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quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Cangaço - Grande Debate - Parte III

Ainda no mês de Junho tivemos a grata satisfação de participar do Programa Grande Debate da TV O Povo com o jornalista Ruy Lima. O tema do Programa foi o lançamento do livro Iconografia do Cangaço, organizado por Ricardo Albuquerque. Hoje trazemos na íntegra para os amigos, em 4 postagens.

http://cariricangaco.blogspot.com

Os Assombros de Itiúba - Líderes da defesa - Parte VII

Por: Rubens Antonio
Rubens Antonio

A figura destacada de Aristides Simões de Freitas paira como a do grande líder na defesa de Itiúba, durante as crises desencadeadas pelas passagens dos cangaceiros no seu em-torno.


Entretanto, cabe destacar outras lideranças locais que adentraram a estruturação da defesa secundando-o com eficiência.

Dentre estes, alguns merecem citação, tendo inclusive assumido armas e seguido para as frentes, coordenando os jagunços nas duas trincheiras principais, a da Calçada de Pedra e a da Cambeca.

Um deles foi Belarmino Pinto, que veio a se tornar o primeiro prefeito, quando Itiúba se emancipou.


Belarmino Pinto - Outro foi seu irmão Benedito Pinto.


Benedito Pinto


Sítio da trincheira da Cambeca


Sítio da trincheira da Calçada de Pedra


Belarmino Pinto, já prefeito, acompanhado de José Cruz e Ramiro Pimentel, cercados por populares.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio







Testemunha ocular - Pesquisadores no Cariri entrevistam senhor que em 1927 presenciou Lampião na serra do Diamante, município de Aurora,CE.

Pesquisadores, Sousa Neto (Barro). Sr. Elias Saraiva dos Santose o anfitrião José Cícero (Aurora)


Da Redação do Blog de Aurora e do site Cariri de Fato (JC)
Fotos: Karlos Marx

Na época com a idade de 10, disse ele que chegou a levar comida da sua casa para o rei do cangaço no esconderijo do Diamante. Algumas vezes na companhia do seu pai, outras, sozinho. Lembra inclusive, do dia que levou algumas pamonhas feitas por sua mãe - uma oferta segundo ele para o bandoleiro. Ao receber a encomenda, recordar ainda hoje que Lampião sorridente pôs a mão sobre sua cabeça e disse algo o elogiando pela sua esperteza de menino. Decerto, num claro gesto de agradecimento pelo seu trabalho e tantas idas e vindas pelas veredas da caatinga, entre a sua casa e o local onde Virgulino ficara acoitado com seus comandados. Lembra igualmente que ele (Lampião) metera a mão no bornal que levava a tira colo e, em seguida colocou na sua mão umas moedas dizendo que era para pagar o presente da sua genitora. De maneira que até hoje ainda tem Lampião como uma pessoa simpática e respeitadora.

Era corrido o ano de 1927, época que historicamente ficou marcada por uma série de acontecimentos relacionados a invasão de Mossoró, seguido do episódio relativo a suposta tentativa de envenenamento do bando Lampiônico, que redundou no cerco, tiroteio e incêndio da fazenda Ipueiras de Aurora. A famosa traição do coronel Izaías ao seu amigo Lampião. Trama ao que tudo indica, arquiteta pelo coronel Arruda e Zé Cardoso, tendo como pano de fundo o major Moisés Leite de Figueiredo – comandante das volantes que desde o malogro de Mossosó e, dentro do Ceará, ficará no encalço do bandoleiro.
A trama para a suposta traição


O plano "A" seria, primeiro a suposta infiltração de alguns elementos (jagunços do coronel) e soldados disfarçados no bando de Lampião. Desconfiado, Lampião junto com os seus não concordaram com a ideia. Veio então, depois o plano "B" o oferecimento da comida envenenada que ficou a cargo de Miguel Saraiva, tido em alguns escritos lampiônicos como vaqueiro de Zé Cardoso. Na verdade ele era um dos proprietários da região do Diamante e, por conseguinte, amigos do coronel Izaías Arruda e de Zé Cardoso da Ipueiras e Cantins. Depois Coxá. Tipi, Monte Alegre, Izaíras e Taveira... Mas não era vaqueiro de profissão.

