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sábado, 11 de fevereiro de 2023

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO EM MOSSORÓ

Por: Emanoel Pereira Braz
paduacampos.com.br

No que se refere à história da abolição da escravidão em Mossoró, a abordagem histórica predominante tenta omitir os fatos que refletem as causas do processo abolicionista em Mossoró, e assim, não faz referências ao período imediatamente anterior à abolição dos escravos nesta cidade. Esta deficiência de abordagem revela uma produção historiográfica que não prioriza a contextualização do acontecimento em seus aspectos econômico, social e político, e isto dificulta a compreensão real daquele período histórico.

A propagação do movimento abolicionista não encontrou proprietários de escravos receosos de perderem seu patrimônio, ou exigindo indenização para libertar seus escravos. Não há registros de depoimentos de políticos no âmbito local que fossem contrários ao abolicionismo. Documentou-se, no entanto, como uma das primeiras adesões à causa abolicionista a do presidente da Câmara Municipal de Mossoró Romualdo Lopes Galvão, fiel participante da campanha (NONATO,1983,228). Constatações que são reforçadas em parte pela condição econômica da cidade que às vésperas da abolição vivia fundamentalmente do comércio. A base dos seus negócios como peles, carne seca, algodão, couro, sal entre outros.

Mossoró havia conquistado a condição de empório comercial; até mesmos as secas na região contribuíram para a expansão das atividades do comércio local desde que os socorros da parte do governo para a população flagelada eram concentrados para a distribuição em Mossoró, e a presença dessa população faminta serviu de opção aos comerciantes de Mossoró como força de trabalho barata (FELIPE,1982,52-60).

Considerando que o comércio desenvolvido em Mossoró mantinha uma relação com a produção regional, e que a burguesia comercial sediada em Mossoró mantinha negócios no setor rural, chegamos a presumir que as atividades desenvolvidas no campo estivessem mais relacionadas ao trabalho escravo. Neste sentido, procuramos observar o desenvolvimento da cotonicultura que, no período bem recente ao da abolição da escravidão, aparece como uma das principais fontes de riqueza na província do Rio Grande do Norte. Cultivado principalmente nas terras do Sertão e Agreste, foi neste período o principal produto comercializado em Mossoró para várias ouras regiões do Brasil, e até mesmo para o exterior. Ao analisar o algodão no quadro da economia do Rio Grande do Norte, Takeya focaliza as relações de trabalho que mais corresponderam às circunstâncias da região e da produção. Segundo a autora, o algodão se incluía entre as culturas de ciclo vegetativo curto, e por seu plantio incidir em regiões onde a seca era uma constante, se tornou inviável o uso do trabalho escravo.

Estas condições não permitiram que a utilização da mão-de-obra escrava proliferasse, o que ocorreu também na economia criatória que deu origem ao povoamento e à evolução de Mossoró. Mesmo se confirmando a presença do escravo nas fazendas de gado, esta presença não veio a tornar-se indispensável para o desenvolvimento das atividades daquelas unidades de produção. Além da criação de gado, teve lugar nas fazendas outras atividades que dependiam desta principal, tais como: a indústria da carne seca e o ciclo do couro. Todas contribuíram direta ou indiretamente com vultosos lucros para os seus proprietários, os quais, por esta época, em sua maioria, eram também comerciantes em Mossoró. Estas e outras atividades do cotidiano da fazenda eram assumidas por trabalhadores livres com presença sempre mais numerosa que a dos escravos.

Por estas condições os habitantes das fazendas mantiveram uma convivência neste espaço de moradia e trabalho que fez desaparecer a fiscalização rígida e a utilização dos castigos tão comuns, os quais eram aplicados aos escravos rebeldes dos canaviais ou cafezais.

