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terça-feira, 25 de maio de 2021

CANGAÇO: EPOPEIA DE GUARIBAS

 


No município de Porteiras, sul do Ceará aconteceu uma das maiores tragédias do movimento do cangaço.
Circulou informação que o afamado Cangaceiro Lampião estava de coito na sede da fazenda Guaribas de propriedade de Francisco Pereira Lucena, vulgo Chico Chicote.
Se destacaram no combate ao movimento cangaceiro as chamas Forças Volantes, compostas de policiais e também civis encorporados.
Certo momento uma volante composta de 150 soldados da Paraíba, Pernambuco e Ceará, diante da informação que circulava resolveu atacar a sede da fazenda de Chico Chicote.
Foram 32 horas de combate.
Dentro da residência se encontravam 4 homens e 2 mulheres da família do Chico.
As mulheres colaboraram colocando panos molhados para esfriar os canos dos rifles e os homens da família sustentaram o fogo.
Resultado: 37 pessoas mortas, 27 policiais e 10 civis.
 
De dentro da residência foram 2 mortos com mais 8 civis da fazenda Guaribas.
 Nas fotos reveladoras se destaca o coqueiro resistente todo furado de bala. 
 
Extraído do blog: "Luz de Fifó
 

QUEM FOI PADRE CÍCERO?

 Por Benedito Vasconcelos Mendes

Para este monumento (cabeça do professor Benedito Vasconcelos Mendes, cearense de Sobral) foram usadas 12 toneladas de concreto.

Padre Cícero (Cícero Romão Batista) foi um sacerdote e político cearense, carismático, caridoso, virtuoso, que dedicou todo o seu trabalho ao povo humilde do Nordeste. Nasceu na cidade cearense de Crato no dia 24 de março de 1844 e morreu em Juazeiro do Norte-CE no dia 20 de julho de 1934. Passou toda sua vida religiosa e política em Juazeiro do Norte. Entrou na política partidária com 67 anos de idade, quando em 1911 conseguiu elevar a então vila de Juazeiro para a categoria de município e tomou posse como seu primeiro prefeito, por articulação do médico baiano Floro Bartholomeu da Costa (1876-1926), que a partir daí passou a ter grande influência na vida política do sacerdote. Padre Cícero foi ser pároco na pequena e atrasada vila de Juazeiro em 1872, dois anos depois de ter concluído seus estudos no Seminário da Prainha em Fortaleza e se ordenado padre e aí permaneceu até sua morte. Sua vida religiosa foi muita conturbada, devido às divergências que teve com seus superiores diocesanos, primeiramente, com o segundo Bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira (1836-1917), e depois da instalação da Diocese de Crato, com o primeiro Bispo Diocesano, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva (1863-1929). O motivo das desavenças do Padre Cícero com seus superiores eclesiásticos foi o suposto milagre ocorrido em 1889, por ocasião de uma missa que ele celebrava. Uma de suas beatas, Maria de Araújo (Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, 1863-1914), ao receber a comunhão das mãos do Padre Cícero, observou que a hóstia ficou vermelha em sua boca. O povo considerou o fenômeno um milagre, acreditando que teria sido o sangue de Jesus Cristo, que se fazia presente na boca da beata. A notícia do milagre se espalhou rapidamente e as romarias a Juazeiro se intensificaram, em busca da benção do Padre Cícero. Em 1894, a Santa Sé negou o milagre, determinou a saída do Padre Cícero de Juazeiro, sob pena de ser excomungado, e suspendeu suas Ordens Sacerdotais, proibindo, assim, o Padre Cícero de celebrar os sacramentos e outros atos religiosos. Em obediência às determinações da Igreja, padre Cícero foi residir na cidade pernambucana de Salgueiro. Em 1898, ele viajou à Roma para se defender pessoalmente, perante as autoridades do Vaticano, das acusações que resultaram na sua punição. Ele foi ouvido pelo Supremo Tribunal do Santo Ofício e foi, em parte, absolvido, sendo-lhe permitido voltar a residir em Juazeiro e poder abençoar os fiéis, porém continuou proibido de celebrar missa e outros sacramentos. O então bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira e, tempos depois, o bispo de Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, foram * Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Membro Efetivo da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Academia Mossoroense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Centro Cultural do Ceará. Sócio Correspondente da Academia Cearense de Letras, Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

acusados pelo povo de perseguirem o Padre Cícero. Com o passar do tempo, cada vez mais foi aumentando o número de romeiros que se deslocavam até Juazeiro para pagar promessas. Com o aumento do número de romeiros do “Padim Ciço”, Juazeiro cresceu vertiginosamente e a liderança religiosa do Padre se tornou fanática, a ponto de ser considerado “santo” pelos sertanejos.

Em 1908, chegou a Juazeiro um médico baiano, Dr. Floro Bartholomeu da Costa (1876- 1926), que introduziu o Padre Cícero na política partidária e, a partir daí, começou a influenciar, de maneira decisiva, as ações políticas do Padre Cícero.

Em 1911, Padre Cícero, com a ajuda dos conchavos políticos de Floro Bartholomeu, foi escolhido para ser o primeiro Prefeito Municipal de Juazeiro do Norte e, na sua posse no cargo de prefeito, reuniu sob sua liderança 17 chefes políticos (coronéis) de toda a região do Cariri Cearense e firmou o famoso “Pacto dos Coronéis”, documento assinado por todos os 17 coronéis da região, garantindo que nenhum chefe político procuraria depor outro chefe, mantendo entre eles inquebrantável solidariedade, não só pessoal como política, sendo, em qualquer emergência, “um por todos e todos por um” e que manteriam incondicional solidariedade ao então Governador do Ceará, Comendador Antônio Pinto Nogueira Acciolly (1840-1921).

Em 1912, o Governador Nogueira Acciolly foi deposto e o Tenente-coronel Marcos Franco Rabelo (1861-1920) tomou posse como Governador do Ceará e demitiu o Padre Cícero do mandato de Prefeito de Juazeiro. Em fins de 1913 e começo de 1914, Juazeiro foi invadida por tropas policiais do Governo de Franco Rabelo, evento que ficou conhecido por “Sedição de Juazeiro”. As topas policiais invasoras foram rechaçadas pelo exército de jagunços organizado e comandado por Floro Bartholomeu, com a total concordância do Padre Cícero. Os jagunços comandados por Floro Bartholomeu, depois de expulsar as tropas invasoras da cidade de Juazeiro, entraram em diversas outras cidades, ocuparam Fortaleza e ajudaram a depor o Governador Franco Rabelo. Este fato deu notoriedade ao Dr. Floro Bartholomeu, que depois, em 1926, quando ele criou o Batalhão Patriótico, para combater a Coluna Prestes, foi homenageado com o Título de General Honorário do Exército Brasileiro.

