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terça-feira, 17 de setembro de 2019

O LIVRO O FOGO DA JUREMA JÁ ESTÁ À VENDA COM O PROFESSOR PEREIRA


Se você está interessado no livro "O FOGO DA JUREMA" é só entrar em contato com o professor Pereira lá da cidade de Cajazeiras, no Estado da Paraíba,  que ele tem e está disponível aos amigos. 

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franpelima@bol.com.br e 
fplima156@gmail.com

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LAMPIÃO E CHUMBO NA SERRA DOS CAVALOS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de setembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.183

O homem, com bermuda jeans e boné parecia elétrico. Mal terminava o diálogo com um, virava-se para outro. Ali naquele aglomerado, indagou se a senhora era de Águas Bela. Ela respondeu que não era, falou em Águas Belas por acaso. Ele puxou conversa e disse que era de Minador do Negrão. “Minador, lá pra dentro tem uma serra bem alta e que logo após a serra, encontra-se Águas Belas”. Notei que ele estava procurando um conhecido para puxar conversa. Fiquei aguardando a sua agitação e veio à lembrança o monte que ele falara. Muitas vezes o sujeito fala demais, porém, não deixa de ser excelente fonte de pesquisa que às vezes coincide com sua procura. Procurei aguardar uma surpresa para o cidadão.

SERRA DOS CAVALOS (FOTO: PINTESTER).
Lembrei-me da “Repensando a Geografia de Alagoas” (uma cinco estrelas engaveta). Também veio à mente, pesquisa exaustiva para o livro “Lampião em Alagoas”; serras de divisas do estado, fugas e combates de Lampião. Virgulino gostava de entrar em Pernambuco por Minador. Imaginamos a perseguição e tiroteios esporádicos do sargento Porfirio e sua aguerrida volante por ali, no início de 1938. Mesmo assim, com Alagoas caçando o bandido por todos os lugares, o chefe do bando desapareceu no vizinho estado do norte. Mas era importante para nós pontuarmos a sequência de serras e riachos da região, desde que acidentes sempre surgissem nas narrativas. Foi na hora em que o homem falou sobre Minador do Negrão que surgiu na mente a serra destaque.
Pensei comigo mesmo dá um susto no camarada rodeado por desconhecidos. Aproximei-me sorrateiramente e fiquei atrás da sua nuca. Vez em quando ele parava e falava, parava e falava, então, que eu disse forte no seu ouvido: “Quer dizer que o senhor é o homem das serra dos Cavalos!”. O indivíduo levou um susto desgraçado, virou-se rapidamente como macaco de mola. Olhou para mim de boca escancarada e indagou: “Como o senhor conhece a serra dos Cavalos?” Gargalhei por dentro com o susto alheio.
Nada eu disse.
Distanciei-me e parti dando adeus.
Também... Nem tava muito querendo conversa na parada.


