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segunda-feira, 11 de março de 2019

A BRUTALIDADE CRUEL EQUIPARADA



Naquele tempo, época do cangaço, a força, a brutalidade empregada nas vítimas muito das vezes tinha outro significado além de só maltratar.

Sabedores do que ocorreu com outra pessoa na região em que moravam, as pessoas temiam e só havia duas saídas, ou iriam embora, aí era bastante difícil devido as condições financeiras, transportes e etc., restava então permanecerem e acatarem o que fosse determinado pelos cangaceiros ou volantes, as vezes espontaneamente e, na maioria, debaixo de cacete.

No início do cangaço lampiônico os governadores dos Estados da Região Nordeste por onde agiam tentaram, e muito, acabarem com aquela bandidagem rural. Eram muitos os grupos que agiam em diferentes regiões, municípios e estados. Havia em torno de 42 grupos, ou mais, além do comandado por Virgolino entre os anos de 1922 há 1927/28 nos sertões de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Ceará.

Soldados foram enviados das capitais dos Estados com a missão de combaterem os bandos criminosos. Para começar, um soldado formado dentro de um Quartel na Zona da Mata, Agreste ou mesmo nas Capitais, jamais saberiam como movimentarem-se dentro da Mata Branca em busca de bandoleiros. A própria caatinga tornava-se sua maior inimiga, pois, quem não a conhece, não a respeita, e não a respeitando era morte na certa por fome e sede.

Na continuação dos dias, meses e anos sem ocorrer o resultado esperado, os governos resolveram colocar homens da mesma estirpe, coragem e que foram forjados pelo mesmo clima, brutalidade e rigidez que eram os cangaceiros. Homens sertanejos que sabiam moverem-se tão bem quanto os cangaceiros, pois conheciam suas veredas, sua fauna e flora, a utilizando como sobrevivência. Outra coisa a mudar foi à vestimenta das tropas. Principalmente os calçados. Pés de soldados dentro de coturnos de couro sem ventilação causaram muitas baixas nas fileiras. Cangaceiros usavam alpercatas “Xô – Boi”, as quais foram também usadas pelos volantes a partir do momento em que foram contratados homens sertanejos.

Pois bem. Tanto nas fileiras do cangaço quanto nas fileiras das volantes que existiram homens malvados, cruéis, vingativos e sanguinários. Alguns que correram para o cangaço, fizeram em busca de sobreviverem, se vingarem ou mesmo atrás de aventuras, cobre, suor e sangue pela sua índole. Esses mesmos conceitos são vistos naqueles que participaram do fenômeno vestindo a farda da segurança de algum estado. Aí a coisa engrossava mais devido ter a “proteção”, serem acobertados por a mesma. Vaqueiros, camponeses, agricultores, moradores, tangerinos e outros foram todos suspeitos de serem colaboradores de cangaceiros. Assim sendo, a “macaca” desceu em seus lombos sem dó nem piedade. Às vezes, debaixo de muito cacete o cabra dizia o que sabia, às vezes, não havia como dizer, pois não eram colaboradores dos cangaceiros.

Abaixo veremos mais um espetacular trabalho em vídeo do pesquisador Aderbal Nogueira sobre a vida dos cangaceiros e volantes durante a longa guerrilha nos rincões sertanejos. Desta feita ele tem a participação da jornalista Vânia Galceran que faz a entrevista com o ex-tenente Pompeu Aristides de Moura. Ele é tido como aquele que matou o cangaceiro Moderno, Virgínio, cunhado de Lampião.

A história da adesão de Pompeu a Força Pública de Pernambuco é bastante interessante. Antes de entrar para a volante, Pompeu, vendo e estando presente em uma das tantas passagens dos cangaceiros onde morava, pediu para fazer parte do bando, ou seja, ser também um cangaceiro. Segundo o próprio, não foi aceito pela estatura e idade, coisa que para a Força não foi problema. Moura relata que naquele tempo não havia outra opção a não ser, ser cangaceiro ou volante como meio de sobrevivência.

