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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A HISTÓRIA DA CIDADE – GERALDO MAIA LANÇA LIVRO SOBRE MOSSORÓ

por Webmaster

Um livro que retrata a história de Mossoró escrito por um dos pesquisadores mais sérios quando o assunto é o passado do município: Geraldo Maia do Nascimento. A obra, com o título de Mossoró na trilha da história recebeu selo da editora Sebo Vermelho e será lançada no próximo dia 13, a partir das 20h, no auditório da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte.


De acordo com o José Wellington Barreto, presidente da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Norte, Geraldo Maia não é um autor estreante. Em 2002, “atendendo a um convite do professor Vingt-un Rosado, mecenas da cultura mossoroense, selecionou alguns desses textos e publicou o livro Fatos e Vultos de Mossoró – acontecimentos e personalidades, através da Coleção Mossoroense. Já tinha publicado, em 2001, também pela Coleção Mossoroense, o livro Amantes guerreiras, a presença da mulher no cangaço. Publicou, em 2009, pela Gráfica e Editora Piauipel, de Teresina/PI, o livro “A R L S  30 de Setembro” e, em 2012, pela mesma gráfica, publicou o livro “Judas Tadeu de Azevedo – O guerreiro solitário”. Agora selecionou outros textos, dos mais de seiscentos publicados em jornais, para formar o presente livro, com o título de Mossoró na Trilha da História – Anotações”, fala.

De acordo com ele, o trabalho de Geraldo Maia “vem contribuir com o estudo da nossa história, evitando que a pátina do tempo apague essas memórias. Dando sua contribuição nesse sentido, o pesquisador e escritor, um amante da história mossoroense, nos apresenta, semanalmente, pedaços da nossa história. E de onde ele tira esses temas? Soprando a poeira de velhos papéis das bibliotecas, dos periódicos que o tempo amarelou, de arquivos particulares, bebendo água nas fontes límpidas e cristalinas”, frisa.

Mossoró na trilha da história não é um apanhado de anotações. Ao contrário. Existe, em toda obra, um apurado senso de pesquisa, característico de todos os trabalhos realizados pelo pesquisador Geraldo Maia, durante mais de uma década em que se dedica ao trabalho de analisar, pesquisar e conhecer a história local, seja através de documentos, entrevistas ou análises de outras fontes.

O AUTOR

Para Kydelmir Dantas, “algumas pessoas chegam a determinados lugares e ficam procurando pontos negativos para terem motivos de criticar e/ou não se adaptarem. Outras, usando da razão, procuram e encontram os pontos positivos, que em todos os lugares tem, e a partir daí vão tornando-se ‘mais um’ daquela comunidade. Com muita coerência o confrade do ICOP – Instituto Cultural do Oeste Potiguar, Milton Marques, diz que a Petrobras não trouxe para Mossoró apenas o progresso advindo do ouro negro, mas, também, sua riqueza mais importante”, destaca.

Para ele, assim “o foi com Geraldo Maia do Nascimento, o natalense mais mossoroense que conhecemos, ao sair da mesmice de casa-trabalho-casa, como a maioria dos mortais, e envolver-se com a cena sociocultural da capital do Oeste potiguar”.

Geraldo Maia nasceu em Natal, Estado do Rio Grande do Norte.  Bacharelou-se em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

É pesquisador da história do Oeste potiguar, publicando seus estudos nos jornais e revistas da região, principalmente no jornal “O Mossoroense”, onde colabora com uma coluna semanal desde 1999.

Em 2001 publicou Amantes guerreiras – a presença da mulher no cangaço, seu primeiro trabalho pela Coleção Mossoroense. Em 2002 publicou Fatos e vultos da história de Mossoró – acontecimentos e personalidades, pela mesma editora. Em 2009 publicou “A…R…L…S… 30 de Setembro – Fundação da Loja Maçônica 30 de Setembro – pela GL Gráfica e Editora. Em 2014 publica Mossoró na Trilha da História – anotações, pelo Sebo Vermelho.

É sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), da Poetas e Prosadores de Mossoró (POEMA), da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore, da Comissão Mossoroense de Folclore (COMFOLK), da Academia Apodiense de Letras, da Academia Serratalhadense de Letras, da Academia Mossoroense de Letras (AMOL),  da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Norte (AMLRN), rotariano e mestre maçom.

http://gazetadooeste.com.br/a-historia-da-cidade/

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DECRETO Nº 1, DE 9 DE JUNHO DE 1930


Decreta e proclama provisoriamente a independência do Município de Princesa, separado do Estado da Paraíba e estabelece a forma pela qual deve ele se reger.

A administração provisória do Território de Princesa, instituída por aclamação popular, decreta e proclama a resolução seguinte:

Art.1º - Fica decretada e proclamada provisoriamente a independência do Município de Princesa, deixando o mesmo de fazer parte do Estado da Paraíba, do qual está separado, desde 28 de fevereiro do corrente ano.

Art.2º - Passa o Município de Princesa a constituir, com os seus limites atuais, um território livre, que terá a denominação de Território de Princesa.

Art.3º - O Território de Princesa, assim constituído, permanece subordinado politicamente aos poderes públicos federais, conforme se acham estabelecidos na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

Art.4º - Enquanto, pelos meios populares, não se fizer a sua organização legal, será o território regido pela administração provisória do mesmo território.

Cidade de Princesa, 9 de junho de 1930. - José Pereira Lima- José Frazão Medeiros Lima- Manuel Rodrigues Sinhô...

VEM AÍ...Cariri Cangaço Princesa 2015; dias 19 e 20 de Março; não perca esse grande encontro com a incrivel historia de nosso nordeste...
www.cariricangaco.com


Fonte: facebook

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NOITE DE AUTÓGRAFOS DE "UMA GARÇA NO ASFALTO", DE CLAUDER ARCANJO, EM NATAL-RN


Caros amigos e amigas:

Estarei nesta quinta-feira, dia 29 de janeiro de 2015, a partir das 19h, autografando o meu livro de crônicas Uma garça no asfalto (Letra Selvagem), em Natal-RN. O evento dar-se-á na Livraria Nobel, na Avenida Salgado Filho.

Espero contar com a presença de vocês.
Deste escrevinhador provinciano,
Clauder Arcanjo.

Enviado pelo escritor, professor, pesquisador do cangaço e presidente da SEBC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Benedito Vasconcelos Mendes.

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CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DA DADÁ !


A partir do dia 07 de Fevereiro até o dia 25 de abril, período que compreende a data da morte e o nascimento de DADÁ, farei uma série de postagens diárias neste grupo...Aguardem !

Fonte: facebook
Página: Adauto Silva

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Sérgia Ribeiro da Silva mais conhecida como Dadá, nasceu em Belém do São Francisco, no 25 de abril de 1915 — Salvador, fevereiro de 1994, foi uma cangaceira - única mulher a pegar em armas no bando de Lampião. Nasceu em Belém do São Francisco, onde viveu seus primeiros anos de vida e teve algum contato com índios. A família muda-se para a Bahia onde, aos treze anos, é raptada por Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) - o "Diabo Loiro", de quem seria prima. Cabocla bonita, esbelta, conheceu o homem da sua vida de forma violenta, em meio a caatinga árida por onde vivia errante o bando de cangaceiros. 

A vida nômade, seguindo o companheiro, que era o segundo homem, na hierarquia do bando, a chegada dos filhos, fez com que mais que uma amante Dadá se tornou a companheira de Corisco, com quem, ainda no meio das lutas veio a se casar.

Tiveram sete filhos, que eram ocultamente deixados em casas de parentes para serem criados. Destes, apenas três sobreviveram.

O bando de Lampíão dividia-se, como forma de defesa, em partes menores, a mais importante delas era justamente a chefiada por Corisco. A esposa tinha uma pistola, que ele dera, para sua defesa pessoal, e também lhe ensinou a ler, escrever e contar.

Num dos ataques feitos pelas volantes (em outubro de 1939, na fazenda Lagoa da Serra em Sergipe), o Diabo Louro é ferido em ambas as mãos, perdendo a capacidade para atirar. Dadá, então, torna-se a primeira e única mulher a tomar parte ativa - e não meramente defensiva - nas lutas do cangaço.

