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terça-feira, 24 de novembro de 2020

FERNANDO VANNUCCI APRESENTADOR, MORRE AOS 69 ANOS EM SÃO PAULO

Por G1.globo.com 

Fernando Vannucci, apresentador, TV Globo — Foto: Reprodução/TV Globo

No ano passado, Vannucci sofreu um infarto e ficou internado no Hospital Oswaldo Cruz, onde passou por uma angioplastia coronária. Ele chegou a colocar um marcapasso.

Em 2001, foi operado do coração e, em 2004, colocou um stent (pequenas próteses que podem ser colocadas dentro das artérias para "alargar" e evitar o bloqueio dos vasos sanguíneos; veja como elas funcionam aqui).

Segundo o filho do apresentador, que é médico, por causa dessas últimas complicações, o pai estava trabalhando de casa.

"Nesses tempos de pandemia, pelo fato de ele ter uma saúde cardiológica mais frágil, meu pai vinha se resguardando muito. Ele sempre me ligava para tirar todas as dúvidas sobre a Covid. Estive com ele no mês passado em São Paulo, acho que foi a última vez que a gente se viu. Ele já estava com a saúde fragilizada e a pandemia fez com que ele trabalhasse de casa, onde gravava as coisas e mandava para a TV. Ele me mostrou o que estava fazendo, e fazia tudo basicamente de casa por conta dessa loucura toda que a gente está vivendo", afirmou Fernandinho Vannucci. 

O apresentador Fernando Vannucci, em imagem de arquivo — Foto: Reprodução/TV Globo

Trajetória

Nascido em Uberaba, Vannucci começou a trabalhar em rádio ainda adolescente. Na década de 70, entrou na TV Globo, em Minas Gerais, e depois foi transferido para a Globo do Rio de Janeiro. Na emissora, apresentou jornais como o Globo Esporte, RJTV, Esporte Espetacular, Gols do Fantástico, entre outros.

Na passagem pela Globo, Fernando Vannucci cobriu seis Copas do Mundo: 1978, 1982, 1986, 1990, 1994 e 1998 e ficou marcado pela criação do bordão "Alô, você!".

"Acredito que o legado dele é grande. Até a Copa de 1986, que foi o grande momento profissional que ele teve, a virada profissional da carreira dele, a maneira de se fazer esporte na televisão era uma e hoje é outra, completamente diferente. E acho que ele teve muita responsabilidade nisso. Se hoje o esporte é apresentado de uma forma descontraída, informal, ele tem muita parte nisso, porque, até então, o apresentador do Globo Esporte usava terno e gravata", disse o filho, Fernandinho Vannucci.

O jornalista esportivo Fernando Antonio Vannucci Braz, nascido em Uberaba, Minas Gerais. — Foto: Reprodução/Youtube

Além do esporte, o apresentador também participou de várias coberturas de carnaval na Globo, sempre mostrando um estilo único e descontraído.

"Meu pai fez parte de uma geração de vozes de ouro. Quando se fala em narradores, é impossível não mencionar o nome de Galvão Bueno, Luciano do Valle, Osmar Santos. Da mesma forma os apresentadores, onde é natural que venha rapidamente o nome do meu pai, como o do Léo Batista e de tantos outros. Essa maneira marcante que deu a ele um estilo meio que único e pioneiro. É um grande legado e talvez tenha feito ele ultrapassar as fronteiras do esporte e se enveredar também para o carnaval", conta o orgulhoso filho.

Fernando Vannucci também trabalhou nas emissoras TV Bandeirantes, TV Record, Rede TV. Desde 2014, ele atuava como editor de esportes na Rede Brasil de Televisão. A emissora divulgou uma nota no fim da tarde lamentando a morte do apresentador, descrito como "simpático, vivaz e falante"

"A Rede Brasil de Televisão se despede com tristeza do jornalista Fernando Vannucci, que faleceu nesta terça-feira (24) em São Paulo aos 69 anos. Fernando era o principal apresentador, comentarista e editor esportivo da emissora. (...) O presidente, Dr Marcos Tolentino, lamenta muito essa perda do simpático, vivaz e falante apresentador, comunicador, locutor, comentarista e editor Fernando Vannucci", disse a nota da emissora, que vai exibir um especial sobre a trajetória do apresentador na casa.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/11/24/apresentador-fernando-vanucci-morre-aos-69-anos-em-sao-paulo.ghtml

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FALECEU EM SÃO PAULO IRMÃ DO CANGACEIRO LUIZ MACÁRIO, CABRA DE CONFIANÇA SINHÔ PEREIRA

Por Junior Almeida

Escritores Frederico Pernambucano de Melo e Júnior Almeida

Faleceu na manhã desta terça-feira (24), na Santa Casa de Misericórdia de Santo André, São Paulo, onde estava internada, a senhora Maria Auxiliadora Macário (foto), de 92 anos, vítima de um AVC – acidente vascular cerebral – sofrido na última sexta-feira, dia 20, em sua residência.

Auxiliadora era irmã caçula do célebre cangaceiro Luiz Macário, lugar tenente de Sinhô Pereira, e por esse motivo, ela, junto com suas irmãs mais velhas, saíram de Pernambuco para o Sudeste do país ainda na juventude, pois toda família vinha sendo perseguida pelas Forças Volantes que combatiam o cangaço.

Maria Auxiliadora Macário

Macário era cabra de confiança de Sinhô e foi abatido pela volante comandada pelo bravo capitão Zé Caetano, na Fazenda Carnaúba, em São José do Belmonte, em 24 de agosto de 1921, combate que se celebrizou por ser o batismo de fogo dos irmãos Ferreira, Antônio e Virgulino, futuro Lampião.

Lampião e Antonio Ferreira

Segundo Nertan Macedo, Sinhô Pereira teria dito aos jovens cangaceiros:

Vão lá no Bom Nome e digam ao Zé Caetano que se ele quiser brigar, que venha aqui ou marque qualquer lugar para a luta, pois nós estamos com muita vontade de brigar. Dê o recado na presença de muita gente, pois se disserem a ele, sozinho, ele não vem.

Escritor Nertan Macedo

Só uma pequena observação quanto essa passagem da História do cangaço: é consenso entre os estudiosos do tema que tal convite para briga existiu, porém, segundo Ronald Vieira, neto do major Chico Vieira, sobrinho de Sinhô Pereira e proprietário da Fazenda Ipueira, que quem levou o recado do cangaceiro para o comandante da volante não foi os Ferreira, e sim um meninote de nome “Zé do Major”, que assim era chamado por ter sido criado pelo major Chico Vieira.

Conta-nos Ronald Vieira que:

O jovem estava de passagem pela Carnaúba com destino a Bom Nome, e foi incumbido por Sinhô Pereira de levar o desaforado recado e que Zé do Major era bastante mal criado, e que depois dele ser o portador do “convite” para brigar, feito a Zé Caetano, major Chico Vieira perguntou-lhe porque tinha dado tal recado, tendo o jovem respondido ser bem mandado. O major então pegou uma peia, e lhe disse que sendo ele bem mandado, escolhesse comer merda ou levar uma surra, ficando o atrevido moleque com a segunda opção.

https://www.facebook.com/photo/?fbid=3245482825563534&set=gm.1519309838277955

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CANGAÇO - PERGUNTAS E RESPOSTAS - 01

 Por Aderbal Nogueira - Cangaço

Cangaço - Perguntas e Respostas - 01 Nesse quadro "Perguntas e Respostas", tento responder às indagações feitas pelos amigos sobre a história do cangaço. Qualquer pessoa pode fazer suas perguntas nos comentários abaixo de qualquer um dos vídeos que venha a assistir. Esse quadro é postado de 15 em 15 dias.

