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sábado, 4 de março de 2023

BARBARIDADE AOS TROPEIROS

 Por José Mendes Pereira

Alcino Alves Costa conta em seu livro “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”, que noutros tempos, o pequeno povoado Bahia, no Estado de Sergipe, foi um dos que mais abrigou sertanejos. Estes fugiam das perseguições policiais, que não davam espaço para os camponeses, por fazerem constantes ataques aos cangaceiros nas regiões nordestinas, principalmente em Sergipe, Alagoas e Pernambuco.   

Como o tenente Zé Rufino era comandante de uma volante do governo, sendo ele poderoso na lei e na sua vontade própria, usava e abusava do cargo que lhe fora confiado, uma vez que era apenas subordinado a um dos seus amigos, João Maria de Carvalho, sendo este chefe geral das forças policiais do governo, e se o seu superior não o castigava pelos os seus erros, claro que ele continuava maltratando as pessoas pobres.                                        

Era do conhecimento de todos que o comandante Zé Rufino e seus subordinados, não se cheiravam bem com a matutada, pois existia um boato que os sertanejos espionavam os seus passos, quando muitas vezes matavam pessoas inocentes por puro prazer. E quando assassinavam bandidos, principalmente cangaceiros, sem nenhum constrangimento, decepavam as suas cabeças, só para serem considerados valentes e receberem simbolicamente troféus.   Temendo que os bandos fossem aumentando a quantidade de cangaceiros, Zé Rufino apoderou-se de um ódio contra a três rapazes que haviam chegado para residirem em Poço Redondo. Um deles era o jovem João, filho de um senhor chamado Terto. Ainda o Zé de Emídio, filho do nomeado Emídio, e um irmão do cangaceiro Diferente, alcunhado por Zé Grosso.  

Como em todos os lugares existe fofocas, não era de admirar que lá em Poço Redondo também surgissem mentiras ou verdades.  E quem inventou essa, ninguém sabia. Mas o mais árduo foi que a conversa tão mentirosa saiu alastrando todos os lugares, que os três rapazes estavam se preparando para se incorporarem ao bando de Zé Sereno. Como a mentira anda mais rápida do que a verdade, o tenente Zé Rufino ao tomar conhecimento, deu plenos poderes ao cabo Artur para arquitetar uma maneira muito inteligente e assassinar os três jovens, não dando chance a eles se aliarem aos cangaceiros, pois os eliminando antes de se firmarem no cangaço, não aumentaria mais bandidos.                                                      

Assim que Zé Rufino deu poderes ao cabo Artur para chaciná-los, de imediato deu-se pronto. Mas depois, duvidoso, pôs-se a si interrogar: Por que matar João de Terto, um jovem que quando chegava a Serra Negra não saía de sua casa, passando todos os momentos possíveis debaixo da saia de suas irmãs? Por que matar João de Terto que era como se fosse uma verdadeira moça? Ele, matar este rapaz, de jeito nenhum! Não iria cometer uma atrocidade desta contra um jovem que não tinha nem aparência de um homem violento. E agora, o que faria ele para não matá-lo? Os outros dois já estavam na mira de sua arma. Mas o João de Terto, de jeito nenhum o mataria.     

O cabo Artur não querendo fazer a morte do rapaz como havia recebido ordem do seu comandante, tomou uma decisão sábia, mas bastante arriscada. Como ele tinha bom relacionamento com a mãe de João, a dona Mãezinha, resolveu lhe dizer por baixo de sete capas as maldades de Zé Rufino contra o seu filho. E assim que dona Mãezinha tomou conhecimento do futuro extermínio do filho, ficou desesperada. Ficou sem saber o que fazer, uma vez que o cabo Artur fora generoso com a sua pessoa, dizendo-lhe as intenções maldosas de Zé Rufino. Mas não se aguentando, e não podendo tomar decisões próprias, foi de imediato à presença do chefe geral da polícia, João Maria de Carvalho. E lá comentou o que soubera das intenções do tenente contra seu filho João. Preocupado e não querendo desrespeitar a ordem de Zé Rufino, apesar de ser um dos seus subordinados, decidiu o seguinte: Mandar João e o seu pai Terto para trabalhar em sua Fazenda São Bento. Só assim eles ficariam protegidos contra os balaços das armas do cabo Artur, uma vez que ele não queria assassinar o rapaz de Terto.                           