Se o marido era temido como um dos mais violentos bandoleiros, consta que muitas pessoas tiveram sua vida poupada graças à intervenção de sua companheira. Dada também era chamado "Suçuarana do Cangaço"
Trágico final.

Tendo Lampião sido executado em 1938, Corisco, que estava em Alagoas com parte do bando, empreendeu feroz vingança. Como seus companheiros tiveram as cabeças decepadas, e expostas no Museu Nina Rodrigues de criminologia, na capital baiana, Corisco também cortou a cabeça de muitas vítimas, então.

O cangaço definhava, sobretudo pela disparidade de armamentos: os volantes tinham uma arma que os cangaceiros nunca conseguiram obter: a metralhadora. A própria Justiça passa a oferecer vantagens para os bandoleiros que se rendessem.

A 25 de maio de 1940 Corisco e seu bando é cercado em Brotas de Macaúbas, pela volante do tenente Zé Rufino. Dissolvera o bando, e abandonara as vestes típicas, procurando passar por simples retirantes.
Uma rajada da metralhadora rompe os intestinos de Corisco. Dadá é ferida na perna direita.

O último líder do cangaço morre dez horas depois do ataque, sendo enterrado em Jeremoabo e, dez dias após, exumado e a cabeça decepada é enviada ao Museu, junto às demais do bando.

Dadá colocada em condições infectas, tem seu ferimento agravado para uma gangrena, que restou-lhe, na prisão, à amputação quase total da perna. Por essa situação, o célebre rábula baiano Cosme de Farias, representa Dadá na Justiça, pleiteando sua libertação, em 1942.

http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgia_Ribeiro_da_Silva

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“O GLOBO” – 06/11/1958 - CAPÍTULO III

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

ASSIM FALOU VOLTA-SECA... COMO SE FORJA UM CANGACEIRO

MEU PRIMEIRO COMBATE

Como ingressei no bando de Lampião – fui praticamente raptado – não foi difícil habituar-me à vida do bando – encontro com a força volante.

QUANDO me vi frente a frente com os dois “cabras” de Lampião, me apavorei. Como todo nordestino, eu tinha medo dos cangaceiros, da mesma forma que da força volante, em nada melhor do que eles. Sempre ouvira falar de Lampião, e só o seu nome me punha assustado. Eu tinha apenas onze anos de idade e estava naquele momento à frente de dois “cabras”, desarmado, e ainda tendo que defender duas moças. Rosália e Lindaura não sabiam o que fazer e agarravam-se a mim com força. Os dois cangaceiros resolveram conversar. Um deles perguntou:

- De quem é isso aqui?

- De meu pai, respondeu, trêmula, Lindaura.

- Me diga uma coisa, retornou o cangaceiro, seu pai tem um cavalo ou um burro?

- Tem, sim senhor, prosseguiu, Lindaura. 
Tem um cavalo, mas ele está campeando. 

O cangaceiro olhou-nos firme de novo e disse: 

- Era só isso que nós queria. 

E já se iam embora, quando o que esteve sempre calado fitou-me fixamente e falou: 

- Garoto, siga a gente até o arraial. 

Não tive remédio senão segui-los, pois não ousava desobedecê-los. Mandei que as moças voltassem para casa e fui caminhando atrás dos cavalos até o arraial de Goloso.

Lá chegando, levaram-me para a casa do delegado, seu João Guerra, homem covarde como ele só. A sala de visitas estava cheia de “cabras”, todos mal-encarados, e que voltaram a olhar para mim logo que entrei. Ninguém falava e eu olhei curioso um por um, para ver qual era o Lampião. Ali se encontravam Corisco, Arvoredo, Virgínio, Luiz Pedro, Ezequiel, Mariano e Mergulhão. Um dos “cabras” que me trouxeram disse: - Espere aqui, garoto. Vou chamar o capitão Virgulino.

