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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

CASARÃO ANTIGO E O QUARTO ONDE LAMPIÃO O REI DO CANGAÇO DORMIU FLORES-PE

Por Sálvio Siqueira

No município de Flores-PE, ainda hoje existem resquícios da passagem dos bandos de cangaceiros.

Virgolino  Ferreira chefe cangaceiro natural de Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE, foi o último dos grandes chefes do fenômeno social e é um dos personagens mais biografados da América Latina.

No vídeo abaixo, veremos as imagens de um antigo casarão aonde o chefe cangaceiro se acoitava.

"Casarão antigo e o quarto onde Lampião, o rei do cangaço, dormiu em Flores - PE"

Uma produção "Canal Sertão Mamoeiro".

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A FELICIDADE NÃO SE COMPRA

*Rangel Alves da Costa

Quem possui sentimento de humildade, dificilmente estará apegado a bens ou coisas materiais. O ter significa apenas uma necessidade, não um luxo ou meio de ostentação.
Há pessoas, contudo, que forjam o ter como forma de demonstração de felicidade, de poder, de diferenciamento social. Mas aí as aparências servindo apenas para esconder os reais sentimentos.
E assim por que não há sorriso bonito sendo forjado, não há feição tomada de contentamento se o corpo e a alma estão apreensivos e descontentes, não há verdadeiro viver se a vida foi construída ou está sendo mantida sobre castelos de areia.
Somente é verdadeira a felicidade espontânea, nascida da conquista ou do reconhecimento de cada um de suas limitações. E para ser ato de normalidade, sem repentinos altos e baixos, o sentido da felicidade deve estar alicerçado na real valorização que cada um faz de si mesmo.
Ora, quando mascarada ou mantida em fingimento, a felicidade acaba se tornando um fardo a ser carregado. É possível mascará-la sempre? Nunca. Sorrisos dourados não significam nada. Se o coração não está sorridente e confortado, de nada adianta um rosto aberto e mãos brilhando de diamantes.
Carro de luxo não traz felicidade, anéis dourados não trazem felicidade, casarão de moradia não felicidade, ostentar que possui muito dinheiro e outras riquezas não traz felicidade.
Será que pode ser feliz aquele pobre casal que vive embrenhado nos cafundós do sertão? Será que traz consigo a felicidade aquela mocinha de chinelo barato no pé e vestido de chita? Será que encontra motivos de felicidades aquele rapazinho que sabe que tem pouco e por isso não vai além do que tem?


Sim. Ninguém vai ao supermercado comprar dois pacotes de felicidade, ninguém entra num banco para sacar um milhão de felicidades, ninguém entra numa loja chique para se vestir e revestir de felicidade. A felicidade não se compra.
Repita-se: a felicidade não se compra. A felicidade é como uma comunhão de aceitação de si mesmo com a negação daquilo que constantemente lhe é exposto para ser diferente. A felicidade é uma junção de humildade, de sabedoria, de nobreza da alma e de comedimento.
A felicidade é uma conquista que não precisa ser plantada para ser colhida, pois já florescendo dia após dia. A felicidade é ato de coração, de olhar, de palavra. Todo mundo conhece quem finge, quem mente, quem forja ser o que não é.
Muitas vezes, parece até um peso ruim e negativo estar ao lado de quem não é verdadeiro por viver revestido de ilusões de ser o que não é ou ter o que não possui. Outras vezes, uma pessoa carente se aproxima e é como um véu de alegria e de leveza boa se espalhe por todo lugar.
Ora, traz o bem no coração, chega com feição verdadeira, não traz consigo nada além do que o ser em si mesmo. Daí parecer ornada de luz, iluminada por dentro e por fora. E tornando o instante um prazeroso momento na vida.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

CARIRI CANGAÇO PAULO AFONSO-BA

Por João de Sousa Lima


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XVII JORNADA CULTURAL DO MUSEU DO SERTÃO.



DATA: 29 de agosto de 2020 (sábado).

HORÁRIO: 8 às 14 horas.

LOCAL: Salão de Eventos do Museu do Sertão (Estrada da Alagoinha, a 4 quilômetros de Mossoró).

P R O G R A M AÇÃO. 

8 horas - 

Missa de Ação de Graças, celebrada pelo Capelão da Marinha do Brasil (Rio de Janeiro), Padre Agostinho Justino dos Santos.

