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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A MORTE DO SUB-CHEFE DE GRUPO MANÉ MORENO..!


Acervo do Ivanildo Silveira

O Odisseia Cangaço de hoje, vai falar sobre o cangaceiro Mané Moreno, da família dos Engracias. Vamos conhecer o local da emboscada da Volante de Odilon Flor de Nazaré, ao bando de Mané Moreno no povoado Palestina. 

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TRADUZINDO O SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.210
SERTÃO ALAGOANO. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
·        Marceneiro. Profissional da madeira que faz e conserta   móveis
·        Carapina. Profissional da madeira para cobertura e pisos de casas. O mesmo que carpinteiro;
·        Flandreleiro. Aquele que trabalha com o zinco fabricando bicas e candeeiros de frandres. Em outras regiões: funileiro. (Em extinção).
·        Bica. Calha de zinco por onde escorre a chuva;
·        Retelhador. Profissional exclusivo para cobertura residencial com telha (em extinção);
·        Vasculhador. Profissional que usa vara e vassoura de palha para limpar o teto de residências de madeira e telha (em extinção);
·        Cavoqueiro. Especialista em explosivos nas pedreiras;
·        Almocreve. Condutor de tropas de burros em transporte de mercadorias. Em outras regiões: tropeiro;
·        Boiadeiro. O que compra e vende boiadas;
·        Tangerino ou tangedor. O que conduz animais de um lugar para outro, a pé ou a cavalo;
·        Mascate. Aquele que negocia seus produtos de feira em feira;
·        Fazendeiro. O dono da fazenda;
·        Morador. Administrador ou simples morador da fazenda;
·        Vaqueiro. O que cuida do gado em geral, nas fazendas;
·        Tirador de leite. Especialista em ordenhar;
·        Vaquejador. Trilha na caatinga por onde o gado é conduzido;
·        Marchante. Vendedor de carne bovina nos açougues;
·        Aboiador. O que canta aboios, toada; (antes) para acalmar o gado;
·        Corisco. Fagulha elétrica que corre durante as trovoadas;
·        Jagunço. Guarda-costas de fazendeiros; o mesmo que capanga;
·        Vara de ferrão. Vara para conduzir os bois de carro, com um ferrão em uma das extremidades.


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O FEITIÇO DAS COISAS

*Rangel Alves da Costa

Não adianta dizer que não vai mais amar, que desistiu de compartilhar abraços e beijos, de ser do outro mais que de si mesmo. Não adianta porque em certas coisas a pessoa não manda, não tem suficiente poder para dizer que não, que não vai mais fazer.
Há feitiço em tudo. O coração mesmo depõe contra a pessoa. Tudo se faz para não se envolver, para dizer não, para evitar esse primeiro gole de paixão, mas não haverá jeito. O coração é bruxo e traiçoeiro, age ocultamente e quando a pessoa percebe já está no caldeirão dos perdidos.
Mas eu amei e me arrependi, pois sofri demais. Assim se diz. Contudo, não vai muito e a mandinga já está preparada. E a pessoa passa a se envolver como se nada tivesse dito. E o pior que se entregando total e cegamente àquilo que tanto desejou evitar. E por amor, e por amar, enfrenta tudo, até o sofrimento e a dor.
O feitiço está em tudo. Melhor não dizer que desta água não beberei ou que os meus passos jamais caminharão por esta estrada. Evita-se ao máximo, tudo faz para cumprir o prometido. Mas de repente a mandinga do acaso ou a bruxaria do desejo escondido novamente ataca.
E não adianta se benzer, tomar banho com sal grosso, borrifar-se de água benta, sair com Bíblia debaixo do braço ou com santo na ponta da língua. Tudo acontece como encantamento, como cegueira, como coisa do outro mundo. De repente a pessoa estará nos braços da perdição.
Em tudo há um feitiço atiçando e desnorteando a vida. Eu não queria, mas... Fiz tudo para evitar, mas não houve jeito... Apenas experimentei, mas não queria que fosse assim... Minha força fraquejou ante o pecado e então pequei... Assim acontece. Tudo como se o livre-arbítrio despudoradamente ocultado fosse a chave para a inversão.