Há quem diga inclusive, que conhecera Lampião e privou da sua consideração e confiança primeiro que os donos da Ipueiras. Sendo, portanto, apontado como o homem que primeiro em Aurora fez a ponte que levara o rei do cangaço sob os interesse de Massilon Leite ao célebre coronel, nascendo daí por uma série de outros interesses dos potentados da época, a terrível trama com vistas a invadir a cidade norte-rio-grandense.

Conhecera Massilon um pouco antes, em face da amizade daquele com os cangaceiros da terra, moradores do riacho das Antas, Coxá lá pelas imediações do Diamante. Sendo Massilon Leite, como se sabe, um dos principais artífices da empreitada com vistas a invasão de Mossoró.

Antes mesmo de Lampião beirar as terras da Ipueiras, alguns cangaceiros do riacho das Antes dentre os quais Zé de Lúcio, José Cocô, Zé de Roque e Antonio Soares já haviam incursionado nos bandos de Massilon, Décio Holanda do Pereiro e do Próprio Izaías Arruda, na época sob o comando do seu vaqueiro e conhecido homem de confiança de Missão Velho.

Seu Elias Saraiva – era filho de Zeca dos Santos - e este primo carnal de Miguel Saraiva.

A fazenda Ipueiras – foi palco de um dos episódios mais emblemáticos e notórios da história de Lampião, quando da sua incursão pelo Cariri cearense. O que culminou com a polêmica traição do coronel Izaías Arruda a Lampião. Fato ocorrido no começo da tarde do dia 7 de julho de 1927. Estando, portanto, por uma série de fatores, intimamente ligada ao acontecimento de Mossoró.

Certa feita, disse Seu Elias que estando Lampião com parte do seu bando na região de Cuncas no município do Barro onde participariam de um grande almoço oferecido por um rico fazendeiro do lugar, chega a notícias que o cangaceiro “Bom de veras” que vinha ao encontro de Lampião, acabara de assassinar um cidadão de bem nas proximidades da vila de Rosário. Simplesmente porque o tal cidadão, resistira em entregar seu cavalo ao cangaceiro.

A pessoa assassinada era também compadre do dono da fazenda. Ao saber da notícia Lampião ficou indignado. E mesmo com fome ordenou para que todo o bando se preparasse para partir. Ninguém comeria mais nada para que todos pagassem pela desfeita de “Bom de veras”.

- Não quero cabra covarde e nem malvado no meu bando, - 
Dissera o bandoleiro e logo, em seguida partiu contrariado, deixando as terras do Barro para trás.


Foi um conversa das mais proveitosas com o decano do Milagres o Sr. Elias Saraiva. Sobretudo para aqueles que sempre estão dispostos a aprender um pouco mais acerca da nossa verdadeira história.

Além de prestar uma palpitante entrevista o Sr. Elias ainda colaborou com informações preciosíssimas que, inclusive, serão utilizadas no livro “Lampião em Aurora – Antes e depois de Mossoró” que está sendo finalizado pelo professor e pesquisador José Cícero.

Pesquei no Blog da Aurora

E eu pesquisei no blog: 
http://lampiaoaceso.blogspot.com




ENQUANTO NÃO VEM CANGAÇO - O TREM DA ALEGRIA

Por: José Mendes Pereira


Que tempos bons foram os anos oitenta! Anos de felicidades para todos aqueles que tiveram a sorte de viajar no trem da alegria com destino certo. Que lembranças eu guardo do dia vinte e três de maio de mil novecentos e oitenta e três, quando eu peguei o trem da alegria pela primeira vez, não só eu, mas tantos outros da minha época, com o mesmo objetivo e o sorriso estampado no rosto.


Era um trem que não tinha rodas, mas corria numa velocidade assustadora, deixando os seus usuários em cada ponto de trabalho. Trem que não tinha máquina, mas simbolicamente era dono de uma força enorme para puxar os vagões encarrilhados. Trem que não tinha maquinista, mas passava nas estações entregando os seus passageiros. Trem que não usava poltrona, mas cada usuário tinha um lugar garantido. Trem que não gastava lenha, mas tinha um vapor forte e era fortíssimo. Trem que não se pagava para viajar, mas todos tinham direito à passagem. Trem que não tinha trilhos para se locomover, mas caminhava sobre a força de grupos políticos, que deixava os seus viajantes em cada terminal para ocuparem as suas funções nas repartições públicas. 

