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sábado, 8 de junho de 2019

GROTA DO ANGICO.





Local onde no dia 28 de julho de 1938, foram mortos Lampião, Maria Bonita, nove cangaceiros e um soldado da Força Policial Volante alagoana, na ocasião comandada pelo então Tenente João Bezerra da Silva.

Na rocha encravada no solo (Foto) aparecem algumas marcas (Ondulações) que aparentam terem sido causadas, possivelmente, pelos projéteis disparados pelas armas dos soldados da Volante alagoana contra os cangaceiros que se encontravam acampados na Grota do Angico na fatídica manhã de 28 de julho de 1938.

Qual a sua opinião a respeito dessas marcas?



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O ÚLTIMO ENCONTRO DE DULCE MENEZES DOS SANTOS "DULCE" E ILDA RIBEIRO DE SOUZA "SILA". DUAS SOBREVIVENTES DE ANGICO E DO CANGAÇO.


Por Geraldo Antônio De Souza Júnior

Ambas no passado estiveram integradas ao bando de Lampião e segundo seus depoimentos foram levadas por seus respectivos companheiros e forçadas a conviver naquele ambiente hostil, contra suas vontades. Dulce foi levada a força por um cangaceiro do bando de Lampião chamado Criança (Vitor Rodrigues Lima) e permaneceu no cangaço em torno de sete meses. Sila, companheira do cangaceiro Zé Sereno, cujo nome verdadeiro era Hermecília Brás São Mateus, segundo o saudoso pesquisador Alcino Alves Costa, permaneceu um período maior no cangaço, algo em torno de um ano e seis meses. Estavam presentes no dia da morte de Lampião e juntamente com seus companheiros conseguiram escapar com vida.

Sila faleceu no dia 15 de fevereiro de 2005 na cidade de Guarulhos e está sepultada em um cemitério da cidade de São Paulo/SP. Dulce atualmente com noventa e seis anos de idade é a última testemunha ocular dos acontecimentos de Angico e a última cangaceira, ainda viva.
Acredito que a fotografia que está anexada a essa matéria seja do último encontro ocorrido entre Dulce e Sila e uma das últimas imagens de Sila, ainda com vida.

Na fotografia estão a partir da esquerda: Gilaene "Gila" de Sousa Rodrigues, filha do casal Sila e Zé Sereno e as ex-cangaceiras Dulce Menezes dos Santos "Dulce" e Ilda Ribeiro de Sousa a "Sila". Fotografia gentilmente cedida por Martha Menezes Marthinha, filha de Dulce Menezes dos Santos.

Fica mais esse registro para o conhecimento de todos.


