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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Luiz Gonzaga com Pressão Alta

Contribuição: Cícero Quesado
musicariabrasil.blogspot.com

Outra boa do seu Luiz:

Ele estava viajando de carro para Exu – PE, na década de 80, passando por Juazeiro do Norte - CE.

E quando ia passando em frente ao Hospital Santo Inácio, parou para verificar como estava a pressão. Chegou à portaria e foi atendido por uma funcionária de nome Lúcia Santana, que prontamente o encaminhou ao Posto de Enfermagem, mais próximo, porém sem reconhecê-lo.

Daí ela comentou com a minha esposa Gilvanda, que trabalhava no Setor de Faturamento do hospital, que conhecia aquele senhor, mas não sabia de onde.

Daí, minha esposa falou que ele era Luiz Gonzaga. Essa nossa amiga Lúcia Santana era meio desligada mesmo.

Bom, para terminar, o Lua Gonzaga desceu a rampa do hospital e, com a sua educação costumeira, passou na Portaria, agradeceu e desejou saúde e paz para todos.

Ô Cabra bom!!!
Contribuição: Cícero Quesado


http://www.luizluagonzaga.mus.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Itemid=119

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VIDA DE GENEALOGISTA

Por: Ormus Simonetti
 
Sou um genealogista – mas acalmem-se, pois não é contagioso. No fundo, a gente queria que fosse, mas não é. Um genealogista é um sujeito que resolve desenterrar toda a história familiar para descobrir quem eram e o que faziam os seus antepassados mais remotos. Um doido, portanto. Para conseguir isso, ele mexe em todos os papéis velhos da família – aqueles que você acha que não valem nada, mas que ele dará um grito de satisfação quando encontrar. Fará perguntas insistentes a cada membro da família.

Quer saber os mínimos detalhes de coisas que você com certeza não se lembra. É capaz de passar horas metido em um cartório, casa paroquial ou arquivo histórico remexendo livros velhos, amarelados e cheio de fungos. Isso porque ele PRECISA esclarecer algum mistério na história da sua família e assim descobrir quem foram realmente as pessoas que o antecederam.

Esta é uma imagem digna de nota: o genealogista, em uma sala silenciosa, absolutamente concentrado em sua pesquisa. Eis que de repente ele vislumbra um registro e pensa: “Será possível?”. Excitado, confere de novo. Sim, ele achou exatamente aquilo que procurava. É nesse momento que todos os genealogistas têm vontade de gritar a plenos pulmões “ACHEI, ACHEI! EUREKA!” – muitos se contém, mas é exatamente isso o que ele murmuram para si mesmos. E se alguém estiver perto e quiser saber o que o sujeito descobriu, provavelmente vai se decepcionar ao ver que foi apenas um registro de casamento super antigo que deu a ele o nome de quatro novos octavós ou coisa do tipo.

Aos poucos, o genealogista vai montando a sua árvore genealógica. Descobre antepassados que ninguém da sua família fazia a menor ideia que tivesse. No começo, ele conta as suas descobertas com entusiasmo. Alguns parentes demonstram certo interesse – e em seguida esquecem absolutamente tudo o que o genealogista disse.

Para uma pessoa normal, qualquer coisa acontecida há cem anos foi praticamente na pré-história. E então o genealogista despeja em cima dela informações de 1800, 1700, 1600… É quando vem a famosa frase, que todo genealogista um dia ouve: “Você vai acabar chegando no Adão!”.

Com o tempo, o genealogista percebe que sua paixão é solitária. Não há registro de um casal de genealogistas, por exemplo. E seria até temário pensar em algo assim, pois eles certamente se esqueceriam de viver. Em geral, o genealogista não encontra no dia a dia quem lhe compreenda. Há parentes distantes que acham estranho esse interesse pelo passado da família e insinuam que o genealogista está de olho em alguma herança. Felizmente há a internet, e nela o genealogista encontra outros genealogistas, e eles se juntam em grupos de cooperação mútua, mais ou menos como os alcoólicos. Nessa troca de informações, conseguem verdadeiros prodígios, e se não chegam mesmo até o Adão não é por falta de esforço.

