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quarta-feira, 30 de maio de 2018

LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.
franpeima@bol.com.br

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: 

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 

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FONTES PARA A HISTORIA DO CEARÁ COLONIAL NO CARIRI CANGAÇO 2018 POR PROFESSOR FRANCISCO PINHEIRO


Professor Pinheiro no Cariri Cangaço Fortaleza 2018
Outro sensacional momento do Cariri Cangaço Fortaleza teve como protagonista o professor Francisco Pinheiro, com uma apresentação sobre as Fontes para a Historia do Ceará Colonial; trabalho capitaneado por sua equipe e que reside na transição da documentação do arquivo histórico ultramarino período 1619-1825Com uma apresentação precisa e cheia de detalhes, Pinheiro nos transportou, através de vasta documentação manuscrita; objeto de sua pesquisa; aos idos do cotidiano dos anos 1600, 1700 e 1800. Eram transcrições de vários atos da sociedade da época, retratando entre outros: Nomeações para cargos na Colônia, atos da igreja e até inquéritos policiais. "Há uma vasta documentação neste nosso trabalho que talvez ajude os pesquisadores do tema , principalmente documentos entre os séculos XVIII e XIX" revela o professor Pinheiro.

Conferencia Fontes para a Historia do Ceará Colonial
Por Professor Pinheiro Cariri Cangaço Fortaleza 2018
Casa Jose de Alencar, 27 de abril de 2018
Imagens por Laser Vídeo de Aderbal Nogueira

https://cariricangaco.blogspot.com/2018/05/fontes-para-historia-do-ceara-colonial.html

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VIVER NO MATO

*Rangel Alves da Costa

Ainda tem gente que não desgarra de seu pedaço de chão de jeito nenhum, ainda que a cidade chame a todo instante. Ama sua terra, ama seu pedacinho de chão, seu cercado e seu jeito simples de viver e sobreviver.
Gente que nasceu e cresceu e ainda vive e convive com a mesma feição sertaneja de antigamente. Nada parece mudar. O tempo passa, tudo voa, muito se renova, mas o viver sertanejo permanece desde o beiral da estrada de chão à cancela adiante.
Da cancela adiante a porta e a janela, o batente largo, o silêncio das horas. Parece não haver morador. Mas há. Logo sobe um cheiro vindo da cozinha, o som de uma panela, uma voz qualquer. Oi de casa! Oi de fora, eis a resposta.
Assim cheguei à casa de um já envelhecido sertanejo, um dos maiores caçadores já nascidos naqueles carrascais sertanejos, pessoa de valor e nobreza reconhecidos por todos. Um homem e seu mundo, ou aquele que a distância matuta à dureza violenta do asfalto.
Moradia de Seu João de Laura, no Riacho Largo de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo. Agora pergunto: Há cena mais singela e cativante que esta?
Um fogão de lenha sobre um estrado de barro batido. Cinzas espalhadas pelo que restou da lenha preparando comida.
Um vasilhame enegrecido de tempo e cinzas em cima do beiral da boca. Pedaços de telhas quebradas com a serventia de encobrir os restos da madeira e do carvão.
Uma lona velha, de um azulado empoeirado, estendida ao lado para proteger da ventania e da chuva, como se ali a chuvarada até se esquecesse de chegar.
E, bem juntinho ao fogão adormecido, em cima da leveza das cinzas mortas, um galo sem pressa de nada. Sonolento, descompromissado com qualquer cantar. Apenas ali, apenas aí.
Mais adiante uma meia-cerca de madeira velha, pedaços de paus levantados e arvoredos emoldurando a vida. Restos, tocos, troncos, pedaços espalhados ali e acolá.
Dos braços da madeira descem sacos, baldes, quinquilharias. Um saco que alguma serventia já teve no passado. Certamente um feijão batido, um milho despigado, uma alegria com qualquer colheita.


Uma planta em caqueiro sem idade pende da madeira e desce num girau de quatro costados tortos. Talvez assim, nesse mesmo jeito e na mesma feição, dia após dia.
O fogão de barro nem sempre é usado, somente quando a panelada é de demora em cozinhar. No barro do fogão a face da pedra. Até racha pelo fogo e pelo calor, mas nunca se esbagaça.
Fogão de barro e lenha para muita serventia. Um quarto de bode para muita visita, uma feijoada pra família que chega, um cozido diferente para sair da rotina do mesmo prato do dia após dia.
Abaixo de tudo a terra, o chão sertanejo como lastro de tudo, os passos fincados desde os tempos idos. Um chão entremeado de areia e pó, de terra e poeira, de aridez e barro batido pelo passo do tempo.
Um chão que um dia foi caminho de Lampião e seu bando. Uma terra abrindo passagem para antigos caçadores, para vaqueiros e animais soltos e de cria, para os caminhos sertões adentro e mais além.
Sertões onde se espalhavam os umbuzeiros, as umburanas, as craibeiras, os marmeleiros, as quixabeiras, as catingueiras muitas, os tufos de pau. Tudo num tempo de mata e de floração ao longe.
Sertões do nambu, do preá, da codorna, do caititu, do veado do mato, da seriema, da rolinha fogo-pagô, até da onça e do bicho grande. Rastros apenas perdidos nos idos, veredas de ninhadas e locas que já não existem mais.
Certo que muito mudou e até a mata já escasseou. O bicho de caça sumiu de vez. A terra já não produz como antigamente. O desmatamento aumentou o calor e trouxe o sol para fazer moradia na varanda de cada um.
A permanência na terra, contudo, é uma questão de amor sem igual. A obstinação pela terra, pela casinha de barro ou de qualquer sustentação, é uma opção amorosa para não deixar de acordar ainda na madrugada escurecida e adormecer com a noite ainda menina.
Nunca há riqueza de luxo, mas também em lugar nenhum é encontrada riqueza igual. O luxo e o prazer da vida ainda na paz, o contentamento de estar sentindo a terra aos pés e o bicho de cria roçando a mão. Um viver assim que Seu João de Laura sequer sonha em desapartar.
E tem gente que ainda diz que é casa de pobre. E tem gente que ainda olha pra tudo e quase renega o olhar. E tem gente que não sabe o que é a vida. E tem gente que não conhece o viver sertanejo. E tem gente que sequer reconhecer a grandeza - em toda singeleza e simplicidade - desse mundo sertão.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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UM POUCO DE HISTÓRIA... HÁ EXATOS 90 ANOS UMARIZAL FOI SAQUEADA POR UM BANDO DE CANGACEIROS!

