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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Lampião: O Capitão do sertão! - Cap. I

Por A. Fleming

O reino de Lampião
A geografia do sertão- nas vozes dos poetas

O sertão pernambucano é uma vasta planura cinzenta; serras isoladas, dispersas, cujas silhuetas fulvas alteram as retas do horizonte.

Talham-se, nos horizontes, perfis de ossaturas e arcabouços, de matos garranchentos, espinhudos, singularíssimos, e de arcanos ensolarados. Bandos de negras aves numerosas esculpem rodopios ao acaso dos céus, pelo espaço mudo, parado de eternidade. Cascavéis se aglomeram nas estradas e veredas.

Terra paupérrima. Aquela solidão dardejante, aquele mar de quietude e cinza, onde se escutam, por vezes, vagos sons cavos e monocórdios. É, pois, reino de numeroso silêncio, intransfigurado reino em que as horas se sucedem monótonas e só elas renovam, nas cores do dia abrasador e da noite que chega abruptamente, enregelada, a imutabilidade do céu e da terra. Geografia de fulgurações. As mesmas fronteiras da seca e do cangaço.

É de estarrecer...

É o mundo brasileiro das ardências recurvas, côncavo, convexo, de puríssimas poalhas em escarlate azul!

Ali, naquele deserto, onde até o ar é absolutamente seco, não se conhece, senão no tempo das chuvas, o murmúrio das águas. Os rios são temporários, pulsáteis, "cortam", na linguagem do povo. E lá ficam aqueles estirões compridos, sem fim, de areia.

O famoso Vale do Pajeú, rio dos sertões pernambucanos, é dos mais belos e férteis do país dos nordestinos. Banha, entre outras localidades, Floresta, cidade natal de nosso guerrilheiro-místico Lampião, e, por isso mesmo, é famoso por seus cangaceiros, cantadores e vaqueiros.

Quando a madrugada, despertada, se sacudia nos assanhos do sol nascente, costumava este famoso Rei do Cangaço ? Capitão Virgulino Ferreira da Silva ? fincar-se de pé, nos altos dos tabuleiros desse vale, para contemplar, demoradamente e farto de altivez e satisfação, as vastidões do seu Reino , mantido na sujeição de seu ferro e sinal, e conquistado numa grande guerra de vinte anos ? a Guerra de Lampião! 

Versos de Lampião 

"Sou senhor absoluto
De todo este sertão
Aqui quem quiser passar
Precisa apresentar
Licença de Lampião".

Em anos de 1929, numa das andanças pastorais, o vigário de Glória, padre Emílio Ferreira, encontrou-se num arraial com o legendário Rei do Cangaço, que fora assistir à missa.

Por notável coincidência, o padre, momentos antes de celebrar o ofício, havia recebido de presente, das mãos de um caixeiro viajante amigo, um grande mapa-plano do Brasil que media aproximadamente 1m2, forrado de algodãozinho e pregado em dois cilindros finos de madeira para enrolar, uma edição do Ministério da Viação do Rio.

Após a missa, vai Lampião cumprimentar o sacerdote. Durante animada palestra desenvolvida entre goles de café, teve uma idéia o padre. Estendeu o mapa aberto sobre a mesa e, entregando a Lampião um grosso lápis encarnado, pediu-lhe: - "De vez que o senhor é Rei, marque e risque sobre esse mapa o tamanho de seu grande Reino".

Lampião, devagar, observando as localidades, rios e montanhas, perguntando muito e auxiliado pelo padre, foi traçando. Tomando por ponto de partida, ao norte, Mossoró, no Rio Grande do Norte, desceu, em zigue-zague, até Porto da Folha, em Sergipe. Desceu mais até Capela e daí tangenciou numa linha até a fronteira da Bahia, onde penetrou por Itapicuru, talando o Estado por Riachão do Jacuípe até Morro do Chapéu. Desceu profundamente, em ponta de lança, até Barra do Estiva e Rio de Contas, donde iniciou a subida para Remanso. Continuando para cima, atingiu Juazeiro do Norte e Caririaçu, no Ceará, depois Jaguaretama, Morada Nova e Limoeiro do Norte, donde fechou o circuito para Mossoró. Em síntese, uma imensa área de cerca de 300.000 km2!   

