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sábado, 13 de janeiro de 2018

JOVEM SERTANEJO NATURAL DO LASTRO LANÇA LIVRO CONTANDO AS HISTÓRIAS DOS CANGACEIROS DO SERTÃO DO ESTADO

Por Campelo - Diário do Sertão em Sousa

O livro intitulado "Nas Redes das Memórias: As Múltiplas Faces do Cangaceiro Chico Pereira", conta histórias e memórias do cangaço "Nas Redes das Memórias: As Múltiplas Faces do Cangaceiro Chico Pereira".

O historiador sertanejo Guerhansberger Tayllow Augusto Sarmento, natural da cidade do Lastro, no Sertão do estado, está lançando o livro “Nas Redes das Memórias: As Múltiplas Faces do Cangaceiro Chico Pereira”.

O livro pretendeu problematizar as múltiplas narrativas memorialísticas que foram construídas em torno do cangaceiro paraibano Chico Pereira, onde o jovem autor trás novas reflexões sobre o cangaceirismo e as histórias dos cangaceiros que viviam no Sertão da Paraíba.

O jovem é Mestrando em História pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Formação de Professores. Pesquisa sobre as relações entre História e Memória e História e Espaço, com ênfase nas narrativas culturais sobre o Nordeste, sobretudo do Cangaço.

O lançamento será no dia 18 de janeiro, pela manhã na biblioteca municipal em Nazarezinho e a tarde na Câmara Municipal de Lastro.

DIÁRIO DO SERTÃO

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O MILÉSIMO ARTIGO

Por Geraldo Maia do Nascimento

Portanto, escreve sobre tudo o que tens visto, tanto os eventos que se refere ao presente como aqueles que sucederão depois desses. Apocalipse 1:19 Hoje peço licença aos meus leitores para contar uma história diferente: a trajetória dos mil artigos publicados sobre Mossoró e região, sendo a maior parte deles na coluna do jornal “O Mossoroense”. Não nasci em Mossoró, mas tenho por essa terra um respeito e um carinho muito grande. Quando aqui cheguei, há quase vinte anos, desejoso de conhecer a cidade onde ia morar, comecei a pesquisar sua história, a verdadeira alma da cidade. O que encontrei me fascinou. E seguindo a sentença bíblica, passei a escrever sobre todos e sobre tudo o que diz respeito a Mossoró. Venho descrevendo-a em prosas e versos.  Devo alertar, no entanto, que na verdade sou apenas um apaixonado pela História de Mossoró, sendo esse o motivo das minhas pesquisas. Não tenho qualificação nem títulos que credenciem as minhas observações, mas o que registro são baseados em fontes documentais. Não seria leviano para agir de outra forma. Nesses anos de pesquisas, tenho encontrado algumas incorreções na história local e embora sabendo que isso incomoda algumas pessoas, tenho tentado resgatar a verdade, mesmo que esta não seja tão bonita quanto à fantasia dada como oficial, mas claro, sempre baseado em vasta documentação. Na busca de conhecer a história da cidade, fui lendo sua biografia oficial e fazendo anotações em cadernos; os hiatos que ia encontrando, me levavam a outras fontes e de fonte em fonte fui me abastecendo de um conhecimento que muito me ajudou na minha sede de conhecimento. Procurei conhecer os monumentos da cidade, saber quem eram aquelas pessoas que estavam representadas em praça pública e quais teriam sido seus feitos? Os velhos casarões da cidade que ainda estavam preservados, quem foram os seus moradores e o que fizeram por Mossoró? E assim fui enchendo cadernos e mais cadernos de anotações, que me serviram, e que ainda me servem, de base para escrever artigos sobre a Cidade de Mossoró. Existia, na época, um caderno de cultura que era publicado todo domingo e encartado no jornal “O Mossoroense”, que se chamava “Caderno 2”. Criei coragem e enviei, via e-mail, a minha primeira colaboração para “O Mossoroense”, sem conhecer ninguém por lá, sem nem ao menos saber se eles aceitavam esse tipo de colaboração. Mas qual não foi a minha alegria quando abril o jornal do domingo e vi o meu texto lá publicado. Guardo o recorte do jornal até hoje com o maior carinho. A data? 09 de maio de 1999. Esse recorte me deu ânimo para mandar outras colaborações, sempre sobre a história de Mossoró, que continuaram sendo publicadas semanalmente. Um dia o editor me convidou para assumir uma coluna fixa no jornal, toda quinta-feira, com o título de “Nossa História”. E escrever passou a ser para mim um sacerdócio, uma missão honrosa. E por vários anos alimentei semanalmente esta coluna, falando da história de Mossoró, das lutas de seu povo, de suas personalidades, corrigindo algumas inverdades e revelando outras histórias pouco conhecidas, graças a contribuição de leitores que me paravam nas ruas para socializar seus conhecimentos de histórias pouco publicadas. Com o passar do tempo, o jornal foi se modernizando e outro caderno cultural passou a ser encartado aos domingos, que era o “Caderno Universo”. E minha coluna semanal voltou a ser editada aos domingos, nesse novo Caderno. Durante todo esse período, colaborei com outros jornais e revistas locais, principalmente em datas históricas da cidade e graças a essas colaborações, conheci outros pesquisadores como Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, Raimundo Soares de Brito, João Batista Cascudo Rodrigues, Wilson Bezerra de Moura, Filemon Pimenta e muitos outros que já vinham, a muito, com essa mesma missão de contar a história de nossa cidade. Vingt-un, Raibrito e João Batista não estão mais entre nós. Eles que foram os guardiões da história, transformaram-se em história. Coube a nós outros, continuar na batalha. Graças também à essa coluna, fui incentivado por Vingt-un Rosado a transformar parte desse material em livros, e assim nascia: “Fatos e Vultos de Mossoró – Acontecimentos e Personalidades”, Mossoró na Trilha da História”, “Jararaca – Prisão e morte de um cangaceiro”, “Amantes Guerreiras – A presença da mulher no cangaço” e outros. As colunas semanais e os livros me abriram portas, de modo que hoje pertenço a maioria das entidades culturais de Mossoró e até da capital, como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e a Comissão Norte-rio-grandense de Folclore. Mais uma mudança no jornal “O Mossoroense”, transformaram-no em meio digital. E minha coluna continua a sair semanalmente, com melhor apresentação, já que o processo digital permite o uso de maior espaço e de ilustrações, inclusive coloridas, o que torna a leitura mais compreensível. E de semana em semana lá se vão dezenove anos e hoje eu chego ao milésimo artigo publicado nos jornais e revistas locais, sendo a grande maioria nas páginas de “O Mossoroense”. Agradeço aos nossos leitores pelas sugestões que me são enviadas, pelo incentivo da leitura semanal, pelos convites para palestras e entrevistas sobre os mais diversos temas da nossa história. Hoje, aposentado, escrever se tornou para mim uma terapia ocupacional. E, seguindo a recomendação bíblica, vou continuar escrevendo, deixando o registro para a posterioridade.  