Ora, o corpo em si já é um caldeirão de enfeitiçamento. O corpo é fascínio, é encanto, é sedução. O corpo é chama que queima além da medida e braseiro que chameja ainda que esteja em cinzas. E possui duplo significado: o da provocação e o da atração.
O feitiço está nos dois, tanto na provocação como na atração. Ao provocar, desata os laços desconhecidos do outro e já não pode dizer que não tem culpa pelo que venha acontecer. Ao atrair, eis que chama para si as consequências tanto do se permitir como do desejo do outro. Um jogo perigoso demais, vez que mais forte que o feitiço é a cegueira da possessão.
Não brinque com coisa séria, então. Lute com todas as forças do mundo para que nem enfeitice nem seja enfeitiçado. Uma simples atitude, como uma roupa curta demais ou um erotismo exagerado no andar, pode ser aquilo que o feitiço tanto esteja esperando.
Ninguém está livre do mal ou da maldade, uma verdade. Contudo, quem brinca com fogo se queima, quem anda nu pode sentir frio, quem sai na escuridão pode encontrar o indesejado. Os olhos estão vendo, as mãos querem tocar, as lascívias querem satisfazer seus instintos pecaminosos.
Use um amuleto. Sim, use um amuleto. Use um patuá, um talismã, uma pedra sagrada. Coisa do outro mundo, sobrenatural, difícil de encontrar? Não. De jeito nenhum. Nenhum talismã é mais forte que a força própria, que o desejo próprio, que a certeza de saber o que faz e o que deseja com cada ação.
Pronto. Está salvo. Até que abra a porta e sinta um diferente fascínio por viver, por amar, por ser feliz. Mas já não será feitiço, e sim o encantamento de um coração que coerentemente desperta para viver, amar e ser feliz.

Escritor
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LAMPIÃO EM AURORA / CE

Texto extraído, na íntegra, do livro AURORA - História e Folclore" de Amarílio Gonçalves Tavarespág. de 138 a 146.

Em virtude da amizade com o Coronel Isaías Arruda, na verdade um dos grandes coiteiros de Lampião no Ceará, o rei do cangaço, como era chamado, esteve, mais de uma vez, no município de Aurora. Em suas incursões pelo município Sul-cearense, o bandoleiro se acoitava na fazenda Ipueiras, de José Cardoso, cunhado de Isaías.

Estação Ferroviária de Aurora, inaugurada em 07/09/1920
Uma dessas vezes foi nos primeiros dias de junho de 1927.

Na fazenda Ipueiras, onde já se encontrava Massilon Leite, que chefiava pequeno grupo de cangaceiros, Lampião foi incentivado a atacar a cidade norte-rio grandense de Mossoró – Um plano que o bandoleiro poria em prática no dia 13 do citado mês. Em razão do incentivo, Lampião adquiriu do coronel um alentado lote de munição de fuzil que, de mão beijada, Isaías havia recebido do governo Federal (Artur Bernardes, quando este promoveu farta distribuição de armas a coronéis para alimentar o combate dos batalhões patrióticos ‘a coluna Prestes (54)

Presente aquela negociação, que rendeu ao coronel Isaías a considerável quantia de trinta e cinco contos de réis, esteve o cangaceiro Massilon, que teve valiosa influência junto a lampião, no sentido de atacar Mossoró, cujos preparativos tiveram lugar na fazenda Ipueiras.Consta que Massilon Leite – associado a Lampião no sinistro empreendimento – tinha em mente assaltar a agência local do Banco do Brasil e sequestrar uma filha do coronel Rodolfo Fernandes.

O Bando de Lampião que chegou a Aurora era composto de uns cinquenta cangaceiros, dentre os quais Rouxinol, Jararaca e Severiano, os quais já se encontravam, há dias, na aludida fazenda acoitados por José Cardoso. De Aurora, Lampião levou José de Lúcio, José de Roque e José Cocô ( José dos Santos Chumbim), todos naturais da região de Antas, tendo sido incluídos no subgrupo de Massilon.

No dia 13 de junho de 1927, Lampião ataca a cidade de Mossoró, a mais importante do interior do Estado potiguar. “ Após quarenta minutos de fogo, já tendo tomado duas ruas, Lampião ordena a retirada. Fracassara o seu maior plano (55). Após o frustrado ataque ‘a cidade norte –riograndese, Lampião bate em retirada, entrando no Ceará pela cidade de Limoeiro, onde não é importunado. Ali fez dois reféns a resgate – pessoas idosas e de destaque social- e teve a petulância de , com seu grupo, posar para uma foto, no dia 16 daquele mês.

