Por Manoel
Belarmino
As Pias das
Panelas estão nas margens do Riacho do Quartavo, um afluente do Riacho Jacaré,
em Poço Redondo. Na época do Cangaço, aquelas terras pertenciam à Fazenda Paus
Pretos de propriedade do coronel Antônio Caixeiro.
Nos tempos
mais antigos, todo aquele mundão caatingueiro era habitado pelos povos
indígenas, que ocupavam esta região do Riacho do Quartavo e, segundo as pessoas
mais velhas desta região, os índios enterravam os seus mortos ali nas
proximidades das Pias das Panelas. E, ainda, os mais velhos contavam, que antes
das pastagens e de as terras serem aradas para plantio, havia bastante indícios
de sepulturas indígenas por ali, no entorno das Pias das Panelas e naquelas
margens do Quartavo. Mas esse assunto do cemitério indígena, requer um pouco mais
de investigação e, sem dúvida, num próximo texto trataremos exclusivamente
sobre o Cemitério Indígena do Riacho do Quartavo.
Além dos
indígenas que foram sepultados nas Pias da Panelas, estão enterrados os corpos
de três mulheres e dois homens, todos barbaramente assassinados no tempo do
Cangaço.
Estão
enterrados ali em covas rasas e precárias os corpos de:
01 - Rosinha
Soares, a cangaceira Rosinha, companheira do cangaceiro Mariano, assassinada
pelos cangaceiros, sob a ordem de Lampião. Depois da morte do cangaceiro
Mariano, juntamente com os cangaceiros Pai Veio e Pavão e o coiteiro João do
Pão, naquele combate do Cangaleixo, em 10 de outubro de 1937, Rosinha sentiu
vontade de abandonar a vida cangaceira e voltar a morar com a sua família.
Lampião achou a ideia arriscada demais e determinou que os cangaceiros Zé
Sereno, Juriti, Balão e Vila Nova cumprissem a sentença. Matar Rosinha. E aí a
sentença foi cumprida com um tiro de mauser no ouvido da cangaceira Rosinha nas
margens do Riacho do Quartavo, nas Pias das Panelas. O corpo de Rosinha ficou
ali estirado. E, dias depois, os seus parentes que moravam ali próximo, na
Fazenda Santo Antônio, cuidaram de enterrar o corpo da cangaceira ali mesmo,
numa sepultura precária. Até pouco tempo, avistava-se a Cruz de Rosinha ali
perto das pedras das Pias das Panelas.
02 - Zé
Vaqueiro, vaqueiro da Fazenda Paus Pretos de Tonho Caixeiro. Quando o
cangaceiro Novo Tempo, depois de escapar do Fogo da Crauá, combate que o deixou
ferido gravemente, foi para na Fazenda Paus Pretos, num estado de quase morte,
o Zé Vaqueiro avistou aquele moribundo, ferido, emulambado, mas com os
embornais com bastante dinheiro. Resolveu matar o cangaceiro ali na margem do
caminho, pertinho das Pias das Panelas. E assim tentou o fezer dando um tiro no
ouvido do já quase morto cangaceiro. Mas depois do tiro, um barulho se
aproximou. Era os companheiros de Novo Tempo que estavam chegando ali à procura
do cangaceiro. E o Zé Vaqueiro nem consegue levar o dinheiro de Novo Tempo, vai
embora. Novo Tempo é encontrado ainda com vida e socorrido pelos companheiros.
Depois de recuperado, novo tempo conta tudo o que aconteceu e sobre a traição
do vaqueiro dos Paus Pretos. Os cangaceiros não perdoam a traição do Zé
Vaqueiro, retornam à Fazenda Paus Pretos e levam o infeliz Zé Vaqueiro
exatamente para as Pias das Panelas. E ali matam o cabra. Seu corpo é jogado
ali estendido. Depois os vaqueiros da região encontram o corpo do Zé Vaqueiro
já em estado avançado de decomposição e o enterram ali mesmo nas proximidades
das Pias das Panelas.
