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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

CANGACEIROS DE FARDA - ALMAS DE LAMA E DE AÇO


Por Raul Meneleu

Na história do cangaço, não necessariamente a que retrata Lampião e seu bando, sentimos que a violência imperava naquela época e o reflexo de tal, não irradiava somente na figura dos foras da lei mas também daqueles que eram pagos pela sociedade para protege-la.

Lemos em livros de diversos autores que os soldados e seus comandantes eram também de uma ferocidade exacerbada e muitas vezes excediam em maltratar principalmente os pobres, que não dispunham de uma justiça cega, pois a que existia via tudo ao seu redor e escolhia proteger os que tinham dinheiro e poder.

Aqui e acolá fatos hediondos nos são trazidos por livros de escritores e um dos que chama atenção para isso, é um capítulo do livro ALMAS DE LAMA E DE AÇO, onde um dos mais importantes membros da Academia Brasileira de Letras, advogado, professor, político, contista, folclorista, museólogo, cronista, ensaísta e romancista; o cearense Gustavo Barroso (1888-1959), que lhe dá o título de CANGACEIROS DE FARDA, e através de sua experiência pessoal, como Secretário de Estado do Interior, no governo (1914-1916) cearense do general Benjamim Barroso (1859-1933), onde relata a violência dos policiais e a falta de preparo de alguns oficiais.

Fazendo uma comparação com os dias de hoje, podemos notar que praticamente alguns policiais continuam a ser violentos além do necessário, em todos Estados do Brasil, assim como era naquela época. Mas voltemos ao livro.

Gustavo Barroso textualmente lá no ano de 1928, quando escreveu esse livro, já dizia que “são tudo, menos polícias... E que eram organizadas por oficiais do Exército, escolhidos pelas conveniências políticas.”

Nos Estados do Nordeste brasileiro flagelados pelo banditismo, os batalhões de polícia eram chamados de Segurança. Polícia era termo considerado pejorativo. Gustavo Barroso nos conta que eles tinham o mesmo número de companhias e de praças que os do Exército, obedeciam aos mesmos regulamentos de serviço, vestiam-se com quase o mesmo uniforme, eram considerados sua reserva e segundo o autor. “tornam-se inúteis ou prejudiciais para a missão que deviam cumprir.”

Esses soldados eram recrutados geralmente entre os piores elementos da sociedade, “dão guarnição na capital, formam em parada, são revistados no dia sete de Setembro pelo governador, usam grandes galas espaventosas, fornecem capangas disfarçados para surrar jornalistas, empastelam tipografias e, na hora do perigo, derretem-se como por encanto. Conheci uma faustosa polícia dessa natureza, a do presidente Nogueira Accioly, que o deixou sozinho no dia em que o povo de Fortaleza se revoltou. Nunca houvera guarda pretoriana mais apavorante, nem comandante mais entusiasmado. Evaporaram-se aos primeiros tiros de duas dúzias de rapazes do comércio e estudantes...

Até hoje não tiveram os Estados nordestinos um homem de governo que os livrasse do ônus financeiro e moral dessas caricaturas de tropa de linha. Esses aparelhos militares policiais custam milhares de contos e são nocivos. De que forças precisa um presidente nordestino?”

Já naquela época, Gustavo Barroso já defendia um polícia inteiramente civil e não militar. Nos convida para reflexão quando diz: 

“Examinemos a questão com inteligência. O policiamento de sua capital deve ser feito pela guarda-civil. Aliás, esta existe em muitas sedes de governo. Uma companhia de estabelecimento, bem disciplinada, constituída de veteranos de boa conduta, é bastante para a guarda dos edifícios públicos, as guardas de honra e outros serviços de guarnição. Um pequeno esquadrão de cavalaria basta às rondas e escoltas. E, em lugar dos tais Batalhões de Segurança, algumas companhias volantes no interior, de infantaria montada, organizadas semelhantemente à guarda rural, tão famosa, do Canadá, e ao regimento sertanejo de S. Paulo. Homens do sertão, escolhidos a dedo, bem pagos, vestidos à maneira do sertão, montados, armados, equipados e exercitados à sertaneja. Eis ai a única tropa capaz de combater e vencer o cangaceiro. Talvez um dia essa ideia medre na cabeça dum dos administradores daquelas terras e, assim, termine a vergonha de haver polícias piores que os bandidos, provocando à revolta almas enérgicas que descambam para o crime. A ação violenta, injusta e brutal da polícia tem de ser sociologicamente computada entre as causas principais do cangaceirismo.”