Era um trem que deu tantas alegrias e esperanças a muitos que confiavam em mudar de vida para melhor, onde cada um carregava em sua bagagem, sabe o quê? Um monte de conhecimentos para distribuí-lo entre outros que também eram sonhadores.

Infelizmente o animado trem da alegria que tanto rodou, foi desativado para retirarem as ferrugens da ilegalidade constitucional. Que trem da alegria!

“Trem da alegria eram funcionários que entravam nas repartições públicas sem concurso. Eu também viajei nesse trem".

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

JARAMATAIA


Por: Clerisvaldo B. Chagas -  Crônica Nº 822
Clerisvaldo B. Dantas

No Médio Sertão de Alagoas, o inverno vai esfarrapando suas chuvas, devagar, preguiçoso, alternando os dias de molhar a terra. É como se apenas fosse uma satisfação à padroeira Senhora Santana com suas tradições do mês de julho. E se a lavoura não teve oportunidade, o pasto também não. O rosário de sacrifícios sertanejos agita-se na fé entre Pais-Nossos e Ave-Marias. Notícias ingratas vão percorrendo os alastrados até os pés da santa avó de Jesus. Os cânticos de louvação misturam-se às lágrimas envolvidas pela chuva fininha a que vêm chorar também. Nos barreiros, nos lajeados, nas lagoas, o retrato da seca verde ou a cara rachada mostrando os dentes do chão. Correm as notas sobre o asfalto, por cima dos fios, pelas fibras óticas, dizendo de açudes, barragens, represas. E chegam aos ouvidos as palavras quase mentirosas que o maior açude de Alagoas está ficando seco. Quase mentirosas porque a extensão dos açudes “Pai Mané” e o “Jaramataia” são quase lendas no interior do estado. O “Pai Mané”, filho de um apelo em carta endereçada a Getúlio Vargas, pelo fazendeiro “Seu Zezinho”, município de Cacimbinhas, foi construído e tornou-se realidade, tornando-se um mar dentro do Sertão. E o açude no município de Jaramataia, tendo sido iniciado no começo da década de 60, foi uma das grandes vitórias do DNOCS ─ Departamento Nacional de Obras Contra a Seca.

Açude de Jaramataia - Alagoas (Fonte DNOCS)

Foi o açude de Jaramataia quem impulsionou a hoje cidade do mesmo nome que fica entre o Sertão e o Agreste, entre Santana do Ipanema e Arapiraca, fazendo surgir uma comunidade de exímios pescadores. E se Jaramataia é o título de uma árvore da família das leguminosas, foi também à sua sombra que nasceu o povoado à margem da rodovia chamado ainda hoje: “Bacurau”. Nas minhas idas e vindas, fui testemunhando a construção da rodovia do estado, desviando o percurso por longas estradas carroçáveis, contemplando as redes de pesca dependuradas nos terreiros das primeiras casas do povoado. Entretanto, a seca prolongada está fazendo desaparecer os 19 milhões de metros cúbicos de água do famígero açude. Até mesmo as cacimbas improvisadas às suas margens, não servem para o consumo humano e nem para o plantio pelo alto teor da salinidade.
A falta de manutenção dos açudes em Alagoas foi decretando a falência de tanto trabalho empenhado pelos bravos “cassacos” dos tempos das secas. São 22 açudes no estado que pedem atenção das autoridades e socorro monetário. Enquanto isso, vamos observando o debate das águas na região da bacia Leiteira de JARAMATAIA.