Os nossos Sherlocks ainda precisam lidar com garranchos, registros omissos ou contraditórios entre si, além de dificuldades no acesso a documentos. Parafraseando Einstein: perto do que foi o passado, aquilo que o genealogista consegue descobrir é algo de tosco e primitivo – mas é também aquilo que temos de mais precioso sobre ele.

Fonte: 
http://www.ormuzsimonetti.blogspot.com.br/2013/04/vida-de-genealogista_5419.html

Enviado pelo pesquisador José Edilsol de Albuqurque Guimarães Segundo

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Barro, anfitrião de luxo do segundo dia de Cariri Cangaço

 
Santuário da Divina Misericórdia, Barro, Ceará

O  município de Barro recebeu em festa o segundo dia de Cariri Cangaço 2013.  O conjunto de visitas técnicas que contemplaram também as cidades de Mauriti com a visita ao Distrito de Coité; terra emblemática de Padre Lacerda, que "segurou um fogo" contra Sinhô Pereira e Virgulino Ferreira e mais 70 cangaceiros, ao lado de 6 combatentes; a visita a fazenda Nazaré do coronel Domingos Furtado e Dona Praxedes na cidade de Milagres e às fazendas Timbaúbas em Barro, para onde migrou a família Pereira quando veio ao Ceará e ali consolidou o primeiro bando de Sinhô Pereira e ainda a fazenda do Major Zé Inácio, o maior personagem desta saga em Barro; fez deste dia, um dia memorável.

"A emoção clara e evidente que pudemos sentir a partir dos queridos familiares da família de Luiz Padre, seus filhos Hagahus e Wilson, suas noras, netos, enfim, ao pisar o solo da fazenda Timbaúbas,  onde tudo começou, foi indescritível" comenta o secretário de cultura de Barro, Sousa Neto. "Nada se compara a este encontro perpetrado aqui em Barro, entre o passado de lutas e embates, próprios de uma época e o presente, calcado na harmonia e na força do trabalho, de uma família tradicional e de tanta fibra, como a dos filhos de Luiz Padre, hoje nos honrando com suas presenças e vindo de Tocantins especialmente para participar do Cariri Cangaço", acentua Ângelo Osmiro, Presidente do GECC.

 
Caravana Cariri Cangaço no Coité "de Padre Lacerda"

Palestra de Antonio Amauri no Coité, segundo dia de Cariri Cangaço

No final da tarde, o anfitrião do Cariri Cangaço em Barro, prefeito Neneca Tavares comandou a homenagem a Dona Chiquinha Pereira, com descerramento de placa em Memorial no átrio do Santuário da Divina Misericórdia, em Barro, onde está sepultada a matriarca da família Pereira, mãe de Luiz Padre. Novamente as presenças de toda família, a partir dos filhos de Luiz Padre, Hagahus e Wilson, foram o ponto alto das homenagens prestadas pela prefeitura de Barro e o Cariri Cangaço. Ato contínuo o Secretário de Cultura de Barro e Conselheiro Cariri Cangaço, escritor Sousa Neto, ao lado do empresário Zerinho, recepcionou a todos na "Casa das André", sensacional espaço multi-uso, referencia para todo o cariri.

 
 Caravana Cariri Cangaço na fazenda da Familia Pereira em Barro: Timbaúbas

 Prefeito Neneca Tavares recebe o Cariri Cangaço para homenagear Dona Chiquinha Pereira

 
Hagahus Araujo e Wilson Povoa, filhos de Luiz Padre na homenagem do Cariri Cangaço e Prefeitura de Barro

O médico, pesquisador e escritor Leandro Cardoso Fernandes de Teresina, no Piauí, foi o conferencista da segunda noite de Cariri Cangaço, em Barro. Com o tema: Sinhô Pereira e Luiz Padre, os Vingadores do Pajeú, Leandro Cardoso apresentou uma conferência ímpar, pontuada por incansável, responsável e qualificado trabalho de pesquisa, coroando a noite com a história desses que sem dúvidas são dos mais importantes personagens da saga cangaceira do nordeste.