Ante a ameaça de invasão das cidades da zona Juaguaribana e já havendo um plano de combate ao famigerado bando, juntaram-se contingentes policiais de três estados – Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba – numa quixotesca campanha contra Lampião, tendo sido nomeado “ comandante geral das forças em operações “ o oficial cearense, Moisés Leite de Figueiredo ( Major ).

No dia 16 de junho, a força paraibana havia seguido para Limoeiro, mas ao chegar ali, Lampião já tinha levantado acampamento. Prosseguindo em sua retirada pelo território cearense, com um grupo reduzido a trinta e poucos homens, em virtude da morte de dois dos mais temíveis cangaceiros – Jararaca e colchete – e das deserções que se seguiram ao malogrado ataque, inclusive a de Massilon Leite e seu subgrupo, Lampião é perseguido por volantes, com as quais trava combates. Dentre estes, o mais intenso foi o travado no dia 25 de junho, na Serra da Macambira,, município de Riacho do Sangue, no qual Lampião, mais um vez, provou a sua invencibilidade.

Enfrentando uma força de mais de trezentas praças, sob o comando exclusivo do tenente Manoel Firmo, este sendo auxiliado por nove tenentes – José Bezerra, Ózimo de Alencar, Luiz David, Veríssimo Alves, Antonio Pereira, Germano Sólon, Gomes de Matos, João Costa e Joaquim Moura, Lampião pôs-se em fuga incólume, deixando quatro soldados mortos. Seguiram-se combates menores em Cacimbas (Icó), Ribeiro, no vale do Bordão de Velho, e Ipueiras os dois últimos no município de Aurora, com o Rei do cangaço levando a melhor.

No dia 28 de junho, Lampião contorna a serra do Pereiro, passando pelas serras vermelhas, Michaela e Bastiões- o Grupo marchava a pé, por veredas e nunca por estradas – tendo a tropa em seu encalço. É ai que Lampião resolve derivar para o lado do Cariri e continuar a retirada em direção ao município de Aurora, onde esperava encontrar refúgio no valha Couto do seu “amigo” Isaías Arruda.

Em seu livro “ Lampião no Ceará, narra o major Moisés Leite Figueiredo que, no dia 1º de julho de 1927, Lampião cm seu grupo estacionava no alto da serra de Várzea Grande no lugar olho d’água das éguas. E Que ali perto, no lugar ribeiro, já se encontrava as forças do tenente Agripino Lima, José Guedes e Manoel Arruda – o primeiro, da polícia do rio grande do norte, e os dois últimos, da polícia paraibana -, valendo salientar que tais contingentes totalizavam “ cerca de duzentos homens, bem aparelhados, no dizer do major Moisés.

A tropa que teve encontro com os bandoleiros foi a do tenente Arruda, empiquetada no sítio Ribeiro, onde aconteceu um fato tão misterioso, quanto engraçado. Não obstante o lugar se achar “ bem guarnecido “, ao clarear a barra , “ O Grupo de Bandoleiros, sem sofrer o menor revés, passou entre as trincheiras, nas quais os soldados dormiam, para só despertarem depois, com cerrada fuzilaria, quando os bandidos não estavam mais ao alcance da pontaria da polícia” O Grupo ocultou-se no vale do Bordão de velho.

Do local onde estava, Lampião enviou dois cabras ‘a casa de João Cabral, morador ali perto, convidando-o a vir a sua presença. João Cabral a tendeu e Lampião disse-lhe estar com fome e sede, pedindo alimento e água para o grupo, no qual foi atendido.

Marchando pelo pé da Serra da várzea grande, Lampião chega a fazenda Malhada funda, onde faz alto, sendo recebido por Gregório Gonçalves, que, após saber com quem estava falando, perguntou a Lampião em eu podia servi-lo. Este respondeu “só quero comida para minha rapaziada”. Gregório Mandou matar o boi que estava no curral, e duas ou três ovelhas. Os cangaceiros estavam com tanta fome, que não esperaram. Comendo as carnes sapecadas. Os quartos de Ovelha, eles colocaram nos bornais sobressalentes, junto com farinha e rapadura.

Ao retirar-se, Lampião levou João Teófilo como guia. Este saiu montado num burro que o bandoleiro havia tomado de um cidadão que estava comprando rapaduras. O Bando saiu na direção sudeste do município. Lá muito adiante, o guia foi substituído por outro de nome David Silva, tendo lampião recomendado a João Teófilo pra só voltar quando escurecesse, e que não fosse pelo mesmo caminho.

