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sábado, 27 de julho de 2019

SEBASTIÃO BIANO: MÚSICO QUE TOCOU PARA LAMPIÃO COMEMORA 100 ANOS COM SHOWS EM SP

Por Marina Pinhoni, G1 SP — São Paulo - 27/07/2019

Único integrante vivo da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru, Biano teve música gravada por Gilberto Gil e influenciou a Tropicália. Show com participação de Zeca Baleiro será neste sábado (27) no Sesc Pompeia.

“Você toca o meu toque?”, perguntou Lampião para um menino que segurava trêmulo um pífano, na década de 20, no sertão de Pernambuco. A criança era Sebastião Biano, que não só tocou a música “de ouvido”, como impressionou com seu talento o cangaceiro mais temido do Brasil. Hoje aos cem anos de idade, Seu Biano continua tocando o instrumento com a mesma maestria com que conta suas muitas histórias. Sem pensar em aposentadoria, ele participará de dois shows em São Paulo neste final de semana em comemoração ao centenário.

Sebastião Biano é único integrante vivo da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru, que influenciou movimentos como a Tropicália e o Manguebeat. Apelidado por Gilberto Gil de “Beatles de Caruaru”, o grupo também ganhou um Grammy Latino em 2004.

Em 1972, Gil gravou com a banda uma música de autoria de Sebastião chamada “Pipoca Moderna”, que posteriormente ganhou letra de Caetano Veloso. Também tocaram com eles Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Geraldo Azevedo e outros grandes nomes.

“O Sebastião é uma peça rara, um patrimônio vivo da cultura brasileira e da música. Ele continua passando seus conhecimentos, celebrando a vida. Isso é muito inspirador”, diz Junior Kaboclo, integrante da quarta geração da Banda de Pífanos de Caruaru.

Quem ouve Seu Biano alcançando diferentes escalas e brincando com as notas, não imagina que ele não teve estudo musical formal algum. Autodidata, aprendeu a tocar aos cinco anos de idade enquanto ajudava seu pai na roça junto com o irmão em Mata Grande, no Sertão de Alagoas onde nasceu.

“Quem me ensinou a tocar foi nosso pai [Deus]. Não teve mestre para mim de jeito nenhum. Mas teve o começo. Meu pai me levou para a roça junto com meu irmão. A gente ia para casa tocando uns 'caninhos' da flor de jerimum. Saía aquele 'apitozinho' tão engraçado, coisa de criança mesmo. Ele vendo aquilo falou: ‘se vocês fazem um som desse num pedacinho de folha desse 'tamainho', no ´pife´ o que não vão fazer?”, lembra Sebastião.

Sebastião Biano e Junior Kaboclo tocam pífanos — Foto: Fábio Tito/G1
O que é pife?

Espécie de flauta transversal, o pífano é um instrumento de sopro que pode ser fabricado de diferentes materiais. No Nordeste, geralmente é feito a partir da madeira de bambu e usado em bandas tradicionais acompanhado da percussão do bumbo e zabumba.

“O nome dele certo mesmo no Nordeste é ‘pife’. Agora a imprensa achou mais nome para botar aqui neste instrumento. Colocou ‘pífaro’ ou ‘pífano’. Mas o certo é ‘pife’, quatro letrinhas só”, diz Sebastião.

Depois que ganhou o primeiro de seu pai, Manuel Biano, Sebastião começou também a fabricar o pife. “Eu sou caprichoso, faço um instrumento desse dar certinho com a flauta da fábrica. E olha que meu pife ganha no tom. É mais alto”, afirma rindo.

Se hoje Seu Biano não consegue mais entrar na mata para procurar “a taboca boa que só nasce em terra de brejo”, ele continua usando a mesma criatividade de criança com o jerimum. Teve a ideia de transformar o cano da própria bengala em um pife, que usará em uma parte do show em São Paulo.

A madrugada é a hora preferida de Sebastião para compor as músicas que ele diz que “já vêm prontas” na sua cabeça. “De 4h a 6h tem essa bondade para o artista. Vem todo tipo de música no seu ouvido. Mas não pode dormir senão perde”, afirma.

A inspiração também vem dos sons da natureza. “A carreira de um animal, o compasso do som chocalho no pescoço, tudo inspira música”, diz.

O toque para Lampião

Retirante da seca, a família Biano se mudou de Alagoas para os arredores de Caruaru, em Pernambuco, onde se estabeleceu por muitos anos. Foi lá que Manuel Biano, que também era lavrador e vaqueiro, criou a primeira formação da banda de pífanos junto com os dois filhos pequenos.