Daí então Gustavo Barroso nos dá vários exemplos da sanha violenta de membros da polícia, com reportagens de jornais, e indica notícias do jornal O Ceará de 9 de Agosto de 1929:

"Espancado por nove soldados de polícia, enlouqueceu — Granja 7 — Meu marido foi barbaramente espancado por nove soldados de polícia, ficando muito doente. Depois de tamanha atrocidade, permaneceu trinta e seis horas na cadeia. Dois dias após ao espancamento, ficou louco. Chamado o medico, dr. Jacome de Oliveira, este atribuiu a perturbação mental a fortes pancadas vibradas no crânio. Pedi providências ao dr. chefe de polícia, de quem espero ação enérgica. Rosa Pereira de Lima."

Amanhã, os filhos ou parentes dessa vítima matam o responsável direto por esse espancamento, que não foi punido. Persegue-os a justiça. Eles amontam-se e tornam-se bandidos. Quem os gerou? A polícia.

Outra local da mesma folha:

"Verificou-se, sábado último estúpida cena de sangue, que teve por teatro a pitoresca vila de Guaramiranga e da qual foi vítima o trabalhador de nome João Branco da Silva, com 28 anos de idade, casado, empregado no sítio do dr. Hélio Caracas, naquela localidade." "Achava-se João Branco um pouco alcoolizado, em certa bodega do povoado, acompanhado de um colega de trabalho, quando, apeando-se do cavalo em que vinha montado, entrou inopinadamente no estabelecimento o sargento de polícia Tito, conhecido ali por militar desordeiro e de caráter atrabiliário.

João Branco, nesse momento, encontrava-se com o juízo completamente transtornado pelos vapores alcóolicos.

Ao pedido do amigo para que não mais bebesse, puxou violentamente a faca que trazia no cinto e a cravou com força no balcão, vergando-a até quebrá-la em dois pedaços. Nesse ínterim, apareceu o sargento Tito, que brutalmente agarrou a João Branco pelo braço, enquanto, dando-lhe voz de prisão, lhe encostava no ombro direito o revólver e disparava. Atingido pelo projetil, o desditoso operário conseguiu desprender-se das mãos do militar refugiando-se, em seguida, na residência do merceeiro, próxima à bodega.

Raivoso por não ter satisfeito a sede de sangue que caracteriza os assassinos, o miliciano foi à procura da sua vítima, penetrando na residência do merceeiro, a despeito dos rogos deste, que queria evitar qualquer abalo moral à sua mulher, que se achava de resguardo. Surdo aos pedidos, o violento militar arrastou a João Branco de dentro do quarto onde o mesmo estava escondido, trazendo-o, desse modo, para fora. — "Neste momento não obedeço nem mesmo aos meus superiores", foram as palavras do sargento ao ser-lhe pedida pela segunda vez a vida do operário pelo comerciante.

Sabendo, porém, que o trabalhador era empregado do dr. Hélio Caracas, o furibundo militar largou a sua presa, deixando-a retirar-se para a casa dos seus patrões. O ferido foi transportado, domingo, em automóvel, para Baturité, onde lhe foram facultados os primeiros curativos. A bala alojou-se na região torácica, não tendo sido ainda extraída.

João Branco foi recolhido, anteontem, à Santa Casa, para ser procedida esta operação. A polícia não tomou conhecimento do fato."

Outro caso que Gustavo Barroso nos traz a conhecimento deu-se em Guaramiranga que “não é uma localidade perdida no fundo dos sertões; mas a princesa da serra de Baturité, a Petrópolis de Fortaleza, com estrada de ferro próxima e estrada de rodagem, distando da capital mais ou menos cem quilômetros. O fato, eloquentíssimo, não carece comentários. Os resultados dessas violências são outras violências. No futuro, esse truculento inferior poderá ser assassinado por vingança, como há muito pouco tempo foi morto à porta de sua casa, à noite, dentro de Fortaleza, um tenente de polícia costumeiro a mandar espancar-, desfeitear e prender. 

