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terça-feira, 23 de junho de 2020

OBRA PRIMOROSA QUE MERECE SER ALÇADA AO ALTAR DAS GRANDES OBRAS SOBRE O CANGAÇO.

Por José Bezerra Lima Irmão
José Bezerra Lima Irmão e João de Sousa Lima

Amigo José Mendes Pereira de Mossoró no Rio Grande do Norte, não se trata de vaidade, mas acho justo compartilhar com os estudiosos do cangaço esta mensagem que recebi de um leitor, advogado criminalista atuante em Caruaru, comentando o meu livro:


“Caro José Bezerra Lima Irmão, no último domingo recebi seu livro, Lampião – a Raposa das Caatingas, quando estive em Aracaju/SE, e comecei a devorá-lo. Já li trezentas páginas em 2 dias e não consigo parar de ler. Sou advogado criminalista na cidade de Caruaru/PE, porém aprovado e esperando nomeação para o cargo de Delegado de Polícia na Bahia. 

José Bezerra Lima Irmão

Tenho 29 anos, mas há 16 anos sou pesquisador do cangaço, ou seja, desde os 13 anos de idade. Sendo sertanejo da gema, bisneto de cangaceiro e neto de volante, tenho minhas origens em Serra Talhada e lhe digo: que nunca vi uma obra tão completa como a sua. Rica em detalhes históricos, fotografias, depoimentos e informações em geral. Obra primorosa que merece ser alçada ao altar das grandes obras sobre o cangaço. 

Parabéns pelo árduo trabalho, e obrigado por nos brindar com essa preciosidade. 
Abraços fraternos, Leyvison Rodrigues da Silva, OAB/PE 30.756."

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LIVRO "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS"


Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.

Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.

O autor José Bezerra Lima Irmão

Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.

Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.

Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Destaca os principais precursores de Lampião.
Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.

Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados.

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:
 josebezerra@terra.com.br
(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799

 Pedidos via internet:
Adquira com o professor Pereira através deste e-mail:

franpelima@bol.com.br

Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.

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E NATAL PERDEU OUTRO PATRIMÔNIO DA VELHA RIBEIRA E DA ÉPOCA DA SEGUNDA GUERRA – CAIU UMA PARTE DO ANTIGO ARPÈGE!