Em 1914, Padre Cícero foi eleito Prefeito de Juazeiro do Norte e Primeiro Vice-governador do Estado do Ceará e Floro Bartholomeu foi eleito Deputado Estadual, oportunidade em que foi escolhido para ser Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Floro Bartholomeu, com a ajuda do Padre Cícero, foi eleito duas vezes Deputado Estadual e duas vezes Deputado Federal. Após a morte de Floro Bartholomeu, ocorrida em 1926, Padre Cícero, por ser seu suplente, fez jus ocupar a cadeira de Deputado Federal, mas nunca saiu de Juazeiro do Norte para exercer o mandato de Deputado Federal no Rio de Janeiro. O que ele gostava mesmo era de ser prefeito de sua amada Juazeiro, cargo que exerceu, sem interrupção, de 1914 a 1927, além do pequeno espaço de tempo em que ocupou o mandato de Primeiro Prefeito de Juazeiro de 1911 a 1912, quando foi deposto pelo Governador Franco Rabelo. Até a Revolução de 1930, Padre Cícero foi o mais importante coronel político do Nordeste brasileiro.

Além da influência recebida, nos assuntos políticos, de Floro Bartholomeu, Padre Cícero também foi muito influenciado pelo professor, jornalista, intelectual e grande abolicionista cratense José Joaquim Teles Marrocos (1849-1910) e pelo Tenente-coronel da Guarda Nacional, José Joaquim de Maria Lobo, que era próspero fazendeiro do município de Lavras da Mangabeira.

Virgolino Ferreira da Silva o Lampião

Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1898-1938) visitou o Padre Cícero em Juazeiro do Norte em 1926, quando o Rei do Cangaço recebeu a patente falsa de Capitão do Batalhão Patriótico, criado pelo Deputado Federal Floro Bartholomeu para combater a Coluna Prestes, que na época estava rondando os sertões nordestinos. Lampião recebeu também fardamento, fuzis e munições doados por Floro Bartholomeu (Batalhão Patriótico de Juazeiro do Norte), com a justificativa de que iria combater a Coluna Prestes. Com o objetivo de enfrentar a Coluna Prestes, que percorria o território brasileiro e que na época estava atravessando o Nordeste, o Deputado Federal Floro Bartholomeu, por solicitação do Presidente da República, Artur Bernardes (Artur da Silva Bernardes, 1875-1955), criou, em Juazeiro do Norte, o Batalhão Patriótico e teve a ideia de reforçar o referido batalhão com os cangaceiros comandados por Lampião. O Batalhão Patriótico de Juazeiro era formado por policiais da Polícia Militar do Estado do Ceará, por militares do Exército Brasileiro e por jagunços, requisitados dos coronéis sertanejos (chefes políticos). Floro Bartholomeu solicitou ao Rei do Cangaço que fosse até Juazeiro do Norte para ter uma conversa com ele, visando a entrada de Lampião e de seu bando de cangaceiros no Batalhão Patriótico. Nesta ida a Juazeiro, Lampião receberia armamento, munição e farda para seus comandados, mas no período em que Lampião esteve em Juazeiro (4 a 7 de março de 1926), o Deputado Floro Bartholomeu estava gravemente enfermo no Rio de Janeiro, onde morreu no dia 8 de março, um dia após a saída do bando de Lampião da cidade de Juazeiro. Devido à ausência de Floro, Padre Cícero ficou com a obrigação de receber o bando de cangaceiros e entregar os fuzis, munições e fardas.

Padre Cícero de Juazeiro, juntamente com o Padre Ibiapina (José Antônio Pereira Ibiapina, 1806-1883), Beato Antônio Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel, 1830-1897), Beato Zé Lourenço (José Lourenço Gomes da Silva, 1870-1946), Beato Zé Senhorinho (José Ferreira da Costa, 1892-1938) e com o Frei Damião (Pio Giannotti, 1898-1997), por terem vivido na mesma época e na mesma região (Sertão nordestino), originaram um tipo de religiosidade diferente, somente encontrado no sertão seco e quente do Nordeste brasileiro. Padre Cícero foi contemporâneo do Padre Ibiapina por 39 anos. O Beato Antônio Conselheiro foi contemporâneo tanto do Padre Cícero como do Padre Ibiapina durante longos 53 anos. Beato Zé Lourenço foi contemporâneo do Padre Cícero por 64 anos. Beato Zé Senhorinho foi contemporâneo do Beato Zé Lourenço durante 46 anos. Frei Damião foi contemporâneo do Padre Cícero por 3 anos e do Beato Zé Lourenço durante 15 anos. Este tipo de religiosidade singular, praticada pelos sertanejos nordestinos, baseada na romaria, no misticismo, no compadrio, no aconselhamento, e no endeusamento dos líderes religiosos, tem muito haver com as tradições culturais dos sertanejos, herdadas dos tapuias. Os índios nativos do semiárido nordestino (tapuias) tinham o costume do apadriamento e do aconselhamento. Ao Pajé, eles pediam conselhos sobre assuntos de saúde e religião e ao Cacique sobre assuntos relacionados com guerra e convivência social. Estas tradições culturais fizeram com que Padre Cícero fosse alcunhado de “Padim Ciço”, devido ao grande número de afilhados que ele tinha. O nome de Conselheiro (Antônio Conselheiro) também foi devido ao costume dos sertanejos de pedir conselhos. Na realidade, todos estes santos populares, eleitos pelo povo (Padre Ibiapina, Padre Cícero, Frei Damião, Beato Antônio Conselheiro, Beato Zé Lourenço e Beato Zé Senhorinho) gostavam de dar conselhos e tinham muitos afilhados.

Segundo o Padre Francisco Sadoc de Araújo (1931- ), Padre Ibiapina influenciou tanto o Padre Cícero como o Beato Antônio Conselheiro na maneira de fazer religião. Ele pregou tanto para o Beato Antônio Conselheiro como para o Padre Cícero, antes deles começarem suas vidas de líderes religiosos. O jovem Cícero Romão Batista, dois meses antes de entrar para o Seminário da Prainha em Fortaleza, com 21 anos de idade, assistiu às pregações do Padre Ibiapina por ocasião das Santas Missões de Missão Velha-CE, no dia 2 de fevereiro de 1865, oportunidade em que foi também inaugurada a Casa de Caridade de Missão Velha. Padre Ibiapina foi o precursor desta maneira singular de prática religiosa, usada no sertão nordestino.

Uma outra tradição dos sertanejos, herdada dos tapuias e que foi utilizada por estes líderes religiosos é o trabalho em mutirão. Os índios, tudo que faziam era em mutirão, caçavam em mutirão, pescavam em mutirão, coletavam frutos e mel de abelhas silvestres em mutirão e guerreavam em mutirão. Estes religiosos também usavam esta tradição sertaneja em seus trabalhos, em favor do povo e da Igreja. Padre Ibiapina, Beato Zé Lourenço e padre Cícero utilizavam o trabalho em mutirão para construir igrejas, capelas, cruzeiros, cemitérios, roçados e pequenos açudes no sistema de mutirão.