Zé Rufino logo foi informado sobre a proteção que os dois haviam recebidos, filho e pai.  Mas a verdade era que ninguém sabia se houve uma combinação, isto é, uma jogada entre o coronel Zé Rufino com o chefe João Maria de Carvalho. Ou então, sem querer criar problemas com o seu superior, o tenente fingiu que não sabia de nada. Como um dos marcados para morrer já tinha sido acobertado pelo chefe superior, e que não teria mais chance de assassiná-lo, o tenente Zé Rufino ordenou que dois de seus subordinados, Doutor e o dito cabo Artur, fossem procurar Zé Grosso lá na Serra Negra. Lá, não se demoraram em fazer a chacina, pois o Zé Grosso foi surpreendido com dois infelizes tiros, falecendo ali mesmo.

Como a mentira tem a perna curta, dias depois os boatos que haviam surgidos nas calçadas pela vizinhança, que Zé Grosso e Zé de Emídio iriam entrar para o cangaço, a verdade apareceu. Ambos, jamais tinham pensado em algum dia serem cangaceiros. Mas o que foi protegido pelo João Maria, o João de Terto era um dos convictos que um dia iria entrar na volante do governo. Na finalidade de fortalecer seus amigos de Poço Redondo.  

MORTE REALIZADA, VINGANÇA FEITA

Mas como uma morte por crime sempre acontece outra semelhante, a vingança feita pelo irmão cangaceiro, não tardaria. E logo que o assecla Diferente tomou conhecimento da morte do seu irmão Zé Grosso, caiu em pranto. Entristecido, incentivou os comparsas para invadirem e descontarem em cima de Serra Negra. Mas o seu pedido no momento foi rejeitado. Os asseclas o alertaram que não colocasse a charrete na frente dos cavalos. Tivesse paciência. Pois a população daquele povoado iria pagar caro com uma horrorosa vingança. Mas Diferente estava muito sentido e não queria que se demorasse, pois tinha que lavar a honra do seu irmão também com sangue.                                                             

E quais seriam as vítimas mais fáceis? Nada mais, nada menos do que os trabalhadores de um agropecuarista chamado Galdino Leite. Estes eram os comboieiros que transportavam algodão em tropas para os avantajados armazéns do coronel Joaquim Resende, lá do Pão de Açúcar. (Aquele, leitor, que se reuniu com o capitão Lampião lá na Fazenda Floresta).                                        

O período em que aconteceu este episódio, foi no ano de 1936, e nesse dia, era um sábado. Lá na casa do agropecuarista os comboieiros se encontravam todos aglomerados e prontos para a partida em direção à feira de Curralinho.                                                

Como os cangaceiros sabiam a hora em que todos partiriam para os Armazéns do coronel Joaquim Resende, escolheram o lugar. E por lá, armaram as tocaias e se recolheram para esperarem suas vítimas. Os companheiros que juntamente com ele iriam fazer a chacina eram: Os cangaceiros Beija-Flor e Coidado.                            

Como o plano já tinha sido bem elaborado, estudado e calculado, os três asseclas tinham certeza de que fariam um bom trabalho sem complicação alguma.      

E lá nos esconderijos, sem muita demora, alguém pôs o focinho em direção ao local em que eles estavam. Observaram cuidadosamente para não se enganarem. E logo perceberam que era Agenor Pitomba, um senhor que ganhava o seu pão de cada dia através do seu acordeom, fazendo festas nas regiões adjacentes. Como não era o alvo, os facínoras deixaram-no caminhar tranquilamente.                                                             

Com alguns minutos passados, um por um foi passando, e sem menos esperarem, os asseclas saíram das tocaias.  As três armas olhavam para os tropeiros e todos ficaram surpresos com o que estavam presenciando. O que a final eles tinham feito contra aqueles cangaceiros? Com certeza, os asseclas estavam equivocados. E pelo que observaram não era brincadeira. Aquilo que se passava no momento era além de sério.                           

Temendo a morte, um tropeiro humilhou-se, pedindo-lhes que não os matassem, uma vez que não tinham culpas com o que fizeram com o seu irmão. Mas Diferente não estava ali para ouvir desculpas de qualquer um. E sem muita demora, ordenou que três deles iriam morrer.  Mas um ficaria vivo para contar a história lá na Serra Negra. Os quatro homens ficaram atordoados. Não existia nenhuma forma de reagirem e se salvarem daqueles cobradores de justiça injusta.  E qual dos quatro ficaria com vida? Quem iria contar a trágica história acontecida com os que morreriam? A sentença não seria voltada atrás. Com certeza três deles já tinham certeza que iriam devolver as suas almas a Deus.                                         