Por Rivanildo Alexandrino

11 de maio de 1927, aos primeiros raios do sol escaldante, um grupo de cangaceiros aproximava-se sorrateiramente do pequeno vilarejo de GAVIÃO¹. O bando era formado por cerca de vinte homens, e o seu chefe era nada menos que o famoso cangaceiro Massilon Leite, que no dia anterior havia atacado a cidade de Apodi, e um mês depois, estaria integrado ao bando de Lampião no famoso ataque à cidade de Mossoró.

Próximo ao povoado, o chefe interrogou uma mulher que lavava roupas numa casa um pouco afastada de Gavião:

- Ali na rua tem “macaco”² do governo?

- O que é macaco do governo? – inquiriu a mulher!

- É polícia!

- Tem não senhor! Só esses que estão chegando agora! (pensava que os cangaceiros eram soldados).

- Esses não são macacos! São meus cabras!

- E quem é o senhor?

- Sou “Lampião”! (mentiu).

A mulher que ao ouvir o nome de Lampião, ficou trêmula de medo, logo foi tranquilizada pelo chefe dos bandidos que disse que não a fariam mal.

Depois de saciarem a sede, os cangaceiros preparam-se pra invadirem o lugarejo. Para isso, Massilon usou inteligente estratagema, mandou que dois dos seus homens tirassem seus apetrechos característicos do cangaço e adentrassem no arruado, um corria a pé na frente, e o outro, montado em um burro em perseguição ao mesmo, gritava:

- Pega ladrão! Pega ladrão!!

E assim, chegaram em frente a matriz, onde os moradores aglomeraram-se para assistir a estranha cena.

Aproveitando a situação, os cangaceiros entram de súbito em Gavião, cercaram e renderam todos que estavam no centro do lugar.

Rendidos os habitantes, começaram a onda de saque. O comerciante José Abílio de Souza Martins foi um dos mais prejudicados. Teve seu estabelecimento comercial invadido e saqueado pelos cangaceiros que subtraíram grande quantidade de mercadorias e certa soma em dinheiro.

O coronel Cristino Leite, chefe político local, foi da mesma forma, preso e obrigado a pagar por sua liberdade. No entanto, pediu ao chefe que não molestassem os moradores, que o mesmo faria uma cota com a população pra arrecadar dinheiro e lhe entregar.

O chefe da horda assassina, exigiu 10 contos de réis, valor exorbitante para os padrões do lugar naquela época. Mas depois de feita a arrecadação, tudo que conseguiu-se foi a quantia de 2 contos e algumas armas. O próprio Massilon sabia que o valor que tinha pedido era muito elevado, sendo assim, aceitou de imediato a quantia que conseguiram.

Os cangaceiros ainda organizaram alegre baile no grupo escolar, mas como o chefe deu a palavra ao coronel Cristino Leite que respeitaria os moradores, as mulheres não foram obrigadas a participar, e os cabras dançaram uns com os outros ao som de um fole e sob efeito de bebidas alcoólicas.

Já na parte da tarde os cangaceiros deixavam Gavião e seguiram em direção ao povoado de Itaú, que da mesma forma foi saqueada.

(1) Nome primitivo da cidade de Umarizal, que depois foi chamada de DIVINÓPOLES e posteriormente, recebeu a denominação atual.

(2) Os cangaceiros chamavam os soldados de macacos.

Obs: A minha pesquisa baseia-se nas obras dos doutores: Sergio Dantas, Raul Fernandes e professor Raimundo Nonato.


A fotografia acima foi feita em Limoeiro do Norte, em 16 de junho de 1927, pouco mais de um mês do ataque a Gavião. Na foto, Massilon está assinalado com o número 7 e Lampião com o número 5.

Grande abraço!
Rivanildo Alexandrino, Pesquisador.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1353901334691820&set=a.120840741331225.29303.100002158993561&type=3&theater

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O CANTOR JOÃO MOSSORÓ FARÁ SHOW (SÁBADO DIA 02 DE JUNHO DE 2018, NO RIO DE JANEIRO.


O cantor João Mossoró fará show (sábado), dia 02 de junho de 2018, no Rio de Janeiro, no bairro Benfica, no "Mercadão Cadeg".Uma festa portuguesa, no "Cantinho das Concertinas".

 
Será uma festa bastante animada, quando o artista cantará as mais lindas canções. 
Você que mora no Rio de Janeiro prestigie o artista, participando do seu show. 
Para quem não sabe João Mossoró é um dos fundadores do Trio Mossoró, que fez muito sucesso nas décadas passadas, mas lembrando ao leitor que o Trio Mossoró está apenas adormecido. Vez por outra, os irmãos Carlos André, Hermelinda Lopes e João Mossoró fazem shows por este Brasil afora. Se ele ainda cantam juntos os antigos sucessos, podemos dizer que é o  "Trio Mossoró" em ação.

https://www.youtube.com/watch?v=Hxu76ddt9Yg

Clique sobre o vídeo e ouça uma bela música interpretada pelo João Mossoró

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PROFESSOR BENEDITO SERÁ UM DOS DEBATEDORES DO FÓRUM PERMANENTE DE ESTUDOS E DEBATES PELO CEARÁ.