FACE A FACE COM LAMPIÃO

E foi para o interior da casa. Ouvi a voz dele no cômodo vizinho: 

- Seu Capitão, nós trouxemos um garoto aqui que está bom para lavar os nossos animais. Não ouvi a resposta, apenas passos em direção à sala, até que surgiu um homem alto, bem alto, magro, de óculos, chapéu grande de couro e todo equipado à moda dos cangaceiros. Seu equipamento era bonito, coberto de moedas de ouro e prata. Usava cavanhaque, mas sem bigode. Andava como pêndulo, balançando o corpo e tinha a fisionomia zangada. Quando chegou mais perto, reparei que um dos seus olhos tinha uma belida, uma névoa bem em cima da pupila. Parou na porta, olhou-me e veio em minha direção. Ficou uns segundos estudando-me de alto a baixo e depois, num tom grave de voz que impunha respeito, perguntou:

- Cumé teu nome, minino?

- Antonho...

- Antonho de quê?

- Dos Santos.

Ele me olhou novamente nos olhos e sua fisionomia carregada se abrandou, para dizer: Do diabo ninguém quer ser, não é, meu filho? E deu uma gargalhada. Foi o bastante para todo mundo rir, inclusive o delegado, que bajulava e dizia:

- É mesmo, capitão, ele é dos Santos, mas não quer ser do diabo... ka! ka! ka!

E as risadas duraram alguns segundos. Mas em dado momento Lampião parou de rir e todos o imitaram. Chamou um “cabra” e disse:

- Vá à venda e compre uma caixa de sabão “calór” e um vidro de loção perfumada.

O “cabra” foi e voltou rapidamente com uma caixa de sabonete Eucalol e um vidro de loção que entregou a Lampião. Este os passou a mim, recomendando:

- Vá lavar os animais bem lavados e depois ponha loção neles. Bem lavados e perfumados, está ouvindo?

E mandou que dois “cabras”, Mariano e Luiz Pedro, me seguissem. Saímos da casa e os “cabras” mostraram-me os animais, que eram oito, entre burros e cavalos. Levei-os para um riacho distante uns cem metros da casa, e lavei-os um por um. Eu sabia fazer aquilo muito bem, pois tinha prática, mas jamais o fizera com sabonete. Os animais, depois de bem lavados, ficaram lindos e com o pelo lustroso. Em seguida joguei loção nos bichos e, aliás, eu tanto jogava extrato neles como em mim. A verdade é que ficamos todos, eu e os animais, cheirando bem...

Mas enquanto eu os lavava, não se afastava de mim a ideia de fugir daquela gente, pois qualquer coisa me dizia que algo de mau estava me aguardando. Mas onde arranjar coragem para tanto? Depois, não me davam folga, eu estava sempre bem vigiado. Quando terminei a lavagem, entreguei os animais aos “cabras”, que acharam bom o serviço e me levaram de volta a Lampião.

ANEXADO AO BANDO

Diante de Virgulino os “cabras” elogiaram o meu trabalho: dizendo que eu sabia lavar bem um animal. Lampião gostou e, puxando cinquenta mil réis do bolso, entregou-me: 

– Está bom? Perguntou. 

– Está, sim, senhor, respondi. E criando coragem atrevi-me a perguntar: - Estou desocupado, capitão? Lampião olhou-me e disse: 

- Está, mas vamos almoçar primeiro.

Não tive remédio senão ir. O almoço foi numa pensão, e na mesa só se sentou o bando e eu. Eu era o único estranho, ou melhor, um dos únicos, pois o delegado não saía do lado de Lampião. Comemos bem, mas não houve muita conversa na mesa. Terminado o almoço, Lampião fumou um charuto. Deixei passar um tempo e manifestei novamente vontade de ir embora. Lampião dessa vez nem me fitou e respondeu: 


- Pode ir. 

Foi quando os “cabras” resolveram intrometer-se para aconselhá-lo a ficar comigo, pois sabendo eu lavar bem os animais, poderia ser-lhes de grande utilidade. Eu quis afastar-me enquanto discutiam, mas Lampião mandou-me esperar. Depois de ouvir as razões apresentadas pelos “cabras”, deu um soco na mesa e bradou, apontando para mim: - Bem, você vai ficar comigo pra lavar os nossos animais.