Na realidade, o Rio Grande do Norte não chegou a possuir grande número de escravos. Até mesmo no período de ascensão da produção açucareira que ocorreu entre as décadas de quarenta e sessenta, não há registros que comprovem ter o trabalho compulsório predominado nos engenhos de açúcar dos vales do Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Canguaretama e São Gonçalo. Assim sendo, a mão-de-obra escrava não foi uma determinante na vida econômica das fazendas criatórias. Estando longe de se tornar a principal nos engenhos de açúcar ficou ainda mais marginalizada durante o período em que o algodão tomou conta das terras do Rio Grande do Norte. Estas constatações encontram respaldo nos estudos de Câmara Cascudo, quando ao referir-se à população escrava do Rio Grande do Norte durante a década de sessenta, enumerou a quantidade de escravos retidos nas cidades de Natal, Extremoz, Goianinha, Angicos, Príncipe, São José de Mipibu, Mossoró e Touros. O referido autor afirmou ainda que eles eram em menor número comparados ao restante da população livre, e mesmo em São José de Mipibu, local de maior produção de açúcar, o escravo não foi o principal trabalhador naqueles engenhos. Ainda mais, ao comparar a população escrava da cidade de Mossoró com a dos demais locais, constatou que os escravos concentrados em Mossoró nesta época era o menor grupo em toda a província, depois tinha apenas Touros (CASCUDO,1952,168).

É de se presumir que os proprietários de escravos da província do Rio Grande do Norte, como talvez tenha ocorrido em toda a região Norte, insistiram em permanecer com seus escravos até quando as condições ambientais e materiais favoreceram. Quando as secas constantes impossibilitaram a criação e a plantação, o escravo tornou-se um peso, um gasto a mais. Nesta situação, e diante dos preços que os cafeicultores passaram a oferecer na compra dos escravos durante as décadas de sessenta e setenta, a diminuição da população escrava principalmente na região Norte foi drástica. O escravo que já não era a força motriz da economia desta região foi valorizado na forma de mercadoria, resgatando ao senhor o valor do investimento pela sua compra. Dessa forma, o tráfico inter-regional serviu de alguma maneira, para que os proprietários de escravos do Norte emancipassem seus escravos sem prejuízos, aproveitando-se da vigência deste comércio e da cotação por escravos que esteve sempre favorável.

Todas essas circunstâncias justificam porque na cidade de Mossoró 77o movimento abolicionista que foi iniciado em janeiro de 1883 conseguiu, em menos de um ano, em 30 de setembro de 1883 decretar o fim da escravidão. Os abolicionistas foram favorecidos pelas condições locais, onde praticamente não houve reação à realização dos seus objetivos. A abolição dos escravos sendo efetivada antes da Lei Áurea, trouxe de volta a atenção da nação para o Norte, com seus personagens e cidades antecipando-se aos centros mais importantes do país, colocando estes abolicionistas na vanguarda da libertação de uma população oprimida e injustiçada.

Outra condição que favoreceu ao surgimento dos chamados abolicionistas de última hora, foi o fim do tráfico interno dos escravos. Enquanto o porto de Fortaleza controlou a exportação de escravos para a região do café, traficantes como Joaquim Filgueira Secundes e João Cordeiro, entre outros, contribuíram e lucraram com o comércio de escravos. E quando ocorreu a interdição do referido porto, entre outros fatores, como conseqüência do aumento do imposto sobre os escravos comercializados nas províncias cafeeiras, estes tornaram-se abolicionistas, ganhando na historiografia local a condição de heróis por lutarem e consolidarem a abolição dos escravos em Mossoró.

(Texto extraído da obra: A Abolição da Escravidão em Mossoró - Pioneirismo ou Manipulação do Fato/Emanuel Pereira Braz. -Mossoró, RN: Fundação Vingt-un Rosado, 1999. Páginas 53-58)

http://www2.uol.com.br/omossoroense/1810/esplib6.htm

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O ANO ERA 1922. A FAZENDA ERA A "PEDRA" DE LAURINDO FLORENTINO DINIZ, LOCALIZADA NAS PROXIMIDADES DO DISTRITO DE PATOS DE IRERÊ, QUE NA ÉPOCA PERTENCIA AO MUNICÍPIO PARAIBANO DE PRINCESA...

... e que atualmente está anexada ao município paraibano de São José de Princesa.

Na supracitada fazenda, segundo fontes históricas, Lampião e seus homens costumavam acampar para descansar e reorganizar seu bando com suprimentos, armas e munições.


