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domingo, 21 de abril de 2019

QUARTA-FEIRA SANTA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.094 – Literatura viva
Aos escritores alagoanos

 
Lembrei-me do antigo relógio da Matriz como se aguardasse as doze badaladas costumeiras. Nem era meia-noite ainda. A grande lua redonda sorria como nunca no céu límpido, extremamente iluminado. Silêncio sepulcral na minha rua, ausência total de humanos, talvez somente almas em passeio noturno. Uma brisa leve soprava como algo vivo; e apenas um gato gordo e peludo mostrava-se na via tentando escalar certa árvore adormecida. O riso do céu continuava na Quarta-Feira Santa, bela e lúgubre numa solidão de fim de mundo. Veio à mente a novela “Noite” de Érico Veríssimo; a matraca de luto agitada pelo saudoso sacristão Jaime; o comprido das procissões; sons harmoniosos e inexistentes de violão boêmio. Um arrepio na pele. 
 
                                     (FOTO: B. CHAGAS).
Lá no alto do relevo perto e longe, uma luz de poste acenava. Para quem se mostrava aquele foco? Tristonho como o roxo dos panos que esconde os santos, solucei sem soluços. Sarjetas enxutas, natureza morta, silêncio calado na minha rua, em todas as ruas... Metais reluzentes nas antenas retorcidas, ausência de pirilampos, nem um grito dentro da noite, nem metamorfose de bitucas na calçada. Espicho o pescoço ignorante. Monto no tempo e revejo o leito seco do rio ali pertinho, a areia grossa, a languidez de outra Semana Santa, no passeio solitário do poeta. Novamente o hálito misterioso daquele dia e desta noite soma-se às dores de Maria e sopra no coração do sutil observador da rua. O que estará pensando os céus?
Recolho-me à noite de dentro, à noite sem o riso farto da lua cheia, ao mundo das filosofias, dos enigmas, dos idílios reticentes ou das virtudes duvidosas. Portão fechado, passos de bichano, um café pequeno que transgride a hora, perguntas mudas, respostas sem tempo... Uma implosão de ais. Não sei se a madrugada entra na Semana Santa ou se a Semana Santa entra pela madrugada. Será que o gato subiu na árvore? Será que surgiu algum retardatário na rua? Não posso responder pelas bitucas, nem pela luz do poste que imita estrela. Estou perdido e achado dentro da “Noite” de Érico Veríssimo, de um conto de Fábio Campos ou da angustiosa vivência de Jesus.
Hoje é noite de quarta-feira, de Quarta-Feira Santa.


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AMO (E TANTO AMO VOCÊ)