Continuamos a narrativa, baseada no livro do major.

Em sua marcha, Lampião procurou a Serra do Coxá, na divisa do município de Aurora com o de Milagres, burlando a vigilância dos policiais, de tal modo que estes se afastavam do ponto em que estavam os bandidos, tomando o rumo de Boa Esperança, serrote do cachimbo, Riacho dos Cavalos, Ingazeiras e Milagres. Como se Vê, Lampião era um perito em estratégia Militar. Uma de suas táticas consistia em ludibriar a polícia que andava no seu encalço, como fez, quando procurou a Serra do Coxá.

Deste modo, tornou-se inócua a providência do Major Moisés, designando o tenente caminha para colocar piquetes nas estradas, uma vez que, por estas, não passarias o grupo de bandidos. Enquanto Lampião ficava escondido na Serra do Coxá, O tenente Manoel Firmo seguia para o lado oposto, isto é com a sua tropa, passava de trem por Aurora, em demanda ao Cariri, sem dar satisfações ao seu chefe, major Moisés, que naqueles dias se encontrava em nossa cidade, em tratamento de saúde.

Com o tenente Manoel Firmo, viajavam os tenentes Luís Leite, Laurentino, Moura Germano, em passeio a Juazeiro e Crato, totalmente despreocupados com os bandidos.
Para piorar a situação do “ comandante das tropas “ em operações”, chegavam em Aurora o contingente comandado pelo tenente Agripino de Lima, que conduzia trinta e quatro animais de montaria, tomados a fazendeiros de Icó, Peneiro e Jaguaribe.

Quando o Major pensava que o oficial vinha em seu auxilio, o tenente Agripino comunicava-lhe que resolvera abandonar a campanha e voltar pra o Rio Grande do Norte. Diante disso, o Major Moisés apreendeu os referidos animais, entregando ao Sr. Vicente Leite de Macedo, com a recomendação de devolvê-los aos respectivos donos. Além dos animais tomados a sertanejos, o Major Moisés constatou irregularidades na tropa do tenente Agripino, como a venda de munição feita por praças e muitas destas se entregando ‘a embriaguez.

A atitude do tenente Manoel Firmo, viajando para Juazeiro e Crato, arrastando o grosso da tropa e quatro tenentes, deixou o comandante Moisés “ num mato sem cachorro “ . O Major viu-se na contingência de pedir ajuda – imagine o leitor a quem - Ao coronel Isaías Arruda, o mesmo que, tempos atrás, havia acoitado lampião,mas que, agora, dava uma de perseguidor do bandoleiro, pondo oitenta e sete cabras à disposição do major Moisés.

Se no combate travado com os bandidos, na Serra da macambira, havia cerca de 400 praças, como se explica ter o major Moisés levado para Ipueiras apenas 15 soldados. Descoberto o paradeiro de Lampião no alto da Serra do coxá, destacaram-se elementos de confiança para, aproximando-se do grupo, conhecerem melhor a sua posição, dentre eles Miguel Saraiva, tio de um dos bandoleiros e morador nas proximidades.

Foi então que o Major Moisés e Isaías Arruda conceberam um estratagema, que consistia em preparar um almoço para Lampião e seus cabras, na casa de José Cardoso, em Ipueiras, e juntos, abaterem o bandido, e juntos, abaterem o bandido nas horas conveniente. Miguel Saraiva se faz acompanhar de oito homens que se apresentam a Lampião, fingirem que são perseguidos pela polícia, e para melhor comover o chefe dos bandoleiros, lamentam e choram a sua desgraça, tentando com isso, infiltrar-se no bando.

“Alguns bandoleiros aceitaram a presença de novos companheiros, ma Lampião logo faz sentir que não acolhia em seu grupo pessoas que lhe fossem estranhas” os oito homens de Miguel Saraiva tinham recebido instruções para atacar os bandido na hora em que o grupo “ descansasse” a armas para almoçar.
Simultâneamente, os soldados e jagunços puseram-se discretamente em volta de casa, prontos para fechar o cerco aos bandidos, no momento oportuno. Mas o ardil fracassou, porque Lampião, sagaz,, arisco e desconfiado, chegou a rejeitou o almoço oferecido por Miguel Saraiva. E colocou sua gente em pontos diversos e estratégicos.

