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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Coronel Gurgel

Por Geraldo Maia do Nascimento

 

Os dias que antecederam ao 13 de junho de 1927 foram de muita agitação para a população. Boatos alarmantes davam conta da penetração de cangaceiros no solo potiguar, e que o objetivo da malta era atacar Mossoró, a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte.

Coronel Antonio Gurgel do Amaral, esposa e filho -refém de Lampião em 1927 

Antônio Gurgel do Amaral, o Coronel Gurgel, destacada figura nos meios políticos e sociais do Estado, ex-prefeito de Natal, se encontrava na cidade e os boatos o estavam perturbando. Por precaução, resolveu pegar sua esposa que se encontrava na Fazenda "Brejo", uma propriedade da família que ficava próxima ao lugarejo Pedra de Abelhas, atual Felipe Guerra.

Fez a viagem de automóvel, tendo como chofer Francisco Agripino, mais conhecido pelo apelido de Gatinho. Acontece que por não conhecer bem a estrada que levaria à Fazenda, Gatinho muda o rumo e em determinado momento chama a atenção do Coronel para uns homens armados que se achavam à margem do caminho. Gurgel manda prosseguir a viagem, mas logo depois muda de idéia, pois o carro começa a ser alvejado pelos bandidos e perseguido por um cangaceiro, que de arma na mão exige que parem o carro. Era o cangaceiro Coqueiro, do bando de Lampião, que se aproximando do Coronel foi logo tomando-lhe a carteira de onde tirou um conto e quinhentos mil réis, a pistola automática e uma caixa de balas de rifle. Depois, revistando-o, tirou também a aliança, os óculos e o fez descer do automóvel dando-lhe "ordem de prisão".

Acontece que o rumo que Gatinho tomou, por engano, levou-os a uma faixa que havia sido ocupada pelos cangaceiros. E o Coronel Gurgel, depois de saqueado, foi escoltado à casa de Manoel Valentim, na Fazenda Santana, onde os chefes da malta se aquartelavam.

"Prendi um coronelão, bicho de dinheiro!", grita Coqueiro aos comparsas.

Nesse momento Sabino Gomes, um dos subchefes de Lampião, encarando o  Coronel,  determina sua sentença:

-"Você está preso por dez contos de réis!"

Depois desse rápido diálogo, foi apresentado ao Capitão Lampião e qual não foi sua surpresa ao descobrir que dois dos seus irmãos, José e Fausto, também se encontravam ali na qualidade de prisioneiros do grupo.

Num depoimento posterior, o Coronel Gurgel diz que Lampião perguntou a ele onde arranjaria o dinheiro para pagar o resgate seu e de seus irmãos, o que o mesmo respondeu que não lhe era fácil arranjar tão elevada quantia, especialmente ali. Talvez a conseguisse em Mossoró, onde tinha alguns amigos. Propôs, então, ir a Mossoró de carro, apanhar o resgate, deixando como garantia seus irmãos. Pediu, no entanto, um desconto.  Sabino Gomes, que assistia a negociação, não gostou da idéia. Pelo atrevimento, aumentou o resgate para quinze contos de réis e determinou que o mesmo mandasse um dos seus irmãos, no carro, buscar o dinheiro.

O escolhido foi Fausto, que seguiu viagem levando um bilhete do Coronel Gurgel para Jaime Guedes, gerente do Banco do Brasil em Mossoró, onde diz:

"Jaime: Estou preso pelo Sr. Virgulino, o qual exige quinze contos, preciso, porém, que  você mande vinte e um contos para salvar-me e a meus irmãos. O portador é Fausto, a quem você despachará com urgência. Deus nos proteja. Antônio Gurgel. 12/06/1927".

Uma série de acontecimentos faz com que o portador não encontre mais o bando que, sendo vencido em Mossoró, foge para o Ceará. O Coronel Gurgel permaneceu com o bando até o dia 25 de junho, quando foi posto em liberdade para dar mais mobilidade ao grupo.  Toda essa aventura foi registrada em um diário escrito  pelo Coronel Gurgel, durante os dias de cativeiro.

"Nas Garras de Lampião (diário)" - é o título de um trabalho publicado em 1996 pelo historiador Raimundo Soares de Brito, onde reproduz o "Diário do Coronel Gurgel" com bastante ilustrações e notas de rodapé. É, por certo, o mais importante registro do que aconteceu com o bando de Lampião depois do ataque a Mossoró.