Um fato curioso ocorrido na vida do Padre Cícero foi o relacionado com um touro da raça zebuína Guzerá, que o padre ganhou de presente do cearense e grande industrial de Alagoas Delmiro Gouveia (Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, 1863-1917). Padre Cícero encarregou o Beato Zé Lourenço de criar o referido bovino, conhecido por “Boi Mansinho”, no Sítio Baixa Dantas. Este bovino chamava muito a atenção dos romeiros, por ser de propriedade do Padre Cícero e de ser de um tipo de gado diferente, com cupim muito desenvolvido, chifres grandes e barbela extensa. Naquela época, os zebuínos estavam sendo introduzidos nos sertões nordestinos, trazidos da Índia. No sertão só existia gado de origem europeia, que não tem cupim desenvolvido nem barbela extensa. O Sítio Baixa Dantas passou a atrair grande número de romeiros do Padre Cícero, devido à presença do Beato Zé Lourenço e do Boi Mansinho, que passou a ser adorado como boi milagroso. Os romeiros retiravam pelos da vassoura da cauda, raspa dos chifres e dos cascos, fezes e urina do boi milagroso, para ser usado como remédio para a cura das mais variadas doenças. Devido o fanatismo dos romeiros, o Deputado Floro Bartholomeu, amigo fiel do Padre Cícero, preocupado com o desgaste da imagem do padre, mandou matar o Boi Mansinho e distribuir a carne com a população e prender o Beato Zé Lourenço.

Padre Cícero tornou-se conhecido na região antes do milagre da hóstia na boca da beata Maria de Araújo. Pouco tempo depois da chegada do Padre Cícero a Juazeiro, ocorreram duas grandes secas (seca de 1877-1879 e a seca de 1888), que fizeram com que este sacerdote ficasse admirado em todo o Nordeste brasileiro, por seu admirável trabalho de auxílio social ao povo, fornecendo comida, remédios e apoio espiritual às vítimas do flagelo climático.

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NAZARÉ DO PICO A MORTE E O ESQUARTEJAMENTO DE AURELIANO SABINO DE SÁ.

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Cangaçologia

Essa é uma daquelas histórias que quando a conhecemos passamos a ver o fenômeno cangaço com outros olhos. Que nos mostra a realidade dos fatos, sem fantasias ou romances, que nos deixa claro que o período do cangaço foi um período violento, onde roubos, sequestros, assassinatos e toda sorte de crimes estarrecedores eram cometidos e que não trouxe nenhum benefício ao sertão e muito menos ao pobre sertanejo. Nesse documentário vocês conhecerão a história da morte de Aureliano Sabino de Sá, morto e esquartejado por Lampião e seus comandados no ano de 1930, e que teve sua cabeça decepada, lançada e devorada por porcos. Um crime bárbaro e cruel que marcou e manchou ainda mais de sangue a história cangaceira nordestina. 

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A PASSAGEM DE CORISCO POR CAFARNAUM

Como hoje comemora-se o fim definitivo do cangaço, com a morte de Corisco e a prisão de Dadá, nessa referida data de hoje. Vou publicar esse texto do meu amigo Leandro Barreto, em sua narração, ele nos conta com precisão todos os acontecimentos ocorridos, Leandro Barreto é um escritor e historiador da cidade de Cafarnaum-Bahia, cidade essa, onde partes dos fatos aconteceram.

A PASSAGEM DE CORISCO POR CAFARNAUM

CAFARNAUM faz parte da fase final do cangaço, por aqui o último cabra de Lampião passou vivo e retornou moribundo na carroceria de um caminhão, quando criança eu ouvi vários relatos de Zé de Cazuza e meu avô Tavinho que foram testemunhas oculares deste evento, que presenciaram Dadá praguejando, cuspindo e desafiando pessoas a sua volta que debochavam de sua situação e de seu Corisco. Existem vários documentários no YouTube que atestam meu relato além de diversos livros publicados. Meu intuito é certificar e fazer com quê Cafarnaum seja oficialmente inserido no roteiro do cangaço.

Neste 25 de maio fazem 81 anos que o Diabo Louro passou em Cafarnaum moribundo com sua companheira Dadá.

Cristino Gomes Cleto o Corisco foi um dos mais valentes e cruéis cangaceiros do famoso bando do Capitão Virgulino ou Lampião, e por uma ironia do destino passou morto em cima da carroceria do caminho de Zé Cláudio pelo então arraial de Cafarnaum em 25 de maio de 1940. Zé Cláudio era um caminhoneiro natural de Miguel Calmon, mas, que vivia transportando carga para Cafarnaum entre as décadas de 1940 a 1960.

Vamos ao inicio de tudo: Corisco juntamente com sua companheira Sérgia (Dadá), após anos de combates pelo sertão nordestino, decidem abandonar o cangaço com a anistia dada pelo governo de Getúlio Vargas, eles rumaram com destino à cidade de Bom Jesus da Lapa. Chegando no dia 23 de maio de 1940 a um lugar denominado de fazenda Pacheco (cidade de Barro Alto - BA) propriedade de José Pacheco, ali onde Corisco, Dadá e Zefinha pedem pousadas ao dono da fazenda que os instala numa casa de farinhas

O tenente Zé Rufino, que já vinha no encalço do cangaceiro há anos e sabendo da grande quantia de dinheiro e ouro que Corisco carregava, chega à cidade de Miguel Calmon e junta vários soldados para capturar Corisco. Entre os soldados: José Rocha (Zé Roxão), Mulungu, Maninho Caraibeiro, Gervásio Silva, além do motorista José Cláudio, que era o único que rodava para as caatingas naquele tempo e conhecia muito bem as estradas do sertão.

Corisco pede a José Antônio, filho de José Pacheco, que faça algumas compras para eles em Barro Alto e, na volta eles iniciariam a viagem com destino a Bom Jesus da Lapa.

No dia 25 de maio de 1940, o tenente Zé Rufino chega a Barro Alto, e começa a intimar a todos que estavam no povoado e quando José Antônio já estava de saída para a fazenda Pacheco, o tenente Zé Rufino o aborda e pergunta se ele tinha visto pessoas com as características de Corisco e Dadá pelas redondezas, de imediato ele responde que essas pessoas procuradas estão arranchadas na fazenda de propriedade de sua familia. Zé Rufino obriga-o a subir no caminhão de Zé Cláudio, e ruma no sentido da fazenda Pacheco. Assim que chegam à fazenda, eles fazem um cerco para evitar a escapada de Corisco. Dadá aproximou-se da janela e viu os soldados atrás das cercas, alertou Corisco da presença dos policiais. Ele e Dadá tentam escapar pela porta dos fundos, mas, os soldados estavam bem armados com metralhadoras e fuzis que de imediato abriram fogo para cima do casal de cangaceiros. Dadá logo foi alvejada por uma bala de fuzil e caiu gritando e chamando por Corisco, que voltou e também tombou baleado com vários tiros de metralhadora. Ainda mostrou resistência, mas, no retorno em cima do caminhão não aguentou os ferimentos vindo a falecer. Morreu um dos últimos cabos-de-guerra de Lampião. Dadá com a pera destruida pelo projétil veio em todo o trajeto de até cidade Miguel Calmon praguejando contra todos os curiosos que tentavam olhar o corpo de Corisco moribundo.