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AMOR, ESSE DESCONHECIDO

*Rangel Alves da Costa

Talvez nunca surja uma resposta para o que seja amor. Um sentimento que se desdobra em mil faces não é fácil de ser entendido. Ademais, há o amor amado, apaixonado, e há também o amor apenas querido, apenas desejado. Difícil saber o que se seja amor.
Mas será preciso arriscar em busca de, ao menos, uma aproximação. Assim, afinal de contas, o que é o amor? Do mesmo modo, o que o amor não é? Como dito, não são respostas fáceis. E principalmente por que o que aparenta amor muitas vezes pode se traduzir em seu inverso.
Mas o que é amor? Amor, na relação entre dois, é a comunhão de objetivos e sentimentos, é o sentir de um para com o outro, é o enlaçamento dos desejos do corpo, da alma e do coração. Tem-se um amor assim quando o afeto pelo outro se sobrepõe a tudo o mais, até mesmo o sexo.
Mas o que não é amor? Não é amor, na relação entre dois, sentimentos compartilhados por objetivos passageiros, frágeis, fugazes. Assim como quando o estar com o outro se afeiçoa mais a uma experimentação corporal, e nada afetiva. Não pode dizer que ama aquele que finge amar.
Amor é ter prazer com o outro, é sentir alegria pela existência do outro, é como uma devoção onde o outro assume um lugar de tamanha importância que passa mesmo a guiar as ações e as emoções. Amor é o alcance de um tamanho bem-estar que a pessoa se desprende em leve voo.
Amor não é o frívolo, a futilidade, o passageiro. Amor não é experimentação nem manipulação, não proveito que se tira para depois saber se vale a pena ou não dar continuidade à relação amorosa.
Amor é cuidar do outro, é se preocupar com o outro, é amar como se dividido estivesse e a vida só se completa com a junção da outra parte. Amor é, assim, um profundo e doce e terno contentamento do coração.
Amor não é ocasional, o acaso, o instante. O amor não é o amasso que se dá na balada e depois segura na mão para levar onde quiser e fazer o que bem entender. Amor não é promíscuo nem pecaminoso, não é libertino nem depravado.
Amor é sentir saudade a todo instante, é chegar à janela e avistar o seu nome na nuvem, é avistar na paisagem algo que faça recordar o ser amado. É ouvir no silêncio a canção de amor, é cantar tal canção sem abrir a boca.
Amor não é apenas o sexo, a transa, o gozo, o possuir. Amor não é fechar a porta e tirar a roupa, não é deitar ao lado e já querer ficar por cima ou por baixo, não é a pressa orgásmica do nada.
Amor é o afeto, é o carinho, o dengo, a singeleza como o outro é docemente tratado. É um cafuné, é uma xícara de café quentinho, é um pedacinho de bolo na boca. Amor é o alimento maior da alma e do coração.
Amor não é a relação de um dia, dois dias ou até mais, pois somente aprende a amar aquele que aprende a conhecer o outro, e isso possui o seu próprio calendário. Não é dizer que ama agora e esperar a resposta depois. A fruta do amor nunca é temporã.
Amor é ter o outro como amado e como amigo, é ter o outro como ouvinte e confidente, é ter o outro como aquele que pode fielmente acreditar, pois ali também parte de sua vida. Nada se esconde no amor verdadeiro.
Amor não é dizer que ama para agradar, não é dar flores quando não dá carinho, não é encher de presentes com intenções de acobertar os erros de rua. Amor é o buquê e o jardim, é a certeza que tudo doado é por merecimento do amor sentido.
Amor é a palavra amiga, a compreensão do silêncio, o partilhamento da dor e do sofrimento da pessoa amada. Quanto mais se ama mais os sentimentos se irmanam de tal modo que a pessoa a ser a outra pessoa, no seu sentir e no seu amor.
Amor não é fazer ciúmes, não é causar ciúmes, não é segurar o outro através do medo de perder. Quem ama não ameaça, não promete a si próprio a desonra para que o outro seja também desonrado. O amor não é mácula nem covardia.
Amor é o que está em Coríntios: “O amor é sofredor... Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... O amor nunca falha...”. É o que está em Camões: “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer...”.
E você, como ama? Se sentir saudade, está sentindo amor.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

ALAGADIÇO - FREI PAULO - SERGIPE UM POVOADO RICO DE HISTÓRIAS, MASESQUECIDO


Por: Vivianne Paixão
Quem pega a rodovia 235, com destino ao município de Frei Paulo, a 71 quilômetros da capital, corre grande risco de passar despercebido por uma minúscula placa: “Alagadiço a 8 Km”. Uma identificação tímida, que contrasta com a grandiosidade da riqueza histórica e cultural do povoado. Foi lá que Virgulino Ferreira, o Lampião, esteve por quatro vezes e deixou naquelas bandas o seu capanga Zé Baiano, também conhecido como “Pantera Negra dos Sertões” e considerado um monstro impiedoso.


Toda essa saga está retratada no livro “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço”, do pesquisador Antônio Porfírio de Matos Neto, natural da região. Registro de um patrimônio sergipano “poupado” do seu devido valor pelo Estado, que poderia muito bem transformar Alagadiço em mais um destino turístico (e, por que não dizer, gerador de emprego e renda) da rota do cangaço.

  
"O povo daqui é carente demais e a única maneira que acho que iria ajudar a melhorar a vida dele seria através do turismo.  A rota do cangaço de Xingó deveria existir aqui também. Temos uma narrativa incrível em que seis conterrâneos conseguiram acabar com um dos bandos de Lampião e eu estou buscando de todas as maneiras possíveis trazer essa rota para a nossa comunidade, que está disposta a contar e recontar toda a sua história”,avisa Porfírio. (Foto)


A derrocada de Lampião começou por volta de 1930 neste pequeno povoado de Frei Paulo, hoje com cerca de três mil habitantes. Conta a história que o Rei do Cangaço entrou pela primeira vez acompanhado de dez cangaceiros, fazendo a maior arruaça, derrubando portas, roubando jóias e alguns pertences dos moradores. “Ele chegou na minha casa eu era criança. Perguntou se meu pai estava, me assustei e perguntei a ele se meu pai o conhecia. Ele logo me deu um grito mandando eu chamá-lo. Depois ele ainda mandou que eu lavasse as ‘percatas’ (sandálias) do bando e que eu tirasse leite da vaca, coisa que eu nem sabia como fazia”, rememora a dona de casa Ivete Matos, 81 anos.