Foto – Rostand Medeiros.
Hoje, 21 de junho de 2020, por volta de cinco horas da manhã, na Rua Chile, número 161, no bairro da Ribeira, caiu com certo estrondo uma grande parte do antigo prédio da Boate Arpége, um dos mais representativos locais do boêmio bairro da Ribeira e fortemente ligado ao período da Segunda Guerra Mundial e história da aviação histórica em Natal.
Foto – Rostand Medeiros.
As últimas chuvas que caíram em Natal ajudaram a destruição desse imóvel que se encontra abandonado já faz algum tempo. A área se encontra isolada e oferece  risco de novos desabamentos e, como parece que ainda vai acontecer novas chuvas em ter os meses de junho e julho, é provável que o que sobrou venha abaixo.
Existe no local e a cena é triste para quem valoriza a história do lugar onde vive. Apesar de toda problemática com o COVID-19, tive a felicidade de encontrar o amigo German Zaunseder, com quem troquei algumas ideias sobre essa situação. Esse local histórico, tombado pelo poder público, em breve deixará de existir definitivamente.
Foto – Isa Cristina.
Em agosto de 2019 do ano passado eu lancei o meu livro “Lugares de Memória”, que nos seus capítulos apresenta informações e imagens (atuais e antigas) de 27 locais de Natal que possuem ligação com a participação de Natal no conflito, incluindo quartéis, hospitais, sedes de companhias aéreas, bares, cabarés, hotéis, clubes militares, residências de oficiais e do cônsul norte-americano, entre tantos outros pontos que ainda mantêm as características de sete décadas atrás, ou cujos prédios originais deram lugar a novas edificações em Natal.
Entre as edificações apresentadas no livro “Lugares de Memória” estava esse histórico edifício, que agora está quase totalmente destruído. Trago aos leitores do blog TOK DE HISTÓRIA o capítulo que trata do antigo Arpége.
Imagem obtida em junho de 2019 – Foto – Rostand Medeiros.
UM CABARÉ CHAMADO ARPÈGE – RUA CHILE, 161
Esse prédio, já quase completamente destruído, com dois pavimentos superiores derrubados por falta de reparos, ficou conhecido durante muitos anos por ser o local onde funcionou o prostíbulo denominado “Boate Arpège”.
Mas esse local, que em 2010 teria sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), possui na história de um antigo proprietário uma ligação muito forte com os períodos da aviação histórica e da Segunda Guerra Mundial na capital potiguar.
Lançado em agosto de 2019, “Lugares de memória” trás entre seus capítulo a história do edifício onde funcionou o Arpège.
O site de genealogia http://www.parentesco.com.br aponta que Enest Walter Lück, também conhecido como Ernest Luck, ou Ernesto Luck, nasceu no ano de 1883, na Alemanha. Segundo o falecido escrito e pesquisador Hypérides Lamartine, conhecido por todos em Natal como Pery Lamartine, em um trabalho que foi entregue em 2008 aos pesquisadores Rostand Medeiros e Frederico Nicolau, Enest Lück é oriundo da cidade de Gevelsberg, na antiga província alemã da Westphalian. Era de uma família de agricultores que trabalhavam também como ferreiros[1].
O trabalho de pesquisa de Pery Lamartine foi realizado por meio das informações do filho de Enest, o empresário do ramo do turismo Werner Ernest Ferdinand Lück, falecido em Recife no ano de 2002. Werner comentou que seu pai trabalhava na cidade belga de Ostende, em uma firma de importação e exportação. Quando um amigo de infância chamado Richard Robert Bürgers lhe escreve do Brasil informando que morava no estado do Rio Grande do Norte. Aqui, Bürgers fora contratado por uma firma inglesa para perfurar poços e que precisava de um auxiliar de confiança para participar dos trabalhos. Enest Lück tomou, então, o navio Karshel, que atracou no porto de Recife em 7 de outubro de 1911, seguindo para Natal em um navio costeiro. Na capital potiguar, o novo imigrante alemão soube que a firma inglesa tinha falido e começou a buscar um novo rumo para a sua vida. Lück, então com 28 anos, adquiriu uma fazenda no sertão do Rio Grande do Norte, com a intenção de criar gado, plantar algodão e mamona. Essa fazenda era localizada próxima ao Pico do Cabugi, na região central do estado. Em suas visitas a Natal, o Sr. Lück enamorou-se por uma senhorita chamada Henriqueta Green, de origem inglesa ou norte-americana, cujo romance acabou com a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) e o envolvimento de seus países de origem em lados opostos.