Nessa época ocorreu o encontro da família com Virgulino Ferreira, o Lampião. Sebastião conta que o cangaceiro tinha ido pagar uma promessa durante a celebração da novena e encontrou as crianças sentadas em um banco com os instrumentos na mão.

“Ele apareceu de dentro da mata com 50 cangaceiros para chegar na igreja. A gente já tava todo molhado. Eram três meninos e meu pai, que era o único homem formado que tinha na banda. Ninguém falava nada, a língua ficou enrolada dentro da boca de medo. A gente já tinha medo de Lampião quando estava a 10 léguas de distância, imagina pertinho assim”, diz.

Segundo Sebastião, Lampião então pediu que os garotos tocassem a música do seu bando. “’Vocês são tocador, né? Vocês sabem tocar meu toque?’”.

“Deus ajudou, até que acertemos os dedos na nota do pife, porque parecia que não tinha buraco nenhum. O medo é fogo. Mas aí toquemos. Quando parou, Lampião disse assim para os dois capangas: ‘Vocês tão vendo esses meninos como é que tocam? E vocês, dois cavalões desses, não tocam piroca nenhuma’. Ele deu valor. Foi a palavra que ele disse. Até hoje está guardada na minha cabeça”, conta Seu Biano.

Sebastião Biano mostra o Grammy Latino que ganhou em 2004 com a Banda de Pífanos de Caruaru — Foto: Fábio Tito/G1

Homenagens aos cem anos

Depois de construir carreira no Nordeste junto com a banda da família, Sebastião se mudou para a cidade de São Paulo ainda nos anos 70. Hoje vive com uma de suas filhas – dos 16 que teve – em Suzano, na Grande São Paulo.

Como parte das comemorações do centenário, Seu Biano voltou a Caruaru no dia do seu aniversário, em 23 de junho, para receber uma homenagem na tradicional festa de São João do município. Três anos antes já havia recebido o título de "Cidadão Caruaruense".

“Foi bonito, viu? Foi uma festa que nunca tinha visto daquele jeito. Eles pediram que eu fosse fazer meu aniversário em Caruaru. Porque meu pai é enterrado lá, também meu irmão. E talvez, quando eu falecer, eu vá para lá de novo”, diz.

Mas se depender dele, esse dia ainda vai demorar. “Cem anos não são cem dias. É um bocadinho de chão. Mas Deus vai me dar muito mais do que isso ainda”, afirma.

Shows no Sesc Pompeia

As apresentações da Banda de Pífanos de Caruaru em comemoração ao centenário de Sebastião Biano acontecerão no sábado (27) e no domingo (28) no Sesc Pompeia, na Zona Oeste de São Paulo. O ator Gero Camilo estará no palco, nos dois dias, interpretando “causos” de Seu Biano. No sábado, o show terá participação de Zeca Baleiro. No domingo, da banda A Barca.

Data: Sábado (27) às 21h. Domingo (28) às 18h
Local: Sesc Pompeia - R. Clélia, 93 - Água Branca, São Paulo
Ingressos: De R$ 9 a R$ 30
Mais informações: site do Sesc Pompeia

Clique no link para ver todas as fotos e ao vídeo.


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DR. JERÔNIMO VINGT-UM ROSADO MAIA


Dr.Jerônimo Vingt-un Rosado Maia da família numerada de Mossoró,. Uma das maiores personalidades da cultura do Rio Grande do Norte e principalmente da sua cidade Natal Mossoró. Um escritor/historiador muito admirado.

Nós que fazíamos a Editora Comercial nos anos 70 se estendendo até os anos 80 trabalhamos muito para ele confeccionando os seus livros.

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LUIZ SOARES, EDUCADOR EXEMPLAR

Autor – Raimundo Nonato da Silva – Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN
Publicado originalmente na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, edição de número 70, páginas 25 a 30, Ano – 1980.
ATENÇÃO – Nota do Blog Tok de História – Quando foi realizada a transcrição desse texto, foram acrescentados parágrafos e fotos que não existiam no material original.
O açuense Luiz Correia Soares de Araújo (1888-1967) foi o orador da primeira turma de diplomados pela Escola Normal de Natal (1910). Uma notável vocação de educador, que se projetou pela vida toda. Homem simples e austero, perseverante e dinâmico, digno chefe de família, tornou-se, principalmente, o paladino insuperável do escotismo na terra potiguar. Combateu tenazmente o jogo, o alcoolismo, o fumo e todos os males que podem comprometer o futuro da juventude.