Alagadiço tinha uma posição privilegiada e, por não possuir destacamento reforçado da polícia, favorecia o trânsito dos bandidos de um lado a outro do Estado. Assim, Lampião andava tranquilamente pela redondeza. Em 1932, ele retornou ao povoado. Desta vez não molestou ninguém, apenas levou algumas coisas dos moradores. Um ano depois, Virgulino entrou de novo em Alagadiço e foi diretamente à casa de Antônio de Chiquinho querendo obter informações sobre a volante que pretendia acabar com o seu bando.

Zé Baiano

No ano de 1934, Lampião apareceu em Alagadiço pela última vez, deixando essa região sob o comando do grupo de Zé Baiano. Filho natural de Chorrochó, ele passou a aterrorizar os moradores daquele local. Coube a esse destemido cangaceiro a posse das terras compreendidas entre os municípios de Frei Paulo, Ribeirópolis, Pinhão e Carira, em Sergipe, e ainda Paripiranga, na Bahia.

O “Pantera Negra dos Sertões” era um negro, alto, forte, nariz achatado, queixo comprido, cabelos ruins e maltratados, que usava óculos e tinha uma voz grossa. Após ter ficado sabendo da traição amorosa da sua companheira, a qual ele assassinou a pauladas, passou a marcar mulheres indefesas com um ferrão de iniciais “J.B.”, como se fossem gados. Requinte de perversidade.

Com fama de impiedoso, o famigerado “ferrador de mulheres” era tido como um dos mais ricos do bando – formado por Demudado, Chico Peste e Acelino. Durante anos cometeu atrocidades, saqueou e impôs a sua própria lei em Frei Paulo e municípios vizinhos. A polícia não descansava procurando os temíveis bandidos que se escondiam em casas de fazendeiros. Estes, se não contassem à polícia, eram chamados de coiteiros, e se falassem eram apelidados de dedo duro na boca do cangaceiro.

A mata era o maior refúgio desses facínoras. No corpo de uma árvore – viva até hoje – eles silenciavam suas armas e na chamada “Toca da Onça”, na Fazenda Caipora, evitavam o ataque de inimigos com troca de tiros, já que de lá de cima tinham uma visão panorâmica e privilegiada de toda a região.
Certa vez, o inesperado para Zé Baiano aconteceu. Por ser coiteiro do seu bando, o comerciante Antônio de

Chiquinho, cansado das perseguições da polícia – chegou até a ser preso – e da desconfiança dos cangaceiros, tramou um plano para eliminar o grupo do impiedoso “ferrador”. E foi numa entrega de alimentos, solicitada pelo Baiano, que o comerciante convidou os conterrâneos Pedro Sebastião de Oliveira (Pedro Guedes), Pedro Francisco (Pedro de Nica), Antônio de Souza Passos (Toinho), José Francisco Pereira (Dedé) e José Francisco de Souza (Biridin) para, juntos, darem fim ao bando. No dia 7 de julho de 1936, os seis amigos conseguiram dar cabo aos quatro temíveis bandoleiros na Lagoa Nova (localidade de Alagadiço). Os conterrâneos mantiveram o feito em sigilo durante cerca de 15 dias, temendo a represália de Lampião contra o povoado.

Antônio de Chiquinho, certo de que Lampião voltaria a Alagadiço para se vingar da morte do seu amigo, preveniu-se do embate e perfurou as paredes da sua casa – hoje uma creche comunitária –, tendo assim melhor visão da rua para atirar quando ele aparecesse. Porém, para a sua sorte, Virgulino Ferreira resolveu deixar pra lá o acerto de contas graças a Maria Bonita, que o alertou sobre a presença de um canhão no povoado, onde cabia um menino dentro acocorado – um minicanhão que, inclusive, está guardado no acervo do historiador Antônio Porfírio.


Ações de Porfírio

O autor do livro “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” cresceu ouvindo as histórias que eram contadas pelos mais velhos e, muito curioso, mergulhou fundo em cada narração. Diante de tanta riqueza cultural, resolveu organizar todas as informações em um livro. “Eu não podia deixar morrer a nossa cultura. Foram seis civis filhos de Alagadiço que conseguiram acabar com quatro bandidos de Lampião, e isso é que é importante destacar”, comenta Porfírio.