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ESCRITOR ANTÔNIO AMAURY NA GROTA DE ANGICO - PARTE II

 Por Adalto Silva

https://www.youtube.com/watch?v=4TI29YRI-Rk

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O BUEIRO DO PORRONCA

 Clerisvaldo B. Chagas, 24 de novembro de 2920

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.422


        A anedota contada por um companheiro, faz lembrar o prof. Aloísio Ernande Brandão. Estudamos com o prof. Ernande desde o curso Admissão ao Ginásio e fomos seu aluno por um longo período, no Ginásio Santana. O mestre lecionava Geografia, História e Matemática.  Imensamente carismático o professor estava sempre bem humorado. Fumava muito, gostava de uma cervejinha, sem se embriagar. Adotava alguns cacoetes como dizer que “não dava 10 a aluno, e que 10 era do professor”. Com certeza herdara o mau hábito de outro professor antigo. Amava colocar o cigarro em pé no birô, após algumas tragadas e chutar restos de giz pelos cantos da sala. Nunca vi nem ouvi dizer que alguém ficasse com raiva do professor Ernande. Era um meninão amigo de todos. Tive a honra, muito depois do alunado, em ser colega de trabalho do mestre, tanto no Ginásio quanto no Colégio Estadual Prof. Mileno Ferreira, da cidade. Sua partida gerou muita comoção em Santana do Ipanema e em todo sertão de Alagoas. Foi homenageado após com o título Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão, no antigo “Cepinha”, escola desmembrada do antigo Estadual e inaugurada em 1992.

Escola Prof. Aloísio Ernande Brandão (foto: livro 230/B. Chagas).

O professor Ernande tinha o apelido de PORRONCA. Não sabemos do autor e nem da origem do vulgo. Porronca é um cigarro de palha de fumo de corda ou fumo grosso, em nosso sertão conhecido como PACAIA.  Pois bem, vamos a anedota, não inédita nesse espaço.

Em um trem de Pernambuco viajavam vário passageiros, entre eles um rapaz e uma senhorita a certa distância um do outro.  O rapaz ficara encantado com a beleza da moça, muito tímida e de sobrinha à mão. A moça notava o interesse do rapaz, por ela, mas procurava não dá bolas. O rapaz queria sentar no banco da moça, mas não sabia o que dizer. Foi então que uma oportunidade apareceu para o início de conversa. Lembrando que ali perto havia um bueiro de usina, (longa chaminé de barro de olarias e engenhos). aproximou-se da recatada senhorita, mas não notara que sua braguilha estava aberta.

“Bom dia, moça, a senhorita conhece o bueiro do Porronca?”.

A moça parou sua investida afastando-se no banco e dizendo bravamente:

“Nem conheço nem quero conhecer.  E se o senhor botar essa peste pra fora, meto-lhe o cabo da sobrinha”.



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PEÇA LOGO ESTES TRÊS LIVROS PARA VOCÊ NÃO FICAR SEM ELES. LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.

  Por José Mendes Pereira


A primeira obra é "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS" que já está na 5ª. edição, e aborda o fenômeno do cangaço e a vida do maior guerrilheiro das Américas. Um homem que não temeu às autoridades policiais  e muito menos aqueles que lutavam contra a sua pessoa, na intenção de desmoralizá-lo nas suas empreitadas vingativas, e eliminá-lo do solo nordestino. Realmente foi feito o extermínio do homem mais corajoso e mais admirado do Nordeste do Brasil, na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe, mas não em combate, e sim, através de uma emboscada muito bem organizada pelo alagoano tenente João Bezerra da Silva. 


O Segundo livro da trilogia do escritor é: "FATOS ASSOMBROSOS DA RECENTE HISTÓRIA DO NORDESTE" com 332 páginas, e um grande acervo de fotos relacionado ao assunto. 


O terceiro livro da trilogia também do escritor José Bezerra Lima Irmão é: "CAPÍTULOS DA HISTÓRIA DO NORDESTE" resgata fatos sobre os quais a história oficial silencia ou lhes dá uma versão edulcorada ou distorcida: o "desenvolvimento" do Brasil, o desumano progresso de colonização feito a ferro e fogo, Guerra dos Marcates, Cabanada, Balaiada, Revolução Praieira, Ronco da Abelha, Revolta dos Quebra-Quilos, Sabinada, Revolta de Princesa, as barbáries da Serra do Rodeador e da Pedra do Reino, Guerras de Canudos, Caldeirão e Pau-de-Colher, dando ênfase especial à saga de Zumbi dos Palmares, Invasões Holandesas, Revolução Pernambucana de 1817, Confederação do Equador e Guerras da Independência, incluindo o 2 de Julho, quando o Brasil se tornou de fato independente... São assunto que dá gosto a gente lê-los.  

Adquira-os com o professor Pereira através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

ou com o autor através deste g-mail: 

josebezerralima369@gmail.com

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ADÍLIA E SILA: OS CONTRASTES DE DUAS CANGACEIRAS DE POÇO REDONDO

 *Rangel Alves da Costa

Poço Redondo, município encravado no sertão sergipano, foi berço de nascimento de mais de trinta cangaceiros. Trinta e cinco, em verdade. Então uma pequena povoação pertencente ao município de Porto da Folha, por todo lugar viu sua geração sertaneja tomando os caminhos do mundo nos passos do bando de Lampião.

Dentre as sete mulheres (Enedina, Rosinha, Áurea, Adelaide, Dinda, Sila e Adelaide), foram as duas últimas que mais se destacaram na vida bandoleira. Sila por ser companheira de Zé Sereno, um renomado líder de subgrupo. E Adília por ser companheira de Canário, outro cangaceiro de destaque no bando do Capitão, ainda que servindo no subgrupo do companheiro de Sila.

Cada membro do cangaço possuía características pessoais que até hoje o identifica por diversos aspectos, fosse na valentia, na pontaria ou no tino de liderança. Com as mulheres não era diferente. Contudo, foi após o fim do cangaço em 38, após a retomada da vida social, que outras características passaram a envolver os que restaram do bando de Lampião.

Uma exemplificação das mudanças e permanências pode ser obtida perante duas cangaceiras de Poço Redondo: Adília e Sila. Conterrâneas, conforme dito, de origem nas redondezas do atual Alto de João Paulo, filhas de sertanejos de foice e enxada, levadas ao mundo cangaceiro ainda jovens, tiveram irmãos cangaceiros, mas somente isso como semelhanças. No restante, contudo, eram totalmente diferentes. E isso foi mais facilmente observado no pós-cangaço.

Adília era de poucas palavras, sem gestos afetados ou sorriso aberto, numa singeleza e humildade que a caracterizou até seus últimos dias. Adília foi apenas de silêncio e memória, foi de tentar fazer de conta que nem havia pertencido ao mundo brutal e desumano do cangaço.

Jamais abriu a boca para, sem ser perguntada por algum amigo ou conhecido, revelar qualquer fato ou situação daqueles tempos difíceis em meio aos catingueirais e pontas de espinhos. E quando falava, também pouco revelava do muito e de tudo o que sabia. Era um baú – quase sempre fechado - de tristes recordações.

Não falava sequer em Canário, seu falecido companheiro nos tempos da cangaceirama. Também não tinha boas lembranças para falar, pois a mocinha que seguiu o cangaceiro por amor, logo se arrependeu do erro cometido e passou a odiar não só o cangaceiro como a vida sofrida que levava.