Assim que tomaram conhecimento das suas mortes, se sentiram desprezados pela força divina. E sem mais querer perder tempo, pensando se matava ou se soltava, Diferente disparou sua arma e derrubou um senhor chamado Manezinho Izidório. Beija Flor e Coidado, não esperaram por uma ordem de Diferente, atiraram em Miguel Casimiro Carlos e Antonio Pedro. E ali, todos caíram mortos. Diferente, irado, olhou para o último, dizendo-lhe que corresse antes que ele se arrependesse e o matasse também. E que dissesse lá na Serra Negra, que Zé Grosso tinha um irmão e era além de macho. Nessas alturas, sem mais esperar outra ordem de Diferente, o último dos quatro, o comboieiro Silvino se embrenhou às matas no seu sofrido animal. O seu desejo era sair dali o quanto antes possível, já que três haviam partido para p além.

Diz Alcino Alves que a população ficou alvoroçada. Mas como vingar aquele assassinato? Os cangaceiros eram quem ditavam as leis nas regiões sertanejas com o poder das suas armas. Qualquer um que tentasse impedir atos de crueldades e depredações deles podia ficar sabendo que o seu enterro era naquele mesmo dia. Com cangaceiros não se brincava.

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LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O drama de Virgolino analisado por um ângulo diferente

Nessa reportagem da revista O CRUZEIRO de 26 de setembro de 1953, encontramos uma experiência patrocinada por esse periódico, onde ficou para a história do cangaço. Trata-se da visita do irmão de Lampião às terras de seu passado, tendo contato com familiares de pessoas que traíram seu irmão Lampião, entrando em assuntos que ele preferia não tocar mais, assim como o autor da matéria, em entrevista a familiares, percebeu.

 
A vida é efêmera e todos nós sabemos disso. Acontece conosco aquilo que o velho adágio popular diz: Quem planta ventos, colhe tempestade." e outro que diz "Colhemos o que plantamos." Isso aconteceu com Lampião. E para lembramos disso, no final dessa reportagem, que nos informa, como o irmão de Lampião, João Ferreira, ao visitar pela primeira e única vez, o local que seu mano tombou, cortar um galho de árvore, fazer uma cruz e fixou-a entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão, e o repórter perguntar: 

— Enterraram o corpo? 

— Não, a água levou. Respondeu o guia.

Vamos então ler a reportagem de Luciano Carneiro e ver também as fotos que ele próprio tirou:

"Lampião é nosso sangue" 

Pela primeira vez a família do "Capitão" Virgulino defende de público a sua memória.

Jornada sentimental de um irmão de "Lampião" pelas terras que serviram de marco à carreira do "rei do cangaço" — João Ferreira revê o seu berço natal após uma ausência de 37 anos e planta uma cruz onde o mano Virgulino foi morto e decapitado — A outra irmã sobrevivente mora em Alagoas — O CRUZEIRO localiza e fotografa a filha e o netinho de "Lampião" — Deve uma filha envergonhar-se do pai cangaceiro? 

Texto e fotos de LUCIANO CARNEIRO 

ESTA reportagem nasceu de um encontro com Rachel de Queiroz. Conversa vai, conversa vem, nossa grande Rachel abriu a bolsa e tirou uma carta para me mostrar "Um primo de "Lampião" foi quem escreveu", ela disse. 

O primo, Antônio Ferreira Magalhães, advogado em Recife, dizia a Rachel, entre outras coisas: "Nós da família Ferreira... não pretendemos justificar ou legitimar os crimes de "Lampião" mas julgamos... lamentável erro de observação... o situar-se Virgulino no plano comum dos malfeitores..." 

A carta fascinaria qualquer repórter. Se esse primo achava que "Lampião" não foi um criminoso comum, é que a família Ferreira tinha uma interpretação dos fatos. Nesse caso, por que não se dar a palavra aos Ferreira? Permitir que eles, pela primeira vez, apresentassem o seu lado da história seria colher um elemento valioso para futuras pesquisas históricas.

Mas os parentes de Lampião não gostam de falar. Eles dizem ter uma profunda mágoa de que a figura de Virgulino apareça por aí tão deformada. Além do mais, queixam-se muito do que sofreram por causa do parentesco. Seria melhor não reavivar mágoas. O irmão de Virgulino, João Ferreira, manteve-se até 1953 sem falar a jornalistas sobre o drama da família, revoltado com as perseguições que lhe valeram anos de prisão e até uma condenação à morte. 