A produção independente de “Lampião e Zé Baiano no povoado Alagadiço” foi vendida por completo. “Para minha surpresa o meu livro esgotou as vendas. Foram mais de dois mil exemplares”, relata o pesquisador que, além da publicação, construiu um museu dentro do seu próprio sítio. “Essa também foi outra grande surpresa, porque eu não esperava que viesse tanta gente visitar. Vêm pessoas de outros estados, curiosas para saber da história. Isso é gratificante”, diz Porfírio.

O escritor adquiriu os materiais do museu dentro do próprio povoado, dos lugares onde os cangaceiros se escondiam ou dos próprios moradores. Algumas peças foram compradas fora de Sergipe. “Muitos punhais, armas e indumentárias dos cangaceiros eu encontrei aqui, dentro do tronco de uma árvore e na Lagoa Nova. Também tenho no acervo o minicanhão que salvou Alagadiço de ser exterminado por Lampião, e três cartas escritas por Dadá, mulher de Corisco, ao compadre Joãozinho de Donana, que criou a filha deles por dois anos na cidade de Pinhão”, relata.

Na Lagoa Nova, onde Zé Baiano e os seus capangas tombaram, Porfírio construiu o "Memorial do Cangaço de Alagadiço", também com recursos próprios. “O dono da fazenda me cedeu o espaço e eu contratei os pedreiros para construir. É uma construção bem simples. Na verdade o que deveria ser construído mesmo era um grande e bonito mausoléu”, lamenta o historiador.

Porfírio também construiu no seu sítio uma biblioteca. “Um lugar onde o povo daqui, principalmente os adolescentes, possa ler mais sobre a história do seu povoado. Ainda não estou com o acervo completo, tenho apenas dois mil livros, sendo a maioria especializada em literatura sergipana. Se engana quem acha que a comunidade pobre não gosta de coisa boa. A minha biblioteca, graças a Deus, é muito freqüentada pelos moradores”, garante.
Segundo o pesquisador, todas essas suas iniciativas foram pautadas com o intuito de resgatar a cultura e a cidadania dos seus conterrâneos. “O povoado aqui não tem atrativo nenhum e essas coisas servem como divertimento para eles. Uma história bonita como essa de Alagadiço tem que ser trabalhada”, diz Porfírio, que pretende, em breve, colocar um circo também dentro do seu sítio. “É para eles terem oficina de teatro. Vou aplicar o método Paulo Freire, com a pedagogia do oprimido”, explica.


Memória

Ante a alta relevância dos fatos ocorridos em Alagadiço, o cineasta de Fortaleza, Wolney Oliveira, não perdeu a oportunidade e gravou um longa-metragem na localidade, que irá às telas do cinema no próximo ano, quando a morte de Lampião completa 70 anos. Ao que tudo indica, as pessoas de outros estados vão conhecer Alagadiço antes mesmo que os próprios sergipanos.

Enquanto isso, toda a riqueza cultural do povoado de Frei Paulo permanece guardada nas lembranças dos seus moradores mais antigos e no livro de Antônio Porfírio. “Eles eram rapazes pacíficos, apenas entraram na luta porque um amigo deles botou, mas eles não faziam mal a ninguém, eram meninos direitos e não eram de briga. Tive nove irmãos e só esses dois morreram devido a luta. Foi logo depois da morte de Zé Baiano que deu uma febre forte em um, e no outro deu uma doença braba, e disso eles morreram”, recorda Uília de Almeida, 103 anos, com relação aos seus irmãos Toinho e Dedé, cangaceiros do bando de Zé Baiano.
Lembranças que muitas vezes assustam até mesmo quem nunca viu Zé Baiano, muito menos Lampião.  
“Eu escuto direto uma zoada como se estivessem andando nas ruas, fazendo a maior bagunça. Ouço eles andando de carro de boi e também um monte de gados e cavalos correndo e acabando com tudo. Mas só escuto, não vejo nada. Só fiquei assustado uma vez quando vi um vulto passando, aí eu cacei a cabeça e não achei”. Conta o roceiro José Gilson de Oliveira, 57 anos, dono da fazenda na Lagoa Nova, onde Zé Baiano foi morto e teve sua cabeça decepada.

Guerra de Canudos

Considerado hoje um dos principais povoados do município de Frei Paulo, Alagadiço teve sua origem por volta do século XIX, pelo senhor João Pereira da Conceição, que organizou uma praça e denominou o local, por ser uma área bastante alagada, principalmente no período chuvoso.