Ao final ficou consolidado o município de Barro como "Cidade Sede do Cariri Cangaço" em Certificado Oficial passado pelo Curador do evento, Manoel Severo ao prefeito do município, Neneca Tavares. 

Para Manoel Severo, "Barro é uma das cidades que nos conquistou pela paixão. Paixão pelas coisas de nossa raiz, paixão pelo zelo com nossa história e nossa cultura, paixão pela formação de suas crianças e jovens, paixão pela preservação de sua memória, isso não tem preço, e aos queridos amigos Neneca Tavares, dona Sila, Sousa Neto, Coringa e a toda família de Barro, o reconhecimento e a gratidão da família Cariri Cangaço".

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A INTERIORIZAÇÃO DAS ACADEMIAS LITERÁRIAS E OS NOVOS CAMINHOS DA ASL

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Não me parece acertada essa tão propalada política de interiorização das academias literárias, ao menos da forma como está sendo estrategicamente incentivada pela Academia Sergipana de Letras - ASL. E assim afirmo porque pressinto outros objetivos - menos acadêmicos - por trás de toda essa preocupação de fazer com que os literatos sejam reconhecidos dentro de seus próprios limites regionais.

A princípio, em termos de produção intelectual, vejo como totalmente descabido utilizar-se de terminologias como a tal interiorização. A outra conclusão não é possível chegar senão a de imposição de distanciamento de um centro produtor maior. Desse modo, a força da intelectualidade aracajuana seria acolhida pela ASL, enquanto outros, perifericamente, seriam reconhecidos nas suas distâncias.

E a cultura, a literatura, o saber, o conhecimento, a pesquisa e a produção intelectual, possuem centros e margens ou devem confluir ao âmbito de uma cultura maior? A produção interiorana é diferente do fazer aracajuano, considerando-se que aqui está o centro e ali a margem, ou o interior? Ademais, o advento da interiorização logo passa a pressupor que a ASL tornou-se numa espécie de Academia Aracajuana de Letras, vez que as letras sergipanas perdem sua contextualização.


A interiorização é necessária sim, mas não como estratégia criada dentro dos salões da própria ASL. Deve-se interiorizar a produção cultural e literária no âmbito de cada município ou região, cabendo aos seus estudiosos e escritores o reconhecimento da necessidade de se criar uma entidade que os acolha. Ora, a produção intelectual de um município ou região tende a buscar força suficiente para mostrar sua pujança e ultrapassar seus limites.

Assim, a criação de uma agremiação que congregue os escritores, intelectuais, pesquisadores e estudiosos não deve ser algo impulsionado de fora para dentro, ou seja, não deve ser estrategicamente pensado na ASL para ser implantado nas regiões interioranas. Creio que os próprios munícipes visualizam melhor que qualquer outra pessoa acerca da necessidade e potencialidade para criação de suas academias.

Também não se fundamenta a alegação - acaso existente - de que a ASL apenas procura ajudar na organização, na criação do estatuto, repassando sua longa experiência no acolhimento dos imortais sergipanos. E não sob pena de as academias interioranas tomarem a feição de uma filial daquela, continuando à margem e quase sempre devendo obediência hierárquica aos seus expoentes.

Do modo como está sendo feito, com representantes da ASL sendo indicados para participar na organização das futuras entidades, passa a transparecer que, uma vez criadas e instaladas, as academias interioranas manterão vínculos de subsidiariedade à sua matriz, que continuará sendo a nata da intelectualidade aracajuana. E afirmei aracajuana exatamente para chegar ao ponto chave da questão.

Ora, não duvido que a intenção prevalecente entre determinados membros da ASL seja que a entidade, ao deixar os intelectuais interioranos nos seus devidos lugares, distantes do casarão da Rua Pacatuba, tentem transformar esta num centro exclusivo para expoentes da cultura local. Contudo, o pior é que elegendo pessoas que nem sempre possuirão as características exigidas pelo estatuto.