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CASA QUE PERTENCEU AO COITEIRO ANTÔNIO DE CHIQUINHO. (POVOADO ALAGADIÇO)

Por Geraldo Júnior


Aspectos da casa que pertenceu a Antônio de Chiquinho localizada no povoado Alagadiço no município de Frei Paulo no estado de Sergipe.

Nessa casa aconteceram inúmeros encontros entre o anfitrião e cangaceiros. Palco de incontáveis festas com a presença, principalmente, do célebre cangaceiro Zé Baiano e seus Cabras. Inclusive o próprio Lampião se utilizou dos serviços de Antônio de Chiquinho, tendo sido a princípio como guia e posteriormente como coiteiro e dos "finos" diga-se de passagem.

Porém quem mais se serviu dos “serviços” de Antônio de Chiquinho foi Zé Baiano, por estar o povoado Alagadiço localizado em sua área de atuação.

A relação de amizade e negócios entre Antônio de Chiquinho e Zé Baiano teve seu fim no dia 07 de junho de 1936, quando o coiteiro acompanhado de outros civis, todos residentes da região, resolveram dar cabo de Zé Baiano e seus comparsas. (Geraldo Antônio de Souza Júnior)

Abaixo uma transcrição do livro LAMPIÃO - A RAPOSA DAS CAATINGAS de José Bezerra Lima Irmão que conta a história do assassinato de Zé Baiano e seus comandados.

Antônio de Chiquinho tinha um pequeno comércio e era marchante. Havia sido preso pela terceira vez em abril de 1936. Ao ser solto, ele voltou a Alagadiço disposto a matar Zé Baiano, de acordo com o plano traçado por Antônio Conrado.

O mais difícil era a escolha de outras pessoas para ajudá-lo, pois Zé Baiano nunca andava sozinho. Antônio precisava procurar uns quatro ou cinco amigos da maior confiança, e estes teriam de ser cabras dispostos, que não fossem se acovardar na hora da verdade. Primeiro pensou em Pedro de Nica, um sujeito valentão, temido naquelas paragens – ninguém sabe como já não tinha se tornado cangaceiro. Pensou também em Pedro Guedes, um rapagão enorme, de 24 anos.

A seleção foi mais fácil do que Antônio esperava. Pedro de Nica e Pedro Guedes disseram que topavam. Os outros escolhidos eram empregados de Antônio de Chiquinho: Toinho (Antônio de Júlia) e Dedé de Lola, que trabalhavam em sua fazenda, e Birindim, seu ajudante de marchante.

Escolhidos os companheiros, passou-se a aguardar uma oportunidade propícia.

* * *

Zé Baiano tinha uma grande e respeitosa estima pela professora Prazeres, que lecionava na fazenda Altamira, de Antônio de Inês. Ele costumava acoitar nessa fazenda. No início de junho, Antônio de Chiquinho soube que a Festa de São João na Altamira ia ser um sucesso. Na zona do Guedes e das Pias só se falava então no baile da professora. Com certeza Zé Baiano estaria lá. Antônio de Chiquinho pensou em surpreender Zé Baiano durante a festa. O problema é que nessas festas costumavam aparecer também os grupos de cangaceiros chefiados por Zé Sereno e Canário. Não ia dar certo. A coisa teria de ser feita ou antes ou depois.

Foi quando, no dia 3 de junho de 1936, quarta-feira, Antônio recebeu um recado de Zé Baiano dizendo que estava precisando de mantimentos, os de costume – jabá, feijão, farinha, café, sal, açúcar, fumo, rapadura, querosene...

Antônio de Chiquinho decidiu que era chegada a hora. Mas precisava saber quantos cangaceiros estavam com Zé Baiano. Para verificar isso, enviou Dedé, numa missão aparentemente inocente: Dedé iria dizer ao cangaceiro que Antônio de Chiquinho estava custando a levar a encomenda porque vinha sendo vigiado pela polícia, mas no domingo à tarde, depois da feira, a encomenda seria entregue, sem falta.

Dedé encontrou Zé Baiano na fazenda Preá. Deu o recado. Notou que ele estava com apenas dois cangaceiros, Demudado e Chico Peste.

Ao saber que Zé Baiano estava somente com dois cabras, Antônio de Chiquinho animou-se. Ia ser fácil.

* * *

No domingo, 7 de junho de 1936, Zé Baiano, acompanhado de Demudado, Chico Peste e um cangaceiro novato chamado Acilino, passou de manhã pela fazenda Altamira para saber como iam os preparativos para a festa. A professora Prazeres o recebeu com alegria, disse que ele não poderia faltar e mandasse chamar também os primos de Poço Redondo. Zé Baiano disse que viria, com certeza, e ia mandar chamar Zé Sereno e Manoel Moreno. Zé Baiano tinha encomendado presentes para algumas moças. Só pelo feitio de um vestido tinha pagado 30 mil-réis. Despediu-se da professora e foi para a fazenda Baixio, do amigo Antônio de Chiquinho.

Antônio de Chiquinho não se encontrava na fazenda porque, sendo domingo, dia de feira no povoado, ele estava ocupado, pois era marchante. Porém, ao dar meio-dia, Zé Baiano começou a ficar desconfiado da demora do coiteiro, pois a feira de Alagadiço terminava antes do meio-dia, Antônio de Chiquinho só matava um carneiro e um porco, e portanto já devia estar na fazenda. Zé Baiano deixou um recado para que Antônio de Chiquinho fosse encontrá-lo na fazenda Lagoa Nova – a Lagoa Nova pertencia justamente a Pedro de Nica, um dos homens que Antônio de Chiquinho tinha convidado para a melindrosa empreitada.

Antônio de Chiquinho e os companheiros chegaram ao Baixio logo depois com as encomendas. Ao tomarem conhecimento de que os cangaceiros tinham ido para a Lagoa Nova, rumaram para lá. Conheciam o esconderijo, que ficava não muito longe da estrada, a meia légua do Baixio.

Antônio ia um pouco apreensivo. Desde que fora preso, nunca mais tinha se encontrado com Zé Baiano.

Além dos mantimentos, os coiteiros levavam também uma pá e uma picareta. Perto da Lagoa Nova, esconderam as ferramentas no mato. Apenas Antônio de Chiquinho ia armado – portava um parabelo. Dedé levava um facão metido na bainha, preso na cintura.

Deixaram a estrada e seguiram por uma vereda do gado. Logo adiante, avistaram os cangaceiros, sentados no chão, debaixo de umas baraúnas. Zé Baiano e seu cangaceiro de confiança, Demudado, vieram ao encontro dos coiteiros. Zé Baiano estava aborrecido com a demora. Antônio justificou-se explicando que seus passos estavam sendo vigiados, tinha sido preso...

– Não, Antonho, você nun tem discupa, andou munto má!