Um fato interessante da história do povoado foi o ocorrido com um dos seus primeiros moradores, o senhor João Sabino dos Santos, que, após desertar da batalha de Canudos, foi ali residir, em 1896. O governo da Bahia o procurava para cumprir prisão, como fez com todos os desertores. Foi quando, no final da batalha, localizaram-no desfrutando da paz e aconchego ao lado de sua mulher, Angélica dos Santos, grande devota de Nossa Senhora da Conceição, a quem fez a promessa de rezar uma novena se lhe fosse concedida a bênção de seu marido não ser preso.

Prece atendida, Sabino dedicou-se à construção de uma capelinha e Angélica adquiriu uma bela imagem de Nossa Senhora da Conceição para cumprir a promessa de nove dias de festa cristã. Celebração que acontece até os dias de hoje no mês de dezembro.

Publicado em 02/11/2008 no Jornal da Cidade, SE. 

PRAZER EM CONHECER

Lampião Aceso entrevistou o pesquisador edocumentarista Aderbal Nogueira
 

Este cearense é atualmente o maior videomaker do cangaço. Frutos da sua produtora a Laser Vídeo seus inúmeros documentários se espalharam pelo mundo afora e são itens indispensáveis na coleções de nós cangaceirólogos.

E parece ainda há muita coisa por vir visse? É o que ele promete na entrevista que nos concedeu na ocasião do ultimo dia do Cariri Cangaço e que veremos a seguir.

A sua introdução no cangaço é semelhante à de muitos. Desde os tempos de menino. O avô era da RVC - rede de viação cearense; sempre lhe contava histórias sobre Lampião. Ele inclusive foi testemunha ocular do episódio ocorrido com o Cel. Isaías Arruda, em Aurora no Ceará.


Na infância adorava filmes de bang-bang e não imaginava aquelas histórias de tiroteios acontecendo ali na sua terra... Quando soube de Lampião... "O Faroeste Brazuca" Já viu né? Nunca mais deixou o tema.

Lia tudo que encontrava. Começou a viajar e gravar entrevistas apartir de 1984 e em 1997 conheceu aquele que viria à ser o seu grande parceiro de viagens... o estimado Paulo Gastão.

Messier Paulo e Aderbal, durante o Cariri Cangaço 2010.

 Á esquerda Dezinho Magalhães, Aderbal (com um punhal que foi do cangaceiro Sabino) e o chanceler Paulo na residência do colecionador em Serra Talhada, PE.

Estes dois cavalheiros juntos já fizeram incontáveis viagens em busca dos mais diversos depoimentos. Só para se ter uma ideia, a primeira vez que realizaram rumo à Angico foi em 1996 e, de lá pra cá, só para àquela região somam umas quarenta incursões, no mínimo. E de tudo que é jeito visse? Sozinho, com o grupo da SBEC, com jipeiros, com colegas que fazem trilha a pé, com grupo de ciclistas de Fortaleza, de caiaque, desceram desde a Cachoeira de Paulo Afonso até a forquilha do começo da trilha de Angico, na beira do Rio São Francisco remando com oito companheiros de Fortaleza. Levaram dois dias para ir de Paulo Afonso até a Grota.

Duvidam? Mai rapaz o "homi" é atleta!  E é evidente que ele prova todas essas façanhas em vídeo.

Equipe da Laser Vídeo em Angico, 1996.

Sila e Candeeiro na Missa do Cangaço em Angico
  
Gravando com Sila em Angico.

No Raso da Catarina, em 1997, entrevistou entre os índios Pankararés pessoas que eram amigas de cangaceiros; inclusive, encontrou entre estes um parente do cangaceiro Gato, oriundo desta tribo.
"Foi interessante porque no começo da entrevista um senhor que estava sentado e era cego, ouvindo a história, começou a chorar. Foi quando sua esposa disse: - Ele é primo de Gato. Essas entrevistas ainda hoje não foram usadas".
Vislumbrando o Raso da Catarina.