Seus pais eram primos. Ele, Pedro Soares de Araújo (1855-1927), também açuense, dos Soares de Macedo do pé da Serra da Estrela, (Vila do avô), perto de Coimbra, e da Ilha de São Miguel (Ponta Delgada), nos Açores, tenente-coronel da Guarda Nacional, político muito hábil e de grande influência, exerceu por mais de vinte anos, seguidamente, o cargo de Inspetor do Tesouro do Estado (Secretário da Fazenda) e, em diversas legislaturas, o mandato de deputado estadual, quase sempre integrando a Mesa da Assembleia. Ela, Ana Senhorinha Soares de Araújo (1855-1941), dos Pereira Monteiro, de Serra Negra do Norte, onde nasceu, parenta próxima, também, dos Saldanha e dos Dantas, estes últimos da Serra do Teixeira, na Paraíba.
Escola Estadual Almino Afonso, Martins, Rio Grande do Norte – Fonte –https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Escola_Estadual_Almino_Afonso,_Martins_(RN).jpg
Luiz Soares, como diretor e professor, iniciou as atividades no Grupo Escolar Almino Afonso, de Martins (1911), sendo removido, no ano seguinte, para o de Açu, cujo patrono, tenente-coronel José Correia de Araújo Furtado (1788­ 1870), seu bisavô, fizera parte da Junta de governo Provisório da Província, após a Independência (1823). Todavia, o destino do jovem mestre estava no bairro do Alecrim, criado na Capital em 1911 e ao qual veio dedicar cinquenta e quatro anos de suas múltiplas atividades, sempre no Grupo Escolar Frei Miguelinho, que inaugurou em 21 de abril de 1913 e só teve de deixar no dia de sua morte, em 13 de agosto de 1967, com o estabelecimento já transformado em Instituto Padre Miguelinho. Tão longa a ininterrupta permanência, no cargo de Diretor, na mesma casa de ensino público, talvez seja, caso único no Brasil. De início, com ele lecionavam as professoras Natália Fonseca, Carolina Wanderley e Beatriz Cortez. As aulas começavam as 10 e terminavam às 14 horas. O porteiro era o poeta Antônio Glicério. Luiz Soares chegava num burrinho, vindo de seu pequeno sítio Taba-Açu, na rua Apodi.
Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92.