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A CASA DA POBREZA

*Rangel Alves da Costa

Na noite do último sábado 14 de setembro, em Poço Redondo, sertão sergipano, o amigo Lucas Santana (filho de Nanan) enviou-me uma mensagem relatando um caso lastimável. Disse-me que havia encontrado, nos arredores da saída da cidade em direção a Curralinho, uma situação de moradia que imaginava não existir em Poço Redondo. Falou-me sobre a inexistência de telhado e de portas, sobre a pobreza absoluta naquela casinha, sobre o viver em abandono que aquele morador tinha de suportar. Prontamente informei que logo ao alvorecer do domingo iríamos até lá. E assim aconteceu.
Pouco mais das sete da manhã, eu, Lucas e Belarmino, já estávamos naquela direção. Depois da Praça Frei Damião, seguimos mais adiante e logo avistamos a moradia, como se escondida entre os fundos de outras moradias e outras ruazinhas do outro lado. Quem olha para os fundos da casinha é como se estivesse avistando sua frente. A não ser por uma janela, é quase a mesma coisa. Rodeamos e fomos em direção à sua frente. 3 metros de frente e fundo por 6 de comprimento, eis a sua dimensão. Levantada em bloco, com uma janelinha à frente e duas portas igualmente estreitas, uma na frente e outro ao fundo.
Chegamos, batemos palma, chamamos, mas nada como resposta. A única presença foi a de um cachorro que surgia do pedaço de lona na porta para latir uma valentia inexistente. Sua presença ali tinha razão de ser. Como a casinha não possuía portas, quando o seu dono saía a única proteção ficava por conta daquele cachorro e seu latido rosnento. Mas proteger o que naquela moradia, se o que pode ser encontrado lá dentro faz apenas entristecer e chorar?
Chamamos, chamamos, e nada. Logo fomos informados por dois senhores que estavam pelos arredores que talvez ele tivesse saído muito cedo, tendo ido para a feira de Santa Rosa do Ermírio em busca de qualquer ganha-pão engraxando sapatos, ofício que também exercia pelas ruas e principalmente nos dias de feira na cidade de Poço Redondo, e até em Canindé de São Francisco. E ficamos sabendo do seu nome: André Luiz. E também que é irmão de Mané Veneno.
Sua ausência nos impediu de conhecer mais sobre sua história, suas necessidades, sua real situação. Após o retorno, então escrevi um pequeno texto onde relatei: “Visitando uma casa sem telhado, sem porta na frente e ao fundo, sem móveis, quase sem nada. Fica ali bem ao lado da Estrada Histórica Antônio Conselheiro, no caminho de Curralinho. Apenas um fogo de chão do lado de fora e duas panelas velhas num canto de chão. A cobertura é com pedaço de lona segurada em blocos, como se a moradia estivesse ao relento na noite e no dia, no sol e na chuva. Uma situação de vida em Poço Redondo. Ou de quase viver em Poço Redondo! Mas depois relatarei tal feição de abandono e de extrema pobreza”.
Com efeito, uma extrema feição de abandono e de extrema pobreza. Com o retorno posterior de Lucas ao local e o encontro com o senhor André, as fotografias comprovaram tudo aquilo infelizmente imaginado. Uma cama com colchão desengonçado, uma banquinha com panelas encardidas e o que existe de alimentação, um bacia num canto, roupas no encosto da cama, e apenas isso. Piso de chão, pedaço de lona como telhado, e um cão... E só. E acaso ele esteja deitado e os blocos que prendem a lona se soltarem, pela força do vento ou das chuvas, então o pior poderá acontecer.
Por isso mesmo que André Luiz precisa de ajuda. Quem pode ajudar André Luiz? Você pode, nos podemos. Precisamos de alimentos, de dois sacos de cimento, de cerca de oitocentas telhas, algumas vigas. E também de um velho fogão, vez que seu alimento é preparado em fogo de chão num canto da frente da casa. Talvez também um guarda-roupa ou qualquer coisa que lhe sirva de mobiliário. E que luxo será!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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COM O COLÉGIO DIOCESANO SERIDOENSE NA CASA DE MARIA BONITA.. ESCRITOR JOÃO DE SOUSA LIMA DÁ AULA À GAROTADA SOBRE CANGAÇO, CASA DE MARIA BONITA..ETC..

Por Volta Seca











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LUITGARDE CAVALCANTI BARROS por João Tavares Calixto Junior

 Luitgarde Cavalcanti Barros

É Luitgarde Cavalcanti Barros, pesquisadora fantástica a quem tive a honra de conhecer, uma das que melhor se expressam sobre a passagem do cangaceirismo para um outro fenômeno social de violência, evidente, sobretudo, no Nordeste brasileiro: o pistoleirismo. Com este, eu pude conviver, quando da minha juventude em minha terra natal - Aurora (Ceará), nos anos 1990 e passagem para os 2000. Com isto, faço das palavras da pesquisadora em seu "A Derradeira Gesta - Lampião e Nazarenos guerreando no Sertão" (Rio de Janeiro, Maud, 2018), as minhas próprias:

"Nas grotas ensanguentadas das caatingas a covardia dos poderosos impunes plantou a semente da violência mascarada, modernizada, sem honra e sem coragem, fazendo nascer, em oposição ao estardalhaço aterrorizante do cangaço, o mais desumano, subterrâneo e desestruturador sistema de crimes empresariados no silêncio dos conchavos políticos e econômicos - o mundo do pistoleiro"(p.227-8).