Os Estados se acomodaram totalmente com suas obrigações sociais e a população interiorana vivia num verdadeiro caos.

Na entrevista veremos a jornalista fazer perguntas duras, diretas, porém, lógicas e sensatas. Também veremos respostas corretas, diretas e, algumas com saídas escorregadias, pois ninguém se alto incrimina.

https://www.youtube.com/watch?v=QanqF2Npv3A&feature=youtu.be&fbclid=I

TENENTE POMPEU ARISTIDES DE MOURA

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/permalink/1022205957988348/

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O HELENA PROMETE

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.071

  Passada e euforia do carnaval, o retorno às aulas vem cumprir o seu dever. Quinta e sexta passadas, a Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, reabriu suas portas para os professores. A chamada Jornada Pedagógica iniciou e chegou ao fim com o êxito esperado por todos. As orientações diversas, perguntas, debates, vídeos e outras estratégias, encontraram no pátio da escola o melhor lugar para o encontro. Professores animados, com energia renovada, tomaram conhecimento das novas diretrizes da escola. “O Helena” – como é conhecido pela população santanense – é uma escola da Zona Oeste que atendia, ano passado, do sexto ao nono ano. Começou um novo período com a implantação do primeiro ano do Curso Médio e que pretende expandi-lo com sucesso.
JORNADA PEDAGÓGICA NO HELENA. (FOTO: B. CHAGAS).

       “O Helena” foi fundado em 1985, pelo então prefeito Isnaldo Bulhões, em convênio com o estado, portanto aniversaria neste período fevereiro/março com os seus bem vividos 25 anos de história. Sendo pioneiro na zona oeste da cidade, atende a clientela dos Bairros São José, Camoxinga, Barragem, Clima Bom e os sítios Salobinho e São Salvador. Situada na principal via do Bairro São José, Avenida Castelo Branco, faz esquina com a Rua Manoel Medeiros. A Rua Manoel Medeiros (antiga Rua da Poeira) ficou famosa quando construiu trincheiras para conter um possível ataque de Lampião e seus asseclas, à cidade de Santana do Ipanema.
       Sendo uma escola de bairro e com apenas quatro salas de aulas em cada turno, O Helena concorre em qualidade de ensino com as escolas maiores e centrais pela dedicação dos que fazem a unidade. Ali estão lotados os escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto, sob o comando do paraibano Ivanildo Ramalho, que emprega todos os esforços para uma escola modelo. Os apelos do diretor Ramalho nessa Jornada Pedagógica teve rápido reflexo no corpo docente que promete esforço dobrado no cumprimento do dever e na qualidade do ensino. Agora é somente colocar na prática tudo que foi esclarecido, debatido e combinado.
Sem educação o Brasil não tem futuro.


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SOLIDÃO DE BEIRAL DE ESTRADA

*Rangel Alves da Costa

Solidão e ali e acolá. Solidão nos casebres de solidões. Nos casebres as solidões. As solidões avistadas do lado de fora e imaginadas do lado de dentro. E há um mundo que é assim. Conheço esse mundo, pois caminho pelos seus caminhos, visito os seus semblantes e me entristeço perante suas portas e janelas sempre fechadas.
Verdade que os sertanejos costumam manter suas portas fechadas em todos os instantes do dia. Somente ao entardecer, quando uma cadeira é colocada diante da porta ou quando o dono da casa se assenta num tamborete para ouvir seu radinho de pilha é que surgem sinais de vida, de presença daqueles moradores. Ao invés da porta da frente, é a porta dos fundos, que dá para o quintal ou cercados, que é utilizada como entrada e saída. Quanto muito, apenas um bicho de cria arreliando de canta a outro.
Pelos sertões o que se encontra, assim, são casas tristes, de feições abandonadas, de portas fechadas, de malhadas solitárias, num quase sem vida. Mesmo que lá dentro estejam muitas pessoas, mesmo que lá dentro a vida esteja correndo apressada, é como se nada assim existisse perante aquele que passa adiante e lança o seu olhar naquela direção. E não há quem não se aflija com aquela moldura tão aflitiva e melancólica. Imagina-se sempre estar apenas diante de um abandono, de vidas partidas, de vidas dali já distanciadas pelas intempéries da existência em mundo tão difícil de ser suportado perante as estiagens.
Sempre entristeço ante o silêncio melancólico das casas tristes nos beirais das estradas. Portas e janelas fechadas, sem cheiro de café torrado ou de tripa de porco torrando no fogão de lenha. Procuro pelo menino Zezim, procuro pela menina Joaninha. Mas nada. Nem um cachorro magro nem a voz de um papagaio falador. Murchou a bela flor que outrora era avistada no umbral da janela. Esturricou a planta que antes descia pelo caqueiro pendendo no pé de pau.