É ainda o referido jornal que, noticiando o passamento do chefe político sertanejo Isaias Arruda, nos dá esta página viva do cangaço no Ceará: "Pesavam-lhe, como ninguém ignora entre nós, terríveis acusações de chefe de cangaço, de protetor de Lampião e seu sócio, de incendiário da ponte do rio Salgado, de vários assassinatos por ele mandados praticar friamente, na sua maior parte, para a ocultação de hediondos delitos.

Isaias morou no Cedro e Aurora em cujas localidades, com os seus irmãos, abriu varias lutas com os destacamentos locais. Ele e os seus eram tidos como valentes e, por isso mesmo, temidos. Há seis anos mudou-se para Missão Velha. Assumindo o governo o desembargador Moreira e precisando desbancar o partido democrata, começou por ali a tarefa, com a deposição, à mão armada, do coronel Manoel Dantas de Araújo, chefe do mesmo partido, empresa essa que foi confiada a Isaias Arruda, pelo então chefe de polícia, dr. José Pires de Carvalho e pelos dois filhos do presidente. Essa combinação se deu, em 1925, na própria vila de Missão Velha quando se inaugurava a estação da estrada de ferro e quando o coronel deposto recebia, com festas, o presidente do Estado e luzida comitiva que então, foi ao Juazeiro e Crato. Dada a deposição, o coronel Dantas tentou reconquistar seu posto e, então, teve com armas nas mãos, para sua defesa, os seus amigos, de Ingazeiras e Aurora, os Paulinos.

Estes, homens valentes, brancos, eram uns quinze, que formavam urna espécie de guarda para a defesa dos seus interesses, naquele pedaço do nosso sertão onde ainda não raiou o sol da justiça e onde sempre imperou o direito cio mais forte.

Isaias, que com eles mantinha relações de amizade, dada aquela atitude ao lado do coronel Dantas, passou a hostiliza-los, contando para isso não só com os seus cangaceiros como, francamente, com a força pública. Invadindo Ingazeiras certa vez à frente de bandidos e soldados, conquistou-a, roubou-lhe as mercadorias de quatro lojas e ateou fogo nas suas casas, naquele povoado. Numa emboscada, posteriormente, dirigida por José Gonçalves, delegado de polícia de Missão Velha, foi assassinado João Paulino, o chefe do bando. Depois seguiram-se os assassinatos de outros Paulinos e de três moradores seus.

Continuando a tremenda perseguição, os Paulinos restantes, com as suas famílias, mudaram-se para a Paraíba, onde, em Princesa, se sentiram garantidos sob a proteção do deputado estadual coronel José Pereira. Dois desses, passado algum tempo, vieram da Paraíba à Fortaleza.

Vieram pedir garantias ao governo para reverem os seus haveres, propriedades e gados em Aurora e Ingazeiras. O governo não lhes prestou a devida atenção, tendo eles ainda sido presos aqui pelo tenente Manoel Gonçalves de Araújo, então inspetor de veículos e cunhado de Isaias.

Não obstante isso, esses dois Paulinos conseguiram ir à sua terra, às escondidas, e lá verificaram que nada mais possuíam. Tudo que lhes pertencia, os gados, móveis, etc., haviam sido roubados!

As casas, os currais, os cercados, haviam sido devorados pelo fogo. Naquelas paragens ninguém há que desconheça estes fatos.

Agora eis que Antonio e Francisco Paulino cortaram a Isaias Arruda, o fim da sua existência."

Gustavo Barroso finaliza esse capítulo dizendo: "Os exemplos mostram que os bandidos sertanejos quase sempre procuram fazer com suas mãos a justiça que lhes negaram magistrados, policias e governos. De mim sei que, na maioria dos casos, prefiro os cangaceiros sem farda aos cangaceiros de farda. Aqueles são muitas vezes almas de aço. Estes raramente não são almas somente de lama."


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MEUS AMIGO, BOA NOITE!