Mas nunca o traiu, nunca abriu a boca perante todos para revelar o fel guardado nos sentimentos. Suportou a tudo de forma paciente, comedida, como se penalizando estivesse pelo erro cometido. Também não gostava de falar sobre seu irmão Delicado, também integrado ao mundo cangaceiro.

Ao fim do cangaço, acabou retornando a Poço Redondo, ao Alto de João Paulo, de onde havia saído e onde passou a morar até seu último instante de vida. E numa vida tão simples que o forasteiro jamais poderia imaginar que ali vivia uma ex e famosa cangaceira. Daqueles tempos, trazia consigo apenas uma marca de tiro numa das pernas.  

Já Sila era totalmente diferente. A irmã dos cangaceiros Novo Tempo, Mergulhão e Marinheiro, e companheira de afamado chefe de subgrupo no cangaço, gostava de falar e até falar demais. Sila fez de seu passado cangaceiro um festim, um brilho hollywoodiano, transformando-o em algo forçadamente honroso e exuberante.Perante as câmaras e lentes, a ex-cangaceira se transformava em verdadeira estrela, contando e recontando fatos e passagens como num filme deslumbrante.

Muitos pesquisadores do cangaço ainda hoje negam a veracidade de muitas de suas afirmações. Na verdade, foi, por semelhança de pedestal, a Maria Bonita do subgrupo comandado por Zé Sereno. Mesmo que nenhuma cangaceira tivesse se equiparado em garra e valentia a Dadá, as companheiras dos líderes sempre quiseram arvorar para si uma majestade superior. E Sila assim se manteve no pós-cangaço.

Morando em São Paulo, dando entrevistas, relatando fatos para a escrita de livros, chegada aos holofotes, já não era a sertaneja dos caminhos de poeira e pedra das bandas de cá. Mais parecia uma artista quando visitava Poço Redondo. Sempre charmosa, perfumada, bem penteada, toda nos trinques, era um retrato bem diferente da outrora companheira de cangaço chamada Adília.

Enquanto Sila vivia da fama e bordando ao bel-prazer seu passado, Adília estava ali, quietinha, sentadinha em sua cadeira nas vizinhanças da cidade. Com tez morena, roupa simples, na casa humilde, no silêncio das horas, assim era a Adília que conheci e fui amigo, ainda que meninote.

Também conheci Sila, mas não de aproximação, apenas de avistamentos quando estava ao lado de meu pai Alcino, nas vezes que visitava Poço Redondo. Por último, dizer que a foto acrescida contrasta as realidades posteriores. Na foto, o sorriso é de Adília, enquanto Sila não mostra nenhum contentamento. Mas depois, depois do fim do cangaço, o sorriso foi apenas de Sila. 


Escritor
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FAZENDA ARARIPE, ONDE NASCEU LUIZ GONZAGA, RECEBE FÃS DE TODO O PAÍS

Por Luna MarkmanDo G1 PE, em Exu

Monumento mostra o local onde nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento, há 100 anos.
(Foto: Luna Markman / G1 PE)

Residência do Barão de Exu também fica na propriedade. Moradores da região se orgulham de contar toda a história do Rei do Baião.

Carros do Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí, Ceará, Maranhão, Goiás, São Paulo, Espírito Santo e vários outros cantos do Brasil se dirigiram, na manhã desta quinta-feira (13), para uma fazenda emblemática em Exu, no Sertão de Pernambuco, a Araripe. É que ela ainda guarda construções que marcaram a vida de Luiz Gonzaga, como casas nas quais viveram os pais Januário e Santana, a Igreja de São João Batista, a residência do Barão de Exu. Um monumento ainda mostra o local onde nasceu a criança que se tornaria o Rei do Baião, há exatos cem anos.

A Fazenda Araripe fica a 12 quilômetros de Exu. Uma estradinha de areia e cascalho, envolta de caatinga seca, distante 800 metros da entrada do terreno, leva ao local onde Luiz Gonzaga nasceu, no dia 13 de dezembro de 1912. Era dia de Santa Luzia, mês do Natal, nascimento de Jesus. Daí a explicação do nome escolhido para o caboclinho, Luiz Gonzaga do Nascimento, segundo filho do sanfoneiro Januário e da agricultora Santana. O padre que batizou o menino sugeriu chamá-lo de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia; Gonzaga porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; e nascimento, porque dezembro é o mês do nascimento de Jesus.

O bancário Edson Massariol conheceu o lugar acompanhado do pai Pedro Massariol, que já tinha estado em Exu, em 2008. "Sou fã de Luiz Gonzaga desde 1952, quando eu tinha 18 anos e ele se apresentou na praça da minha cidade, Colatina, no Espírito Santo. Eu já tinha escutado ele pelo rádio. A primeira vez foi como a sensação de comer uma coisa gostosa", brincou Pedro. Quando soube da comemoração do centenário, quis que o filho visitasse esse pedaço do Sertão. "Admiro muito a poesia, o talento de Gonzagão. E o Nordeste todo é muito diferente do nosso estado, apesar da seca, é muito bonito", falou Edson.

Dona Raimunda mora onde viveu Chiquinha Gonzaga, irmão velho Lua. (Foto: Luna Markman / G1 PE)

Saindo da estradinha de terra, entrando na única "rua" da Fazenda, com poucas casas em cada lado da via, uma de cor lilás chama atenção. O movimento é tão grande lá dentro quanto nas calçadas, cheias de turistas. Ali viveu Chiquinha Gonzaga, irmã do velho Lua. Hoje, é dona Raimunda de Souza, de 77 anos, quem habita o lugar, mais duas filhas e dois netos.

Ela fala, bastante orgulhosa, que seu pai, Jesus de Souza, era primo de Januário. Naquela época, primo de pai era tido como tio. E Santana foi madrinha dela. "Se eles eram boas pessoas? Ave Maria, demais. Eles tinham muita consideração por nós, um povo bom mesmo", lembrou dona Raimunda, monstrando as fotos dos célebres parentes penduradas nas paredes de reboco.

Agora, a lembrança que não sai da mente dela é a da chegada de Gonzagão, em 1946, após anos no Rio de Janeiro. Prestes a completar 18 anos, Luiz fugiu de casa após desavença com a a mãe para o Crato, no Ceará, onde ingressou no Exército. Pulou de quartel em quartel pelo Brasil, até chegar na capital carioca, onde também iniciou sua carreira artística, tocando sanfona. Só quando ingressou na gravadora RCA e tocou no rádio, considerou-se um artista "de verdade". Então, achou que era hora de regressar a Exu.

"Eu lembro como se fosse hoje. Tinha uns 13 anos. Luiz chegou de madrugada, mas a gente só soube de manhã. Eu tava na roça e mãe me buscou, dizendo que era para eu me arrumar. Fui na casa dele, fui apresentada a ele, que tava todo vestido de branco, sentado em um banco de [madeira] bodocó e a sanfona. Foi festa o dia todinho. Só de pensar que ele morreu, encho os olhos de água. Apesar de ser rei, ele tratava todo mundo igual", contou dona Raimunda, sem largar o braço da repórter. Ela gosta de contar essa história...

Casa de Januário e Santana, pais do Rei do Baião, foi o cenário da famosa volta do sanfoneiro para a terra natal, cantada em "Respeita Januário". (Foto: Luna Markman / G1 PE).

A cena de Luiz Gonzaga voltando para Exu já era famosa por causa da abertura da música "Respeita Januário", onde o sanfoneiro descreve o retorno. Muita gente também conheceu essa passagem por meio do filme "Gonzaga - De Pai Para Filho", de Breno Silveira. A casa de Januário ainda está na Fazenda Araripe, pintada de amarelo. Muita gente posa para fotos lá.