Extraído do blog do romancista:
Clerisvaldo B. Chagas



Os Assombros de Itiúba - Depoimento diversos - Parte VI

Por: Rubens Antonio

1931

Depoimento de Isabel, do Maté:
"Quando Lampião chegou no Maté foi com uma turma. Vinham montados e na carreira. Estavam sentados fora da casa do Teófilo e Piroca. Eles levantaram para correr e Lampião falou:
- Não corra! Senão eu atiro!
Perguntou ao Teófilo pelas montadas que tinha e ele respondeu:
- Só tenho umas é-é-é-guas.
Eles arremedaram Teófilo:
- Umas é-é-é-guas.
Lampião pediu água para beber a Joaquina, que estava mexendo uma comida no fogo, em uma cozinha que ficava fora da casa. Mas ela demorou para pegar a água, porque estava nervosa e trêmula. Mas ele achou que ela tinha colocado porcaria na água, e não bebeu. E jogou fora. Lampião perguntou a Joaquina o que tinha no fogo. E ela respondeu:
– Uma comida para uma doente.
Lampião arremedou-a e repetiu o que ela falou, pois Joaquina falava um pouco fanhosa.
A passagem dele no Maté já foi à noite. Ele já estava vindo da Varzinha e foi nessa passagem que ele entrou na casa de Mariinha e deu umas chibatadas nela. Dizem que ela também era gaga e quando Lampião lhe batia, ela dizia:
- Ba-ba-te, diabo!
O povo disse que ele já vinha do Umbuzeiro... Existia muita mentira. Uma época disseram que ele estava atacando Itiúba e estava uma guerra danada.
Diziam que Lampião não fazia muita perversidade. Perversos eram os seus cangaceiros. Há uma história que ele chegou em uma casa ai pra cima. Tinha alguém assobiando e Lampião colocou a pessoa para assobiar a noite inteira para os cangaceiros dançar. Quando amanheceu a pessoa estava com a boca inchada...
Em uma casa, para o lado da Pedra Vermelha, município de Cansanção, pediu para a mulher cozinhar umas galinhas para eles comer. Enquanto comiam, um dos cangaceiros reclamou que a comida estava sem sal. Lampião pediu à mulher que trouxesse um quilo de sal e fez o cabra comer todo.”

Depoimento de Pedro José de Oliveira, o Pedro Cajá:
"Nesse tempo, eu tinha catorze ou dezesseis anos...
Nesse dia, Lampião passou no Poço do Cachorro...
Eu ia subindo para a Cajá e o local onde eu me encontrava era alto.
E vi muitas pessoas montadas, outras não, ao redor da casa da Eleonor, no São Roque.
Não sabia o que estava acontecendo naquele momento... No outro dia, soube que Lampião esteve lá revirando a casa da Eleonor, procurando ouro e dinheiro. Mas não acharam nada e perderam uma palmatória com pregos, pois quem achou foi o Zé Lima, meu cunhado.
E o mesmo deu ela ao delegado Francisco Simões de Carvalho, avô do Augusto Castro.
O Agenor estava fazendo farinha em um lugar chamado Capoeira, na Fazenda do velho Tietre e, quando soube que Lampião estava nas redondezas, correram e deixou a farinha queimar..."

Depoimento de Gabriel de Souza, do Povoado de Varzinha:
"Dizem que Lampião passou por fora da Varzinha. Ele ia passar aqui, mas foi Deus que o rapaz que vinha guiando levou para outro lugar. Eu e meus pais estávamos no terreiro da casa. Eram dezoito horas. Era menino. Tinha mais ou menos oito anos, mas me lembro. Ouvi uns tiros nessa serra, perto da Varzinha. Tem gente que o viu. Passou na casa da Canuto Mariinha, onde deu umas chibatadas nela. Aconteceu muitas vezes de ter notícias dele. Quando a conversa saía que ele estava na região nós corríamos para uma rocinha e íamos nos esconder lá. Estávamos sempre assustados. A gente dormia debaixo do pé de juazeiro ou no pé do lajedo. Não acendíamos nem a luz do candeeiro. Falavam que ele andava em Jenipapo, Jabucunã. Em Jabucunã um rapaz tinha um bar e Lampião passou por lá para beber junto com seus cangaceiros. Começaram a beber e os cangaceiros queriam que o dono do bar bebesse. Mas ele não quis. E um dos bandidos disse:
- Agora beba! Se você não beber, você morre.
Mas Lampião pediu que deixasse o rapaz em paz e fez uma proposta para ele:
- Quer se juntar ao nosso bando?
– Não posso. Tenho uma velha mãe que cuido e sustento.
– Resolva, porque nos quinze dias eu volto.
Foram embora, mas o rapaz, com medo que lhes fizessem mal, foi a Monte Santo e comprou uma arma boa. Alguns dias se passaram e o rapaz ficou de tocaia. Quando o bando ia passando ele conheceu o bandido que queria matá-lo no bar. Mirou e atirou na cabeça. Começaram a atirar no rapaz e ele caiu em uma bagaceira e escondeu-se. Eles olharam por ali e falaram que o cara era ruim. A seguir montaram e foram embora. Quando o rapaz viu a cascalheira, foi conferir e viu um cara morto.”
Depoimento de Sebastião José dos Santos, de 82 anos, de Itiúba:
Lampião não passou aqui, mas Volta Seca e mais alguns cangaceiros passaram no Sítio dos Meios... Atravessaram o campo de bola e o pontilhão, mas não passaram em nenhuma casa. Eu era rapaz e cortava lenha para as máquinas. Meu sonho mesmo era entrar para a volante para matar Lampião. Tinha quinze anos e meu pai não deixou. É que, se eu morresse sem matar ninguém, São Pedro ia perguntar:
- Matou alguém?
Quando eu dissesse que não ele diria:
- Então, você não pode entrar aqui!
Quando Azulão e Volta Seca passaram por Jacurici, todos abandonaram suas casas e foram dormir na casa do finado Antônio Mendes, que ficava dentro da mata. Só quem não fugiu foi eu, papai, mamãe e meu irmão. Meu pai disse:
- Daqui ninguém sai. Se tiver que morrer, morremos em casa."

