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domingo, 31 de maio de 2020

LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Por José Bezerra Lima Irmão

Fazer o quê? Não é vaidade, O Edson, mas não tenho como me conter diante de um elogio como este. Eis o que escreveu em sua página no Facebook um cidadão de Floresta, Pernambuco, a respeito do meu livro:

“O livro Lampião - a Raposa das Caatingas, do escritor José Bezerra Lima Irmão, nos leva à verdadeira essência do Cangaço no Nordeste Brasileiro, de linguagem fácil e compreensão, em sua pesquisa séria, e quando você começa a ler esse magnífico livro não quer mais parar. Um livro desse é escrito a cada 100 anos, uma verdadeira obra-prima, para historiadores pesquisadores amantes do Cangaço. Eu recomendo essa grande obra do meu amigo José Bezerra Lima Irmão”.

A mensagem é de Giovane Macário Gomes de Sá. Conhecemo-nos em Floresta, no recente encontro em Floresta, organizado pelo incansável Manoel Severo Barbosa.

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Se você quiser adquiri-lo basta entrar em contato com o professor Pereira através deste e-mail: 

franpelima@bol.com.br

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CHEFE DE LAMPIÃO FOI EXPULSO DO PIAUÍ

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Por Reinaldo Coutinho

Quando Lampião (1988-1938) e seus irmãos Antônio (1895-1927) e Livino (1896-1925) caíram em definitivo no cangaço em junho de 1920 para vingar a morte de seu pai, Virgulino teve que aguardar bastante tempo até ser chamado de chefe ou líder de bando ou até de Lampião. Com efeito, a princípio os Ferreira entraram para o bando de Sebastião Pereira mais conhecido como Sinhô Pereira, um pernambucano nascido em 1896 e falecido em Minas Gerais em 1972.
Segundo Sinhô Pereira em entrevistas, Lampião e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum. Não tinham condições financeiras nem experiências e participaram com muita bravura de alguns combates.
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Retrato da família Ferreira, tirado em Juazeiro, em 1926. Lampião (1) está à direita; seu irmão Antonio (2) está à esquerda; em pé, no meio, com a mão no ombro da esposa, João (3), o único irmão Ferreira que não entrou para o cangaço; Ezequiel (4), o irmão mais moço, que entrou depois para o cangaço, está a esquerda de João. As senhoras são irmãs dos rapazes. os outros homens no grupo são primos. Foto liberada por João Ferreira, Propriá-se. Não identificamos na imagem o irmão Livino.
Havia muitas ligações entre Lampião e Sinhô Pereira: eram vizinhos; a mãe de Lampião era afilhada do pai de Sinhô Pereira; o pai de Lampião era afilhado do Padre Pereira, tio de Sinhô Pereira; as famílias eram amigas; e com comuns inimigos: “Os Saturninos” e José Lucena.
Sinhô possuía alguns antepassados ilustres, pois descendia do Coronel Andrelino Pereira da Silva (1830-1901), o Barão de Pajeú. Era alfabetizado e trabalhava no campo, o que o diferia culturalmente bastante dos outros bandoleiros. 
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 SINHÔ PEREIRA, JÁ IDOSO, EM MINAS GERAIS. REPRODUÇÃO

Motivos familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de comandante de tropa. Segundo ele próprio, a impunidade em Vila Bela teve seu auge em sua juventude; como no assassinato de seu irmão Né,  onde nem inquérito policial foi aberto.  Pressionado politicamente e perseguido por forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de cidadão mineiro. 
Foi o único comandante de Lampião. Apelidado “Demônio do Sertão” pelos populares, por ser um rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes foi cercado pela polícia, e conseguia escapar. Era um homem do bem, embora justiceiro popular. 
Sinhô Pereira abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira vez, em 1918, Lampião ainda não integrava seu bando. O cangaceiro não se sentia à vontade sendo um fora da lei, como acontecia com muitos cangaceiros. Conforme suas entrevistas posteriores, ele nasceu para ser cidadão, casar e constituir família.
Em 1918, Sinhô Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (? – ?), o “Luís Padre” resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido de Padre Cícero (1844-1934), enviado numa carta endereçada ao Sinhô Pereira, em que o sacerdote pedia que os primos deixassem a região do Pajeú-PE, que vivia em clima de guerra e de medo. O sacerdote cearense ao receber a resposta favorável, enviou outra carta para Padre Castro, no município de Pedro II (Estado do Piauí), pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, para as terras dos piauienses Barão de Santa Filomena e do Marquês de Paranaguá. Mas os primos escolheram o Estado de Goiás. 
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 OS PRIMOS LUÍS PADRE E SINHÔ PEREIRA, EM IMAGEM NA JUVENTUDE E JÁ IDOSOS. REPRODUÇÃO

Do município de José do Belmonte-PE vieram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já distante do Pajeú (Pernambuco), decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando um reencontro no sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás Dali seguiriam até seu destino final, São José do Duro, corruptela de São José D’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.
Estavam todos montados a cavalos e acompanhados de seis cangaceiros. Luís Padre ficou com dois cangaceiros e rumou para Uruçuí-PI (hoje Município). Já Sinhô Pereira ficou com quatro cangaceiros (“Cacheado”, “Coqueiro”, “Raimundo Morais” e “Gato”), rumou a Corrente-PI. Passou por São Raimundo Nonato-PI e chegou a Caracol – PI. O próximo destino seria Parnaguá-PI. Mas Sinhô Pereira foi surpreendido pela polícia do Piauí, em Caracol – PI. Isso em dezembro de 1918. 
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 “GATO” ACOMPANHAVA SINHÔ PEREIRA. REPRODUÇÃO.