Na fotografia anexada a essa matéria estão em primeiro plano: Lampião (Esquerda) e Antônio Ferreira (Direita). Acima vemos Antônio do Gelo "Toinho do Gelo" (Direita) e Livino Ferreira (Esquerda).

A "chapa" foi batida por Genésio Gonçalves de Lima.

Emaranhado de letras e sílabas: Geraldo Antônio De Souza Júnior

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MÔNICA NÓBREGA É NETA DO EX-CANGACEIRO CHICO PEREIRA


A foto pertence ao acervo da escritora e pesquisadora do cangaço Wanessa Campos administradora do blog Mulheres no Cangaço. 

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ASSOMBRAÇÕES NO CANGAÇO

 Xaxado na hora da morte

Por Wanessa Campos

Ilustração de João Astroboy

Dando sequência  "As Assombrações do Cangaço" vem agora  a segunda história  também repassada por João Jurubeba, em Serra Talhada, nos anos 70. Jurubeba foi um dos maiores perseguidores de Lampião. Ele contou para Amaury Correa como foi a morte de Dona Jacosa, a avó de Lampião. Ela, idosa, morava em Carqueja, hoje Nazaré, Floresta e com idade avançada quase não saia do quarto. Sempre recebia visitas da vizinhança.

João Jurubeba é o 3º a direita
Acervo Lampião Aceso

Certa noite, as mulheres passaram a escutar um barulho diferente, parecendo com baile. O barulho ia aumentando cada vez mais parecendo Xaxado. As batidas dos pés no chão iam cada vez mais se aproximando como quisesse entrar na casa. As mulheres assustadas correram apavoradas. Na porta, pessoas se juntavam, mas ninguém tinha coragem de entrar. Dentro do quarto, se ouvia o barulho do Xaxado invisível.

O volume da cantoria oscilava, bem como as batidas dos pés, mas não paravam. Alguém teve a ideia de chamar uma rezadeira para “puxar” o terço. Jogaram água benta na casa toda e a cantoria não cessava. Certo momento, se ouvia perfeitamente a cantoria com várias vozes:

Olé mulé rendeira

Olé Mulé renda,

Tu m ‘ensina a fazer renda

Qu’eu ten’sino a namorá


Dona Jacosa agonizava e a cantoria não parava. Isso demorou mais de um dia, até que certa noite, o Xaxado aumentou e ao mesmo tempo uma forte ventania apagou todas as lamparinas. Fez escuro total, a cantoria parou. Ouviu-se então um estrondo e com ele,  Dona Jacosa partiu. Ficou o relato contado pelos mais velhos.

Pescado no Mulheres do Cangaço

Eu ´repesquei no blog lampiaoaceso do pesquisador Kiko Monteiro.

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AS MARGENS DO QUATARVO

 Pias das panelas: de cemitério indígena a cemitério do cangaço

Por Manoel Belarmino Belarmino. Com edição do Lampião Aceso

As Pias das Panelas ficam as margens do Riacho do Quatarvo, um afluente do Riacho Jacaré, em Poço Redondo, Sertão sergipano. Na época do Cangaço, aquelas terras pertenciam à Fazenda Paus Pretos de propriedade do coronel Antônio Caixeiro.

Nos tempos mais antigos, todo aquele mundão 'caatingueiro' era habitado pelos povos indígenas, que ocupavam esta região e, segundo relatos dos mais velhos, os índios enterravam os seus mortos ali, nas proximidades das Pias das Panelas.


 O autor Manoel Belarmino,
as margens do Riacho Quatarvo. 

E, ainda contavam, que antes das pastagens e das terras serem aradas para plantio, havia bastante indício de sepulturas indígenas por ali, no entorno das Pias e nas margens do Quartavo. Mas esse assunto do cemitério indígena, requer um pouco mais de investigação, e sem dúvida, num próximo texto trataremos exclusivamente sobre o mesmo.

Além dos indígenas que foram sepultados nas Pias da Panelas, estão enterrados em covas rasas e precárias, os corpos de três mulheres e dois homens, todos barbaramente assassinados no tempo do Cangaço.