Os visitantes também registram imagens do casarão do Barão de Exu, que era dono das terras onde a cidade nasceria, no século 19. Ele também construiu a Igreja de São João Bastista, onde os restos mortais dele estão enterrados. A Igreja, inclusive, inspirou Luiz Gonzaga na canção "São João do Carneirinho". No terreno, ainda é possível ver a casa construída para Januário viver a partir de 1951. Hoje, o local é um restaurante.

A Fazenda Araripe amanheceu em festa nesta quinta, com um palco montado para receber 12 artistas de todo o Nordeste. Os estudantes cearenses Elisa Barbosa e Txai Costa aproveitaram o forró. "Está tudo muito animado aqui. Vou ficar até domingo [16], para ver a missa. Estou achando tudo lindo, a cultura, as sanfonas, o povo. Coisas que eu só ouvia falar", comentou Elisa.

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tópicos: Exu

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ENTREVISTA COM JUNIOR ALMEIDA | LIVRO: A VOLTA DO REI DO CANGAÇO

 

https://www.youtube.com/watch?v=dN6-YoZUNlQ&feature=youtu.be&fbclid=IwAR2N58f-fsW4BygPQ9V1JRkP7K1goG1ZDHiBtR56Qn56nDE-NM0THonEAZI&ab_channel=TVLIVROScortecci

TV LIVRO Scortecci

Adquira o livro A VOLTA DO REI DO CANGAÇO de JUNIOR ALMEIDA em: https://www.galeriadolivro.com.br/a-v...

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ESCRITOR ANTÔNIO AMAURY NA GROTA DE ANGICO - PARTE I

Por Geraldo Júnior
https://www.youtube.com/watch?v=4RysaBaIou0&feature=youtu.be&fbclid=IwAR0dZMchzHuHgggMY2pnKa2E18G46-3QJ4RKpmMine4p589922Ze8PLbyIg&ab_channel=AdautoSilva

Angico... Ele conseguiu nos remeter, a madrugada do dia 28 de julho de 1938.

Só faltou o som dos tiros e a fumaça da pólvora.

https://www.facebook.com/groups/GrupoCangacologia/?multi_permalinks=3620715067985440%2C3620629427994004&notif_id=1606214292158581&notif_t=group_activity&ref=notif

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BIOGRAFIA DO PRINCIPAL ALIADO DE LAMPIÃO NO CEARÁ SERÁ LANÇADA EM AURORA E MISSÃO VELHA.

 Por Antonio Rodrigues, antonio.rodrigues@diariodonordeste.com.br 

A obra do pesquisador João Tavares Calixto Júnior narra a vida do jovem coronel Isaías Arrudas, figura marcante do início do século XX. 

Foto: João Calixto

O professor da Universidade Regional do Cariri (URCA), João Tavares Calixto Júnior, lançará, neste final de semana, o livro “Vida e morte de Isaías Arruda: sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião”, que traz a biografia do coronel Isaías Arruda, uma das figuras mais marcantes do Cariri no início do século XX. A obra também trata das relações sociais no período do cangaço, sobretudo, o coronelismo e banditismo na década de 1920.

Foram seis anos de pequisa que se materializou em 421 páginas, divididas em duas partes. A primeira, em oito capítulos, conta a vida “curta e tumultuada” de Isaías Arruda, um dos principais “coiteiros” de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no Ceará. A segunda, em três capítulos, narra sua morte “violenta e prenunciada”, como classifica o autor.

O primeiro lançamento acontece na Câmara Municipal de Missão Velha, cidade onde o coronel foi prefeito, nesta sexta-feira (29), a partir das 19 horas. Já no dia seguinte, no sábado (30), será a vez de Aurora, município natal do personagem, receber o evento no Salão Paroquial, às 17 horas. Cada exemplar custa R$ 50.

Isaías Arruda nasceu em 6 de julho de 1899, na Vila d’Aurora, atual município de Aurora. Sua trajetória ganhou destaque, mesmo jovem, ao hospedar Lampião e seus capangas em sua fazenda. Era também responsável por fornecer munição e armas para o cangaceiro.

“Ele ascendeu, do ponto de vista político, rapidamente. Era um cara pobre, de origem humilde, e que, à sombra do governador Moreira da Rocha, chegou a ser prefeito de Missão Velha, tirando seu antecessor na bala. Foi uma trajetória muito tumultuada. Arrumou muita confusão”, conta João Calixto.

Casarão do coronel Isaías Arruda ainda de pé em Missão Velha. (Foto: Antonio Rodrigues)

No Centro de Missão Velha ainda está de pé o casarão construído pelo coronel Isaías Arruda. Lá, há uma espécie de porão onde os historiadores acreditam que os cangaceiros e seu armamento ficavam escondidos.

Um capítulo do livro é dedicado a um dos momentos mais marcantes da história do cangaço, o ataque de Lampião à cidade de Mossoró, no Rio Grande Norte, em 1927. “Ele foi planejado por políticos do próprio Rio Grande do Norte, mas eu trago uma versão que este ataque teve cunho político e não por dinheiro. Foi uma coincidência Lampião ter ido para Aurora e, de lá, Massilon Leite, junto com Zé Cardoso e Isaías, conseguiram convencê-lo”, explica o autor.

A obra também traz detalhes sobre a morte de Isaías Arruda, que aconteceu no dia 8 de agosto de 1928, aos 28 anos, quatro dias após sofrer uma emboscada a tiros na estação de trem de Aurora, sua cidade natal, pelo seus rivais, os “Paulinos”.

“Eu utilizei quatro metologias. É um livro feito em documentação, pesquisas em jornais, com mais de 600 páginas estudadas, revisão bibliográfica, consulta de inquéritos originais e entrevistas com pessoas que se tornou um ‘tempero'”, detalha o pesquisador. A obra ainda conta com fotos inéditas e ilustrações do artista goiano Ronald Guimarães.

 http://blogs.diariodonordeste.com.br/cariri/cultura/biografia-do-principal-aliado-de-lampiao-no-ceara-sera-lancada-em-aurora-e-missao-velha/25382

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VIDA E MORTE DO CORONEL ISAÍAS ARRUDA.

 Por Geraldo Júnior

https://www.youtube.com/watch?v=3sP-NnTXDL8&ab_channel=Canga%C3%A7ologia

Cangaçologia

A história de um dos personagens mais polêmicos da história do coronelismo ocorrido na região sul do estado do Ceará. O envolvimento do coronel Isaías Arruda com a política, com Lampião e o cangaço são somente alguns dos assuntos abordados nesse documentário e no livro recém lançado do Professor João Tavares Calixto Júnior. 

Confiram. 

Geraldo Antônio de Souza Júnior - Criador e administrador do canal.