A força policial era comandada pelo tenente Zeca Rubens. Um contingente de 20 soldados, e ainda mais de 40 populares. A casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio de uma hora, o cangaceiro e o seu pessoal fugiram, deixando dois soldados feridos levemente e carregando Cacheado quase nos braços, gravemente ferido. Sinhô Pereira nunca abandonou cabra ferido, sendo muito solidário a seus homens!     
Sinhô Pereira tido por alguns como “arquiduque do sertão” e por outros o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas conseguiu escapar. Suas táticas de guerrilha funcionaram. 
Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soubera que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades da cidade de Caracol. O primo de Sinhô resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao Estado de Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena e perdeu por completo o contato com Sinhô Pereira que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungú, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens, através de um seu irmão mandou lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido.
Não resistindo aos ferimentos o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira. Há uma imagem da polícia baiana na cidade de Jeremoabo  onde os soldados posam apresentado a cabeça decepada de um cangaceiro chamado Cacheado. Ou as volantes baianas participaram da perseguição juntamente com a polícia do Piauí ou se trata de outro cangaceiro homônimo já que era comum a duplicidade de apelidos entre os cangaceiros.  
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 VOLANTE BAIANA EM JEREMOABAO-BA POSA ORGULHOSA EXPONDO A CABEÇA DO CANGACEIRO CACHEADO.  REPRODUÇÃO.

Dos outros cangaceiros que acompanhavam Sinhô no Piauí, Coqueiro morreria futuramente por ordens de Lampião, ao se envolver em fuxicos e intrigas amorosas no bando. Gato, por sua vez, reputado como o mais perverso dos cangaceiros de Lampião, morreu em 1936 em combate com a polícia alagoana na cidade de Piranhas. Sobre o cangaceiro Raimundo Morais desconhecemos seu destino.
Sinhô Pereira reiniciou a viagem, mas em Jurema,  ainda no Piauí, encontrou o cabra que ferira Cacheado, João de Bola, que foi morto por um dos seus homens.
A partir deste episódio a perseguição policial recrudesceu, com o tenente Zeca Rubens à frente de 40 soldados seguindo as pegadas de Sinhô Pereira que ia trocando de animais cansados substituindo por animais tomados ao longo das fazendas percorridas. Novamente cercado pela polícia quando dormia 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial, mais uma vez, depois de meia hora de tiroteio, morrendo um soldado e saindo ferido um rapaz da casa onde estavam arranchados. Em Tocoatiara Paulista, perderam os animais: um cavalo e três burros. 
Em Sete Lagoas tomaram novos animais que foram trocados novamente em Barra de São Pedro. Foi aí que Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com os seus inimigos até um dia, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era o seu desejo.
Sinhô então retornou desanimado para sua terra (Pernambuco). Desistiu da viagem para o Estado de Goiás e reassumiu seu bando de cangaceiros. Alegava que para chegar a Goiás eles teriam um longo e difícil trecho pelo Estado do Piauí até chegar o destino final. 
Foi uma decisão nervosa, mais em oito dias Sinhô Pereira estava novamente nas barrancas do Pajeú até 1922 quando conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e definitivo  abandono do cangaço. Saiu, desta vez, da Fazenda Preá, Serrita propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, prima de Sinhô Pereira e Luiz Padre, além de madrinha de batismo deste último.
Com a volta de Sinhô Pereira de Caracol (PI), foi que Lampião passou a integrar o seu bando. Foi então que em 1922 Sinhô entregou o comando do bando a Virgulino.
Em 1922, já em Goiás desde 1919, Luís Padre comunicou ao Sinhô Pereira o lugar onde estava. Seguro e sossegado. O cangaço na região Nordeste estava cada vez mais difícil. Sinhô Pereira resolveu ir onde estava seu primo, e comunicou ao grupo. Convidou Lampião pra ir com ele, mas este disse que ficaria. Muitos cangaceiros ficaram com o futuro rei do cangaço, que assumiu o comando do grupo. Ao despedir-se de Lampião, disse-lhe: Vou deixar umas brasas acesas por aí. Trate de apagá-las. 
Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE. 
Sinhô Pereira nem seu primo Luís Padre nunca foram presos.
Fontes:
www.wikipedia.org

Damasceno,MarcosOliveira. http://www.portalsrn.com.br/noticias/marcos_01.php?id=91 
http://blogdomendesemendes.blogspot.com/  
Neves, napoleão Tavares. Primeira Viagem de Sinhô Pereira e Luiz Padre, do NordesteParaGoiás
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/06/primeira-viagem-de-sinho-pereira-e-luiz.html
www.lampiaoaceso.blogspot.com


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CHEGADA DE LAMPIÃO NO GRUPO DE SINHÔ PEREIRA

A imagem pode conter: 1 pessoa, chapéu e close-up

Em1920, os irmãos Ferreira, ou Virgulino, Antônio e Livino, além de 4 cabras (Antônio Rosa, Primo, Meia Noite e João Mariano), procuram Sinhô Pereira na Passagem do Brejo, em uma das margens do Pajeú e ficam fazendo parte do seu grupo.

Vinha de tempos anteriores a amizade entre as duas famílias. A mãe de Virgulino era afilhada de batismo de Manuel da Passagem do Meio (pai de Sebastião) e o velho Zé Ferreira era afilhado também de batismo, de Manuel Pereira da Silva Jacobina (irmão de Manuel da Passagem do Meio e pai de Luís Padre).

No dia em que Lampião e seus irmãos entraram para o grupo de Sebastião Pereira este para experimentá-los abarracou-se na fazenda da Carnaúba, do cel. Manuel Pereira Lins (pai do ex-deputado estadual Argemiro Pereira) e mandou um recado para o cap. José Caetano, que estacionava em Bom Nome, convidando-o para dar uma brigada. Estava com uns rapazes novos no grupo e precisava fazer um teste com eles.