E ele jamais compactuara com os feitos do irmão. Quando procurei o advogado Ferreira Magalhães em Recife, ele afirmou que preferia que "esse drama fosse esquecido". Disse por que: — Para muitos a vida de "Lampião" foi apenas um rosário de atrocidades. Sua morte: um alívio. Para nós, os parentes. Lampião era também o rapaz ordeiro e trabalhador dos primeiros tempos, lançado ao crime por circunstâncias estranhas à sua vontade. Por isso, enquanto o Nordeste se alegrava com as noticias de sua morte, nós nos ajoelhávamos. Nós perdíamos apenas um parente. 

Um parente que se pusera fora da lei para vingar injustiças. Havia pois uma divergência de base entre esses dois modos de pensar, acrescentou Ferreira Magalhães. E se eram opiniões inconciliáveis, "para que rememorar a vida heroica mas inglória de "Lampião", erguendo uma controvérsia sobre a sua cabeça insepulta?" 

A resistência dos Ferreira à ideia da reportagem terminou por ser vencida e em conseqüência O CRUZEIRO localizou os dois irmãos sobreviventes de "Lampião", levou João Ferreira aonde "Lampião" nasceu e aonde foi morto, obteve de João a versão dos Ferreira sobre os acontecimentos que lançaram Virgulino ao crime, fotografou em primeira mão a filha e o netinho de "Lampião" e Maria Bonita. 


QUANDO uma volante alagoana matou "Lampião" em 1938, ele usava tudo isso que aparece na página da esquerda: chapéu, óculos, lenço, bornais, cartucheiras, cantil, alpercatas, pistola, punhal e apito. Só a roupa (no foto) não lhe pertencia. O rosto é uma máscara de morte mandada fazer em cera pelo Instituto Histórico de Alagoas, onde estas fotografias foram feitas. 


UMA CABEÇA em bronze de "Lampião" e uma estatueta de cangaceiro trabalhada em madeira — símbolos do drama nordestino focalizado agora nesta reportagem. Foram adquiridos pelo cineasta Lima Barreto.  





JOÃO FERREIRA reviu terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe, levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de "Lampião". 
PARA OS OUTROS A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.

ESTA REVISTA proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara realizar. 

NO ALTO SERTÃO de Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de idade.

NÃO HAVIA choro quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego. 

JOÃO FERREIRA mandou cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da cruz. Para homenagear o irmão. 

A iniciativa de O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado, passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão arrancava de João. 

Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado das terras de seu bem-querer. 

No município de Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15 anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha, onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim e disse com desalento: 

"A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. 

Tudo agora lhe parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino, dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.

O ADVOGADO pernambucano Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião". 
"LAMPIA0" - MOÇO 
Virgulino Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a "patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte. Reparar o olho direito cego. 
João VIAJANDO de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de "Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel. 

EM ANGICO desembarcou para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e decapitado.

EM DELMIRO, no casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha). 

EM SERRA Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde "Lampião" nasceu. 

"O CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA FORAM FOTOGRAFADOS.

A FILHA, O NETO, E O GENRO DE LAMPIÃO, Expedita, as lado de seu esposo Manuel Messias Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de "Lampião". Pelo primeira vez a família posou para o objetiva de um repórter. 



A FILHA DE "LAMPIÃO" 
Expedita Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por "Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju. É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena. 

Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de falar sôbre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. 

Ela guardava a edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sobre "Lampião". 

DIZIA-SE que "Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega, assinando a declaração cujo "fac-símile" estampamos abaixo:

"Declaro ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filha de meu irmão Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita. 
Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele não estava em condições de faze-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu nunca soube." 

 
RECIFE, 19 de Agôsto de 1953 

OS CORPOS de "Lampião", Maria Bonita e seus nove comparsas haviam ficado realmente no leito seco de um riacho. Uma ligeira camada de terra os cobria. Os urubus descobriram e deram em cima. 
Veio uma alma piedosa, enxotou-os, foi buscar veneno e o espalhou pelo local com o fito presumível de manter afastados os urubus. Sem poder adivinhar que aquilo fosse veneno, os urubus voltaram à carga. Três ou quatro tombaram ali mesmo. 

E o próximo visitante que chegou, encontrando os urubus mortos sobre os restos dos cangaceiros, pensou rápido e saiu com a boca no mundo a dizer que "Lampião" não havia sido morto a bala, não. Havia sido envenenado. 