Eis como o major Moisés descreveu o tiroteio, “Conhecido o fracasso do estratagema, fomos impelidos a atacar os bandidos, com ímpeto, de sorte que, em pouco tempo, estavam debaixo de cerrada fuzilaria. A luta teve início pouco mais ou menos ‘as 12 horas do dia 7 de julho, tendo uma duração de mais de três horas, terminou infelizmente, porque os bandido caíram em fuga, e no campo deixaram dois mortos, um queimado, que recebeu vários ferimentos, e outro também morto na ocasião em que fugia”.

Essa foi a história narrada pelo major Moisés no citado livro. Entretanto, existe outra versão para o episódio segundo nos contaram Róseo Ferreira e Vicente Ricante que , na época, moravam nas proximidades da fazenda Ipueiras, a coisa aconteceu assim.

O Major Moisés Leite e o Coronel Isaías Arruda combinaram um plano de acabar com Lampião, assim que este chegasse em Ipueiras, pois sabiam que o grupo vinha desmuniciado e bastante desfalcado, em consequência da derrota sofrida em Mossoró em Mossoró e das deserções que se seguiram ao frustrado ataque aquela cidade norte rio grandense.

Lampião ficara na manga com a cabroeira. Convidado pra almoçar na casa de José Cardoso, na citada fazenda Ipueiras, o Rei do Cangaço compareceu com alguns dos seus rapazes.

Quando Miguel Saraiva chegou e pôs sobre a mesa o alguidar contendo o almoço envenenado, Lampião tirou do bornal um colher de latão e meteu-a na comida. Quando puxou a colher, o bandido notou mudança de cor e deu alarme. “ ninguém come desta comida. Esta comida está envenenada!

Nisto, Lampião se os seus cabras conseguem romper o cerco de um cordão de jagunços e soldados a paisana que se formara em volta da casa, e oco em volta da casa, e correm pra a manga onde ficara a maior parte da cabroeira, sendo atacados pelo cabras de Isaías e soldados do major Moisés. Ao mesmo tempo em que estrugiu a fuzilaria, os atacantes lançaram fogo na manga, por todos os lados do local em que estavam os cangaceiros.

Lampião investiu várias vezes contra os atacantes, conseguindo, por fim, escapar por um corredor. Lampião perdeu dois cangaceiros, um queimado e ferido por ocasião do ataque. O Outro, com ferimento no ouvido, ficou em Ipueiras, em tratamento, mas os coiteiros acabaram de mata-lo, tocando fogo no cadáver...

Ao escapar do cerco de Ipueiras, lampião tomou o rumo da Serra do Góes, perto de São Pedro do Cariri, atual Caririaçu. Veja o leitor o Zig- zag feito por Lampião para confundir a polícia.

No dia 7 de julho, Lampião saiu de Ipueiras, desceu pelo riacho do pau branco, atravessou o rio Salgado no lugar barro vermelho, passou pelos sítios Jatobá e Brandão, fazendo “ alto “ em vazantes. Na serra dos quintos, fez um refém – o Sitiante Joaquim de Lira – para ensinar o caminho para a serra do Góes, aonde chegou, no início da noite.

Na manhã do dia 9, Lampião deixou a serra do Góes e rumou para o município de Milagres, atravessando a via - férrea no lugar Morro Dourado. O Major Moisés havia mandado tomar as ladeiras da Serra do Mãozinha e São Felipe, por onde poderia passar o bandoleiro. Mas lampião, mas uma vez, conseguiu burlar a forca policial e penetrou no estado da Paraíba, pela serra de Santa Inês, no rumo de Conceição do Piancó, de onde prosseguiu em fuga para Pernambuco.

*54 Frederico Pernambucano de Mello, op. Cit. P 32*55 ibidem, p. 116.

Transcrição de Ivanildo Silveira
Natal, RN 

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O SERTÃO SOB AS LENTES DE NOVA IORQUE: SILVINO ATACA NOVAMENTE


No dia 27 de outubro do corrente ano, O CPDoc-Pajeú, através de um artigo assinado pelo coletivo, trouxe ao conhecimento do público uma reportagem publicada no dia 27 de março do ano de 1971 no jornal americano The New York Times que, a partir da análise de cunho etnográfico acerca da procissão de São José ocorrida em 19 de março desse mesmo ano São José do Egito (PE), descrevia o flagelo enfrentado pela população do município durante a seca de 1970 e tecia uma  crítica à política de desenvolvimento regional até então implementada pelos governos que, segundo o articulista americano, negligenciava “a agricultura rural” e “manteve nordestinos em suas terras inóspitas e vivos nos níveis de subsistência durante a seca”.