Atendendo convite da Presidente do Fórum Permanente de Estudos e Debates pelo Ceará, escritora Maria Nirvanda Medeiros, o Prof. Benedito Vasconcelos Mendes participará, como debatedor do Fórum que ocorrerá em Fortaleza, no Náutico Atlético Cearense, ás 10 horas do próximo dia 2 de junho (sábado). 

Além do Prof. Benedito participarão  deste evento o Ex-Governador Gonzaga Mota, a Professora Querubina Bringel, o Prof. Ednilo Soárez e a Escritora Fátima Lemos.

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MANÉ NETO E O LADRÃO ESPERTALHÃO


Por Ruy Lima

Resumo da inusitada e hilariante história envolvendo o famoso ex-chefe da volante dos nazarenos, Manoel de Souza Neto, ou Mané Neto, então delegado de Sertânia/PE, e um ladrão, arrombador de casa, em 1945, constante da obra “O Caso Eu Conto Como O Caso Foi: Da Coluna Prestes À Queda De Arraes”, de Paulo Cavalcanti (1915-1995) político, promotor público, jornalista e memorialista pernambucano. 

O enredo está contado na primeira pessoa 

“A Polícia de Petrolina, no alto sertão pernambucano, mandara avisar à de Sertânia que estaria residindo ali um perigoso arrombador, agente de muitos crimes, inclusive na própria Petrolina. O tipo do delinquente e seus traços fisionômicos foram fornecidos ao capitão Manoel de Souza Neto, da Força Policial do Estado, e delegado de polícia da 8ª Zona, sediada na minha comarca. Manoel Neto era um experiente oficial, solteirão, falando manso, mas de uma coragem inaudita. Como chefe de forças volantes, já entrara em lutas com os bandos de Lampião, trazendo no corpo, encravados, vários estilhaços de bala de seus confrontos com o famoso “Rei do Cangaço”. Dizia-se que Lampião o temia como um dos seus mais corajosos perseguidores. 

Com se faro policial, acostumados às lides da caatinga, Manoel Neto começou a suspeitar de um indivíduo, recém-chegado à cidade, com hábitos diferentes dos da maioria de seus habitantes. Nos estilos, resolveu prendê-lo. E, como ele não se explicasse muito, resolveu, também nos estilos, espanca-lo. No ato da prisão, o indivíduo, que se dizia chamar João Tibúrcio, portava um revólver na cintura, trazendo consigo uma capa de gabardine já surrada. 

Com capa e tudo, João Tibúrcio, o corpo moído de cacete, foi trancafiado na Cadeia Pública da cidade. Ainda assim, nada confessou – dizendo-se inocente. 


O interesse do Manoel Neto era saber em que lugar o ladrão havia escondido o dinheiro que trouxera da Petrolina. 

No dia 6 de junho, o capitão, por volta das catorze horas, compareceu ao xadrez de João Tibúrcio, chamando o preso à grade de entrada. Com sua voz mansa, mas amedrontadora, o delegado insistia pela localização da importância roubada, insinuando que o meliante poderia ser novamente espancado, se não confessasse o crime. 

Dentro da capa de gabardine, ao ser preso, João Tibúrcio ocultara o revólver T.A.C., calibre 32, nº 201.736. Satisfeita com a apreensão da outra arma, um Smith-Wesson, que o malandro trazia à cintura, a polícia não procurou revistar mais nada, permitindo que o ladrão entrasse no xadrez com o T.A.C. às ocultas. 

Era ponto pacífico para João Tibúrcio vingar-se do espancamento que lhe havia sido infligido pelo capitão. E a hora da forra chegara – Manoel Neto, ali, diante dele, ao alcance de seu revólver. 

Enquanto isso, a conversa se mantinha no mesmo nível – delegado perguntando coisas e o preso respondendo com evasivas. João Tibúrcio pediu licença para ir ao interior da cela, no sanitário – com promessa de que, na volta, contaria novidade ao capitão. No WC do cubículo, desvencilhou-se definitivamente das dobras internas da capa, rasgandoas, para pegar a arma. E, de pronto, voltou às grades, já aí com o revólver engatilhado. Era só acionar o gatilho. 

O primeiro estampido surpreendeu Manoel Neto, que, ligeiro, procurou, mesmo ferido, fugir do alcance de outras balas de seu agressor, esgueirando-se pelo corredor da cadeia. João Tibúrcio então colocou o braço direito para fora da grade e acionou pela segunda vez o revólver, no momento em que o delegado dobrava a esquina do corredor. A primeira bala alojou-se nos intestinos, produzindo mais de dez perfurações. A segunda, alcançou-o no ombro, superficialmente. 

A cidade ficou em Pânico: “Mataram o capitão!” Aos poucos uma enorme massa humana se postava diante da cadeira. João Tibúrcio lá dentro, como fera acuada, gritando que descarregaria o resto da sua munição em que se afoitasse em chegar à sua frente. 

Descansando do almoço, fui avisado do ocorrido. E me desloquei imediatamente para a Cadeia Pública. Rompi a multidão e cheguei ao local em que Manoel Neto se achava, cercado de populares, o médico Raul Lafaiete já o atendendo. De breve conversa que mantive com Raul, ficou de logo entendido que o caso era de natureza grave, exigindo tratamento cirúrgico. 

Sertânia não tinha hospital. O mais próximo era o de Pesqueira, a algumas horas de automóvel dali. Não perdemos tempo: chamamos José de Bastos, proprietário do único automóvel de aluguel da cidade, e o incumbimos de transportar o delegado a Pesqueira, sem perda de tempo. Com o motorista, viajaram outras pessoas. 

