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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

JOSÉ MARIA MADRID - RADIALISTA DE MOSSORÓ.

  Por: José Mendes Pereira

Dom Gentil Diniz Barreto bispo de Mossoró, Alcides Belo ex-prefeito de Mossoró e o radialista José Maria Madrid - aparece de bigode - todos já falecidos. Foto: http://telescope.blog.uol.com.br

Foi um dos melhores e mais competentes radialistas de Mossoró. Tinha uma voz assustadora, mas na verdade, só a sua voz. José Maria Madrid era uma verdadeira criança. Educadíssimo, amigo dos amigos.

Conheci o Zé Maria Madrid nos anos 70, quando ele veio trabalhar na Rádio Difusora de Mossoró. Enquanto ele era empregado na rádio, eu trabalhava na Editora Comercial S/A, na mesma sociedade dos Cine Caiçara, Cine Jandaia e Cine Miramar de Areia Branca, além da Rádio Difusora de Areia Branca, cujos sócios eram:

Renato Costa é o nº. (1). O nº. (2) é Bibil Gurgel - proprietário do Banco S. Gurgel em Mossoró - ambos já falecidos - Foto: http://telescope.blog.uol.com.br

José Renato Costa, Dr. Paulo Gutemberg de Noronha Costa, irmão do primeiro, Milton Nogueira do Monte e José Genildo de Miranda; quatro homens que muito souberam respeitar os seus empregados. 


Carlos Augusto Rosado e José Genildo de Miranda, já falecido.
Foto: http://telescope.blog.uol.com.br

Nenhum de nós que teve a oportunidade de trabalhar com estes homens, se falar mal de um deles ou de todos, é porque gosta mesmo de denegrir a imagem de qualquer ser humano.

Dr. Paulo Gutemberg era um homenzarrão, de andar apressado, de olhos azuis, alto, de cor clara, aparentando o fundador de Brasília, o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubitscheck. Era advogado e chegou a ser promotor de justiça.

José Renato, filho de Renato Costa e sobrinho de Paulo Gutemberg - suicidou-se - Nilo Santos e Paulo Gutemberg - ambos faleceram de enfarto. Foto: http://telescope.blog.uol.com.br

Renato Costa, Dr. Paulo Gutemberg e Genildo Miranda, os três, tinham um respeito enorme pela pessoa de Milton Nogueira do Monte que era diretor sócio da sociedade, igualmente nós, operários. A paciência que tinha seu Milton, a maneira que ele falava com qualquer ser humano, por mais ignorante que fosse o sujeito, ele evitaria ter qualquer desentendimento com seu Milton Monte. 

Zé Maria Madrid como era chamado pelos seus amigos e por nós todos que trabalhávamos na sociedade, tinha uma facilidade para decorar os textos que seriam lidos na Rádio, no horário do jornal, ao meio dia. Bastava ele ler uma vez, já sabia tudo sobre o assunto, e nem precisava mais das laudas para ler as notícias.

Eu sempre estava ali no estúdio com ele, esperando o horário que a Editora Comercial S. A. abrisse as suas portas para nós, funcionários cumprirmos as nossas obrigações como empregados.  Ele iniciava a leitura das notícias que eram escritas pela o redator José de Arimatéia. E o  que me chamava a atenção, era a facilidade que tinha o Madrid de ler. Eu pegava a lauda que ele lia no momento, e colocava de ponta cabeça (digamos assim), e sem nenhuma dificuldade, lia..

Zé Maria gostava da diversão nos bares, e tive oportunidade várias vezes de participar da sua mesa, lá no bar da Dona Neci, na Rua Frei Miguelinho, com o cruzamento da Rua Tiradentes, vizinho a antiga Sambra, esta sendo uma algodoeira, onde hoje funciona um Chopp.

A SAMBRA funcionava neste prédio. Foto: http://telescope.blog.uol.com.br

Nesse tempo, eu ainda era solteiro, e como havia saído da instituição escolar, a qual eu vivi oito anos, mas já estava vivendo de favores, por já ter passado dos dezoito anos, fui morar no Sindicato da Lavoura de Mossoró.
 