Diante da repercussão que esse artigo teve, tendo sido veiculado em vários sites, blogues e programas de rádio da região, o CPDoc-Pajeú decidiu disponibilizar parte de seu acervo e de sua produção através da publicação de uma série intitulada “O Sertão sob às lentes de Nova Iorque”, conjunto de artigos a serem produzidos a partir das reportagens publicadas pelo The New York Times que tem como foco as áreas do Sertão nordestino. Nesse sentido, hoje estamos reportando a publicação de 04 de agosto de 1907, que descreve a ação do cangaceiro Antônio Silvino e seu grupo ao atacar um engenho (plantação de açúcar) localizado a “duzentas milhas” da Capital, o que colocou 400 praças da força policial do Estado de Pernambuco em seu encalço.

Nessa ação, que sofreu reação de apenas um homem, morto de imediato, Antônio Silvino e seu grupo conseguiram do proprietário, a título de extorsão, a bagatela equivalente a dois mil dólares e obrigou a abertura da loja (bodega ou barracão) do engenho para que os trabalhadores dessa propriedade distribuíssem, entre si, a mercadoria estocada na loja. Silvino ainda ameaçou retornar e punir o proprietário se este perseguisse algum dos trabalhadores que, porventura, recebessem os produtos provenientes da loja.   Na reportagem, não existe indicação precisa da localização do engenho em questão, mas a informação de que a última ação do grupo de Antônio Silvino registrada pela imprensa teria sido realizada em janeiro daquele ano em um engenho localizado perto da povoação de Santa Cruz nos faz presumir tratar-se da região serrana de Triunfo/Baixa-Verde, histórica produtora de cana-de-açúcar e que fica, justamente, a mais de 200 milhas da Capital. Nessa ação, que culminou com a invasão da povoação de Santa Cruz o grupo de Silvino teria cometido mortes e estabelecido uma cobrança de valor equivalente a 50 dólares a título de extorsão.


Apesar de Antônio Silvino já ter sido muito referido na bibliografia especializada sobre cangaço, o retorno à sua história, bem como às de outros cangaceiros, ainda é um campo fértil para compreendermos as dinâmicas sociais que se desenvolveram nos sertões nordestinos nos séculos passados, mas que ainda não foram plenamente evidenciadas do ponto de vista historiográfico nem tampouco analisadas com profundidade sob o ponto de vista sócio-antropológico. Por exemplo, sobre a origem social dos cangaceiros, a bibliografia nacional e internacional sobre cangaço, de um modo geral, trata-os, de forma quase automática, como sendo de origem pobre, pertencente aos estratos sociais explorados, despossuídos ou alijados dos postos de decisão política. Mas esforços recentes de estudo em cooperação realizados por Aldo Branquinho e Yony Sampaio, ainda não publicados, já apontam para a origem distinta da família de Antônio Silvino. Ele simplesmente descende de Gonçalo Ferreira da Costa, beneficiário por concessão de datas de sesmarias no Cariri da Paraíba, cujos filhos foram também sesmeiros no Cariri e rendeiros das fazendas da Casa da Torre no Alto Pajeú.

Compreendemos que caberá ao esforço de novos estudiosos o desvendamento dos detalhes e as nuances de dinâmicas sociais não evidenciadas (obscurecidas muitas vezes por apegos a pressupostos teóricos simplificadores) e analisar os processos sociais (com as devidas repercussões psicológicas) de empobrecimento, disputas internas e entre grupos rivais, crise e ascensão de elites agrárias e políticas que possibilitaram, por exemplo, a vida, o surgimento e a ação de Manoel Batista de Moraes, o célebre cangaceiro Antonio Silvino.


Quem somos?
"O Centro de Pesquisa e Documentação do Pajeú – CPDoc, nasceu da carência de estudos e pesquisas sobre a história do pajeú e suas adjacências feitos por pesquisadores autóctones. A necessidade de conhecer e tornar notória nossa história secular levou a um pequeno grupo de estudiosos e pesquisadores de vários ramos do saber a se unirem em torno de um grupo cujo elo mais forte é o amor por sua terra, por seu povo, sua cultura e suas raízes."

