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sexta-feira, 8 de junho de 2012

LAMPIÃO TINHA TUDO O QUE NECESSITAVA - (REUNIÃO ANTES DE SUA MORTE)

Por: Sabino Bassetti

Amigos do Cariri Cangaço,
    
No meu entender, os motivos de Lampião se manter vivo por tanto tempo na vida bandida foram vários. Um deles é o fato dele respeitar o inimigo, não brigando quando não havia possibilidade de vitória como no caso do ataque a Mossoró e, outros de menor vulto. Outro motivo podemos dizer que seja o apoio que Lampião recebia dos coiteiros das mais diferentes classes. Tenho também que citar liderança que Lampião tinha sobre seus cabras não importando a importância que este ou aquele tivesse no grupo. E por fim a coragem natural que o rei dos cangaceiros possuía.

Quanto a ligação que Lampião tinha com coiteiros e protetores de grande projeção, era importante e  proveitosa para os dois lados

Sendo amigo e, prestando favores a Lampião, o fazendeiro, comerciante ou qualquer pessoa importante não teria suas propriedades, seus empregados e também suas famílias molestadas pelo cangaceiro.
           
Em contra partida, Lampião tinha em suas mãos tudo aquilo que nescessitava com bastante facilidade. Além disso, negociar com Lampião, era uma razoável fonte de renda. Mas não podemos negar, que existiram coiteiros importantes que serviam a Lampião apenas por amizade. Como exemplo das desvantagens de não se ter um bom relacionamento com Lampião, é lembrarmos do coronel Petronilo Reis, que logo depois de conhecer Lampião tornou-se seu inimigo sofrendo então enormes prejuízos.           
          
Tempos depois da morte de Lampião, falou-se que ele iria se encontrar com seus sub grupos em Angico, para tratar, da sua retirada do cangaço ou uma possível mudança de ares. Porém, poucos dias antes de Lampião chegar em Angico, ele esteve reunido com diversos de seus sub grupos e não tocou nesse assunto. Durante a semana que esteve em Angico, também lá esteve pelo mesmo período

Foto feita quando Zé Sereno já estaa liberto

Zé Sereno e todo seu grupo e, Lampião não disse uma palavra a ninguém a respeito de abandonar o cangaço ou o nordeste como se cogitou. O encontro de Angico foi apenas mais um encontro rotineiro de Lampião e seus sub grupos.
            
Taí meu caro Severo, espero que seja isso que o amigo queria. Estou a sua disposição para qualquer tipo de colaboração que eu possa dar.

Como se diz aqui no interior de São Paulo: "nóis num entende muito, mais nóis vai empurrando devagar".

Sabino Bassetti
Adendo

 "Lampião não disse uma palavra a ninguém a respeito de abandonar o cangaço ou o nordeste como se cogitou". (Sabino Bassetti)

Não querendo desmerecer o excelente artigo que escreveu o nobre escritor Sabino Bassetti, e não tenho autoridade para isso, e concordo com tudo que ele fala,  apenas apresentando o outro lado da moeda.  

Realmente não se tem informação que Lampião tinha planos de abandonar o cangaço, e que a própria cangaceira 


Sila disse ao pesquisador do cangaço Alfredo Bonessi, que na noite anterior à chacina, ela e Maria Bonita ficaram sentadas em uma pedra, lá na Grota de Angico, enquanto a rainha fumava, cujo respeito ela mantinha, não fumar na frente do rei Lampião.  

No momento Maria revelou que aquela vida já não aguentava mais, e que já tinha convidado o rei Lampião para sair da vida que levava.


O rei Lampião  não aceitou a proposta da sua rainha Maria Bonita, respondendo-lhe  que jamais deixaria o seu movimento.



Segundo Manoel Dantas Loyola, o ex-cangaceiro apelidado (Candeeiro), que mora em Buíque - PE, que cedeu um depoimento ao cineasta e pesquisador do cangaço


Aderbal Nogueira,  fala claramente que na reunião que o rei Lampião fez à noite anterior à chacina de Angico, em Sergipe, com os seus comandados, dizendo-lhes que estava  com planos de ir para Minas Gerais. Quem quisesse ficar que ficasse. 