Chegando ao arraial de Capharnaum, fizeram uma breve parada na porta do estabelecimento comercial de Paulino Nascimento, onde fizeram um lanche, atraindo com suas presenças uma multidão de curiosos. A população atônita não acreditava estar diante do Diabo Louro (apelido dado a Corisco pelo próprio Lampião). Em cima do caminhão estava Dadá, baleada ao lado do cadáver de Corisco, cuspia e xingava todos os curiosos que encostavam na carroceria. Chegando a cidade de Miguel Calmon, médicos amputaram a perna direita de Dada, enquanto o corpo de Corisco era enterrado no cemitério daquela cidade. Após cinco dias do sepultamento de Corisco, policiais voltam a Miguel Calmon, onde exumaram o cadáver e arrancam-lhe a cabeça e o braço direito, para exporem no instituto Nina Rodrigues de Salvador - BA. Dadá, por sua vez casou se novamente em Salvador, onde faleceu em 07 de fevereiro de 1994, vitima de Câncer. E está foi à passagem do famigerado cangaceiro Corisco pelas terras de Cafarnaum.

*Dados contidos no livro CAFARNAUM, nossa história, 2013, Leandro Barreto.

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PEÇA LOGO ESTES TRÊS LIVROS PARA VOCÊ NÃO FICAR SEM ELES. LIVROS SOBRE CANGAÇO SÃO ARREBATADOS PELOS COLECIONADORES.

 Por José Mendes Pereira


A primeira obra é "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS" que já está na 5ª. edição, e aborda o fenômeno do cangaço e a vida do maior guerrilheiro das Américas. Um homem que não temeu às autoridades policiais  e muito menos aqueles que lutavam contra a sua pessoa, na intenção de desmoralizá-lo nas suas empreitadas vingativas, e eliminá-lo do solo nordestino. Realmente foi feito o extermínio do homem mais corajoso e mais admirado do Nordeste do Brasil, na madrugada de 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, no Estado de Sergipe, mas não em combate, e sim, através de uma emboscada muito bem organizada pelo alagoano tenente João Bezerra da Silva. 


O Segundo livro da trilogia do escritor e pesquisador do cangaço é: "FATOS ASSOMBROSOS DA RECENTE HISTÓRIA DO NORDESTE" com 332 páginas, e um grande acervo de fotos relacionado ao assunto. E para aqueles que gosta de ler e ver fotos em uma leitura irá se sentir realizado com todas as fotos.


O terceiro livro da trilogia também do escritor José Bezerra Lima Irmão é: "CAPÍTULOS DA HISTÓRIA DO NORDESTE" resgata fatos sobre os quais a história oficial silencia ou lhes dá uma versão edulcorada ou distorcida: o "desenvolvimento" do Brasil, o desumano progresso de colonização feito a ferro e fogo, Guerra dos Marcates, Cabanada, Balaiada, Revolução Praieira, Ronco da Abelha, Revolta dos Quebra-Quilos, Sabinada, Revolta de Princesa, as barbáries da Serra do Rodeador e da Pedra do Reino, Guerras de Canudos, Caldeirão e Pau-de-Colher, dando ênfase especial à saga de Zumbi dos Palmares, Invasões Holandesas, Revolução Pernambucana de 1817, Confederação do Equador e Guerras da Independência, incluindo o 2 de Julho, quando o Brasil se tornou de fato independente... São assuntos que dão gostos a gente lê-los.  

Adquira-os com o professor Pereira através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

ou com o autor através deste g-mail: 

josebezerralima369@gmail.com

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UMA NOVA PERSPECTIVA PARA HISTORIA: A TRILOGIA DE HONÓRIO DE MEDEIROS, CANGAÇO, PODER E CIÊNCIA POR: GUSTAVO SOBRAL

 


Este trabalho é uma tentativa de leitura da trilogia de Honório de Medeiros. Trilogia que nasce com a publicação de Massilon, em 2010, perpassa a publicação de História de cangaceiros e coronéis, 2015, e tem o seu desfecho com a publicação de Jesuíno Brilhante, 2020

Honório de Medeiros propõe em sua obra um estudo histórico sobre o cangaço a partir das relações de poder, um estudo sobre as relações de poder e uma nova proposta para escrita da história ao considerar que a história deve ser entendida, escrita e explicada por uma perspectiva analítica e interpretativa.Como condição necessária para o trabalho de pesquisa, o autor apresenta uma revisão da literatura preexistente acerca do cangaço, propondo uma classificação em fases, tipos de estudos e tipos de autores, procurando situar nesse contexto a sua proposta de abordagem.

As fases, que trata por ondas, são três: a fase da produção dos fatos, quando se passaram os acontecimentos; a fase da coleta dos fatos, quando os fatos passam a ser registrados; e uma terceira fase, que deve ser a elaboração de teorias. Três também são os tipos de texto: os que fantasiam, os que narram e os que pensam. E considera também a presença de zonas de interseção: narrações que analisam; fantasias que narram etc.

Quanto aos autores, reconhece três grupos distintos: um grupo que reúne cantadores de viola, cordelistas, contadores de estórias, xilogravuristas e poetas; um grupo que nomeia de pesquisadores do cangaço, que são aqueles que se debruçam 192 sobre o tema; e o grupo que congrega os pesquisadores acadêmicos sediados nas universidades. A par desse contexto, elege, por sua vez, um caminho próprio de investigação que, considera, deve partir de uma leitura crítica das fontes, aplicando uma metodologia adequada e suportes teóricos condizentes. É essa a proposta que desenvolve na construção da sua trilogia, o que se pode albergar em cinco vertentes de abordagem distribuídas nos três volumes publicados.

A primeira vertente é o que se pode considerar estudos sobre os estudos, que seriam os trabalhos em que o autor expõe uma reflexão e uma visão crítica sobre os estudos existentes acerca do cangaço.No primeiro volume, Massilon, é possível identificar os seguintes textos nessa vertente: “Aplicação do método da ciência”; “O cangaço em nova onda”; “A nova onda do cangaço”. No segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis, os capítulos “Epifenômeno do cangaço”, “Tipos de textos sobre o cangaço” e “Sobre história e conhecimento escolar”.

Um segundo viés compreende estudos críticos mais aprofundados sobre as teorias e abordagens sobre o cangaço, quais sejam, a teoria do escudo ético, do estudioso Frederico Pernambucano de Melo — ensaio que integra o segundo volume, História de Cangaceiros e Coronéis —; e um estudo crítico sobre Câmara Cascudo e o cangaço, adendo a Jesuíno Brilhante, terceiro volume da série. O terceiro viés se volta para as biografias e os perfis de cangaceiros, coronéis e outras figuras históricas do contexto.

Uma quarta abordagem se detém aos episódios e a outros aspectos. Em episódios, o ataque de Lampião a Mossoró; em aspectos, podemos elencar o pacto dos governadores e o Rio Grande do Norte no tempo dos coronéis. A quinta perspectiva, que perpassa todas as anteriores, é o arcabouço metodológico e teórico. A metodologia adotada é plurimetodológica, voltada para uma diversidade de fontes de pesquisa, e envolve levantamento bibliográfico; pesquisa documental, que resulta do acesso a fontes documentais diversas; e pesquisa etnográfica, que é a pesquisa de campo, que alberga a coleta de depoimentos, realização de entrevistas e visita aos locais dos acontecimentos.