Hesdras Souto
CPDoc-Pajeú


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O CASARÃO DO SR. BENÍCIO MAIA

Por Assis Nascimento

O casarão do Sr. Benício Maia, que fica próximo a cidade de Belém do Brejo do Cruz, à margem direita da PB-293, acredito estar com seus dias contados.

Em Belém do Brejo do Cruz

O estado de abandono, em que se encontra, é símbolo do descaso, com a história de uma cidade. Segundo pude apurar, a cidade teve origem nas terras dessa propriedade.

Em Belém do Brejo do Cruz

A velha construção sertaneja, símbolo da riqueza dos senhores de terra, foi palco de muitas histórias, inclusive há relatos de que foi pousada do famoso cangaceiro Jesuíno Brilhante.

Em Belém do Brejo do Cruz

Em Belém do Brejo do Cruz

O lugar merece ser visitado, ainda existem parentes do Sr. Benício Maia, morando nas proximidades do velho e imponente prédio.

https://www.facebook.com/assisnascimento.nascimento

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MINHA PRIMEIRA BICICLETA.

Por José Mendes Pereira

"Amigo leitor, eu sempre posto as minhas historinhas aqui no blog, mas não é querendo que você deixe de ler cangaço para ler os meus escritos, é somente como arquivo. Quando eu quiser já sei o local da procura". (J. M. Pereira).

Naqueles tempos de dificuldades para todos aqueles que nasciam e residiam no campo tudo era muito difícil, e que muitos pais que dependiam apenas da saúde para trabalhar e sustentar a sua numerosa prole viviam miseravelmente sem apoio de ninguém, somente da boa vontade de Deus.

Meus irmãos e eu não vivemos a miséria porque apesar que vivíamos de favores em uma propriedade alheia onde lá meus pais e nós filhos nascemos, mas que meu pai nunca fora empregado do proprietário, isso é, sem obrigação para com o proprietário de terras, o nosso pai era dono de um grande chiqueiro de criações, e além disto, ele fazia tudo (menos desonestidade) para não nos ver com fome. Lógico que os nossos alimentos não eram muito nutrientes, porque em décadas passadas o camponês alimentava a sua família apenas com carne da sua criação, feijão, arroz, cuscuz (milho passado no moinho), farinha vez por outra, rapadura fabricada no cariri, e mais algumas caças e pescas completavam os nossos alimentos.

Como todos sabem muito bem como era a vida do campo no período de inverno, todos estavam ocupados no plantio, estendendo-se até agosto, mais ou menos, porque chegava o período da colheita do milho. E assim que terminava a colheita todos iriam trabalhar no corte da palha da carnaubeira, mas nem todos os camponeses faziam esta atividade, somente em lugares que têm rios ocupados pelas carnaubeiras.

Eu ainda era pequeno e que tenho a impressão com menos de 13 anos, não só eu como todos as crianças da época, mas meu desejo era possuir uma bicicleta mercswiss. Naqueles tempos crianças trabalhavam, e é por isso, não menosprezando a linda juventude que existe hoje, o Brasil formou homens responsáveis, e é por isso que nenhum de nós se tornou marginal. Como eu estava trabalhando no corte de palha fui juntando dinheiro para um dia ser dono de uma bicicleta mercswiss usada. Meses depois eu estava com o valor da bicicleta pronto.

O meu pai já sabia da minha intenção de possuir uma bicicleta, e como quase não dispunha de tempo, pois tinha as suas obrigações, porque era encarregado de uma turma de corte da palha da carnaubeira, e com o vexame de fazer logo esta compra, falei para eu vir sozinho à Mossoró e comprar a tão sonhada bicicleta. Ele tinha plena certeza que eu não sabia comprá-la, mas mesmo assim, não se opôs, dizendo-me:

- Eu acho meu filho, que você não sabe comprar bicicleta, porque ainda é muito pequeno. Mas como eu não posso ir, tente sozinho. Tenha cuidado! Veja bem o estado da bicicleta que lhe agradar. Às vezes elas só têm presenças, mas que não estão perfeitas. – Dizia-me o meu pai.

A noite eu passei quase em claro só me lembrando da bicicleta e do retorno para casa, montado nela. Uma sensação que já estava pedalando. Quando eu cochilava sonhava já montado na tal bicicleta dos meus sonhos. Os enfeites que eu pensava em colocar nela, tudo foi pensado e visto na minha mente. Um farol com dínamo e ao anoitecer, montar nela e fazer carreira em busca da casa da minha avó Mamãenana, que ficava um pouquinho distante de onde eu morava. E ao sair de casa, minha mãe dizia:

- Cuidado meu filho, porque tem touros bravos nos caminhos por aí e poderá tentar te derrubar com bicicleta e tudo!