9:00 horas -

Lançamento do livro “Um Olhar sobre o Museu do Sertão“, de autoria do Professor Benedito Vasconcelos Mendes.

9:15 horas -

 Inauguração da Pinacoteca “Melquíades Pinto Paiva”.

 9:30 horas -

Inauguração da Cordelteca Sertaneja “Gutemberg Andrade”.

 9:45 horas -

Inauguração da Videoteca do Cangaço “Aderbal Nogueira”.

10:00: horas -

 Inauguração da Brinquedoteca Sertaneja “Susana Goretti”.

10:15 horas -

 Doação de 200 livros para o Núcleo Municipal de Educação Rural Elias Salem. O ex-Governador do Ceará, escritor Gonzaga Mota entregará à Diretora Maria Antônia de Lima Xavier, uma “Minibiblioteca Infanto-juvenil para Crianças e Jovens”.

 10:30 horas -

Interpretação do Hino Nacional Brasileiro, Hino do Museu do Sertão e  do forró Indulgência do Sertão pela Juíza de Direito da Comarca de Mossoró e Cantora Welma Menezes.

10:45 horas -

Entrega de Diplomas e Comendas à diversas personalidades.        

11:45 horas -

Visita aos Pavilhões do Museu do Sertão, guiada pelo Professor
Benedito Vasconcelos Mendes e pela Pedagoga Susana Goretti Lima Leite.

13:00 horas -

 Apresentações culturais e momento de lazer.

Enviado pelo diretor

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PROFESSOR BENEDITO LANÇA LIVRO EM TERESINA.


Por Benedito Vasconcelos Mendes

O livro “Vivências de um Menino em uma Fazenda Sertaneja”, de autoria do escritor sobralense/mossoroense Benedito Vasconcelos Mendes vai ser lançado em Teresina, capital do Estado do Piauí, na famosa Livraria Anchieta, às 19 horas do próximo dia 6 de março (sexta-feira)do corrente ano. A apresentação do livro será feita pelo destacado Engenheiro Agrônomo Sérgio Luiz de Oliveira Vilela. A competente Psicóloga e Psicanalista Analúcia Gomes Serpa e o Eminente assessor do Governo do Piauí Sérgio Vilela, que são amigos do autor do livro, estão usando os seus prestígios de proeminentes personalidades, para que o evento de lançamento do referido livro obtenha grande repercussão no meio cultural de Teresina.
                                                           
       
A dinâmica Psicóloga Francimary  Carvalho de Oliveira Mendes, a famosa Professora Noádia da Costa Lima e o Engenheiro Agrônomo Francisco Sérgio Moura Sales estão realizando um intensivo trabalho de divulgação do referido  lançamento. A Professora Noádia será a cerimonialista deste evento cultural . 
                                            
O Professor Benedito já residiu em Teresina,  quando  exerceu o cargo de Chefe Geral da EMBRAPA MEIO-NORTE (Piauí e Maranhão), oportunidade em que ele foi agraciado pela Assembleia Legislativa com o dignificante Diploma  de Cidadão do Estado do Piauí e recebeu a Medalha de Comendador do Governo Estadual, a mais importante Comenda do Estado,  a “Ordem do Mérito Renascensa do Piauí”.

Enviado pelo autor.

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LAMPIÃO: DO HOMEM À LENDA E SUA INFLUÊNCIA NA CULTURA POPULAR

Por Anildomá Willans de Souza

Olá, pessoal!

Uma palestra comigo - ANILDOMÁ WILLANS DE SOUZA - no dia 02 de março.


Vamos dar um mergulho no mundo mágico e místico do CANGAÇO.


Conto com você.
Saudações cangaceiras.


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CONVITE!



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O DIA QUE NAZARÉ COLOCOU LAMPIÃO PARA CORRER Parte 2

Por:Luiz Ferraz Filho
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Como dito antes, em meio ao cerco da Coluna Prestes e do bando de Lampião, muitos acreditavam que Nazaré do Pico dessa vez iria ser incendiada. Porém, naquela madrugada de 20 de fevereiro de 1926, a fina flor dos nazarenos se reuniram no povoado para combater até a morte. Da Fazenda Ipueira, bem cedinho Lampião seguiu com destino ao povoado onde chegou tocando corneta e atirando para todos os lados. O primeiro tiro em defesa partiu de Aureliano de Souza Nogueira (Lero Conrado, depois casado com uma irmã do coronel Theophanes Ferraz Torres), que se encontrava na calçada de Antônio Freire. Entraram aí os defensores da terra em feroz luta. Em pleno fogo, Odilon Flor perguntou com quem estavam brigando, se era com os revoltosos da Coluna Prestes ou com Lampião. Respondeu o bandido que era com o bando dele, animando ainda mais o valente Odilon Flor. Então, saltaram no meio da rua para combater os cangaceiros e o cancão piou. 