Honório de Medeiros, Bárbara e Manoel Severo

A pesquisa e o levantamento bibliográfico se concentram em livros: obras gerais de história do Rio Grande do Norte, trabalhos monográficos sobre cangaceiros, biografias, memória, genealogia e estudos teóricos no campo da ciência, filosofia, biologia, sociologia, direito, ciência política etc.; cordéis diversos, que contam a história de cangaceiros e seus feitos; e revistas e jornais de ontem e de hoje. Documentos diversos, compreendendo certidões de batismo e de óbito, inventários; peças jurídicas, como processos, representações, denúncias, pareceres, relatórios; cartas pessoais e cartas abertas (publicadas em jornais). Todos são fontes exploradas e, em sua maioria, reproduzidas a título de citação, adendo ou anexo.

Depoimentos, entrevistas e o “Diário de Viagem” — quarta parte do volume Massilon —, que relata o percurso da pesquisa de campo. Há também toda uma preocupação em documentar o trabalho de pesquisa em notas de referência, aditivas e explicativas, em rodapé e/ou ao final de cada volume, referendando as fontes pesquisadas, os depoimentos colhidos e as entrevistas realizadas.

A título de anexo, o autor cuida da reprodução de documentos, seja em fac-símile, seja transcrito. Também há a menção, ao final de cada volume, das fontes bibliográficas consultadas. A par de todo esse suporte metodológico, Honório de Medeiros desenvolve a sua teoria, o alicerce para observar e compreender o fenômeno do cangaço e o estudo das relações de 194 poder, e o faz ao apresentar os dados coletados, a análise e a interpretação, refutando hipóteses consagradas pela historiografia e propondo um novo olhar para a história.

Convite de lançamento de Massilon, de Honório de Medeiros no Cariri Cangaço

A invasão de Lampião a Mossoró ganha uma nova proposta de análise que considera as relações de poder e interesse dos coronéis e refuta as premissas postas, construindo um novo paradigma para entender a história. O mesmo acontece ao observar o pacto dos governadores como decorrência dessa relação de poder; e não é diferente quando se debruça sobre a dualidade “cangaceiro, herói ou bandido?” Honório de Medeiros não se julga fiel da balança ou solucionador de questões históricas, mas apresenta prismas analíticos e interpretativos se fiando na base plurimetodológica que adota.

A sua tentativa de biografar Massilon esbarra em uma série de dificuldades oriundas dos desencontros e conflitos de informação que permeiam os textos sobre o cangaço e, também, na ausência de dados.O nome é a primeira verdade a encontrar para contar Massilon. Com tantos nomes possíveis e pistas, Honório de Medeiros se encontra diante de um baralho embaralhado: Benevides, Massilon Leite, Massilon Diógenes, Antonio Leite? Uma figura e tantos nomes, qual seria?

O pesquisador é aquele que sabe aonde deve ir. E Honório de Medeiros vai em busca dos registros de nascimento e batismo e nada encontra, até que uma pista o leva ao inventário do pai do cangaceiro e lá está o verdadeiro nome de Massilon: Macilon Leite de Oliveira. Mas não se dá por satisfeito, pois sabe que pesquisar é entender as circunstâncias das fontes, e se faz a pergunta que deixa também para o leitor: como saber se o escrivão não se enganou? Honório de Medeiros entende que encontrar uma possível resposta não é dirimir uma dúvida. Assim, o autor também revela mais uma faceta do seu trabalho: um projeto de como se deve construir a história.

Honório de Medeiros é aquele que compreende que fazer história é não se contentar com o que está posto e, dessa forma, parte numa viagem em busca de novas fontes, que alimentam novas versões da história, ciente de que só a par de todas elas, é possível analisar e interpretar. O pesquisador é também, para Honório de Medeiros, aquele que reconhece a ausência de fontes de pesquisa e que desconfia, compara, checa e confronta todos os fatos. A construção de Massilon, a biografia, obedece a uma forma de apresentação sistemática que nasce da divisão lógica do autor para a exposição do tema. A primeira parte é dedicada ao motivo (capítulo “A busca por Massilon”) e ao contexto (capítulo “O Rio Grande do Norte e Sertão”). A segunda parte se volta para a descoberta e a revelação do biografado: como se chamava, onde e quando nasceu, quais eram as suas feições — e nesse quesito há toda uma investigação para identificar e recuperar a presença de Massilon em uma fotografia, desvendando, assim, o único retrato possível do cangaceiro. Além disso, o autor aborda temperamento, fatos da vida, registros outros e, por fim, o fim, a morte do biografado.

Outro não é o percurso que promove ao biografar Jesuíno Brilhante, tanto nos capítulos que lhe dedica na primeira parte de História de Cangaceiros e de Coronéis, quanto, cinco anos depois, no terceiro e último volume da trilogia, dedicado à história de Jesuíno Brilhante e ao aprofundamento da tese. O ataque de Lampião a Mossoró também ganha contorno em História de Cangaceiros e de Coronéis, seguindo o mesmo caminho de explanação, passo a passo. Honório de Medeiros introduz, apresenta e passa a considerar as hipóteses e os envolvidos, cangaceiros e coronéis, e chega ao campo de análise para, então, propor a sua própria tese para leitura e intepretação.Para tanto, o autor trabalha a construção dos conceitos. É pelo capítulo “Do conceito de cangaço”, na terceira parte do volume Massilon, que ele começa contrapondo as definições de cangaço e de banditismo.

Importante nessa conceituação é a definição de Cascudo: “para o sertanejo [cangaço] é o preparo, carrego, aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas, munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, mezinhas tradicionais, uma muda de roupa, etc.” E também estabelece confrontos.Honório de Medeiros refuta a concepção de bandido social proposta pelo historiador Eric Hobsbawm. E vai mais longe: é impossível conceituar e explicar o cangaço em razão das condições geográficas, sociais, econômicas etc.

Caldeirão que Honório de Medeiros resumirá como “hipóteses do ambiente social” no seu “Esboço de conclusão”, capítulo de Jesuíno Brilhante. Essa redução é simplista, considera, e não abarca toda a complexidade e singularidade do fenômeno. Em Jesuíno Brilhante, o autor considera novos aportes para a construção do conceito de cangaceiro, levando em consideração que seriam figuras entre a santidade e o banditismo. E sustenta que a teoria do escudo ético, de Frederico Pernambucano de Mello, não é uma leitura que se aplica exclusivamente ao cangaço, e sim ao banditismo de forma geral. Pernambucano teria partido, considera Honório de Medeiros, da noção de fator moral apresentada por Câmara Cascudo em Vaqueiros e Cantadores, que, por sua vez, teria bebido na fonte de Felipe Guerra, em Ainda o Nordeste.

Tanto a noção de escudo ético quanto a noção de fator moral consideram a justificativa moral do cangaceiro para aderir ao cangaço como fator determinante, hipótese que Honório de Medeiros propõe que possa ser substituída por uma teoria mais abrangente. Já no estudo que empreende acerca de Câmara Cascudo e o cangaço — adendo do volume Jesuíno Brilhante —, investiga a construção e o molde do pensamento cascudiano acerca do tema. A perspectiva da ânsia de grandeza e impulso à revolta pessoal, que serve para pensar o cangaço, lerá em Bertrand Russell; como colherá em Albert Camus a noção de homem revoltado, que é aquele que, inconformado, reage, para então propor a leitura da figura do cangaceiro a partir da noção de outsider proposta por Howard S. Becker e Norbert Elias.