Como era o Alecrim, nos primeiros tempos?
O bairro começava no Baldo, um reservatório das águas que desciam do Barro Vermelho, pela mata da Passagem. Daí, prosseguiam para o Oitizeiro, por dentro da Usina Elétrica, dirigida pelo mecânico alemão Johann Bragard, situada defronte da Santa Cruz da Bica. Poucas ruas e casas. Mais adiante, largas avenidas numeradas, repletas de mata-pasto e se prolongando, quase desabitadas, em direção ao Tirol. Existiam o Cemitério Público, inaugurado em 1856, o Isolamento da Piedade (Hospício de Alienados), cuja construção fora iniciada em 1882 e a Escola de Aprendizes Marinheiros, que principiara a funcionar em 1908. Com o tempo, foram chegando aos prédios a luz elétrica e a água encanada. A linha de bondes demorou um pouco. Candeeiros e lamparinas iluminavam as casas. Quem não tinha poço ou cacimba no quintal tratava de obter água em chafarizes públicos, junto aos poucos cata-ventos. Lá para o quilômetro seis dos trilhos da Great Western funcionavam, em prédios adaptados, o Isolamento de São João de Deus, para tuberculosos e o Isolamento de São Roque, para variolosos. A pequena igreja de São Pedro, na praça Pedro Américo (hoje Pedro II), foi alargada e elevada após a criação da Freguesia, em 1919. O padre alemão Fernando Noite, da Ordem da Sagrada Família, vigário local, promoveu até mutirão, nas tardes de domingo, quando, para as obras, muitas pessoas, inclusive meninos, iam buscar tijolos e telhas junto à linha férrea e subiam pela rua Sílvio Pélico.
Santa Cruz da Bica – Foto – Antonio Soares – Fonte – http://avelino7.rssing.com/chan-6161222/latest.php#item12
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E os principais habitantes do bairro, na época?
No Barrro Vermelho, constituído de sítios de muitas fruteiras, alguns com água corrente, pássaros cantando por toda parte, locais privilegiados para os melhores piqueniques e festas juninas, residiam o juiz federal Meira e Sá, o tenente João Bandeira de Melo, do Batalhão de Segurança; o comerciante Joaquim das – Virgens Pereira; o guarda-mor da Alfândega Carlos Policarpo de Melo, o escriturário do Tesouro Estadual João Fernandes de Campos Café, também pastor protestante; a família Melo, de Augusto Severo, e outros.
Na atual Praça Pedro II, do lado direito: Os comerciantes Alfredo Manso Maciel; José Antônio Fernandes e Isidro José da Rocha, os proprietários Elpídio Estelita Manso Maciel (Esteio Manso) e Pedro Joaquim Lins; os funcionários federais José Augusto da Fonseca e Silva e José Ildefonso de Oliveira Azevedo; o fiscal da Inspetoria Geral de Higiene (Secretaria de Saúde Pública) Antônio Cavalcanti de Albuquerque Maranhão (Cavalcanti Grande); do lado esquerdo: Os comerciantes Clínio e Teódulo Sena e Francisco Antônio Fernandes; o capitão Joaquim Andrade de Araújo, do Batalhão de Segurança; o pistonista José Alves de Melo, o sacristão Francisco Antônio do Nascimento, depois oficial comissionado do Exército (tenente Chico); o tenente João Alexandre de Vasconcelos (Joca de Xandu), que combateu em Canudos; o desembargador Hemetério Fernandes Raposo de Melo, cuja casa foi ocupada em seguida pelo fiscal de consumo José Ribeiro de Paiva.
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Na rua Boa Vista, no centro da qual havia enorme barreiro: O tenente Inácio Gonçalves Vale, do Batalhão de Segurança e o comerciante João Andrade. Na rua General Fonseca e Silva: O oficial de justiça Abílio César Cavalcanti, depois delegado auxiliar da Capital e juiz de direito no interior, e o administrador do Hospício, Cândido Henrique de Medeiros, que fundou, em 19 de julho de 1914, a Conferência de São Pedro, dos vicentinos e a presidiu até quase o fim da vida. Cândido Medeiros (Seu Candinho), à frente dos confrades, prestou grandes serviços à pobreza do Alecrim e lecionou à noite, por algum tempo e sem remuneração, num dos salões do Grupo, tendo constituído, talvez, o primeiro curso, no Estado, de alfabetização de adultos. Em sua residência, seu filho Lauro, com alguns rapazes do bairro, fundou em 1917 e presidiu o Alecrim Futebol Clube. Os times treinavam e jogavam, inicialmente, num campo improvisado, em local para novo cemitério, nas proximidades da capelinha de São Sebastião, na Baixa da Beleza (rua Coronel Estêvão). O goleiro do quadro principal era o estudante João Café Filho, futuro Presidente da República.
João Café Filho – Fonte – http://www.brasilescola.com
Na rua América: João Antônio Moreira, carteiro dos Correios, que organizava e ensaiava, no quintal, anualmente, para o Carnaval, o Bloco Alecrinense, que todos chamavam A Maxixeira porque seus foliões desfilavam como verdureiras; Faustino de Vasconcelos Gama, administrador do Cemitério, que, nas festas natalinas, costumava mandar exibir, defronte da morada, para o público em geral, o Bumba-meu-Boi e os Congos, já que Pastoril ou Lapinha, Boi de Bonecas e João Redondo eram apresentados dentro de sítios ou salas.
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Na rua Borborema: Os irmãos José e Francisco Martins Pinheiro, funcionários do Tesouro Estadual; os comerciantes Vicente Barbosa, João Luiz de França, Bento Manso Maciel, Luiz Rogério de Carvalho e Genuíno de Sousa Menino; o líder João José da Silva(João Ponche), da Liga Artístico-Operária, da Cidade Alta e o sargento-enfermeiro da Marinha Serôa da Mota, que realizava na residência sessões do Espiritismo.
Na rua Amaro Barreto: Os comerciantes Antônio Jeremias de Araújo e Manoel Firmino e o tabelião Miguel Leandro, que ensaiava em seu sítio o melhor Fandango natalense e o levava, nas festas de fim de ano, com a Nau Catarineta, a um grande tablado, na atual praça Gentil Ferreira. Cosme Ferreira Nobre, oficial de justiça do Tribunal, instalou nessa rua uma assembleia dos Pentecostistas. Havia por ali, pontos do chamado Jogo do Bicho, que em Natal não era tido como contravenção penal.
Região do bairro do Alecrim, nas proximidades da Praça Gentil Ferreira – Fonte – rnblogprog.wordpress.com
Na rua Coronel Estêvão, a mais extensa: O desembargador Antônio Soares de Araújo, então juiz de direito da Capital, que, à falta de médico no bairro, forneceu todas as manhãs, à sua custa e gratuitamente, durante anos. Doses de homeopatia aos doentes sem recursos, que o procuravam; o cônego Estêvão José Dantas, professor do Atheneu Norte-Rio-Grandense, que cooperava também nos atos religiosos da Paróquia; o guarda-livros Manoel Pinto Meireles, os poetas Damasceno Bezerra e Manoel dos Santos Filho; o capitão Felizardo Toscano de Brito (que voltaria a morar no Alecrim quando general da Reserva), Mário Eugênio Lira e José de Vasconcelos Chaves, secretário e tesoureiro da Prefeitura; a viúva Adelaide Fonseca (os quatro últimos na faixa conhecida como Alto da Bandeira); os comerciantes Manoel dos Santos Morais, Francisco Gorgônio da Nóbrega, Francisco das Chagas Dantas (Seu Chaguinhas) e Antônio Ferreira da Silva (Tota de Chicó), os três últimos os organizadores da Feira do Alecrim.
A antiga praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim (Natal/RN) onde se vê, no centro da foto, o velho bar e restaurante Quitandinha – Fonte – http://www.somdovialejo.com.br/?p=23415D