Geralmente, nós nos encontrávamos no bar citado acima. Eu já era freguês de meses, e Zé Maria Madrid, antes de começar o seu trabalho do meio dia, sempre estava no bar para ingerir algumas pingas, e vez por outra, o nosso patrão, Dr. Paulo Gutemberg nos visitava, fazendo parte do nosso almoço.

https://reticenciasculturais.com.br/2022/07/de-1908-a-2008-um-passeio-pelo-passado-do-cinema-no-pais-de-mossoro/

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Que falta faz o meu amigo José Maria Madrid, de voz assustadora, mas um verdadeiro cordeiro, amigo, educado e prestativo para com os que faziam partes do seu círculo de amizade. 

Adeus, amigo Madrid! Um dia todos nós iremos ao seu encontro. A estrada poderá ser outra, mas o caminho será exatamente o que você foi.

Faça uma visitinha a este site:
http://cantocertodocangaco.blogspot.com

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1921 OS PRIMÓRDIOS DA SAGA DE LAMPIÃO

 Por Rostand Medeiros


AINDA VIVE O HOME M QUE EM 1921 SEPULTOU O PAI DE LAMPIÃO
Diário de Pernambuco , 29 de março de 1973, Terceiro Caderno, Página 3.
Pesquisa – Tadeu Rocha / Fotos José Valdério
Diário de Pernambuco, 29 de março de 1973, 
Terceiro Caderno, Página 3.
Num velho casarão alpendrado de uma fazenda sertaneja, em plena caatinga pernambucana do Município de Itaíba reside o ancião Maurício Vieira de Barros, que em maio de 1921 sepultou o pai de Lampião, morto por uma força volante da Policia alagoana. Nos seus bem vividos e muito sofridos 86 anos de idade, ele viu e também fez muita coisa, por esse Nordeste das caatingas e das secas, dos beatos e dos cangaceiros, dos soldados de verdade e dos coronéis da extinta Guarda Nacional.
O Sr. Maurício Vieira de Barros nasceu em 2 de abril de 1886, Na casa dos seus 30 anos, foi Subcomissário de Polícia no Estado de Alagoas e, na dos 40, chegou ao posto de Sargento na Polícia Militar de Pernambuco. Depois, respondeu a dois júris por excesso de autoridade e, desde 1955, está vivendo uma velhice descansada no Sítio dos Meios, em companhia de sua filha Dona Jocelina Cavalcanti de Barros Freire.

Se não fossem as ouças, que já estão fracas, o velho Maurício não aparentaria os seus quase 87 anos, pois ainda caminha com passo firme e guarda boa lembrança dos fatos de sua mocidade e maturidade. 

Ele é, agora, a derradeira testemunha viva do início de uma tragédia sertaneja: a transformação do cangaceiro manso Virgulino Ferreira em bandido profissional que convulsionaria os sertões nordestinos durante 17 anos.
Casa do Sítio do Meio em 1973.
UM ATOR NO PROSCÊNIO

A primeira indicação do Sr. Maurício Vieira de Barros como a autoridade policial que sepultou o pai de Lampião nos foi dada, há mais de 20 anos, pelo Major Optato Gueiros, no segundo capítulo do seu livro sobre Virgulino Ferreira. 

O autor das “Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes” ouviu o relato da morte de José Ferreira da boca do próprio Virgulino, nos começos da década de 1920, quando Lampião ainda era um simples cabra de Sinhô Pereira. 

Optato Gueiros também informa que, anos mais tarde, Lampião poupou a vida de Maurício, no povoado de Mariana, em gratidão pelo sepultamento de seu pai.
Maurício Vieira de Barros sendo entrevistado pelo professor e escritor Tadeu Rocha e acompanhado de Bruno Rocha.
Nos meados de dezembro do ano passado, após concluirmos que não foi feito, absolutamente, o registro dos óbitos de Sinhô Fragoso e do pai de Lampião (mortos na primeira “diligência” da volante do Tenente Lucena), julgamos necessário ouvir o Sr. Maurício Vieira de Barros, que nos constou ainda estar vivo e residir para os lados das cidades de Águas Belas ou Buíque. Somente o antigo policial que sepultou os dois cadáveres poderia revelar-nos a data precisa da morte de José Ferreira.