*Rangel Alves da Costa


Mil razões. Todas razões para te amar. Além de gostar, além do prazer que dá, aprendi a certeza de te amar. E tanto amo você.
Amo o entardecer, do dia o envelhecer, a magia do instante e sua canção de ninar para a noite adormecer. Ao longe a luz apagando, logo a lua vai descer.
E amo você...
Amo da matutice o saber, de seu pouco ou nada ler, mas que na escola do mundo não há doutor de maior merecer. Basta olhar adiante e sabe tudo descrever.
E amo você...
Amo a mão velha e seu benzer pra todo mal combater, sua sabedoria sagrada e seu profundo conhecer, sua prece e suas folhas para a vida proteger.
E amo você...
Amo desamar o embrutecer e o vaidoso envaidecer, pois amo a simplicidade e a paz em cada ser, pois tudo achado demais não passa de um nada ter.
E amo você...
Amo o café derramado que logo começa a ferver, exalando um perfume de inigualável prazer, não bastando uma xícara, pois logo outra a beber.
E amo você...
Amo quem conscientemente sabe tão bem enlouquecer, fazendo o jamais feito sem loucura transparecer, pois conhece seus limites e até onde se perder.
E amo você...
Amo o amanhecer e o novo dia a nascer, iluminando a estrada e o que além possa se ter, abrindo os caminhos aos passos para cada sonho acontecer.
E amo você...
Amo o passado trazer para o distante reviver, como se fosse retrato chamado a novamente conviver, mesmo que doa a saudade, mesmo que cause sofrer.
E amo você...
Amo relembrar o menino pela rua a correr, tomando banho de chuva sem de nada temer, pois vivendo a sua infância e sem nada a lhe aborrecer.
E amo você...
Amo o silêncio da noite e minha pena a correr, escrevendo qualquer coisa daquilo que eu possa crer, talvez um verso de amor ou linhas de padecer.
E amo você...
Amo acender a vela e a face de Deus logo ter, fazer minha oração e ter a luz no escurecer, sentir o ânimo da alma e no espírito o poder.
E amo você...
Amo quem me chega suave, sem arrogância ou engradecer, que mereça um abraço e toda palavra a dizer, que traga contentamento e torne alegre o conviver.
E amo você...
Amo ter sede de vida e amo da vida beber, fartura do que preciso para um bom viver merecer, gota a gota na lição do que desejo aprender.
E amo você...
Amo o tempo que passa e o ponteiro a bater, hora a pós hora na vida e mais vida querer ter, pois é o relógio que temos antes de depois nada ter.
E amo você...
E por que amo tudo isso e amo tanto você? De nada adiantaria ter a noite e o amanhecer se tudo o mais que eu possa ter não venha tendo você.
Ter a vida e o viver é ter o viver com você.
Você, nome espalhado numa simples palavras, mas tão imensa e tudo, pois você é quem eu amo. E amo.

Escritor
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O Paraíso de Dona Fideralina: Sítio Tatu Por:Manoel Severo

 
 O Sítio Tatu de dona Fideralina Augusto Lima

Lavras da Mangabeira é um município encantador. Encravado na região sul do estado do Ceará, um dos grandes do Vale do Rio Salgado, acolheu a  primeira Avant-Premiére do Cariri Cangaço 2013, nos últimos dias 18 e 19 de maio, promovendo uma grande festa onde imperaram as fortes tradições da família Lavrense, tendo como personagem principal Fideralina Augusto Lima.

Entre o final do século XIX e início do século XX, Dona Fideralina comandava a partir de Lavras, os destinos de toda região. Possuía dois verdadeiros quartéis generais: Sua casa no centro de Lavras e seu amado Sítio Tatu. 

  A Emblemática Casa Grande do Sítio Tatu, berço dos Augustos. Abaixo, ao lado de Manoel Severo, um dos descendentes:Emerson Monteiro.

A Caravana Cariri Cangaço tendo como anfitrião o prefeito Tavinho e a secretária de cultura Cristina Couto partiu da visita à Casa de Dona Fideralina no centro de Lavras rumo ao emblemático Sítio Tatu. Percorremos cerca de 8 km, primeiro pela CE e depois em estrada carroçável  até nos surpreendermos com um verdadeiro paraíso: Tatu.

A primeira imagem, na entrada da fazenda: A Capela em ruínas, como podemos acompanhar na postagem imediatamente abaixo. Mantendo-se firme ainda a fachada, guardava no alto de sua pequena torre o velho sino de cobre. Neste momento me confidenciava um dos trinetos de Fidera, Emerson Monteiro: "Severo nasci aqui e passei boa parte de minha infância brincando nesta capelinha, momentos inesquecíveis". 

 O Tatu encanta pelos detalhes: O sertão de nosso chão é cheio de magia e beleza como a testemunha muda da pequena vela no crucifixo do "terreiro da Casa Grande"
 

Realmente momentos inesquecíveis; daqueles que povoam as mentes e os corações dos muitos meninos sertanejos de nosso torrão nordestino, mas momentos inesquecíveis também para cada um de nós que estávamos tendo o prazer de pisar aquelas terras que guardavam tanta história, memória e tradição.

Só não esperávamos tanta beleza ! O Sítio Tatu com sua Casa Grande, Capela, Estábulo, Casa de Apoio, o Velho Engenho, o Açude, as Árvores frondosas, enfim; as imagens desta postagem mostram aos nossos leitores a razão de termos usado letras maiúsculas à cada item citado...