Depoimento de Ângelo Pereira:
"Lampião tinha me levado a força da Fazenda Urubu, por ser jovem e domador de animais bravos... E eu, mesmo sem ser cangaceiro, vivi no bando de Lampião seis meses e vi coisas de admirar...
Certa vez, ele dormiu numa fazenda onde hoje é povoado de Rômulo Campos. O casal tinha filhas lindas. Lampião, quando viu, pediu uma para o pai das moças... O pai respondeu que as filhas só sairiam de perto dele casadas. E Lampião respondeu que estava certo... Ele, então, pediu ao dono da casa que colocasse suas filhas em um quarto e armasse a rede na porta da camarinha. Caso algum de seus cangaceiros tivesse a intenção de ir até o quarto, ele mesmo, Lampião, tomaria as providências...
Mas o Rei do Cangaço só era valente porque vivia rodeado de cangaceiros... Era tão medroso que não entrou em Itiubinha... Por onde passou foi nas redondeza, saqueando as fazendas e surrando os donos... E ele fazia miséria...
Não foi nada por causa de trincheiras que ele não entrou... Lampião não entrou em Itiúba porque uma entrada segue para Juazeiro do Norte.. e ele tinha um profundo respeito a Padim Padre Cícero... E a do outro lado toca para o Monte Santo, e aí ele não entrou por ele admirar a Santa Cruz...
Ele era mesmo um homem perverso que tinha prazer em matar e roubar, mas, antes de entrar em qualquer cidade, ele acendia uma vela. Caso a vela apagasse ele não entrava, porque lá estavam os macacos à sua espera. Acendeu a vela aqui, que se apagou... Aí é que ele não entrou mesmo em Itiúba... E morreu mas não teve o prazer de entrar na “Itiubinha”, que é como ele chamava."