1 - Rosinha Soares, a cangaceira Rosinha, companheira do cangaceiro Mariano, assassinada pelos cangaceiros, sob a ordem de Lampião. Depois da morte do companheiro, juntamente com Pai Veio, Zepelim e o coiteiro João do Pão, naquele combate do Cangaleixo, em 10 de outubro de 1937, Rosinha sentiu vontade de abandonar a vida cangaceira e voltar a morar com a sua família. Lampião achou a ideia arriscada demais. Luiz Pedro, determinou que os cangaceiros Pó corante, Juriti, Balão e Vila Nova levassem a moça pra casa a sentença. Matar Rosinha. E aí a sentença foi cumprida com um tiro de pistola mauser no ouvido da cangaceira as margens do Quartavo, nas Pias das Panelas. O corpo de Rosinha ficou ali estirado. E, dias depois, os seus parentes que moravam ali próximo, na Fazenda Santo Antônio, cuidaram de enterrar o corpo da inocente moça ali mesmo, numa sepultura. Até pouco tempo, avistava-se a Cruz de Rosinha ali perto das pedras das Pias das Panelas.


Rosinha Soares, companheira de Mariano 
Acervo Lampião Aceso

2 - Zé Vaqueiro, empregado da Fazenda Paus Pretos de Antonio Caixeiro. Quando o cangaceiro Novo Tempo, depois de escapar do Fogo da Crauá, combate que o deixou ferido gravemente, foi para na Fazenda Paus Pretos, num estado de quase morte, o Zé Vaqueiro avistou aquele moribundo, ferido, 'emulambado', mas com os embornais com bastante dinheiro. Resolveu matar o cangaceiro ali mesmo na margem do caminho, pertinho das Pias das Panelas. E assim o fez dando um tiro no cabeça do ouvido do cabra que já estava quase morto. Mas logo após o disparo tiro, ele ouve uma barulho. Eram os companheiros de Novo Tempo que estavam chegando ali à procura do cangaceiro desaparecido. Agoniado, Zé Vaqueiro nem consegue levar o dinheiro de Novo Tempo, vai embora. Novo Tempo é encontrado ainda com vida e socorrido pelos companheiros. Depois de recuperado o cangaceiro conta tudo o que aconteceu e a traição do vaqueiro dos Paus Pretos. Os cangaceiros não perdoam a traição do Zé Vaqueiro. Retornam à Fazenda Paus Pretos e levam o infeliz Zé Vaqueiro exatamente para as Pias das Panelas e matam o cabra. Seu corpo é jogado e fica ali estendido. Depois os vaqueiros da região encontram o corpo já em estado avançado de decomposição e o enterram-no ali mesmo nas proximidades das Pias das Panelas.

3 - Preta de Maria das Virgens, cruelmente assassinada pelo seu namorado, Zé Paulo. Preta era filha adotiva de Dona Maria das Virgens do Alto Bonito. Zé Paulo, depois de ter relações sexuais com a namorada várias vezes às escondidas, descobre que engravidara a moça. Todavia, para não se comprometer e ser obrigado a casar com a pobre sertaneja resolve a questão com uma pedra, esmagando a sua cabeça e deixando ali nas Pias das Panelas o seu corpo nu e estirado. Teve a frieza de avisar a seus familiares dias depois que poderia ter sido os cangaceiros que mataram-na. Espalha para os quatro cantos da região que um grupo de cangaceiros havia os encontrado e assassinou a namorada. Zé Baiano soube da boato de que o Zé Paulo e Dona Maria das Virgens do Alto Bonito estavam colocando na conta dos cangaceiros aquela morte da mocinha Preta. Ficou indignado e tomou as providencias. Foi até o Alto Bonito, e ferrou nos rosto Dona Maria das Virgens e os seus dois filhos, um rapaz e uma mocinha. Só não fez o mesmo com o verdadeiro assassino porque Zé Paulo não estava na casa naquele momento.