Natal no início do Século XX.
Esse conflito em muito retardou o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte, mas, após o fim da Primeira Guerra, Enest Lück planejou uma mudança de vida. Assim, fundou com um amigo uma loja na Rua Chile, 161, onde se vendia muitos artigos e ficou conhecida como uma loja de “Secos e Molhados”. Além da loja eles criaram a firma de importação e comércio Gurgel, Luck & Cia., com o objetivo de importar produtos da Alemanha e exportar matérias primas produzidas no Rio Grande do Norte, como algodão, óleos, couros, etc.
Ainda segundo Pery Lamartine os sócios vão à Alemanha em 1922 em busca de contatos comerciais, no que são bem-sucedidos. Eles conseguem a representação potiguar da grande casa exportadora Theodor Wille, uma empresa criada por um alemão no Brasil em 1848, que se tornou uma verdadeira potência comercial na década de 1920, onde exportava para a Alemanha o nosso café e exportava tecidos, ferramentas, máquinas e até locomotivas.
Ainda na Alemanha os dois sócios igualmente conseguiram a representação da empresa de navegação Hamburg Sud, ou Hamburg Südamerikanische Dampfschifffahrts-Gesellschaft, também conhecida como Hamburg South America Line, até hoje uma grande empresa de navegação que faz parte da Maersk Line, a maior empresa de transporte de contêineres do mundo.
Ou seja, o alemão e seu sócio brasileiro, além de fecharem um interessante contrato de representação com uma empresa que trazia da Alemanha produtos de primeira qualidade e aceitava comprar as matérias primas produzidas em terras potiguares, também conseguiram a representação de uma grande empresa de navegação. Essa provavelmente transportava os produtos ligados a Gurgel, Luck & Cia., possivelmente com um valor diferenciado e vantajoso.
Nesse retorno de Enest Lück ao seu país, ele reencontrou uma vizinha de infância chamada Elisabeth Luise Bamberger, com quem casou. Enquanto sua vida familiar progredia na caliente Natal, na sua loja da Rua Chile, 161, Enest Lück vendia muitas mercadorias e se tornou referência na cidade. Encontramos em jornais natalenses anúncios de venda de facas, ferramentas agrícolas, talheres, tesouras, etc. Esse edifício não era o único imóvel que o  imigrante alemão possuía naquele setor da cidade. Ele era proprietário de um salão aberto na Travessa Venezuela e uma loja na Rua Dr. Barata, a de número 170, onde ali funcionou durante algum tempo a Confeitaria Savoia, de Giovani Fulco. Enest Lück cresceu como comerciante e na respeitabilidade junto ao povo de Natal, tornou-se o mais proeminente representante da pequena colônia alemã aqui radicada, representante diplomático de sua nação na cidade.
Apesar desses avanços, percebemos na leitura dos antigos jornais uma situação que, aparentemente, chamou negativamente a atenção do povo de Natal em relação às atitudes do alemão Enest Lück.
Segundo nos conta Pery Lamartine, nos primeiros anos da década de 1930, vivia-se, a nível mundial, uma acirrada disputa no que se refere ao transporte do correio aéreo e de passageiros, principalmente entre franceses e alemães. O falecido escritor e aviador potiguar informou que Enest Lück conseguiu então as representações das empresas Lufthansa e Sindicato Condor. Duas companhias de transporte aéreo que se completavam e, conforme podemos observar no capítulo dedicado a  atuação do Sindicato Condor em Natal, ficava localizada na Rua Frei Miguelinho, 119, Ribeira. Foi quando a edição de domingo, 13 de setembro de 1931, do jornal A República, apresentou com grande destaque os fatos que envolveram a tragédia de um hidroavião Dornier Wall, do Sindicato Condor.
Registrado como P-BALA e batizado como “Olinda”, o jornal aponta que, no dia anterior, um sábado, ao buscar decolar no Rio Potengi o piloto Max Christian Sauer e o copiloto Rudolf Karwat não conseguiram força suficiente, aparentemente devido ao mau funcionamento em um dos motores e a aeronave não alcançou a ascensão desejada.