(Para conhecer mais sobre a história de Mossoró visite o site: www.mossoro.cjb.net) 

Geraldo Maia do Nascimento

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A MAIOR MATADORA DE HOMENS – E AÍ, ENCARAVA?



Publicado em 09/02/2014 por Rostand Medeiros

Conheça a história da atiradora de elite Lyudmila Pavlichenko. Até o final da Segunda Guerra Mundial esta ucraniana tornou-se a atiradora mais bem sucedida da história, com 309 soldados inimigos mortos.

Lyudmila Mykhailvna Pavlichenko

Autor – Rostand Medeiros

É interessante como a extinta União Soviética, um país comunista, não pareceu ter muitos problemas em matéria de igualdade de gênero durante a sua história, em comparação com os países europeus e os Estados Unidos, que promoviam a liberdade e igualdade para todos. Não podemos esquecer que foram os soviéticos que enviaram a primeira astronauta ao espaço exterior no início da década de 1960 (Valentina Tereshkova) e um par de décadas antes, promoveu as suas mulheres para combaterem os invasores nazistas. Aqui temos a história da maior matadora destes inimigos de seu país e, talvez, a mulher que comprovadamente matou mais homens em toda história.


No seu trabalho

Pelas fotos que aqui trago eu não posso dizer que a mulher da foto acima, com belos olhos castanhos, um uniforme de corte extremamente masculino e muito condecorada, é alguma grande referência em termos de beleza feminina. Inclusive nas fotos que temos neste artigo podemos ver que esta militar parecia estar até acima do peso. Ou seria o corte do seu uniforme que a deixava cheinha?


Mas esta mulher de olhos extremamente luminosos, aparência simples, tranquila e serena, matou mais de três centenas de homens dos exércitos que um dia vieram do oeste e ousaram invadir a sua terra.


Seu nome era Lyudmila Mykhailvna Pavlichenko, nasceu na cidade ucraniana de Balaya Tserkov, em 1916, filha de um operário e de uma professora. Na adolescência se mudou para a cidade de Kiev, a capital ucraniana, na época um estado satélite da União das Republicas Socialistas Soviéticas, a URSS. Desta época ela descreveu-se como uma menina “indisciplinada na sala de aula”, mas atleticamente competitiva, e que não se permitiria ser superada por meninos “em nada”.

Neste período a garota participava de um clube de tiro e se deu bem nesta atividade. Mesmo depois de aceitar um emprego em uma fábrica de armas, ela continuou a praticar a sua pontaria. Em 193,7 a jovem Lyudmila se matriculou na Universidade de Kiev, onde estudava história com a intenção de tornar-se uma professora.

Os exércitos de Hitler, a Wehrmacht, arrasando a Europa

Mas em junho de 1941, os alemães lançaram  contra a União Soviética a Operação Barbarossa e a garota imediatamente alistou-se na 25ª Divisão de Rifles, começando sua carreira militar como uma simples recruta. No alistamento ela teve que forçar a barra para ser designada como uma franco atiradora, ou “sniper”, pois o pessoal do alistamento, provavelmente levado pela sua aparência, queria que ela fosse enfermeira.

Lyudmila em ação.

No seu primeiro dia no campo de batalha ela estava em uma posição próxima ao inimigo e ficou paralisada de medo. Incapaz de levantar a sua arma, um rifle M1891/30 Mosin Nagant, de 7,62 mm. Um jovem soldado russo ficou ao seu lado na sua posição de tiro. Mas antes que eles tivessem a chance de estabelecer seus alvos, um tiro ecoou e uma bala alemã tirou a vida de seu camarada. Lyudmila ficou chocada. ”Ele era um bom menino e tão feliz”, ela lembrou. ”Ele foi morto repentinamente ao meu lado. Depois disso, nada poderia me impedir”. Em pouco tempo ela registrou suas primeiras vitórias; com precisão matou dois batedores alemães que tentavam reconhecer uma área perto da localidade rural de Belyayevka.

Rifle M1891/30 Mosin Nagant, de 7,62 mm, similar ao utilizado pela atiradora de elite

A jovem soldado lutou tanto na região de Odessa e na Moldávia, onde acumulou a maioria de suas mortes. Extremamente seletiva, como toda mulher deve ser, Lyudmila tinha uma enorme preferência por homens que utilizavam no peito e nos ombros muitas fitas, condecorações e outros penduricalhos que os oficiais militares se ornamentam para mostrar a sua bravura em combate. Consta que mais de 100 oficiais nazistas pagaram com a vida por andar com estes prêmios diante da mira telescópica do rifle de Lyudmila.