Clã dos Augusto do século XXI. Memória e tradição em Lavras da Mangabeira
Ângelo Osmiro na varanda de Fideralina

Nos surpreendeu também sobremaneira a grande mobilização feita em toda a cidade por conta do Cariri Cangaço; nessa visita ao Sítio Tatu chegamos a ter nos acompanhando cerca de 250 pessoas, o que em muito confirmou o grande compromisso da organização local do evento sob os cuidados da equipe de Cristina Couto.

Ponto alto da visita foi a fotografia histórica dos descendentes de dona Fideralina Augusto Lima, presentes ao evento, diante da Casa Grande do Sítio Tatu. Ali estavam cerca de 40 familiares do tronco legítimo dos Augusto, fato que nos deixou verdadeiramente honrados.

Ana Paula Monteiro e o velho engenho da fazenda
 Abaixo, Alberto Teixeira e o carro de boi do Tatu

Ao final ficou a certeza da grande força e do grande simbolismo daquele lugar e daquela brava gente. Lavras da Mangabeira como todo o Vale do Salgado e do nosso Cariri dignificam com sobra, a história de nosso sertão; desse povo forte e de alma pujante; do amado Ceará. Valew Lavras da Mangabeira, que venha agora o Cariri Cangaço Parayba !

Manoel Severo
Curador do Cariri Cangaço  


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Câmara Cascudo, Frederico Pernambucano de Mello, e o "Escudo Ético" Por:Honório de Medeiros


Como sabemos, a famosa “Teoria do Escudo Ético” de Frederico Pernambucano de Mello está exposta em três parágrafos do capítulo 4 do clássico "Guerreiros do Sol", abaixo transcritos a partir de sua segunda edição:
"Muito se tem falado nos paradoxos da chamada moral sertaneja. No Nordeste, talvez melhor que em qualquer outra região, sente-se a existência desse quadro de valores - inconfundível em muitos dos seus aspectos. Chega a ser quase impossível, por exemplo, explicar ao homem do sertão do Nordeste as razões por que a lei penal do país - informada por valores urbanos e litorâneos que não são os seus - atribui penas mais graves à criminalidade de sangue, em paralelo com as que comina punitivamente para os crimes contra o patrimônio. Não se perdoa o roubo no sertão, havendo, em contraste, grande compreensão para com o homicídio. O cangaceiro - vai aqui o conteúdo mental do próprio agente - não roubava, "tomava pelas armas"."
"Dentro desse quadro todo próprio, a vingança tende a revestir a forma de um legítimo direito do ofendido. "No sertão, quem se não vinga está moralmente morto", repitamos mais uma vez a frase tão verdadeira de Gustavo Barroso, conhecedor profundo desse paralelismo ético sertanejo."
"Ao invocar tais razões de vingança, o bandido, numa interpretação absurdamente extensiva e nem por isso pouco eficaz, punha toda a sua vida de crime a coberto de interpretações que lhe negassem um sentido ético essencial. A necessidade de justificar-se aos próprios olhos e aos de terceiros levava o cangaceiro a assoalhar o seu desejo de vingança, a sua missão pretensamente ética, a verdadeira obrigação de fazer correr o sangue dos seus ofensores. O folclore heroico, em suas variadas formas de expressão, imortalizava-o, omitindo eventuais covardias ou perversidades e enaltecendo um ou outro gesto de bravura. Concretizada a vingança, por um imperativo de coerência estaria aberta para o cangaceiro a obrigatoriedade de abandonar as armas, deixar o cangaço. Já não teria mais a socorrer-lhe a imagem o escudo ético por esta representado. Como então realizar tal vingança, se o cangaço era um bom meio de vida?"