Assim se formam certas lendas no Brasil. Aliás, ninguém pôde atestar se os despojos estavam envenenados ou não. Quando as chuvas chegaram, o riacho ganhou águas e as águas mesmas cuidaram de decompor e destruir o que restava do estado-maior de "Lampião". João Ferreira se esquivava de ouvir essas histórias. 
Seus anos de vida estavam cansados de ouvir histórias tristes sobre Virgulino. 

Em vez, ele andava pelo mato a procurar qualquer coisa. Até que voltou, trazendo um punhado de flores silvestres. 
Aproximou-se da cruz tosca. que fixara entre as pedras, tirou o chapéu da cabeça e se ajoelhou. Após alguns momentos de reflexão, depositou as flores ao pé da cruz. Para João. a morte perdoara os crimes de Virgulino. Ali ele não era mais o rei dos cangaceiros. Era um finado. Quando João se levantou, alguém identificou entre os presentes o Sr. Oséias Cândido, irmão de Pedro Cândido. 
Pedro Cândido era um fazendeiro que negociava com "Lampião" e foi quem guiou a volante alagoana ao esconderijo de Angico. "Lampião" morreu por causa dessa traição. — Meu irmão — disse Oséias — foi posto num dilema: morrer, ou mostrar onde "Lampião" estava. 

E contou que o bando foi surpreendido às 5 horas da manhã, quando presumivelmente dormia. João Ferreira ficou ouvindo de longe, como a não querer misturar-se com o irmão de Pedro Cândido. Ficou mudo o tempo todo. 

Só abriu a bôca no momento em que Oséias contou que Pedro morrera assassinado, em 1942. Quando perguntei a Oséias: "Que é de Pedro?", e ele respondeu: "Mataram", João comentou lá de traz: — Bem feito. E então nos retiramos, deixando a cruz e as flores dentro da paisagem. 
Voltamos a Piranhas peio Rio São Francisco, à noite, debaixo duma lua cheia linda e comovente. Horas mais tarde, quando os quatro passageiros de nosso carro jogaram-se às camas de um hotel em Santana do Ipanema, Manuel Ferreira tirou um livro de sua pasta e pediu que ouvíssemos alguns versos. 

O livro era "Bandoleiros das caatingas", excelente reportagem de Melquiades da Rocha. Os versos, do cantador 'Zebelé'. Versos que nos desviaram o pensamento da lua se derramando sobre o São Francisco, para recordar, mais adiante, aquela cruz e aquelas flores no matagal da Fazenda Angico. Diziam assim: 

Ninguém no mundo se livra
Do gorpe duma traição. 
Inté Jesus foi traído 
Por um judeu sem ação, 
E morreu crucificado 
Sexta-feira da Paixão.
Lá na grata dos Angico, 
No meio da escuridão, 
Cercado por todos lado, 
Ferido de supetão, 
Foi pegado, foi traído. 
O gigante do sertão. 

Era brabo, era marvado
Virgulino, o Lampião, 
Mais era, pra que negá, 
Nas fibra do coração 
O mais prefeito retrato 
Das catingas do sertão 

A viola tá chorando 
Tá chorando com razão 
Soluçando de sódade, 
Gemendo de compaixão. 
Degolaram Virgulino, 
Acabou-se Lampião.

Havíamos atingido Santana do Ipanema, em Alagoas, para investigar o boato de que o vigário local criara um filho de "Lampião". Padre Bulhões não vivia mais, porém sua família podia esclarecer. O saudoso vigário realmente educara o filho de um cangaceiro. Mas filho de "Corisco", não de "Lampião". Retomamos viagem, para descobrir 12 horas mais tarde em Aracaju, a filha de "Lampião" e Maria Bonita. 

Sim, o rei do cangaço deixara uma filha. Dizia-se que era um filho. Esta própria revista recentemente divulgou declarações que defendiam essa versão. Mas João Ferreira não dá fé. Ele sabe apenas que um dia Virgulino lhe mandou uma menininha, com um bilhete para que ele a educasse. "O nome é Expedita", dizia o bilhete. 

Expedita, hoje, é ainda uma criança. Mas já mãe. Tem 21 anos de idade, um marido da mesma idade, um filhinho de 9 meses, Dejair. 
É uma cabocla forte e bonita, que não apresenta qualquer Sinal de degenerescência, nenhuma tara. Em julho de 1938, quando as cabeças de seus pais estiveram no Serviço Médico Legal de Maceió, o exame não denunciara estigmas que caracterizassem "Lampião" ou Maria Bonita como criminoso nato. Não surpreendia, que a filha fosse também normal. 