NO RASTO DA TESTEMUNHA

Após consultarmos inúmeras pessoas sobre o paradeiro do ancião Maurício de Barros, afinal soubemos do Sr. Audálio Tenório de Albuquerque que esse seu compadre estava morando na fazenda Sítio dos Meios, no Município de Itaíba. Rumando para Águas Belas, entramos em contato com os nossos parentes do clã dos Cardosos, entre os quais fomos encontrar o jovem veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, neto do velho Maurício, por parte de pai.
Notícia do ataque dos cangaceiro ao lugar Pariconha em 1921, 
hoje município alagoano distante 354 km de Maceió.
Na tarde quente do dia 17 de janeiro, em companhia do veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, do fotógrafo José Valdério e do jovem estudante Bruno Rocha, deixamos a cidade de Águas Belas pela rodovia PE—300, na direção de Itaíba. Após cruzarmos o rio Ipanema e o riacho Craíbas. Pegamos uma estrada vicinal, por onde atingimos, dificilmente, o Sítio dos Meios, a uns 2.5 km de Águas Belas, a outros tantos de Itaíba e a 9 da cidade alagoana de Ouro Branco.

Fomos encontrar o velho Maurício no alpendre do casarão da fazenda de sua filha, jovialmente vestido de blusão de mangas compridas c calçado com sandálias havaianas. A presença do seu neto Ricardo e a delicadeza de sua filha Dona Jocelina permitiram-nos conversar longamente com o Sr. Maurício Vieira de Barros. O fotógrafo Jose Valdério documentou a nossa visita e o estudante Bruno Rocha gravou a nossa conversa.
Lampião nos primeiros anos.
SUBCOMISSÁRIO SEPULTA DOIS MORTOS

O Sr. Maurício Vieira de Barros  já exercia o cargo de Subcomissário de Polícia da cidade de Mata Grande, em maio de 1921, quando o Bacharel Augusto Galvão, Secretário do Interior e Justiça de Alagoas na segunda administração do Governador Fernandes Lima, enviou ao sertão uma força volante da Polícia, sob o comando do 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, a fim de dar combate ao banditismo. Antes que essa força chegasse ao sertão, os cangaceiros saquearam o povoado de Pariconha, na tarde de 9 de maio. Logo que a volante do Tenente Lucena atingiu seu destino, cuidou de prender os participantes desse saque, entre os quais estavam os irmãos Fragoso e os irmãos Ferreira, residentes no lugar Engenho Velho. A volante cercou a casa dos Fragoso e do tiroteio resultou a morte de José Ferreira e Sinhô Fragoso, ficando baleado Zeca Fragoso e saindo ileso Luís Fragoso.

Avisado em Mata Grande das mortes ocorridas no Engenho Velho, o Subcomissário Maurício de Barros dirigiu-se a esse lugar e fez transportar, em redes, os dois cadáveres para a povoação de Santa Cruz do Deserto, em cujo o cemitério os sepultou. O fato de José Ferreira e Sinhô Fragoso terem sidos deixados mortos por uma “diligência” da Polícia Militar de Alagoas levou o Subcomissário de Mata Grande a enterrá-los no cemitério mais próximo.
DATA DA MORTE DO PAI DE LAMPIÃO

Na breve história de 17 anos, qual foi a do cangaceiro Virgulino Ferreira (que se fez bandido profissional em 1921 e foi eliminado em 1938), existem erros de datas de mais de um ano, como no caso da morte de seu pai pela volante do Tenente Lucena. Tem-se escrito que esse fato aconteceu em abril de 1920, o que não corresponde, em absoluto, à verdade histórica.

Ao que apuramos no Arquivo Público e Instituto Histórico de Alagoas, 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão foi nomeado Comissário de Polícia da cidade alagoana de Viçosa em 10 de abril de 1920, assumiu o exercício do cargo logo no dia 15 e permaneceu nessa comissão até princípios de maio do ano seguinte. Ele ainda assinou ofício na qualidade de Comissário de Viçosa em 28 de abril de 1921. No dia 4 de maio esteve no Palácio do Governo, em Maceió. E no dia 10 desse mês, deixava Palmeira dos índios “com destino ao sertão”, estando “acompanhado de um contingente de 24 praças”, conforme registrou o seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.
Nota sobre a volante do Tenente Lucena no seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.
Viajando a pé, a volante do Tenente Lucena só alcançou o sertão ocidental de Alagoas uma semana mais tarde. Por isso mesmo, sua “diligência” no Engenho Velho somente pode ter ocorrido nos começos da segunda quinzena de maio de 1921. O Sr. Mauricio de Barros não se recorda mais da data do sepultamento dos mortos pela “diligência” no Engenho Velho. Lembra-se, porém, que foi numa quinta-feira. Ora, a primeira quinta-feira da segunda quinzena de maio de 1921 caiu no dia 19, o que permitiu ao Correio da Tarde, de Maceió, publicar no fim desse mês uma carta de Mata Grande, sobre os acontecimentos do Engenho Velho. A esse tempo, os estafetas do Correi levavam, a cavalo, três dias entre as cidades de Mata Grande e Quebrangulo, de onde as malas postais seguiam de trem para Maceió.  
Detalhe da carta enviada de Mata Grande e publicada no final do mês de maio de 1921 pelo jornal Correio da Tarde, de Maceió, sobre os acontecimentos do Engenho Velho.   
EPISÓDIO MUITO CONTROVERTIDO