Já tive oportunidade de observar que o “escudo ético” não é propriamente um epifenômeno da cultura moral sertaneja nordestina, muito menos apenas do cangaço. Essa opinião é corroborada, como se pode depreender, a partir da entrevista de Anthony Daniels à revista "Veja" de 17 de agosto de 2011 - edição 2230, ano 44, nº 33 -, na qual o psiquiatra e escritor inglês, ao analisar a influência da tese do suíço Jean Jacques Rousseau de que o ser humano é fundamentalmente bom, e que a sociedade o corrompe, afirma que esta prejudicou profundamente sua noção de responsabilidade: "Por influência de Rosseau, nossas sociedades relativizaram a responsabilidade dos indivíduos." 

Como digo sempre: a realidade está na mente, antes de estar na realidade. Trocando em miúdos: o racional antecede, em última instância, o real.
E continua: "O pensamento intelectual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma consequência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infelizmente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com frequência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas universidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram tratados dessa maneira."

Frederico Pernambucano de Mello
Exemplifiquei, em texto anterior, citando o exemplo ocorrido neste começo de século XXI, aqui no Rio Grande do Norte, e que já virou lenda, no qual se atribui a injustos mal tratos físicos da Polícia, o ingresso do célebre Valdetário Benevides Carneiro, líder do bando dos Carneiros, no crime. "Como não há justiça" teria dito em outras palavras Valdetário, "vou fazer a minha."
Ou seja: há o escudo ético, mas ele não é específico da moral sertaneja nordestina. Parece ser um epifenômeno decorrente da criminalidade, seja rural, seja urbana, não sendo suporte, portanto, para uma teoria que caracterize o epifenômeno do cangaço.
Por outro lado, especificamente no que concerne a essa famosa “teoria do escudo ético” de Frederico Pernambucano de Mello, é certo lembrar que Câmara Cascudo, em 1937, no seu “Vaqueiros e Cantadores”, já o expunha, no que diz respeito ao cangaço, quando no Capítulo denominado “Ciclo Social”, trata do “Cangaceiro”.
Para Cascudo, ao explicar por que a valentia, quanto aos cangaceiros, originava a “aura popular na poética” dos cantadores, necessário se fazia a existência, como pressuposto, do fator moral, que nada mais era que o “escudo ético”. Disse Cascudo:
“Para que a valentia justifique ainda melhor a aura popular na poética é preciso a existência do fator moral. Todos os cangaceiros são dados inicialmente como vítimas da injustiça. Seus pais foram mortos e a Justiça não puniu os responsáveis.
Teria lido Pernambucano de Mello “Vaqueiros e Cantadores”? Na bibliografia de “Guerreiros do Sol” o grande teórico do cangaço arrola, de Câmara Cascudo, “Tradições Populares da Pecuária Nordestina” e “Viajando pelo Sertão”. O mais provável é que ambos souberam perceber, com quase cinquenta anos de diferença, na história da violência rural sertaneja nordestina do final do século XIX e início do século XX, esse fato específico, qual seja, a justificativa moral para a entrada dos cangaceiros na vida bandida. 
A diferença é que Pernambucano de Mello transforma esse fato em algo determinante para explicar o cangaço, enquanto Cascudo propõe que o mesmo fato é fundamental para a existência da poética sertaneja nordestina de mitificação do cangaceiro
Honório de Medeiros - www.honoriodemedeirosblogspot.com.br
Conselheiro Cariri Cangaço
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20 DIA CONSIDERADO O DIA DO PADRE CÍCERO

Por Francisco Davi Lima

Hoje como é dia 20 considerado o dia do padre Cícero eu decidi fazer um desenho de seu rosto, pois eu considero esse padre como o cearense do século por sua grande manifestação tanto cultural como histórica.

Padre Cícero - Arte do Francisco Davi Lima

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=175606216764476&set=gm.664170140720832&type=3&theater&ifg=1

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JURITI O PÁSSARO HUMANO

Por José Mendes Pereira

Esse cangaceiro foi um dos que pagou caro pelas perversidades que praticou contra seres humanos. É claro que não devemos elogiar pessoas que vivem das maldades. Mas também não podemos aceitar que esses cruéis assassinos sejam maltratados de forma desumana. É o caso do Juriti, um assecla cheio de delinquências. Ninguém sabe o porquê de seu pensamento adverso em fazer somente o mal, coisa que só o pai celestial é quem sabe explicar.