Ricardo Ferraz passa às mãos de Luiz Ferraz Filho o Diploma do Cariri Cangaço

Euclides Flôr partiu para a casa dele pensando que estava fazia sem ninguém. Chegando lá, encontrou o sogro Antônio Gomes Jurubeba e o primo João Jurubeba defendendo a casa. Dos fundos das casas, David Jurubeba brigava animado dizendo: - Eu pensava que estava brigando com homem, mas estou perdendo meu tempo brigando com um ladrão de bode de Zé Saturnino. O bandido ouvindo isso deu total carga no combate. A casa de Abel Thomaz estava sendo defendida por ele próprio e por Lúcio de Souza Nogueira. Por ser uma casa bem próxima da igreja, foi a mais atingida, pois os cangaceiros usavam a traseira da igreja para atirar em direção a casa. 

Em pleno fogo, Antônio Ferreira (irmão de Lampião) passava ao redor da casa de Gomes Jurubeba dizendo: - Velho Gomes, agora você vai tomar leite no inferno , que matamos seu gado todo e daqui a pouco você vai morrer sangrado. Na retaguarda, Euclides Flôr e Odilon Flôr comandavam as ações. Chegaram depois para reforçar João Domingos Ferraz, Manoel Jurubeba, David Jurubeba, Pedro Gomes de Lira, Hercilio Nogueira e Manoel Gomes de Lira. Vendo que a resistência dos nazarenos era uma verdadeira fortaleza, Lampião tocou a corneta para recuar e os cangaceiros saíram correndo em plena caatinga. Antônio Ferreira correu tanto que perdeu as alpercatas de couro.


Lampião com raiva da carreira que deu dos nazarenos, foi tocar fogo nas fazendas de Euclides Flôr, João Flôr, Afonso Nogueira e Praxedes Capistrano. De lá rumou ele a Serra do Pico, onde se escondeu para planejar um novo dia que retornaria para tentar tocar fogo em Nazaré. Do alto da serra, Lampião avistou ele a força do povo nazareno e nunca mais teve a ousadia de tentar entrar em Nazaré do Pico. Foi o dia que o povoado colocou Lampião para correr. (FIM...)

(FONTE:LIRA, João Gomes de, - Memorias de Um Soldado de Volante, Pág. 259-278; NETO, José Malta de Sá, - David Jurubeba Um Heroi Nazareno, Pág. 143-151).

Luiz Ferraz Filho, pesquisador
Serra Talhada, Pernambuco


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“ESTIVE COM A NAVALHA NO PESCOÇO DE LAMPIÃO” MAS OS “CAIBRAS” DO BANDIDO FICARAM EM VOLTA EMPUNHANDO OS RIFLES. SENSACIONAL NARRATIVA DO BARBEIRO QUE DEPOIS DE CORTAR OS CABELOS DE VIRGULINO FERREIRA, FUGIU APAVORADO, PARA O RIO


Do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho



Rua do Acre, nº 11. Aí funciona um modesto salão de barbeiro. Meia dúzia de “fígaros” se entregava afanosamente a escanhoar os rostos de outros tantos fregueses. O “carioca-repórter” havia prestimosamente informado que ali encontraríamos algo de interessante, com relação a Lampião. Por isso, um repórter, cujas barbas ainda não haviam sido raspadas, ali foi ter e ficou à espera de ser atendido. Enquanto passava o tempo, como de propósito, alguém falou sobre a morte de Virgulino Ferreira. 

Dizia: 

- Na verdade, jamais acreditei que Lampião existisse de fato. Julgo tudo uma balela! 