Sempre foram muito controvertidas as circunstâncias da morte do pai de Lampião. Na primeira entrevista que concedeu a um jornal (o recifense Diário da Noite, de 3 de agosto de 1953), o Sr. João Ferreira, irmão de Virgulino, declarou o seguinte sobre a morte de seu pai: “Findo o tiroteio, seguido pelo abandono do local pela tropa, eu o fui encontrar sem vida, caído sobre um cesto, tendo às mãos uma espiga de milho, que estava debulhando, ao morrer”.

Por seu turno, parentes e amigos do Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão costumam dizer que o velho José Ferreira resistiu à Polícia, atirando de dentro da casa dos Fragoso. Parece-nos que há engano em ambas as versões, pois o Sr. Maurício Vieira de Barros nos disse que encontrou o cadáver do pai de Lampião no terreiro da casa dos Fragosos.
O Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, 
comandante da desastrada volante que matou o pai de Lampião.
Este depoimento se harmoniza com o informe que nos deu o Sargento reformado Euclides Calu, residente em Mata Grande, e a história que contava o velho Manoel Paulo dos Santos, Inspetor de Quarteirão no Engenho Velho, ao tempo da morte do pai de Lampião. História que nos foi transmitida por seu filho Gabriel Paulo dos Santos e pelo magistrado alagoano Dr. Dumouriez Monteiro Amaral.
O informe do velho Calu e a história contada pelo velho Manoel Paulo referem que José Ferreira foi morto durante o tiroteio do Engenho Velho, quando ia tirar leite em um curral. De fato, o cerco da casa da casa dos Fragosos foi feito ao amanhecer do dia 19 de maio de 1921. E o tiroteio que se seguiu e vitimou José Ferreira ocorreu “antes do café da manhã de um dia muito chuvoso”, como declarou, textualmente, João Ferreira, na citada entrevista a um jornal recifense. E não há dúvida que o Inspetor de Quarteirão Manoel Paulo dos Santos foi a testemunha mais isenta de paixões no episódio da morte do pai de Lampião.

Pescado no essencial Tok de História

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NO RASTRO DOS CABRAS - Tenente Alfredo e o cangaceiro Moreno

 Por Luís Bento

Alfredo Dias da Cruz, Tenente  Alfredo.  Tenaz perseguidor  ao grupo de Antônio Inácio da Silva o cangaceiro " Moreno ".

Por ordem do chefe maior do cangaço, Lampião, o cangaceiro moreno encontrava-se no sul do Cariri cearense, por volta do ano de 1937 a início de 1938. O cangaceiro Moreno e seu grupo, tinham com finalidade  um acerto de conta com o fazendeiro Antônio Teixeira Leite seu Tonho da Piçarra. Uma dívida do passado, a morte do Cangaceiro Sabino Gomes, lugar tenente  em 27 de março de 1928. Essa missão foi determinada  por Lampião  a Moreno, por ele conhecer muito bem a região, antes mesmo  de ingressar no cangaço,  morou no município de Brejo Santo, bem próximo da Fazenda Piçarra.

Essa missão imposta por Lampião ao cangaceiro Moreno, era matar Antônio da Piçarra e levar a orelha como prova cabal do assassinato. Depois de várias tentativas,o cangaceiro Moreno terminou desistindo, e seu Tonho continuou vivo com sua invejável  lucidez, memória e simpatia irradiante.