Mapa do Reino de Lampião


Entusiasmado, exclamou o padre dirigindo-se ao Rei do Cangaço:

- "Territorialmente falando, seu REINO faria inveja a muita cabeça coroada da Europa!..."   

Lampião - Sua gente 

Restantes da guerra de extermínio do período da colonização do século XVII, os índios da região do nordeste, já em reduzido número, e vencidos e subjugados pela força, acabaram estabelecendo alianças com os colonizadores, visando com isso barrar sua própria extinção.

Por sua vez, as alianças trouxeram a miscigenação e incrementaram o povoamento. Em dias de hoje, a população sertanejo-nordestina é predominante mestiça, cabocla: o vaqueiro tem sangue e espírito de índio. A excepcional resistência de Virgulino Ferreira era assombrosa - como se verá ao longo deste artigo - mesmo perante seus companheiros de cangaço, tanto que, muitos deles, não suportando seu duro regime de vida, deixaram sua companhia.

No final do Império, deu-se a transformação dos fazendeiros latifundiários em coronéis políticos, em geral, sátrapas, cruéis e briguentos. Assim, em meados do século XIX até quase 1940, existiu um sertão típico: o de coronéis e vaqueiros, beatos e cangaceiros, cantadores e almocreves ? o universo sertanejo - com seus pontos culminantes no coronelismo, em Antônio Conselheiro, em Padre Cícero e em Lampião.

Na resplandecência azul dos espaços e tempos, os sertanejos vivem, em geral, em casas de taipa, cobertas de telha vã; usam fogão de trempe de pedra, alimentado de lenha, graveto e maravalha; repousam em zidoras ? cama de varas - ou no chão forrado de esteiras de piriri, talos de bananeira ou palha de carnaúba.

O meio quase único do trabalhador se locomover, por conta própria, sem estar a serviço, são os próprios pés, exceto nos casos em que usam o animal do patrão. Aliás, os sertanejos são resistentes e velozes andarilhos. Mesmo nos curtidos da fome, nos flagelos das secas, é a pé que eles emigram, cambaleantes, pelos caminhos sem-fim, com a poeira frouxa levantando-se do chão pedregulhento e urente.

Uma das grandes táticas de Lampião era a sua incrível e assombrosa mobilidade que o tornava extremamente periculoso. Chegam às raias do fabulesco as longas tiradas a pé realizadas por ele e seu grupo. Como aquela, a mais famosa, de vinte léguas numa noite, das 18 às 6 horas do dia seguinte, dos fundos do Raso da Catarina (Bahia) à cidade de Capela, em Sergipe!

Bando de Lampião em 1936, Ribeira do Capiá, Alagoas

O espírito religioso do sertanejo é acentuado pelo temor a Deus. Todo mal é castigo do pecado. E o pior de todos os castigos é a seca . Tirado o pecado ? impossível porque entranhado na natureza humana ? a seca desapareceria, o sertão viraria mar e, então, se concretizaria a sonhada miragem verde da abundância e da felicidade! A mística da seca é a temática da vida e do eixo de giro de toda a religiosidade sertaneja. Mística sistematizada em doutrina através das pregações terrificantes, das procissões penitenciais de esconjuro da seca ? o mau destino! - e de clemência por chuvas, a maior benção do céu! O sertanejo não maldiz nunca a chuva, mesmo arrasadora. Mãos estendidas, apara, de joelhos, até os poucos pingos que caem, beijando-os sofregamente, devotamente. A chuva é a esperança e a salvação. A água é bênção divina que molha os corações de esperança e enche as terras de verde e de fartura. Maldição são as prolongadas estiagens, as secas sem fim, que acontecem muitos anos, aniquilando tudo o que significa vida.