Demudado emendou:

– Cuma é qui você fais nóis isperá nun sei quantos dia? Tá pensano o quê? E pere aí: pur qui é qui aquele cabra tá cum um facão?

Dito isto, Demudado tomou o facão de Dedé e deu-lhe uns safanões, segurando-o pela abertura da camisa, chegando a rasgar a jabiraca que o coiteiro usava no pescoço. Zé Baiano também queria saber para que Dedé queria o facão.

Dedé explicou que era carreiro e precisava tirar uns paus a fim de fazer uns canzis e fueiros para o carro de bois. A resposta não convenceu Demudado, que objetou:

– Mais qui mintira é essa, cabra? Hoje é dumingo... Ninguém trabaia no dumingo! Nun é pecado?

– Cortá ũas varinha nun é trabaio... – justificou-se Dedé.

Antônio de Chiquinho contemporizou:

– Voceis tão fazeno ũa tempestade num copo d’água. Pra qui diabo serve um facão? Acho qui Demudado nun pricisava dismoralizá o meu carrero...

– Nóis nun gosta de vê coitero armado! – disse Zé Baiano.

– Apois eu tou armado – avisou Antônio de Chiquinho. – Tou cum meu parabelo.

– Ora, Antonho, você é meu amigo! Você pode! Agora, me diga ũa coisa: qui diabo tá haveno hoje, Antonho? Pur que você veio cum tantos home?

– Oxente! E cuma era qui eu pudia trazê essas coisa toda sozim? Eu nun sou jegue não... Eles viero pra me ajudá...

– Hum! Já vi você sozim carregá munto mais coisas, Antonho!

– É qui eu tou ficano véio... – brincou Antônio de Chiquinho.

Todos riram. Zé Baiano conformou-se. Estava entre amigos. Conhecia Pedro Guedes, Toinho e Birindim. Só nunca tinha visto Pedro de Nica. Perguntou quem era. Antônio de Chiquinho respondeu que Pedro de Nica era justamente o dono daquele lugar onde eles estavam, e era gente de confiança, tinha vindo para ajudar. Zé Baiano comentou:

– É... cabra forte... dava um bom cangacero...

Antônio de Chiquinho aproveitou a oportunidade e observou, meio desinteressadamente:

– Tou notano qui você tá cum um cabra novo. Eu só cunheço Demudado e Chico Peste. Quem é o outo?

Zé Baiano respondeu que o novato se chamava Acilino. Era da fazenda Pulgas, ao lado das Cotias, na zona do Gameleiro. Tinha ingressado no bando no dia anterior. Parente de Chico Peste, nascido e criado no Bandeira.

Passados aqueles momentos de tensão, todos relaxaram. Antônio de Chiquinho mandou que os companheiros acendessem o fogo, pois ele tinha trazido uma buchada de carneiro já pronta, bastava esquentar. Tinha trazido também três litros de conhaque.

O plano era este: embriagar os cangaceiros para facilitar o ataque; Antônio de Chiquinho seguraria Zé Baiano, Toinho e Birindim pegariam Demudado, e Dedé de Lola ficaria com Chico Peste; bastava agarrá-los, para que Pedro Guedes e Pedro de Nica, que ficavam sobrando, pudessem matá-los. O problema é que encontraram um cangaceiro a mais. Enquanto acendiam o fogo, numa trempe de pedras, Antônio de Chiquinho falou baixo para os companheiros:

– Tem nada não. Pedo Guede ajuda Toinho, e Birindim fica cum o discunhicido. Pedo de Nica mata tudo sozim.

Alegando que estava fazendo muito calor, Antônio de Chiquinho tirou a jabiraca do pescoço e depois a camisa. Lutar sem camisa era mais fácil. Tirou também o parabelo e colocou-o ao pé de uma árvore. Como haviam combinado, os companheiros também se queixaram do calor e tiraram suas camisas.

Antônio de Chiquinho abriu um litro de conhaque e foi o primeiro a tomar um trago, para mostrar que a bebida não tinha veneno. A garrafa foi passando de mão em mão, cada um despejando a bebida na boca diretamente do gargalo, pois não havia copos ou canecos.

Só Zé Baiano não bebeu:

– Quero não. Bibida é coisa de gente rũim...

Quando a buchada começou a ferver, Antônio de Chiquinho tirou a panela do fogo, preparou o pirão e fez um molho com bastante pimenta. Cada homem encheu o seu prato. Sentaram-se nas sombras das árvores e foram comer. A essa altura, já estavam no segundo ou terceiro litro de conhaque. A bebida aumentava o apetite. Comiam com ganância, mastigando forte, como bichos. E haja conhaque.

O fato de Zé Baiano se manter sóbrio não era problema para Antônio de Chiquinho, porque, apesar de Zé Baiano ser um homem grandalhão e corpulento, não tinha força no braço direito, em virtude de um ferimento recebido tempos atrás.

Quando terminaram de comer, alguns se deitaram no chão para dormir. Outros continuaram sentados, proseando, contando lambanças, como era de costume. Zé Baiano mostrou a Antônio de Chiquinho um lindo punhal com incrustações de ouro,sendo o cabo e a bainha de prata, uma verdadeira obra de arte, presente de Lampião.

Conversa vai, conversa vem, Antônio de Chiquinho começou a cantar uma musiquinha que estava na moda, cuja letra tinha um trecho mais ou menos assim: “Ajoelha, Marica! / Mulher comprida / De cabeça seca. / Já soube / que estou nos braços de Marinete?”. Tinha sido combinado que esta seria a senha para o ataque. Antônio de Chiquinho pôs-se de pé e continuou cantando a musiquinha meio desafinado. Chico Peste, completamente bêbado, esparramou-se debaixo de um pé de esporão-de-galo e fechou os olhos. Os coiteiros aguardavam impacientes o momento em que seriam cantados os versos da senha combinada. No ponto certo, Antônio de Chiquinho caprichou na letra:

– Ajueia, Marica, muié cumprida, de cabeça seca, já soube qui tou nos braço de Marinete?

E aí o mundo fechou. Antônio de Chiquinho e Pedro de Nica voaram em cima de Zé Baiano, ao tempo em que Pedro Guedes e Toinho se atracavam com Demudado, enquanto Birindim se engalfinhava com Acilino, e Dedé pegava Chico Peste.

Parecia uma briga de touros. Tendo ajudado Pedro Guedes a dominar Demudado, Toinho deu uma cacetada em Chico Peste, que conseguira desvencilhar-se de Dedé. Dedé correu para pegar o facão, e Chico Peste precipitou-se atrás dele, com o punhal na mão. Toinho gritou:

– Coidado, Dedé!

Dedé voltou-se, brandiu o facão, golpeando o cangaceiro no pescoço. Chico Peste caiu, e Dedé deu-lhe mais três facãozadas, acabando de matá-lo. Correu em seguida para socorrer Birindim, que estava atracado no chão com Acilino, e enfiou o punhal no cabra, à altura do tórax.