Ao sobrevoar o Canto do Mangue, local de atracação de barcos de pescadores às margens do Rio Potengi, o piloto decidiu fazer uma curva à esquerda para levar o “Olinda” para o mesmo ponto de onde partiram e tentar uma nova arremetida.
Provavelmente devido à falha no motor, desconhecimento dos obstáculos que havia na área que sobrevoava, desorientação espacial, ou outras causas, o Dornier Wall chocou-se violentamente contra uma antiga barcaça utilizada para o transporte de areia e explodiu em chamas. O impacto ocorreu na outra margem do rio, defronte à administração do Porto de Natal. Os que foram entrevistados pelo jornal nada comentaram sobre o barulho de uma explosão, mas narraram quer viram uma bola de fogo que se criou após o choque.
Consta, nas páginas de A República, que entre os que testemunharam a tragédia e estavam no outro lado do Potengi estava Mestre Manoel Ciríaco, proprietário de um barco conhecido como Minerva, além dos seus tripulantes Luís Jacaré e Chico Velho. EsSas rapidamente embarcam no bote e foram os primeiros a chegar ao local da tragédia.
Na barcaça abandonada, que o jornal chama de “areieiro”, Ciríaco encontrou o mecânico Paul Hein, ferido e desacordado. Próximo à barcaça, ainda dentro do que restou da cabina do “Olinda”, os brasileiros viram os restos mortais do piloto, do copiloto e do radiotelegrafista Franz Noether. Nesse momento, encostou uma lancha com vários passageiros, entre eles o alemão Enest Walter Lück e funcionários do Sindicato Condor. Mestre Ciríaco e seus ajudantes transferiram então o mecânico ferido para a lancha e este foi transportado para o cais do porto. Para a surpresa do simples barqueiro e seus tripulantes, em vez de Lück e os membros do Sindicato Condor resgatarem os corpos dos seus companheiros, esses passam a recolher as encomendas, envelopes e malas postais que flutuavam no rio. Ciríaco e seus companheiros comentaram os fatos com detalhe no principal jornal de Natal, o que aparentemente chamou atenção na cidade.
Estaríamos, então, diante da fria lógica germânica que, frente à morte de três tripulantes e da prestação inicial de assistência ao ferido, o mais importante era o recolhimento do material ao resgate dos cadáveres dos seus companheiros? Vale ressaltar que o piloto Max Christian Sauer era o diretor técnico do Sindicato Condor.
E o que haveria de tão importante nesse material que flutuava no Potengi?
Ao observamos os jornais da época, um fato chama a atenção. No dia 27 de agosto de 1931, dezesseis dias antes do acidente do “Olinda”, procedente das Antilhas chegou ao porto de Natal o cruzador ligeiro Inglês H. M. S. Dauntless. Esse era um fato não muito comum na capital potiguar, sendo noticiado pelos jornais da época como “uma tranquila visita de cortesia de 400 oficiais e marinheiros da marinha de Sua Majestade”. Não faltaram inúmeras recepções que movimentaram a urbe, com um baile a bordo do cruzador e outras festividades. Ocorreu até mesmo um movimentado jogo de futebol entre a equipe do navio e o time do América Futebol Clube, que venceu os marinheiros ingleses pelo placar de 4×2. O certo é que o cruzador inglês H. M. S. Dauntless não era nenhum navio desprezível, ou que não chamasse atenção. Era uma moderna nave de combate da classe “D” de cruzadores ligeiros ingleses, estava em serviço ativo desde 1918, possuía o código D-45 e pertencia, na época, à Divisão Sul Americana da frota inglesa. Desenvolvia quase 30 nós de velocidade, com um armamento que incluía torpedos de 533 m.m., seis canhões de 152 m.m. e canhões antiaéreos. Seu peso era de 5.000 toneladas e tinha quase 150 metros de comprimento[2]. Em 1931, apesar de a Alemanha ainda não viver sob o domínio do Terceiro Reich, haviam se passado apenas treze anos do fim da Primeira Guerra Mundial, onde a Inglaterra era vista pelos alemães como um potencial inimigo. Era normal aos agentes e representantes alemães pelo mundo afora, como era o caso de Enest Walter Lück, informar as movimentações e os detalhes sobre as belonaves de guerra dos países considerados inimigos em suas viagens. Haveria então nas malas postais transportadas pelo “Olinda” alguma informação interessante sobre o cruzador H. M. S. Dauntless que teria sido enviada para a Embaixada Alemã no Rio de Janeiro?