Na Avenida Alexandrino de Alencar: O coronel Manoel Lins Caldas, ex-comandante do Batalhão de Segurança (hoje Polícia Militar); o professor José Elídio Carneiro, da Marinha; o comerciante Sandoval Capistrano e o tesoureiro do Correio Geral, Pedro da Fonseca e Silva, o qual exercia também a função gratuita de delegado de polícia do bairro. Ali, ficava também o Posto Policial.
Na Rua Sílvio Pélico: O funcionário da Alfândega Antônio de Araújo Costa. Em casa próxima à Escola de Aprendizes Marinheiros, morava o comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, que matriculava os filhos no Grupo Escolar, o mesmo fazendo os que serviam naquele estabelecimento militar. Os pequenos cariocas, uns mais adiantados e esclarecidos, eram escutados com grande curiosidade pelos coleguinhas do bairro, sobre coisas do Rio de Janeiro. As noites eram tão tranquilas que, muitas vezes, se conseguia ouvir, das imediações do Grupo, o toque de silêncio, das vinte e duas horas, do clarim do Esquadrão de Cavalaria, no Tirol (avenida Hermes da Fonseca). Esse o Alecrim dos dez primeiros anos de sua criação, o bairro que o professor Luiz Soares, educando gerações, viu diariamente, durante mais de meio século, crescer e progredir.
Escola de Aprendizes Marinheiros de Natal.
Naquele tempo, o passeio-escolar mensal, para que os alunos aprendessem melhor a amar a Natureza, era vez por outra dirigido pela avenida Alexandrino rumo à Lagoa do Enforcado ou à Lagoa Seca. Um dia muito alegre para mestres e discípulos. O próprio diretor do Grupo organizava, com especial carinho, anualmente, duas comemorações — a Festa da Árvore e a Festa das Aves. Diversos alunos, na véspera, munidos de gaiolas e alçapões, percorriam sítios do Barro Vermelho e as matas do Réfoles, a fim de apanharem passarinhos, os quais eram soltos, alegremente, na manhã seguinte, quando as alunas, sob a regência de Carolina Wanderley, entoavam o Hino às Aves. A pobreza dominava os alunos. Não conheciam Papai Noel. Nem havia a merenda-escolar do governo. O pequeno horário de recreio, nas áreas internas, tinha a supervisão benéfica dos inspetores de alunos, Laurentino Ferreira de Morais (que faleceu como coronel da Polícia Militar) e Maria Elisa Pinto Meireles. Também não se adotava, em estabelecimento primário, a prática organizada de esportes. Muitos aprenderam a nadar fugindo de casa, à tarde, a fim de se banharem na maré, no Réfoles. Outros, se iniciaram no futebol na via pública, com bolas-de-meia, ou então adquirindo, em clubes, bolas de couro já imprestáveis, que enchiam com bexigas de boi obtidas na Matança (Matadouro Público), situado junto à grande curva da via férrea, no Oitizeiro. Aqui e ali, com muita dedicação, o diretor e as professoras conseguiam uma ou outra diversão gratuita para os discípulos.
Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, o inglês criador do escotismo – Fonte – wpsess.octhium.com.brD