Toinho e Pedro Guedes estavam tendo dificuldades com Demudado. Pedro de Nica deixou Zé Baiano com Antônio de Chiquinho e foi socorrer os companheiros. Toinho aplicou quatro punhaladas em Demudado. Pedro Guedes deu um empurrão, e Demudado caiu, se estrebuchando, arrastando-se, tentando alcançar o fuzil. Pedro de Nica acabou de matá-lo, enfiando-lhe o punhal bem na veia do pescoço.

Antônio de Chiquinho havia dominado por completo Zé Baiano, já que o cabra só tinha força no braço esquerdo, pois o direito só servia para manejar o fuzil, era meio dormente. O cangaceiro esbatia-se no chão, esperneava-se, urrando como uma fera no laço, com Antônio de Chiquinho montado sobre ele, ajudado agora pelos companheiros. A camisa de Zé Baiano estava toda rasgada. A luta tinha sido terrível, e o cangaceiro, cansado, aflito, molhado de suor, aos berros, subjugado pelos coiteiros, implorava que o soltassem, prometendo que nada de mal faria a eles, lhes daria o tudo o que tinha.

– Cadê o seu dinhero?! – perguntou Antônio de Chiquinho.

– Tá tudo nos meus bolso. Tem uns seis conto e pouco.

– Só? E o resto? Onde tá o resto?!

– Nun tenho mais aqui purque meus dinhero tão imprestado.

– Deixem ele ficá im pé – disse Antônio de Chiquinho aos companheiros. – Vamo fazê um trato, Zé Baiano. Se você diché os nome de todo mundo pra quem você imprestou dinhero e quanto imprestou a cada um nóis lhe sorta.

– Eu imprestei esta sumana vinte conto a Ioiozinho Capitinga e mais vinte a outos fazendero.

– Diga os nome – ordenou Antônio de Chiquinho –. Eu quero qui você diga o nome de um pur um, e quanto foi qui imprestou.

O cangaceiro passou a citar nomes e valores. Era muita gente. Uma fortuna.

Antônio de Chiquinho fez uma proposta aos companheiros:

– Vamo prendê ele num quarto bem fechado qui eu tenho na mĩa casa, nóis fais ele ficá sem roupa e obriga ele a iscrevê ũas carta pros fazendero, e daqui uns vinte ou trinta dia nóis mata ele...

Pedro de Nica deu sinal de que concordava com a proposta. Zé Baiano viu ali uma forma de ganhar tempo. Prometeu:

– Amanhã vou recebê setenta conto e dou tudo a voceis. Me sortem!... Me sortem!... Pelo amô de Nossa Sinhora, me sortem!...

Então Pedro Guedes se postou na frente do cabra e disse:

– Ô seu peste, cê tá lembrado da morte de Moisés, fio de Cazuza Paulo? Cê teve pena dele, quando sangrou o rapais sem nĩhum mutivo?

– Eu tenho munto dinhero! Dou tudo a voceis! Vou dexá voceis rico! Eu prometo qui vou simbora daqui pra bem longe, dexo o cangaço! Antonho, pelo amô de Nossa Sinhora, me sarve! Se alembre de nossa amizade! Quano foi qui eu lhe fartei cum a palava? Pelo amô de Deus, Antonho, nun me mate!...

Antônio de Chiquinho era um homem bom. Seu coração amoleceu ante os rogos do amigo. Estava propenso a soltá-lo. Ponderou:

– Nóis pudia dexá esse cabra ir simbora...

– Nada disso! – gritou Pedro Guedes.

E, antes que Antônio de Chiquinho tomasse qualquer atitude maluca, Pedro Guedes aplicou uma punhalada no cangaceiro, e Birindim, outra, ambas na clavícula. Zé Baiano, ao cair, gemeu, dizendo:

– Matou-me agora...

O cangaceiro tentou levantar-se, mas Pedro de Nica e Dedé o seguraram pelas pernas e o atiraram de novo ao chão, enquanto Birindim lhe aplicava várias punhaladas no peito. Em seus estertores, ofegando, de olhos esbugalhados, Zé Baiano murmurou:

– Se acabou-se o home de Segipe...

Foram estas suas últimas palavras, pois logo em seguida recebeu mais duas punhaladas de Birindim. Pedro Guedes pegou o facão de Dedé e cortou o pescoço do cangaceiro.

A luta durara cerca de 5 minutos. Em toda parte, a terra estava revolvida, o mato estava amassado, e sentia-se um cheiro de sangue insuportável.

Eram 4 horas da tarde do dia 7 de junho de 1936.

* * *

Os matadores diziam que em dinheiro só encontraram nos bolsos de Zé Baiano pouco mais de seis contos, informação esta pouco confiável. Além do dinheiro, eles recolheram 3 rifles, vários punhais, sendo um com cabo e bainha de prata, um parabelo e outras pistolas e revólveres, muita munição e diversos artefatos de ouro. Porém isto é o que foi declarado oficialmente.

Falta muita coisa nessa relação. A bandoleira do fuzil de Zé Baiano era toda enfeitada de moedas de ouro. Seu chapéu tinha 65 medalhas de ouro na testeira e duas alianças na barbela. Isso tudo sumiu. Na relação dos bens apresentados às autoridades não constam os bornais dos cangaceiros. Ora, era nos bornais que os cangaceiros carregavam seus pertences de valor, especialmente dinheiro. Cada cangaceiro costumava portar quatro bornais. Falou-se que em vez dos 6 contos e quebrados que foram declarados, somente de Zé Baiano os matadores se apossaram de mais de 25 contos de réis.

Os quatro corpos foram enterrados num formigueiro, onde a terra era fácil de ser cavada.

Terminado tudo, sujos de barro e sangue, os coiteiros limparam-se com o que sobrou do conhaque. A caminho do povoado, passaram por um tanque e se lavaram bem. Só à noite voltaram para casa. Os objetos dos cangaceiros foram guardados na casa da mãe de Birindim.

Combinaram guardar segredo, porque temiam o que poderia vir a acontecer quando Lampião soubesse do fato. Não só Lampião, mas também, e principalmente, Zé Sereno e Manoel Moreno, primos de Zé Baiano.

Sigilo suspeito

Zé Sereno, Diferente, Canário e Delicado tinham sido convidados por Zé Baiano para o São João da professora na fazenda Altamira, mas, como de costume, ficaram aguardando a confirmação, pois cangaceiro não fazia plano para o futuro, tudo era decidido na hora. Chegou o dia da festa, e nada de receberem o recado tão esperado. Desconfiados, não foram. Passaram o São João nas Capoeiras de Julião, em Poço Redondo.

A Festa de São João foi uma maravilha nas fazendas Altamira e São Mateus. Os sanfoneiros tocaram até o dia amanhecer, enquanto o foguetório rasgava o céu do sertão.