Seria essa a razão do Sr. Enest Walter Lück ter deixado de lado o resgate dos corpos dos tripulantes do “Olinda”?
Ou seria apenas uma coincidência?
Não sabemos, mas vale ressaltar que, devido à falta de atenção do Sr. Enest Walter Lück em não ordenar o resgate dos corpos dos tripulantes do hidroavião, esses são deslocados pela maré e se perdem na noite. Só vão ser encontrados, segundo o jornal A República, a partir das dez da manhã de domingo, 13 de setembro. Eles estavam espalhados em vários pontos do rio e já em adiantado estado de putrefação. Ainda no domingo, com grande acompanhamento por parte da população local, autoridades e membros da colônia alemã, os três alemães mortos foram rapidamente enterrados no cemitério do Alecrim.
Conforme apresentamos no texto dedicado ao comerciante italiano Guglielmo Lettieri, durante a Segunda Guerra Mundial, o alemão Enest Lück e dois compatriotas foram acusados e condenados como espiões da Alemanha Nazista atuando em Natal. Clyde Smith deixa a entender em seu livro que a loja que Lück possuía na Rua Chile era uma espécie de fachada para outras atividades, pois ali “aparentemente, ninguém entrava”[3]. Mas logo após o fim do conflito todos foram soltos e, de uma forma que merece estudo complementar, foram perdoados pela sociedade natalense e continuaram a tocar suas vidas.
Não conseguimos uma informação mais abrangente sobre o que aconteceu com a loja de Lück na Rua Chile, 161. Mas, segundo a dissertação de mestrado do arquiteto e urbanista Gilmar de Siqueira Costa, pouco antes da chegada dos militares norte-americanos a Natal, o dia a dia naquela edificação ficou bem movimentada.
Intitulada Reutilização de imóveis de interesse patrimonial, voltados para a habitação: Um estudo de caso na ribeira – Natal/RN e publicada em 2006, essa dissertação, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da UFRN, aponta, nas páginas 147 a 149, que o pavimento do edifício da Rua Chile, 161, foi construído em 1904. Já em 1941, o Senhor Nestor Galhardo adquiriu parte da edificação, tendo o intuito de instalar sua própria gráfica, ocupando apenas o pavimento térreo. Porém, com o advento da Segunda Grande Guerra, muitas prostitutas e seus clientes vieram para a Ribeira. Pensando em atender ao grande número de militares e marinheiros, o Sr. Galhardo, que era amante de uma meretriz chamada Rosita, decidiu abrir um cabaré no pavimento superior, que seria administrado pela sua concubina e cuja entrada era feita pela Travessa Venezuela. Aparentemente foi nessa época que a edificação ficou conhecida popularmente como “Edifício Galhardo”.
Segundo Gilmar de Siqueira Costa, um dos aspectos mais curiosos relacionados ao Edifício Galhardo é o fato de ter sediado durante muito tempo uma das mais famosas casas de meretrício do Nordeste – o Cabaré Arpège. O autor aponta como sendo uma “casa de recursos vinculada à cultura da boemia e dos cabarés, geradora de toda uma série de mitologias e anedotas referentes a personagens destacados na vida social, no decorrer do seu tempo de atuação”. Sobre esse lugar paira a lenda que durante a visita dos Presidentes Roosevelt e Getúlio Vargas à Natal, em janeiro de 1943, esses teriam visitado discretamente as instalações do elegante lupanar.
Após a morte do seu proprietário, o seu parente Nestor Galhardo Neto assumiu a administração dos negócios contidos no imóvel. Gilmar de Siqueira Costa aponta como fato curioso que durante as gravações da película “For All”, que buscava retratar a cidade de Natal no período da Segunda Guerra, algumas cenas foram tomadas nos espaços do prédio.
NOTAS
[2] O H. M. S. Dauntless chegou a participar de toda a Segunda Guerra Mundial, combatendo os japoneses na região da Batavia e Singapura, além de participar dos combates a submarinos alemães no Atlântico.
[3]SMITH JUNIOR, Clyde – Trampolim Para a Vitória. 1. Ed. – Natal-RN: Ed. Universitária, 1993, página 22.
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MEMÓRIA E IDENTIDADE REGIONAL DO CANGAÇO - FAFIC