O perverso não veio ao mundo marginal. Dedicou-se à marginalidade por falta de opção: escolas musicais, escolas de teatro, atletismo, cursos profissionalizantes, incentivo à leitura etc. Se isso um dia tiver franco, o jovem que não tem o que fazer, irá procurar participar da sociedade, juntando-se aos demais que pretendem ser alguém na vida.

 
Alcino Alves da Costa

O escritor Alcino Alves afirma em seu livro: "Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico", que o primeiro cangaceiro conhecido por Juriti, foi o João Soares, um assecla do bando dos marinheiro, agregado mais ou menos na década de vinte. Mas posteriormente, através de fazendeiro amigo, Lampião incorporou em seu respeitado bando o Manoel Pereira de Azevedo, cujo apelido ganhara "Juriti".   

Na madrugada do dia 28 de Julho de 1938, no momento da chacina lá na Grota do  Angico, no Estado de  Sergipe, Juriti e a sua companheira Maria, tiveram a sorte de se livrarem dos estilhaços de balas e conseguiram ludibriar o cerco.

Maria de Juriti e o escritor João de Sousa Lima - Foto do escritor

E sem condições de reagirem contra os policiais, embrenharam-se às matas, para ver se conseguiam uma distância e não serem pegos pelas volantes. Onze cangaceiros foram abatidos, inclusive o rei Lampião e a sua rainha Maria Bonita.

Após três meses do combate de Angico o cangaço quase todo fora enterrado juntamente com o rei Lampião, ficando apenas os bandos de:  Corisco e de Moreno.

 Corisco

Moreno

E cada um tomou o seu destino e a maioria foi para Jeremoabo, na Bahia, para se entregar às autoridades.         

O capitão Aníbal Vicente Ferreira comandante geral das forças de combate ao banditismo resolveu o problema dos remanescentes de Lampião com o coração, enterrando a razão juntamente com uma parte do  cangaço.

Centro - capitão Aníbal Vicente Ferreira

Ofereceu uma nova vida aos cangaceiros, assinou todos os documentos necessários à soltura, dando-lhes garantia de liberdade, encaminhando-os para se incorporarem novamente à sociedade.

Juriti foi um deles, que juntamente com Maria e o cangaceiro Borboleta (este sendo irmão do assecla Sabonete), entregaram-se as autoridades, sendo liberados. 

Mas o Juriti não sabia que alguém o procurava.

 
À direita, o primeiro 
é Sabonete irmão de Borboleta
 
Na década de quarenta, por má sorte de Juriti, o delegado de Canindé era o Amâncio Ferreira da Silva, um militar mais famoso daquela região, o sargento Deluz. Mesmo ele sabendo que o movimento social de cangaceiros havia se acabado, procurava com prazer os remanescentes de Lampião, só para exterminá-los.

Sargento Deluz

Em 1941, Deluz era proprietário de uma fazenda denominada Araticum. E nessa madrugada, Juriti estava em Pedra Dágua de rede armada e cachimbo aceso, na casa de um amigo, o Rosalbo Marinho. Assim que tomou conhecimento da presença de Juriti em Pedra Dágua, Deluz resolveu ir aprisionar o pássaro humano.

Juriti lhe disse que era um homem já liberado pela justiça, e não podia ser preso, uma vez que o capitão Aníbal havia lhe dado documento de soltura. Mas o delegado Deluz não quis saber disso. Prendeu-o e juntamente com os seus capangas, levaram o assecla com destino a Canindé, nas terras do Estado de Sergipe, arrastando o pássaro humano que logo iria morrer. 
          
Juriti sabia que não havia milagre, e não se cansava de chamá-lo de:  “Covardee!... Covarde!... Covard...! Cov...!” 
 