O outsider é o transgressor, o desviante, o excêntrico que não espera viver com as regras estipuladas pelo grupo. Dessa maneira, Honório de Medeiros propõe entender a figura do cangaceiro pelo prisma do inconformismo. Compreender, e não julgar, alerta o autor. E, assim, vai chegar ao conceito de cangaceirismo: é a história dos inconformados, revoltados, outsiders. Outro conceito macro é o conceito de coronelismo, que está atrelado a uma compreensão da estrutura de poder feudal no Brasil monárquico e republicano. Honório de Medeiros se valerá do conceito de coronelismo traçado por Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.

Seria o coronelismo aquela mesma estrutura de poder que se verifica na Europa feudal, um mundo de senhores arbitrários, cuja vontade era a lei, associados ao clero, proprietários de terras e do subjugo dos homens. O coronelismo é, portanto, uma forma de exercício do poder. Outros aportes sustentam a construção do seu pensamento teórico. Honório de Medeiros parte da ciência por uma perspectiva ampla e transdisciplinar como caminho possível. O autor considera o racionalismo crítico do filósofo britânico Karl Popper para construir uma abordagem científica e aplica as regras do método científico para propor uma lógica das informações como forma de validar ou não as hipóteses e, assim, escrever a história.

Gustavo Sobral; escritor, jornalista, ensaísta.

O autor também vai se valer da noção de campo social do sociólogo francês Pierre de Bourdieu, que compreende a realidade como uma malha aberta, cujos pontos de interseção, os atratores sociais, congregam fatos e ações semelhantes, formando uma malha social, ou seja, um campo. Essa compreensão de campo social lhe permite observar cangaço e coronelismo como fenômenos do mesmo campo social, o campo social do poder. Ao considerar o cangaço um fenômeno social, Honório de Medeiros parte do postulado do cientista político, sociólogo e antropólogo francês Émile Durkheim, em As Regras do Método Sociológico, e equipara fato social a fato natural, ou seja, considera os fatos sociais como passíveis de teste, comprovação e validação.

O fenômeno, portanto, pode ser comprovado pelas suas leis de recorrência, e as hipóteses levantadas podem ser testadas. Dessa forma, considera Honório de Medeiros, os fatos são passíveis de serem testados para serem comprovados ou não. Outra contribuição importante no construto da sua proposta é a aplicação da teoria da evolução, do biólogo britânico Charles Darwin. Honório de Medeiros se apropria do darwinismo ao compreender o comportamento humano como uma evolução constante, uma busca pela sobrevivência e adaptação ao meio, e se aproxima da corrente da bio-história. No que tange ao estudo das relações de poder, o referencial é o cientista político, jurista e historiador italiano Gaetano Mosca e sua teoria de classe política. Mosca entende que um fenômeno não deve ser apenas estudado em sua forma concreta ou apenas nas suas manifestações formais. É preciso compreender a dinâmica que se esconde e sustenta as relações de poder e interesse e, assim, compreender que os grupos funcionam a partir dos seus interesses de poder. O cangaço, nessa leitura, apresenta-se como uma manifestação de poder e revolta dos excluídos.

É a partir dessa perspectiva e da junção dessas partes que o autor conecta cangaceiros e coronéis e estabelece o cangaço como resultado das relações de poder, e é assim que também escreve uma história do poder.Honório de Medeiros lança nos três volumes de sua trilogia, e em quase duas décadas de pensamento e reflexão, uma nova perspectiva teórica, metodológica e conceitual para a pesquisa e a escrita da história, abrindo as portas da história no Rio Grande do Norte, dos estudos sobre o cangaço e sobre as relações de poder, para uma nova perspectiva no século XXI.

GUSTAVO SOBRAL é jornalista e escritor. Publicou e organizou diversos livros, dentre os quais “As Memórias Alheias” e “Os Fundadores”.

Ensaio publicado na Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras Nº66, jan-mar, 2021, p.191-199. 

Fonte: http://honoriodemedeiros.blogspot.com/ - 11 de maio de 2021

LAMPIÃO, ESSÊNCIAS E IMPRESSÕES NOS GRANDES ENCONTROS CARIRI CANGAÇO

 Por Manoel Severo

O Cangaço sempre tema absolutamente forte, capilar, controverso...Polêmicas, paixões, essências e impressões...Nesta próxima quarta-feira, dia 26 de maio de 2021, às 19h30 os Grandes Encontros Cariri Cangaço, programa Ao Vivo em nosso canal no You Tube, traz dois grandes pesquisadores de duas gerações distintas para nos passar suas impressões e reflexões sobre esse que sem dúvidas é um dos mais espetaculares temas nordestinos e brasileiros.

O experiente Raul Meneleu Mascarenhas; cearense da "gota serena" radicado em Aracaju, Sergipe e  o jovem e talentoso Guerhansberger Tayllow; paraibano de Lastro; são os convidados especiais de Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço para mais um espetacular e mais que polêmico programa sobre Virgulino Ferreira - Lampião, Cangaço e muito mais nos Grandes Encontros Cariri Cangaço desta próxima quarta-feira.

"Diante do convite de meu estimado amigo Severo, procurarei apresentar em minha participação as possibilidades de localizar as origens sócio-políticas do Cangaço dentro da história do Brasil, como também gostaria de fazer uma ressalva sobre a escrita do Cangaço; Gustavo Barroso; Rui Facó; Cristina Machado, em especial a esses três autores; trazer reflexões sobre o cangaço como um espaço de exercício de poder e ainda falar um pouco sobre a diferença entre Lampião e Chico Pereira, e a importância do nomadismo para Lampião" revela o pesquisador e escritor Guerhansberger Tayllow. 

"Na verdade sou um dos menores pesquisadores e escritores da saga e creio que exista confrades nossos com mais competência, mas se o amigo Severo me dar essa missão, missão cumprida ! Trarei principalmente reflexões sobre meu mais novo livro: "A Dignidade de Virgolino Ferreira antes de ser Lampião" como também sobre a descoberta da filha de Corisco fora do relacionamento da união dele com Dadá, além de minha experiência e visão do Cariri Cangaço." assevera Raul Meneleu Mascarenhas.


GRANDES ENCONTRO CARIRI CANGAÇO

DIA 26 DE MAIO DE 2021 ÀS 19H30

AO VIVO - YOUTUBE DO CARIRI CANGAÇO

https://cariricangaco.blogspot.com/2021/05/lampiao-essencias-e-impressoes-nos.html

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PAJEÚ: O MAIOR ESTRATEGISTA DA GUERRA DE CANUDOS

 Por Nordeste Fantástico

https://www.youtube.com/watch?v=gk81WOk8u7s&ab_channel=NordesteFant%C3%A1stico

#Pajeú #Canudos #AntônioConselheiro O vídeo trata-se de Antônio Pajeú. Pajeú foi um dos líderes da guarda de Antônio Conselheiro durante a Guerra de Canudos.

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QUEM FOI PADRE CÍCERO?

Por Benedito Vasconcelos Mendes

Para este monumento (cabeça do professor Benedito Vasconcelos Mendes, cearense de Sobral) foram usadas 12 toneladas de concreto.