Depois que o carro saiu da cidade, voltei à cadeia e me pus a poucos metros da cela de João Tibúrcio, tentando falar com ele. Aos gritos, de longe, dialoguei como o criminoso. Assegurando-lhe garantias de vida, pedi que se entregasse. Em vão: 

- Vocês querem me matar! Quem vier aqui, morre! Eu não me rendo, não! Alegando que não podia confiar em mim porque não sabia quem era eu, João Tibúrcio pediu a interferência de uma das pessoas que conhecia em Sertânia: “Seu” Maninho, Emanuel Veras, gerente da “americana” – como o povo chamava a Anderson Clayton. Mandei buscar o Maninho. 

Com o endosso de Maninho, o criminoso passava de certo modo a confiar em mim. Reiterei a promessa de que, se ele me entregasse o revólver, sua vida seria respeitada. Dei-lhe minha palavra de honra. 

- Tá combinado. Mas se o senhor vir até o meu xadrez desacompanhado. Só confio no senhor, doutor. Venha à minha presença sozinho que lhe darei o revólver. 

Aproximei-me, passos tranquilos e seguros, e, num lance, pulei em cima do braço de João Tibúrcio tomando-lhe a arma. Ele não reagiu, jurando que seu propósito era o de receber-me segundo prometido. 

Enfiando a arma na cintura, vi quando a massa humana invadiu o corredor, à frente o sargento Dudu, com seus cento e vinte quilos de banha, a barriga domando todos os espaços do dólman. Junto ao sargento. O soldado Manoel Cavalcanti, compadre e amigo de Manoel Neto. De posse de um punhal de mais de quinze centímetros de lâmina, já fora da bainha, Manoel Cavalcanti gritava que iria sangrar “aquele bandido que matou meu capitão e meu compadra!!” 


Vendo-o exaltado, disse-lhe que o preso estava sob minhas ordens de promotor público. O soldado não se deu por achado. 

- Não, doutor: esse cabra vai ser sangrado agora mesmo. Não há quem me impeça! 

O carcereiro da Cadeia Pública já havia, sob temor, entregue a chave da cela de João Tibúrcio a Manoel Cavalcanti.” 

Prólogo 

Em 1945, o então capitão Manoel Neto, delegado de Sertânia, prendeu um sujeito chamado João Tibúrcio, suspeito de ter arrombado casas em Petrolina, de onde roubou muito dinheiro e que agora estava em Sertânia, para cometer as mesmas façanhas. Os soldados tomaram-lhe um revolver que levava na cintura e o jogaram no xadrez, vestido de uma surrada capa de gabardine. Mesmo sendo bastante espancado, o sujeito não revelou nada. Em uma segunda “visita” ao xadrez, o delegado Manoel Neto foi surpreendido por tiros desferidos por uma arma que o gatuno havia escondido na sua capa de gabardine. Manoel Neto foi ferido nos intestinos e no ombro. O médico que o atendeu de emergência sugeriu encaminhá-lo ao hospital de Pesqueira, para ser submetido a cirurgia, já que em Sertânia não havia hospital. 

O promotor da cidade, usando da sua autoridade, conseguiu negociar com o preso e tomou-lhe a arma. 

Entretanto, a cadeia já estava invadida por uma multidão que queria linchar o sujeito. O soldado Manoel Cavalcanti, muito ligado ao capitão, queria a todo custo sangrar o bandido que matou o seu capitão e seu compadre. 

“Ao tentar demovê-lo da ameaça de matar o agressor, fui ligeiramente empurrado pelo soldado, que trincava os dentes e se babava de ódio. Ordenei ao sargento Dudu que o prendesse, o gordo militar hesitando em atender à minhas determinações. Gritei que se o sargento Dudu não prendesse naquele instante o soldado, ele, sargento, é que seria preso por mim. No meio da confusão, com a ajuda de Maninho Veras, Antônio Olinto, João Dudu e outras pessoas, consegui que Manoel Cavalcanti voltasse atrás, entregando-me o punhal. 

João Tibúrcio, perplexo, a tudo assistia, de dentro do xadrez. 

O Juiz de Direito da comarca, Ângelo Jordão de Vasconcelos, filho, estava ausente em sua fazenda de gado no município de Afogados da Ingazeira. 

No outro dia, interroguei João Tibúrcio no fórum da cidade – uma dependência térrea do edifício da prefeitura. Diante das marcas de sevícia que apresentava, requisitei um exame pericial, que o médico Raul Lafaiete realizou na mesma ocasião. 

Tratando-o com urbanidade, pedi ao criminoso que me contasse toda a sua história, repetindo-lhe as garantias de vida que oferecer desde o primeiro momento. Aí o agressor me disse que seu nome verdadeiro era João Pedro da Silva, usando os nomes de João Tibúrcio, Faustino e João Soares da Silva, “para se livrar de dificuldades”. Observei logo que estava diante de um criminoso já conhecido da polícia. 

Depois das primeiras declarações e efetuado o exame pericial, João Tibúrcio ou João Soares da Silva ou Faustino voltou à cadeia. 

Neste meio-tempo, a cidade se dividia entre apoiar-me nas ações e recriminar mina “proteção” ao criminoso. 

Fortemente escoltado, João Tibúrcio voltou à minha presença em meu gabinete do fórum. Sabia-o analfabeto, posto que deixara de assinar seu nome no termo de interrogatório, de véspera. Então simulei que havia recebido um ofício da Secretaria de Segurança Pública, contando-me todo o seu passado. João Tibúrcio demonstrou espanto, fumando nervosamente – com os cigarros que eu próprio fornecia, para ganhar-lhe a confiança no trato ameno. Em gesto previamente estudado, passei às mãos do criminoso um papel qualquer. Com um timbre de repartição pública, ao mesmo tempo que pedia que lesse. 

- Isso aí é o ofício que eu recebi da polícia do Recife. Toda sua vida está contada nesse papel. Pode lê-lo. 