Certo que em nenhum momento Candeeiro fala que Lampião tinha planos de abandonar o cangaço, mas de fugir para o Estado de Minas Gerais, isso ele fala claramente.

Se o ex-cangaceiro Candeeiro fantasiou o que afirma no vídeo abaixo, que Lampião queria sair do seu amado nordeste e ir para Minas Gerais, aí é outra história.

Vamos ver o depoimento do cangaceiro Candeeiro?


Laser- vídeo - Aderbal Nogueira
Cariricangaco.blogspot.com
lampiaoaceso.blogspot.com
blogdomendesemendes.blogspot.com

Lampião em Limoeiro

Por: Aderbal Nogueira

Amigos.

Segue uma entrevista raríssima feita com Custódio Saraiva, que era juiz municipal em Limoeiro do Norte quando da entrada de Lampião em sua cidade. Meu grande amigo Luciano Klein me presenteou com essa rara entrevista.

Estou mandando a 1ª parte da mesma. Logo enviarei a outra parte com muitas curiosidades, bem como com outros depoimentos de remanescentes daquela época. 

Talvez alguns amigos já conheçam essa entrevista, mas para muitos deve ser uma novidade.

A história não tem dono, portanto deve ser compartilhada.

Aderbal Nogueira 

CLIQUE NO LINK ABAIXO:


Uma produção da Laser Vídeo do cineasta Aderbal Nogueira 

QUANDO A RIBEIRA E OS CANGULEIROS TREMERAM

Por: Rostand Medeiros

Notícia do tremor de terra sentido no bairro da Ribeira, conforme noticiado em “Revista Illustrada”, do Rio de Janeiro, edição de 26 de julho de 1879.


Os tais “Cangulos” da nota, ou Canguleiros, era como se conhecia os habitantes da velha Ribeira de 1879, que por serem pobres comiam o peixe Cangulo (Balistes vetula). Já os habitantes do centro de Natal, gente mais abastarda, degustava o Xaréu (Carax hippos) e eram denominados Xarias. Não eram raros os conflitos entre os jovens Canguleiros e Xarias.

Acho que vem daí a semente mais remota do atual e terrível hábito das torcidas organizadas do ABC e do América se matarem na porrada depois do “Clássico Rei” do nosso pobre futebol.

Rostand Medeiros

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Lampião no cinema


O fotógrafo e mascate libanês Benjamin Abrahão Botto teria passado à história como amigo, secretário e confidente do mítico Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), o Padim Ciço da devoção popular nordestina, se não tivesse investido numa aventura que por muito pouco lhe custou a vida na década de 1930: enquanto mascateava e prestava serviços itinerantes como fotógrafo lambe-lambe, Benjamin Abrahão foi criando coragem para ir ao encontro do lendário Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), vulgo Lampião, líder do bando de cangaceiros que espalhava o terror pelo sertão.

A aventura do mascate acabou rendendo as únicas imagens registradas em filme e fotografias de Lampião e seu bando. Mas os objetivos de Abrahão, ao que se sabe, não eram dos mais nobres: a intenção era infiltrar-se entre os cangaceiros para fazer as imagens e angariar fortuna com a venda do filme e das fotografias para jornais e revistas do Brasil e de outros países.

O desfecho da aventura foi um golpe da sorte e do acaso, já que a intimidade com Padim Ciço serviu para salvar a vida do mascate no primeiro encontro com o bando de foras-da-lei. Abrahão sobreviveu à fúria do bando graças à sua iniciativa de caso pensado de invocar o nome do religioso: ele sabia que Lampião era devoto do padre e temeroso respeitador de suas crenças e conselhos.