Por Sálvio Siqueira

Tem referências a objetos do cangaço que deixa-nos um tanto discrentes.

Na imagem abaixo, no roda-pé da fotografia, fotografia capturada no livro "Estrela de Couro - a Estética do Cangaço", Mello, Frederico Pernambucano. 1ª edição, página 64, nos mostra um objeto de fazer café e que fora encontrado na barraca de Lampião. Até aí tudo bem. Porém, já vi postagens referindo o mesmo objeto já citando-o como sendo de Lampião, ou seja, que ele andava com um troço desses a tira-colo.


Que estava na barraca do "rei dos cangaceiros" no acampamento do Riacho da Fazenda Forquilha, acredito fielmente, mas, crer que ele carregava-o para um lado e para o outro dentro da mata, não acredito. Porém, essa é minha opinião, a de vocês podem ser diferente.


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LAMPIÃO NO RIACHO GRANDE

Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.168

Martiniano Cavalcante Wanderley, boiadeiro em Riacho Grande (atual Senador Rui Palmeira, AL) recebeu uma carta de Lampião pedindo três contos de réis. Recusou enviar. Partiu para Santana do Ipanema onde comunicou o fato ao, então, major Lucena. O major sugeriu comprar armas e balas para enfrentar o bandido. Martiniano nem fez uma coisa nem outra. Certa feita, em Viçosa, contando o caso para amigos, foi aconselhado pelo coronel Eduardo Maia que enviasse o dinheiro pedido e ficasse calado “pois Lampião era filho da besta–fera”. O boiadeiro não seguiu o conselho.
Aproveitando o bom inverno, Lampião chegou de repente à casa do vaqueiro Leandro Xixiu, com mais de setenta homens.   Pediu comida e, depois de comerem, era para o vaqueiro mostrar no Riacho Grande onde ficava a casa de Martiniano Cavalcante Wanderley e seu sogro José Wanderley. Escalado para buscar água num barreiro, Xixiu terminou fugindo e foi avisar os Wanderley no povoado Riacho Grande. Os avisados caíram fora com a família. Lampião chegou à casa dos Wanderley, encontrando apenas o vaqueiro Pedro Breba que servia de boi de piranha. Depois de o bando se fartar com tanta comida deixada, Lampião ainda deu uns safanões em Pedro Breba pelas suas mentiras. Depois mandou tocar fogo nas casas dos Wanderley e na tapera de Pedro Breba, que revoltado chamou Lampião de “fio de uma égua”.O bandido, sacando a parabélum matou o fiel vaqueiro.
Os Wanderley passaram a morar em Santana do Ipanema, porém, Martiniano continuou atravessando os sertões comprando garrotes e levando para a zona da Mata. Recebendo um alerta de coiteiro amigo que quase era pego ao comprar uma boiada na fazenda de Antônio Caixeiro, Sergipe, dessa vez resolveu aceitar. Mudou-se para Palmeira dos Índios onde permaneceu e ainda mais progrediu. Martiniano viveu mais de oitenta anos. Não se sabe o que ele fez pela família do vaqueiro Pedro Breba. Mas, como era muito “mão de vaca”, a única coisa que fez pelo vaqueiro Leandro Xixiu, que lhe salvou a vida, foi riscar um resto de dívida com juros, calculada em que cinco contos que o vaqueiro não conseguia pagar.
CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Grafmarques, Maceió, 2012. Págs. 143-144.


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IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE POÇO REDONDO: NOS PASSOS DE SUA HISTÓRIA

*Rangel Alves da Costa

No último dia 15 de agosto aconteceu a celebração maior da religiosidade de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano: Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição. Ante a igreja e seus arredores repletos à espera da procissão, eis que me pus a imaginar quantos daqueles fiéis conheciam ao menos um pouco da história daquele sagrado templo. Comprometi-me, então, a tecer algumas considerações.
Igreja Matriz significa o templo mãe, o templo primeiro, o local escolhido para que os habitantes de uma comunidade ou povoação pudessem expressar sua fé perante um sagrado altar. Certamente que a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo não foi a primeira igreja nascida na povoação.
Antes de sua construção, e no mesmo local de onde agora se mostra bela e imponente, em outra localidade mais acima já havia surgido, em meio à comunidade primeira do Poço de Cima, a Capela de Santo Antônio, ainda nas últimas quadras do século XIX. Contudo, tal capela, pequena e modesta, surgiu por aspirações familiares, para os cultos e ofícios de uma comunidade profundamente católica. E mais antiga ainda é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Curralinho, vez que em 1874, quando da passagem de Antônio Conselheiro e seus seguidores pela região, os alicerces daquele templo já estavam fincados.