Padre Cícero (Cícero Romão Batista) foi um sacerdote e político cearense, carismático, caridoso, virtuoso, que dedicou todo o seu trabalho ao povo humilde do Nordeste. Nasceu na cidade cearense de Crato no dia 24 de março de 1844 e morreu em Juazeiro do Norte-CE no dia 20 de julho de 1934. Passou toda sua vida religiosa e política em Juazeiro do Norte. Entrou na política partidária com 67 anos de idade, quando em 1911 conseguiu elevar a então vila de Juazeiro para a categoria de município e tomou posse como seu primeiro prefeito, por articulação do médico baiano Floro Bartholomeu da Costa (1876-1926), que a partir daí passou a ter grande influência na vida política do sacerdote. Padre Cícero foi ser pároco na pequena e atrasada vila de Juazeiro em 1872, dois anos depois de ter concluído seus estudos no Seminário da Prainha em Fortaleza e se ordenado padre e aí permaneceu até sua morte. Sua vida religiosa foi muita conturbada, devido às divergências que teve com seus superiores diocesanos, primeiramente, com o segundo Bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira (1836-1917), e depois da instalação da Diocese de Crato, com o primeiro Bispo Diocesano, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva (1863-1929). O motivo das desavenças do Padre Cícero com seus superiores eclesiásticos foi o suposto milagre ocorrido em 1889, por ocasião de uma missa que ele celebrava. Uma de suas beatas, Maria de Araújo (Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo, 1863-1914), ao receber a comunhão das mãos do Padre Cícero, observou que a hóstia ficou vermelha em sua boca. O povo considerou o fenômeno um milagre, acreditando que teria sido o sangue de Jesus Cristo, que se fazia presente na boca da beata. A notícia do milagre se espalhou rapidamente e as romarias a Juazeiro se intensificaram, em busca da benção do Padre Cícero. Em 1894, a Santa Sé negou o milagre, determinou a saída do Padre Cícero de Juazeiro, sob pena de ser excomungado, e suspendeu suas Ordens Sacerdotais, proibindo, assim, o Padre Cícero de celebrar os sacramentos e outros atos religiosos. Em obediência às determinações da Igreja, padre Cícero foi residir na cidade pernambucana de Salgueiro. Em 1898, ele viajou à Roma para se defender pessoalmente, perante as autoridades do Vaticano, das acusações que resultaram na sua punição. Ele foi ouvido pelo Supremo Tribunal do Santo Ofício e foi, em parte, absolvido, sendo-lhe permitido voltar a residir em Juazeiro e poder abençoar os fiéis, porém continuou proibido de celebrar missa e outros sacramentos. O então bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira e, tempos depois, o bispo de Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, foram * Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor. Membro Efetivo da Academia Norte-rio-grandense de Letras, Academia Mossoroense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Centro Cultural do Ceará. Sócio Correspondente da Academia Cearense de Letras, Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

acusados pelo povo de perseguirem o Padre Cícero. Com o passar do tempo, cada vez mais foi aumentando o número de romeiros que se deslocavam até Juazeiro para pagar promessas. Com o aumento do número de romeiros do “Padim Ciço”, Juazeiro cresceu vertiginosamente e a liderança religiosa do Padre se tornou fanática, a ponto de ser considerado “santo” pelos sertanejos.

Em 1908, chegou a Juazeiro um médico baiano, Dr. Floro Bartholomeu da Costa (1876- 1926), que introduziu o Padre Cícero na política partidária e, a partir daí, começou a influenciar, de maneira decisiva, as ações políticas do Padre Cícero.

Em 1911, Padre Cícero, com a ajuda dos conchavos políticos de Floro Bartholomeu, foi escolhido para ser o primeiro Prefeito Municipal de Juazeiro do Norte e, na sua posse no cargo de prefeito, reuniu sob sua liderança 17 chefes políticos (coronéis) de toda a região do Cariri Cearense e firmou o famoso “Pacto dos Coronéis”, documento assinado por todos os 17 coronéis da região, garantindo que nenhum chefe político procuraria depor outro chefe, mantendo entre eles inquebrantável solidariedade, não só pessoal como política, sendo, em qualquer emergência, “um por todos e todos por um” e que manteriam incondicional solidariedade ao então Governador do Ceará, Comendador Antônio Pinto Nogueira Acciolly (1840-1921).

Em 1912, o Governador Nogueira Acciolly foi deposto e o Tenente-coronel Marcos Franco Rabelo (1861-1920) tomou posse como Governador do Ceará e demitiu o Padre Cícero do mandato de Prefeito de Juazeiro. Em fins de 1913 e começo de 1914, Juazeiro foi invadida por tropas policiais do Governo de Franco Rabelo, evento que ficou conhecido por “Sedição de Juazeiro”. As topas policiais invasoras foram rechaçadas pelo exército de jagunços organizado e comandado por Floro Bartholomeu, com a total concordância do Padre Cícero. Os jagunços comandados por Floro Bartholomeu, depois de expulsar as tropas invasoras da cidade de Juazeiro, entraram em diversas outras cidades, ocuparam Fortaleza e ajudaram a depor o Governador Franco Rabelo. Este fato deu notoriedade ao Dr. Floro Bartholomeu, que depois, em 1926, quando ele criou o Batalhão Patriótico, para combater a Coluna Prestes, foi homenageado com o Título de General Honorário do Exército Brasileiro.

Em 1914, Padre Cícero foi eleito Prefeito de Juazeiro do Norte e Primeiro Vice-governador do Estado do Ceará e Floro Bartholomeu foi eleito Deputado Estadual, oportunidade em que foi escolhido para ser Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Floro Bartholomeu, com a ajuda do Padre Cícero, foi eleito duas vezes Deputado Estadual e duas vezes Deputado Federal. Após a morte de Floro Bartholomeu, ocorrida em 1926, Padre Cícero, por ser seu suplente, fez jus ocupar a cadeira de Deputado Federal, mas nunca saiu de Juazeiro do Norte para exercer o mandato de Deputado Federal no Rio de Janeiro. O que ele gostava mesmo era de ser prefeito de sua amada Juazeiro, cargo que exerceu, sem interrupção, de 1914 a 1927, além do pequeno espaço de tempo em que ocupou o mandato de Primeiro Prefeito de Juazeiro de 1911 a 1912, quando foi deposto pelo Governador Franco Rabelo. Até a Revolução de 1930, Padre Cícero foi o mais importante coronel político do Nordeste brasileiro.

Além da influência recebida, nos assuntos políticos, de Floro Bartholomeu, Padre Cícero também foi muito influenciado pelo professor, jornalista, intelectual e grande abolicionista cratense José Joaquim Teles Marrocos (1849-1910) e pelo Tenente-coronel da Guarda Nacional, José Joaquim de Maria Lobo, que era próspero fazendeiro do município de Lavras da Mangabeira.