João Tavares Calixto Junior
Pesquisador e Escritor, Juazeiro do Norte-CE
Conselheiro Cariri Cangaço
Luitgarde Cavalcanti Barros

É Luitgarde Cavalcanti Barros, pesquisadora fantástica a quem tive a honra de conhecer, uma das que melhor se expressam sobre a passagem do cangaceirismo para um outro fenômeno social de violência, evidente, sobretudo, no Nordeste brasileiro: o pistoleirismo. Com este, eu pude conviver, quando da minha juventude em minha terra natal - Aurora (Ceará), nos anos 1990 e passagem para os 2000. Com isto, faço das palavras da pesquisadora em seu "A Derradeira Gesta - Lampião e Nazarenos guerreando no Sertão" (Rio de Janeiro, Maud, 2018), as minhas próprias:

"Nas grotas ensanguentadas das caatingas a covardia dos poderosos impunes plantou a semente da violência mascarada, modernizada, sem honra e sem coragem, fazendo nascer, em oposição ao estardalhaço aterrorizante do cangaço, o mais desumano, subterrâneo e desestruturador sistema de crimes empresariados no silêncio dos conchavos políticos e econômicos - o mundo do pistoleiro"(p.227-8).

João Tavares Calixto Junior
Pesquisador e Escritor, Juazeiro do Norte-CE
Conselheiro Cariri Cangaço


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VEM AÍ A IV FEIRA DO CORDEL BRASILEIRO


De 17 à 20 de outubro de 2019. Serão 4 dias de interação, valorização, difusão e troca de conhecimentos de uma das maiores manifestações culturais do Brasil, fazendo da CAIXA Cultural Fortaleza um verdadeiro celeiro de grandes artistas e um imenso acervo com as mais variadas obras do cordel brasileiro.

Faltam apenas 30 dias, marque na sua agenda, convide os amigos, traga a família e embarque com a gente nessa grande viagem ao mundo encantado do CORDEL.

De 17 à 20 de outubro de 2019. Serão 4 dias de interação, valorização, difusão e troca de conhecimentos de uma das maiores manifestações culturais do Brasil, fazendo da CAIXA Cultural Fortaleza um verdadeiro celeiro de grandes artistas e um imenso acervo com as mais variadas obras do cordel brasileiro.

Faltam apenas 30 dias, marque na sua agenda, convide os amigos, traga a família e embarque com a gente nessa grande viagem ao mundo encantado do CORDEL.


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UM ENTRE TANTOS... ENTERRADO SEM CABEÇA

Por Rangel Alves da Costa

No meio do mato, sempre acompanhado por um cachorro, nas entranhas da Fazenda Coruripe em Poço Redondo, sertão sergipano, apontando o local onde foi enterrado o cangaceiro Canário em 38, morto à traição pelo também cangaceiro Penedinho.

 Canário quando posou para Benjamin Abrahão

Do livro "Lampião entre a espada e a Lei", 
de  Sérgio Augusto de Souza Dantas.

Enterrado sem a cabeça, vez que a mesma fora levada como troféu macabro por Zé Rufino, terrível e temido caçador de cangaceiros. É por isso que Totonho Catingueira dizia:

“Vosmicê num pisa no chão de Poço Redondo pra num pisar num rastro de cangaceiro ou de volante. Tomem num anda num lugar pra não sentir um vurto de cabra estirado. A mata aina zune. Aina hoje, eu mermo só entro no mato com medo daquelas aparição, daqueles homens de sangue nos óio e venta sortano fogo. Poço Redondo num era nem pra se chamar Poço redondo, mai Poço do Cangaço. O cangaço inté parece que foi todim aqui.