Pareceu que o mundo tinha se aberto a meus pés. Desesperado, pedi que não me levassem, pois queria ficar. Apelei para o fato de o fazendeiro precisar de mim, aleguei que tinha uma roça para tratar, que as moças necessitavam de mim, mas nada demoveu o capitão Virgulino. Por outro lado, os “cabras” me aconselhavam a seguir com eles e, mais do que os “cabras”, o delegado João Guerra também me incentivava: 


- Vai, meu filho, dizia o cínico delegado. O capitão é uma bela pessoa e você só terá a lucrar. Não vai faltar-lhe nada e você tem muito futuro com o capitão.

Eu não queria ingressar no bando de forma alguma. Não que soubesse o que me esperava, mas doía-me deixar a fazenda de seu Danilo, sua esposa, Lindaura e Rosália, aos quais já me tinha afeiçoado. Aquele ambiente fazia sentir-me como se estivesse com a minha família. Por que iria deixá-lo, para viver com um bando de cangaceiros? Não, eu não iria! Protestei com toda a energia que era possível a um garoto de onze anos. Mas os meus protestos só serviram para irritar Lampião, que em dado momento se levantou e me perguntou de cara ameaçadoramente: Responda: quer ir ou quer morrer?

Estava tudo decidido. Muito embora eu nada respondesse, a minha atitude acovardada evidenciava que eu não queria morrer. Eu iria, mas já com a ideia de fugir na primeira oportunidade. Não ficaria no bando. Haveria de voltar para a fazenda de seu Danilo.

JÁ NÃO ERAM ANTIPÁTICOS

Foi assim que ingressei no bando do Capitão Virgulino, como lavador de cavalos, à espera de uma oportunidade para desertar. Em poucas horas aprontei minhas coisas, despedi-me da família de seu Danilo e segui amargurado e chorando. Não havia animal para mim, razão pela qual fui sentado na garupa do burro de Corisco. A viagem era dura e desde o início senti que a fuga ia ser difícil, pois aquela gente era esperta e talvez estivesse pressentindo o meu desejo. Seguimos pela estrada do Ouricuri e só acampamos na fazenda que tem o mesmo nome, algumas léguas além. No dia seguinte prosseguimos, e agora eu montava um cavalo que Lampião comprara para mim. Antes de partir, Lampião chamou-me e, sem se aperceber das minhas mágoas, disse-me que, já que eu estava no bando, precisava conhecer e respeitar o regulamento. Entre várias observações, lembro-me destas palavras: - “O regime é duro. Nada de andar com paisanos, para eles não terem gosto. Quando alguém andar errado com você, meta o pau! E não esqueça que exijo respeito!”

Continuamos a viagem. À medida que prosseguíamos, a minha ideia de fuga ia desaparecendo. Andamos muitos dias! Cruzamos vários arraiais: Zanguê, Banzaê, Buracos, Mirandela...

Pouco a pouco fui deixando de antipatizar com os “cabras”. As caras amarradas, algumas foram-se tornando simpáticas para mim e a camaradagem foi nascendo, pois todos me tratavam bem. Fui aprendendo novos modos, novas músicas, e até comecei a admirar a valentia daquela gente. Com um mês de bando eu já me sentia ambientado e gostava daquela vida de comer bem e ser respeitado onde chegava. Fazia-me bem ser olhado com temor pela gente sertaneja, que via em mim um cangaceiro, um “homem disposto”, apesar de minha pouca idade. Aos poucos, eu já olhava para os “cabras” com certa inveja de suas façanhas, e Lampião não demorou a ser para mim um verdadeiro ídolo. Ia também odiando a sociedade, graças às histórias desajustadas de meus companheiros. Cada injustiça que eles me contavam era como se tivesse sucedido a mim. Aprendi a odiar a polícia, e isso tudo sem a conhecer, pois até àquela altura ainda não tinha visto um combate, nem podia fazer ideia do que era a minha nova vida. Entrei em guerra com o mundo gratuitamente.

Sem dar por isso, passei a apreciar também o meu novo nome, o apelido que Lampião me deu – Volta Seca. Até hoje, como já disse, não sei a razão do apelido.