Na tribo com os curumins Pankararés


Então, apresente suas crias! 
- Nós temos em torno de sete documentários acerca do cangaço.
1 - FATOS2 - S I L A – Esse vídeo também apresenta uma entrevista com a ex cangaceira ADÍLIA companheira de Canário; 3 - A VIOLÊNCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANGAÇO4- CANDEEIRO depoimento do ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola; 5- MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO e a série de dvd´s do 6 - CARIRI CANGAÇO 2009. E mais um trabalho ainda inédito “VINTE E CINCO, UM CANGACEIRO DE LAMPIÃO”. Nos comprometemos com o mesmo a apresentá-lo somente após sua partida, espero que tão cedo eu não realize este lançamento.
Filho preferido? 
- O documentário Fatos é o meu trabalho preferido. Por conter depoimentos de pessoas que conviveram com Virgulino antes de se tornar o Lampião e outros que estiveram com ele na ocasião de sua morte.

 Com Durval Rosa em sua residência. Piranhas/AL.

De outro autor? 
- “O Ultimo dia de Lampião” do Maurice Capovilla.

E o livro? 
- Guerreiros do sol, de Frederico Pernambucano de Mello “E assim morreu Lampião” de Antonio Amaury.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro? 
- Indico Billy Jaynes Chandler. Não pende a balança para nenhum dos lados da história.

Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis? 
- Foi com Aureliano Alves, o “Lero”. Filho de Zé Saturnino. Ele mantém uma resistência, até com razão, porque a maioria dos trabalhos tende a incriminar mais o pai dele que o próprio Lampião. Após muita relutância nosso encontro só foi possível graças a um intermédio do Seu Luiz de Cazuza que é como se fosse um tio e de seu filho Zé Alves. Ele aceita, mas sempre acusando a imprensa - embora eu sempre o lembrando que eu não era repórter – E que iria usar a entrevista exatamente como ele me relatasse.

Isso foi gravado há vários anos, mas ainda não a utilizei em nenhum trabalho. Em um futuro próximo espero, assim como inúmeras entrevistas que temos e nunca sequer assisti, pois o material é muito vasto e só produzimos esses vídeos quando nos sobra um tempinho na produtora para edição etc; e para quem trabalha em produção de documentários empresariais sabe que tempo é coisa rara.

Já teve que pagar para obter alguma entrevista?
- Nunca, pelo contrario, eu que sai recompensado com uma amizade sincera de todos esses personagens, por exemplo, o Candeeiro, reservado caseiro, não se ausenta de casa passou uma semana hospedado em nossa casa em Fortaleza. A Eliza filha dele ficou admirada com o pedido do velho que gostaria que eu fosse pegá-lo em Buíque/PE e eu fui prontamente.

Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado? 
- Foi com o velho Antônio da Piçarra. Pra se ter uma ideia da ironia do destino eu viajaria num sábado com este intuito e ele vem há falecer dois dias antes.

Com quem gostaria de ter conversado? 
- Como documentarista você queria ter estado com inúmeros. Gravei muitos depoimentos importantes, alguns destes que até hoje eu nem assisti. Mas eu gostaria muito de ter conversado com o grande líder.

E filmado?
- Se eu pudesse estar presente, gostaria de ter registrado a invasão de Mossoró. Evidente que a resistência de Mossoró não é única, mas pense bem no pandemônio que foi em uma cidade daquele porte em total alvoroço com a chegada dos cangaceiros? Tiveram outras, como a pequenina Nazaré do Pico em Floresta, PE. Mesmo assim, eu imagino os fatos de Mossoró lendo o diário do Antônio Gurgel. Suas linhas nos relatam aquele final de tarde, chuva fina, o sino a repicar, a correria das pessoas, muitas embarcando no trem para se refugiar no litoral e a cidade fica praticamente deserta... Enfim, o restante da história quem pesquisa já sabe. Por isso eu, evidentemente, gostaria de estar presente.
Zé Cordeiro participou das trincheiras em Mossoró (1997)