Ali foi um fogo, acolá foi uma emboscada, mais adiante um acaba-mundo da gota serena. É cuma aina a sombra de Lampião tivesse aqui, tomem de Corisco, de Zé Sereno, de Corisco, de Mané Moreno e tudo mais. É cuma aina a gente ouvisse a bala zunindo e o grito de dor. Menino, foi um escorrimento de sangue de num acabar mais. Eu mermo aina sinto o cheiro suarento do cangaço e o fedor da volante.

Pro todo lugar existe cangaço, e aina como se o medo deixasse o cabelo em pé. Conheci a Véia Gerusa que mermo adespois da morte de Lampião ainda continuava com saco arrumado pra correr a quarqué hora. O maluquim Oreba continua dizeno que toda noite sonha com a cangaceirama e que Lampião virou rei com coroa e tudo, e que seu reinado é pelas banda da Maranduba, debaixo de um daquele sete umbuzeiro. Sei não, viu. Sei não... Eita Poço Redondo das história cangaceira. Mai vou dizê uma coisa, sem medo de errar: se as morte do cangaço fosse todinha marcada em cruz, entonce Poço Redondo todim era um cemitero. Pro todo lugar haveria de ter uma cruz, aqui debaixo dos meus pé, ainda debaixo do seu...”.


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CORISCO E DADÁ TIVERAM VÁRIOS FILHOS

Por Volta Seca

O casal cangaceiro, CORISCO E DADÁ, tiveram vários filhos, dentre eles, Silvio Bulhões (mora em Maceió); Maria do Carmo (mora em Salvador) e Maria Celeste. (que, também, mora nessa última cidade).

Acima, uma foto de Maria Celeste e seu esposo, Sr. Raimundo Gomes.
Foto, gentilmente cedida por : Indaiá Santos (filha de Mª Celeste)...


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POESIA


Por Guilherme Machado

Cada dia creio mais na verdade dita pelo saudoso Mestre Pinto do Monteiro: "Poeta é bicho doido tira de onde não tem, para botar onde não cabe!". Assim, neste dia 08 de outubro de 2017, em que o escravo Lucas Evangelista ( o Lucas da Feira) completa 210 anos de história, esta é a minha homenagem:

Se Lucas foi o Primeiro Cangaceiro,
Nossa Feira é o berço do cangaço
Mote – Zé Francisco e Jânio Rego
Glosa – Nivaldo CruzCredo

Lucas o escravo nascido na Feira,
Como cangaceiro é reconhecido,
Por quem estuda o acontecido,
O tal cangaço, de forma certeira,
Eles garantem dessa maneira,
Que dentro mesmo deste embaraço
Sim foi o Lucas quem tirou o cabaço,
Desse banditismo que é brasileiro,
Se Lucas foi o Primeiro Cangaceiro,
Nossa Feira é o berço do cangaço.

Existem muitos dos pesquisadores
Nessa tese mesmo acreditando,
Eu também estou sim aceitando,
Pois tais senhores não são amadores,
Muitos deles são até bons doutores
Bom de letra, de pesquisa e de traço
E afirmam sem nenhum embaraço
De modo bem direto e certeiro,
Se Lucas foi o Primeiro Cangaceiro,
Nossa Feira é o berço do cangaço.

Nenhum cangaceiro tinha patrão,
O chefe era integrante do bando
Matava, roubava e ia atacando,
Pelas cidades de todo o sertão
Muitos até se dizia ser cristão
Mesmo com crimes na arma e no braço
Bem desposto sem nenhum cansaço
Este é o conceito do tal bandoleiro
Se Lucas foi o Primeiro Cangaceiro,
Nossa Feira é o berço do cangaço.

Este viés dessa nossa história,
Merece ser bem mais discutido,
Pesquisado e mesmo sugerido,
Se puxando pela boa memória,
Para que a verdade tenha vitória,
O cangaço dito sem embaraço,
Criando desconforto e até mormaço,
Para chegar ao início verdadeiro,
Se Lucas foi o Primeiro Cangaceiro,
Nossa Feira é o berço do cangaço.