4 - Cangaceiro Coqueiro. Lídia, segundo cangaceiros e cangaceiras remanescentes, era a mais bela das cabrochas, e ironicamente a companheira de um dos cabras mais feios das hostes lampiôncas, o Zé Baiano. Mas acontece que a moça tinha uma paixão de infância que, tempos depois, ingressara no Cangaço. Era o cangaceiro Bem-te-vi. E Lídia não resistiu.

 Zé Baiano

Mesmo convivendo com Zé Baiano, ela se entregou ao risco dos encontros extraconjugais com o Bem-te-vi.

Outro cangaceiro que também tinha atração por Lídia era 'Coqueiro', mas sem nenhuma chance. A paixão mesmo de Lídia era o seu amor de infância, o Bem-te-vi.

Coqueiro, frustrado e sabendo daqueles encontros nas moitas, às escondidas, resolveu delatar tudo.

Zé Baiano estava viajando para a região de Alagadiço, Frei Paulo, SE há alguns dias, e quando retornou, para as Pias das Panelas, na boca da noite, todos estavam reunidos para a janta, Coqueiro inconformado com as recusas de Lídia relatou toda a traição. Conta a Zé Baiano tudo sobre a sua companheira e o caso com o Bem-te-vi. Todos silenciam.

Aquela conversa de Coqueiro é grave demais. Lampião levanta-se. Fica agoniado, mas não diz uma só palavra. Zé Baiano fica paralisado. Olha pra Lampião e pergunta o que fazer. E Lampião sentencia:
"Zé cuida de Lídia. Afiná, Lídia é dele. Os dois cabras, o entregador e o traidor, nós arresolve." 
E os cangaceiros matam Coqueiro, porém Bem-te-vi consegue fugir. O corpo de Coqueiro ficou ali estendido, sobre as pedras das Pias das Panelas. Dias depois, um coiteiro morador dos Paus Pretos resolveu enterrar o corpo do infeliz cangaceiro numa sepultura.

Zé Baiano amarrara Lídia e, na madrugada, antes de o dia clarear, mata a a golpes de cacete de pau-pereira a cangaceira mais linda do bando de Lampião. Cava uma sepultura e a enterra. E com o mesmo cacete que usara para tirar a vida de Lídia, improvisa uma cruz e finca sobre a  cova.

Finda o cangaço, anos depois dessas mortes, alguns caçadores da região evitavam passar pelas proximidades das Pias das Panelas à noite, principalmente nos locais onde estão as covas dos mortos. Alguns afirmavam ter ouvido coisas estranhas, como vozes, gemidos ou gritos macabros.

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MENTOR DE LAMPIÃO

 Quem foi Sebastião Pereira e Silva

Nesta edição, o Nossa Folha prossegue com a série de reportagens sobre a vida de líderes de movimentos culturais, sociais e políticos. Última biografia sobre líderes de movimentos culturais, sociais e políticos do Brasil publicada pelo jornal Nossa Folha foi a de Manoel Antônio dos Santos Dias.

Nesta edição, é a vez de Sebastião Pereira e Silva "Sinhô Pereira", nascido em 20 de janeiro de 1896, em Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco, em meio a uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho.

 Sinhô e o irmão Luís Padre

Ocupou posição de destaque na grande saga do cangaço nordestino, tendo sido um dos comandantes. Era neto de Andrelino Pereira, o Barão do Pajeú. Em suas andanças pelo sertão, na vida bandoleira, Sinhô Pereira se comportou como homem honesto e nobre, tendo como meta a vingança de dois parentes, vítimas da violenta luta entre as famílias Pereira e Carvalho, que encharcou de sangue e ódio o vale do Pajeú, desde o ano de 1848.

Era alfabetizado e trabalhava no campo, o que o diferia culturalmente dos outros bandoleiros. Ocorre que motivos familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de comandante de tropa. Segundo ele, a impunidade em Vila Bela teve seu auge em sua juventude, como no assassinato do seu irmão Né Pereira (Né Dadu), que nem inquérito policial houve.