O encontro de Benjamin Abrahão com o bando de Virgulino Lampião em 1936, em foto tirada pelo cangaceiro Juriti. Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira

Em Juazeiro do Norte, Abrahão havia presenciado o único encontro entre Lampião e Padre Cícero em 1926, ano em que a Coluna Prestes, liderada pelo militar e político Luis Carlos Prestes (1898-1990), percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Na intenção de combater as tropas de Prestes, que seguiam se embrenhando pelos confins do sertão, Padre Cícero e outros líderes regionais convocaram a ajuda das forças de Lampião e seu bando, com a promessa de que em troca todos receberiam anistia por seus crimes e o líder do grupo teria uma patente de capitão.

 Lampião retratado pelo mascate na caatinga, seguido por  Dadá

A versão mais conhecida da história aponta que o bando de Virgulino deixou Juazeiro do Norte sem nunca ter enfrentado a Coluna Prestes. O mascate, na época secretário de Padre Cícero, fez uma única foto do religioso ao lado do chefe dos cangaceiros e, desde então, passou a acalentar os planos da ambição de filmar e fotografar Lampião e seu bando para, de posse das imagens, fazer fama e fortuna.



Comerciante de tecidos, perfumes, bugigangas e miudezas, Abrahão nasceu no Líbano, território na época dominado pelo Império Otomano, em 1890, e havia aportado no Brasil em 1915. Sem dinheiro e sem rumo, primeiro decidiu tentar a sorte em Recife, depois seguiu para Juazeiro, atraído pela oportunidade de ganhar a vida no comércio resultante da frequência dos romeiros que buscavam Padre Cícero.

Padre Cícero aos 80 anos, em 1924, em foto atribuída a Benjamin Abrahão

Letrado e hábil negociante, Abrahão terminou por conseguir, em Juazeiro do Norte, o posto de secretário de Padre Cícero. Exerceu a função por 10 anos consecutivos. Depois, com a morte do líder religioso, em 1934, Abrahão partiu para uma empreitada sem rumo pelo sertão, na tentativa de encontrar o bando. Quando conseguiu chegar ao acampamento onde estavam os cangaceiros, foi salvo pela fé em Padre Cícero. Clamando para não ser morto, apelou para a devoção pelo religioso e conseguiu: teve a vida poupada e recebeu pousada no grupo.

Lampião e Maria Bonita

Lampião, vaidoso, ainda permitiu que o mascate registrasse as imagens que imortalizaram o bando de cangaceiros nas estampas de jornais e revistas durante o Estado Novo. As fotografias foram disputadas pela imprensa da época e mobilizaram o público nas principais capitais, enquanto o filme de Abrahão atiçava a curiosidade popular e chegou a ser exibido em Fortaleza. Mas em maio de 1938 o mascate acabou assassinado a facadas – um crime nunca esclarecido – e o filme foi apreendido a mando do presidente Getúlio Vargas.

Jackson do Pandeiro

Jackson do Pandeiro

Considerado o Rei do Ritmo, Jackson do Pandeiro nasceu na Paraíba e sempre soube tirar partido, como ninguém, da riqueza musical do Nordeste. Com o pandeiro, instrumento quase inseparável e através do qual demonstrava sua habilidade rítmica, gravou Sebastiana, seu primeiro grande sucesso, em 1953. Integrou o elenco da prestigiada Rádio Nacional, do Rio, na mesma época em que lançou canções como O Canto da Ema e Chiclete com Banana, dois de seus maiores sucessos. No palco, impressionava a todos pela facilidade de cantar diferentes ritmos como baião, coco, samba-coco e rojão, além de marchinhas carnavalescas. Em sua discografia, constam mais de 30 álbuns. Jackson do Pandeiro é tão importante para a música brasileira quanto Luiz Gonzaga e inspirou grandes nomes da MPB, como João Gilberto, Alceu Valença e quase todos os cantores, compositores e bandas do movimento Mangue Beat, do Recife. 