Em Alagadiço, Antônio de Chiquinho e os cinco companheiros resolveram comemorar a façanha, mas sem dizer a ninguém o que estavam comemorando. Fizeram uma fogueira na frente da igreja, para espantar o frio, e começaram a soltar foguetes, bebendo cachaça e assando milho verde nas labaredas. Logo começou a juntar gente. Vieram os tocadores de gaitas e zabumba. Moças e rapazes começaram a dançar. De repente, o furdunço improvisado se transformou na Festa de São João mais animada que já houve no povoado. Ninguém dormiu em Alagadiço naquela noite. Até os velhos saíram de suas casas para ver o que estava acontecendo.

Todo mundo sabia que Antônio de Chiquinho e os amigos gostavam de farra, mas daquela vez eles saíram das medidas. Só a mãe de Birindim era sabedora do motivo daquela comemoração. A velha terminou contando o fato a uma filha, mas pediu segredo. A filha, por sua vez, contou ao marido, Jovino Pereira, e, claro, também pediu segredo. Depois de beber umas quatro cachaças, Jovino Pereira ficou soltando fogo pelas ventas. Lá pelas tantas, um sujeito da fazenda São Mateus comentou:

– É, a festa tá boa mais eu vou pra casa, purque Zé Baiano pode chegá aqui a quarqué hora e bota nóis pra dançá nu...

Jovino, bêbado, soltou a língua:

– Mais cuma, home, se Zé Baiano tá morto e interrado? Tem mais de quinze dia qui Antonho de Chiquim matou ele...

– Antonho de Chiquim matou quem?! – perguntou Laurindo Gomes, dono da fazenda Cachoeira, que estava de orelha em pé, desconfiando daquela comemoração.

Jovino repetiu, e foi além:

– Zé Baiano tá morto e interrado na fazenda Lagoa Nova. Foi matado pur Antonho de Chiquim, Pedo Guede, Pedo de Nica, Toinho, Dedé e Birindim!...

Pronto, acabou-se a festa.

Em plena noite, dois fazendeiros, Chiquinho das Aroeiras e Antônio Campinas, foram com uns candeeiros ao local indicado e lá constataram: tinha uma coisa enterrada num formigueiro.

O fato foi comunicado ao delegado de São Paulo, Germino Góis. O sargento Epaminondas telegrafou para a capital e foi dar uma olhada no local da chacina.

Exumação e reconhecimento dos corpos

Em Aracaju, os homens do governo puseram as mãos na cabeça: quando Lampião soubesse ia arrasar Sergipe. Como havia dúvida quanto à veracidade da morte de ZéBaiano, mandaram exumar os corpos.

O próprio chefe de polícia do Estado, Osvaldo Nunes dos Santos, que era major do Exército, deslocou-se no dia 26 de junho até Alagadiço, levando o médico legista Dr. Carlos Meneses, peritos, jornalistas, fotógrafo e uma formidável escolta da Polícia Militar.

A essa comitiva juntaram-se muitos moradores de São Paulo. Em pleno inverno, muita chuva, a estrada era um atoleiro só. De Alagadiço para a Lagoa Nova todo mundo foi a pé. O local da luta ficou apinhado de curiosos. Todo mundo queria ver o desenterramento dos cangaceiros. Tinha gente até de Itabaiana.

A exumação dos corpos foi feita no dia 26 de junho de 1936 – 19 dias depois das mortes.

A cova era rasa, e logo a picareta trouxe a descoberto uma cabeça. Os corpos estavam amontoados uns sobre os outros. O coveiro levantou a cabeça pelos cabelos. Antônio de Chiquinho informou:

– Essa cabeça é de Zé Baiano. Os outo nóis nun cortou as cabeça não.

Quando retiraram o primeiro corpo, que não estava degolado, Antônio de Chiquinho disse:

– Esse aí é Acilino. Zé Baiano vai sê o úrtimo, tá pur baxo de todos.

O segundo corpo era o de Chico Peste. Depois, o de Demudado. E de fato Zé Baiano estava embaixo de todos. O médico mandou que tirassem as roupas de mescla azul dos cadáveres e jogassem água para remover a lama dos corpos. As roupas tiveram de ser cortadas de facão, pois os corpos tinham inchado. O ar era quase irrespirável, apesar da água-de-colônia e outros perfumes e desinfetantes que as pessoas usavam a fim de assistir aos trabalhos.

Para ajudar na identificação dos corpos, haviam mandado chamar várias pessoas que conheciam os cangaceiros. Trouxeram inclusive Marcionílio Soares, de Carira, que apesar de ser o subdelegado daquele povoado era um notório coiteiro de Lampião. Os corpos estavam tumefatos, nem pareciam gente. Porém Marcionílio foi preciso:

– A cabeça de Zé Baiano é esta aqui. Ói a faia no dente. O corpo dele é o grandão. Cortaro a cabeça dele. E esse aqui eu acho qui é de Demudado. Os outo eu nun cunheço.

O médico legista começou a fazer as devidas anotações em sua prancheta: faltava na boca de Zé Baiano o incisivo mediano direito superior; seu corpo...

Marcionílio afastou-se, engulhando. Nem o diabo aguentava o fedor.

O corpos foram fotografados de um a um pelo fotógrafo Artur Alves Costa. Foi batida uma chapa da cabeça de Zé Baiano, e outra de seu corpo estendido no chão com a cabeça equilibrada sobre ele. Por fim, o médico ordenou o batimento de uma chapa dos corpos em conjunto.

Terminada a perícia, os corpos foram recompostos e inumados no mesmo local.

A volante de Antônio de Chiquinho

Os homens que mataram Zé Baiano foram levados para Aracaju a fim de prestar depoimentos e contar à imprensa o incrível feito. Lá, ficaram 8 dias na residência do comerciante Antônio Conrado. O governador do Estado, Eronides de Carvalho, que era amigo de Lampião, fez um arremedo de comemoração pela vitória dos valentes homens de Alagadiço e mandou dar-lhes um prêmio de 9 contos de réis – recompensa pífia, já que teria de ser dividida por seis.

Depois disso, Antônio de Chiquinho e os companheiros foram chamados mais duas vezes à capital. Temendo-se que quando Lampião soubesse do fato destruísse Alagadiço, foi constituída uma volante com 15 rapazes do próprio povoado, tendo como comandante Antônio de Chiquinho. Cada componente da volante ganhava 118 mil-réis por mês. Antônio de Chiquinho fez furos nas paredes de sua casa, para olhar o que se passava na rua sem precisar abrir porta ou janela, e pelos quais podia atirar. Ele chamava sua casa de “fortaleza”. Mandou cavar trincheiras nos caminhos de acesso a Alagadiço, onde os rapazes da volante e os próprios moradores se revezavam, dia e noite, para resistir a um eventual ataque. O povoado vivia em clima de guerra.

A existência dessa volante foi breve – no ano seguinte o governador mandou desarmar Antônio de Chiquinho e seus companheiros, acusados de desordens e bebedeiras, sem nenhum resultado prático. O jornal Correio de Aracaju considerou uma iniquidade a atitude do governo, e publicou uma carta de Antônio de Chiquinho em que ele rebatia os insultos à sua moral e refutava as acusações de que sua tropa andava embriagada, observando que havia poucos dias o coronel Liberato tinha louvado a conduta de sua volante.