- Se algum deles vier me açoitar mamãe, eu faço carreira na bicicleta para cá!

Quatro horas da manhã do dia seguinte eu já estava pronto para enfrentar a pé o caminho que trás até Mossoró. E ao me ver já pronto, meu pai me disse:

- É muito cedo ainda meu filho, para você caminhar até Mossoró.

- É porque papai, eu quero chegar cedo lá e também voltar cedo. – Eu disse.

Noutros tempos o sujeito andava a qualquer hora do dia e da noite, e tinha certeza que chegaria em casa, exceto algum animal feroz que o atacasse. Tirando este, sairia vivo e retornaria vivo.

Abri a porta da frente da nossa humilde casinhola de taipa e me mandei. Sempre com a imaginação voltada para o tão desejado transporte. E durante o percurso eu corria, parava, fazia gestos de quem monta em bicicleta, me desequilibrava como se fosse cair do transporte simbolicamente. Deixei a mercswiss e tentei a bristol, mas ela não tinha apoio aconchegante. Tentei outras, isto somente na minha mente, nenhuma era especial como a mercswiss.

Mas quando eu percebi que solitariamente o pai da vida aqui na terra já estava irradiando um pouco o chão do nosso chão, eu fiz carreira sem parar um só instante.

Lá para as tantas eu entrei em Mossoró. E me mandei até a casa de uma tia minha de nome “Maria dos Reis” que morava na atual Ilha de Santa Luzia. Ela já havia se levantado e feito café. Tomei um pouco e me mandei para a pedra do mercado, porque era lá o local de vendas destas. Ao chegar, sentei-me em um banco da praça aguardando os comerciantes que logo chegariam para ludibriarem aqueles que tentavam comprar algo. E lá para as sete horas os comerciantes ambulantes foram chegando. Daí a pouco, a praça estava cheia de gente vendendo de tudo quanto existe em feiras livres.

E lá estava eu sentado no banco feito um matuto mesmo com um pouco de timidez. Disfarçadamente, vi uma bicicleta de cor azul, e no meu entender, aquela estava perfeita, bem pintada e com aparência de pouco uso. Somente os aros tinham começo de ferrugens, e a desejei, mas não saí do banco. Como eu a observava apenas com um rabo de olho o dono se aproximou de mim e me perguntou:

- Você mora aonde?

- Na Barrinha, eu o respondi.

Aquelas alturas aquele carniceiro percebeu que eu era camponês, e camponês é matuto, e matuto é bestão mesmo, e se é bestão é bom de fazer negócio, e se fizer, é fácil ser ludibriado de todas as formas.

- Veio fazer o que aqui em Mossoró?

- Eu vim comprar uma bicicleta mercswiss.

O sujeito pôs a me ganhar na conversa.

- Veio com seu pai? - Perguntou-me?

- Não senhor, vim só.

E começou fazer mais perguntas e eu as respondendo. Em seguida disse:

- Vamos tomar um cafezinho ali...

Eu o acompanhei, e foi lá que ele me apresentou a bicicleta que estava à venda, e que eu a tempo que a observava. E era aquela mesma que eu queria. Perfeita, bonita, quase nova.

- Dê uma voltinha nela para você ver como ela é boa...

- Não precisa. - Respondi.

Fomos a negócio. De lá pra cá veio o preço que eu nem me lembro mais quanto custava. E de cá pra lá foi a minha confirmação. Concordei que eu queria a bicicleta por aquele valor.

Montei na já minha tão sonhada bicicleta e fui-me embora. Mas ao passar pela ponte do rio Mossoró, um pouco mais à frente a bicicleta começou os problemas. A corrente caiu, a catraca não prestava, freios duros e secos. Em busca de casa, andei mais a pé do que mesmo nela.

A bicicleta só tinha beleza, presença, mas estava toda cheia de solda. Como ela tinha sido pintada a tinta cobria as partes que haviam sido soldadas.

Que sorte! Naquele tempo matuto era matuto. Hoje não existe mais esta raça. O matuto de hoje sabe tanto quanto o homem da cidade.

Parabéns para ele!

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