Eu já sabia que João Tibúrcio ia dizer que era analfabeto, por isso é que preparara a cena. Reafirmando que todo o seu passado constava daquele documento e exigindo reciprocidade às minhas atitudes de respeito à sua pessoa, inclusive garantindo-lhe a vida, adiantei ao criminoso que ia lhe fazer uma pergunta, só uma pergunta, naquele dia. 

- Quando foi que você fugiu do presídio de Itamaracá? 

João Tibúrcio, sem perder um segundo na sua resposta, foi taxativo: 

- Em novembro do ano passado, pelo mar. 

As notícias que vinham de Pesqueira davam conta de que o capitão Manoel Neto havia sido operado pelo dr. Valdir Lopes, passando razoavelmente bem, estando fora de perigo. 

Por esse tempo, a Secretaria de Segurança Pública, de posse de minhas primeiras informações, mandavam-me dizer que João Tibúrcio era um célebre assassino, acostumado a fugir das cadeias do Estado, além de perigoso arrombador – fugitivo da Justiça de Alagoas. 

Os interrogatórios prosseguiam, eu ouvindo diariamente o agressor do capitão, e o comissário de polícia, João Dudu, apondo sua assinatura nos termos do inquérito. 

Dias depois, chegaram a Sertânia o investigador Rátis e o comissário Soares, da Secretaria de Segurança Pública. Vinham apurar o que já devidamente apurado. Depois de ler os autos do inquérito policial, os dois agentes de segurança, alegando que precisavam voltar prestigiados, pediram que eu lhes permitisse aparecer na imprensa da Capital e na Secretaria com os homens que haviam conseguido as confissões de João Tibúrcio. Não me fiz de rogado. No fim das contas, iria contribuir para prestigiar dois antigos servidores públicos, aumentando e enriquecendo o “cartaz” da repartição. 

Quinze dias depois do atentado, Manoel Neto voltou a Sertânia, o povo proporcionando-lhe festiva recepção na estação da Great Western. O bravo perseguidor de Lampião era realmente forte, um tipo físico seco, mas resistente. 

Mal teve alta do hospital – e eis que o delegado voltou às suas funções. A essa altura, João Tibúrcio estava com a prisão preventiva decretada pelo Juiz de Direito. 

Novamente, foi Manoel Neto à porta do xadrez de seu agressor: 

- Como é, seu cabra, você diz ou não diz onde escondeu o dinheiro de Petrolina? 

Aparentando arrependimento, João Tibúrcio respondeu que o faria, se fosse levado ao local – e indicou um terreno da cidade, próximo à estrada de ferro. 

Mais do que depressa, Manoel Neto mandou abrir a cela e saiu com o preso – sob a escolta de dois soldados, um pesadão, pachorrento, outro mal restabelecido de uma crise de maleita. Chegados à margem de uma cerca de aveloz, João Tibúrcio apontou para o outro lado. Ali estaria, enterrado, o pacote de dinheiro que trouxera de Petrolina. Manoel Neto, precavido, mandou que um soldado pulasse a cerca em primeiro lugar e ficasse esperando, do outro lado, o criminoso – com o fuzil na mão, pronto para qualquer eventualidade – o outro soldado montando guarda ao arrombado, do lado contrário, também armado de fuzil. 

Quando João Tibúrcio galgou a cerca – o primeiro gesto que fez foi empurrar com a perna o corpanzil do “meganha”, deixando-o cair, esborrachado, no solo, disparando em correria pelas caatingas.

A cidade explodiu de estupefação, muitos censurando o procedimento do delegado, que retirara da cadeia um homem que estava à disposição da Justiça, com prisão preventiva decretada. 

Novamente, encabecei as diligências – o juiz fora da comarca e o delegado desmoralizado. 

Como percebi que João Tibúrcio estava apaixonado por sua amásia, advertir o comissário João Dudu da possibilidade de o fugitivo tornar à casa. As estradas de Sertânia estavam sob controle, eu requisitando as viaturas do Departamento de Estradas de Rodagem e o pessoal disponível das repartições públicas – a cidade toda pondo-se à procura do fugitivo. 

Pela madrugada, burlando a vigilância de seus perseguidores, João Tibúrcio bateu na porta traseira de seu mocambo, chamando pelo nome da mulher – a essa altura instruída para dar aviso à polícia, que se colocara desde cedo próximo à residência. 

Nu em pelo, João Tibúrcio quis fugir, sendo alvejado por José Alves da Silva, conhecido por “Zé Queimada”, um dos populares que se haviam oferecido para sua captura. A bala transfixou-se o fígado. Era noite de véspera de São João, a sede do América Futebol Clube de Sertânia abrindo seus salões para uma grande festa junina. A custo, consegui convencer que o médico do posto de saúde do município atendesse o ferido. Havia na cidade um generalizado sentimento de repulsa ao arrombador, pela tentativa de morte contra o capitão Manoel Neto. 

Levamos, então o criminoso para o consultório do médico, onde se prestaram os socorros de urgência, após o que providenciamos a volta do fugitivo à Cadeia Pública. Durante o atendimento eu, na cabeceira da mesa de curativos, instei João Tibúrcio a contar mais outros casos de sua vida. Talvez pensando que fosse morrer ou, quem sabe, sensível aos repetidos gestos de humanidade da minha parte, declarou que estava condenado à pena de quinze anos e seis meses de prisão, na comarca de Correntes, por tentativa de morte e outros delitos, bem como em Garanhuns – cidades de Pernambuco. E assim foi encadeando tosos os fatos de sua história, eu anotando o que interessava à Justiça. 

Uma noite, os soldados do destacamento, de guarda na cadeia, ouviram fortes gemidos de João Tibúrcio, deitado na cama da cela: 

- Ai, meu Deus! Que dor! Não aguento mais! Sei que não amanheço! 