Quando, após o florescimento das muitas fazendas que circundavam a região conhecida como Poço de Baixo e a formação de uma pequena comunidade nas beiradas do Riacho Jacaré, então o centro vivo daquela povoação sertaneja passou a ser a comunidade de Poço Redondo, assim denominado porque ao lado de um “poço redondo” onde costumeiramente os criadores levavam seus magros rebanhos para enganar a sede em épocas de seca grande.
Assim, ante essa comunidade surgida, também a necessidade de um templo católico onde houvesse a junção de todos os ofícios e cultos religiosos. Desse modo foi que surgiu a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, homenageando a padroeira escolhida da recém-surgida povoação, ainda que logo ao lado, no Poço de Cima, o padroeiro continuasse sendo Santo Antônio, como acontece até os dias atuais.
A denominação de matriz somente surgiu após a emancipação política local, em 1953, e a presença de outros templos católicos nas povoações do município. Passando a ser matriz, a igreja mãe das demais igrejas, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo tornou-se símbolo maior da crença, da fé e da religiosidade poço-redondense. A denominação de paróquia (subdivisão da Diocese de Propriá, abrangendo as diversas comunidades religiosas e igrejas na circunscrição de Poço Redondo) surgiu apenas em 15 de julho de 1979. Até essa data, a matriz e as demais igrejas estavam vinculadas a Porto da Folha.
Sua feição, contudo, já foi muito diferente da que atualmente se apresenta. Nasceu na simplicidade, surgiu como quatro paredes nuas com portas laterais e à frente, e um singelo altar. O único luxo que se tinha era a imensidão de fé em cada coração que ali adentrava. Desde então, seu percurso foi de progresso - mas também de retrocesso (principalmente quando se viu desprotegida e sem telhado).
Nos tempos mais antigos, e quando ainda pertencente à Paróquia de Porto da Folha, apenas duas missas eram celebradas, uma em data escolhida pela comunidade e a outra na celebração da padroeira, no mês de agosto, daí ter surgido a famosa e cada vez mais ofuscada Festa de Agosto. Para a celebração das missas, o sacerdote geralmente chegava à povoação montado em burro e após uma longe e cansativa viagem.
Fato interessante ocorreu em 1929, quando o bando do cangaceiro maior, o famoso Virgulino Lampião, assistiu missa celebrada pelo Padre Artur Passos. Uma cena que em muito atiça a imaginação: a cangaceirama em plena devoção, orando ajoelhada, enquanto o velho sacerdote discorria sobre os pecados do mundo. Lampião, fervoroso católico, devoto do Padim Ciço e da Senhora Mãe, recebendo a hóstia sangrada e todo paramentado de embornal, cartucheira, punhal e arma cuspideira de fogo.


Mas os fatos, lendas e curiosidades, são muito maiores, e que certamente não cabem na estreiteza de um escrito qualquer como este. Muitos foram os sacerdotes que já pregaram perante o seu altar: Padre João, Padre León Gregório, Frei Teodoro, Padre Fabiano, Padre Mário, Padre Valdinã e muitos outros. A partir de suas posrtas as Santas Missões, as presenças sagradas de Frei Damião e Dom José Brandão.
A partir de suas portas e ecoando pelo mundo-sertão, as vozes beatas, as vozes da fé, os cantos e as ladainhas. Vozes ainda presentes como a de Marizete e Geovanete, e ecos já saudosos como os de Mazé de Iracema e Maria José de Zé Preto. Um mundo sertanejo e sua igreja, aquele mundo de Mãeta, de Bebela, de Dona Lídia, um mundo de tanta crença e tanta fé que se perpetua no próprio tempo.
Mas eis, ali no centro do mundo chamado Poço Redondo, a bela matriz de braços abertos. Lá dentro, mas com mãos estendidas por todos os sertões, uma Senhora Mãe Sertaneja a dizer: Abençoados sejam os filhos meus!