Tenho vontade de ir até lá e bater à porta. Oi de casa, oi de casa! Tenho vontade de ir até lá e bater na madeira como alguém que chaga para trazer uma notícia boa sobre um mundo novo. Ou apenas dizer: Oi de casa, oi de casa! Chamar assim. Mas desisto, enfim. E sigo pelos meus sertões em busca de portas abertas e daquilo que me dê alegria. Zezim, onde tá você? Joaninha, onde tá você? É o que pergunto em meu pensamento. E entristeço e choro. E silencioso pranteio a dor de todas as ausências do mundo!
Sigo adiante e aquele mundo solitário e triste para se eternizar logo atrás. Mas não posso esquecer aquela moldura ainda fixa no meu olhar. Zezim deveria estar ali na malhada, debaixo do umbuzeiro, reinando com ponta de vaca, correndo atrás de calango, atirando com peteca baleadeira. Zezim, Zezim, seu mundo está ali e por que você não estava? Joaninha também deveria estar pelos arredores da casa, levando consigo a boneca de pano descabelada e desenho círculos no chão aberto para brincar de pular. Joaninha, Joaninha, seu mundo está ali e por que você não estava?
Faltou-me sentir aquele aroma forte, encorpado, cheiroso, oloroso, do café fervendo em riba do fogão de lenha. Que festa ao olfato este perfume tão sertanejo, nascido desde o pilão para bater o café, à arupemba para separar o pó do restante dos grãos, e depois todo o negrume misturado à água fervente para a festa maior do sabor e da vida. Não senti tal cheiro ali e senti muita falta. Também não ouvi os barulhos do ofício na cozinha, com panela batendo, talher caindo, criança chorosa querendo comida. A mulher não abriu a porta para aguar a planta. Não havia planta, não havia nada. O homem não abriu a janela para avistar possíveis nuvens de chuva ao horizonte. Não há chuva num sertão assim.
Entristeci e chorei pela moldura de angústia e desilusão. Não pelo sertão em si, com seu sorriso triste e seu corpo esquelético, mas pelo seu povo que sequer parece existir naqueles casebres tristes de beirais de estrada. Talvez algum dia eu retorne e encontre tudo diferente. Talvez eu encontre a porta e a janela abertas, Zezim e Joaninha nos seus afazeres de criança e a sertaneja jogando água por riba da planta sedenta. O sertanejo certamente estará por ali, mexendo numa coisa e noutra, afiando uma enxada, dando lustre ao facão, remendando seu aió de caçador.
Talvez eu retorne e encontre a vida na sua vida, o homem sertanejo no seu lugar. Mas por enquanto, ainda choroso, ainda triste. Sou sertanejo também.

Escritor
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MARCOS DE RELIGIOSIDADE NO CAMINHO DELAMPIÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

Por Rostand Medeiros

Em 2010, em alternadas viagens,  estive percorrendo pela primeira os cenários da passagem do bando de Lampião no oeste potiguar, fato que ocorreu entre os dias 10 e 14 de junho de 1927. 
Segui principalmente por áreas rurais desde a cidade de Luís Gomes, tendo como ponto focal Mossoró e finalizando em Baraúna. Percorri esse caminho originalmente palmilhado por estes cangaceiros como parte de uma consultoria que prestei ao SEBRAE, no âmbito do projeto Território Sertão do Apodi – Nas Pegadas de Lampião. Parte desse trajeto, que também focava em questões da espeleologia da região, percorri junto com Sólon Almeida.

