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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

LAMPIÃO NOS SERTÕES DE PERNAMBUCO

Material do acervo do pesquisador Antônio Corrêa Sobrinho
*Salvo melhor informação, Rio Branco é o atual município de Arcoverde. - Imagem extraída de O JORNAL (RJ), de 12.09.1926.

O terrível facínora, terror do Nordeste, prepara o assalto a Rio Branco.

As populações alarmadas defendem de arma na mão a vida e a propriedade.

Notícias de Rio Branco, no sertão de Pernambuco, trazem informes da situação de pavor em que se encontra aquela vila, sob a ameaça de ataque dos facínoras dirigidos por Lampião, que se tornou em toda a zona sertaneja do Nordeste um nome mais temido do que foi anos atrás o famoso Antonio Silvino.

As notas, que temos à mão, pintam-nos uma situação de pavor, não entrando na sua composição nenhuma expressão de exagero.

Há o relato simples de atrocidades e, sobretudo, vivamente reproduzida, à sombria impressão que a aproximação do bandoleiro determina no espírito timorato das populações.

O bandido faz-se anunciar por uma série de assaltos, roubos, mortes, desrespeito à propriedade alheia e à individualidade das senhoras, bastando a encher de maus augúrios todos quantos se julgam sob a ameaça da sua presença incomoda.

O povo sertanejo é de natural simplório e dado à crendice, de sorte que os feitos desses vultos sinistros crescem facilmente e se distendem na sua imaginativa, tomando proporções de horrores. Não fosse, assim, formada a sua alma, entretanto, e o pânico seria fatalmente o mesmo, porque Lampião, agindo sob a discreta proteção de alguns fazendeiros e autoridades, que desvirtuam dessa maneira o seu papel, enche facilmente o espírito daquele povo com o relato que o precede das incríveis truculências e barbaridades praticadas todos os dias e já hoje tornadas lendárias, numa imensa zona do Brasil interior.

A noite de 17 para 18 de agosto, por exemplo, foi de sinistros presságios para o povo de Rio Branco. O vilório sabia que Lampião, conduzindo perto de 100 facínoras, bem municiados e bem montados, aproximava-se da vila, pronto a assaltá-la, para se fazer em campo na manhã seguinte.

Foi, pois, uma noite passada em claro, sob a impressão de que o bando sinistro se achava a oito léguas de distância.

A população de Rio Branco pegou em armas, desde o mais humilde cidadão às pessoas de maior destaque da localidade, empenhadas na defesa do lar e da vida. O médico Dr. Luiz Coelho, o juiz de direito da comarca de Buíque, Dr. Roma, ali a passeio, o gerente do banco, o tenente coronel Justino, o capitão José Bezerra da Silva, todas as pessoas as mais influentes da vila, tomaram a frente dos homens que se puseram à sua defesa, a fim de encorajar a população alarmada.

E parece que essa resistência impressionou o bandoleiro, porque apesar de estar a oito léguas do Rio Branco, Lampião não se encorajou a atacá-la, prosseguindo noutra direção os seus crimes. Entretanto, essa resolução pouco serviu a Rio Branco, porque, alarmado como estava, o povo preferiu continuar militarizado, temendo a cada momento um assalto que apenas, no seu julgamento, fora, por circunstâncias momentâneas transferido.

Assim pensando, é fácil avaliar os prejuízos advindos para o pequeno comércio local e toda a vida, em suma, do lugarejo rústico, que permanecia até os últimos dias de agosto inteiramente suspensa, na ameaça de que os bandoleiros a qualquer momento repontassem.


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