Moreno

Em perseguição ao grupo de cangaceiros  que assolavam a região, o tenente Alfredo Dias, montou pontos estratégicos para prender ou até mesmo eliminar o grupo. A primeira  estratégia sugerida  pelo tenente, segundo informações dos moradores do antigo Macapá atual Jati, foi: vigiar todos as fontes d'águas da região, proibiu a venda de feira grandes, que  na época era suspeitas, feira pra cangaceiros. Segundo moradores da região, era oferecida posição de destaque perante a força do governo, a quem fornecerá informação privilegiada.           

Na passagem do Cangaceiro Moreno pela região, houve um desentendimento entre os moradores: Manoel Gomes da Rocha, Nóia Gomes e Pedro Carolino de Sousa no sítio São Francisco em Macapá, Jati. 

Esquerda p Direita, circulados Manoel Gomes da Rocha, Nóia Gomes, Pedro Carolino de Sousa e o Tenente Alfredo.

Aconselhados pelo tenente Alfredo Dias, Nóia Gomes e Pedro Carolino, procuraram o Q.G. Quartel General da Cidade de Juazeiro do Norte, incorporaram  a volante do tenente Alfredo Dias da Cruz e deram continuidade a campanha de combate aos cangaceiros em solo nordestino.

  *É Diretor de Cultura no município de Jati, CE/19/02/22/.

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PIAS DAS PANELAS - Um dos cenários mais tristes da saga lampiônica

 

Texto e fotos Kiko Monteiro

Guiados pelo confrade Manoel Belarmino, No ultimo domingo, 22  de outubro de 2023, eu, junto com o companheiro de expedições Marcelo Rocha, pudemos finalmente conhecer as “Pias das Panelas”. Um pequeno lajedo às margens do Riacho do Quatarvo, antigo território da histórica Fazenda Paus Pretos de Antônio Caixeiro na zona rural de Poço Redondo, Alto Sertão Sergipano.
  
Nos anos 30 este local passou a ser um dos muitos coitos de Lampião 
e seus subgrupos naquela região. 
 

Como bem preveniu o saudoso mestre Alcino Costa, um lugar fúnebre, lúgubre, pois fora palco de tragédias e virou morada eterna de pelo menos 5 almas identificadas. Uma coincidência macabra entre as vítimas que jazem ali é que todas foram mortas pelos seus próprios “parceiros”.
 
Esta formação de pedras, embaixo de um velho umbuzeiro, marca a sepultura da cangaceira Lídia. Acusada de adultério, foi morta pelo seu marido, “Zé Baiano” em julho de 1934.
 
Após o veredito de Lampião, Zé deixou-a amarrada naquela mesma árvore durante toda a madrugada. Ao amanhecer, aquela que foi considerada a mais bela das cangaceiras, foi morta a pauladas.
 
 
O delator da traição, o cangaceiro “Coqueiro II”, pensou que teria a gratidão do bando, mas tombou sob a mira do colega “Gato” e por ali mesmo foi enterrado.
 
A história não esquece de Preta de Maria das Virgens. Nativa daquela mesma região que foi assassinada pelo seu namorado, Zé Paulo. Este, após descobrir que engravidara a moça, para não ser obrigado a casar com a pobre sertaneja, aplaca seu tormento com uma pedra, esmagando a sua cabeça e deixando-a ali. Localizada, é enterrada às margens do Riacho.
 
Também em um ponto atualmente impreciso, em 1937, foi morta e sepultada a cangaceira Rosinha, viúva do cangaceiro “Mariano”. Executada pelo seu colega “Pó-Corante” a mando de Lampião, só porque desejava voltar pra casa dos pais… Mas no cangaço, como em qualquer outra organização criminosa, aquilo era considerado uma deserção. Ela sabia demais e assim foi efetuada a queima de arquivo. 
 
 
E a sentença do vaqueiro e coiteiro “Zé dos Paus Pretos”. 
 
Aquele que em finais de 1937 acreditou ter matado o cangaceiro “Novo Tempo”, depois de encontrá-lo moribundo nas matas ao redor da Fazenda que devia ser rancho seguro dos cabras de Lampião. Mesmo baleado na cabeça “Novo Tempo” conseguiu fugir. Recuperado, relatou a traição do colaborador. Zé foi queimado vivo em uma coivara. Dias depois os vaqueiros da região encontram o corpo já em estado avançado de decomposição e o enterram-no ali mesmo nas proximidades das Pias das Panelas.
 