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90 ANOS DA MORTE DE ISAIAS ARRUDA

 Por José Cícero Silva

Cel Isaias Arruda de Figueiredo

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Na última quarta-feira, dia 8 de agosto completaram-se os 90 anos do célebre e terrível assassinato do Cel. ISAÍAS ARRUDA DE FIGUEIREDO ocorrido na Estação do trem de Aurora. Episódio do dia 4 de agosto de 1928 tendo o coronel morrido quatro dias após(8 de agosto do ano predito). Pondo um fim a uma rixa histórica entre os Arrudas e os irmãos paulinos. 
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Iniciado com a morte do chefe João Paulino um ano antes, o episódio continua até hoje sendo um dos mais marcantes e também palpitantes casos que compõem as narrativas historiográficas do Cariri. Por conta disso, o pesquisador do cangaço, meu amigo Jair Tavares, radicado em João Pessoa na Paraíba me propôs um "desafio", quer seja, que eu escrevesse uma carta fictícia e literária como se fosse do punho do próprio cel. Isaías. A fim de comemorar os 90 anos da morte do caudilho caririense; filho de Aurora e então prefeito de Missão Velha. De bom grado, aceitei o desafio de produzir literariamente e do meu jeito, a tal missiva.De cara, um dos maiores coiteiros de Lampião no Cariri que, inclusive, patrocinou e ajudou a arquitetar a trama Lampiônica com vistas à invasão de Mossoró, um ano antes da sua morte. Vejamo-la a seguir... 
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Pesquisador e escritor José Cícero Silva
o