Para traçar essa rota, além das obras escritas sobre a história da passagem do bando de Lampião pelo Rio Grande de Norte, fiz uso de materiais históricos existentes nos arquivos do Rio Grande do Norte, Paraíba e de Pernambuco e a bibliografia existente, com destaque ao livro do amigo Sérgio Augusto de Souza Dantas, autor de Lampião e a grande Jornada – A história da grande jornada.


Foram percorridos muitos quilômetros, onde visitamos vários sítios, fazendas, comunidades e cidades. Foram entrevistadas 123 pessoas e obtidas mais de 2.000 fotos. Em grande parte deste trajeto, a motocicleta se mostrou um aliado muito mais eficiente para se alcançar estes distantes locais.

Um dos fatos mais interessantes foi o surgimento de marcos de religiosidades ligados aqueles dias tumultuosos de 1927.

Cruzeiros marcando locais de acontecimentos intensos, capelas edificadas como promessas pela salvação de pessoas ante a passagem dos cangaceiros, o caso da utilização de uma igreja por parte dos cangaceiros. Além desses fatos temos a controversa situação envolvendo o túmulo do cangaceiro Jararaca na cidade de Mossoró.

Ao longo dos anos eu tive a grata oportunidade de realizar esse caminho em quatro outras ocasiões, sendo o mais importante em 2015, para a realização de um documentário de longa metragem denominado Chapéu Estrelado, dirigido pelo mineiro radicado no Rio de Janeiro Silvio Coutinho e produção executiva de Iapery Araújo.
Esses foram os locais mais interessantes ligados a esse tema e seus respectivos municípios. 

MARCELINO VIEIRA 

A área próxima à sede do atual município de Marcelino Vieira é repleta de lembranças e marcos que mantém vivo na memória da população local os fatos ocorridos naquela longínqua sexta-feira, 10 de junho de 1927. 
Cruz em homenagem ao soldado Matos.
Sítio Caiçara e a “Missa do Soldado” – Nesse local ocorreu um combate onde morreram o soldado José Monteiro de Matos e o cangaceiro Patrício de Souza, o Azulão.

Percebemos nitidamente que para as pessoas que habitam a região, os fatos mais marcantes em termos de memória estão relacionados ao combate conhecido como “Fogo da Caiçara” e a valente postura do soldado José Monteiro de Matos. Não foi surpresa que membros da comunidade local, no dia 10 de junho de 1928, apenas um ano após o combate na região da Caiçara, decidissem realizar, uma missa em honra a memória do valente militar.
Igrejinha onde é rezada a “Missa do Soldado”.
Segundo pessoas da comunidade do Junco, as margens do açude da Caiçara, de forma espontânea e apoiadas pelas lideranças locais, os mais antigos moradores deram início a um ato religioso. No começo ele ocorria no mesmo ponto onde se desenrolou o combate. Segundo pessoas entrevistadas na região, o evento sempre atraiu um número considerável de pessoas, passando a ser conhecida como “A Missa do soldado”. Com o passar do tempo à missa transformando-se em uma das mais importantes tradições religiosas de Marcelino Vieira.

ANTÔNIO MARTINS – ZONA RURAL 

Fazenda Caricé – a fazenda Caricé estava no roteiro de destruição dos cangaceiros. Caminho lógico para quem seguia em direção norte, no caminho a Mossoró, a fazenda pertencia ao pecuarista Marcelino Vieira da Costa. Este era um paraibano que prosperou com a criação de gado e tornou-se tradicional líder político. Faleceu em dezembro de 1938 e seu nome batiza atualmente a cidade onde decidiu viver.
Capela em honra a Jesus, Maria e José, no sítio Caricé, erguida como promessa pela salvação da família do Coronel Marcelino Vieira das garras do bando de cangaceiros de Lampião
Ao saber da aproximação do bando do cangaceiro Lampião, o fazendeiro Marcelino Vieira decidiu dormir em uma área onde existia um canavial, próximo ao açude da fazenda. A chegada do grupo, insuflados por supostas contas a acertar do temível cangaceiro Massilon Leite com a família Vieira, produziu um saque que resultou em um prejuízo no valor de um conto e duzentos mil réis. Os celerados deixaram o lugar antes do meio-dia.