 Mas eleger pessoas sem o devido merecimento acadêmico nunca foi coisa do outro mundo para a imortalidade sergipana. Sem citar nomes para não ser injusto, mas muitas pessoas que realmente deveriam ter ali assento jamais foram ventiladas para usar o fardão. E, do mesmo modo, alguns foram escolhidos para sumo espanto dos deuses da sabedoria e do conhecimento. Porém, como afirma Jorge Amado em seu “Farda, fardão, camisola de dormir”, tudo é possível.


Creio, piamente, que a elevação cultural, artística e literária deve ser reconhecida pelo que foi produzido. Também creio que a ASL deveria receber em seus quadros apenas aqueles de reconhecido valor acadêmico e que tenham mostrado, ao longo de seu percurso, uma produção digna de abrilhantar meritoriamente o fardão. Contudo, nem sempre é assim que acontece.
Uma academia
 de letras - seja sergipana ou de qualquer outro lugar -, ainda que não acolha exclusivamente os expoentes das artes literárias, deverá, no mínimo, ter a credibilidade suficiente para que suas escolhas não sejam contestadas pela sociedade. E também não incorrer nas injustiças de acolher alguns por amizade ou lobby literário e deixar de fora tantos outros que diuturnamente cimentam o conhecimento.

E eis agora um problema maior a ser resolvido pela ASL. Com o incentivo à interiorização das academias, como as já surgidas em Nossa Senhora da Glória, Itabaiana, Lagarto e Laranjeiras, logicamente que os literatos interioranos ficarão abrigados nos seus silogeus. E a que nata acadêmica servirá a ASL? Com os limites redesenhados, as portas do velho casarão certamente que estarão abertas para a intelectualidade local.

Menos mal que realmente fosse para a intelectualidade local. Contudo, sempre haverá o temor que a ASL renegue de vez as letras do seu estatuto e, de vez em quando, se transforme numa mera casa de acolhimento de pessoas que simbolizam apenas a nata do compadrio e do poder político e econômico.
  
Poeta e cronista
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Aldenora Santiago

Por: José Mendes Pereira

Eu não tenho muito o que falar sobre Aldenora Santiago, mas tenho o dever de registrar a sua passagem aqui na terra, e principalmente a vida que levava entre os parentes e amigos em Mossoró.  

Esta senhora eu a conheci muito, não de conversar, de ter amizade, de contatos diários, mas pelo  talento que tinha, como uma grande cantora nos anos sessenta e setenta do século XX.

Aldenora Santiago era uma senhora morena, bem parecida, talvez 30 anos ou um pouco mais, e na época, residia bem próximo ao Ginásio Municipal de Mossoró, e tinha uma voz assustadora. 

Mas infelizmente, devido gostar de beber alguns goles, a cantora não recebeu apoio para chegar à fama artística.

pt.wikipedia.org

Até aparentava a cantora Elza Soares, fisicamente e voz eram iguais à famosa cantora.

Zé Maria Madrid é o de bigode - http://telescope.blog.uol.com.br

Quando o radialista Zé Maria Madrid criou  aos domingos às 9 horas da manhã, um programa de auditório no cine Caiçara com o nome Zy & 20 ela sempre participava, sendo aplaudida pelos seus fãs que tinham uma grande admiração pela futura cantora.

telescope.blog.uol.com.br

Aldenora Santiago sempre foi bem recebida pelos mossoroenses, mas infelizmente ela não passou disso, porque vivia um pouco ébria. 

Não tenho notícias de qual família ela pertencia, mas só sei que foi uma cantora, que com aquele vozeirão, aos domingos lotava o cine Caiçara de Mossoró.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.
  
Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

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Se você achar que vale a pena e quiser perder um tempinho, clique nos links abaixo:

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MOSSORÓ, TERRA DA RESISTÊNCIA: os mecanismos discursivo-argumentativos da notícia nos jornais impressos em 1927 - Parte II

Por: Ana Shirley de Vasconcelos Oliveira Evangelista Amorim

 

3. Os jornais impressos

A presença da imprensa em Mossoró tornou-se fator decisivo. Diante disso, os relatos são atualmente conhecidos e reconhecidos como documentos comprobatórios da presença de Lampião e seu bando no nordeste brasileiro. A cidade de Mossoró, especificamente, nas primeiras décadas do século XX, já dispunha de veículos comunicacionais como os jornais: “Commercio de Mossoró”; “O Mossoroense”; “O Nordeste” e o “Correio do Povo”. Com isso, as fontes de informação desse período foram essenciais na construção semântica dos relatos sobre os acontecimentos decorrentes das ações dos cangaceiros.
Essas fontes confundiam-se com as autoridades locais, ou melhor, representavam os interesses dos governos estaduais e municipais, e dos elementos de prestígio social, industriais, comerciantes, empresários, fazendeiros, entre outros. Dessa forma, as figuras mais expoentes do poder controlavam todo o discurso veiculado pela imprensa.
A seguir, realizaremos as análises do gênero selecionado para compor o Corpus desta pesquisa.
É importante ressaltarmos que a descrição dos discursos presentes na esfera jornalística e suas abordagens far-se-ão a partir da observação dos seguintes aspectos: as técnicas argumentativas utilizadas e as correlações entre essas, suas teses, os efeitos de sentido desejados e o gênero do discurso em questão.
3.1 O discurso da Resistência na mídia impressa
A batalha de Mossoró ganhou destaque local e nacional nos noticiários da época. As manchetes dos principais jornais do Rio de Janeiro, Recife, Natal e Paraíba dedicaram-se exclusivamente ao tema. Dentre os jornais locais, a segunda edição do jornal “Correio do Povo” do dia 19 de junho de 1927, anunciava em destaque a seguinte manchete:
Notícia 1
AVÉ! MOSSORÓ! Maior grupo de cangaceiros do Nordeste, assalta nossa cidade, sendo destroçado após horas de renhida lucta! À manchete seguem-se os subtítulos: A bravura dos nossos civis! As trincheiras heróicas. Os bandidos são chefiados por LAMPEAO, SABINO, MASSILON e JARARACA. Como morreu o bandido COXÊTE e como foi ferido e aprisionado JARARACA, o maior sicário do nordeste – Notícias e notas diversas.
Após a manchete o jornal publicou em sua primeira página a seguinte notícia:
A nossa ordeira, pacata, laboriosa e nobre cidade foi atacada e assediada pelo maior numero de bandidos do nordeste, sob a chefia de Lampeao, Sabino, Massilon, Jararaca, chefes de cangaceiros que se colligaram a effeito a empreitada terrível e sinistra de saquear Mossoró, a mais opulenta e rica cidade do Rio Grande do Norte. A immensa fama e o seu amor ao trabalho, á paz e á ordem despertaram no espírito de feras daquelles bandos, apetites vorazes de sangue e de sangue.
Os seus planos miseráveis, porém, foram frustrados. A população civil em cooperação com a polícia mostrou e afirmou a pujança de um Mossoró também aguerrido e marcializado, indômito e formidável de armas na mão, nas trincheiras e nas ruas.
Exceção das famílias que foram postas em lugares seguros, os homens de valor tomaram posições de combate em todos os quatro ângulos da cidade. Era a defesa não só da potência comercial e industrial, mas, sobretudo da honra, do sagrado nome mossoroense.
Foram quatro horas de luta heróica onde se cimentou com galhardia maravilhosa o tempo sacrossanto do novo poder que se levantou com um final de glórias e louros a atestar, pelos tempos em fora, a pujança do povo de Mossoró. Triunfou o direito sobre o crime, o dever sobre a violência, a ordem sobre a desordem e o heroísmo sobre a covardia!
A honra da pacata e obreira colméia riograndense foi, salva pelo heroísmo sobre a covardia! Ave! Mossoró! (Correio do Povo, 19 de junho de 1927, p.1).