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LAMPIÃO: A MORTE DE ANTONIO FERREIRA - O CORPO

Por Raul Meneleu

Publicado a 01/06/2016

Em continuação ao episódio A Morte de Antonio Ferreira - A Cabeça, passaremos agora a tecer comentários e a postar o pequeno documentário feito por nós, quando fizemos o percurso da cidade de Floresta até à Fazenda Poço do Ferro do Coronel Ângelo da Jia, ou Anjo da Gia, como era e é conhecido pelos sertanejos dessa região, para visitarmos o local do "sucesso*" de Antonio Ferreira, irmão mais velho de Lampião. Existia um boato naquela época, dezembro de 1926, que o cangaceiro tinha sido baleado no grande fogo, ou batalha, da Serra Grande. Mas a estória verdadeira é que tinha sido morto por acidente (sucesso) como dissemos no artigo anterior. Como vimos e ouvimos do bisneto do coronel, o Sr. Washington Lima, Lampião estava fora da fazenda quando ocorreu o acidente. Segundo alguns escritores do cangaço, Lampião estava na Fazenda Vassoura, na cidade de Betanha, cidadezinha da região, com o propósito de assistir uma missa, provavelmente a Missa do Galo, pois gostava de lembrar da infância, quando ia com seus pais e irmãos para a bonita festa de Natal em Vila Bela. Mandou então seu irmão Antonio Ferreira, à fazenda Poço do Ferro para buscar umas encomendas que fizera ao amigo "Anjo da Gia" - provavelmente munição, pois estava quase sem, devido ao combate de Serra Grande. Mas deixemos de lado as palavras e entremos no mundo mágico das imagens, registradas por ocasião dessa visita feita ao cenário dos acontecimentos; A Morte de Antonio Ferreira - O Corpo

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LAMPIÃO: A MORTE DE ANTONIO FERREIRA - A CABEÇA

Por Raul Meneleu

Publicado a 31/05/2016

"Sucesso" no linguajar sertanejo significa acidente. Foi o que aconteceu com Antonio Ferreira, vulgo Esperança, irmão de Lampião. 

Acompanhamos em visita guiada, pelo Cariri Cangaço Floresta 2016, os historiadores, pesquisadores e amantes da saga sertaneja do cangaço e fomos ao local desse famoso acidente que tirou a vida de Antonio Ferreira, conhecido como um cabra valente e que agia no bando de Lampião como estrategista de retaguarda, garantindo os ataques e retiradas dos cangaceiros nos cenários de refrega.

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ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES DO CANGAÇO – ABLAC

Por Achimedes Marques

A ABLAC tem o prazer de anunciar que estará presente na 5ª BIENAL DO LIVRO DE ITABAIANA, em Sergipe, que acontecerá no Shopping Peixoto no período de 11 a 15 de setembro de 2019. 


A organização da Bienal disponibilizou um estande em espaço amplo e aconchegante, que será o mais atraente e movimentado da feira, no intuito de acolher todas as Academias de Letras que se interessarem na participação, por isso a ABLAC já se inscreveu e CONVIDA todos os seus associados a se fazerem presentes com as suas obras literárias ou culturais.



Todos serão muito bem vindos, entretanto com recursos próprios, pois a ABLAC por estar iniciando a sua caminhada agora, ainda não possui de verba que possa auxiliar os seus associados nas redes hoteleiras de Itabaiana.

Atenciosamente,

Elane Marques – Secretária Geral
Archimedes Marques - Presidente


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FAZENDA MANIÇOBA EM SERRA TALHADA EM DOIS MOMENTOS.

Por Francisco Alvarenga Rodrigues

Fazenda Maniçoba, em Serra Talhada, em dois momentos. As duas primeiras fotos são datadas do ano de 1977 e na qual podemos observar José Saturnino, primeiro inimigo de Lampião, e nas últimas, o atual estado da casa, em ruínas. Incrível como o tempo e o descaso destroem tudo.