Da velha sede da fazenda Caricé nada mais resta, mas por lá encontramos uma pequena capela. 
Interior da capelinha.
Quando a família Vieira e seus empregados estavam no canavial, em dado momento alguns cangaceiros chegaram a se aproximar do esconderijo. Diante do que poderia acontecer, com muito medo, a filha do fazendeiro, rogou intensamente aos céus que os bandoleiros se afastassem.
Vista noturna da capela do Caricé.
Caso isto se concretizasse, ela e sua família tratariam de erguer uma ermida em honra ao poder de Jesus, Maria e José. Pouco tempo as imagens foram adquiridas ainda em 1927, tendo sido trazidas da Bahia e que a primeira missa rezada no local foi verdadeiramente suntuosa.  O templo já apresenta sinais de abandono, com algumas telhas caindo, mas a estrutura ainda se mantém em grande parte firme.
Serra da Veneza.
Capelinha da Serra da Veneza – Uma interessante situação relativa à memória da passagem do bando nessa região ocorreu na região da Serra da Veneza, na fronteira de Antônio Martins com o vizinho município de Pilões. Nessa elevação granítica, que segundo o mapa da SUDENE chega a atingir a altitude de 555 metros, existe uma capela edificada em razão do medo provocado pela passagem do bando. 

Quando Lampião e seu bando se aproximavam, em meio às terríveis notícias, três fazendeiros da região procuraram refúgio junto às rochas da base desta elevação. Essas famílias solicitaram junto ao mesmo santo, São Sebastião, que os protegessem contra a ação dos cangaceiros. E o mais interessante, mesmo sem se combinarem, as três famílias elegeram a mesma penitência; caso nada de negativo ocorresse a eles e as suas famílias, cada um deles teria de galgar a Serra da Veneza, erguer um oratório e ali depositar uma imagem em honra ao santo.
Capelinha da Serra da Veneza.
Lampião passou sem acontecer problemas a essas pessoas. Logo os fazendeiros e seus familiares foram a Vila de Boa Esperança, como muitos moradores da região, para agradecer na capela de Santo Antônio pelo fato de nada de pior haver ocorrido. Nesse local as três famílias se encontraram e ao debaterem sobre os fatos vividos, para surpresa de todos os presentes, compreenderam que havia ocorrido uma interseção divina com relação a eles terem tido as mesmas ideias e os mesmos pensamentos de penitência. Em pouco tempo eles adquiriam conjuntamente uma pequena imagem de São Sebastião e logo galgavam a Serra da Veneza para unidos edificarem um pequeno oratório. A ação dos três fazendeiros e as estranhas coincidências chamaram a atenção das pessoas na região e logo outros penitentes subiam a serra para pagar promessas. Em pouco tempo teve início uma procissão e não demorou muito para que o pároco local também viesse participar. Com o passar do tempo começou a ocorrer a participação de pessoas de outros municípios. Em 1948, vinte e um anos após a passagem do bando e do pretenso milagre, treze famílias deram início a construção da atual capela, em meio a uma intensa confraternização. 

A cada dia 20 de janeiro, inúmeros ex-votos são colocados como pagamento de promessas, velas são acesas e fiéis de vários municípios vêm participar subindo a serra.