— O que tem é gênio forte. Herdou do pai — disse João. Nós a avistamos quando cuidava do filho. Dava-lhe leite em mamadeira, ai pelas 6 horas da tarde. Tinha um semblante tranquilo, os gestos delicados. Parecia feliz. 

A casinha modesta estava que era um mimo. Havia poltrona na sala, berço no quarto, jogo de panelas na cozinha. Tudo arrumado, tudo limpo que fazia gosto. Expedita dava leite ao nenê enquanto esperava o marido, Manuel Messias Nunes, para jantar, Manuel chegou loga. Tão criança quanto a mulher. 

Vê-los caducando com Dejair era ver dois meninotes que brincassem de papai e mamãe com um bebê. Educada por João, Expedita sabe porém de quem é filha. Na mesa da sala descobri O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sobre o livro "Lampião" de Optato Gueiros. 

Sinal de que ela não era indiferente ao assunto. Mas que gosta de falar nele, não gosta. Tive de sondar pessoas de sua intimidade para conhecer-lhe as reações ante o tema "Lampião". Ela jamais falaria a um estranho sobre esse caso. Sempre tem medo de que sua condição de filha de "Lampião" atraia vexames para o marido, mais tarde para o filho. Pude colher que, embora evitando conversar sobre cangaceiros, ela devora toda leitura que se refira ao pal. Algo mais: foi ver o filme 
"O Cangaceiro", de Lima Barreto. Voltou de lá aborrecidíssima" com a deformação do caráter do pai". Pois identificou "Lampião" no personagem central do filme. Expedita, como de resto todo o Nordeste, ligava pouco para o fato de Lima Barreto fazer arte. Queria apenas história. Interpretação honesta dos fatos. E ficou revoltada em ver os cangaceiros só viajando a cavalo, feito "cowboys" americanos, eles que só atravessavam e caatinga andando com os próprios pés. E revoltada em ver que não davam descanso a seu pai nem depois de morto.

Achei bonito que os Ferreira não se envergonhassem do parentesco com "Lampião". Lembro uma reportagem que fiz no Oriente sobre um australiano que amava uma japona. 

Proibido de casar, pois a Austrália àquele tempo não queria australiano casado com japonesa, o soldado Frank Loyal Weaver, achou que o coração tinha razões mais fortes, e se casou. Foi deportado sete vezes para a Austrália; clandestinamente voltou sete vazes ao Japão. Pois bem: os pais de Weaver, envergonhados, repudiaram o filho, nunca mais quiseram saber dele. 

Quando é que um sertanejo nosso abandonaria o filho por ter casado com quem queria? É como me diziam os primos de João no meio da viagem: "Lampião" é nosso sangue. E sangue é sangue". Achei bonito que os Ferreira reverenciassem o parente morto. Terem a coragem de não negar. A bravura de defender. 

Lá em Serra Talhada uma senhora me disse: — Meu pai é Antônio Matilde. Ouviu falar nele? Era do bando de "Lampião". Pois olhe: tenho orgulho de ser filha de Antônio Matilde. Então vou renegar o homem que me deu a vida só porque o mundo o condena? E com um ar de desprezo pelo juízo dos homens ela rematou: — Ora, moço, só Deus é o dono do mundo. 


NO CURSO de uma das várias palestras mantidos durante a viagem, no própria fazenda "Serra Vermelha'', onde ele nascera, João Ferreira ouviu expressões incômodas sobre "Lampião" e seus feitos. Ficou firme. Ninguém sabia quem era ele. Os novos senhores da terra o trataram bem, sem saber a quem tratavam. Tudo bem. 

OSÉIAS CÂNDIDO contava por que seu irmão Pedro guiara os matadores de "Lampião" ao esconderijo no grota de Angico. Fora forçado por ameaça de morte. João Ferreira ficou espiando, desconfiado, como o não querer misturar-se com o irmão de quem traíra Virgulino e o empurrara para a morte.

Antônio, o irmão mais velho. Nem os outros irmãos mais velhos, Livino, Virgulino e Virtuosa. Ele, João, era o quinto filho do velho José Ferreira e da "cumadre" Maria José. Abaixo vinham Angélica, Maria, Ezequiel e Anália. A família era grande e próspera. Pai e mãe vivos, nove filhos, gado no campo, terra trabalhada, dinheiro nos baús. Agora, tudo diferente. Por que? — Por que não nos deixaram viver em paz? —perguntou ao ar. 