Replicando-lhe, um dos oficiais falou: 

- Isso o senhor pensa. Mas Lampião era mesmo um cangaceiro. Pelo menos temos aqui um colega que já teve ensejo de vê-lo pessoalmente, aliás, com muito desgosto, pois é por temos de Lampião que ele veio para o Rio.O repórter aguçou os ouvidos. Encontrava mais facilmente do que pensava o assunto importante que motivava a sua presença no salão.Agora, o homem descrente também mostrava curiosidade e quis saber quem era Lampião. Não foi difícil. O barbeiro não fez segredo e respondeu prontamente, à primeira interpelação:

- É aquele. E apontou para um rapaz, tipo nortista, também entregue ao trabalho de cortar o cabelo a um freguês.

O HOMEM QUE FEZ A BARBA E CORTOU O CABELO DE LAMPIÃO E SEUS SEQUAZES.

Nesse momento o repórter julgou azada a sua intervenção. Fê-lo de maneira a provocar mais celeuma em torno do assunto e forçar o esclarecimento de novos detalhes.O barbeiro que havia apontado seu colega, de fato, prontamente ajuntou:- Olha, moço, o João de Deus Aragão é baiano e algumas vezes nos falou a respeito de seu encontro, dizendo mesmo que havia sido forçado a fazer a barba de Lampião e seus sequazes. Não foi mesmo, Aragão? – perguntou ao indicado, como a querer confirmação do que afoitamente narrara.O outro não parecia muito inclinado a falar sobre o assunto e apenas respondeu:- É.Insistimos.- Para que falar nisso?- E por que não? Não tenha receio: Lampião está mesmo morto...João de Deus Aragão sorriu e aquiesceu, então, em fazer-nos a narrativa.- Foi em 1928 que o fato se verificou – começou. Morava eu então na fazenda Vaz Salgado, Vila do Amparo, no estado da Bahia, onde tinha o meu salão. Nessa época, em certa manhã, cerca de 8 de 30 horas, subitamente a localidade foi invadida por um grupo numeroso de homens montados a cavalo, fartamente municiados. Prontamente foram reconhecidos como sendo bandidos de Lampião, o já famoso “terror do cangaço”. Com ele vinham, entre outros cangaceiros, os não menos temíveis “Corisco” e “Esperança”, bem como um cunhado de Virgulino Ferreira, conhecido por Modesto. A guarnição policial, composta de sargento e três praças, trataram de fugir, logo que circulou a notícia da aproximação dos facínoras, certos de que se ali permanecessem, seriam exterminados sanguinariamente, dado o já proverbial ódio que Lampião tinha aos “macacos”, como chamava aos elementos da polícia.Penetrando na pequena vila, Lampião tomou de surpresa a coletoria local, cujo coletor de então, Sr. Antônio Gonzaga Leite, e o escrivão Vicente Ferreira de Castro se submeteram sem a menor resistência. O chefe político de Amparo, Sr. Melchiades Rodrigues da Silva, já a esse tempo havia também deixado sua residência, indo para Ribeirão do Amparo.