O orador estrutura seu discurso no engrandecimento e louvor aos heróis da resistência e escárnio do grupo de cangaceiros. Nessa perspectiva, o discurso relacionado à defesa da cidade centra-se integralmente em focar os esforços das autoridades, em especial, do governo estadual, e destacar, principalmente, suas ações solidárias, mostrando, assim, um governo eminentemente preocupado com a defesa do território, sendo, portanto, merecedor de eternos agradecimentos.
Enveredando pelo caráter manipulatório da mídia, que faz uso do jogo de vozes, e desse modo, joga com estereótipos e apagamentos na construção de identidades, observamos que a questão da subjetividade perpassa todo o discurso da notícia, uma vez que o contexto linguístico, como já explicitamos, direciona-se para enfatizar o dizer do poder vigente. Nesse sentido, vemos assumido explicitamente pelo jornal, o discurso político-ideológico do governo local.
Nessa perspectiva, percebemos que o jornal, veículo da mídia impressa de caráter objetivo, torna-se predominantemente subjetivo, visto que o sujeito enunciador inclui-se no discurso como membro da comunidade mossoroense.
O título da manchete chama a atenção do auditório (leitor) para que se concentre no objeto do discurso: ele orienta o „caminho‟ que o público irá percorrer no discurso. No título, o orador apresenta seu alvo de críticas: os cangaceiros, e seu alvo de devoção, a cidade, por meio do vocativo religioso “Ave, Mossoró!”, e seu povo: “A bravura dos nossos civis!”. Nessa perspectiva, constatamos que o título apresenta palavras-chave do discurso, pois, a escolha das palavras que o compõem aponta para uma construção semântico-discursiva que irá defender um ponto de vista.
O procedimento e a criação do título têm caráter persuasivo, pois aponta e contextualiza o conteúdo discursivo. Guimarães (1990), afirma que o título constitui índice caracterizador ou modalizador do objeto do discurso, ou seja, ele é um resumo mais que condensado do teor discursivo. Assim, o leitor por meio dele, prevê o tom do discurso textual.
Além disso, devemos atentar para o fato de o discurso da resistência aparecer vinculado ao discurso religioso. Percebemos que a articulação desse discurso sugere como efeito de sentido a canonização da cidade, uma vez que “Ave! Mossoró!” nos remete à concepção doutrinária do catolicismo, por meio da alusão a oração da Virgem Maria, como argumento utilizado pelo orador no reforço da tese da qualificação positiva da cidade, materialmente visível no corpo do discurso.
Para iniciar seu processo discursivo, o orador constrói nas primeiras linhas do texto o ethos da cidade, ou seja, ele cria uma imagem positiva de Mossoró com o intuito de conseguir a adesão do auditório para a tese defendida.
Ainda no que se refere ao discurso religioso, podemos estabelecer uma relação dialógica entre esse e o modo como o discurso da resistência foi empreendido pelo jornal. Quando o orador traz à cena a cidade personificada e santificada por meio da exaltação e do patriotismo, percebemos sutilmente uma relação interdiscursiva entre ambos. Mossoró sobrepõe-se a imagem da Virgem cheia de graça. Da mesma forma que Maria, a cidade mossoroense também é detentora de graças através do seu progresso. Sendo bendita entre todas as cidades do Rio Grande do Norte, assim como a santa, também gerou frutos benditos.
Embora não tenhamos realizado um trabalho de recepção junto aos leitores afetados pelos discursos dos jornais impressos e dos cordéis de acontecido, afirmamos, conforme a memória coletiva do episódio, retratada nas análises, de que o discurso religioso, adaptado às intenções comunicativas do texto, deixa transparecer mais uma estratégia argumentativa que se fundamenta nos valores da liberdade e da honra previamente aceitos pelo auditório para reforçar a necessidade de defesa do território.
Nessa rede de diálogos que o texto oferece, verificamos outra técnica encontrada na notícia e que finaliza o texto de maneira enfática, é a técnica da repetição marcada linguisticamente pelo vocativo de louvor na referência à cidade para tornar mais presente na memória dos interlocutores a ideia que se pretende a adesão. Nesse caso, “[...] A repetição constitui a técnica mais simples para criar tal presença (no leitor) do ponto de que se quer chamar a atenção” (PERELMAN E TYTECA, 1996, p. 164). A utilização dessa técnica torna claro, também, para o público, o posicionamento assumido pelo produtor da notícia.