Qual é o seu capitulo preferido? 
- Dentre tantos relatos emocionantes o meu capítulo é mais particular.
Eu viajava em companhia de Sila (ex-cangaceira, companheira de Zé Sereno) pelo interior da Bahia, cinco e meia da tarde, o sol se pondo, a seca predominava na paisagem, não pude deixar de perceber que ela estava chorando... (Pausa na entrevista - Aderbal viaja em pensamento e as lágrimas correm no seu rosto)
... Então eu pergunto - Sila você se sente mal? Ela não responde, continua chorando. Eu me prontifico a parar o carro e ela explica a razão: 
- Aderbal, essa é a hora mais triste da minha vida... Porque no mato eu começava a pensar: Meu Deus, onde eu ia dormir? Pensava se estaria viva ao amanhecer, se voltaria a ver meu pai, minha mãe e meus irmãos novamente. E nem ao menos se eu voltaria a comer arroz e feijão algum dia na minha vida. 
Então, Kiko, eu choro como chorei naquele dia ao presenciar as memórias de uma mulher de quase 90 anos, personagem desta história que a gente tanto persegue. Imagino o drama... É pra ficar imune ao sentimento? Como não ceder à emoção? 
Fico triste quando vejo algumas pessoas falarem tão mal de Sila. Pessoas que privaram de sua amizade e souberam utilizá-la. Mas que depois agiram de uma forma injusta. Não entendo... Tudo bem, se ela falou o que era mais conveniente para ela, – coisa que muitos outros ex cangaceiros fizeram, pra não dizer quase todos (tenha certeza disso) – Porém nós, como pesquisadores, é que temos que filtrar e colocar só o mais plausível. 
Eu, particularmente, só tenho a agradecer a todos com quem estive, pois todos me receberam muito bem e me ajudaram na hora em que precisei, então seria uma grande desfeita de minha parte hoje desdenhar de algum destes.
As meninas Sila e Adília depõem para o documentário
Um cangaceiro (a)? 
- Conhecendo alguns cangaceiros como eu tive a oportunidade eu elejo o Candeeiro! Principalmente pela irreverência.

Gravando com Candeeiro
 A direita o ex-cangaceiro "25"

Um volante? 
- Tenho um carinho muito especial pelo tenente João Gomes de Lira. Sempre me recebeu muito bem, tenho depoimentos seus gravados que não ainda tive oportunidade de utilizar.

 Equipe da Laser Vídeo com o tenente João Gomes.

Um coadjuvante?  
- Sr Saraiva o irmão do juiz de Limoeiro do Norte (CE) que estava presente na ocasião da visita do bando logo após o fracasso em Mossoró.

Uma personagem secundária?  
- O Cabo Panta, que diz ter sido ele o carrasco de Maria Bonita. Nunca provou e os seus contemporâneos, ou seja, colegas de farda sempre negaram este feito. (eu não estava lá, não posso julgá-lo... quem sabe foi ele mesmo? E outros dizem que não por quererem ficar com a glória; é muito fácil se dizer ‘conversei com fulano e ele disse que é mentira, quem matou foi ele e não o Panta’. Como saber se essa pessoa fala a verdade? Portanto, não podemos acusar alguém de mentiroso sem ter absoluta certeza.

Eu cito inclusive outro o soldado Bertoldo que também se declarou o samurai de Angico.
- Eis aí mais um mistério!

Geralmente todo pesquisador é colecionador qual é o foco de sua coleção? 
- Sou contra as coleções de relíquias tipo: tijolo, telha pedaço de madeira da casa de Lampião ou de qualquer outra personagem. Nêgo visita e resolve levar um souvenir diferente ai outros agem da mesma forma e amanhã? Minha neta e a de vocês não vai ver nada disso porque da história não vai restar nem os cacos. Enquanto outros estão guardando tudo em suas casas para o seu bel prazer, sem um mínimo de utilidade, é o que vai acontecer, quando estes se forem? A família que não vê qualquer importância vai jogar aqueles "cacarecos" no mato, e aí?... Não me levem a mal, é apenas o meu insignificante pensamento.

Portanto só coleciono imagens e vozes dos remanescentes e testemunhas desta história.
  
 A repórter Vânia entrevista os sargentos Elias Marques e Josias Valão às margens do velho Chico.
No local do Massacre da família Gilo.
Na residência do tenente nazareno Neco de Pautília em Floresta, PE,
junto com Luiz de Cazuza.

Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou? 
- Baile Perfumado. Embora não seja um filme exatamente sobre Lampião, mas sobre o mascate Benjamim Abraão. Ele conseguiu produzir o documentário que eu gostaria de ter feito (RISOS). Em minha opinião não há ficção alguma que supere a realidade.

Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião? 
- Houve um relato de que Lampião andava em Recife. Onde se podia conceber a figura já pública do rei do cangaço perambulando num grande centro sem ser reconhecido?

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”, “João Peitudo, filho de Lampião”, “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias”? 
- Não gosto de polemizar, no entanto acredito que ainda há muita coisa pra ser investigada acerca dos mistérios do cangaço. Esse caso Ezequiel: Nós inclusive temos um documentário sobre o assunto. Neste vídeo vocês vão ver seu Luiz de Cazuza que conheceu Virgulino e todos os irmãos Ferreira narrar o encontro com o suposto Ezequiel e o momento em que ele tem a certeza de estar diante do irmão de Lampião que todos acreditavam ter sido morto no combate na Lagoa do Mel em Paulo Afonso. O amigo João de Sousa conheceu o homem que disse ter enterrado Ezequiel. 