Com dois meses de bando, Lampião, sentindo que eu já estava preso a ele, chamou-me e, mostrando-me um rifle, perguntou-me: 


- Volta Seca, você já atirou com esta arma? 

Eu nunca havia pegado num rifle, muito embora soubesse atirar bem com um “pica-pau” fabricado por mim mesmo. 

– Não sei atirar, não senhor, respondi. 

Lampião então me deu uma aula completa de como manejar uma arma de fogo. Deu vários tiros antes e mandou-me imitá-lo. Ensinou-me a (...), isto é, prender o gatilho com o dedo, ajudado por um lenço, enquanto a outra mão acionava a alavanca, o que fazia da arma uma verdadeira metralhadora. Terminada a aula, deu-me a arma de presente, mandou-me praticar bastante e recomendou: 

- Não esqueça que arma é sempre perigosa. Muito cuidado! A arma só vive com a boca pra baixo... O que valia dizer que não devia facilitar com ela.

Treinei muito tiro e, com outras lições dadas pelos companheiros, acabei um exímio atirador, fato de que muito me orgulhava. Todavia, nunca entrara num combate e nem de leve me passava pela cabeça que teria de matar. Entendam-me os leitores: eu estava orgulhoso daquela nova vida de aventuras, de rasgos ousados, mas só da parte ostensiva. O cangaço, até aquela altura, para mim, era uma brincadeira, pois nem por sonho eu podia atinar com as verdadeiras finalidades do bando. E tanto não pensava nisso, que o meu batismo de fogo pegou-me ingênuo na matéria. Vale a pena narrá-lo para que se veja como o crime pode nascer na alma de uma criança aos doze anos de idade, de forma que se torna dificílima uma explicação.

MACACO NÃO VI, NÃO...

Já tínhamos deixado a fazenda Abobreiras, ainda no estado da Bahia. Eu sempre ouvia falar de “macacos”, mas não sabia que “macacos” na gíria cangaceira queria dizer soldado. Suspeitando que a força volante o seguia, Lampião mandou que eu me atrasasse, ficasse sentado numa pedra e, caso visse passar uns “macacos”, corresse a lhe avisar. Os “macacos” teriam que passar pela estrada e o bando estava afastado dela em sentido diferente. Para melhor esclarecimento, o que eu tinha a fazer era sair do bando, ver os “macacos” passarem pela estrada e voltar para avisar lampião. Assim fiz, e vinha distraído pela estrada quando observei atrás de mim um grupo grande de soldados cantando, e que passaram por mim sem me dar a menor importância. Na certa não supunham, um garoto como eu ser cangaceiro, visto que eu estava mesmo desarmado e sem equipamento, pois Lampião me mandara deixar o rifle e o cinturão com ele. Os soldados passaram e eu nem liguei, da mesma forma que eles não me ligaram. Quando desapareceram numa curva, como eu não vira nenhum “macaco” voltei por onde tinha vindo e depois de algum tempo encontrei o bando. Lampião logo me interpelou:

- Viu algum macaco?

- Nhor não. Não tinha um macaco nem pra remédio, respondi orgulhoso como quem havia cumprido bem a missão.

- Não viu mesmo nenhum macaco? Retornou o capitão.

- Não tinha não senhor, nenhum. Pela estrada só passou uma porção de sordados.

Todos se entreolharam de olhos arregalados. Ninguém riu, porque a surpresa era forte demais, mas Lampião compreendeu minha ingenuidade.

- E... e macaco, meu filho, não é o mesmo que sordado? Perguntou-me.

- Não sei, não, senhor. Macaco que eu conheço é um bicho de rabo...

- Pois aqueles sordados, meu filho, só não tem rabo, mas são macacos. 

São piores do que macaco. Aqueles é que são os verdadeiros macacos. Aquilo não presta! Aquilo é pior do que cobra, e só serve pra matar gente covardemente, tá me entendendo?

Entendi rápido. Aqueles soldados não mereciam a menor consideração e eram eles a causa de todas as desgraças do mundo, conforme me contaram várias vezes meu companheiros. 