03 - Preta de
Maria das Virges, cruelmente assassinada pelo seu namorado Zé Paulo, filha
adotiva de Dona Maria das Virgens do Alto Bonito. Zé Paulo, depois de transar
com a namorada várias vezes às escondidas, Preta ficou gravida. Zé Paulo,
malandro, para não se comprometer e não casar com a mocinha sertaneja, resolve
brutalmente, com uma pedra, assassinar Preta, esmagando a sua cabeça e deixando
ali nas Pias das Panelas o seu corpo nu e estirado. Avisa a seus familiares
dias depois que poderia ter sido os cangaceiros que mataram Preta. Espalha para
os quatro cantos da região que um grupo de cangaceiro havia os encontrado e
assassinou a mocinha Preta. Tudo mentira. Zé Baiano soube da história que o Zé
Paulo e Dona Maria das Virgens do Alto Bonito estavam colocando na conta dos
cangaceiros aquela cruel morte da mocinha Preta. Ficou indignado, o cangaceiro.
Foi lá no Alto Bonito e ferrou Dona Maria das Virgens e os seus dois filhos (um
rapaz e uma mocinha). E só não ferrou e castrou o malvado e criminoso Zé Paulo
porque ele não estava na casa de Dona Maria das Virgens naquele momento.
04 - Lídia de
Zé Baiano, a cangaceira mais bonita do Cangaço, segundo dizem alguns
pesquisadores. Lídia era a companheira do cangaceiro mais feio de todos, o Zé
Baiano. Mas Lídia tinha uma paixão de infância que, tempos de depois de Lídia,
também entrou no Cangaço. Era o cangaceiro Ben-te-vi. E Lídia não resistiu.
Mesmo convivendo com Zé Baiano, aconteciam os encontros extraconjugais com o
Ben-te-ti. Outro cangaceiro que também era louco de paixão por Lídia era o
cangaceiro Coqueiro, mas sem nenhuma chance. A paixão mesmo de Lídia era o seu
amor de infância, o Ben-te-vi. Coqueiro sabendo daqueles encontros nas moitas,
às escondidas, resolveu delatar tudo. Zé Baiano estava viajando para a região
de Alagadiço há alguns dias. E quando retornou, na presença de todos do bando,
nas Pias das Panelas, na boca da noite, todos estavam reunidos para a janta, e
Coqueiro inconformado com as recusas de Lídia relata tudo. Diz a Zé Baiano tudo
sobre as traições de Lídia com o Ben-te-vi. Todos silenciam. Aquela conversa de
Coqueiro é grave demais. Lampião levanta-se. Fica agoniado, mas calado. Zé
Baiano fica paralisado. Olha pra Lampião e pergunta o que fazer. E Lampião
sentencia: - "Zé cuida de Lídia. Afiná, Lídia é dele. Os dois cabras, o
entregador e o traidor, nós arresolve." E os cangaceiros matam Coqueiro, e
Ben-te-vi consegue fugir. O corpo de Coqueiro ficou ali estendido, sobre as
pedras das Pias das Panelas. Dias depois, um coiteiro morador dos Paus Pretos
resolveu enterrar o corpo do infeliz cangaceiro numa sepultura precária ali
mesmo. Zé Baiano amarra Lídia e, na madrugada, antes de o dia clarear, mata de
cacete de pau pereira a cangaceira mais linda do bando de Lampião. Cava uma
cova rasa ali mesmo e enterra Lídia. E, com o cacete que matou Lídia, improvisa
uma cruz e coloca sobre a cova da sua companheira.
05 - Coqueiro,
o cangaceiro delator da traição de Lídia. Também está enterrado ali na Pia das
Panelas o corpo do cangaceiro Coqueiro.
Cinco corpos
enterrados nas Pias das Panelas. Um verdadeiro cemitério do tempo do Cangaço,
no mesmo lugar onde já foi um cemitério indígena.
No fim do
cangaço, depois dessas mortes, alguns caçadores da região evitavam passar pelas
proximidades das Pias das Panelas à noite, principalmente nos locais onde estão
as covas dos mortos. Alguns afirmavam ter ouvido coisas estranhas ali próximo
das pias, como vozes, gemidos ou gritos macabros.
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