Depoimento de José Cícero de Freitas Silva:
"Na... Era Lampiônica... Itiúba viveu dias de medo, coragem, humor e outros tantos adjetivos... Tinha o medo daqueles que não tinham brio para defender a alcantilada Itiúba e, a qualquer anúncio da presença de Lampião nas redondezas, refugiavam-se nos píncaros das serras fugindo do temível bandoleiro...
Contam uma história sobre o Senhor João de Castro numa dessas aproximações...
Ele era dono de uma padaria... Encheu um saco de pães para levar na fuga... Só não percebeu que o saco estava furado... Procurando homiziar-se na Serra do Cruzeiro, deixou o caminho pontilhado de pães... Isso mostrava o caminho por onde tinha seguido.
O medo foi tanto que poucos foram os pães que chegaram ao alto da serra e os que caíram serviram de pasto a pássaros e formigas, pois coragem o mesmo não teve para voltar e recolher os pães perdidos...
Admiro a coragem daqueles que ficavam entrincheirados no bueiro da Santa Helena e do Riacho dos Cambecas...
A qualquer notícia, mesmo que pudesse ser inverídica, para lá se dirigiam para enfrentar e encurralar o facínora, fazendo com que o mesmo não entrasse na cidade onde o Capitão Aristides o esperava com outros valentes...
Coragem, ainda, sem igual era a da dona Mariquinhas que, enquanto viveu Lampião, ela não se desgrudava de um fuzil e um haió... que era um saco feito de fibra de caroá... e que ela deixava cheio de balas...
Desta destemida senhora, conta-se que, certa noite, estava a mesma dormindo quando ouviu o barulho de gravetos sendo quebrados. Achando que eram homens do bando de Lampião, levantando de arma em punho e saltando a janela já com a arma engatilhada, quase tira a vida do seu esposo que estava satisfazendo uma necessidade fisiológica no sossego de muro, que até hoje mantém as características da época."

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio

http://cangaconabahia.blogspot.com.br/2012/07/os-assombros-de-itiuba-depoimento.html

Enquanto não vem cangaço - O COLIBRI

Por: José Mendes Pereira
Colibri

Todas as tardezinhas eu me deslocava para o quintal da minha casinhola, na intenção de usufruir um pouco dos ventos que vinha do Norte e posteriormente direcionava-se para o Sul. E lá eu me aconchegava a uma touceira de

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babosa viçosa, que em anos longínquos, eu tinha plantado uma muda que adquiri no meu amado berço, BARRINHA, e com o passar dos anos, ela foi se expandindo, até que formou uma ramagem bastante esverdinhada e de forma arredondada.
                                                                                              
E Todas as tardezinhas um colibri chegava e entre as folhas espessas da babosa, enfiava o bico fino e alongado nas flores em desenvolvimentos, e ficava sugando as gotículas fertilizantes. E em um pequeno espaço de tempo, ele se apoderava de um voo entre o pomar frutífero verdejante em direção a um outro lugar. O colibri desaparecia e minutos depois retornava, e com a sua lentidão repetia tudo o que tinha feito antes. Eu ali, apenas acompanhava os pequenos movimentos das suas asas e corpo. O colibri tinha diversas cores, mas a que mais predominava, era a azul celeste.

E com o passar dos dias, ele foi permitindo que eu me aproximasse cada vez mais dele. O colibri ficava como se estivesse paralisado, e apenas com uma tremura nas asas e no seu pequeno corpo, eu notava que ele estava em movimentos. Mas quando ele percebia que no horizonte, um lençol amarelado formado por nuvens encarneiradas, dando sinal aos viventes do planeta, que o

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pai da natureza já estava se preparando para se deitar, o colibri tomava o último voo daquele dia, e desaparecia no gigantesco espaço do universo. Depois disso, só no dia seguinte era que ele retornava para repetir tudo de novo, colhendo as novas gotículas fertilizantes, que a natureza tinha autorizado a sua reprodução.

Certo dia, eu me apoderei de uma maldade de humano devastador, e tentei capturá-lo, mas o colibri não permitiu a minha ignorância, e apossou-se de um voo, e foi-se embora para nunca mais voltar. Nunca mais o vi!.

Será que o colibri já tinha completado o seu ciclo vital aqui na terra, e foi recolhido pela natureza, paralisando os seus movimentos para sempre? 

Será que o colibri foi alvejado por uma carabina de caçadores? 

Ou será que o colibri descobriu que eu pertenço a uma espécie de animais que rouba, mente, devasta, difama, odeia, desfaz do seu próprio criador, explode e implode, mata os rios, polui a natureza, extingue os pássaros e faz cilada para matar o seu semelhante? 

Minhas simples histórias
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AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 19 (“O HOMEM É O SEU DESTINO”)


Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 19 (“O HOMEM É O SEU DESTINO”)

As palavras não saíam da cabeça de Lampião: “O homem é o seu destino”, “O homem é o seu destino”, “O homem é o seu destino”...