"Meus amigos!
Deixai que o tempo e a história pacientemente julguem ao seu modo, todos os seus homens, porque os homens de carne e osso, até hoje e em geral são lobos e inimigos de si mesmos. Por conta disso, sequer com um pingo de justiça e de juízo, jamais conseguiram julgar ninguém.
Apenas vinte e oito anos de vida eu vivi. Tive o tempo necessário para alcançar na vida, o que a eternidade da história exigiu de mim. No fundo eu sei, que o preço que sempre se paga quando não se é compreendido por mais que se queira é demasiado.,, Ainda, deveras grande, o castigo de ter que aprender com seus próprios erros na vida e com os lajedos quentes em que se pisa, a robustez da alma e dos sentimentos. Crescer nas agruras e nunca reclamar em vão da dor. Tampouco, não se entristecer tão fácil diante dos sofrimentos mais agudos. Nunca abdicar de fazer o que por necessidade já se parece imperioso e preciso. E assim a alma da gente se depura, eu imagino, nada temi no mundo, senão a falsidade dos amigos que, acaso confiei em qualquer momento. E que eu diria ainda agora, que me foram tão poucos e muito caro.
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Viver é isso. Quer seja, provar o tempo todo deste risco iminente que nos ronda dia e noite como um cão danado latindo alto no nosso quengo. Como igualmente, desse gosto amargo que nos molha a língua o tempo todo. Fel e sangue que nos enchem a boca justamente nos momentos mais difíceis e determinantes, tanto na sobrevivência do dia a dia, quanto no derradeiro instante. Quando nos afirmamos ou nos arrependemos do que fizemos.Travei o bom combate do meu jeito. Diria que, a ferro e fogo. Sem nunca dizer “amém” ao tal destino que pela vida inteira me fizera acreditar que estávamos para todo o sempre condenados ao sofrer, sem dó nem piedade. Há quem diga que fui por todos estes anos, um inveterado fazedor de inimigos. Mas não. Eu apenas me fiz respeitar e, quando preciso usei dos meus métodos mais ferrenhos. Impus aos inimigos as regras duras e infalíveis do meu jogo. Quem assim mesmo me desafiou e decidiu por jogar comigo, sabia disso. Perdi muito pouco. Como pouco ou quase nada foi a minha disposição para aprender o sentido de qualquer derrota.
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Sempre soube que na vida tudo tem um preço. Vencer a qualquer custo foi sempre o meu prumo. Mas somente diante do esforço e do trabalho empreendido. Conquanto, foi este o meu maior desiderato. O meu sentido prática de estar de fato vivo e útil entre os cães do mundo. Nunca dormi em paz com qualquer desaforo não resolvido, 'freviando' na minha cabeça como piolho. Não gosto de senti minha alma em parafuso. Resolvi todos eles sempre no calor dos próprios fatos acontecidos. Pois, para mim desaforo é comida que se come quente. Porque depois dá congestão e bucho inchado. 
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Penso que, ‘perder’ ficou mesmo para os fracos. Os piedosos desmiolados. Os ingratos. Os preguiçosos. Os covardes. Os que em vão imaginam ainda agora com medo dos pecados, aplacar nos seus corpos frágeis as próprias chagas de Cristo. E que por conta disso, se puseram de joelhos diante dos seus impiedosos carrascos. Todos aqueles para quem a vida não passara de uma noite insone de 'malassombro' e medo. Os que se deram ao sofrimento mundano como algo predeterminado e merecido. Os vassalos ingênuos. Os que se acostumaram demais com o sofrimento a guisa de castigo merecido. Os que se benzem até diante de jumentos mancos quando passam pelas encruzilhadas dos caminhos.
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Não fui bandido como dizem. Fiz-me forte apenas com as armas que estavam ao meu alcance para assim não ser tragado por toda sorte de violência dos poderosos. Os que nunca me aceitaram como um deles, sequer em fazer uso da tal alcunha de “coronel”. Uma eguagem sem tamanho. Porque muito mais que o “coronel” sisudo gritou forte dentro de mim a voz altiva do jovem homem sobremaneira indignado com as mentiras, as injustiças, a violência e a dureza bruta de uma realidade no mais das vezes, fabricada de propósito para oprimir os que a desdita da vida já os oprimiam além da conta..
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Jagunços de Isaías Arruda, sob o comando de Zé Gonçalves
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Lutei, portanto, com unhas e dentes, contra a minha sina e a imposição dos que se achavam grandes o suficiente para querer escravizar as gentes desse meu mundo chamado sertão. Os que mais sofriam pagando, inclusive, o alto preço por se manterem vivos e abnegados sobre aquele ressequido chão. Eis a maldição de nascença a que todos os miseráveis dos sertões, acreditavam estar, de algum modo condenados. E assim, me impus ao suposto determinismo da ordem natural das coisas. Não me deixando jamais ser escravo de seu ninguém. Principalmente quando me dei conta de que o paraíso prometido pela resignação dos sertanejos, não estava noutro lugar, senão ali mesmo, onde eles todos sofriam. Fiz, portanto, o que foi preciso para conquistar o meu lugar no tal paraíso. Quem sabe, um pacto de sangue com o ser esperançoso que habitava minhas entranhas. 
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Nunca culpei ninguém(senão eu mesmo) pelas escolhas ou pelas lutas que enfrentei. Nem Deus, nem os santos, nem os anjos, nem o diabo. Sempre fui o principal sujeito de todos os meus atos. Êxito ou fracasso há de ser tão somente uma questão de tempo e de oportunidade. Só a essência das coisa me interessavam. Confesso até que me dei bem, com as opções que fiz e as decisões que tomei. Tive sucesso na minha ousada empreitada de quase três décadas de existência terrena. Quis rapidamente concretizar todos os projetos que sonhei. Tomei gosto pela coisa.,, Segui em frente a passos largos. Acho até que perdi por algum momento a exata noção do limite na dimensão do meu próprio tempo. Tinha pressa de viver e de conquistar o quanto antes, o galardão a que me propus buscar.
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Juntei num só espaço ousadia, inteligência e coragem. Logo progredi, ao tempo que também comecei a colher os meus primeiros frutos e um montão de inimigos(diga-se de passagem). Despertei o ódio e a inveja de muitos ricos da região. Minha fama começou a romper fronteiras. De modo que precisei arregimentar de chofre, a minha proteção. Foi o que fiz desde então. Crie também meu bando de proteção pessoal. Cresci num tempo e num ambiente onde não era comum sequer acreditar nos sonhos. Onde e quando só se podia ser grande de verdade pela força do dinheiro, da violência e do poder político. Custei um pouco para aprender tudo aquilo. Mas, logo superei todos os demais...
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De menino pobre, filho de roceiro esquecido no oco do mundo; lavador de cavalo dos potentados nas águas do rio Salgado durante as missas dos sábados e nas feiras do domingo; cheguei ao posto de delegado. Tendo aprendido a ler por mim mesmo, quase num piscar de olhos orientado pelos padres que vinham para Aurora nas festas do padroeiro.
Nasci e cresci às margens do rio Salgado. Tempos difíceis aqueles. Mas o destino havia me reservado algo. Até o dia que um juiz da capital, sob o pedido de um influente padre me fizera delegado. E eu correspondi bem neste ofício. Muito aprendi e em seguida me rebelei pela primeira vez no mundo. Revoltei-me contra tudo o que eu até então achava injusto, mentiroso e errado. Terminei assim por acabar uma eleição na bala, na terra em que nasci. Perdi por causa disso o meu primeiro emprego. Corri para não morrer. Fui me esconder na vila do Juazeiro. Aproveitei para pedir conselhos ao padre Cícero. Disse-me que eu não era disso. Pediu-me prudência e eu, nem mesmo um resto de fé tinha mais para lhe oferecer. Logo em seguida terminei por me fixar em Missão Velha. Julguei ser ali um bom lugar. Fiz amigos, correligionários e levei parentes para lá morar.
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José Cícero mostrando a Fazenda Ipueiras no Cariri Cangaço Aurora
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Fui um homem de diálogos. Fiz contatos. Peguei o trem, fui à capital. Falei de eleição e de inusitados projetos políticos. Gostaram de mim. Estariam do meu lado(claro) sempre que eu vencesse. Já me era algo. 
Voltei animado, com novo fôlego e até com um pouco mais de prestígio e de dinheiro na algibeira. Refleti assim que cheguei. Conclui que precisava de uma pequena guerra para alicerçar de vez a minha paz. Uma ferroada de marimbondo, quem sabe, para o necessário despertar dos adormecidos dos grotões. As armas de fogo eu conseguiria fácil na terra do padre. Lá eu fiz alguns amigos que também se aliaram ao meu propósito. Mas tudo estava guardado no mais completo dos segredos. Correram-se os dias, finalmente.
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Tudo o mais era mistério. Quase um previsível milagre dos acontecimentos; fácil como se fosse mel de engenho a escorrer aos poucos pelos dedos sujos de doce dos meninos. Chegara por fim o momento oportuno que eu tanto queria.Logo percebi que pelo Estado inteiro o poder da força também estava a fazer seus prefeitos. E, decerto, vi que nenhuma lei se rebelava contra aqueles novos acontecimentos. Estava aberta a porta que me levaria ao paraíso ou até mesmo ao inferno que eu não mais desejava. Não poderia eu, perder a única chance da vida de montar de vez a mula selada que passava a minha frente. Não titubiei. Criei coragem. A sorte estava lançada. Naquele instante, não cabia em meus planos de conquistas o medo da vida e nem da morte. Não podia mais retornar. 
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Não sei se porventura Deus naquela hora decisiva me olhava. Mas penso que ele depois me batera palma. Pois, nenhum homem que se preza pode mentir para si mesmo sobre as coisas que confia e acredita. E Deus sabia disso, em relação a mim. Minha sinceridade era do conhecimento dele...Fui em frente. Sem, no entanto, perder mais tempo com questões relacionadas ao sagrado ou ao profano. Porque na história o que mais interessa é o próprio homem.Acerquei-me de armas, de cobre e de alguns amigos que confiei naquele instante. Parti. Fui aos finalmente. Expulsei os dirigentes. Destitui sem muito diálogo e com a persuasão de alguns tiros o cel. Senhor Dantas do comando da cidade. E não o que acaso o povo possa pensar dele em qualquer tempo. De repente, estava eu prefeito. Mas não esqueçam! Em seguida fui eleito.
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Bando de Lampião em Limoeiro no retorno a invasão mal lograda a Mossoró
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Fortaleza me deu votos de parabéns e eu, me animei. Abiscoitei rapidamente fama e prestígio. Acreditei na razão da força do meu juízo para amestrar do meu jeito, a ignorância dos homens. Estava fascinado pela primeira vez com o poder que conquistei. Desde então, não sei por que cargas d’água todos passaram de repente a me chamar de coronel. Achei esquisito, mas asseguro-lhes que gostei.Choveu em meu entorno novos amigos e, com os quais, também a proporção numérica dos meus inflexíveis inimigos. Mas eu nunca confiei sem as devidas reservas em nenhum deles. Nem nos que me diziam amigos sendo inimigos, tampouco nos que, mesmo sendo inimigos, às vezes me eram mais dignos e mais sinceros do que aqueles. Razão porque até hoje desconheço qualquer homem sábio que seja feliz e viva bem sem ter que conquistar a duras penas seus verdadeiros inimigos íntimos. 
A meu ver, são um desastre, todos os que imaginam que ao seu redor só existem amigos. Confiar na lealdade no escuro é um tremendo perigo. Um pecado. Uma estupidez sem tamanho. Os que assim pesam estão definitivamente fadados ou ao fracasso ou quando muito ao anonimato.o
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Na função de prefeito, depressa me tornei fazendeiro. Dono de terras. Criador de gado, produtor de cereais. Diria que um homem relativamente rico com tino para ganhar dinheiro nos negócios. Quase um predestinado como diria mais a diante governo.Como disse, quando me senti invejado e perseguido pela ira dos inimigos criei meu bando de proteção. Jagunços mesmo... Mas modestamente disciplinados sob as duras ordens do seu comandante. Todos bem pagos, confesso, pelos bons serviços prestados. Muito melhor do que os que uma vez compunham o bando do tal Cel. Zé Inácio. Confiei o comando ao amigo Zé Gonçalves. Um dos homens mais inteligentes e leais que conheci na vida. Que mesmo sem nenhum estudo sabia muito e, muito igualmente, aprendi com ele. Ademais, quem foi bom vaqueiro na caatinga braba deste mundo haveria de ser também um bom condutor de homens rudes. E o foi sem par. Muito do que fiz confidencie(quando deu) com ele.
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Ainda quanto ao bando, não nego que à distância fizeram aqui acolá algumas estripulias. Algumas sem o meu apreço ou conhecimento. Outras com meu crivo quando era absolutamente necessário. Como da vez que puseram fogo e destruíram a ponte do trem no Olho d’água nas proximidades de Ingazeiras. posto que mexeram comigo os chefetes da RVC e ainda cometeram a desfeita de romper o contrato sobre o fornecimento de madeira que firmamos. Como ainda, se negaram a pagar o resto do dímetro que me deviam por direito.
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Por conta disso fiquei de mal com o então governo que prometera me processar e retaliou o diabo a quatro. Uma vez tive que expulsar do bando, alguns cabras por andarem brigando, criando problemas sem ser preciso...O grupo também se precipitara quando resolveu dá cabo do João Paulino - chefe dos irmãos Paulinos d'Aurora. Mas nada disso me impôs medo. Toda minha vida foi administrar conflitos e desafiar mim mesmo..Ninguém me amou no mundo, além da minha Estelita com quem casei no início da década de 20 na Aurora. Além da minha pequenina Orlandina, minha filha. Só por causa delas, vez por outra, sentir o raro temor de morte repentina. No mais, posso dizê-los que o cangaceirismo entrou na minha vida mais por acaso do que por necessidade. Foi, por assim dizer, um acidente de percurso. Ou ainda, um ato falho. Mas, tudo o que foi é porque era mesmo para ter sido.  