MOCINHA é o única irmã que restou a João Ferreira. Ela aparece aqui tomando café, sentada, em sua casa de Delmiro, cidade alagoana próximo à Cachoeira de Paulo Afonso. De costas, o marido de Mocinha. 

Deixando a fazenda, João foi abraçar a única irmã que lhe restava, Maria. "Chamo-a de Mocinha", explica. Ela mora em Delmiro, Alagoas, é bem casada e mãe de duas moças e um rapaz. João passou uma noite inteira contando-lhe os detalhes da sua viagem. 

Depois ele atingiu as margens do Rio S. Francisco, tomou um barco e foi à Fazenda Angico. Ver o local onde mataram o mano. Manuel e Antonio Ferreira, os dois primos que o acompanhavam na viagem, alguns tripulantes do barco e gente da vizinhança, seguiram João até a grota famosa onde a volante do capitão Bezerra liquidou "Lampião" em 1938. João olhou em volta sem dizer uma palavra. Então tinha sido aquele o palco da cena final... 

Botou a mão na mesma pedra onde o pescoço de Virgulino recebeu o golpe do facão. Depois mandou cortar um galho de árvore, fazer uma cruz. E fixou a cruz entre pedras, no local onde jazera o corpo decapitado do irmão. 

— Enterraram o corpo? — perguntei ao guia. 
— Não a água levou.


Pescado no essencial Caiçara dos Rios dos Ventos

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MATERIAL DO JORNAL O CRUZEIRO, 06 DE JUNHO DE 1959

 Por José Mendes Pereira


Lamento não ter a fonte deste texto, porque, quando arquivei no meu desarrumado acervo, eu não tinha tanta intimidade com fonte, e nem tão pouco com informática, e ainda não sou tão sábio no que me refiro, mas deixa pra lá. Vamos ler o texto que tenho certeza, que ainda permanece em algum site de alguém. Se eu soubesse do título deste trabalho, seria fácil encontrá-lo. 

Vamos lá:

O CRUZEIRO, 06 DE JUNHO DE 1959

No Recife fomos encontrar um primo de Lampião, o Dr. Antônio Ferreira Magalhães, conceituado advogado criminalista e alto funcionário do I.A.I.P. no Estado de Pernambuco. É êle quem chefia e orienta a campanha que a família e os descendentes de Virgulino Ferreira da Silva estão fazendo no sentido de sepultar a cabeça do "Rei dos Cangaceiros" e de Maria Bonita, que se encontram, desde 1938, no Museu Etnográfico e Antropológico do Instituto Nina Rodrigues, em Salvador. 

O Dr. Antônio, ainda criança, conheceu pessoalmente Lampião e chegou mesmo a assistir a um dos combates travados contra uma “volante”, na vila de Nazaré. Lembra-se perfeitamente dele e diz: “- Lampião era uma figura máscula e fascinante. Tinha a personalidade e o magnetismo de um verdadeiro chefe. No contato pessoal, era um homem simples e amável, dedicado a todos da sua família. Ele se tornou um “fora-da-lei” por força das circunstâncias. O seu pai, que era um homem bom e pacato, sofreu perseguições sem conta, por questões políticas, e teve de mudar com tôda a família, várias vezes, abandonando as suas terras, o que, para um sertanejo, é o pior castigo. Por fim, tendo ido viver em outro Estado, Alagoas, nem mesmo assim pôde ficar em paz. Foi assassinado pela Polícia. A mãe de Lampião morrera poucos dias antes, também em conseqüência da perseguição que lhes era movida. Diante disso, Virgulino tornou-se Lampião. Não tinha para quem apelar, não tinha a quem pedir justiça. Resolveu fazer justiça pelas próprias mãos e não pôde mais parar. Ele foi um produto do meio e das condições sociais da época. Não era um tarado, um assassino nato, um lombrosiano. Uma vez morto, à traição, envenenado, pois não é verdade que tenha morrido em combate ou que tenha sido pegado desprevenido, tanto ele quanto Maria Bonita foram decapitados, como se sabe. As suas cabeças continuam, até hoje, expostas no Museu Nina Rodrigues. Agora, pergunto: por quê? Acaso todos os seres, mesmo os criminosos executados pelas autoridades, não têm direito à sepultura? Isto é um desrespeito a um ser humano, um escárnio para todos os seus parentes, um estigma para a sua filha, que hoje está casada e vive dignamente, e para os seus quatro netos. Que pensarão essas crianças, que tremendo choque emocional terão elas quando, mais crescidas, puderem tomar conhecimento da tragédia dos seus avós e do humilhante espetáculo das suas cabeças expostas como troféus de tribos africanas? Pergunto mais: que interêsse podem ter essas cabeças mumificadas para a ciência? Se foram objetos de estudo, êsses estudos já devem ter sido feitos, pois já lá vão vinte e um anos. Quais os resultados dêsses estudos? Além do mais, que direito tem o Instituto Nina Rodrigues? No Código Penal Brasileiro, Parte Especial, título V. capítulo II, referente aos crimes contra o respeito aos mortos, há o art. 212 que diz: “Vilipêndio a Cadáver - Vilipendiar cadáveres ou suas cinzas. Pena: detenção de um a três anos e multa de 500 a 2.000 cruzeiros”.                                                    

