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sábado, 8 de junho de 2019

AMOR, ESSE DESCONHECIDO

*Rangel Alves da Costa

Talvez nunca surja uma resposta para o que seja amor. Um sentimento que se desdobra em mil faces não é fácil de ser entendido. Ademais, há o amor amado, apaixonado, e há também o amor apenas querido, apenas desejado. Difícil saber o que se seja amor.
Mas será preciso arriscar em busca de, ao menos, uma aproximação. Assim, afinal de contas, o que é o amor? Do mesmo modo, o que o amor não é? Como dito, não são respostas fáceis. E principalmente por que o que aparenta amor muitas vezes pode se traduzir em seu inverso.
Mas o que é amor? Amor, na relação entre dois, é a comunhão de objetivos e sentimentos, é o sentir de um para com o outro, é o enlaçamento dos desejos do corpo, da alma e do coração. Tem-se um amor assim quando o afeto pelo outro se sobrepõe a tudo o mais, até mesmo o sexo.
Mas o que não é amor? Não é amor, na relação entre dois, sentimentos compartilhados por objetivos passageiros, frágeis, fugazes. Assim como quando o estar com o outro se afeiçoa mais a uma experimentação corporal, e nada afetiva. Não pode dizer que ama aquele que finge amar.
Amor é ter prazer com o outro, é sentir alegria pela existência do outro, é como uma devoção onde o outro assume um lugar de tamanha importância que passa mesmo a guiar as ações e as emoções. Amor é o alcance de um tamanho bem-estar que a pessoa se desprende em leve voo.
Amor não é o frívolo, a futilidade, o passageiro. Amor não é experimentação nem manipulação, não proveito que se tira para depois saber se vale a pena ou não dar continuidade à relação amorosa.
Amor é cuidar do outro, é se preocupar com o outro, é amar como se dividido estivesse e a vida só se completa com a junção da outra parte. Amor é, assim, um profundo e doce e terno contentamento do coração.
Amor não é ocasional, o acaso, o instante. O amor não é o amasso que se dá na balada e depois segura na mão para levar onde quiser e fazer o que bem entender. Amor não é promíscuo nem pecaminoso, não é libertino nem depravado.
Amor é sentir saudade a todo instante, é chegar à janela e avistar o seu nome na nuvem, é avistar na paisagem algo que faça recordar o ser amado. É ouvir no silêncio a canção de amor, é cantar tal canção sem abrir a boca.
Amor não é apenas o sexo, a transa, o gozo, o possuir. Amor não é fechar a porta e tirar a roupa, não é deitar ao lado e já querer ficar por cima ou por baixo, não é a pressa orgásmica do nada.
Amor é o afeto, é o carinho, o dengo, a singeleza como o outro é docemente tratado. É um cafuné, é uma xícara de café quentinho, é um pedacinho de bolo na boca. Amor é o alimento maior da alma e do coração.
Amor não é a relação de um dia, dois dias ou até mais, pois somente aprende a amar aquele que aprende a conhecer o outro, e isso possui o seu próprio calendário. Não é dizer que ama agora e esperar a resposta depois. A fruta do amor nunca é temporã.
Amor é ter o outro como amado e como amigo, é ter o outro como ouvinte e confidente, é ter o outro como aquele que pode fielmente acreditar, pois ali também parte de sua vida. Nada se esconde no amor verdadeiro.
Amor não é dizer que ama para agradar, não é dar flores quando não dá carinho, não é encher de presentes com intenções de acobertar os erros de rua. Amor é o buquê e o jardim, é a certeza que tudo doado é por merecimento do amor sentido.
Amor é a palavra amiga, a compreensão do silêncio, o partilhamento da dor e do sofrimento da pessoa amada. Quanto mais se ama mais os sentimentos se irmanam de tal modo que a pessoa a ser a outra pessoa, no seu sentir e no seu amor.
Amor não é fazer ciúmes, não é causar ciúmes, não é segurar o outro através do medo de perder. Quem ama não ameaça, não promete a si próprio a desonra para que o outro seja também desonrado. O amor não é mácula nem covardia.
Amor é o que está em Coríntios: “O amor é sofredor... Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... O amor nunca falha...”. É o que está em Camões: “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer...”.
E você, como ama? Se sentir saudade, está sentindo amor.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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