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Explico: o bando que formei para me proteger dos inimigos em umas das suas incursões mais distantes terminou por conhecer outras gentes por aí, Assim, me trazendo notícias de Décio Holanda do Pereiro, Júlio Porto e Massilon. Por sinal, foi por intermédio deste último, que acabei por conhecer o próprio Lampião. Num encontro acertado numa manhã de sábado na fazenda Ipueiras de minha propriedade na Aurora, confiada aos cuidados de Zé Cardoso, meu parente.
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Massilon
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Nada se diz, mas naquela reunião havia mais gente interessada no lucrativo negócio de invadir Mossoró. Uma empreitada que não geraria apenas lucros financeiros, mas acertos de contas, desejo de vingança e muitos dividendos políticos para tantos outros no seu entorno.Após a reunião predita, Lampião, homem experiente, não quis ficar na referida fazenda. Segundo ele, seria um alvo fácil para os seus perseguidores(as volantes que vinha desde Mossoró no seu encalço). De fato, a fazenda(Ipueiras) ficava bem nas proximidades da cidade. Preferiu então, o capitão, o seu antigo coito... Um esconderijo estratégico bem no alto do inóspito serrote do Diamante, sob os prestimosos cuidados do vaqueiro Miguel Saraiva.Pediram-me para aquela empreitada, além de homens, alguns animais de monta, armas, munição e dinheiro. Acenei com tudo. Apenas solicitei que mantivessem segredo, isto é, deixassem meu nome distante dos acontecimentos.

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Final de junho quando, enfim, partiu o bando sob o comando do afamado rei do cangaço. Nem sei como o capitão Virgulino se deixou levar pela conversa mole daquele tal de Massilon Leite. Um aventureiro falastrão querendo ser jagunço a pulso, porém, mais parecia um caixeiro-viajante tangedor de burros e jogador de carteado. Penso, contudo, que o capitão fora mais por curiosidade de conhecer de perto em seus meandros as terras do riogrande, do que pelo dinheiro que lhe prometeram.
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Em meu compromisso firmado sob a forma de patrocínio vos garanto, não tive nenhuma culpa pelo ocorrido, visto que eu também fui convidado e, por isso mesmo enganado acerca de um suposto lucro fácil. Além de prestar favor a uns amigos distantes. Emprestei meu dinheiro, pouco mais de 30 contos de réis contados, com a garantia de que era um investimento exitoso e seguro. Não tive outro interesse na tal invasão da povoação potiguar. Nem tampouco, do que fizera antes pelos caminhos, Massilon aquele mentiroso desgraçado.
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Naquele fatídico dia 13 estava eu em Missão Velha onde era prefeito. Fiquei sabendo dias depois pelo trem, acerca grande ato malogrado. Não esperei muito. Antecipei-me aos fatos logo que percebi que Lampião estava em perigo e uma vez acuado pelas volantes de três estados, voltaria certamente para o coito da Ipueiras e Diamante.  


Peguei o trem. Rumei para à capital. Fui ter com Moreirinha meu aliado político; chefe do Governo, então presidente do Ceará. Novamente expliquei-lhe meus planos. Ele aquiesceu deveras comigo. 
 
Agora, além de livrar meus couros do fracasso iminente de Lampião com seu bando, negociei outros possíveis lucros com o Governo. Moreira da Rocha tinha interesse em dizer para todos que deu cabo dos facínoras e temíveis bandoleiros nordestinos. Os jornais da época não falavam de outra coisa.De modo que deixou tudo a cargo do major Moises, curiosamente, meu parente.
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Casa do Cel Isaías Arruda em Missão Velha
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Voltei. Dei ordem à Cardoso. Falei-lhe dos últimos acontecimentos e das consequências do tal fracasso. Era teimoso. Não achou razoável a linha dos procedimentos. Pensava como Moises. Tinham eles, uma outra linha de raciocínio. O major pedira-me num bilhete rabiscado; que eu me aquietasse e deixasse as coisas sob seu tirocínio. Mantive-me mesmo assim preocupado com o ocorrido. Não me agastei. Retornei à Missão Velha. Deixei que Viana o agente da RVC de Aurora me pusesse a par de todos os vindouros acontecimentos. Voltei de troler já que não era mais prudente esperar o trem do outro dia. Eu precisava correr contra o tempo...Foi o que fiz. Depois de Limoeiro, a coisa ficou mais preta. Jornais davam conta de que a morte ou prisão de Lampião se daria a qualquer momento. ‘Mas o homi era muito esperto, um verdadeiro preá das caatingas’. De todos os fogos e dos piquetes, malgrado os pouquíssimos homens que ainda lhe restaram e, acossados pelo cansaço, a fome e a pouca munição, ele ainda assim saíra ileso de todos os conflitos. Mesmo em absoluta desvantagem de armas e de homens. Era de fato, insuperável na sangrenta batalha do seu mundo catingueiro. Não dava tiro à toa. Munição pra ele naquele momento era ouro.
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Como supus, vinha mesmo na direção da Aurora. Atravessara por fim, a serra da Várzea Grande. Venceu o fogo que se deu no Ribeiro no riacho do Bordão do Velho. Amanheceu com seus cabras já nas matas seguras da Ipueiras. Mas, deixei ali tudo pronto.O trem da volante já estava estacionado na estação esperando Lampião e seus comandados, vivos ou mortos. Major Moises ainda se mantinha distante demais do palco do conflito. Nascera o novo dia...E quando enfim, o sol apontou seus primeiros raios: Um intenso tiroteio deu as boas-vindas para o bando. Lampião gritou: - Fomos traídos cambada! Viva Jesus Cristo e o padre Cícero do Juazeiro! E os cangaceiros em uníssono lhe responderam: - Não temos medo. Deus seja louvado, capitão! Em disparada corriam atirando pra todos os lados. E, quanto ao veneno, aquilo foi ideia de Miguel, o tal vaqueiro.Porém, esperto demais, Lampião não caiu em nenhuma dos engôdos tramados. Quando se deu conta dos tiros e, em seguida do incêndio no baixio; empreendeu fuga com seus homens pela margem direita do velho açude. Cardoso depois me contou tudo em detalhes...
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Danado. O major ainda continuava longe demais dos fatos concretos.De certo modo, fiquei feliz em saber da fuga do capitão, que não nego, era meu amigo. Fui seu coiteiro, afora esta vez, asseguro, ele nunca foi embora sem me deixar um bom dinheiro. Não me enraivo quando me chamam de bandido, mas juro que me dói por dentro quando me têm como traidor e covarde. Não foi nada disso, eu vos prometo que não minto. Em nome de Deus ou dos seiscentos diabos! Perdi um amigo. Acrescentei na minha lista mais um considerado inimigo de vulto e peso.Deixei-lhe até uma carta escrita contando tudo(tim tim por tim tim) sobre o meu aperreio e tudo o mais que se passou comigo. O portador, uma ex-vaqueiro das Emboscadas não chegou a tempo de entregá-lo no cruzamento da linha do trem depois da Ingazeiras pras bandas do Morro Dourado, quando Lampião fugia na direção de Milagres e Mauriti rumando, enfim, na direção Conceição de Piancó na Paraíba.
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Adailton Macedo e José Cícero no Cariri Cangaço Aurora