A notícia chega ao coito do Craibeiro

Lampião passou a noite de São João de 1936 num coito no Riacho Craibeiro, abaixo de Poço Redondo. A festa emendou a noite com o dia, sem parar. Foi quando chegou um coiteiro de Alagadiço com uma carta, informando que tinham matado Zé Baiano e três cabras.

Ao ler a carta, Lampião mandou parar a festa. Chamou Zé Sereno e Manoel Moreno e deu-lhes a notícia.

Zé Sereno ouviu a história, baixou a cabeça e comentou:

– Eu tou triste nun é só pela perda do meu primo, mais tamém pela traição de um amigo. Nun posso cumprendê cumo um home de cunfiança cumo Antonho de Chiquinho pôde fazê ũa coisa dessa, matano um home qui era cumo se fosse irmão dele...

– Apois é... – concordou Lampião. – Os cangacero de verdade tão se acabano... E nun inziste mais amigo cumo antigamente. Só farta agora eu sê traído pelo coroné Antonho Caxero ou pur João Maria da Serra Nega...

Lampião mandou que Manoel Moreno, Zabelê e Diferente fossem apurar o que aconteceu. No dia 29 de junho, eles estiveram na cova de Zé Baiano.

Veneno, foice e fuga para Goiás

Segundo Felipe de Castro, Zé Baiano e seus companheiros teriam sido mortos com uma feijoada envenenada.

Estácio de Lima escreveu que os cangaceiros foram mortos dormindo, a golpes de foice e machado.

Há outra versão segundo a qual a história contada pelos coiteiros era tudo mentira, tendo Zé Baiano escapado vivo e fugido para Goiás, destino de todos os fugitivos àquele tempo, sendo morto em seu lugar um sósia dele. Os matadores teriam custado a comunicar o fato às autoridades justamente para que os corpos apodrecessem e não fosse possível a identificação. A exumação dos corpos foi feita 19 dias depois das mortes. Em lugar de Zé Baiano teriam matado um sujeito de quase igual porte e catadura, sósia dele.

O pesquisador Antonio Amaury Corrêa de Araújo, que se tornou amigo de Zé Sereno, Criança e outros ex-cangaceiros, tendo inclusive hospedado em sua casa em São Paulo por mais de cinco meses a legendária Dadá, viúva de Corisco, afirma que essa versão lhe “foi narrada por Dadá e particularmente aceita pelo primo da vítima, Zé Sereno e outros antigos companheiros”.

Amaury considera que, embora não haja provas, é possível que tal versão seja verdadeira, dadas certas coincidências e circunstâncias que cercam o caso. Os matadores eram coiteiros de Zé Baiano, o mais rico dos cangaceiros. O próprio Antônio de Chiquinho acenara-lhe com a possibilidade de escapar, rico e incógnito, das garras dos inimigos e das malhas da lei. Como para viajar Zé Baiano precisava de uma roupa decente, no início de maio Antônio de Chiquinho pediu a um alfaiate que fosse à sua casa a fim de tirar as medidas do cangaceiro para fazer um terno. A roupa ficou pronta em quinze dias. Havia nas vizinhanças um caboclo chamado Acilino que vivia só com a mãe viúva. Quem o conheceu dizia que esse rapaz tinha a mesma altura e a mesma cor de Zé Baiano. Na noite de 6 de julho, véspera da “morte” de Zé Baiano, o cangaceiro esteve na casa da viúva e levou Acilino consigo.

Dadá disse a Amaury que chegara a conhecer Acilino e confirmou sua semelhança física com Zé Baiano. E mais: Dadá revelou que quando soube dessa história esteve com a mãe de Acilino, que, chorando muito, lhe disse que Zé Baiano tinha levado o rapaz para morrer.

Zé Baiano e Antônio de Chiquinho haviam marcado uma fatada para o dia seguinte. Zé Baiano embriagou os próprios companheiros e ajudou a matá-los. Acilino foi vestido com as roupas de Zé Baiano. Tiraram ou quebraram um incisivo central superior para propiciar o “reconhecimento”. Foi morto também outro indivíduo, de identidade ignorada. Zé Baiano combinou com Antônio de Chiquinho para somente espalhar a notícia do fato muitos dias depois. Teria sido por isso que os corpos somente foram exumados 19 dias depois da chacina. Culminando a farsa, o reconhecimento de Zé Baiano foi feito pelos próprios coiteiros. E o mais curioso é que os corpos foram reconhecidos apesar de estarem em adiantado estado de putrefação... Zé Baiano teria vivido algum tempo na região de Poços de Caldas, Minas Gerais, e depois foi dono de um restaurante na capital paulista.

A ronqueira

Embora Lampião procurasse restabelecer o equilíbrio de antes, as coisas não iam bem. Sergipe já não era mais o refúgio que fora tempos atrás. Apesar de a polícia sergipana fazer corpo mole, as autoridades não tinham controle sobre as volantes dos outros Estados. As volantes de Zé Rufino e Odilon Flor revezavam-se em Carira, Alagadiço, Poço Redondo e Canindé.

No dia 2 de setembro de 1936, três meses depois da morte de Zé Baiano, Lampião esteve no local da chacina. Pretendia invadir o povoado, dizendo que não ia deixar ninguém vivo, mas foi informado de que o povoado estava cercado de trincheiras. Considerou que não valia a pena correr o risco de invadir Alagadiço só por vingança. Todo o bando de Zé Baiano havia sido morto. Vingança não traria de volta o amigo. Maria Bonita ainda não havia se recuperado inteiramente do ferimento sofrido em Pernambuco. Além do mais, parece que havia um canhão em Alagadiço. Da LagoaNova, escutava-se o estampido.

É que Antônio de Chiquinho tinha mandado fazer uma arma estranha, que ele disparava de vez em quando, fazendo um barulho assustador. O canhão de Alagadiço era na verdade uma ronqueira – apesar do estrondo ensurdecedor, era totalmente inofensiva.

Lampião rezou um terço junto à cova. Estava acompanhado de mais de 30 cangaceiros, entre homens e mulheres. O bando acampou no pé da Serra do Saco. No dia seguinte, tomou a estrada de Carira, porém adiante dobrou à esquerda, no rumo de Pinhão.

Na noite de 3 para 4 de setembro, em Paripiranga e arredores, houve saques e espancamentos.

Nas caatingas de Sítio do Quinto e Guloso havia muitos coiteiros, pois ali era o “feudo” do cangaceiro Ângelo Roque. Lugar bom para descansar uns dias.