Com qual sentido o velho Gameleira havia dito isso, por que o danoso do homem não explicou tudo de uma vez e me deixou menos atropiado do juízo? Uma coisa besta dessas, apenas um dizer ligeiro, e é como agora eu tivesse um grande mistério a desvendar; safado do velho, intriguento o bixiguento, metido a conversador, vai que fala demais e me deixa assim desconcertado; já se vão dois dias que esse negócio de o homem é o seu destino não me sai do pensamento. Matutava consigo mesmo o Capitão logo cedinho, enquanto andava de canto a outro pelos arredores do coito.
E de repente se voltou para os lados da cangaceirada e gritou: “Qualquer um de vocês, tanto faz mais moço ou mais vivido, quero que vá agorinha mesmo na casa do coiteiro Mané Félix, lá onde vocês sabem muito bem onde fica, e diga a ele que vá procurar com urgência o coiteiro Gameleira, que já de tão velho só tem serventia pra me trazer preocupação. Ele mesmo me falou que se mudou da Grota Grande e tá morando um pouco mais pra riba, e por isso mesmo Mané Félix deve saber o paradeiro de agora e ir até lá em diligência e trazê-lo à minha presença. Mas de antemão diga que não é vespeiro não, de modo a não assustar nem um nem outro. É só uma informação importante que quero ouvir da boca do velho Gameleira. Agora arriba!”.


Procurando sempre chamar a atenção do seu comandante, de modo que lhe caísse sempre nas graças, o cangaceiro Brasinha saiu com mais de mil, sem nem querer saber da intenção dos demais. Quinze minutos depois, e sempre correndo por dentro da mata seca, se estropiando e lanhando todo, chegou à casa de Mané Félix, que morava nos arredores do local onde o bando estava refugiado naquela passagem pelas terras ribeirinhas sergipanas.

Brasinha, ainda se mantendo escondido nos beiços da mata, deu um piado aumentando de tom como aviso ao coiteiro. Era a senha já conhecida, já acertada entre todos para que não houvesse surpresa na chegada de gente do bando e principalmente com a aproximação da macacada, das forças policiais de perseguição, também conhecidas por volantes. Assim, ao ouvir o piado, o coiteiro já sabia de quem se tratava. Do mesmo modo fazia quando se aproximava do coito. Só depois da resposta, dessa vez três pios compassados, é que podia se aproximar.

Estava remendando uma sela quando o cangaceiro se aproximou. Num segundo e já seguiu naquela direção. A conversa foi pouca, foi rápida, apenas o recado dado e recebido e pronto. E uns cinco minutos depois Mané Félix já cortava estrada, e sempre por dentro do mato como achava mais seguro, seguindo em direção ao casebre do velho Gameleira. Era pobre o homem, e que pobreza danada!


O coiteiro Gameleira, caboclo sertanejo, homem de sina e de sola, já na curva dos setenta, era um dos mensageiros e informantes mais confiados por Lampião. Não sabia, porém, que o rei do cangaço não o tinha apenas na condição de coiteiro, mas, e acima de tudo, como um bom amigo que gostava de conversar e ouvir suas sábias e proveitosas lições. Nem imaginava que isso acontecia, mas toda vez que Lampião o chamava para um proseado tudo ocorria como um discípulo presta atenção ao que o mestre diz.

Gameleira tinha certas características que o Capitão silenciosamente apreciava. Sem falar em honestidade e confiança, o velho sertanejo não se intimidava quando tinha de dizer o que pensava, sentia ou achava. Olhava no olho do cangaceiro e falava sem medo, esperando apenas a reação para dizer que mais tarde lembrasse o que havia acabado de dizer. Era como se dissesse que podia até achar ruim agora, mas depois...
Do mesmo modo agia com o próprio comandante, tão temido por uns mas para ele apenas um amigo cheio de dúvidas e problemas que precisavam ser resolvidos. E por isso mesmo é que, com palavras, procurava sempre ajudar, orientando, dizendo o que sabia por experiência de mundo. Virgulino não deixava transparecer, mantendo-se sempre na sua posição um tanto vaidosa demais, mas absorvia com verdadeira sede cada palavra que o coiteiro dizia.

O sol triscava lá em cima quando Mané Félix e Gameleira riscaram nos arredores do coito. Depois dos sinais e dos caminhos abertos, seguidos por olhos sempre presentes por dentro dos tufos e labirintos, seguiram para avistar o Capitão Lampião já vindo naquela direção.