Pela manhã do dia seguinte, o carcereiro notou que o preso não acordara à hora de costume. Olhou a cama e viu um lençol branco cobrindo um corpo humano, de pernas cruzadas para cima, a cabeça encoberta. Admitindo que o detendo tivesse morrido pela madrugada, o carcereiro alarmou os soldados e resolveu abrir o cadeado da cela. 

A cena era cômica: em lugar de João Tibúrcio, o que havia na cama era um tripé de madeira, imitando um corpo humano de pernas cruzadas, o lençol ardilosamente colocado em cima. Bem que o arrombador dissera, em seus gemidos, que não amanheceria. Não amanheceria na cadeia, já se vê. 

O foragido havia perfurado o estuque do xadrez dom um ferro pontiagudo, retirado da caixa de descarga da cela. E, com ele, passara a noite trabalhado. Para evitar que os soldados não ouvissem o barulho, João Tibúrcio, astuciosamente, abriu a torneira do banheiro, deixando a água correr a noite toda dentro de um balde. 

Meses depois, soubemos que voltou a ser preso em Alagoas. Por segurança, ficou ele dessa vez na Casa de Detenção do Recife, enquanto o processo criminal corria na comarca de Sertânia. 

Em 1949, integrando uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Estado, fui à Casa de Detenção com outros deputados. Um detento, na visita bateu no meu ombro, rindo: 

- O senhor não se lembra de mim, não? Eu sou aquele homem que atirou no capitão Manoel Neto em Sertânia. 

João Tibúrcio, fisicamente, era o mesmo: boa aparência, seco, falastrão. 

Depois de relembrar alguns aspectos de sua vida, advertiu, entre zombarias: 

- Não vou demorar muito aqui, não, doutor! Vou fugir de novo. O senhor vai ver. 

Ao tempo em que a energia elétrica do Recife era fornecida pela Pernambuco Tramways, já no fim desse período, a cidade, de quando em quando, ficava às escuras, um tipo de black-out estabelecido para racionalizar o consumo. A Casa de Detenção não fugia à regra. Só que, mal interrompido o fornecimento de energia, o presídio fazia funcionar geradores próprios, que alimentavam os fios fortemente estendidos em seus muros externos, como proteção contra fugas de detentos. 

Observador, João Tibúrcio ficou à espera, certa noite, do momento de interrupção da corrente elétrica. E, entre o black-out da Tramways e o instante de ligação dos geradores do presídio – coisas de poucos segundos -, o agressor do capitão Manoel Neto pulou os arames eletrificados e, valendo-se das tiras de um lençol velho, desceu dos altos muros da Casa de Detenção para os lados da Estação Ferroviária - fugindo mais uma vez. 

Como de hábito, tornou a ser capturado, nessa ocasião em Minas Gerais, voltando para o Recife. 

Mas, certo dia, em consequência de briga com outro preso, foi morto por um longo espeto de assar carne, que lhe varou o corpo, da virilha ao coração, quando subia uma escada no presídio. 

Aqui termina, pois, a história desse anti-herói popular, bravo, à sua maneira, nas disputas contra os “homens da lei”  

” Extraído da obra “O Caso eu conto como o caso foi: Da Coluna Prestes à Queda de Arraes” – de Paulo Cavalcanti Ruy Lima – 28/05/2018

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O DIA QUE O CANGAÇO CHOROU

Por Inácio Loiola – Deputado Estadual

28 de julho de 1938. Madrugada fria de uma quinta-feira do inverno nordestino que entraria para a história. Há exatamente 74 anos, os cangaceiros Colchete, Marcela, Quinta-Feira, Luiz Pedro, Mergulhão, Elétrico, Alecrim, Moeda, Enedina, Maria Bonita, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, tombam ao barulho ensurdecedor das espingardas escopetas no solo árido da Grota de Angicos, no município de Poço Redondo (SE).

A morte de Lampião e seu bando, embora tenha ocorrido no Estado sergipano, fora planejada e articulada em Alagoas, no governo de Osman Loureiro, que não dava trégua aos cangaceiros. O governador alagoano colocou como ponto de honra a captura desses homens que procuravam fazer justiça com as próprias mãos e aterrorizavam a população do Sertão.

Depois de anos de perseguição, o cerco a Lampião aumentava até que as volantes sob o comando do tenente João Bezerra, aspirante Francisco Ferreira e sargento Aniceto Rodrigues conseguiram o êxito de descobrir o coito (local), onde os cangaceiros se refugiavam para descanso. Quem deu a dica do lugar que ficava às margens do Rio São Francisco, em território sergipano, fora os coiteiros, irmãos Pedro e Durval de Cândido, que residiam em Piranhas, na vila Entremontes. Fizeram isso sob a pressão dos policiais.

O planejamento de chegar até à Grota de Angicos e surpreender os cangaceiros ocorrera na noite anterior ainda em Alagoas. Detalhado o plano, o passo seguinte fora atravessar o São Francisco de canoa no embalo da correnteza e embrenhar-se na Caatinga. Maria Bonita, ao levantar, fora uma das primeiras a ser atingida pelos tiros. Ela, Lampião e mais nove morreram no local, do total de 36. Os demais se evadiram. Do lado das volantes, morreu o soldado Adrião.

Cessado o fogo, os soldados cometeram a atrocidade de cortar as cabeças dos cangaceiros e levá-las a Piranhas. O município serviu de palco para a exposição das cabeças dos cangaceiros que ainda percorreu algumas cidades sertanejas até serem levadas para o Instituto de Medicina Legal Nina Rodrigues, em Salvador.