Ao chegarem a uma fazenda denominada Cuiabá, Deluz deixou a estrada e entrou na caatinga. Em uma capoeira, chamada Roça da Velhinha, fizeram uma fogueira.
 
Fogo pronto, os perversos jogaram o ex-bandido dentro do língua de fogo. As chamas famintas principiaram pelas vestes. Juriti sentindo as labaredas assando o seu corpo gritava de dor e ódio:

“Covardee!... Covarde!... Covard...! Cov...!” A sua voz foi sumindo como um eco bem distante, e em pouco tempo, o fogo assou o Juriti humano consumindo as suas carnes vivas.           

 Fonte de pesquisa: Lampião além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico.
-Alcino Alves da Costa.

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O FOGO DE SERRINHA DO CATIMBAU

Por Manoel Severo
João Caxeado, um dos defensores de Serrinha do Catimbau

Também na região do agreste pernambucano, o Rei do Cangaço; Virgulino Ferreira, encontrava abrigo e acolhida à sua epopéia nômade cangaceira. Fazendas nas vastas terras entre municípios como Bom Conselho, Águas Belas e Itaiba, traziam oportunamente momentos de descanso e ajuste de negócios entre o líder cangaceiro e seus protetores. Em uma dessas paragens junto ao poderoso coronel Zezé Abílio, lider político e maioral de Bom Conselho, possivelmente pode ter se iniciada a trama do terrível assassinato de José Gomes no sítio Queimada do André e o fogo de Serrinha do Catimbau, quando Maria Bonita é ferida.

Severo e Vilela em visita ao túmulo de Zé Gomes em Paranatama (Serrinha)

Detalhe na sepultura de Zé Gomes

Algumas versões são apresentadas para explicar os episódios daquele Julho de 1935; é Antônio Vilela, dedicado pesquisador de Garanhuns com excelente trabalho sobre a presença de Lampião no agreste pernambucano, que nos conta: "Algumas versões são apresentadas para a ação de Virgulino e seu grupo naquela época, mas a verdade é que o chefe cangaceiro estava em missão a serviço do Coronel Zezé Abílio; a princípio, naquele 20 de julho de 1935, foi até o sítio Queimada do André, ajustar uma conta que o fazendeiro José Gomes Bezerra possuia junto a Zezé Abílio; o fazendeiro conhecido pelos modos rudes e fortes, chegou até a afrontar com palavras o rei do cangaço, que sem titubear, ordenou a morte do mesmo."

 Fachada da Casa de Chiquito, centro de Serrinha

Destas casas partiram os tiros dos moradores de Serrinha

Detalhe da atual praça do fogo de Serrinha do Catimbau, à nossa esquerda a casa de Chiquito, à nossa direita o casário onde estavam os defensores. (Na época não havia a praça)

Continua Vilela: "A notícia do assassinato de João Gomes correu como rastro de pólvora pela redondeza, deixando em alerta as comunidades vizinhas; em Serrinha do Catimbau, cerca de uma légua do ocorrido, a população se organiza sob o comando de João Caxeado, inspetor de quarteirão e seu auxiliar Oséias Correia. De fato Lampião; ao lado de Cabo Velho, Medalha, Maçarico, Gato, Moita Brava e ainda Maria Bonita e Maria Ema, entram pelo principal arrudado do lugar. O chefe cangaceiro tinha endereço certo, novamente sob missão lhe confiada pelo Coronel Zezé Abílio, ruma célere à residencia do indivíduo Chiquito; que mantinha contas a ajustar com o poderoso coronel. A horda cangaceira não tem tempo de concluir seu intento, ao bater à porta da casa de Chiquito é surpreendida com saraivada de balas, vinda das casas situadas do outro lado da rua; no combate , Maria Bonita e Maria Ema foram baleadas e o cachorro Dourado morreu crivado de balas, obrigando o bando a fuga prematura", conta o pesquisador.

Manoel Severo.