Por Wescley Rodrigues

Fonte: YouTube Canal:Faculdade FAFIC

Em comemoração ao mês junino a Faculdade FAFIC - Paraíba preparou uma live especial com o tema: "Memória e identidade regional do Cangaço", o convidado foi o Prof. Wescley Rodrigues Dutra, Bacharel em Direito e História; Mestre em História e Doutorando em Letras com foco na Argumentação Jurídica; Wescley Rodrigues é pesquisador, membro da SBEC e da ACLA como também Conselheiro do Cariri Cangaço.

22 de Junho de 2020.


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MACAXEIRA OU MANDIOCA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.330

Macaxeira não é mandioca nem mandioca é macaxeira. Assim como jumento não é burro e nem burro é cavalo. As duas raízes pertencem a mesma família, porém, existe diferença significativa entre ambas e denominações variadas nas regiões brasileiras. No Nordeste, macaxeira é uma coisa, mandioca é outra. No Rio de Janeiro, macaxeira é chamada de aipim.

RASPAGEM  DA MANDIOCA (CRÉDITO: HONJO MOERTSCH)

Numa farinhada, fabrico da farinha feita com a mandioca, as pessoas rapam mandiocas aos montes. Vez em quando surge uma macaxeira. Ela é identificada e consumida ainda crua. Mas não se pode comer a mandioca porque ela possui veneno. Contém ácido cianídrico. É preciso ser transformada em farinha e ficar livre do tóxico para poder ser consumida. Até o caldo escorrido da mandioca após a prensagem, fica depositada resguardado dos animais. É quando o povo diz: “Tire esse garrote daí, manipueira mata, Zé.
Podemos dizer, então, que macaxeira vai para cozinha e a mandioca para a indústria. É fácil para o homem rural distinguir   macaxeira de mandioca, mas o citadino, não. Caso o amigo não conheça uma farinhada, não sabe o que está perdendo. É um trabalho altamente gratificante e que naturalmente vira uma verdadeira festa. Estamos nos referindo à farinhada tradicional e não a moderna o que deve ser uma festa diferente. Nesta, o uso de máquinas reduz muito a quantidade de trabalhadores homens e mulheres em suas funções e na alegria do todo. O fabrico da farinha vai desde o litoral ao sertão. Pesquise a periferia da cidade ou capital.
A antiga canção de Jorge Curi diz bem da farinhada.

Fui a uma farinhada
Lá na serra do Teixeira
Namorei uma cabocla
Nunca vi tão feiticeira
A meninada descascava macaxeira
Zé Miguel no caititu
E eu e ela na peneira...


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MILITAR DO SERTÃO: JOÃO BEZERRA DA SILVA, O HOMEM QUE MATOU LAMPIÃO

Por André Nogueira
João Bezerra - Arquivo Pessoal

O policial militar pernambucano foi nacionalmente reconhecido por comandar a operação que degolou o Rei do Cangaço.

Uma das imagens mais marcantes da história policial no Brasil são as cabeças do bando de Lampião na escadaria da prefeitura em Piranhas, Alagoas. Nela, há o retrato da perseguição violenta contra os criminosos e uma vingança contra seus corpos, diante da notória prática de degolamento. O responsável pela foto foi o oficial João Bezerra da Silva.

Ele foi um Policial Militar de Alagoas, que se tornou famoso no país todo depois do Massacre de Angicos. Nativo de Afogados de Ingazeira, Pernambuco, aprendeu a atirar com o primo, Antônio Silvino, se tornaria cangaceiro. Alvo de uma infância conturbada, decidiu fugir de casa ainda jovem.

Com a namorada, se mudou para Recife, onde passou a trabalhar numa ferroviária, que cuidava da restauração das linhas e outros bicos que o auxiliaram a ter uma renda básica. Passou a viver na estrada, na região da capital pernambucana, até que decidiu retornar a sua cidade natal. Lá, abriu uma pequena bodega com armazém, se sustentando com as vendas.

No entanto, a passagem durou pouco tempo, pois, quando Bezerra começou a ganhar dinheiro, um fazendeiro local passou a persegui-lo, com medo de concorrência. Então, abusou de sua sobrinha e enviou um recado para que não passasse dos “limites”. João, indignado, foi à fazenda do homem e o matou, o que o obrigou a fugir da cidade para evitar vinganças.

Foto antiga da volante de Bezerra em 1936 / Crédito: Divulgação/YouTube

Passou a viver em Princesa Isabel, onde conheceu o coronel José Pereira, e aprendeu a atirar, assim conhecendo os crimes dos cangaceiros. O militar era inimigo íntimo de Lampião. Trabalhando nas possessões do oficial, tornou-se lenda local por matar uma onça a tempos procurada, pois estava matando diversas criações na região.

João Bezerra decidiu entrar no exército, migrando para Maceió em 1919, passando a fazer parte definitiva do corpo da Polícia Militar em 1922. Com valentia, cresceu rapidamente na carreira, realizando diversas operações com eficácia e recebendo promoções e indicações por bravura. O principal local onde viveu era a cidade de Piranhas.

Nas operações que esteve envolvido, lutou ao menos onze vezes diretamente com cangaceiros, tendo, em uma das ocasiões, sofrido um ataque em que perdeu quatro centímetros de perna e, assim, se tornou manco. Por esse motivo, Lampião o apelidava de Cão Coxo, em referência à mobilidade reduzida. Em retribuição ao apelido desonroso, Bezerra passou a chamar o Rei do Cangaço de O Cego.