Notícia 2
A edição do jornal “O Nordeste” do dia 24 de junho de 1927, veiculou a seguinte manchete:
O bandido Lampeão e seu grupo: Terríveis contingencias – Assalto a esta cidade – A nossa vitória – Continuamos em pé de guerra – Lampeão derrotado.
Essa edição começou a noticiar os preparativos para o conflito. Ao longo do texto, em especial, por narrar o conflito, encontramos pequenas manchetes que apareciam como uma espécie de alusão a notícia principal: “Os bandidos surgem em São Sebastião”; “Retiradas das famílias. O povo se arma”; “Ultimatum, de Lampeão ao governo do município”; “O bando se aproxima...”, e, somente na terceira página do jornal vem a narração do conflito.
Começa a lucta
Foi um tiroteio formidável de parte a parte! As feras investiam e procuravam abri passagem. As trincheiras avançadas resistiam galhardamente. A do Coronel Saboynha, para não nos referirmos já a outras, de acção igualmente brilhante, por terem aquellas sustentados o ímpeto, desempenhavam-se galhardamente. A trincheira da barragem, sob o commando do Tenente Abdom, abria fogo. O bando se tinha dividido. Era preciso estar em toda parte, vigilante, activo, embora corresse perigo a vida, que poderia ser atingida pelo fogo dos nossos próprios amigos.
Cangaceiros surgem ao lado da Matriz, nas immediações do Telégrafo Nacional, e somem-se! Ah! O fogo rompeu pela trincheira dessa repartição. A torre attendia já a todos os lados,
perscrutando, atirando. A trincheira do Colégio Diocesano estava a postos, tiroteando também. A praça da matriz era uma fortaleza!
Os officiaes da Polícia Estadual, Tenente Laurentino, delegado de Polícia, Abdon Nunes e Ten. João Antunes, da cavallaria, eram incansáveis e bravos, attendendo aos postos mais fracos organisando a vigilância, patrulhando e Policiando as ruas, no intuito de sorprehender algum bandido que se insinuasse nos locaes mais desertos.
Há actos de verdadeira temeridade em toda parte, os quaes calamos para não commetter injustiças. Todos se mostram valorosos e dignos grandes e pequenos, ricos e pobres, autoridades e não autoridades. Os padres acompanham o movimento de defeza com extraordinário sangue frio.
Em toda parte, por todos os lados, todos andavam activos. Os bandidos recuavam, voltam ousadamente à carga e são novamente repellidos. Deixam mortos e feridos e organizam a fuga. É de notar que, no início do ataque, as sombras do nevoeiros se desfazem e a chuva cessa apenas deixando no ambiente uma temperatura agradável de uma tarde de inverno. Cessado o forte tiroteio, irrompe pelas ruas, o povo em delirantes brados de vivas a Mossoró, ao Prefeito, ao Presidente do Estado, ao chefe de Polícia, aos nossos soldados, desafiando Lampeão e os seus sequases: Sabino, Massilon e toda caterva de bandidos que fugiam diante de nossas armas victoriosas, sem o derrame de uma só gotta de sangue do povo citadino.
Reinava grande pavor entre algumas poucas famílias que não se haviam retirado: mas o estrépito dos vivas penetrava o coração de todos como um ardente sopro de victalidade inaudita. Gloria a terra de Baraúna, o herói de Payssandú! Toda a noite de segunda-feira foi de febril actividade; tiroteios aqui e acolá, descargas, etc. Foi uma hora de fogo renhido e cerrado!
Tendo em vista que “as notícias são distorções sistemáticas que servem os interesses políticos de agentes sociais bem específicos que utilizam as notícias na projeção da sua visão de mundo, da sociedade, etc” (TRAQUINA, 2005, p. 162), observamos que a notícia publicada pelo jornal é explicitamente marcada por informações que trazem em sua constituição elementos sígnicos (recursos) que representam um meio de manutenção do discurso político-social dominante. A subjetividade, como explicitada na primeira notícia analisada, permeia todo o discurso.
Nessa notícia, o sujeito enunciador ao afirmar que os “bandidos fugiam diante de nossas armas vitoriosas”, se inclui no discurso como um personagem pertencente ao universo narrado, ou melhor, ele se insere na população que lutou na resistência contra bando de Lampião.
