas como "O HOMEM!" E a palavra "homem" para o sertanejo sempre significou o máximo do elogio. Assim, todos proclamavam convictos e reconhecidos: — "O HOMEM é um justiceiro!" E até popularmente era canonizado:

- "O HOMEM' é um santo!"

A voz consagrante do povo era propalada pelos cantadores ao pinicar das violas bem ponteadas:

— "O SANTO LAMPIÃO Era um home bem devoto. O SANTO LAMPIÃO Era um home bem querido".

Apenas com diferença de área geográfica, tornou-se para toda aquela gente dos sertões baianos O MESMO QUE FORA O PADRE CÍCERO, no Juazeiro, para seus crentes. E qual o segredo desse fascínio irresistível e poder de conquista que Lampião possuía?

— “Só porque LAMPIÃO ERA BOM!" afirmou Manuel Gonçalves de Azevedo, cidadão probo, agente corretor aposentado da Companhia de Seguros São Paulo, e que conheceu pessoalmente Lampião.

Ainda, segundo ele, Lampião, "não era aquele de quem se dizia com exagero: mau, sanguinário..." Com a simpatia assim diplomaticamente conquistada dos sertanejos, foi fácil ao sagacíssimo Lampião a eficiente e perfeita organização da rede de coiteiros.

Era assim Lampião, de personalidade contraditória. Ao mesmo tempo, valente e covarde, frio e sentimental, calculista e violento. Comportava-se com excepcional bravura para, às vezes, depois de vencer e dominar o inimigo, sangrá-lo friamente.

Certa vez brigou com um cangaceiro do bando chamado Alazão e o expulsou do bando. O costume quando expulsava alguém do bando, era retirar-lhe os "arreios do cangaço" ou seja, armas, cartucheiras, munições e os enfeites que carregavam. Chamavam isso de "quebrar o orgulho do cabra".

Quando a ordem foi dada, Alazão dirigiu-se diretamente a Lampião dizendo: "Venha quebrar você mesmo se é homem, "seu" covarde!"

Um dos cabras, apontando-lhe a arma para lhe dar um tiro olhou para Lampião, aguardando um sinal para mata-lo e sem se alterar Lampião calmo ordenou ao cabra: "Baixe a arma! Deixe ele ir com "orgulho" e tudo. Um cabra como esse não se mata. Fica no mundo pra tirar raça de macho."

Era assim Virgulino Ferreira da Silva. Tinha rasgos de herói e saídas de poltrão. Inteligente e astucioso, era um homem de vocação perdida.

Já escrevi por aqui, se aquele talento cru fosse devidamente aproveitado, Lampião poderia ter sido, não simplesmente um bravo vaqueiro do Pajeú ou um amaldiçoado chefe de cangaço, mas poderia ter sido um poeta, músico e artista, qualidades que revelou em seus versos, tocando sanfona, confeccionando belos e artísticos objetos de couro.

Poderia ter sido um bispo católico, ou quem sabe um general brasileiro, pois em seus combates que travou, demonstrou acentuada capacidade de estrategista. Não foram poucas vezes em que empregou planos bem arquitetados e bem executados para enfrentar e desestruturar seus inimigos. Possuía tato e qualidades de comando. Era na verdade um estrategista nato.

Fontes:
Lampião e seus cabras - Luiz Luna
Lampião, seu tempo e seu reinado - Frederico Bezerra Maciel

https://meneleu.blogspot.com/2014/12/o-homem-virgulino-ferreira-lampiao.html

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COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO "REMINISCÊNCIAS DE MARIA BONITA" DE RAUL MENELEU

O artigo de Raul Meneleu, publicado em 2020, traz uma contribuição fundamental para a historiografia do cangaço ao abordar a questão da data de nascimento de Maria Bonita, figura emblemática da cultura nordestina. O texto combina rigor metodológico, crítica histórica e uma narrativa envolvente sobre os desafios da pesquisa em fontes primárias no Brasil. Abaixo, destaco os principais pontos de análise:

1. Correção Histórica e Método Científico  

O artigo centra-se na descoberta do pesquisador Voldi de Moura Ribeiro, que, com apoio do padre Celso Anunciação, localizou o registro de batismo de Maria Bonita na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo (BA). O documento atesta seu nascimento em 17 de janeiro de 1910, invalidando a data tradicionalmente difundida de 8 de março de 1911. Meneleu ressalta a importância de "fontes primárias" (como o batistério) sobre relatos orais, muitas vezes imprecisos. A crítica a autores que perpetuaram erros sem comprovação documental reforça a necessidade de rigor na pesquisa histórica.

2. Colaboração Interdisciplinar  

A parceria entre Voldi e o padre Celso ilustra como a colaboração entre pesquisadores seculares e instituições religiosas pode revelar dados essenciais. A Igreja Católica, detentora de arquivos históricos, muitas vezes subutilizados, emerge como guardiã de memórias cruciais, ainda que sua conservação seja negligenciada. O artigo aponta para a urgência de políticas de preservação documental, especialmente em regiões onde a história é perpetuada por registros frágeis e esquecidos.