O grande ideal do professor Luiz Soares foi sempre ver o Escotismo difundido, com eficiência, por todo o território nacional, por lhe parecer a melhor escola de preparação moral e cívica infanto-juvenil. Foi também o que procurou demonstrar, no Catete, em 1922, quando recebido em audiência pelo Presidente Epitácio Pessoa.
Henrique Castriciano de Souza na década de 1930.
De início, participou com Henrique Castriciano e Monteiro Chaves, em 1917, da fundação da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte. Levou para ela cerca de trinta alunos de seu Grupo Escolar. A entidade nem chegou a completar dois anos de funcionamento. Por isso, ele fundou, em 14 de julho de 1919, a Associação de Escoteiros do Alecrim, hoje incorporada à Regional de Escoteiros.
Frente do prédio da Associação dos Escoteiros do Alecrim.
Havia um antigo chalé, coberto de zinco, na atual praça Pedro II, esquina da rua Soledade, utilizado para fábrica de redes e, em seguida, para cinema, no qual atuava, como pianista , o futuro maestro Waldemar de Almeida. Pois ali nasceu a Associação, naquela radiosa manhã de 1919. Setenta e cinco escoteiros, quase todos alunos do Grupo Escolar, desfilaram pelas ruas do bairro e participaram da missa campal, na Igreja de São Pedro, comemorativa da assinatura do Armistício, após a Primeira Guerra Mundial.
A Associação de Escoteiros do Alecrim possuía um enorme prestigio em Natal na década de 1920, onde era comum receber visitantes ilustres, como no caso dessa imagem, quando os tripulantes do hidroavião brasileiro JAHU, no ano de 1927.

O professor Luiz Soares obteve do governo Ferreira Chaves a construção dos salões do Grupo que ficam do lado da rua Coronel Estêvão e o instrumental para uma banda de música de dezesseis figuras, regida por José Gabriel Gomes da Silva (pistonista), funcionário dos Correios e pelo sargento Manoel Florentino de Albuquerque (clarinetista), depois guarda-fiscal do Tesouro. As aulas teóricas de Música começaram em 2 de maio de 1918 e já em 15 de outubro essa banda escolar (a Charanga do Alecrim) estreava fazendo alvorada pelo natalício do Governador, na residência oficial deste, à praça Pedro Velho.
Apesar dos inúmeros serviços prestado ao Rio Grande do Norte, acredito que o escotismo era para o Professor Luiz Soares algo ao qual ele se dedicou com mais afinco e atenção.
Do governo Antônio de Sousa, conseguiu a criação, em 1920, do Curso Complementar, noturno, inclusive para adultos, sendo designado, no começo, para a cadeira de Geografia e História do Brasil. As outras ficaram regidas pelos professores Israel Nazareno de Souza (Português), Francisco Ivo Cavalcanti (Aritmética) e Anísio Soares de Macedo (Francês). Funcionou também no Grupo, naquele governo, uma Escola Profissional. Obteve, igualmente, que, no Frei Miguelinho, a quinta-feira fosse considerada Dia do Escoteiro, terminando as aulas ao meio-dia. O pavilhão nacional era hasteado no início, com execução, pela Charanga, do Hino à Bandeira, cantado pelas alunas. As áreas e salões do Grupo eram ocupadas, à tarde, pelos exercícios dos escoteiros, os quais desfilavam, em seguida, pela via pública precedidos da banda de música e de banda marcial. Depois, a Bandeira era arriada ao som do Hino Nacional e Luiz Soares proferia palestra sobre tema de Moral e Civismo.

Mas, não foi somente o bairro do Alecrim que absorveu as atividades do grande educador. Em 1927, ele reorganizou, com outra denominação, a Liga de Desportos Terrestres do Rio Grande do Norte, tendo sido eleito presidente da nova entidade. Esse trabalho profícuo levou o Presidente Juvenal Lamartine, seu parente e amigo, a construir, em 1929, no Tirol, o Estádio que conserva o nome daquele chefe de governo. No mesmo ano, conferiu a Luiz Soares, no Dia do Professor, a medalha de Honra ao Mérito. Houve elementos frustrados na vida que chegaram a apontá-lo como “amigo de todos os governos”.
Aspectos da arquibancada do Estádio Juvenal Lamartine na sua inauguração.
Mas, na verdade, Luiz Soares nada pedia para si, não era político, viveu e morreu pobre. Explicava apenas, naquele tempo, que nenhum empreendimento educacional, num meio pobre, poderia esperar completo êxito sem a decisiva cooperação dos governos. Esse desprendimento pessoal e a probidade do dedicado mestre mereceram, igualmente, reconhecimento e admiração dos revolucionários de 1930.
Escola de Aprendizes Artífices de Natal – Fonte – Tribuna do Norte
Vitorioso o movimento em todo o país, da Paraíba quiseram indicá-lo para o magistério federal, a fim de dirigir a Escola de Aprendizes Artífices de Natal (hoje Liceu Industrial). Não obstante as grandes vantagens pecuniárias, em relação aos parcos vencimentos do magistério estadual, recusou delicadamente a honrosa lembrança para pedir apenas que o deixassem prosseguir em sua obra no Alecrim.