Virgolino Ferreira da Silva o Lampião

Lampião (Virgulino Ferreira da Silva, 1898-1938) visitou o Padre Cícero em Juazeiro do Norte em 1926, quando o Rei do Cangaço recebeu a patente falsa de Capitão do Batalhão Patriótico, criado pelo Deputado Federal Floro Bartholomeu para combater a Coluna Prestes, que na época estava rondando os sertões nordestinos. Lampião recebeu também fardamento, fuzis e munições doados por Floro Bartholomeu (Batalhão Patriótico de Juazeiro do Norte), com a justificativa de que iria combater a Coluna Prestes. Com o objetivo de enfrentar a Coluna Prestes, que percorria o território brasileiro e que na época estava atravessando o Nordeste, o Deputado Federal Floro Bartholomeu, por solicitação do Presidente da República, Artur Bernardes (Artur da Silva Bernardes, 1875-1955), criou, em Juazeiro do Norte, o Batalhão Patriótico e teve a ideia de reforçar o referido batalhão com os cangaceiros comandados por Lampião. O Batalhão Patriótico de Juazeiro era formado por policiais da Polícia Militar do Estado do Ceará, por militares do Exército Brasileiro e por jagunços, requisitados dos coronéis sertanejos (chefes políticos). Floro Bartholomeu solicitou ao Rei do Cangaço que fosse até Juazeiro do Norte para ter uma conversa com ele, visando a entrada de Lampião e de seu bando de cangaceiros no Batalhão Patriótico. Nesta ida a Juazeiro, Lampião receberia armamento, munição e farda para seus comandados, mas no período em que Lampião esteve em Juazeiro (4 a 7 de março de 1926), o Deputado Floro Bartholomeu estava gravemente enfermo no Rio de Janeiro, onde morreu no dia 8 de março, um dia após a saída do bando de Lampião da cidade de Juazeiro. Devido à ausência de Floro, Padre Cícero ficou com a obrigação de receber o bando de cangaceiros e entregar os fuzis, munições e fardas.

Padre Cícero de Juazeiro, juntamente com o Padre Ibiapina (José Antônio Pereira Ibiapina, 1806-1883), Beato Antônio Conselheiro (Antônio Vicente Mendes Maciel, 1830-1897), Beato Zé Lourenço (José Lourenço Gomes da Silva, 1870-1946), Beato Zé Senhorinho (José Ferreira da Costa, 1892-1938) e com o Frei Damião (Pio Giannotti, 1898-1997), por terem vivido na mesma época e na mesma região (Sertão nordestino), originaram um tipo de religiosidade diferente, somente encontrado no sertão seco e quente do Nordeste brasileiro. Padre Cícero foi contemporâneo do Padre Ibiapina por 39 anos. O Beato Antônio Conselheiro foi contemporâneo tanto do Padre Cícero como do Padre Ibiapina durante longos 53 anos. Beato Zé Lourenço foi contemporâneo do Padre Cícero por 64 anos. Beato Zé Senhorinho foi contemporâneo do Beato Zé Lourenço durante 46 anos. Frei Damião foi contemporâneo do Padre Cícero por 3 anos e do Beato Zé Lourenço durante 15 anos. Este tipo de religiosidade singular, praticada pelos sertanejos nordestinos, baseada na romaria, no misticismo, no compadrio, no aconselhamento, e no endeusamento dos líderes religiosos, tem muito haver com as tradições culturais dos sertanejos, herdadas dos tapuias. Os índios nativos do semiárido nordestino (tapuias) tinham o costume do apadriamento e do aconselhamento. Ao Pajé, eles pediam conselhos sobre assuntos de saúde e religião e ao Cacique sobre assuntos relacionados com guerra e convivência social. Estas tradições culturais fizeram com que Padre Cícero fosse alcunhado de “Padim Ciço”, devido ao grande número de afilhados que ele tinha. O nome de Conselheiro (Antônio Conselheiro) também foi devido ao costume dos sertanejos de pedir conselhos. Na realidade, todos estes santos populares, eleitos pelo povo (Padre Ibiapina, Padre Cícero, Frei Damião, Beato Antônio Conselheiro, Beato Zé Lourenço e Beato Zé Senhorinho) gostavam de dar conselhos e tinham muitos afilhados.

Segundo o Padre Francisco Sadoc de Araújo (1931- ), Padre Ibiapina influenciou tanto o Padre Cícero como o Beato Antônio Conselheiro na maneira de fazer religião. Ele pregou tanto para o Beato Antônio Conselheiro como para o Padre Cícero, antes deles começarem suas vidas de líderes religiosos. O jovem Cícero Romão Batista, dois meses antes de entrar para o Seminário da Prainha em Fortaleza, com 21 anos de idade, assistiu às pregações do Padre Ibiapina por ocasião das Santas Missões de Missão Velha-CE, no dia 2 de fevereiro de 1865, oportunidade em que foi também inaugurada a Casa de Caridade de Missão Velha. Padre Ibiapina foi o precursor desta maneira singular de prática religiosa, usada no sertão nordestino.

Uma outra tradição dos sertanejos, herdada dos tapuias e que foi utilizada por estes líderes religiosos é o trabalho em mutirão. Os índios, tudo que faziam era em mutirão, caçavam em mutirão, pescavam em mutirão, coletavam frutos e mel de abelhas silvestres em mutirão e guerreavam em mutirão. Estes religiosos também usavam esta tradição sertaneja em seus trabalhos, em favor do povo e da Igreja. Padre Ibiapina, Beato Zé Lourenço e padre Cícero utilizavam o trabalho em mutirão para construir igrejas, capelas, cruzeiros, cemitérios, roçados e pequenos açudes no sistema de mutirão.

Um fato curioso ocorrido na vida do Padre Cícero foi o relacionado com um touro da raça zebuína Guzerá, que o padre ganhou de presente do cearense e grande industrial de Alagoas Delmiro Gouveia (Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, 1863-1917). Padre Cícero encarregou o Beato Zé Lourenço de criar o referido bovino, conhecido por “Boi Mansinho”, no Sítio Baixa Dantas. Este bovino chamava muito a atenção dos romeiros, por ser de propriedade do Padre Cícero e de ser de um tipo de gado diferente, com cupim muito desenvolvido, chifres grandes e barbela extensa. Naquela época, os zebuínos estavam sendo introduzidos nos sertões nordestinos, trazidos da Índia. No sertão só existia gado de origem europeia, que não tem cupim desenvolvido nem barbela extensa. O Sítio Baixa Dantas passou a atrair grande número de romeiros do Padre Cícero, devido à presença do Beato Zé Lourenço e do Boi Mansinho, que passou a ser adorado como boi milagroso. Os romeiros retiravam pelos da vassoura da cauda, raspa dos chifres e dos cascos, fezes e urina do boi milagroso, para ser usado como remédio para a cura das mais variadas doenças. Devido o fanatismo dos romeiros, o Deputado Floro Bartholomeu, amigo fiel do Padre Cícero, preocupado com o desgaste da imagem do padre, mandou matar o Boi Mansinho e distribuir a carne com a população e prender o Beato Zé Lourenço.

Padre Cícero tornou-se conhecido na região antes do milagre da hóstia na boca da beata Maria de Araújo. Pouco tempo depois da chegada do Padre Cícero a Juazeiro, ocorreram duas grandes secas (seca de 1877-1879 e a seca de 1888), que fizeram com que este sacerdote ficasse admirado em todo o Nordeste brasileiro, por seu admirável trabalho de auxílio social ao povo, fornecendo comida, remédios e apoio espiritual às vítimas do flagelo climático.

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