Nunca mais o vi. Apenas tive aqui acolá, algumas notícias vagas dando conta da sua passagem pelo Coité, dizendo um dia se vingar de mim. Um padre foi quem me trouxe este recado. Desde então me preparei pra isso. Fiquei de olho na Lagoa do Mato na serra da Goianinha.Não sei até hoje se por conta de tudo disso, posso dizer seguramente, que estou em paz com Deus e com os homens. Só sei que a vida não me foi tarefa fácil. Foi preciso ser fogo e pedra para conseguir chegar aonde cheguei. Isso é fato.E, não obstante todos estes acontecimentos fatídicos, como então se daria a história do fim? Passei o resto daquele ano remoendo estes tormentos. Veio o ano de 28, meados dos meses de julho e agosto... A velha rixa com os Paulinos e os Santos da Aurora não me deu nenhuma trégua. Parecia um imbróglio que não tinha mais fim.Quando parava e se arrefecia um pouco era porque estava a tomar novo fôlego. Eu tinha efetivamente que preparar chumbo grosso.Viana sempre me cobria de informações e de cuidados enviando-me recados escritos, ou notícias pelo código Morse da estação do trem. Adoecera naqueles dias o agente.
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Eu não via poder de fogo nos Paulinos. Faltavam-lhes um pouco mais de coragem e muito dinheiro. Contudo, é mister saber que os grandes inimigos nunca dormem. E eu os subestimei neste quesito, pois nunca é prudente permitir que os inimigos se reúnam contra a gente sem uma peleja atras da outra. Havia uma trégua estranha.Os paulinos foram usados por muitos dos meus inimigos, inclusive gente grande daqui e do além-fronteira.Tudo parecia tranquilo. Porém nunca gostei quando avistava um céu de chumbo no horizonte. Nem urubus brincando sobre minha cabeça. Mais uma vez viajei à capital. Tinha muitos negócios a resolver. Dias tranquilos aqueles. Edifiquei grandes obras sociais na Missão Velha. Novos correligionário estavam do meu lado. Estava feliz, como nunca estive.Na volta de Fortaleza contabilizei bons lucros, inclusive políticos. Namorei, visitei amigos. Esqueci um pouco das intrigas da minha vida cotidiana. Vinha na companhia dos primos.Viana há dias que não fora ao trabalho na estação do trem. Estava doente me disseram o cobrador e o maquinista. Fiquei assim sem suas notícias acerca do que se passava na terrinha. Alheio demais dos acontecimentos.
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Estelita tinha até pedido para que eu deixasse a política e fôssemos morar de vez na Fortaleza. Que eu poderia me tornar na terra de Alencar um grande comerciante. Fiquei de pensar qualquer dia em tudo aquilo. Ela adorava contemplar o mar. Era filha daquele litoral bonito. 
Nossa filhinha Orlandina haveria de crescer muito bem, sob os ventos saudáveis e frescos do grande mar. E aprender muitas letras. Pensei nisso durante a viagem. Queria mudar meu rumo e fazer novos planos...Mas não é tão fácil assim a gente não ter que aceitar de bom grado o seu destino. Cochilei um pouco. Nem vi quando passei nas Lavras. Só despertei no riacho fundo(na pequena estação do Iborepi). Em seguida, fiquei tagarelando umas amenidades que não lembro. Quando me dei conta o trem já adentrava a bela paisagem de Aurora ladeada pelo rio que parecia correr ao contrário do trem. Na estação de Aurora eu iria descer tomar um café e talvez rever algum amigo.
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José Cícero Silva mostra o local onde Isaías foi baleado na Estação da RVC em Aurora, aos pesquisadores, Sousa Neto, Bosco André e Manoel Severo
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De repente, quando o trem ainda deslizava sobre os trilhos. Um barulho de gente... Senti um cutucão na constela. Outro e mais outros. Seguida de uma sensação de frio e um formigamento na barriga. Um afã no peito. Uma tontura. Um repentino cansaço. Uma falta de ar. Um gosto diferente na boca.Quando em seguida, vi a cor do meu próprio sangue pintando de vermelho a parte inferior do linho meu terno cinza. Fortes pisadas sobre o assoalho do vagão onde eu estava. Som de batidas nos acentos. Uma correria. Uma gritaria de gente dizendo: - É tiro, é tiro!
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Tentei pegar a arma que eu trazia comigo. Não deu tempo. Tampouco tive a força necessária em minha mão para segurá-la no tempo devido. Pela janela vi o meu primo correndo na direção da rua. Estava em perseguição dos meus agressores. Meus antigos inimigos aurorenses.
Tentei sair da ali. Mas foi em vão. Apenas alguns passos na direção da porta de acesso à plataforma... Sustentado sob os braços das pessoas desci do trem. Puseram-me sobre a pedra morna da velha estação que muitas vezes pisei altivo com meus passos firmes. Estava então abatido como um pássaro canoro em seus últimos estertores. Mas eu estava calmo. Não era medo o que eu sentia naquele instante. Era saudade e desilusão da vida. E, assim mesmo sob a rês do chão ainda enxerguei, ao nível dos sapatos e dos chinelos da multidão que me cercava o céu do mundo daquela Aurora pela última vez.Roucamente com a voz cansada ainda expressei: - Covardes, covardes! Ao que respondeu meu outro primo: - Foram os paulinos Isaías, foram os paulinos. – Mas eles vão pagar por isso, completou.
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Estação da RVC em Aurora, cenário da morte de Isaias
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Ainda vi também o farmacêutico dizendo: - “o estado do coronel é grave. Chamem depressa o dr. Sérgio Banhos de Iguatu. Avise ao pessoal de Missão Velha. Pois estar muito grave o coronel. Mas ele é jovem há de aguentar, quem sabe.” dissera ele.Quase sem visão, ainda me foi possível vislumbrar o meu velho amigo Augusto Jucá, pedindo para que me levassem para a sua casa. Depois adormeci. Sem senti nenhuma dor. Apenas com uma sensação estranha de quem ia morrer assim, tranquilamente, logo que os olhos se fechassem e quando dormisse. Dormi suavemente...Era uma tarde morna do dia 4 de agosto de 1928. Um ano de muitas mudanças em que todas as promessas acumuladas por minha vida inteira iriam ser realizadas de vez em minhas mãos. Estava disposto a mudar.
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Nada mais que se diga. Nada puderam fazer os dois médicos(Banhos e Antenor) que me assistiram durante os quatro dias que ainda tive de vida. Durante todos aqueles dias, homens disfarçados de bêbados retirantes, mendigos e de vendedores de cavalos ficaram pelos arredores da cidade, bem como no entorno da estação e da residência em que eu me encontrava moribundo. Homens dispostos e de confiança armados até os dentes, com a missão de garantir a minha segurança e, que também tentaram vingar a minha desdita.No dia oito daquele mês, o bando estava pronto para invadir pela região de Ingazeiras o lugar onde moravam meus assassinos. Mas, minha familiar ordenou que não.
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Dona Orlandina, filha de Isaías Arruda, entre os Conselheiros do Cariri Cangaço; 
Bosco André, Manoel Severo e Aderbal Nogueirao
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Parti finalmente às 6h da manhã do dia 8 de agosto daquele ano. Meu corpo foi de troler para Missão Velha onde uma multidão entristecida me esperava pela derradeira vez na mesma estação em que tantas vezes cheguei com boas notícias e grandes novidades. Fui sepultado à tardinha após a missa, no antigo cemitério da terra em que fui prefeito e que também amei.Quis o destino, todavia, que na mesma terra em que nasci se findassem os meus dias. Foi assim que tudo aconteceu de verdade. Tudo o mais, ou é incompreensão subjetiva dos fatos ou pura má-fé dos que não aceitaram até agora o necessário acerto de contas do passado com o presente e o futuro, sob o pano de fundo da história.E lá se foram 90 anos...Ainda tem quem não acredite na eternidade. Um forte abraço, de algum lugar no passado.
Cel Isaías Arruda de Figueiredo"

José Cícero, poeta, pesquisador e escritor
Secretário de Cultura de Aurora
Conselheiro do Cariri Cangaço
Aurora – CE.

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