Vinte anos depois, na esperança de obter maiores benefícios para a coletividade e a fim de atender a insistentes apelos de alguns ex-alunos, concordou em disputar eleição para Vereador. Seus pares, em expressiva homenagem, o elevaram à Presidência da Câmara Municipal. A experiência, porém, não o satisfez. Deixou de concorrer a cargo político.
Luiz Soares foi um dos fundadores da Associação dos Professores e pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, à Academia Potiguar de Letras e ao Conselho Estadual de Educação e Cultura. Cooperou no Instituto de Proteção e Assistência à Infância e em outras entidades educativas, sociais e esportivas. Partiu dele a criação das Faculdades de Odontologia, Farmácia e Direito, havendo participado das atividades destinadas à instalação e funcionamento dessas escolas superiores. Um cidadão verdadeiramente útil à coletividade natalense.
Em sua incansável operosidade, viajou em 1950 até Roma, a convite de seu filho Pedro Segundo, procurando localizar e movimentar, no Vaticano, o processo de beatificação do padre João Maria Cavalcanti de Brito, o apóstolo da Caridade, o inesquecível vigário da Catedral de Natal.
Cuidou da assistência médico-hospitalar à população, conseguindo construir a Policlínica do Alecrim, hoje Hospital Professor Luiz Soares. Recebeu também seu nome o velho Grupo, de que foi o único Diretor e que passou a funcionar dentro do Instituto Padre Miguelinho. Uma rua do Alecrim lembra igualmente, aos habitantes de Natal o nome do professor emérito. Não se poderia aqui enumerar tudo quanto ele, através de decênios, realizou no Grupo Escolar e no Escotismo. Basta se recordar, nestas linhas, que seus escoteiros se iniciaram precisando, por força das circunstâncias, prestar assistência a muitos desvalidos, durante situações calamitosas.
Primeiro, em 1918, na terrível epidemia conhecida por “ influenza espanhola” , num Posto de Emergência, no próprio estabelecimento de ensino, para distribuição de remédios e alimentos até a domicílio. Em seguida, no atendimento a flagelados da seca de 1919, os quais tiveram de ser abrigados, pelo governo, em galpões de palha, de más condições higiênicas, improvisados em terreno baldio no Barro Vermelho. Deus protegeu, porém, a saúde daqueles jovens.
A medalha Tapir de Prata criada com a fundação da União dos Escoteiros do Brasil, em 1924,  e definida nos regulamentos como “a recompensa honorífica de mais alto mérito escoteiro”. Fonte – http://www.escoteiro.org
Teve Luiz Soares, nos últimos tempos, a felicidade de receber a maior (e, por isso, muito rara) das condecorações a um Chefe-Escoteiro: A Comenda do Tapir de Prata, que o General Sir Robert Baden Powell — o criador do Escotismo — reservou àqueles que, em qualquer parte do mundo, houvessem prestado, durante longos anos, com abnegação e patriotismo, inestimáveis serviços à instituição. Nunca poderão ser esquecidos os que fizeram da educação da infância e da juventude verdadeiro apostolado.
Material extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.
http://blogodmendesemendes.blogspot.com

AS MOÇAS DA “ MARANDUBA”

Por Sálvio Siqueira
Foto com as cangaceiras áurea e Rosinha( Irmã de Adelaide). Infelizmente não conguimos registros de Adelaide. 
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Na fazenda Maranduba, fincada no município de Poço Redondo, Estado sergipano, morava o casal Lé e Pureza.
                                                     
Lé, como tantos outros homens da época, era vaqueiro, assim como seus dois irmãos, Josias e Luiz.

                                                    Pureza era filha do agricultor João Januário, que manipulava sua enchada nos barros da localidade Curralinho.

Umbuzeiro da Fazenda Maranduba - grupo LCN

                                                    O casal, cumprindo a “Lei’ escrita no livro Maior, fez com que crescesse e multiplicasse sua prole. Tiveram seis filhos amados. Criados como todos da região, com muita dificuldade e sacrifício. Segundo a obra literária do ilustre Alcino Alves Costa, “LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO”, na página 137, ‘Ele’ nos relata que os nomes dos amados filhos do casal Lé e Pureza, eram Adelaide, Rosinha, Cidália, Arabela e seu único filho homem, Zequinha.