O capitão José Caetano foi recebendo o recado e mandando tocar a corneta, saindo no rumo da casa do cel. Manuel Pereira Lins com 40 "macacos".

Na Carnaúba houve muito tiro, morrendo Luís Macário, um cabloco ao qual Sebastião estimava e este, com 13 homens, foi obrigado a abandonar a fazenda. O oficial tomou conta da casa, mandou dar sepultura ao morto e regressou a Bom Nome.

Sebastião voltou em seguida à propriedade e não deixou que conduzissem a rede de seu amigo enquanto não lhe arranjasse um companheiro para o cemitério. Não podendo alcançar mais o capitão Zé Caetano, matou, na estrada, um pouco mais adiante, João Bezerra, pessoa entrelaçada com sua família e que nada tinha a ver com suas questões.

Em Vila Bela, 50 anos mais tarde, diria que "aquele" fora o único ato de loucura que praticou na vida e doía-lhe na alma a sua lembrança, tendo mesmo concorrido decisivamente para ele abandonar, para sempre (como fizera), o sertão e o Estado.

Do livro: VILA BELA, OS PEREIRAS E OUTRAS HOSTÓRIAS
De: Luís Wilson


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RAYMUNDO, DA LAGOA DO LINO

Uma foto do "Raymundo, de Cylira", já idoso:

Uma personagem que desapareceu da História do Cangaço é a do senhor Raymundo, da antiga Fazenda Lagoa do Lino...

Quando as volantes dos então sargentos Fernandes e Zé Rufino chegaram à sede da fazenda, capturaram a sua dona, dona Cylira, e seu filho, Raymundo, então com 25 anos. Exigiram que informassem onde os cangaceiros estavam.

Raymundo sabia, mas disse que não poderia contar, pois os cangaceiros haviam dito que matariam todos os seus parentes se contassem... além de arrasar sua pequena propriedade.

Amarrado, Raymundo foi pinicado a facão, faca e canivete. Não contou nada, apesar da tortura.

Os policias só conseguiram chegar aos cangaceiros devido à indicação de uma menina, Maria Preta.

Partiram para executar Azulão, Zabelê, Canjica e Maria Dórea.

Deixaram para trás o fazendeiro que, por medo de vingança, somente a poucos contou algo do seu drama.

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.


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“CANUDOS”

Um tema de extremo interesse e que somente tangenciou o Cangaço foi a Rebelião de Canudos.
Este material precioso publicado na net, merece replicação:
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"Expedição de Pedro Wilson Mendes (*) a Canudos"
por Mário Mendes Junior, o "Maninho do Baturité"
Apareceu, originalmente, no site:
http://www.maninhodobaturite.com.br/
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Aos 35 anos de idade, sem embargo da fama de ser um advogado que jamais perdeu uma causa, Pedro Wilson somava ao seu currículo a qualidade de jornalista combativo ininterruptamente disposto a denunciar falcatruas. Em 1949, contudo, o jovem jurista resolve dar um brevíssimo tempo às lides forenses e ao jornalismo para atirar-se na pesquisa histórica.
Longe do o imediatismo das redações, Pedro Wilson se insurge como a primeira voz no deserto a abrir os olhos dos escritores com relação ao verdadeiro caráter de Antonio Vicente Mendes Maciel o Conselheiro.
Sua intenção, verdadeiramente foi dar inicio à reparação da injustiça que tem feito a História do Brasil ao protelar “o empreendimento de um estudo sério e consciencioso da (verdadeira) personalidade misteriosa e complexa” (1) do líder guerrilheiro.
Na verdade ninguém antes do jovem escritor se ocupou, como ele, de tirar das costas do Conselheiro os pejorativos do tipo gnóstico bronco, fanático religioso, taumaturgo, paranóico, santo homem, chefe de jagunços e outros despautérios, não escapados, sequer, da concisão e maestria de Euclides da Cunha no “OS SERTÕES”.

Antes de publicar suas conclusões em seguidas edições do jornal O POVO, no final da década de 1940, Pedro Wilson, em expedição, percorreu de jipe, todos os caminhos trilhados, pelo Conselheiro, tendo como companheiros Osvaldo Vinhas, Sólon Mendes e Zequinha Pinto, todos, amigos leigos na matéria, mas sequiosos de aventuras.

Quixeramobim. Entrevista com Euclides Wicar

Tudo começa no Quixeramobim. Cidade túmulo dos Maciéis, que não se olvidam pelo jeito sangrento de como, muitos, morreram na guerra da família contra os Araújos de Boa Viagem. Nessa cidade Pedro Wilson, encontra o coronel Euclides Wicar de Paula Pessoa, mestre na história do lugar. Durante uma entrevista Wicar, além de oferecê-lo algumas fotografias históricas, ainda, lhe transmite coisas contadas, principalmente, por Belo Flor, um cantador repentista local, falecido há dez anos. Ex-aluno de Antonio Vicente, as histórias de Belo Flor se referiam ao jeito professoral de quando ele deixou o negócio de Quixeramobim, em 1857, e passou a ensinar noções de conhecimento gerais na Escola da Fazenda Tigre, até se mudar para Tamboril.

Cantador Repentista Belarmino Flor, um dos alunos da escola do “Tigre” - Foto de 1939 do arquivo de Euclides Wicar

Fazenda Tigre, um patrimônio histórico

Da sede de Quixeramobim, a expedição se dirige à Fazenda Tigre, então pertencente ao comerciante, industrial e agro-pecuarista Damião Carneiro, que naquela época a modernizava. O dono da fazenda, prazerosamente, usa de toda sua hospitalidade, ao conduzir o visitante aos lugares, freqüentados por Antonio Vicente, enquanto viveu por ali,. A oportunidade propicia ao pesquisador colher fotos da casa grande, da igreja, das ruínas da escola, e demais pontos convenientes ao seu trabalho.