Gratidão pela atenção e companhia deste confrade que é grande conhecedor dos fatos que envolvem o Cangaço em Poço Redondo e em toda aquela região.
 
Manoel Belarmino, Marcelo Rocha e o autor.
 
ATENÇÃO: É expressamente proibida a reprodução deste conteúdo sem a autorização prévia.

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O BORNAL ORIGINAL DE ZÉ BAIANO | CNL | 1232.

 Por Cangaço na Literatura

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LAMPIÃO EM 1926

 Por Luiz Ruben F. de A. Bonfin

INTRODUÇÃO

Virgulino Ferreira da Silva, de alcunha Lampião, foi o cangaceiro mais conhecido do Brasil, sendo a partir de 1926, oficialmente, capitão do batalhão patriótico, e ainda, segundo a imprensa “uma revivescência cabocla de Átila”, ou “Lampeão o Átila sertanejo”, ou ainda, “O Imperador dos Sertões. Esse ano foi sem dúvida muito especial para consolidação de sua fama. Era o seu sétimo ano de banditismo sendo o quinto como chefe de bando.

Apresento neste trabalho a transcrição de matérias dos jornais publicadas no ano de 1926, em que Lampião, com seus companheiros de armas, foi protagonista das notícias ligadas a sua atuação nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará.

Não faço afirmações nem análise, apenas coloco à disposição dos pesquisadores e estudiosos, os fatos como eles foram divulgados na época em que aconteceram. Faço somente a atualização dos nomes das cidades na época relacionada ao ano de 1926: Vila Bela, hoje Serra Talhada-PE, Paulo Afonso, atual Mata Grande-AL, Meirim, atual Ibimirim-PE, Leopoldina, atual Parnamirim-PE, povoado Nazaré ou Carqueja, atual Nazaré do Pico, Floresta-PE, Alagoa de Baixo, atual Sertania- PE.

Propaganda_livro_lampeão_1926

A iconografia deste trabalho está restrita ao ano de 1926, com algumas exceções para enriquecer as transcrições que seguem em ordem cronológica, mas, os jornais não cumprem nenhuma prioridade geográfica, sendo o critério utilizado na pesquisa, o tratamento jornalístico por cada órgão noticioso, mês a mês. Observem que a imprensa apresenta o nome Lampeão sempre grafado com “e”, mas, em novembro de 1926 o Jornal Pequeno grafou com “i”, foi um fato isolado e mesmo depois vemos sempre a palavra escrita com “e”, Lampeão.

As matérias mostram a efervescência política do momento, com discussões e opiniões, cartas de leitores, com denúncias que retratam a genuína preocupação dos habitantes daquelas paragens, para que os jornais divulguem os tormentos passados, nas diversas localidades de ação dos cangaceiros, instigando o poder público, cobrando uma ação mais efetiva. Fica claro também a preocupação do estado na luta contra o banditismo, apresentando os telegramas trocados pelas autoridades, as justificativas pela demora em conter o bando de Lampeão ....

A imprensa oposicionista denuncia o governador de Pernambuco que proíbe a divulgação dos telegramas informando a atuação dos cangaceiros no interior do estado.

As primeiras medidas tomadas pelo governador Estácio Coimbra ao assumir o governo de Pernambuco, conjuntamente com o governador de Alagoas, senhor Costa Rego, foi ordenar a prisão dos proprietários sertanejos que protegiam o bando de Lampião, isto em dezembro de 1926.

Um ano em que o próprio congresso nacional sediado na época, no Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil, através de seu representante se dedicou nas sessões legislativas para tratar do legalismo em que Lampião foi levado, através das articulações do padre Cícero, prefeito de Juazeiro do Norte, e Floro Bartolomeu deputado federal pelo Ceará, na luta do governo de Artur Bernardes contra o movimento tenentista e sua coluna denominada de Prestes e Miguel Costa.

A imprensa fala sempre das correrias do bando de Lampião e que ele não enfrenta a polícia.

Veja o que o Dr. Atualpa Barbosa Lima, então um conhecido político cearense, que esteve na região do Cariri responde ao redator do Correio do Ceará, sobre essa questão. Segundo o Dr. o irmão de Lampeão teria lhe dito “primeiro porque não tem interesse em matar soldados, pois o governo tem muitos para substituir os que morrem, segundo porque gastam inutilmente a sua munição, terceiro porque se desviam dos seus fins, que é para matar e roubar a quem tem dinheiro e joias, quarto porque arrisca a pele sem proveito. Brigamos, em último caso, quando não há meio de escapulir, aliás, o segredo de nossa vitória está em que sabemos brigar e fugir na ocasião precisa.