                                                   Zequinha, como tantos, só via-se como adulto, quando 'lá' chegasse, um bom vaqueiro, imitando seu velho pai e tios, pois todos eram afamados vaqueiros em toda aquela região.

As meninas, também como tantas da época, tinham em seus sonhos seus ‘príncipes, encantados, seria querer de mais, mesmo, simplesmente um príncipe, já estava de bom tamanho. A vida era dura para os meninos que logo, logo, tinham que exercerem funções de adultos sem nem mesmo passarem, ou melhor, viverem suas adolescência. Para as meninas a coisa era mais dura ainda. Não podiam, muitas das vezes, nem se quer estudaram, para não ficarem sabidas, pois mulher ‘sabida’ era um perigo.

Cangaceira Rosinha - Grupo LCN

Naquele tempo, por aquelas bandas, começaram a circularem em volta da casa de Lé dois cangaceiros. Mariano e Criança. O Primeiro, após perder Otília, apaixona-se por Rosinha. O segundo, há muito estava loucamente apaixonado por Adelaide, irmã de Rosinha.

Sendo, na época quem dava as ‘cartas’ por aquelas terras, os dois cangaceiros não tiveram dificuldades de levarem para as tristes fileiras do cangaço as irmãs. Ficaram distantes por os dois atuarem em grupos e áreas diferentes. Mariano vivia e praticava seus crimes pras bandas de Porto da folha. Já Criança, atuava nas redondezas de Poço Redondo.

E o esperado acontece. Adelaide engravida. Sua gravidez, como de todas as outras mulheres que fizeram parte do cangaço, não foi moleza. Levanta daqui, corre pra lidebaixo de sol e chuva, durante o dia ou mesmo a noite, eram uma constante em suas vidas.

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Segundo a obra citada, Criança tem grande amor e carinho por Adelaide, resultando firmeza e lealdade para com a sua companheira.

Quando aproxima-se o momento da sua companheira parir, Criança, conversa com Mané Moreno, e vão para um coito, distante, conhecido e aconchegante, se podermos dizer que haviam coitos assim, para que Adelaide ‘ganhasse’ seu filho.

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As horas passam, as contrações há muito iniciaram-se e, com o passar do tempo, seu retorno começa a ficar quase sem intervalos. Não tem jeito. A criança do Criança não vem ao mundo, e sua companheira já tem bastante tempo que sofre.

Mandam buscar uma parteira que morava nas imediações, e esta, já prevendo complicações, já trás outra para lhe ajudar. Tudo em vão. O sofrimento da cangaceira aumenta com o passar das horas e a criança resolveu não vir ao mundo.

Em uma rede, a transportam para uma localidade que tivesse algum recurso como ajuda, nada. Não tem como parir a companheira de Criança.

Valendo-se novamente da rede, os cangaceiros procuram outro lugar para que Adelaide desse a luz... Um local que tivesse uma pessoa para ajudar, terminando assim com tão longo sofrimento. No caminho, alguém verifica e diz que o feto já está morto... Adelaide, de tanto sofrer, talvez não tenha escutado que seu filho estava sem vida em seu ventre. Embaixo de uma frondosa árvore, Adelaide, dentro da rede começa a perder suas, já tão fracas, forças... Criança, percebendo que irá perder sua amada fica louco. Grita, chora, fala, urra palavrões na tentativa de amenizar a angústia que lhe invade... Seu ‘compadre’, Mané Moreno, vendo que o amigo estava em estado complexo, sem noção do que fazia, tenta evitar uma catástrofe maior, retirando o ferrolho do mosquetão do amigo, assim como retira também, o carregador da sua pistola.

Sua amada dá seu último suspiro. Sem despedir-se do companheiro, parte para o outro ‘lado’, onde, talvez, seu filho a esperasse. Fazem seu enterro. A dor, ainda visível no semblante do cangaceiro, não quer ir-se. Naquela vida não havia tempo pra isso... Guardar dores e sentimentos por alguém que tenha morrido.

Cangaceiro Mané Moreno - Grupo O Cangaço

Seu compadre, Mané Moreno, compra várias garrafas de aguardente e diz que ele precisa beber até embriagar-se, para esquecer o que aconteceu.

Assim faz Criança. Após o enterro de Adelaide, ele toma um dos maiores porres de sua vida e, de certo tempo pra frente, junto aos companheiros, começam a dançar e cantar até que o dia raiasse... Nas quebradas do Sertão.


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