RUÍNA DA ESCOLA DA FAZENDA TIGRE ONDE LECIONOU ANTONIO CONSELHEIRO DEPOIS QUE LIQUIDOU SUA CASA COMERCIAL DE QUIXERAMOBIM -1857 1858.
FOTO DE 1939 DO ARQUIVO DE EUCLIDES WICAR DE PAULA PESSOA


Digno de tombamento as velhas construóes do Tigre, sem embargo dos muitos melhoramentos para torná-la rentável, se deve à determinação de Damião Carneiro de conservá-las como sítio histórico. Esse mesmo cuidado de conservaçao o acompanhou, quando, na década de 1950, ele constrói o enorme açude da fazenda. Naquela ocasião – quem viu não pode esquecer – as muitas centenas de trabalhadores, que em lombos de igual número de burros e jumentos transportavam a terra desmontada dos morros para elevar a outra montanha que serviu de parede para o reservatório. A então, fantástica obra de engenharia campestre, indubitavelmente, ratifica a fé que Damião dedicava a Deus, porque, ali, ele, literalmente, ao seu modo, removeu montanhas.

SOLON MENDES E ZEQUINHA MACIEL PINTO ESCORADOS NAS DUAS DAS TRES FORQUILHAS DE AROEIRA, TUDO QUE RESTOU DO PRÉDIO DA ESCOLA DO TIGRE.

FOTO DO SR DAMIÃO CARNEIRO E DO EXPEDICIONÁRIO SÓLON MENDES EM FRENTE ÀS RUÍNAS DA ANTIGA CAPELINHA ONDE ANTONIO MUITO REZAVA.

Do Tigre a comitiva toma o rumo de Assaré, movida pela informação do coletor Paulo Remígio de Freitas, de que, naquela cidade do Cariri, existia, sobrevivo, um ex-combatente da Guerra de Canudos, que apesar de ter sido membro do estado maior do Conselheiro convivia entre os habitantes no mais completo ostracismo.

Os Irmãos Vila Nova de Assaré à Canudos

Filhos de José Francisco Assunção e de dona Maria da Conceição, Antonio e Honório Vila Nova, nasceram em Assaré, no tempo da guerra do Paraguai. Ainda, eram duas crianças, quando conheceram Antonio Vicente, em 1873, por ocasião de uma passagem do peregrino por aquela cidade.
Reencontraram-se em 1877 quando o pregador resolveu trocar o Ceará pela Bahia, certamente, tangido pela fome da seca que acendeu o êxodo dos cearenses para os cafezais de São Paulo e seringais do Amazonas.
Convidado e ungido pelo Conselheiro como chefe temporal de Belo Monte – nova denominação de Canudos – Antonio Vila Nova, com seu tino administrativo, além de equilibrar as finanças e o abastecimento do lugar, até, fez circular, ali, um tipo de moeda muito bem aceita em toda zona de influência do Arraial, então, o segundo maior pólo produtivo da Bahia.
Ao Antonio Vila Nova competia, também, a guarda do armamento, colhido das forças invasoras vencidas. Isso porque, em Canudos, não se permitia o uso indiscriminado de armas, estas eram distribuídas aos guerrilheiros somente em caso de defesa.
Dono da maior loja do espaço, rico, dentro dos padrões do sertão, alvo preferido das más línguas, Antonio Villa Nova morava no único lugar de Belo Monte literalmente classificável como rua. Ali, as casas eram de tijolo, cobertas de telha, algumas com assoalho de madeira, portanto, bem diferentes, das outras cinco mil taperas de taipa, cobertas de palha, piso de chão batido, erigidas em vielas tortas e becos sem saídas que abrigavam quase 25 mil almas.
Conduzindo sua atribuição sem malquerença a ninguém, os irmãos Vila Nova, apesar de confiarem na obra física do Conselheiro, pouco se importavam com sua fé. Na realidade, ambos, até, nem freqüentavam as devoções, comprometimento optativo em Canudos.
Foi por serem alheios às credulidades dos canudenses, que, nos dias entre a morte do Conselheiro e o cerco definitivo, os Villa Nova saem do Arraial a tempo de escapulir da chacina. Muito embora tivessem brigado até quase o extermínio total, eles regressam definitivamente para seu torrão, onde envelheceram sempre falando bem do pai Conselheiro.
Residentes em Assaré, Antonio e Honório, ajudaram o padre Cícero, em 1913, por ocasião da Sedição de Juazeiro. Foi da cabeça de Antonio Vila Nova, que saiu a idéia da construção do valado em volta da cidade, que, estratégico, serviu de trincheira para os jagunços do Santo Padre rebater as forças do governo de Franco Rabelo aquarteladas no Crato.

Pedro Wilson em Assaré

Pedro Wilson da parte de Honório e de dona Toinha, viúva de Antonio Villa Nova não podia ter melhor acolhida. A família, entusiasmada com o propósito do visitante, cuida logo de proporcionar tudo que podiam em proveito de sua pesquisa. Para começar a boa velhinha se desfaz da única lembrança fotográfica do falecido marido, onde se lia: “Antonio Villa Nova, o herói de duas guerras”.
Deslumbrado, com tanto material para pesquisar, Wilson, atento, inicia a cobertura fotográfica da etapa de Assaré. Além de pessoas, fotografava, ainda, suas armas, verdadeiras relíquias trazidas, por eles, do próprio campo de batalha da Guerra de Canudos – peças do despojo da debandada do exército, material que acumulava uma espada tomada de um oficial, outras carabinas e cunhetes de balas, então, já, resfriadas.

