Material do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho
*Salvo melhor informação, Rio Branco é o atual município de Arcoverde. - Imagem extraída de O JORNAL (RJ), de 12.09.1926.
O terrível
facínora, terror do Nordeste, prepara o assalto a Rio Branco.
As populações
alarmadas defendem de arma na mão a vida e a propriedade.
Notícias de
Rio Branco, no sertão de Pernambuco, trazem informes da situação de pavor em
que se encontra aquela vila, sob a ameaça de ataque dos facínoras dirigidos por
Lampião, que se tornou em toda a zona sertaneja do Nordeste um nome mais temido
do que foi anos atrás o famoso Antonio Silvino.
As notas, que
temos à mão, pintam-nos uma situação de pavor, não entrando na sua composição
nenhuma expressão de exagero.
Há o relato
simples de atrocidades e, sobretudo, vivamente reproduzida, à sombria impressão
que a aproximação do bandoleiro determina no espírito timorato das populações.
O bandido
faz-se anunciar por uma série de assaltos, roubos, mortes, desrespeito à
propriedade alheia e à individualidade das senhoras, bastando a encher de maus
augúrios todos quantos se julgam sob a ameaça da sua presença incomoda.
O povo
sertanejo é de natural simplório e dado à crendice, de sorte que os feitos
desses vultos sinistros crescem facilmente e se distendem na sua imaginativa,
tomando proporções de horrores. Não fosse, assim, formada a sua alma,
entretanto, e o pânico seria fatalmente o mesmo, porque Lampião, agindo sob a
discreta proteção de alguns fazendeiros e autoridades, que desvirtuam dessa maneira
o seu papel, enche facilmente o espírito daquele povo com o relato que o
precede das incríveis truculências e barbaridades praticadas todos os dias e já
hoje tornadas lendárias, numa imensa zona do Brasil interior.
A noite de 17
para 18 de agosto, por exemplo, foi de sinistros presságios para o povo de Rio
Branco. O vilório sabia que Lampião, conduzindo perto de 100 facínoras, bem
municiados e bem montados, aproximava-se da vila, pronto a assaltá-la, para se
fazer em campo na manhã seguinte.
Foi, pois, uma
noite passada em claro, sob a impressão de que o bando sinistro se achava a
oito léguas de distância.
A população de
Rio Branco pegou em armas, desde o mais humilde cidadão às pessoas de maior
destaque da localidade, empenhadas na defesa do lar e da vida. O médico Dr.
Luiz Coelho, o juiz de direito da comarca de Buíque, Dr. Roma, ali a passeio, o
gerente do banco, o tenente coronel Justino, o capitão José Bezerra da Silva, todas
as pessoas as mais influentes da vila, tomaram a frente dos homens que se puseram
à sua defesa, a fim de encorajar a população alarmada.
E parece que
essa resistência impressionou o bandoleiro, porque apesar de estar a oito
léguas do Rio Branco, Lampião não se encorajou a atacá-la, prosseguindo noutra
direção os seus crimes. Entretanto, essa resolução pouco serviu a Rio Branco,
porque, alarmado como estava, o povo preferiu continuar militarizado, temendo a
cada momento um assalto que apenas, no seu julgamento, fora, por circunstâncias
momentâneas transferido.
Assim
pensando, é fácil avaliar os prejuízos advindos para o pequeno comércio local e
toda a vida, em suma, do lugarejo rústico, que permanecia até os últimos dias
de agosto inteiramente suspensa, na ameaça de que os bandoleiros a qualquer
momento repontassem.
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