A morte do cangaceiro Corisco, que pertencia ao bando de Lampião e liderava um grupo, em Miguel Calmom, na Bahia, em 25 de maio de 1940, em combate com a volante do tenente Zé Rufino marca o fim do cangaço no Nordeste, mas o cangaço entra para a história do Brasil, com Lampião, o mais famoso cangaceiro, que era oriundo de Vila Bela, hoje cidade de Serra Talhada (PE). 

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EPISÓDIOS DA VIDA DE LAMPIÃO - PARTE 4


Por Ruy Lima 

(Participação de Lampião nas Investidas do Bando do Sinhô Pereira) 

UM POUCO DA HISTÓRIA DE SINHÔ PEREIRA E DE LUIZ PADRE 

Sebastião Pereira da Silva era o seu nome. Filho de Manoel Pereira da Silva Sá, pertencia à família Pereira da Região do Pajeú, Nasceu em Vila Bela, em 20/01/1896 e faleceu em 21/08/1979, em Lagoa Grande, MG, como um pacato comerciante. 

Sinhô Pereira (não sei de onde veio esse “Sinhô”, mas não tem nada a ver com a sua idade, ou por ser portador de algum título de nobreza) era descendente do Andrelino Pereira da Silva, o famoso Barão do Pajeú, o qual foi o primeiro prefeito de Vila Bela. Ele era primo de Luiz Pereira da Silva, o Luiz Padre, alcunha originada do seu pai, o Padre Pereira. Ele nasceu em 12/02/1891, em Serra Talhada e faleceu em 06/04/1965, em Goiás, devido a uma operação malsucedida de vesícula. 


Luiz Padre era filho de Manoel Pereira da Silva Jacobina, conhecido como Padre Pereira, por ter sido seminarista. 

Padre Pereira era irmão do pai de Sinhô Pereira e genro do Barão do Pajeú. Ele foi o segundo prefeito de Serra Talhada. Era muito respeitado, mas odiado pelos Carvalhos. 

Naquela época, as famílias Pereira e Carvalho, viviam em pé de guerra, apesar de terem parentesco entre si. 

No dia 17 de junho de 1905, pela manhã, Manoel Pereira Maranhão, conhecido por Né do Baixio ou Né Delegado, por ter exercido esse cargo, foi morto a tiros em plena rua de Vila Bela, pelo seu primo Antônio Clementino de Carvalho, apelidado de Antônio Quelé, por um motivo bastante fútil. 

Antônio Quelé foi preso e encaminhado para a Cadeia de Flores, mas anos depois foi absolvido em júri popular. 

Em 20 de outubro de 1907, Padre Pereira, pai de Luiz Padre e tio de Sinhô Pereira, foi morto, aos 72 anos de idade, por Luis de França, jagunço do major João Barbosa Nogueira, aliado dos Carvalhos.

Luiz Padre tinha entre 16 e 17 anos e coube a Manoel Pereira da Silva Filho (Né Pereira ou Né Dadu), irmão mais velho de Sinhô Pereira, atendendo pedido da viúva do Padre Pereira, matar Eustáquio Carvalho, um dos membros da família adversária. 

Né Dadu cumpriu a sua tarefa: matou a tiros Eustáquio Carvalho. Ele formou um bando de cangaceiros e atacou algumas fazendas do local. Foi perseguido pela polícia. Em 16 de outubro de 1916, na Fazenda Serrinha, em Serra Talhada, ele foi assassinado a traição, enquanto dormia, por um dos seus cabras. 

A viúva do Padre Pereira e mãe do Luiz Padre, mandou o filho acompanhar o primo, Sinhô Pereira. 

Sinhô Pereira já tinha formado um bando de cangaceiros, com a aprovação da família, para vingar a morte do irmão, Né Dadu, e do Padre Pereira, seu tio e pai do Luiz Padre. 

Sinhô Pereira fora avisado que um dos jagunços que ajudara matar o Padre Pereira estava numa fazenda, perto do comércio de São João de Barro Vermelho (hoje Tauapiranga) distrito de Serra Talhada/PE. O bando chegou na casa à noite. O cabra correu sob a rajada de tiros dos cangaceiros. No outro dia, pela manhã, Sinhô Pereira, Luiz Padre e seus cangaceiros seguiram o rastro do cabra pelo sangue. Quando avistou o bando, o cabra correu e Luiz Padre o matou com um tiro certeiro, vingando assim a morte do pai, embora não tenha se vingado dos mandantes do crime. 

Porém, a família Pereira estava numa fase inicial de decadência econômica. O Sinhô Pereira e Luiz Padre, resolveram deixar o cangaço e debandarem para o Estado de Goiás. 

Após uma longa caminhada e confrontos com a polícia do Piauí, Sinhô Pereira resolveu retornar ao sertão do Pajeú e reassumir o comando do seu bando de cangaceiros. Luiz Padre continuou com a sua jornada com destino a Goiás. 


Neste seu retorno, entre o mês de julho e julho de 1920, Sinhô Pereira foi procurado por Virgulino, seus irmãos Antônio e Livino, Antônio Rosa, irmão de criação e outras cabras. Desta feita, os irmãos Ferreira entraram definitivamente no cangaço, com o objetivo de vingarem a morte do pai, pela Polícia Militar de Alagoas.

AS PRIMEIRAS INVESTIDAS DO BANDO DO SINHÔ PEREIRA, COM A PARTICIPAÇÃO DE LAMPIÃO. 

O primeiro confronto do bando de Sinhô Pereira com a polícia, ocorreu quatro a cinco depois que Virgulino entrou no bando. Aconteceu na fazenda de Né Carnaúba, tio do Sinhô Pereira. O bando, composto de apenas 13 homens, foi atacado por uma força de uns 40 homens, comandados pelo capitão Zé Caetano. No tiroteio, morreu Luis Macário, um dos camaradas de Sinhô Pereira. O bando fugiu. 