REPRODUÇÃO DA FOTO OFERECIDA POR DONA TOINHA A PEDRO WILSON. TIRADA NO JUAZEIRO DO NORTE NO ANO DE 1916.

Numa das poses, quase em posição de sentido, Honório Vila Nova fez questão, de se munir da mesma “manulincher”, que usou para alvejar Moreira César, o coronel “Corta Cabeças”, comandante da malograda terceira expedição, que vergonhosamente, fugiu do campo da guerra.

O sobrevivente, três vezes, é citado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, depois do trabalho de Pedro Wilson, com quase noventa anos de idade, tornou-se o conselheirista mais qualificado para reconstituir a história da Guerra. Altivo, agarrado com a mesma inseparável “manulincher”, há quem diga que foi Honório quem eliminou o “Corta Cabeças”, assim chamavam o coronel Moreira Cesar.
O fato se deu no andamento da terceira expedição do governo contra Canudos, quando, pretensiosamente, o Coronel montou no seu cavalo sob o propósito de dar brio aos soldados. Naquele instante ao avistar o coronel do outro lado, descendo a barranca do rio, Honório, fez posição de tiro, dormiu na pontaria, e disparou, certeiro, o balaço que lhe atingiu a virilha. Se quisesse teria acertado direto no coração e acabar com a vida dele duma vez. Preferiu, entretanto, lhe dá uma morte mais doída fazendo-o sofrer e experimentar, no próprio corpo, a agonia que ele imprimia ao povo agredido, perversamente, em nome da República.
Honório Vila Nova – O velho moço, de quase oitenta e cinco primaveras empunha a “manulincher” com que combateu as tropas do governo, em canudos e uma espada de oficial, a prezada na luta. Foto batida a 22/08/1949
A “manulincher” de Antonio Vila Nova era uma das duas únicas armas automáticas existentes em Canudos ao tempo do ataque de Moreira César. Ambas haviam sido tomadas da Expedição Febrônio de Brito juntamente com 14 cunhetes de balas, e foram as que, produtivamente enfrentaram o exército do Cortador de Cabeças.

Sobre as trilhas de Canudos

A etapa de Assaré se acaba com o “velho moço” Honório Vila Nova se oferecendo para nortear a Expedição de Pedro Wilson até Canudos. A adesão, além de facilitar os objetivos, também, serviu para animar os outros expedicionários que nem sequer sabiam como alcançar Canudos – um trecho longuíssimo de trilhas desabitadas e perigosas.

Enquanto Zequinha conduzia o jipe rompendo os obstáculos do péssimo caminho, o ex-guerrilheiro, pacientemente, ao ser requisitado, rememorava e reconstituía as coisas que sabia, mas sempre, sem esquecer-se de elevar a personalidade marcante do líder Conselheiro sobre os costumes e a vida dos sertanejos.
Quando foi perguntado sobre a significação da profecia de que o SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR SERTÃO, Honório tenta explicar o raciocínio do chefe dizendo:
- Ao pronunciar a célebre profecia, o bom homem, sabia o que o mar representava para os matutos. Eles nunca viram nenhum mar. Mas sabem da sua imensidão e dos seus mistérios.
- Que mistérios? Pergunta Osvaldo. Quem responde a pergunta do cunhado é Pedro Wilson.
- Ora, Osvaldo, esses mistérios, na “parábola” do Conselheiro, faz o sertanejo crer num sertão, hipotético e potencialmente com os mesmos poderes do mar que tudo pode: devora homens, destrói a armada e arrasa cidade.
- Isso mesmo doutor, essa coisa realmente aconteceu, até quando a terceira expedição foi expulsa em debandada – diz Honório encerrado o assunto.

As ruínas de Canudos.

Rompidos vários dias de trilhas, finalmente, deslumbrado, Pedro Wilson pode fotografar Canudos do mesmo ângulo que, de outra vez, o Arraial foi visto pelas forças federais que vinham arrasá-lo: o alto do Mário.

CANUDOS – OUTUBRO DE 1949 – PANORAMA DA CIDADE DE ENTÃO COLALIZADA COMO A OUTRA À MARGEM DO RIO VAZA BARRIS

No mesmo dia, excitados, desceram até as ruínas, momento em que o chefe expedicionário, se dar folga, cai em volta de reconstituições de tudo que se deu por ali no Arraial.
Depois, dia a dia, ajudado pelos companheiros, Pedro cuida de catar subsídios, analisar pedaços de escombros, restos de pedras, banda de tijolos, informações de testemunhas ainda vivas, e, finalmente, tudo, que pudesse ajudar a compreender o porquê de tanta morte, entender tanta reza e compreender tanto ensinamento.
Aquele cenário, para Vila Nova, representava um passado pouco distante – até se lembrava algumas árvores -, mas, para os outros, aquelas ruínas sepultadas no mato, em apenas meio século, pareciam tão antigas como túmulos dos Faraós no Egito.
Quando o jipe se aproxima do centro do ex-arraial, o velho expedicionário vai mostrando os lugares onde um monte de taperas, abrigava às vinte e cinco mil almas, trucidadas pelas forças oficiais. Não contem as lágrimas quando o carro alcança as ruínas da Igreja Velha – ali ele casou-se com a prima Tereza Jardelina de Alencar – foi ela quem o tratou, uma vez, do ferimento à bala, num dos pés. Retirado do entrincheiramento pelo irmão, ela curou a ferida com sumo de pimenta malagueta envolvida em folhas de bananeira.
Benze-se ao passarem diante do cruzeiro. O mesmo cruzeiro de madeira, agora, cheio de furos de balas, mas, ainda, intacto. O rústico monumento resistia ao tempo, do mesmo modo, que, escapou do arraso das tantas dinamites detonadas. Abandonada, mas de pé, aquela cruz continuava ali, orgulhosa da gente que abençoou e não se entregou, até dia em que cinco mil soldados do exercito rugiam sobre os últimos defensores do lugar: um velho, dois homens feitos e uma criança.