Lucas da Feira foi bandido de 1828 a 1848. Vinte anos de banditismo. Tempo maior que o de Lampião. Mas existem registros de atividades bandoleiras nos Sertões do século XVIIl. O Cabeleira mesmo, foi enforcado no Forte das Cinco Pontas no Recife, no ano de 1776.

Ilustração - Do Livro de Marcos Franco e ilustrações de Hélcio Rogério. Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira.


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TÚNEL DO TEMPO


Por Deocele Lucena

Waldik Soriano e Dr. Aguinaldo Pereira.
SAUDOSA MEMORIAM.
Deocele L. Barreto.
Mossoró, Rn
16 de setembro de 2019.



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LIVRO "LAMPIÃO NA PARAÍBA - NOTAS PARA A HISTÓRIA".


Adquira este livro com o professor Francisco Pereira Lima lá de Cajazeiras no Estado da Paraíba através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

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O PADRE CÍCERO NA VILA DE BELMONTE


 Por Valdir Nogueira

Fazia calor intenso naquela tarde de 12 de setembro de 1898 quando entrou na Vila de São José de Belmonte, seguido por dezenas de acompanhantes o Padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro, que seguia viagem para a capital pernambucana com destino à Roma (diziam que atendendo ao chamado do Santo Padre). 


Em Belmonte o Padre Cícero foi recepcionado pelo Prefeito o Coronel José Pereira de Aguiar, o Subprefeito Sr. Antônio Piauhylino Guimarães, e os membros do Conselho Municipal: Isidoro Conrado de Lorena e Sá, Antônio Juvenal Pereira da Silva, Pedro José dos Santos, João Pereira da Silva, Manoel Terto Alves Brasil, Lúcio Pereira da Silva e Luiz Pereira da Silva. 

Durante sua estadia em Belmonte o Padre Cícero ficou hospedado na Casa do Catolezeiro. Esta casa, localizada do lado direito da Matriz de São José, tinha essa denominação porque existia uma árvore dessa espécie na sua frente. Inicialmente, pertenceu a Dona Ana Pereira da Silva, esposa de Conrado José de Lorena e Sá. Nessa casa funcionou primeiramente o Conselho Municipal de Intendência. Também nessa casa faleceu, em 17 de agosto de 1889, o Dr. Arcôncio Pereira da Silva, que foi juiz e promotor da Comarca de Vila Bela. Bem, da Vila de São José de Belmonte, seguiu o Padre Cícero e seus romeiros para Vila Bela (Serra Talhada).

Valdir José Nogueira
Pesquisador e escritor, São José de Belmonte-PE
Conselheiro Cariri Cangaço


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BÁRBARA, TUA PENA NÃO FOI A PRISÃO

Por Heitor Feitosa
Imagem de Bárbara de Alencar

Teus filhos morreram lutando. Padre Carlos, em fuga, enquanto saciava a fome com mel de abelha, foi assassinado na Serra do Beijú por um cabra do cruel Pinto Madeira. Tristão, carregado de ouro e perseguido pelos Cunha Pereira, verteu todo o sangue às margens do Jaguaribe, ficando tempos e tempos sem sepultura. O padre Alencar, por sorte, escapou das balas já chegando ao Rio de São Francisco, no mesmo instante em que teu netinho, menino de 13 anos, tombou alvejado pelos cabras. E a mãe da criança, tua filha, não deve estar em prantos? E teu irmão, Leonel, e o filho dele, Raimundo, pagaram caro por essa aventura, mortos lá em Jardim, obrigando tua cunhada, esposa deste infeliz, a dar a luz no breu da mata da Serra do Araripe, fugindo dos mesmos algozes.