Desse modo, podemos dizer que, de acordo com o ângulo em que a notícia é revelada ao auditório, observamos a semelhança entre a sua estrutura e a estrutura dos editoriais jornalísticos, notadamente, no que concerne à tomada explícita de posição sobre um determinado acontecimento. A narrativa do conflito, assim como os editoriais vem sem a presença de uma assinatura, expressando o ponto de vista do periódico, e “sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade ou objetividade” (PERFEITO, 2007, p.4).
O enunciador inicia seu discurso a partir da apresentação do assunto (começa a lucta) expondo fatos que descrevem a realidade do conflito sob sua ótica. A sequência de eventos que compõe o gênero notícia apresenta a história em forma de lide1, isto é, procura desenvolver os elementos do relato, colocando em ordem os elementos do enunciado (o que, quem, onde, quando, como e por que). Em contrapartida, observamos uma exploração do
1 Palavra aportuguesada do inglês Lead é a “cabeça” da notícia. Significa dizer que, o lide funciona como um sumário da notícia jornalística apontando as informações mais importantes do texto. O lide corresponde ao primeiro parágrafo de uma notícia jornalística impressa.
conflito dramático. A relação entre as personagens, as enumerações de lugares e de ações da trama conferem a narrativa uma leitura de construção artística, atribuindo ao discurso um caráter literário.
No âmbito da argumentação, destacamos no discurso a presença de recursos, como os modalizadores, por exemplo, que direcionam o posicionamento do enunciador a respeito do fato enunciado. Os modalizadores, segundo Koch (1999), apresentam argumentatividade no uso da própria língua. Desse modo, concebemos esses tipos de recursos como “elementos linguísticos ligados diretamente ao evento de produção do enunciado e que funcionam como indicadores de sentimentos e atitudes do locutor em relação ao seu discurso” (KOCH, 1999, p. 138). Como exemplo desses recursos, encontramos na notícia os pronomes na primeira pessoa do plural, os advérbios, os adjetivos e expressões com valor de adjetivos.
No que diz respeito aos adjetivos ou expressões com valor de adjetivo, podemos dizer que eles são extremamente modalizadores, pois qualificam verbalmente o que às vezes é apenas uma imagem, formalizando um conceito de verdade, dando um valor apreciativo ou depreciativo.
Com o uso desses qualificadores, o orador passa a indicar um modo de ser do substantivo, atuando como um predicativo. Nesse processo, os recursos trabalhados operam no sentido de atribuir um significado semântico determinado aos substantivos, “cidade e povo”. No viés discursivo, o uso desse mecanismo opera como estratégia argumentativa que ultrapassa as fronteiras da estrutura sintática e do significado semântico e articula os sentidos em um campo que interagem linguagem e sociedade, portanto, ideologias.
A exarcebação e sacralização da cidade e de seus heróis implicam na satanização da figura de Lampião e seu bando. Paralelamente, a exaltação da cidade e de seus defensores. Os textos acentuam as características e feitos mais brutais dos cangaceiros, com o intuito de associá-los à categoria do mal, da perversão, o que de fato culmina na demonização desses personagens.
Nessa perspectiva, atrelada aos modalizadores está à técnica da definição expressiva para embasar a posição ideológica do orador a favor da resistência e contra a empreitada do bando de cangaceiros. O sujeito enuncia de uma formação discursiva e de um lugar social de defensor da cidade.
Além disso, devemos atentar que a associação do fato (invasão) a ação da resistência em (a), nas primeiras linhas do texto, gera frames (esquemas) que irão orientar a construção dos modelos mentais a partir do foco de interesse do enunciador e de que ângulo ele quer que observemos o objeto, direcionando a opinião pública para um posicionamento contrário à invasão e favorável à resistência.

CONTINUA...

Ana Shirley de Vasconcelos Oliveira Evangelista Amorim

Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo

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