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LAMPIÃO E O FOGO DA FAZENDA FAVELA PARTE III

Por Raul Meneleu

Na visita que fizemos em comitiva Cariri Cangaço encontramos o local totalmente abandonado e com a cruz original deteriorada como pode ser vista nesse documentário. Segundo os autores do livro As Cruzes do Cangaço, Senhores Cristiano Ferraz e Marcos de Carmelita, os restos mortais nunca foram exumados.

No livro, encontramos registrados os que foram mortos no fogo da Favela. Os seguintes soldados que perderam suas vidas nesse combate foram: "Antônio Freire Panta e Gaudêncio Pereira da Silva, ambos do 2° Batalhão, Francisco Pereira, João Gregório Neto, Agripe Lopes dos Santos e Cícero Petronilo da Silva, do 3° Batalhão, sendo ainda feridos, desse mesmo grupamento, Francisco Barbosa do Nascimento, José Machado de Barros, Cypriano Leite da Silva, José Berrardes e Waldemar Barbosa da Silva, todos pertencentes às volantes sediadas em Villa Bela. Manoel Neto retornou rapidamente para a cidade de Floresta e foi à procura do Comandante da Volante sediada naquele município, o Capitão Antônio Muniz de Farias, comunicando todo o acontecido e trazendo ao conhecimento do superior a estadia de Lampião naquela propriedade. Os militares conduziram os feridos para serem tratados em Floresta e deixaram os corpos dos mortos nas mãos dos terríveis facínoras. Os criminosos fizeram toda espécie de crueldade com os defuntos. Sangraram, degolaram, esfacelaram crânios, furaram os olhos com cápsulas das balas e depois colocaram espalhados para todos os lados. Após o combate, Manoel Novaes foi buscar um burro e entregou a um agregado da fazenda, que viajou a cidade de Floresta para comunicar o acontecido ao Tenente Antônio Novaes, e a exigência de um conto e quinhentos mil réis de Lampião, sendo entregue o referido valor ao portador. Antes de sair da Favela, satisfeito com a soma recebida, Lampião falou aos moradores que se acaso a Volante perguntasse sobre a direção que ele tinha seguido, era para mostrar o caminho da fazenda Água Branca do Major Tiburtino. Manoel Novaes e alguns agregados abriram uma cova e enterraram num só lugar cinco soldados e em outros três locais distintos, mais um militar, o guia e um cangaceiro. Muniz de Farias reuniu um grupo de soldados e, junto a Manoel Neto, vieram ao local do combate, no outro dia, quando os bandoleiros já haviam se retirado. O Capitão Muniz indagou em tom áspero os familiares do Tenente Antônio Novaes e os moradores: - Cadê os bandidos? Pra onde é que os cangaceiros foram? 

Antônio Muniz estava muito nervoso e falava quase gritando, no entanto "não incendiou nenhuma cerca e muito menos as casas da Favela", como alguns escritores registraram em seus livros. As pessoas presentes indicaram ao comandante Farias o rumo de Lampião, seguindo para a fazenda Água Branca. Corisco, após presenciar as barbáries cometidas pelos companheiros contra os militares mortos, ficou impressionado ante tamanha carnificina e saiu do bando no mês de dezembro desse mesmo ano de 1926. Corisco comunicou a Lampião que iria tentar a sorte, buscando trabalho em terras baianas, tendo integrado o bando sinistro por cerca de quatro meses. Retornou, contudo, no ano de 1928, quando Lampião atravessou para a Bahia, tendo sido e fogo da Favela em Floresta, a escola macabra que lhe ensinou como tratar os inimigos. Do outro lado do Rio São Francisco ele transformou-se num verdadeiro demônio, e ficou conhecido também por: "Diabo Loiro". Matava, sangrava, decapitava, além de ter raptado com apenas 13 anos e estuprado, a menina Sérgia Ribeiro da Silva. a Sussuarana, e transformá-la na cangaceira "Dadá", sua eterna companheira e fiel escudeira. "

Base do texto: AS CRUZES DO CANGAÇO

Foto dos dois atores em trajes de cangaceiro: Cristiano Ferraz


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