Achamos sempre melhor correr, do que brigar, e quem sabe correr raramente morre”. Nessa entrevista o Dr Atualpa faz declarações de fatos que ainda não foram confirmados.

Para aqueles que duvidam da liderança de Lampião com seus cabras, leiam neste trabalho o trecho do jornal quando o caixeiro da Standard Oil Company fez o pedido para que o cabra de Lampião devolvesse a sua aliança de casamento.

Em outubro de 1926 aparece a notícia de “Lampeão, o Bonelli Brasileiro”, talvez a primeira tentativa de publicação de um livro sobre Lampião. Ao que parece não foi publicado.

Interessante também a entrevista do professor Lourenço Filho, importante figura nacional, sobre o lançamento de seu livro “Juazeiro do Padre Cícero”, onde ele aborda as relações do padre com o cangaço.

Acrescentei uma matéria de setembro de 1933, para enriquecer um fato relevante acontecido em 1926. Trata-se da entrevista feita com Pedro de Albuquerque Uchoa, “ajudante de inspetor agrícola no Juazeiro”, sobre sua participação no episódio da lavratura da patente de capitão do batalhão patriótico do Juazeiro a Lampião e de tenente ao seu irmão Antônio Ferreira.

Estive na capital de São Paulo cerca de 10 vezes, tendo sido hóspede do mestre Antonio Amaury. Nas nossas longas conversas sobre o cangaço, fiz-lhe inúmeras perguntas e ele me respondeu todas. Certa vez perguntei ao mestre quem estava com o padre Cícero e Lampião quando este recebeu a patente de capitão do batalhão patriótico do Juazeiro do Norte. Eis a resposta: - eu entrevistei João Ferreira, irmão de Lampião testemunha ocular do fato, que estava acompanhado de sua esposa Joaninha, ele já um homem feito, com 22 anos de idade. Sobre ospresentes no local ele me falou que recordava que estavam presentes no recinto no momento em que Pedro de Albuquerque Uchoa escrevia as patentes: ‘além de Lampião e Padre Cícero,

Benjamim Abrahão, meu irmão Antônio Ferreira, Sabino, Luiz Pedro’, e lembrou-se que João Ferreira pouco depois cita Zabelê, além de uma quantidade não contada de outros cangaceiros no recinto.

A data da morte de Antônio Ferreira, sempre me causou dúvidas, pois pesquisadores escreviam que foi em janeiro de 1927, mas, nas minhas pesquisas a imprensa informava que o fato ocorreu entre 10 e 15 de dezembro de 1926. Vejam na matéria do Jornal do Recife de quinta-feira, 16 de dezembro de 1926: “Corre com insistência, aliás, com algum fundamento, pelo sertão, que o célebre bandoleiro Antônio Ferreira, irmão e ‘lugar tenente’ do bando chefiado por Lampião foi morto em dia da semana passada, nas imediações do lugar Poço do Ferro, do município de Tacaratú.” Esse jornal publicou com detalhes, inclusive o acidente com Luiz Pedro. Já o Diário de Pernambuco do dia 18 de dezembro publica que foi uma luta travada com a polícia no município de Floresta, dias depois, essa mesmo jornal repete a versão do Jornal de Recife.

Nesses anos todos de pesquisa em jornais e outros documentos, observei que nunca foi consenso a quantidade de cangaceiros divulgada pela imprensa ao longo do ano de1926, que variava entre 49 e 200 homens.

Surpreendeu-me a diferença dada a fatos como a batalha de Serra Grande, e o sequestro praticado por Lampião, do representante da Souza Cruz e Standard Oil Company, ocorridos na mesma semana. A batalha foi pouco explorada e divulgada, no entanto, o sequestro foi muito bem documentado, com entrevistas e matérias de vários jornais.

Alguns fatos que foram publicados no período proposto por esse trabalho não foram destacados, embora tenham a mesma importância dos que foram aqui lembrados.

Boa leitura

Luiz Ruben F. de A. Bonfim

Economista e Turismólogo - Pesquisador de Cangaço e Ferrovia

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