Há 93 anos, nascia Jackson do Pandeiro


Em apenas 29 anos de carreira, o paraibano Jackson do Pandeiro costurou um das bandeiras mais sólidas da música brasileira. Hoje, quando o calendário registra a data do seu nascimento (em 31 de agosto de 1919), seu nome continua sendo venerado e homenageado como um dos maiores ritmistas da Paraíba 28 anos após sua morte (em 10 de julho de 1982).
Na música nordestina, ele está no mesmo patamar que Pixinguinha ocupava no choro entre outros bambas.“Nasci com uma sina de cigarra / Aonde eu chegar, tem farra…”.
Talvez o menino de onze anos de idade tenha despertado seu talento quando acompanhava sua mãe Flora Mourão dando o passo no coco sob o comando do zabumbeiro João Feitosa, na região do Brejo Paraibano.
Cantar só no repertório da música nordestina, sua genialidade com malícia\, malandragem, suingue das emboladas e do coco, entre outros tipos atestam sua criatividade. Nos anos 50, participou como artista de filmes ao lado de grandes nomes como Dercy Gonçalves, Zé Trindade, entre outros, nas fitas: “Batedor de carteira”, “Cala boca, Etelvina”, “Tira a mão daí”, “Viúvo alegre”, entre outras.
Na década de 60, mostrou que também tinha cadência para marcar o passo no carnaval. Gravou com sucesso a música “Me segura que eu vou dar um troço”. Na sua carreira Jackson conviveu com a nata da música brasileira. Além de canções próprias, ele teve como compositores nomes consagrados, como Rosil Cavalcanti, Antonio Barros, Zé Dantas, Elino Julião, Gordurinha, Edgar Ferreira, Genival Macedo, entre outros. Deixou duas viúvas Almira Cavalcanti, sua parceira em gravações de discos e shows, e Neusa Flores dos Anjos, que viveu com ele até o último suspiro.
Sobre sua carreira, Jackson no auge do sucesso declarou: “Eu não queria ser quinto ou quarto baterista.
Por causa do suingue, um fox meio ligeiro que tinha antigamente, eu deixei de tocar bateria. Eu queria ser um baterista que todo mundo se admirasse. Eu toda vida gostei de ser assim. Não gostava de ser o último lugar. Eu gostava de ser segundo pra primeiro, e tal. Então era um baterista que só gostava de tocar a nossa música. Então abandonei e fui trinar um pouquinho de pandeiro. E sempre cantando. Cantando samba, cantando marcha de arrasta-pé, cantando coco, essa coisa toda”. 


As veias potiguares do Rei do Baião

Cantor Carlos André

Um potiguar no recomeço

Entre 1974 e 1983, a música de Luiz Gonzaga estava em baixa, estava para ser demitido da gravadora RCA quando o mossoroense Carlos André entrou em cena. 

Palavras do cantor Carlos André

“Trabalhei com ele desde 1960, quando o Trio Mossoró acompanhava Luiz Gonzaga nos shows, mas como eu também era sanfoneiro meus irmãos, João Mossoró (zabumba) e Hermelinda (triângulo), que viajavam mais”, lembrou André.

Carlos André lembrou que, em 1983, foi convidado pelo presidente da gravadora RCA para uma reunião e ficou sabendo que o amigo iria ser dispensado pois há quase uma década ia mal nas vendas. “Disse que dava para contornar a situação, que ia produzir os discos de Luiz Gonzaga, disse que ele fora da praia dele gravando com orquestras e que deveria voltar às origens. Passei mais de uma hora para convencer o presidente a dar uma nova chance”.

O potiguar produziu os discos “Danado de bom” (1984), “Luiz Gonzaga & Fagner” (1984), “Sanfoneiro macho” (1985), “Forró de Cabo a Rabo” (1986) e “De Fiá Pavi” (1987), álbuns que reúnem sucessos que imortalizaram Luiz Gonzaga. “Foi um sucesso atrás do outro. Era uma honra produzir esses discos, principalmente por que comecei imitando Gonzagão. Ele foi meu padrinho de casamento em 1963″.


Casamento de Carlos André tendo Luiz Gonzaga como padrinho, no Rio de Janeiro, no ano de 1963

Atualmente Carlos André trabalha com Fagner no relançamento de todo o acervo de Luiz Gonzaga. A previsão é que os discos cheguem às lojas em setembro, junto com CD de outros artistas que também regravaram Gonzagão e um DVD com depoimentos do próprio artista.