 Né Dadu
(Acervo Lampião Aceso)


Pressionado politicamente e perseguido por forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de cidadão mineiro. Foi o único comandante de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião) e recebeu dos populares o apelido de Demônio do Sertão, por ser rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes, foi cercado pela polícia e conseguiu escapar. Segundo históricos, era homem do bem, embora justiceiro popular.

Abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira, em 1918, quando Lampião ainda não integrava seu bando. Sinhô Pereira não se sentia à vontade sendo fora da lei, como acontecia com muitos cangaceiros. Ele contava que tinha nascido para ser cidadão, casar e constituir família.

Em 1918, Sinhô Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (Luis Padre) resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido do padre Cícero Romão Batista que, por meio de carta, pediu que os primos deixassem a região do Pajeú, que vivia em clima de guerra e medo. Ao receber a resposta favorável, o sacerdote cearense enviou outra carta para padre Castro, no município de Pedro II, no Estado do Piauí, pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, mas os primos escolheram o Estado de Goiás.

A primeira retirada de Sinhô Pereira para o Estado de Goiás ocorreu em dezembro de 1918. De José do Belmonte, em Pernambuco, foram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já distante do Pajeú, decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando reencontro no Sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás. Dali, seguiriam até a São José do Duro, corruptela de São José d’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.

Luiz Padre rumou a Uruçuí, no Piauí. Já Sinhô Pereira seguiu para Corrente, também no Piauí, passando por São Raimundo Nonato e Caracol. Próximo destino seria Parnaguá, mas Sinhô Pereira foi surpreendido pela força policial comandada pelo tenente Zeca Rubens e um contingente de 20 soldados em Caracol.

Na ocasião, a casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio, o cangaceiro e seu pessoal fugiram carregando Cacheado, gravemente ferido.

Tido por alguns como “arquiduque do sertão” e, por outros, o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas, conseguiu escapar, pois suas táticas de guerrilha funcionavam.

Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soube que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades de Caracol. O primo de Sinhô Pereira resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao Estado de Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena, e perdeu o contato com Sinhô Pereira – que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungu, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens mandou-lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido.

Não resistindo aos ferimentos, o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira, que reiniciou a viagem, mas em Jurema, em Piauí, encontrou João de Bola, o cabra que feriu Cacheado, morto em combate por um dos seus homens. A partir deste episódio, a perseguição policial recrudesceu com o tenente Zeca Rubens e seus 40 soldados seguiram as pegadas de Sinhô Pereira que, ao longo das fazendas percorridas, ia trocando de animais.

Novamente cercado pela força policial, quando dormia, 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial mais uma vez. Em Tocoatiara Paulista, Sinhô Pereira e seu bando perderam os animais e, em Sete Lagoas, tomaram outros novos, que novamente precisaram ser trocados em Barra de São Pedro.

Nessa ocasião, Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com seus inimigos, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era seu desejo. Desanimado, retornou a Pernambuco e desistiu da viagem ao Estado de Goiás. Ali, reassumiu o comando junto dos seus cangaceiros. Assim, em oito dias, estava novamente nas barrancas do Pajeú.

Até que, em 1922, Sinhô Pereira conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e definitivo abandono da vida do cangaço. Desta vez, saiu da Fazenda Preá, propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, sua prima e de Luiz Padre. Foi, então, que Sinhô Pereira entregou o comando do bando para Lampião e resolveu ir aonde estava seu primo, Luiz Padre. Para isso, passou a ter o nome de Chico Maranhão. Assim, Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre nunca foram presos.

 O velho cangaceiro no final da jornada.

O justiceiro popular só voltou a beber das águas límpidas do Pajeú em 1971, quando foi visitar a família em Serra Talhada, em Pernambuco.

Sinhô Pereira faleceu aos 83 anos, na manhã de 21 de agosto de 1979, na cidade de Lagoa Grande, no Estado de Minas Gerais, onde residia naquela época.

 Túmulo de Sinhô Pereira
Foto Ferreira Anjos para o Acervo Cangaçologia de Geraldo Jr.

Pescado no Jornal Nossa Folha

Repesquei no blog do pesquisador Kiko Monteiro http://lampiaoaceso.blogspot.com

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