Ela se tornou um dos mais de 2.000 atiradores de elite do sexo feminino no Exército Vermelho, dos quais apenas cerca de 500 sobreviveram à guerra. Creio que não vale nem a pena descrever o que os nazistas faziam com as atiradoras que eles capturavam vivas!

Um atirador de elite alemão. Igual a este Lyudmila matou 36.

Como a contagem de homens mortos pela ucraniana só crescia, ela recebeu mais e mais missões perigosas, incluindo a mais arriscada de todas – o duelo à distância com franco-atiradores inimigos. Lyudmila Pavlichenko nunca perdeu um único embate contra seus opositores, matando 36 atiradores em caçadas que poderia durar todo um dia e uma noite. Em um caso o duelo durou três dias.


Sobre este caso em particular ela comentou que “Essa foi uma das experiências mais tensas da minha vida”. É  interessante ver como esta jovem teve resistência e força de vontade que a levou a ficar 15 ou 20 horas deitada, mantendo a calma, silêncio e o sangue frio necessário para apertar o gatilho no momento certo. ”Finalmente”, disse ela sobre seu perseguidor nazista, “ele fez um movimento e atirei”. Um a menos!


Quando os alemães ganharam o controle de Odessa, sua unidade foi enviada para a região da cidade de Sevastopol, ou Sebastopol, ao sul da península da Criméia, onde Lyudmila passou oito meses de intensos combates.

Em maio de 1942 ela já tinha alcançado o posto de tenente, quando foi citada pelo Conselho do Exército do Sul por ter matado 257 soldados alemães, incluindo 187 em seus primeiros 75 dias neste estranho trabalho para uma mulher.


Seu total de mortes confirmadas durante a Segunda Guerra Mundial foi de 309. Também deve ser notado que o número real de inimigos abatidos por Lyudmila foi, provavelmente, muito mais do que os 309 confirmados por testemunhas. Historiadores acreditam que esta mulher pode ter matado mais de 500 inimigos.
 
Lyudmila foi ferida em quatro ocasiões distintas. A mais grave ocorreu em junho de 1942, quando sua posição de tiro foi bombardeada por fogo de morteiros e ela recebeu estilhaços no rosto.

Lyudmila com a Primeira Dama dos Estados Unidos, a Sra. Eleanor Roosevelt

Apenas dois meses depois de deixar Sevastopol, a jovem oficial estava nos Estados Unidos, em um trabalho puramente propagandístico. Ela se tornou o primeiro cidadão soviético a ser recebido pelo Presidente Roosevelt na Casa Branca e manteve uma ótima relação com Eleanor Roosevelt, a Primeira Dama.


Para a imprensa americana Lyudmila relatou que suas botas negras tinham “Conhecido a sujeira e o sangue de batalha”. Ela deu entrevistas com descrições contundentes de seu dia como uma franco atiradora. A ucraniana relatava sua odisseia com extrema sinceridade, olhando os repórteres nos olhos, falando com delicadeza, mas de maneira firme e muito orgulhosa em relação aos seus feitos. Matar nazistas, disse ela, não lhe despertou emoções complicadas. Na época afirmou “A única sensação que tenho é a grande satisfação que um caçador sente ao matar um animal de rapina”.


A atiradora fez tanto sucesso na terra de Tio Sam que até mesmo virou “hit” de canção popular. Isso ocorreu quando o músico americano Woody Guthrie gravou uma canção Intitulada “Senhorita Pavlichenko”, em homenagem a durona atiradora de olhos suaves. Neste país Lyudmila ainda foi agraciada com uma pistola Colt calibre 45, com gravações exclusivas de sua visita, e um rifle Winchester 70. O último dos quais pode ser visto em Moscou, no Museu Central das Forças Armadas.


Tendo alcançado o posto de major, Lyudmila nunca mais voltou a combater, mas tornou-se instrutora de franco atiradores soviéticos até o fim da guerra. Em 1943, ela foi premiada com a Estrela de Ouro de Herói da União Soviética.


Lyudmila Mykhailvna Pavlichenko foi destaque em dois selos postais comemorativos na União Soviética depois da guerra (um deles trago ao lado). Ela terminou um mestrado em história na Universidade de Kiev, foi ativa no comitê soviético de veteranos de guerra e, entre outras coisas, trabalhou como assistente de pesquisa na sede da marinha soviética.