EMOÇÃO QUE SE RENOVA

Tomando posse do dinheiro existente na repartição, Virgulino intimou o coletor a mandar preparar o almoço para ele e sua gente, de que se incumbiu a família do mesmo funcionário, todos temerosos de uma vingança, se não aquiescessem.Depois disso, Lampião mandou chamar-me. Dois “caibras” compareceram até onde eu me encontrava e me levaram em sua companhia. Sentia um pavor indescritível, mas que podia fazer?Nesse momento João de Deus Aragão interrompeu sua descrição. Olhamo-nos mais fixamente e notamos que uma extraordinária palidez estava estampada em sua face. Percebemos que ainda eram profundas as recordações que guardava daqueles instantes de emoção e pavor que então passara.Controlando-se, e à insistência de todos que ali se encontravam ouvindo atentamente a narrativa, prosseguiu o barbeiro:- Quando cheguei à sua presença, Lampião ordenou-me: - “Vá para a sua barbearia e prepare as ferramentas, porque vai atender a mim e aos meus “caibras”.Mais horrorizado ainda, ante essa perspectiva, à qual não podia e nem tinha coragem para fugir, tratei de cumprir o mandado. Ajeitei tudo direitinho, apesar de que o medo fez-me cair o pincel e a bacia em que a espuma era feita. Fiquei esperando. A demora foi pequena, mas pareceu-me que séculos haviam se passado até quando o bando transpôs os umbrais do salão, tendo à frente o seu temível chefe, seguido de perto por “Volta Seca”. Este era ainda rapazola, encarregado de tomar conta da cavalhada, mas já demonstrava o que seria breves dias depois.Novo intervalo se fez na narrativa, logo a seguir retomada:- Lampião entrou. Deixou sua arma encostada a um canto, mas não quis tirar senão o chapéu, conservando as cartucheiras, a “lambedeira” e outros muitos petrechos que conduzia em volta do tórax. Os outros cangaceiros, porém, ficaram ao meu redor, com regular distância, todos de arma em punho, prontos a atirar em mim na hipótese de que pudesse dar um golpe em falso. Mesmo que eu quisesse, assim, sob a pontaria dos facínoras, não me atreveria a tentar qualquer gesto suspeito. Entretanto, quase que cometia uma fala involuntária. É que sentia as pernas trôpegas e tremor incontrolável no corpo, até as mãos.Percebendo o que se passava, Virgulino disse-me:Está com medo, “mestre”?E acrescentou:- Não tenha receio, que aqui ninguém lhe fará mal...Empregando toda a minha vontade, consegui cumprir a tarefa. Aparei os cabelos de Lampião, que ele trazia muito compridos, deixando-os à altura da nuca, fazendo-lhe ainda a barba. Quando terminei, entregando-me uma cédula, com grande admiração minha, o facínora falou-me:- Toma esses 20$000 pelo serviço meu e do meu pessoal.Deixei o dinheiro sobre a banqueta, receoso de conservá-lo na gaveta e menos ainda no bolso. A seguir, continuei o trabalho, atendendo a todos os “caibras” que se iam revezando, enquanto Lampião caminhava para a porta e mandava que a multidão ali postada – toda formada de gente humilde – se afastasse. E gritou para os curiosos:- Vão saindo daqui. Está muito calor. É claro que não foi preciso nova ordem. Todos, num relance, deixaram o local, amedrontados.

FUGIU E NEM QUIS ALMOÇAR

- As pessoas importantes da vila não quiseram ver “Lampião”? – perguntamos. 

- Qual o quê – retrucou prontamente João de Deus. Fugiram todas, logo que souberam que o “capitão” estava em Amparo. E o homem que afirma ter estado com a navalha no pescoço de “Lampião” prossegue:

- Quando acabei o serviço, os cangaceiros deixaram-me sozinhos, partindo para outros pontos da vila, a fim de se apoderarem de tudo quanto ali encontraram, que representava valor e de fácil condução, como joias, dinheiro e um cavalo. Logo que os vi distantes, tratei de correr para a casa de minha mãe, Maria das Mercês Eliot, que ainda vive no Amparo. Apesar da insistência dessa, não quis almoçar. Apanhei imediatamente minha mala, com umas poucas pelas de roupa, deixando a Vila e indo para o lugar denominado Bando de Cipó, com a mala às costas, tomei um caminhão que ia para os lados de Ilhéus. Dormi uma noite inteira na sarjeta, mas na manhã seguinte continuei a marcha para São Salvador, de onde, em 1934, vim para aqui. Havia ele encerrado sua palpitante narrativa, mas ainda lhe fizemos uma pergunta:- Nunca mais voltou à sua terra, para rever os pais e amigos?João de Deus Aragão tinha um relâmpago nos olhos quando nos respondeu:- Nunca. É ainda muito viva a impressão daqueles momentos de pavor, para que eu lá retornasse.

“A NOITE” (RJ) - 30/07/1938.

O barbeiro João de Deus, em foto ilustrativa da matéria, esta, parte integrante da série de publicações produzidas pelo jornal carioca imediatamente após a morte de Lampião.


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A VOZ DE LAMPIÃO


Por Antônio Corrêa Sobrinho

Sabemos que a voz e o modo como falamos são um dos grandes identificadores do ser humano, além de constituir um dos meios mais eficazes de comunicação. A voz é mais distintiva do que mesmo as impressões digitais, porque faz mais do que identificar, ela diz do nosso íntimo, como estamos passando, diz do nosso caráter, pois é um porta-voz, um instrumento de expressão da mente.


LAMPIÃO, não obstante as muitas pesquisas e biografias a seu respeito, informações sobre sua estatura, cor, cabelo, tipo físico, à farta para todos os gostos, jamais li algo sobre o tipo de sua voz, salvo e unicamente o contido na nota oficial do governo da Bahia, publicada em jornal em janeiro de 1929: “O governo do Estado da Bahia oferece prêmio de 50 contos de réis à pessoa que conseguir capturar Lampião ou abatê-lo, devendo comunicar incontinenti o fato à autoridade mais próxima. Sinais de Virgulino Ferreira: 28 anos, estatura média, cabra, voz afeminada, cogote raspado, óculos escuros, conversa galhofeira relatando sempre suas façanhas e nunca encobre a sua identidade”.