Em 1935, casou-se com Cyra Gomes de Britto, com quem construiu uma família enquanto trabalhava no comando de volantes no estado de Alagoas. Nessa posição, ficou responsável pela operação que identificou, perseguiu e assassinou o bando de Lampião durante reunião numa gruta localizada na fazenda dos Angicos, município de Poço Redondo.

Em uma operação bem organizada, eles localizaram o acampamento dos cangaceiros e entraram no local a noite, atirando com metralhadoras. Depois de mortos, Lampião e Maria Bonita tiveram suas cabeças arrancadas. Sua atuação na operação o fez nacionalmente famoso, e recebeu diversas honrarias.

Ele foi recebido pelo presidente Vargas no Palácio do Catete, sendo homenageado. Com o tempo, chegou à posição de comando da PM de Alagoas. Em 1940, lançou o livro Como Dei Cabo a Lampião, com descrições da operação mais famosa de sua carreira. Em 1955, entrou na reserva e passou a trabalhar numa fazenda, plantando.

João viveu ate é 1970, quando sofreu um AVC em Garanhuns. Foi enterrado como herói no Parque das Flores, em Recife, onde descansa até hoje.

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ENTROU NO CANGAÇO POR TER SIDO RAPTADA OU POR ESPONTÂNEA VONTADE?

Por José Mendes Pereira
O DESTINO DE ADELAIDE - Mulheres do Cangaço
As irmãs cangaceiras Rosinha e Adelaide de Lé Soares

Cada um de nós que estuda o cangaço de modo geral tem a sua opinião sobre as histórias que foram contadas pelos remanescentes de Lampião, mas o meu parecer,  que vivo nessa corrida para conhecer bem o "Cangaço", não desfaz e nem desrespeita os nobres pesquisadores, escritores e historiadores, apenas tento dizer o que eu penso sobre os depoentes. 

Os caçadores de histórias sobre cangaço que são os pesquisadores, escritores e historiadores foram e são os verdadeiros heróis que trouxeram e trazem todas as informações para nós, não criaram e nem criam nada desnecessária, e sim, registraram e continuam registrando os acontecimentos ditados pelos depoentes como: coiteiros, coiteiras, cangaceiros, cangaceiras, policiais, fazendeiros, sertanejos e até mesmos pessoas que presenciaram crimes, ou maldades feitas pelos facínoras que usavam as suas leis próprias, contra aqueles que eles achavam merecedores de serem castigados com surras ou com a morte.

Um dos acontecimentos cangaceiros que a minha mente não consegue registrar como verdade é o que disseram aos entrevistadores algumas bandidas que sobraram da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia.", que foram raptadas ou levadas para o mundo cangaceiro à força pelos seus futuros companheiros. 

A maior parte destas moças que seguiram os cangaceiros por terem sido raptadas como afirmaram elas, era adolescente, e adolescente, principalmente do sexo feminino, a paixão a domina no primeiro rapaz que ela colocar em cima dele os seus olhos brilhantes condutores fiéis do seu destino (assim escreveu o poeta Zé Ramalho) e passa a desejá-lo, não o esquecerá tão cedo, e a partir daí, ela está para enfrentar qualquer obstáculo. Esse comportamento faz parte da vida humana quando se refere a amor. 

Nos tempos do cangaço as moças sertanejas viviam ali, apesar  dos olhares rancorosos dos pais, mas eram apenas cuidadosos, e que não as deixavam sair a lugar nenhum, e quando elas saíam era para um baile nas suas comunidades, mas nunca a sós, geralmente acompanhadas pelos seus genitores. 

Algumas delas já não mais suportavam aquele ciúme doentio dos pais e a solução era sair dali da companhia deles o quanto antes possível, em busca de liberdade, de querer voar alto, conhecer coisas novas, viver livre, sem pressão, viver sobre os olhares de um só, no caso o companheiro conquistado, já que em casa, além de ser vigiada pelo pai, ainda tinha os olhares da mãe e dos irmãos, porque muitas eram privadas até de chegar ao alpendre, quando no meio daquela gente presente, tinham jovens metidos a galãs. 