Nessas épocas não há trabalho, nem o que comer. Sai o pobre sertanejo, sem tino nem destino, em retirada, como ave de arribação, estrada a fora: é o retirante. Bênçãos, lágrimas, olhos arregalados e parados na despedida que, todos sabem, pode ser definitiva.

O mistério das coisas da vida e da morte aderem, feito acréscimos, a esse misticismo. O mistério em tudo, influindo e atemorizando, fatalizando e fanatizando.

Dentro de um clima tropical semi-árido, a canícula arde impiedosa, o céu é incandescente e o sol, de rachar: é a seca influenciando a vida e condicionando o homem, um homem diferente, o homem sertanejo. Constituído em geral de grande resistência física e moral, define-se no misticismo dos beatos e penitentes, nos arremetimentos audazes das vaquejadas, na música telúrica do baião e no ritmo do coco, na resistência teimosa contra as inclemências da região agressiva e nas aberturas das brigas ? pelo sim pelo não ? em cenas sangrentas do cangaço sob a vibração épica da Mulher Rendeira.

CONTINUA...
Extraído do GEH - Grupo de Estudos Humanus
http://www.geh.com.br/forum/viewtopic.php?f=62&t=6332
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2010/12/482233.shtml 


http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Os últimos cangaceiros


NOTA DO BLOG DO MENDES E MENDES: A data da publicação desta foto você ver que foi no dia 26 de Julho de 2013, mas, hoje, 28 de Novembro de 2013, estes dois ex-cangaceiros da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia" continuam vivos, segundo os pesquisadores.

Fonte da imagem: facebook - página de Virgulino Ferreira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O CORONELISMO BAIANO NO SERTÃO SERGIPANO



Por Rangel Alves da Costa* 

Por muitos anos, a partir da estreita relação com o poder, a política e o cangaço, o coronelismo das terras sertanejas da Bahia expandiu sua influência ao vizinho estado de Sergipe, mais de perto na região sertaneja do São Francisco, principalmente nas terras de Poço Redondo e Canindé do São Francisco.

Chamava-se João Maria de Carvalho este senhor de poder e de mando, cuja força coronelista foi muito além das fronteiras de sua Serra Negra, atual Pedro Alexandre. Aquela região baiana, aliás, foi palco de senhores poderosos que marcaram suas épocas pelo mandonismo acobertado pela força política. Neste contexto se sobressaíram o próprio João Maria e o coronel João Gonçalves de Sá, de Jeremoabo (mais tarde homenageado com nome do município Coronel João Sá).

Filho de Pedro Alexandre, contando com mais treze irmãos, João Maria de Carvalho possui uma história singular na saga dos grandes sertanejos. Tenente de patente militar, porém coronel hierarquizado pelo poder econômico e político, foi homem que soube como nenhum outro confluir para si forças antagonistas e transformá-las num poder pessoal tamanho que se fez reconhecido, respeitado e temido por todo o sertão.

Sua extraordinária capacidade de dialogar com situações opostas - e de tudo tirar proveito -, o colocaria também como magistral estrategista. Basta citar o exemplo de sua opção por dar guarida a perseguidos pela polícia, injustiçados e cangaceiros, enquanto seu irmão, o famoso Tenente-coronel Liberato de Carvalho, comandante da força baiana, esteve por muito tempo pelos sertões alagoanos, sergipanos e baianos no encalço de pessoas por ele protegidas.


Situação deveras interessante, e até incompreendida, mas se os cangaceiros que Liberato de Carvalho tanto perseguia debandassem para as terras da Serra Negra e ali pedissem refúgio a João Maria, seu irmão, certamente teriam acolhida. E o coito era tal que nenhuma força policial se atreveria a abalar o mando do grande coronel. Quer dizer, enquanto Liberato queria prender, João Maria procurava proteger da prisão.

Assim agia o coronel João Maria porque sabia que protegendo o homem da terra, por este seria reconhecido e o seu prestígio se tornaria incontestável. E assim de fato ocorreu. Por isso mesmo não mostrava receio em dar coito e abrigo nas suas vastas terras mesmo àqueles chegados de outros estados, principalmente de Sergipe. Acolheu o cangaço como uma causa justa, abrigou sertanejos perseguidos porque se via como grande pai e protetor dos oprimidos. 