Morreu em 10 de outubro de 1974, aos 58 anos de idade.

Apesar do número elevado de mortos, não podemos esquecer que esta mulher era apenas uma militar em combate, nunca foi uma “serial killer”. Ela cumpria seu dever de defender seu país, que havia sido invadido e, como em todas as guerras, se espera que os militares matem o maior número de invasores inimigos.

Ou alguém acha que por ser mulher ela não poderia cumprir a sua missão?

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Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

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CONVENIÊNCIAS DA LOUCURA

Por Rangel Alves da Costa*


A loucura, insanidade ou desequilíbrio mental, ou qualquer denominação que se dê ao distúrbio psiquiátrico, é lastimosa situação que aflige o ser humano. Contudo, sem chegar ao estágio de perda total do juízo, verdade é que a loucura possui suas conveniências ao ser humano. Às vezes é a própria realidade que transforma o sujeito, o coloca em situações tão adversas que o tresloucamento se transforma em normalidade.

Ademais, nunca é demasiado lembrar que todo mundo carrega em si uma boa dose de loucura. Ou, como afirmam, seria temerosa loucura não avistar sinais de insanidade em cada ser humano sadio. As ações, tão corretas e bem pensadas para alguns, para outros não passam de atitudes impensadas, gestos desatinados, verdadeiras loucuras. Daí ser difícil dizer qual ação está plenamente revestida da razão.

Essa feição de loucura serve a diversos propósitos. Toda ação infundada, impensada ou desavergonhada possui a insanidade como desculpa. E um chega e diz que só mesmo estando louco para ter feito o que fez; o outro afirma que só mesmo um doido para fazer uma besteira igual aquela. Antes mesmo da ação, nos conselhos, diálogos abertos ou alertas, não é difícil se ouvir que não aja como louco, não incorra numa maluquice dessas, que seria a maior doidice do mundo tomar tal atitude.

Reconhece-se também que a loucura acaba fazendo bem a muitas pessoas. Daí que agem como loucas todas as vezes que precisam resolver problemas difíceis, fazer mirabolantes escolhas ou mesmo levar adiante algo impossível de ser realizado na normalidade das situações. Parecem desconhecer-se a si mesmas, perder a noção de cuidado ou precaução, e de repente já estão agindo contra todas as expectativas. E nada seria possível sem uma dose de loucura para, através de linhas tortas, encontrarem a melhor saída. 


Verdade é que a loucura outra ou doidice própria de cada um está mais cotidianamente presente do que qualquer ser possa imaginar. Ademais, em determinadas situações fica até difícil saber o que é um ato impensado, desajuizado, ou mesmo uma ação corriqueira, da normalidade humana. Eis que os absurdos são cometidos de modo tão contumazes, rotineiros, que ninguém sabe mais dar juízo de valor ou de realidade a determinadas ações.

Ora, não há como não se vislumbrar loucura naquelas pessoas normais e seus atos inexplicáveis. Mas os argumentos para se aceitar, ou não, determinadas atitudes como gestos de insanidade são também contraditórios. Há os que defendem a liberdade de consciência e de ação como algo que não pode ser contestado por nenhuma outra pessoa. Contudo, muitos são aqueles que tendo por base o bom senso e a racionalidade, logo contradizem os gestos desarvorados de qualquer um.

Verdade é que muitos acham dentro da normalidade que o outro, tido e havido como de juízo perfeito, de repente amarre uma lata no rabo do gato, crie uma cobra venenosa debaixo da cama, permita que o seu filho adolescente saia por aí dando cavalo de pau com seu carro. Ou ainda que por desgosto ou ciúme atire contra o próprio pé. E no gesto ainda mais desesperador, suba no oitavo andar e ameace se jogar de lá se a ex-namorada não aparecer por ali para vê-lo naquela situação.

Seja como for, sempre será difícil definir a loucura nas pessoas tidas como normais. Mais complicado ainda porque se um doente mental atira pedra em alguém, revira a lixeira do jardim ou risca um muro recentemente pintado, sempre terá seu estado mental como objeto de condenação social. Mas se outra pessoa qualquer faz o mesmo, dificilmente será vista como louca. No máximo como desordeira.

Do mesmo modo arrancar uma flor de um jardim alheio. O louco de verdade faz isso na maior normalidade do mundo. Mas o apaixonado também. E paixão não acaba enlouquecendo? Então tudo se justifica.

Poeta e cronista
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