Publicado no Blog: "GrandePonto" em 27 de Maio de 2012

Se você quiser ler o artigo completo clique no link abaixo:

MIGUEZIM E VALENTÃO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

MIGUEZIM E VALENTÃO

Dá até tonteira falar nessa estória de Miguezim e Valentão. É conversa tão mafuenta que nem é coisa pra se dizer a homem de bem. Logo vai dizer que é invencionice demais e que procure outra pra lorotar.

Mesmo assim vou falar. Só pra não carregar peso na consciência vou contar. E vou dizer pra deixar bem claro como tudo aconteceu e não permitir que uma gente maldosa invente inverdade diante do fato estranhamente escabroso.

Então vamos lá, iniciando por dizer de quem se trata essa estória, quem são esses dois cabras que pelejaram em desigual luta de defesa e ataque debaixo do sol. Um querendo matar, o outro não querendo morrer; um querendo acabar de vez com o desafeto criado, e este fazendo tudo para sobreviver.

Um era Miguezim, também chamado Miguezim Tamborete, Miguezim Couro e Osso e também Miguezim Já Morreu. Coitado do homem, com menos de metro e meio de altura, magrinho, franzino que só, parecia disposto a ser arrastado pelo vento a qualquer momento.



Não só desse jeito, mas também medroso que só, cabra tão frouxo que não chegava perto nem de briga dos outros. Tinha razão de ser assim. Se levasse uma palancada não tinha coragem de revidar, se levasse um cascudo não podia fazer outra coisa senão botar o rabinho entre as pernas e fugir.

Já o outro era totalmente diferente de Miguezim. Era o contrário, o inverso e o outro jeito. Cabra grandão, corpão de rochedo matuto, fazia sombra caminhar longe por onde passava. Não respeitado por ninguém, e sim temido por todos. Todo mundo lhe cumprimentava alegre e com as pernas bambeando de medo.

Porém suas principais características eram outras, e nada dignamente virtuosas. Ex-capanga, pistoleiro de aluguel, carregando nas costas mais de dez derrubadas. Dizia-se protegido pelos poderosos e desafiador da justiça. Apregoava que se lhe botassem as mãos abria a boca pra dizer a mando de quem já tinha matado tantos. Por isso vivia solto e ameaçando o mundo.

Já ia esquecendo o nome do cabra metido a valente, pistoleiro afamado, sujeito de tocaia e de matar por besteira, bastando pensar que o outro estava passando o olho diferente. Tinha só apelido: Valentão, mas também atendia se fosse chamado por Cascavel ou Morte-Certa. Vivia com cara feia e fechada de um jeito que nem mosca de botequim passava por perto. Era feio demais, horripilante. Mas quem era doido dizer isso?

Miguezim tinha medo desse homem de se acabar. Se soubesse que estava tomando pinga num bar, evitava passar até pelo quarteirão. Pensava que bastava uma cusparada do homem e seu fim era certo. Mas não sabia o que estava prestes a acontecer, pois Valentão andava precisamente o procurando pra tirar a limpo uma fofoca que ouviu dizer.

Quer dizer, não ouviu dizer nada, pois ninguém era besta de dizer ao desnaturado uma conversa daquela. Verdade é que pra testar a fidelidade de sua esposa, chegou em casa e cismou de dar uma surra na pobre coitada, exigindo que a mesma dissesse que se não fosse ele qual outro homem que ela teria coragem de deitar.


Pra não morrer, a pobre coitada disse o nome do improvável: Miguezim. Da boca da inocente mulher veio a sina de morte do outro pobre coitado. No mesmo instante Valentão saiu porta afora disposto a tirar a vida daquele que talvez um dia pudesse fazer safadeza com a sua mulher.

Coitado de Miguezim. Valentão ia de bar em bar tomando cachaça e perguntando se alguém tinha visto o futuro defunto. Um bebinho abriu o olho e saiu às escondidas, correndo nas pernas bambas para dizer ao escolhido que se preparasse para morrer. Quando ouviu sobre quem estava no seu encalço para matá-lo, então quase morre antes da hora. Ficou sem cor, diminuiu de tamanho, tremeu que parecia querer se quebrar.