É impressionante, vejam bem: De súbito ele não reconhece traços semelhantes aos do velho amigo, a última vez que o viu ele estava equipado de cangaceiro. Naquele momento estava ali um homem trajando vestes comuns, como tirar esta dúvida? Seria preciso uma pergunta e ele se lembra de uma passagem entre eles no passado que só o próprio Ezequiel poderia recordar vou lhes contar a conversa:  
Pois bem, Estávamos eu (Luiz de Cazuza), Lampião, você e mais um cangaceiro (cujo nome seu Luiz não recorda) Tu lembras? 
- Lembro sim! 
- Quando vocês retornavam de Mossoró não foi? 
- isso mesmo! 
- Você há de lembrar que Lampião pede que eu vá buscar umas alpercatas que ele tinha encomendado... Pois bem, qual foi a reação daquele cangaceiro ao receber as alpercatas? 
E na lata o suposto Ezequiel responde: 
- Ele calçou e saiu pulando por cima de umas rochas gritando olha os macacos! Olha os macacos! 
- Aderbal foi daquele jeito mesmo. 
Só quem estava presente poderia saber se ele narrasse qualquer outro capitulo ele poderia estar simplesmente blefando, mas neste caso eu não posso duvidar da identidade do cabra. No evento do julgamento simulado de Lampião em Serra Talhada eu convidei dois importantes pesquisadores a ouvir este mesmo relato de seu Luiz e estes simplesmente se recusaram acreditar, por quê? Vai ver que não queriam comprometer seus trabalhos escritos e também porque não queriam correr o risco de se contradizerem mais tarde diante de um novo fato que fazia muito sentido! A obrigação do pesquisador é ouvir os fatos, não? 

Seu Luiz narra o aludido fato.

E Lampião: morreu baleado ou envenenado? 
- Do jeito que e história conta eu não aceito. Lampião morreu? Morreu. Mas como? É intrigante, pode até ter sido do jeito que se diz, mas é estranho.

Não posso concordar com a calmaria de Angico! Eu explico: Conheço muitos dos cenários visitados por Lampião, já cruzei a pé o Raso da Catarina. Sabe, eu gosto de sentir a atmosfera dos locais, então imagine a situação... Madrugada em Angico a aproximação de uma tropa de 40 e tantos soldados em sua maioria embriagados na escuridão para ninguém quebrar um galho, ninguém pisar numa pedra em falso... enfim ninguém produzir qualquer barulho que denotasse suas presenças? Acho improvável!

Em que assunto ou personagem está trabalhando ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes? 
- Meu próximo trabalho não é um vídeo, mas um livro. Um trabalho que tem como foco as minúcias do cangaço. Relatos que nunca foram escritos. Posso até antecipar um trecho: Gravando um depoimento do Sr. Chiquinho Rodrigues sobre o dia do ataque do cangaceiro Gato a Piranhas, na tentativa de libertar Inacinha, aquele tiroteio terrível, em certo momento ele diz: “– Olhe, foi a primeira vez que vi um homem sem chapéu!” Se não me engano, ele se refere ao Juiz da cidade que passa correndo por ele sem o chapéu. Avalie a importância que o chapéu tinha para o sertanejo? Ouvi relato também do Ten. Pompeu Aristides de Moura justamente sobre o uso do chapéu.
E além destes, são mais três relatos falando sobre este detalhe próprio da nossa gente. São assuntos deste tipo que vou colocar em folha.

O tenente Pompeu foi um dos responsáveis pela morte
do cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. 

Uma coisa interessante é que não terá fontes bibliográficas, pois tudo será fruto de depoimentos colhidos por nós. Pra encerrar deixo aqui também registrada uma pequena mágoa. Já vi alguns relatos em livros que foram tirados de nossos vídeos, pois até então ainda não haviam sido registrados em nenhum outro trabalho, e nenhum destes autores citou a fonte. 


Para não cometer injustiça, apenas o escritor canadense Gregg Narber atribuiu à nossa pesquisa os devidos créditos em seu excelente livro “Entre a cruz e a espada: Violência e misticismo no Brasil Rural”, da Editora Terceiro Nome.

 *As duas primeiras fotos foram concebidas por Coroné Severo.


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