Não te esqueças do teu pobre cunhado, Ignácio Tavares Benevides, que, depois de ser preso em cordas pelos perversos cabras, foi posto em uma roda de pau, apanhando com bodurnas de jucá, e, ao fim, queimado vivo em enormes chamas, enquanto seus gritos serviam de pasto para as gargalhadas dos assassinos. Preste atenção! Teu avô, Leonel, se vivo fosse, te diria que as brigas no sertão eram por terra e poder, que os índios e as onças eram quase sempre os inimigos mais implacáveis, mas nunca o Rei, perpétuo e absoluto. Teu compadre e protetor, o gigante Filgueiras, já partiu para as cadeias na Corte, e dizem ter morrido em Minas. E teu marido, cadê? Graças a Deus, já sendo ele um homem muito mais velho que você, desencarnou antes mesmo de ocorrer todo esse reboliço! 

Agora te dão um amante, o vigário do Crato, irmão de dois dos teus cunhados, padrinho de crisma de teu filho caçula, além do agravante de ele também ser teu vizinho, teu mentor espiritual e patrocinador das ideias "subversivas" de Tristão e Martiniano. O que diz teu filho mais velho, João, homem pacato que nunca se envolveu nessas brigas? Vive lá no Pau Seco, moendo canas no velho engenho de pau, tentando saldar as contas dos empréstimos tomados ao próprio irmão, a juros compostos. Tua fortuna já não é mais a mesma, tomaram teu Sítio Pontal, de onde o novo dono, o padre Francisco Gonçalves Martins, te difama como teúda e manteúda do padre Miguel.

Onde estão os teus tesouros? Sei que, hoje, não passam de botijas enterradas no chão do esquecimento! Que dizer de uma mulher branca e rica que passou mais de ano nas prisões da Fortaleza e Bahia? E o orgulho da tua poderosa família? Como vingar mais de 25 parentes mortos em menos de 10 anos? Como limpar tua honra? Abra do olho, porque o coronel Pinto Madeira ainda cavalga pelo Cariri com seu exército de cabras, índios e mestiços, lembrados dos ancestrais Ançus, Calabaças, Xocós, Cariris e outros milhares de "tapuias bárbaros" que viviam refugiados na terra prometida, terra sem males, na Vapabuçú, na Serra do Varipe, no Araripe, no oco do mundo, invadida pelos brancos sesmeiros, teus ascendentes. 

A culpa não é tua, é das imbuanças desses tais filósofos da Europa, os iluministas, que, juntos com os pernambucanos fiotas do Recife e Olinda, encheram tua cabeça e os corações dos teus meninos. Mas tu vai pagar a maior das penas. Vai sair do Crato enxotada por Pinto Madeira, e, com a ajuda do coronel Manuel de Barros Cavalcante, lá de Santana do Cariri, vai palmilhar o sertão seco, até tuas fazendas no Piauí, na divisa com o Ceará. Nesse lugar, já sendo uma mulher velha e doente, encontrará tua mortalha. Por algumas léguas dali, teu corpo será transportado em uma rede e, numa pequena capela, no Poço da Pedra, próximo à Varzea da Vaca, tua face será esquecida e tua história permanecerá mal contada.

Ao atravessar o século, um dos teus adoradores, tentando reparar tua honra como heroína, colocará uma placa acima do teu jazigo, indicando teu fim, o que sobrou da tua matéria. Porém, tuas dores e tuas alegrias jamais terão uma imagem que retrate o gosto do amor proibido, as lutas ideológicas, a perda dos filhos queridos, a independência política, a emancipação da mulher, o Direito de ser vista por todos como símbolo de resistência. E, assim, essa será a tua mais bárbara pena, Bárbara.

Heitor Feitosa Macêdo
Pesquisador e escritor- Crato, CE
Setembro de 2019, Presidente do ICC


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OPINIÃO - GESTA NORDESTINA

Por Wilson Martins

"Lampião é também um mito mental, a julgar por haver dominado a imaginação brasileira mesmo fora do seu território nativo, mas também por haver inspirado obras de literatura e de grande literatura como muitas das que se encontram neste volume e que dão ao personagem as dimensões míticas dos heróis.”"