Mas o bebinho, na sua coragem etílica, disse que não tivesse medo de nada não, pois Valentão só tinha fama sem jamais ter matado nem uma mosca. E segredou ainda que o mesmo nunca havia matado ninguém porque a coisa que mais tinha medo na vida era de defunto. Por isso mesmo se pelava todo quando ouvia falar em velório e nem passava perto de cemitério.

Será que é verdade? Foi a indagação que povoou Miguezim. E ajuntou: Se for mesmo verdade já sei o que fazer. Ao invés dele me encontrar em qualquer canto de rua, sou eu mesmo que vou tirar satisfação com o medroso. E partiu em direção ao boteco onde Valentão estava tomando mais uma golada antes do tiro certeiro.

A conversa se espalhou num segundo pela cidade. Quando Miguezim chegou diante do botequim o povo já se fazia multidão pelos cantos, pelas brechas, por trás dos postes, por todo lugar que fosse mais ou menos seguro. E todos já oravam pela alma daquele pobre homem que na vida nunca passou de tamborete.

Diante do boteco Miguezim encontrou uma força na voz que não sabia possuir. Gritou pelo nome de Valentão e disse que precisava falar com ele ali fora. Num repente e a descomunal figura apareceu na soleira, caminhando entre cusparadas e de arma já em punho. E foi logo dizendo diante do fracote: Sabia que vai morrer?

E Miguezim respondeu: Sabia e por isso mesmo estou aqui. Sei que vou dessa pra melhor, mas juro que toda noite vou lhe aparecer feito alma penada e puxar bem no dedão do seu pé.

Ao ouvir tais palavras, Valentão desvalentou, ficou sem um pingo de sangue, arrepiou os cabelos, ficou apalermado. Mas encontrou força suficiente pra correr dali quando Miguezim ainda disse que não vinha só, mas sim acompanhado de todos os defuntos que morreram sem gostar dele.

E até hoje a poeira cobre na carreira do Valentão.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Construção (Poesia)


Por: Rangel Alves da Costa*


Construção


Diante dos olhos
nesses descampados
de pedra e solidão
construirei uma casa
sem tijolos nem cal
sem cimento nem areia
sem brita nem ferro
sem nada pregado
batido ou forjado
sem nada juntado
com porta e janela
com nada mesmo
apenas uma casa

se perante o homem
a mulher solidifica
a vida e o futuro
transforma o vazio
em perfeito espaço
ergue no coração
insuperável fortaleza
guarda no caráter
as chaves e cadeados
então ali será moradia
casa maior da vida
erguida na mulher
que sabe amar
criando o endereço
da felicidade

por isso diante dos olhos
nesses descampados
de pedra e solidão
construirei uma casa
uma casa tão linda
quanto amar será
os teu corpo abraçar.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com


Família do Coronel Luiz Gonzaga


Material adquirido no acervo do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros, publicado no da 8 de junho de 2011, no blog Lampião Aceso.


Foto tirada no Porto da Madeira, Recife, onde passaram a residir logo depois do ocorrido em Belmonte. Sua esposa é a senhora vestida do preto, de luto pelo falecimento de Gonzaga. 

Fonte - Arquivo de Valdir Nogueira, Belmonte-PE, através do pesquisador Artur Carvalho.

Dias depois, o “Diário de Pernambuco”, de 1 de novembro, reproduz na página 4 uma nota do jornal oficial do governo paraibano, “A União”, informando que o bando havia sido visto na Serra do Catolé, ainda em território pernambucano, mas próximo a fronteira paraibana. Estariam nesta serra 50 bandidos e o bacharel Severino Procópio, junto com o tenente Manuel Benício e uma força paraibana, estavam a postos para atacar os cangaceiros. Mas o bacharel solicitava reforços de Pernambuco, para assim alcançarem um número de 150 policiais, pois devido às condições geográficas da região, só um número grande de homens para desalojar os cangaceiros do alto das serras. Mas aparentemente nada foi feito.[23]