A exposição em Fortaleza

Ao regressar a Fortaleza, a Expedição, montou uma Exposição de Fotografias, Armamentos e Outros Materiais colhidos na cidade arrasada. Ali os visitantes curiosos e pesquisadores, enquanto examinavam as fotografias, dirigiam perguntas aos expedicionários, principalmente à Vila Nova, que ali permanecia como testemunha viva da guerra e à disposição de quantos quisessem saber detalhes da sangrenta pagina da História do Brasil.
Paralelamente aos trabalhos da exposição, Pedro Wilson avançava no trabalho jornalístico, histórico-sociológico, “ANTONIO CONSELHEIRO E O DRAMA DE CANUDOS”, publicando-o em capítulos em diferentes edições do jornal O POVO.
O regalo da veia comunista do autor extravasa todo seu talento, quando, em desacordo, com o pensamento de então, pioneiramente, coloca a personalidade do líder canudense entre o pequeno rol de heróis nacionais. No trecho abaixo, extraído da obra histórico-jornalística de Pedro Wilson, se mede o entusiasmo que só brota no coração dos apaixonados por seus ideais:
“(…) Canudos analisado nos seus profundos aspectos sociais, apresenta-nos o fenômeno autêntico de uma guerra de classe. Foi uma revolta de camponeses vergados sob o peso da opressão em seus múltiplos matizes. Aqueles heróis devem figurar na galeria dos filhos do povo, que tombaram em todas as frentes, lutando por uma vida mais digna e mais humana.”

Cobertura Fotográfica da Expedição de Pedro Wilson a Canudos

Prédio onde residiu e negociou Antonio Conselheiro -1856 1857
Quixeramobim 1949. Foto de 1949



O Jipe Land Houver, originário da Inglaterra, lançado em 1948. Um desses primeiros veículos chegados em Fortaleza, importado pelo concessionário Conrado Cabral & CIA., foi adquirido pela Loteria Estadual do Ceará, da qual Pedro Wilson Mendes era sócio-fundador. Na fotografia a seguir é um modelo 1949 que serviu à expedição de Pedro Wilson Mendes tendo como motorista seu primo José Maciel Pinto, o Zequinha. Ao fundo, o canhão que os guerrilheiros tomaram da fracassada Terceira Expedição contra Canudos comandada pelo Cortador de Cabeças Coronel Moreira Cesar. Este militar foi escolhido para comandar a Terceira Expedição Contra Canudos em virtude do seu extraordinário desempenho nas campanhas contra a Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.
Durante a permanência da expedição de Pedro Wilson em Canudos, Honório Vila Nova se surpreende ao encontrar pelas redondezas do Arraial arrasado o ex-companheiro Chiquinhão que lhe contou como escapou do cerco em última hora.

CHIQUINHÃO O SOBReVIVENTE AMIGO DE VILA NOVA

Na foto abaixo Pedro Wilson ladeado por Honório Vila Nova e Chiquinhão, os dois matutos de chapéu na mão, talvez em respeito à câmera para eles um objeto muito raro.

PEDRO WILSON LADEADO POR VILA NOVA E CHIQUINHÃO.

Na pagina seguinte, Honório, Chiquinhão e seus netos na Frente do Umbuzeiro do Moreira Cesar. A árvore, assim chamada porque, ali, debaixo dela, foi queimado o cadáver do coronel que mandava degolar dos canudenses aprisionados. Isso mesmo, o exército não fazia prisioneiros. Os defensores de Canudos uma vez capturados pelos soldados, depois de obrigados a dar vivas à República que lhes agredia, eram agarrados pelos cabelos e degolados a golpes de sabres. Cinicamente o degolador afirmava que o “Jagunço” ao ser degolado não “verve” uma xícara de sangue. Na verdade, essa passagem, serve mais, para mostrar a subnutrição imposta ao lugar que chegou a ser o segundo pólo produtor da Bahia, portanto só perdendo para Salvador.

VILA NOVA E CHIQUINHÃO ENTRE SEUS NETOS NO FUNDO O UMBUZEIRO DO MOREIRA CESAR

VILA NOVA E CHIQUINHÃO AO FUNDO O “UMBUZEIRO DO MOREIRA CÉSAR” ASSIM DENOMINADO POR TER SIDO QUEIMADO NO SEU TRONCO O CADÁVER DAQUELE COMANDANTE DA 3ª. EXPEDIÇÃO ABANDONADO QUE FORA PELAS TROPAS NA VERGONHOSA DEBANDADA

OSVALDO VINHAS, CUNHADO DE PEDRO WILSON E HONORIO VILA NOVA EM FRENTE ÀS RUINAS DA IGREJA VELHA, TODA DE PEDRA E CAL. VÊEM-SE CLARAMENTE OS SINAIS DAS BALAS

O CRUZEIRO DA IGREJA VELHA. ESCAPOU “MILAGROSAMENTE” À FÚRIA DOS BOMBARDEIOS, COM MUITO SINAL DE BALAS DE FUZIL NO MADEIRAME.


O Cruzeiro da Igreja Velha juntamente com o canhão tomada da Terceira Expedição, diante da inundação do velho arraial de Canudos pela construção de uma barragem no Vaza Barris, foram transferidos para a cidade de Nova Canudos onde ainda hoje se encontra.
Nas fotografias seguintes os habitantes da nova aldeia e a pobreza daquilo que sob a liderança do Conselheiro foi o segundo pólo produtor da Bahia.