Limitando com Poço Redondo, Carira, Nossa Senhora da Glória, Porto da Folha, Monte Alegre de Sergipe e Canindé de São Francisco, pelo lado sergipano, Serra Negra era vista quase como uma povoação do sertão de Sergipe. Daí que o coronel baiano, acolhendo os enviados por amigos políticos ou aqueles de reconhecida periculosidade, ao mesmo tempo expandia sua influência além fronteiras. Por isso fez fama em toda a região e até interferia politicamente nos pleitos eleitorais das terras sergipanas.

Não era incomum se ouvi dizer que este ou aquele candidato era apoiado pelo coronel João Maria da Serra Negra. E bastava tal fato para que o pleiteante ganhasse força e prestígio. Do mesmo modo, as lideranças políticas sertanejas tudo faziam para não contrariar o poderoso da região. E mais. O próprio governo estadual sentia de tal modo a influência do baiano que lançava todas as suas forças contra o candidato por ele apoiado.

Assim aconteceu com José Francisco de Nascimento, mais conhecido como Zé de Julião, um ex-cangaceiro (Cajazeira) que pleiteava ser o primeiro prefeito do então emancipado município de Poço Redondo, nas eleições de 1953. João Maria tornara-se amigo do influente e já falecido pai do candidato, e este já havia recebido a proteção do baiano quando a polícia foi em seu encalço após a chacina de Angico, por fazer parte do bando de Lampião. E mais tarde o apoiou nas suas pretensões políticas.

À época, no início da década de 50, o poder estadual estava nas mãos do PSD. Mesmo sendo da UDN baiana, o coronel João Maria indicou Zé de Julião como candidato do PSD sergipano. Contudo, para afastar a influência do baiano, o governo estadual apoiou um candidato do PR, que era partido da base governista. Não só apoiou como trabalhou maciçamente para que “um ex-cangaceiro” não desonrasse os destinos de Poço Redondo. A intenção maior, entretanto, era derrotar o coronel baiano. E conseguiu.

Mesmo tendo seu candidato derrotado e sentindo que Zé de Julião não se abatera e desejava ser mais uma vez candidato, eis que João Maria novamente o apoia. Mesmo que agora o governo estadual já estivesse nas mãos de Leandro Maciel da UDN, o mesmo partido de João Maria, não houve acordo entre os líderes e a força perseguidora leandrista lançou todas as armas contra o PSD de Zé de Julião. 

Num pleito marcado por fraudes e favorecimentos ao candidato governista, Zé de Julião foi derrotado e em seguida perseguido pela polícia por haver roubado três urnas e rasgado as cédulas de votação. Então o protegido do coronel baiano buscou no amigo a guarida contra a morte certa. E novamente foi acolhido até retomar seu destino.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com  

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Informação sobre a suposta foto de Lampião

Por José Mendes Pereira
Amigo leitor:

No dia 26 de Novembro de 2013 postamos neste blog que a foto acima é de Virgulino Ferreira da Silva, o rei do cangaço "Lampião".

Ângelo Osmiro

Mas segundo o escritor e pesquisador do cangaço Ângelo Ormiro, informou ao escritor Dr. Archimedes Marques que não é o cangaceiro Lampião, e sim um policial.

  Dr. Archimedes Marques é o que está com terno

A foto foi enviada pelo o Dr. Archimedes Marques, mas não foi ele quem disse que é Lampião, apenas a encontrou neste site: http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/a-morte-de-lampiao-9394818.  

Na verdade é um excelente site, mas o que aconteceu que, no meio de outras, o site não explicou que a foto em estudo não é Lampião, e sim um policial que se vestiu de cangaceiro.


Mas veja a grande semelhança:


Muito semelhante o policial com o Lampião, e qualquer pesquisador, escritor..., e até mesmo estudante, todos,  ficariam confusos.

O blog do Mendes e Mendes e eu agradecemos a compreensão do leitor.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com