Fonte: Livro LAMPIÃO - A RAPOSA DAS CAATINGAS.

https://cangacologia.blogspot.com.br/2018/01/aspectos-da-casa-que-pertenceu-antonio.html?spref=fb

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ARMAS FERRAMENTAS DO CANGAÇO

Material do acervo do pesquisador Renilson Soares 
https://www.youtube.com/watch?v=jnwLpz0AQBs


[Vídeo] com conteúdo apenas recreativo, ilustrativo, sem pretensão a apologias ou violência de qualquer natureza. Armas de fogo fazem parte da história da humanidade, e, são patrimônio histórico de uma nação livre.

“Evidente que o bando comandado pelo Capitão Virgulino se tornou ainda mais letal em suas ações a partir da obtenção dos fuzis Máuser em 1926”.

Boa parte daqueles que estudam, assim como os que gostam de ler algo a respeito do fenômeno Cangaço, ambos, tem curiosidades sobre as armas que foram utilizadas no decorrer daquele tortuoso período.

A primeira película é a “História das armas de fogo (Dos canhões à percussão por espoleta)" partes I e II. Seguido pela série de vídeos (três partes) editada por J Cunha Cunha, faz uma pequena amostra de armas de fogo de coleção. Filme feito em 1999 com vídeo VHS.

O que torna estes vídeos/documentários interessantes é que boa parte das armas (modelos), neles mostradas, fizeram parte de algum episódio bélico ocasionado pela guerra no “sertão do cangaço”. Um bom material para pesquisa.

[..] os primórdios do que viria a ser o cangaço (segunda metade oitocentista) as armas utilizadas, provavelmente, eram espingardas de ante-cargas com o sistema de pederneira e logo depois evoluído para sistema de percussão.

Posteriormente, a partir da introdução do cartucho metálico as armas passam a ser mais eficientes no campo de batalha. Sendo assim requisitadas com maior frequência a partir de então.

Fonte: 
1. youtube.com: História das armas de fogo (Dos canhões à percussão por espoleta. Partes I, II).
2. youtube.com (Coleção de Armas de Fogo Historia. Partes I, II, III).
3. [recorte do artigo] “Armas: as ferramentas do cangaço”.

https://www.facebook.com/groups/1617000688612436/

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ZÉ DE CAZUZA É UMA MEMÓRIA PRODIGIOSA A SERVIÇO DA POESIA DO SERTÃO DO PAJEÚ

O poeta Zé de Cazuza numa conversa com o compositor Lirinha.

Ele não demora muito a sair do Sítio São Francisco, na zona rural onde criou os filhos e mantém ainda suas roças de mandioca. No centro de São José do Egito, é tomado como parte natural da paisagem. Conversa com um, acena para outro, elogia a beleza de uma moça, entre um trago de cachaça ou um gole de cerveja, não dispensa uma prosa. “Nunca mais apareceu alguém que saiba me entrevistar direito”, ele diz, para a reportagem. “O melhor foi Cascudo”, continua ele, sobre o “folclorista” potiguar Luís da Câmara Cascudo, cuja obra seria um dos eixos de entendimento do que viria a ser reconhecido com a cultura popular do Nordeste. Cabeça meio achatada sob o chapéu de feltro, relógio no punho, sorriso virgulando cada palavra, Zé de Cazuza continua sua saga como o principal memorialista da geração clássica de poetas do Sertão do Pajeú. “Não tem mais cantador, não. Jovem, não mais. Todos eles hoje têm entre 40 e 50 anos de idade”, diz ele, verbete vivo.

José Nunes Filho nasceu em 12 de dezembro de 1929, numa fazenda de Monteiro, município de casario ainda secular, logo depois da fronteira com a Paraíba, ali perto, onde, recentemente, a chegada do rio virou espetáculo, cartão de visitas e um dos argumentos mais festejados para a transposição do Rio São Francisco. Aos seis anos, assistiu a sua primeira cantoria de viola. Na peleja, estavam Severino Lourenço Pinto e Antônio Marinho do Nascimento, o poeta que seria tomado como sogro por Louro do Pajeú. O fato lhe marcaria a memória. Não apenas pessoal. Mas a da própria cultura.

Se a poesia cantada do Pajeú não respirava academias, menos ainda se destinava ao papel. “Naquela época, em que também os meios de comunicação eram escassos, os poetas eram também cronistas e informadores dos fatos sociais do mundo. A poesia era feita e consumida na hora”, comenta o professor de filosofia e pesquisador Marcos Nunes da Costa. Sem Zé de Cazuza, muito do que foi declamado no calor do improviso jamais teria se tornado clássico com o tempo, se não fosse a atenção de Zé de Cazuza. Dono de uma memória prodigiosa, ele simplesmente decorava os grandes versos nascidos nas rodas de glosa e cantoria. “Só não entrava na cabeça dele verso ruim. O que era bom, ele gravava na hora”, comenta o escritor Antônio José de Lima, casado com

Marilena Marinho, filha de Louro do Pajeú, e autor do recém-lançado Legado Filosófico de Poetas e Repentistas Semianalfabetos (Ed. Bagaço). No livro, ele perfila e compila 157 poetas do Pajeú. Quase todos iletrados. “Todos com uma grande capacidade de entendimento poético do mundo”, comenta. O mais antigo deles, Bernardo Nogueira, nascido em 1832. “É como Mozart, o gênio que assegurava que não fazia a música, a música sempre esteve lá. Parece que, aqui, a poesia também”.

A maioria desses poetas sequer seria lembrada no aniversário do neto não fosse a memória obstinada de Zé de Cazuza.
SÓ LEMBRO

“Não tem técnica, não, eu só me lembro das coisas”, simplifica ele, consciente de seu papel como o grande memorialista da poesia do Pajeú. De um só fôlego, ele se veste da conhecida entonação poética da região e lembra um dos principais poemas de Louro do Pajeú sobre o peso dos anos acumulados na vida: “Eu já não suporto mais/Na vida, tantas revoltas/ Prazer, por que não me buscas? / Mágoas, por que não me soltas?/ Presente, porque não foges / Passado, por que não voltas?”. Mas seu espírito de menino parece não ter espaço para melancolias. Quer mais é ampliar os HDs do pensamento com nova poesia. “Nem sei ainda. Mas vou ampliar meu livro. Acho que entra ainda uns 30 poetas”, diz ele, sobre o seu Poetas Encantadores, um livro que desde seu lançamento, nos anos 80, já teve quatro reedições e, naturalmente, se tornou uma das grandes referências para essa escola de poesia falada que, no papel, tem ampliado sua fala.

http://roberiosa.com.br/ze-de-cazuza-e-uma-memoria-prodigiosa-servico-da-poesia-sertao-pajeu/

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O CANGACEIRO X UMBUZEIRO ( a árvore do sertão )

Por Voltaseca Nolta
FOTOS: Fonte Google

O UMBUZEIRO era muito utilizado pelos cangaceiros, e policiais volantes, principalmente, como alimentação (frutos/batata/água).