Logo em seguida, houve outro confronto, na fazenda Ponto de Poço, à margem do Pajeú. O bando já era composto por 16 homens contra 8 da polícia. Morreram dois da volante policial. 

Oito ou dez dias depois, o bando enfrentou uma volante, com praticamente o mesmo número de componentes, 16 a 17 homens. Da volante morreu um e outro saiu ferido. Do bando hão houve mortos nem feridos. 

Um mês depois, mais outro confronto, pertinho de Serra Talhada. Tanto o bando como a volante era composta de 23 homens. Houve dois mortos e três feridos da volante e dois feridos do bando de Sinhô Pereira. A volante fugiu. 

O bando de cangaceiros seguiu para a fazenda Abóbora do Coronel Marçal Diniz. Nesse lugar, o capitão Zé Caetano e os tenentes Bigode, Ibraim e Geraldo cercaram a casa. O tiroteio durou quase cinco horas. Da parte da volante, morreu um e ficaram uns cinco baleados. Morreu um rapaz da casa e dois do bando de cangaceiros ficaram feridos. Um deles, Antônio Ferreira, irmão de Virgulino, com um tiro de fuzil no ombro e outro na coxa. A volante debandou. 

Em seguida, o bando foi para a fazenda do Barro, no Ceará, com quatro feridos, a chamado do major José Inácio, que tinha arranjado uma encrenca com o padre Lacerda, do arraial de nome Coité. O padre estava incorporado com as forças. Tinha pouco soldados e muito jagunço. 

O bando cercou o arraial de Coité com 70 homens, contando com os homens do major. O bando já tinha uns 30 homens. Os adversários tinham uns 50. O tiroteio começou cedo e durou até de tardinha. Isso ocorreu no dia 20 de janeiro de 1921. Morreram um dos homens de Sinhô e três do Major Inácio. Saíram feridos três homens do bando, incluindo Antônio Ferreira, no braço. Chegaram mais 15 a 16 homens, comandados pelo sargento Romão, e o bando, em desvantagem, se retirou. 

Em seguida o bando chegou na fazenda das Queimadas, onde teve um encontro com uma força de mais de vinte homens, chefiada pelo sargento Romão. Logo depois apareceu o tenente Zé Galdino com 25 a 30 soldados. 

Depois de mais de uma hora, os policiais correram e voltaram reforçados pelo grupo de Antônio Miguel, sargento comissionado, com 15 a 20 homens paisanos. Sinhô Pereira dividiu o grupo. Uma parte ficou na casa e no curral. Outra parte ficou na cerrada. Estes viram quando os policiais foram chegando e deixaram que passassem. Um grupo estava com Lampião e outro com Baliza. De repente, os policiais ficaram entre dois fogos. Morreram dois soldados e três paisanos Morreu Pitombeira (Manuel Vitória) chefe de grupo do Sinhô Pereira e ficaram feridos os cangaceiros Lavandeira de Manxé Porvinha. Depois de uma hora e meia de tiroteio, a força policial fugiu. 

Sinhô Pereira e seu bando retornaram para o Barro. Lá, o major José Inácio pediu que se retirassem. O Sinhô Pereira, então, retornou para Serra Talhada com o seu pessoal. 

Em Serra talhada o bando recebeu uma intensa perseguição da força policial pernambucana. Na serra de Forquilha foram cercados por 128 homens chefiados pelo tenente-coronel Cardim, o capitão Zé Caetano e os tenentes Bigode, Assisino e João Gomes. O bando, naquela ocasião, só tinha 11 homens, incluindo Virgulino e seus irmãos. Teve uma hora de fogo cruzado. 

O bando estava no interior de uma casa. Os policiais davam descarga de balas no telhado da casa, que ia ficando cada vez mais cheia de poeira. Os cangaceiros estavam em tempo de ficarem desarmados: a areia caía dentro das carabinas, quando eles as manobravam. Então, resolveram furar o cerco. Combinaram de cinco atirar para um lado e seis para o outro. Conseguiram escapar. Surpreendentemente, ninguém saiu ferido. 

Depois houve outro confronto na fazenda Tabuleiro, na Paraíba, fronteira com Pernambuco, de um sujeito casado com uma sobrinha de Sinhô Pereira, chamado Neco Alves. De longe o bando avistou uns homens. Lampião ia na frente com Livino e Antônio. Os soldados atiraram e erraram. Lampião perdeu o chapéu, ao pular para se livrar das balas. Ao voltar para apanhá-lo, tomou dois tiros, uma na virilha e outro acima do peito, Todos os dois saíram atrás.

Na hora, ele saiu andando, mas não aguentou e caiu. Livino e Meia-Noite o arrastaram até um lugar seguro. Ficou uns 20 dias na fazenda de um pessoal de Cosmos, gente humilde, mas muito amiga. Sinhô mandou chamar um médico da sua família, Dr. Mota que tratou dos ferimentos de Lampião. Ao examiná-lo o médico teria dito: “Nunca vi tanta sorte. Por um triz a bala pegava a bexiga e a espinha. Se a bala fosse de carabina (mais grossa) teria pegado.” Sinhô Pereira e seu bando ficou arranchado naquele local até Lampião poder andar. 

“Depois do combate em que Lampião saiu ferido eu resolvi me retirar daquela vida. Isso foi no Tabuleiro de Neco Alves. Saí mais por causa do reumatismo. O reumatismo me atacava tanto, que tinha dia que eu não podia nem caminhar.” (Sinhô Pereira)

Sinhô Pereira saiu do Sertão do Pajeú em 8/08/1922, com apenas 26 anos de idade, rumo a Goiás, onde já estava o seu primo Luiz Padre, e deixou o seu bando sob o comando de Lampião. 

Ruy Lima 29/05/2018 Próxima Postagem: Parte 5 - OS PRIMEIROS ASSALTOS DE LAMPIÃO E SEU BANDO

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