ANTÔNIO MARTINS- ZONA URBANA

Cangaceiros na Capela de Santo Antônio – O período da chegada dos cangaceiros, no dia 11 de junho de 1927, na então pequena comunidade de Boa Esperança, atual Antônio Martins, coincidiu com as celebrações da festa de Santo Antônio, o padroeiro local. De certa maneira essa situação de comemoração e alegria do povo, serviram para a rápida ocupação do lugarejo e a sua total capitulação diante da cavalaria de cangaceiros.
A capela de Santo Antônio era o principal local em Boa Esperança para realização dos festejos relativos ao padroeiro local. Nessa festa é tradicional a realização das chamadas “trezenas”, onde durante treze dias anteriores ao dia 13 de junho, a data consagrada a Santo Antônio, ininterruptamente são realizadas missas, orações de grupos de pessoas com terços nas mãos, cantos de benditos, encontros e outras participações da comunidade neste templo cristão. Quando o bando chegou, haviam algumas pessoas reunidas no local e um grupo de cangaceiros, visivelmente embriagados, proibiu a saída dos fiéis do local. Essas pessoas assistiram horrorizadas de dentro da capela o suplício de um habitante local, o jovem Vicente Lira, que apunhalado e sangrando abundantemente, era obrigado a engolir talagadas de cachaça. Mesmo em meio a essa cena de terror, diante da igreja aberta e engalanada, soubemos que alguns cangaceiros adentraram o local, se ajoelharam, se benzeram e saíram sem perturbar os atônitos presentes. Na saída soltaram Vicente Lira.

Durante todo nosso percurso, esta foi a única informação de que alguns cangaceiros do bando de Lampião, teriam adentrado um templo religioso católico em todo Rio Grande do Norte.

LUCRÉCIA 
Fazenda Castelo.
Capela da Fazenda Castelo – Após a saída de Frutuosos Gomes, na zona urbana do município de Lucrécia, as margens da RN-072, soubemos que o bando realizou a invasão da fazenda Castelo, propriedade tida como a mais importante da antiga localidade. No terreno ao lado da sede da fazenda Castelo se encontra uma bem preservada capelinha dedicada a Nossa Senhora da Guia. Entretanto, ao buscarmos contato com as pessoas mais idosas em busca da história da capela, não foi possível um esclarecimento mais exato sobre quem a construiu e se essa construção tem alguma relação com a passagem do bando de Lampião, como no caso da ermida da fazenda Caricé. Houve pessoas que indicaram que a construção foi consequência de uma promessa pela salvação dos proprietários locais junto a passagem dos cangaceiros, outros indicaram que ela seria anterior a 1927 e outros apontaram que ela seria posterior a essa data.  
Capela da fazenda Castelo, Lucrécia, Rio Grande do Norte.
Foi perceptível a necessidade de ampliar as pesquisas sobre o local.

A Cruz dos Canelas – Depois de passarem por Lucrécia, os cangaceiros atacaram uma propriedade rural e sequestraram um fazendeiro bastante conhecido e querido na região. A notícia se espalhou entre vários parentes e amigos e logo um grupo decide com extrema coragem sair em busca do povoado de Gavião, atual cidade de Umarizal, onde pudessem levantar a quantia estipulada por Lampião para soltar o popular fazendeiro.
Sítio Serrota dos Leites, de onde foi sequestrado o fazendeiro Egídio Dias.
O grupo era pequeno, com um número que aparentemente chega a quatorze e só quatro deles, membros de uma família conhecido como “Canelas”, eram os únicos que os pesquisadores do assunto apontam como possuidores de armas de fogo com alguma potência. Esse grupo conhecia os caminhos e provavelmente confiaram no fato de ser período de lua cheia. Onde essa condição facilitaria o trajeto. 