3. Reconhecimento Acadêmico 

Meneleu destaca o aval de nomes consagrados, como Frederico Pernambucano de Melo e Antônio Amaury Correia de Araújo, que revisaram suas posições após a descoberta de Voldi. Esse movimento demonstra a dinâmica saudável da academia, onde revisões são possíveis diante de novas evidências. A menção à correção na segunda edição do livro de Amaury (2012) enfatiza a ética intelectual de reconhecer equívocos.

4. Cultura e Identidade 

A data incorreta de 8 de março, associada ao Dia Internacional da Mulher, revela como mitos podem se sobrepor à realidade por conveniência simbólica. Meneleu critica essa romanticização, defendendo que a história deve priorizar fatos, mesmo que menos "poéticos". A correção não diminui Maria Bonita, mas a reinsere em seu contexto real: uma mulher que morreu aos 28 anos, após uma vida marcada pela violência do cangaço.

5. Desafios da Pesquisa no Brasil

O artigo denuncia a falta de apoio institucional a pesquisadores independentes, que investem recursos próprios para preencher lacunas históricas. A menção à Wikipedia, que ainda reproduz a data equivocada, expõe a lentidão na atualização do conhecimento público. Meneleu faz um apelo implícito para que entidades culturais e digitais (como enciclopédias online) revisem seus conteúdos com base em fontes atualizadas.

6. Perspectivas Futuras  

Meneleu sugere que a descoberta do batistério abre caminho para novas investigações, como a possível indefinição sobre a paternidade de Maria Bonita (já que seu registro menciona apenas a mãe, Maria Joaquina). Além disso, a certidão da irmã Antônia reforça a necessidade de explorar arquivos paroquiais para reconstituir trajetórias familiares e sociais do sertão.

Conclusão

"Reminiscências de Maria Bonita" não é apenas um artigo sobre datas, mas uma reflexão sobre memória, poder e esquecimento. Raul Meneleu celebra a persistência de pesquisadores como Voldi, que desafiam narrativas consolidadas, e alerta para o risco de perdermos fragmentos da história pela negligência com acervos. Ao corrigir o nascimento de Maria Bonita, o texto restaura não apenas uma data, mas a integridade de uma figura que resiste ao apagamento — seja pelo descaso, seja pela mitificação.  

Recomendações:  

- Atualização imediata de verbetes em plataformas como Wikipedia.  

- Digitalização e preservação de arquivos paroquiais.  

- Incentivo a pesquisas interdisciplinares que unam história, sociologia e instituições religiosas.  

- Incorporação das descobertas de Voldi em currículos educacionais e produções culturais.  

Este artigo, assim, serve como um modelo de como a micro-história pode iluminar questões macro: a luta pela preservação da memória em um país onde a cultura muitas vezes é relegada a segundo plano.

 https://meneleu.blogspot.com/2025/03/comentarios-sobre-o-artigo.html?fbclid=IwY2xjawIxMwRleHRuA2FlbQIxMQABHU2J0AFZKUxL5L605qQswWun9ZuztREGimXfCdEMR8mvZc06mtv4qOwHEA_aem_78k6Q1ULBJUS5s3EJhRRNQ

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DE CONSELHEIRO A EUCLIDES DA CUNHA

 Por Elson Godoi

Você sabe por que as favelas se chamam favelas?

Esse é um registro daquela que é considera a primeira favela do Brasil - O Morro do Pinto, em Santo Cristo, no Rio de Janeiro, por volta de 1910.

Porém, o nome "favela" não tem nada a ver com esse morro. O nome provavelmente vem de uma árvore do cerrado e caatinga.

Mais ou menos entre 1896 e 1897, um grande número de sertanejos, liderados por Antônio Conselheiro, fundaram a comunidade de Canudos no interior da Bahia. Canudos ficava perto de um monte chamado ‘Morro da Favela’.

O morro assim era chamado porque lá cresciam muitas favelas, plantas euforbiáceas espinhosas, xerófilas, bastante resistentes à estiagem. ‘Favela’ é diminutivo de fava (planta leguminosa, como os feijões), assim como ‘barbela’ é de ‘barba’ e ‘costela’ é de ‘costa’. É que suas sementes são parecidas com às da fava.

O gênero significa ‘espinho urticante’ (do grego ‘knídos’: urtiga; ‘skólos’: espinho). O epíteto específico significa ‘folha de carvalho’.
Mas o nome comum, favela, apareceu, entretanto, por escrito só em 1902 na obra ‘Os Sertões’ de Euclides da Cunha.

Nesse livro, Euclides explica a Guerra de Canudos, o conflito entre os seguidores de Conselheiro e o Exército Brasileiro, e cita, em certos trechos, tanto a favela quanto o Morro da Favela. Depois do massacre de Canudos, os soldados voltaram para o Rio de Janeiro, então capital republicana.

Após a guerra, deixaram de receber seus salários, e, por falta de melhores condições, foram obrigados a se instalar em barracos nos morros da cidade sem nenhuma infraestrutura. Os primeiros foram no atual ‘Morro da Providência’, que, relembrando o Morro da Favela, em Canudos, passou a chamar simplesmente de ‘favela’.

Com o tempo, qualquer aglomerado habitacional, de materiais improvisados, onde moram pessoas de baixa renda passou a ser chamado assim, mesmo que não seja num morro.

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