Na Canudos que ficou o povo para escapar da sede se abastece de água nas cacimbas furadas nas vazantes do rio. Observe-se no meio das mulheres Antonio Villa Nova e por traz o jipe da expedição.
Na próxima foto, Honório Vila Nova e Chiquinhão na cruz gravada no tumulo de António Conselheiro de onde, depois, seu corpo foi desenterrado e degolado. Seu crânio foi enviado a Salvador para estudos “científicos”.

Vila Nova e Chiquinhão de chapéu na mão em respeito do seu guia ali enterrado e depois exumado.

VILA NOVA COM HABITANTES DA NOVA CANUDOS

HABITANTES DA NOVA CANUDOS EM 1949

SENHORA HABITANTE DA NOVA CANUDOS EM 1949
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Uauá, 1949, Zequinha Maciel Pinto, o guiador do Jipe e Honório Vila Nova em frente ao prédio onde a 1ª. Expedição Comandada Pelo Tenente Pires Ferreira foi surpreendia pelos conselheiristas. Fotografias tomadas da frente e do oitão da casa.

Monte Santo – A primeira etapa da ascensão.

CRUCIS MANUSCRITO COM A LETRA DE PEDRO WILSON

Colaboradores locais do Dr. Pedro Wilson Mendes

HONÓRIO VILA NOVA - O BOM EX-COMBATENTE QUE MORREU QUASE AOS 105 ANOS DE IDADE, PASSOU A SER A PEÇA MAIS IMPORTANTE PARA QUEM QUISESSE ESTUDAR O ASSUNTO. - A pose dos fotografados induz a sensação de dever cumprido.

A Exposição de Fortaleza tendo o próprio Vila Nova à disposição dos interessados impõe, a escritores de porte como Abelardo Montenegro e Nertan Macedo, se entregarem ao dever de reparar a injustiça que, até então, só se preocupava nas fraquezas do Santo Homem, inclusive de outros sempre “protelando o empreendimento de estudo sério e consciencioso da personalidade misteriosa e complexa”, (2), mas, capaz de se elevar no rol dos pouquíssimos heróis, de fato, da História do Brasil.

___________

(1) Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson..

(1) Maciel, José. Minhas Idéias Crônicas. Editora Aula. Rio. 1986.

(*) Pedro Wilson Maciel Mendes, intrépido advogado baturiteense, covardemente assassinado, em Fortaleza, a 22 de janeiro de 1952, pelo simples fato de ter colocado, sempre, a força do Direito e suas convicções em prol dos oprimidos e contra as misérias oriundas das desigualdades sociais. Trecho de Pedro Alan Mendes Maciel em memória ao tio Pedro Wilson.

Esse post foi publicado de segunda-feira, 27 de julho de 2009 às 5:09 pm, e arquivado em HISTÓRIA DA CIDADE. Você pode acompanhar os comentários desse post através do feed RSS 2.0. Você pode comentar ou mandar um trackback do seu site pra cá.


Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio - http://cangaconabahia.blogspot.com/2011/

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NOTA DE PESAR!

Morre o cordelista e radialista cearense Arievaldo Vianna, aos 52 anos

Morreu neste sábado (30), o poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário cearense Arievaldo Vianna, aos 52 anos. Amiga do artista, a cordelista e hematologista Paola Torres informou que a causa do falecimento foi uma infecção bacteriana severa.Natural do município de Madalena, artista é um dos nomes mais importantes da poesia popular do Brasil.

Conforme publicação feita pela esposa, Juliana Araújo, nas redes sociais, Arievaldo deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital local na última quinta-feira (28).

No texto, ela destacou que o poeta "é um homem íntegro, um pai responsável, amoroso, um marido amado" e que convive com ele desde os 17 anos de idade. "Metade de minha vida foi com ele".

Criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula  – que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos, adotado pela Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Canindé e diversos outros municípios brasileiros  – Arievaldo Vianna é um dos maiores nomes das letras do Ceará.
O artista percorreu mais de 10 Estados ministrando oficinas e realizando palestras sobre Literatura de Cordel. Atuou como consultor e redator de uma série de programas da TV Escola, também tendo como foco uma das maiores paixões, o cordel.

Em 2000, foi eleito membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, na qual ocupa a cadeira de nº 40, patronímica de João Melchíades Ferreira.

Teve também alguns trabalhos escritos em parceria com outros poetas, a exemplo de Pedro Paulo Paulino, Jota Batista, Klévisson Viana (irmão), Gonzaga Vieira, Zé Maria de Fortaleza, Manoel Monteiro da Silva, Rouxinol do Rinaré e Marco Haurélio.

O poeta parte deixando esposa, os filhos Daniel, Mariana, Yuri e João Miguel, e uma legião de admiradores dos ofícios que executou.

Homenagens

A Secretaria da Cultura do Ceará emitiu nota de pesar pela morte de Arievaldo.

"Pai, companheiro, amigo, irmão de cordelista e escritor Klévisson Viana, e grande artista, Arievaldo nasceu em Quixeramobim, e se fez um cordelista que trazia na escrita a luta do povo, as marcas da política, as palavras fáceis e críticas deste e de outros tempos", traz a nota.

Fabiano Piúba, gestor da pasta, também se manifestou: "Perdemos não só um grande poeta e difusor da literatura de cordel nos ambientes culturais, mas, principalmente nas escolas, promovendo nos mais diversos rincões do Brasil a promoção da leitura através da literatura de cordel. Perdemos um amigo".