As que se queixavam que foram forçadas para seguiram os cangaceiros mesmo sendo estudante do cangaço, eu não acredito. Elas se apaixonavam pelos bandoleiros e findavam os acompanhando por pura vontade, acho eu, não sei se estou certo ou errado. Os cangaceiros não chegavam e as carregavam, porque eles tinham um chefe de grupo para obedecê-lo, ou  então os reclamando que não era bem assim, levar uma donzela para a caastinga por pura maldade. Primeiro, imagino eu, que eles as visitavam e depois das conquistas e algumas conversas amorosas eram que elas os seguiam. 

Não sei se estou conversando besteiras, mas se sabiam que poderiam ser sequestradas, por que ficavam expostas aos olhares dos bandidos e não se escondiam em outras residências de pessoas amigas que os marginais não passavam por lá? O certo é que desejavam mesmo acompanhar os jovens escolhidos por elas. Cada uma dela  entrou no cangaço por gosto próprio, por vontade própria, e por sua própria decisão.

Sérgia Ribeiro da Silva mais conhecida como Dadá  que nasceu em  Belém do São Francisco, no Estado de Pernambuco, no dia 25 de abril de 1915, e faleceu em  Salvador, no Estado da Bahia, em fevereiro de 1994, disse aos repórteres, escritores e pesquisadores que fez parte do cangaço, não por sua própria vontade, mas porque foi raptada por Cristino Gomes da Silva Cleto o cangaceiro Corisco, nascido em Água Branca no Estado de Alagoas, no dia 10 de agosto de 1907 e faleceu na Barra do Mendes no dia 25 de maio de 1940. Também era conhecido como Diabo Louro. 

Em um livro que eu li e não quero aqui citar o nome e o autor porque eu não estou com ele em casa para provar indicando o número da página (porque o emprestei a um amigo), e já que eu não sei a página e o título, evito citá-lo, e lá está escrito que a cangaceira Dadá não foi raptada pelo o Corisco, e sim, ela seguiu o seu futuro companheiro para o cangaço por espontânea vontade. 

A Sila mulher de Zé Sereno diz que foi à força para o cangaço, mas ela foi por sua própria vontade. No dia que os cangaceiros fizeram coito próximo à casa da sua família ela foi encarregada de ir deixar o almoço a eles no acampamento, e ao anoitecer, teve um forró, cujo, ela passou a noite toda dançando, e parece que estava mais com desejo em Luiz Pedro do que em Zé Sereno, assim fala ela de ter dançado muito com ele. Lógico que não confirma que teve interesse pelo o cangaceiro, mas qualquer um que leu o que ela disse, diria que a futura cangaceira estava o desejando, porque dançou muito aos seus aconchegos. Se ela não tivesse intenções de seguir o bando, já que sabia que os cangaceiros estavam ali e poderiam raptá-la para a caatinga, e por que  não fugiu antes para outro lugar que os facínoras não passavam por lá? Ela alega que imaginou muito que se ocultasse da presença deles poderiam fazer algo contra à sua família. 

A decisão de ter entrado para fazer parte do mundo do crime no nordeste brasileiro eu imagino que surgiu da própria Sila, e não do seu futuro companheiro Zé Sereno. Muito embora, durante um ano e oito meses mais ou menos que ela passou no cangaço foi uma cangaceira que nunca fez mal a ninguém. 

As filhas do vaqueiro Lé Soares a Rosinha de Mariano Laurindo Granja, a Adelaide do cangaceiro Criança, a Áurea prima das duas acima e companheira do cangaceiro Mané Moreno, este  era primo dos cangaceiros Zé Sereno e do Zé Baiano, as três entraram para o cangaço porque quiseram. Na minha humilde opinião, nenhuma foi raptada, todas fizeram parte do cangaço pela própria vontade e desejo de sair dos olhares rancorosos dos seus pais. 

Espero que os amigos não usem este material na Literatura Lampiônica, porque não tem nenhum valor para ela. São apenas as minhas inquietações, assim dizia o escritor Alcino Alves Costa, e jamais prejudicará os escritores, historiadores e pesquisadores. O que eu escrevo não os atinge, sempre me refiro aos depoentes.

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