Nas secas, os cangaceiros conseguiam água das raízes(Batata) dos umbuzeiros. Faziam uma fogueira no solo, com gravetos, á altura das raízes tornando-as mais aquosas, e, retiravam os Tubérculos, partiam, e, o seu miolo (massa branca), era raspada e espremida em lenços, e em pedaços de panos, donde saia um líquido aquoso (água).

A casca dos tubérculos servia de panela. Era a fruta sagrada do sertanejo. Os cangaceiros chupavam o umbu que saciava a fome e a sede. Adicionado ao leite, preparava-se a umbuzada (vitamina do sertanejo).

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LAMPIÃO NO JUAZEIRO DO NORTE

Por Voltaseca
Foto: fonte Google

Em março de 1926, Lampião e seu bando estiveram em Juazeiro-CE, a convite de Dr. Floro para participarem das forças legalistas - Batalhões Patrióticos para combaterem a Coluna Prestes...

Analise a foto, abaixo e, diga qual foi o detalhe que mais chamou sua atenção. Existe um, que sempre passa desapercebido pelas pessoas que veem essa foto. Qual detalhe é esse ?

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=781073955427914&set=gm.756979864510960&type=3&theater&ifg=1

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ESCOLA NÃO É BALCÃO DE NEGÓCIO

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

Como seus filhos aprovados assim irão enfrentar a concorrência fora da sala de aula desse tipo de pedagogia escolar?

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR


A ética é o cimento da construção da sociedade, a sua falta é corrupção na certa.
              
Os pais devem ter cuidado com a educação de seus filhos na hora de "escolher" uma escola para matriculá-los. A escola deve ser uma ambiente de confiança da família e de seus filhos e não de corrupção ou de prática de estelionato, onde o aluno brinca que aprende e a escola brinca de ensinar... E isso também é uma questão de escolha e também de seriedade dos pais que sonham com o futuro de seus filhos na escola e na sociedade, como futuros profissionais: médicos, advogados, professores, contadores, etc. É importante evitar o simulacro na avaliação e promoção de mentira de seus filhos. É por isso que o número de vagas nos presídios vem aumentando cada vez mais em todas as unidades da Federação Brasileira.
              
A escola que aprova o aluno tendo como "metodologia de avaliação" o pagamento da mensalidade por parte dos pais dos alunos comete estelionato, crime.
              
O aluno futuro líder do seu tempo estuda para ser aprovado na escola e na sociedade. Pensar diferente é formar delinquente.
              
Que futuro tem o aluno que é "aprovado" ou “promovido” todos os anos letivos...que nunca "estuda" para ser aprovado porque a "escola" e/ou "balcão" de negócio que ele "frequenta" tem como metodologia de avaliação e aprovação o pagamento da anuidade escolar, mesmo sabendo que isso é estelionato educacional, crime, formação de quadrilha e fábrica de futuros corruptos?...
              
Ouvi na televisão uma mídia orientando a sociedade para escolher uma certa "escola" porque ela tem "amplo estacionamento", veja bem a que ponto a nossa gente chegou para conquistar seus futuros "clientes" e não alunos, porque o mais importante para escolher uma escola de qualquer nível ou grau escolar para estudar deve ser levado em consideração a Proposta e Compromisso Pedagógico, com professores habilitados e qualificados, em suma a escola deve ter todos os elementos estruturados e estruturantes para oferecer ensino e aprendizagem de qualidade, de primeiro mundo (laboratórios, bibliotecas, ginásios, orientação psicopedagógica, avaliação qualitativa e quantidade anual, segurança em suas dependências, etc., etc...).
              
Estelionato escolar é saber que o aluno é "aprovado" na escola e reprovado na profissão que ele pretende exercer sem competência no futuro... E o mundo está cheio de gente em todos os graus e níveis escolares, exercendo suas profissões sem dominar e sem saber o que estão ali fazendo, em muitas vezes fazendo a desgraças alheias, ceifando vidas e/ou desviando caminhos alheios.
              
Que diferença tem a parábola de que uma criança um certo dia visitou a casa de uma senhora que costurava e quando a mesma saiu para ir resolver alguma coisa e deixou-a perto do “cesto” que contem novelos de linha, tesoura, fita métrica e agulhas de coser, ela tirou e/ou levou sem a costureira ver uma agulha que ela usava para costurar suas peças ou vestimentas... em chegando em casa os pais daquela criança, nada fizeram para saber onde ela tinha encontrado aquele instrumento que era usado no exercício profissional de fabricar roupas e/ou costurar outras peças, etc. O tempo passou e a criança se fez homem, quando um certo dia resolveu “levar” um cavalo que pastava a margem de um rio, aí o bicho pegou, ele foi preso como ladrão de cavalo e quando estava sendo interrogado em juízo afirmou que tudo aquilo que estava acontecendo com ele, era fruto da aceitação de tudo que ele fazia quando criança e seus pais não reclamavam... sempre deixavam correr suas ações e comportamentos por conta do rolamento... É a questão dos pais que dizem que seus filhos não mentem e só falam a verdade, que eles são inteligentes e são aprovados todos os anos escolares... é a questão do pagou passou... e no futuro o juvenil se torna adulto e a vida adulta não esfera e nem dispensa falha minúscula de quem quer que seja. O caminho do insucesso aí é garantido com certeza, tudo tem origem no seio das escolhas da família na hora de educar e instruir seus filhos. É a Pedagogia da permissividade de tudo que a criança quer e nada mais.
              
Ainda que por analogia, que diferença tem a “ética” usada para aprovar o aluno que não foi aprovado nos bancos escolares e o ladrão de cavalo em tela? E os pais são ou não culpados em saber que seus filhos nada sabem e são promovidos todos os anos escolares?... Como seus filhos aprovados assim irão enfrentar a concorrência fora da sala de aula desse tipo de pedagogia escolar? O fracasso é o melhor nome que se deve ser dado a tal metodologia macro ou micro-econômica “escolar” é tudo uma questão de conivência dos pais, dos alunos seus filhos e da escola ou balcão de negócio que assim age nas barbas das autoridades federais, estaduais e municipais da atualidade...
               
A única coisa que uma escola não deve fazer para "ajudar" os pais e os alunos é aprová-los e/ou promovê-los de anos/séries letivas sem os mesmos saberem ler e escrever e muito menos compreender e/ou dominar os conteúdos didáticos pedagógicos de cada componente curricular (disciplinas ou matérias). Uma coisa é certa, o mundo enquanto ser universal e social, inclusive profissional, não tem lugar para aceitar "líderes" derrotados nos bancos escolares com máscaras de "aprovação" via estelionato praticado para atender o capricho e interesse espúrio econômico e financeiro de negociante "dono" de escola e/ou "balcão" de cometer crime e atrapalhar o futuro da juventude rumo ao sucesso... Onde anda a ética profissional de quem usa tal metodologia de "ensinar", "aprender", "avaliar" e "aprovar" os alunos de hoje e futuros líderes profissionais do amanhã?!...

 Enviado pelo autor Francisco de Paula Melo Aguiar

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