O poeta Rouxinol do Rinaré expressou os sentimentos pelo cordelista por meio de algumas estrofes:

Uma nuvem de tristeza
Pairou sobre nosso Estado...
O Cordel está de luto,
Todo poeta abalado,
Arievaldo Viana
Foi pra mansão soberana,
Porque por Deus foi chamado!

Nos deixou grande legado
Como poeta sem-par
Imortal entre seus pares,
Sem dúvidas posso afirmar.
A perda é triste demais,
Pedimos ao Pai dos pais
Pra família confortar!

A saudade vai ficar
Nos lembrando dia a dia
Dos seus cordéis, dos seus causos
Recitados com alegria...
Vá em paz, poeta nobre,
A Terra fica mais pobre
E o céu rico de poesia!

Também são diversos os relatos emocionados de artistas da palavra nas redes sociais em reverência ao grande legado de Arievaldo Viana.

A doutora e poeta Paola Torres conta que estava preparando um livro em parceria com ele, uma ficção em cordel que descrevia o encontro entre Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Euclides da Cunha. Klévisson Viana também fazia parte da obra.

"O Arievaldo foi um dos poetas que mais se aproximaram de poetas geniais. Ele é um segundo Leandro Gomes de Barros, um segundo Patativa [do Assaré]. Não era um simples poeta, era um poeta genial. Ele tinha uma beleza, uma potência, uma criatividade, como chargista, desenhista... Era uma pessoa lúcida demais, detentora de um conhecimento histórico do cordel. Ele era a própria história do cordel. Era um pesquisador apaixonado por histórias", afirmou a artista.

Compadre de Arievaldo, o cordelista Stelio Torquato Lima publicou, nas redes sociais, o pesar pela partida do poeta.
    "Ficamos todos nós órfãos de um artista ímpar e de uma figura incomparável. Eu, compadre dele, fui um aprendiz privilegiado, pois usufruí da sua companhia, em sua casa, em viagens, em eventos. Fica sua obra belíssima para servir de testemunho de seu talento às novas gerações que não terão mais o prazer de vê-lo recitar, de ouvi-lo palestrar, de acompanhá-lo em rodas de conversas, em que sua maestria na arte do humor se exibia com tanta graça".
A também cordelista Julie Oliveira, uma das integrantes da nova safra da arte em versos populares no Ceará, escreveu: "Um dia triste para todos nós do cordel, da arte.Esteja em paz, Arievaldo Vianna. Os poetas não morrem, apenas mudam sua poesia de lugar, e a sua estará sempre conosco. Muito triste de não podermos abraçar a Klévisson Viana e Juliana Araújo nesse momento. São tempos difíceis, mas não perderemos a esperança".

O escritor Bruno Paulino, que dividiu a pena com Arievaldo no livro "Os Milagres de Antônio Conselheiro", sublinhou os diferentes papéis que o artista ocupou em sua vida.
    "Primeiro o Arievaldo Vianna foi meu Patativa do Assaré e meu Monteiro Lobato. Depois foi meu professor e o cara que mais me apresentou gente e abriu portas no meio literário. Foi o companheiro de boêmia mais engraçado que conheci, o maior contador de causos do mundo. Por fim, foi meu parceiro em muitos projetos. Talvez a pessoa que eu mais entrevistei e com quem mais participei de mesas literárias até hoje. Não é possivel mensurar o legado de uma obra tão grande e de qualidade como a do Arievaldo".

Por sua vez, a editora cearense Imeph, que publicou vários livros do artista, destacou: "O céu ganha mais uma estrela e o mundo perde esse grande e talentoso artista! Obrigada por ter compartilhado conosco tanto conhecimento e tanta cultura!"
Trajetória

Nascido na fazenda Ouro Preto, em 18 de setembro de 1967 - antes pertencente a Quixeramobim e hoje parte integrante do município de Madalena -, o artista, xilogravador e poeta passou a infância e parte da idade adulta no Sertão Central, tendo toda a formação cultural formada através das cantorias e da leitura do cordel.

"Fui alfabetizado com a ajuda do cordel, era a leitura que mais me agradava, ficava pedindo para minha avó ler 'João Grilo' e a 'Chegada do Lampião no Inferno'", explicou ele em entrevista ao Diário do Nordeste, em 2017.

À época, estava lançando o livro "Encontro com a consciência", da editora Imeph, em comemoração aos 50 anos de vida.

Juntando sílaba por sílaba, o futuro poeta já lia suas histórias sozinho, aos três anos de idade. Propagador do cordel como ferramenta de educação, desde criança já demonstrava a veia literária.
    "Na escola tinha aquelas leituras em voz alta, onde você precisava escolher entre texto de prosa e poesia. Sempre tive preferência pela poesia e procurava textos desse tipo para declamar", ressaltou.
Residindo em Canindé dos 12 aos 25 anos, Arievaldo Vianna traz traços nordestinos em todos os livros que escreveu e ilustrou, mesmo trabalhando com temas urbanos - como fez na adaptação das obras de Cervantes, em que aqui e acolá encontra-se uma palavra nordestina.

Vivendo desde 1993 em Fortaleza, trazia à fala a dificuldade de se viver somente de literatura no Brasil e lembrava que já trabalhou em diversos ofícios ao longo da vida - por exemplo, quando morou em Canindé foi camelô e, por conta disso, teve oportunidade de conviver com a romaria, que muito o inspirou culturalmente.

Ao longo de cinco décadas, o autor publicou mais de 30 livros e cerca de 150 folhetos de cordel, tendo sido premiado em diversos concursos literários e quatro vezes selecionado pelo Ministério da Educação, através do extinto PNBE (Programa Nacional da Biblioteca na Escola).

Pescado no Diário do Nordeste


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