A voz de LAMPIÃO. Era fina, média, grave? Seu tom de voz era alto, médio, baixo? Seu falar era ligeiro ou lento, pausado ou corrido?


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LAMPIÃO NOS SERTÕES DE PERNAMBUCO

Material do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho
*Salvo melhor informação, Rio Branco é o atual município de Arcoverde. - Imagem extraída de O JORNAL (RJ), de 12.09.1926.

O terrível facínora, terror do Nordeste, prepara o assalto a Rio Branco.

As populações alarmadas defendem de arma na mão a vida e a propriedade.

Notícias de Rio Branco, no sertão de Pernambuco, trazem informes da situação de pavor em que se encontra aquela vila, sob a ameaça de ataque dos facínoras dirigidos por Lampião, que se tornou em toda a zona sertaneja do Nordeste um nome mais temido do que foi anos atrás o famoso Antonio Silvino.

As notas, que temos à mão, pintam-nos uma situação de pavor, não entrando na sua composição nenhuma expressão de exagero.

Há o relato simples de atrocidades e, sobretudo, vivamente reproduzida, à sombria impressão que a aproximação do bandoleiro determina no espírito timorato das populações.

O bandido faz-se anunciar por uma série de assaltos, roubos, mortes, desrespeito à propriedade alheia e à individualidade das senhoras, bastando a encher de maus augúrios todos quantos se julgam sob a ameaça da sua presença incomoda.

O povo sertanejo é de natural simplório e dado à crendice, de sorte que os feitos desses vultos sinistros crescem facilmente e se distendem na sua imaginativa, tomando proporções de horrores. Não fosse, assim, formada a sua alma, entretanto, e o pânico seria fatalmente o mesmo, porque Lampião, agindo sob a discreta proteção de alguns fazendeiros e autoridades, que desvirtuam dessa maneira o seu papel, enche facilmente o espírito daquele povo com o relato que o precede das incríveis truculências e barbaridades praticadas todos os dias e já hoje tornadas lendárias, numa imensa zona do Brasil interior.

A noite de 17 para 18 de agosto, por exemplo, foi de sinistros presságios para o povo de Rio Branco. O vilório sabia que Lampião, conduzindo perto de 100 facínoras, bem municiados e bem montados, aproximava-se da vila, pronto a assaltá-la, para se fazer em campo na manhã seguinte.

Foi, pois, uma noite passada em claro, sob a impressão de que o bando sinistro se achava a oito léguas de distância.

A população de Rio Branco pegou em armas, desde o mais humilde cidadão às pessoas de maior destaque da localidade, empenhadas na defesa do lar e da vida. O médico Dr. Luiz Coelho, o juiz de direito da comarca de Buíque, Dr. Roma, ali a passeio, o gerente do banco, o tenente coronel Justino, o capitão José Bezerra da Silva, todas as pessoas as mais influentes da vila, tomaram a frente dos homens que se puseram à sua defesa, a fim de encorajar a população alarmada.

E parece que essa resistência impressionou o bandoleiro, porque apesar de estar a oito léguas do Rio Branco, Lampião não se encorajou a atacá-la, prosseguindo noutra direção os seus crimes. Entretanto, essa resolução pouco serviu a Rio Branco, porque, alarmado como estava, o povo preferiu continuar militarizado, temendo a cada momento um assalto que apenas, no seu julgamento, fora, por circunstâncias momentâneas transferido.

Assim pensando, é fácil avaliar os prejuízos advindos para o pequeno comércio local e toda a vida, em suma, do lugarejo rústico, que permanecia até os últimos dias de agosto inteiramente suspensa, na ameaça de que os bandoleiros a qualquer momento repontassem.


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MANCHETE NO DIÁRIO DA MANHÃ DO RECIFE, DIA 14 DE JUNHO DE 1927. HONTEM, ÁS 15 HORAS, LAMPIÃO ATACOU A CIDADE DE MOSSORÓ, ENCONTRANDO RESISTENCIA

Material do acervo do pesquisador José João Souza


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