"Assim como Roland é o herói paradigmático das canções de gesta medievais, Lampião é a sua figura simétrica e correspondente na gesta nordestina do cangaço. Se o paralelo parecer incongruente ou arbitrário, lembremos o que diz Santa Rita Durão nos versos do Caramuru, isto é, que o "valente Ro­­mano" e o "sábio Argivo" em na­­­­da foram melhores que o "rude Americano" das florestas: "Nós que zombamos desse Povo insano / Se bem cavarmos no solar nativo / Dos antigos Heróis dentro ás imagens, / não acharemos mais, que outros Selvagens".

No caso, a passagem do tempo idealizou as figuras, acrescentando-lhes as lendas e fantasias indispensáveis para torná-las super-humanas: entre Lampião e Napoleão há apenas uma diferença de escala. Acrescente-se a intromissão das ideologias: co­­mo cangaceiro, Lampião era um re­­volucionário de esquerda, mi­­litando contra uma sociedade de direita, até que as coisas se tornaram tão claras que até a esquerda institucionalizada percebesse o partido que podia tirar da situação, ajudada pelas circunstâncias: "A palavra ‘cangaço’ só aparece uma única vez ao longo de todo o romance O Cabeleira, de Franklin Távora [...] significando, ‘como o próprio autor afirma na nota ao fim do livro, "complexo de armas que costumam trazer os malfeitores", conceito que, ao tempo de Lampião, já de­­signava o bando e as atividades dos bandidos.

Vieram em seguida as interpretações que Carlos Newton Júnior qualifica de "mais à esquerda": "A visão de Carlos Dias Fernandez e, principalmente, a de Rubem Braga [...] antecipam, portanto, uma interpretação do cangaço mais à esquerda, que começam a proliferar na segunda metade da década de 1940 para se tornar voz corrente a partir da década de 1960, com os estudos ligados ao novo marxismo; estes, por sua vez, funcionaram como contrapeso necessário para o surgimento, nos anos de 1980, de estudos mais abrangentes e mais imparciais, não dogmáticos, mais ricos e cheios de sugestões, mais abertos às múltiplas interpretações da realidade social – estudos dentre os quais se destaca, de modo inegável, a obra do historiador e ensaísta pernambucano Frederico Pernambucano de Mello.

Lampião é também um mito mental, a julgar por haver dominado a imaginação brasileira mesmo fora do seu território nativo, mas também por haver inspirado obras de literatura e de grande literatura como muitas das que se encontram neste volume e que dão ao personagem as dimensões míticas dos heróis. O leitor encontra aqui, diz o autor, "desde poemas escritos por contemporâneos de Virgulino Ferreira da Silva até poemas de uma geração para quem Lampião é um personagem tão histórico quanto Napoleão ou Alexandre, o Grande.

No caso de poetas rigorosamente contemporâneos de Lampião, homens da mesma geração do cangaceiro, podemos imaginar que não era tão simples fechar os olhos para aquilo que se mostrava com tanta evidência, ou seja, a imensa crueldade do facínora, os atos de barbárie perpretados por ele próprio ou seus comandados, tudo aquilo que fez com que Lampião, mesmo na poesia popular, quase sempre figurasse como um cangaceiro mais temido do que propriamente admirado, de modo distinto do que vai ocorrer com outros cangaceiros famosos, a exemplo de um Jesuíno Brilhante ou um Antônio Silvino.

Justificam-se assim poemas como "O rei do cangaço", do pernambucano Jayme Griz, e principalmente "Nordeste de Lampião", do cearense Jáder de Carvalho, poema que narra um ataque de cangaceiros a uma casa de pessoas simples, durante uma festa de casamento, sob o comando de um dos tenentes de Lampião".

Numa introdução por todos os títulos admirável, Carlos Newton Júnior acrescenta o capítulo que faltava na história de literatura brasileira e da nossa crítica. Lampião não morreu, mas vive agora como testemunho de um ciclo civilizatório.

(O Cangaço na Poesia Brasileira. Uma antologia. Sel. e pref. de Carlos Newton Júnior. São Paulo: Escrituras, 2009)."

Pescado em Gazeta do Povo


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