Parou bem diante dos dois e primeiro falou com Mané Félix: “Vá lá na casa de Dona Guiomarina e me traga um bode. Leve esse dinheiro aqui e faça o acerto. O restante bote no bolso e compre uma sela nova. Brasinha me contou do estado de sua montaria, e um cabra como você não pode subir no pelo e osso do bicho não. Escolha uma a seu modo e depois traga aqui que quero ferrar e colocar uma estrela dourada do lado. Vai-te, homem de Deus...”.


E voltando-se pra Gameleira, olhando bem dentro do olho de pouca cor e sem brilho, foi dizendo: “Quer dizer que você agora deu pra atormentar meu juízo, não é seu velho de uma figa?”. Depois deu um sorriso, colocou a mão no ombro do sertanejo e prosseguiu:

“Precisa me falar sobre uma coisa homem. Já desde dois dias, desde aquele nosso último proseado que fiquei encafifado com uma coisa que você disse. Precisa me dizer tudinho sobre essa coisa de o homem é seu destino. Lembra que você disse essa frase, esse negócio de o homem é o seu destino antes de sair? Saiba que isso se entranhou na minha cabeça que não quer sair de jeito nenhum. E foi você que botou agora vai ter que tirar...”.

Gameleira pensou que era coisa mais difícil de resolver. Mas por outro lado sabia que não seria nada fácil explicar tudo certinho a um homem como Lampião, pessoa de opinião formada demais, intransigente naquilo que achava, sem dar muita brecha ao pensamento dos outros. Mas já que ele queria ouvir, então que fosse assim e desse no que desse. E assim seguiram até a beirada do rio, caminhando lentamente pelas suas margens.

“Então, Gameleira, que negócio é esse de o homem é seu destino? Explique tudo de uma vez que é pra não ficar reimosia no pensamento. É coisa boa ou ruim?”. E o velho coiteiro, apontando umas pedras para que sentassem, foi tentando explicar:

“Ainda bem que você não esqueceu o que eu disse, e vou repetir que o homem é seu destino. E nisso pode tanto ter um lado bom como um lado ruim. Tudo depende de você mesmo Capitão. É o próprio Capitão que vai dar sentido ao ditado. Agora ouça bem, preste bem atenção e responda na sua mente. Qual homem você é Capitão? É homem que gosta de viver nessa vida de medo, de dor e sofrimento, correndo de canto a outro, fugindo e reaparecendo, matando pra não morrer, dormindo ao relento e conversando com pedra e espinho, simplesmente por que gosta de viver assim? Ou é homem jogado nessa vida por força das circunstâncias, forçado a sair de casa e deixar a família, a pegar estrada, entrar na vida mais que perigosa que é essa cangaceira, e tudo por que o seu coração e o seu sentimento não deixariam você em paz se não fosse enfrentando as injustiças, os covardes que vivem espalhando o medo e a aflição nesses pobres sertanejos, todas as mazelas que querem transformar o nosso chão numa terra de ninguém e as pessoas carentes em bichos, em escravos, em submetidos aos desejos nefastos dos poderosos? Se o capitão está nessa vida sem ter compromisso com ela, então o seu destino não era esse. Talvez se sentisse bem vendendo fato na feira ou ferrando gado de coronel. Mas se está nessa estrada por que sente que sua luta é justa, é necessária, então o Capitão é homem que cumpre o seu destino. E foi por isso que eu disse que o homem é o seu destino...”.


“Então é isso, então...”. E o velho coiteiro nem deixou Lampião terminar para acrescentar: “Então o Capitão nasceu para ser assim, para viver essa vida, para enfrentar o que vier pela frente, pois assim a sua honra e coragem não se contentariam de outro modo. E mesmo que tombe lutando, ainda assim será o homem no seu destino, pois o homem é e sempre será o seu destino”.

Satisfeito, cada vez mais orgulhoso consigo mesmo, Lampião botou no bolso do amigo a feira do mês e em seguida perguntou o que seria, então, um homem sem ter destino. E o velho coiteiro simplesmente respondeu que é aquele cujo futuro cuidará de seu esquecimento.  

Poeta e cronista
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