Por ventura não é um vilipêndio o que ocorre com os restos de Lampião e de Maria Bonita? Assim, o Diretor do Instituto está sujeito às penas da lei se insistir em manter a exibição dos seus macabros troféus. Iremos até a Justiça para terminar, de uma vez por todas, com essa inominável barbaridade”.Do Recife, fomos a Aracaju, onde localizamos a filha de Lampião e Maria Bonita, agora com vinte e sete anos de idade, casada e mãe de quatro crianças. 

O seu marido é o Sr. Manuel Messias Neto, comerciário, hoje trabalhando por conta própria (é proprietário de um caminhão). Ambos vivem modestamente, uma vida digna e honesta. Expedita Ferreira Messias tinha apenas seis anos quando os seus pais foram mortos. Ela foi criada, desde um mês de idade, por Manuel Severo, um vaqueiro que trabalhava numa fazenda em Jaçobá, Sergipe, e em quem Lampião confiava inteiramente. Expedita ainda se lembra de seus pais, que sempre iam visitá-la. Naturalmente que é uma lembrança difusa, mas mesmo assim ela conservou a impressão da beleza da mãe e a sensação de timidez que sentia junto ao pai. Ambos a acarinhavam e lhe davam presentes. Aos oito anos, ela foi tirada da casa do vaqueiro por um oficial da Polícia baiana e levada para Salvador. Entretanto, João Ferreira, o único dos irmãos de Lampião que não entrou para o cangaço, que ainda vive e é um homem honesto e conceituado, conseguiu recuperar a sobrinha e terminar de criá-la. Em 1951, Expedita, que então trabalhava numa casa comercial, casou-se no civil e no religioso com Manuel Messias. Agora o casal tem quatro filhos: Dejair, de seis anos, Vera Lúcia, de quatro, Gleuza, de dois, e Isa Cristina, com apenas um mês de idade. A filha de Lampião e o seu marido, como aliás todos os membros da família Ferreira, que são mais de trezentos e estão espalhados pelos vários Estados do Nordeste, não se envergonham nem procuram esconder os seus laços de sangue com o “Rei dos Cangaceiros”. Nem têm aliás por que fazê-lo: se, para muitos, Lampião foi um bandido sanguinário, para muitos outros foi um herói e continua a ser uma fascinante e lendária figura. Para outros tantos, foi o que foi na realidade: um sertanejo rijo que as injustiças e as condições da época e do ambiente em que viviam forçaram a enveredar pelo cangaço. Expedita é uma senhora calada, calma, que apresenta traços fisionômicos do seu famoso pai. Cria os seus filhos com carinho, vive feliz com o seu marido e naturalmente confia que as cabeças dos seus genitores sejam restituídas à família e dadas à sepultura. Tanto ela quanto Manuel Messias dizem que não compreendem como numa terra cristã como a nossa lhes neguem esse desejo. O que passou, passou. Não lhes move ódio contra ninguém. Apenas desejam viver em paz. E confiam que as autoridades e a Justiça lhes permitam enterrar os despojos daqueles que, se erraram, nem por isso devem deixar de ter o direito de descansar e ser perdoados.                                                                                    

Mas não é só a família de Lampião que está empenhada na recuperação dos despojos. Em 1953, a Assembléia Legislativa de Pernambuco fez um apelo ao Ministro da Justiça, sem resultado. Agora, endereçou outra ao Governador Juraci Magalhães. No Recife, o “Diário de Pernambuco” está fazendo uma campanha. Em Salvador, os vereadores estão divididos na questão, e requereram a presença do Diretor do Instituto Nina Rodrigues, para esclarecimentos. Também a Rádio Cultura da Bahia está apoiando a devolução das cabeças. Na própria Bahia, a opinião pública, em geral, é mais inclinada à entrega dos despojos.

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