Lampião não perdeu mais tempo com conversa. Só quis saber a direção que a volante tomara e deu ordem a todos que mudassem o rumo, pois iriam surpreender os “macacos”. Aceleramos o passo e, não sei como, uma hora depois estávamos entrincheirados numa elevação próxima à estrada. Eu nada via, mas logo percebi que os “macacos” não demorariam a aparecer, pois havíamos cortado caminho e estávamos adiante da tropa.

O BATISMO DE FOGO

Lampião distribuiu o pessoal e deu suas instruções, advertindo que só começasse a atirar depois que ele começasse. Depois me deu o rifle novamente e mandou que eu ficasse entre dois cangaceiros, sendo que um deles era o preto Bom-Deveras, um dos que atiravam melhor no bando. Fumava cachimbo e não o tirava da boca, nem para atirar. Bom-Deveras esta bem entrincheirado e eu procurei imitá-lo ao máximo. Meu coração batia descompassado, pois não precisava ser muito inteligente para perceber que o “tiro ia comer” e não demorava muito.

De fato, poucos minutos após despontou já em baixo a volante. Os soldados vinham alegres e cantando, o que valeu uma piada de Lampião: A macacada está contente, louca pra levar chumbo.

À frente da tropa vinham dois rastejadores bem atentos, alguns metros adiante dos demais. Um desses rastejadores, então mais adiantado do que o outro. Era “Cobra-Preta”, famoso por sua valentia, um rastejador respeitado e preto, como “Bom-Deveras”.

A tropa aproximava-se sem saber que a morte a esperava de tocaia. “Cobra-Verde” vinha atento, fuzil preparado, e sua figura chamou a atenção de “Bom-Deveras”, que colocou logo sob a mira e disse uma frase muito sua em momentos idênticos: - Aquele negro ali já tá fedendo... Queria ele dizer com aquilo que “Cobra-Preta” já estava mais do que morto, sob sua pontaria...

Todos estavam atentos.

O momento era solene, próprio para demonstração de bravura. A volante avançava e o bando a aguardava. Todos estavam fazendo pontaria, todos menos eu. E por que não eu? Foi o que me perguntei. E de repente, sem saber por que, enchi-me de brios e fiz também pontaria. Eu era do bando, eu estava ali para aquilo, era o que minha consciência mandava! A poucos metros da volante, com “Cobra-Preta” a menos de dez metros de nós Lampião deu início ao combate, abrindo fogo. Uma saraivada de balas se seguiu, e “Cobra-Preta” foi o primeiro a cair com a cabeça despedaçada por projeteis. Quase todos o tinham sob a mira. Os soldados surpresos com a fuzilaria, deitaram no chão para reagir, mas, bem entrincheirados, os “mininos” de Lampião iam dando cabo deles um a um. Foi tiro para valer e eu atirei bastante, mas tão emocionado estava, que creio não ter atingido a ninguém. Os soldados, em número de cinquenta, foram dizimados. Uns dez fugiram apavorados, e Lampião, ao vê-los correndo, gritava: Não adianta perseguir, pois macaco corre muito... Corre, macaco... Corre, macaco...

Alguns soldados que haviam sido atingidos, muitos deles já agonizantes, receberam tiros ou punhaladas de misericórdia. Um soldado que havia sido atingido com um tiro numa das pernas, ao ver uma “cabra” se aproximar com um punhal na mão, pôs-se a gritar: 


- “Não me mate, pelo amor de Deus!” “Não me mate!” 

Pareceu que aquelas súplicas mais enfureceram o “cabra” que, rilhando os dentes, enfiou o punhal no coração do soldado, que tombou fulminado. Eu olhava aquilo tudo admirado, mas o ódio com que meus companheiros mataram os soldados feridos calava forte em minha mente. Quando partimos dali e todos contavam vantagens, que mataram este ou aquele “macaco”, eu ouvia tudo curioso e, por que negar?, tinha mesmo inveja de não poder contar nada. Infelizmente, o futuro me traria coisas para contar, muitas mesmo, tantas, que preferiria calar.

No próximo capítulo: o amor de Lampião

CONTINUA...

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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