Enquanto se desenrolava esta situação, na região do sítio Caboré, cansados pelo deslocamento, esgotado pelas ações e pelo consumo de bebidas, o bando de cangaceiros decidiu descansar nas terras do Caboré. Por volta das três da manhã o grupo de amigos chegou ao Caboré em busca de informações. Não sabiam que um cangaceiro, facilitado pelo luar, vigiava os movimentos do grupo. No local conhecido como “Serrote da Jurema” foi armada uma emboscada pelo bando de experientes combatentes. Logo abriram fogo contra a incipiente tropa e três deles tombaram e o resto fugiu em franca debandada. Segundo os laudos cadavéricos a vingança do bando de Lampião nos corpos dos amigos do fazendeiro sequestrado foi terrível. 
Cruz dos Três Heróis, ou Cruz dos Canelas.
Apesar de todo empenho em buscar ajudar o amigo detido, o que o grupo de resgate não sabia era que a sua ação era totalmente inútil. Algum tempo antes, no bivaque armado pelos bandidos, em meio ao cansaço generalizado da tropa de Lampião, o sequestrado conseguiu fugir para o meio do mato.

Atualmente, as margens da rodovia estadual RN-072, na comunidade Caboré, se encontra uma cruz conhecido como “A cruz dos três heróis”, aonde o povo de Lucrécia e da região vêm homenagear àqueles que agora são conhecidos apenas como “Os Canelas”, ou os “Heróis de Caboré”. No local muitos rezam e pagam promessas e acendem velas em honra desses homens.

MOSSORÓ 

Caso da Igreja de São Vicente de Paula e a questão do túmulo do Cangaceiro Jararaca.
A notícia de que Lampião avançava na direção de Mossoró chegou aos ouvidos dos moradores de Mossoró em abril de 1927. À época, a Capital do Oeste Potiguar, como seus habitantes ainda gostam de intitulá-la, já era um dos municípios mais importantes do interior nordestino. Com 20 mil habitantes, localizada no meio do caminho entre duas capitais – Natal e Fortaleza –, em nada se assemelhava às pequenas cidades onde Lampião e seu bando atacava e saqueava o comércio.

Igreja de São Vicente de Paula, em Mossoró.
No dia 13 de junho de  1927, após dizer não a Lampião, que cobrou 400 contos de reis (em moeda da época 400  milhões de reis – atualmente uns 20 milhões de reais) para não invadir a cidade, começava um tiroteio entre moradores da cidade e os cangaceiros. A igreja de São Vicente de Paula foi o local principal da resistência. Lampião costumava dizer que “cidade com mais de uma torre de igreja não é lugar para cangaceiro”. Não se tratava de superstição, mas de raciocínio lógico – municípios com tal característica eram maiores e, portanto, mais difíceis de dominar. Os ocupantes das trincheiras no alto da Igreja de São Vicente e da casa do intendente tinham visão privilegiada do avanço das tropas. Tão logo o grupo surgiu no horizonte, iniciaram-se os disparos. Os cangaceiros, acostumados a desfilar nos povoados sem serem incomodados, foram surpreendidos.

Findando com a expulsão dos cangaceiros, a morte de alguns deles e a prisão do temível José Leite de Santana, vulgo Jararaca, enterrado vivo no cemitério da cidade, após cavar sua própria cova. 
Túmulo do cangaceiro Jararaca.
A Jararaca é atribuída todas as crueldades. A mais famosa consistia em arremessar crianças para o alto e apará-las com a ponta do punhal. Trespassados pela lâmina, garotinhos leves o bastante para serem lançados na direção do sol morriam lenta e dolorosamente, em meio aos gritos dos pais – e às gargalhadas do cangaceiro.

O interessante é que hoje é visto como santo pelo povo, devido a crueldade com que foi morto. Recebendo o seu túmulo visita de milhares de pessoas em dias de finado e ao longo de todo ano. Na verdade mais prestigiado que o túmulo de muitos políticos famosos da cidade, enterrados no mesmo cemitério e esquecidos de todos. Mostrando que nem sempre o séquito que em vida rodeia os poderosos permanece uma vez morto. Ironicamente ao contrário do cangaceiro.

Túmulo de Rodolfo Fernandes.
O famoso chefe cangaceiro deveria ter pensado duas vezes antes de tentar invadir e ser expulso de forma humilhante, assim historicamente a cidade ligou seu nome ao famoso personagem Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Anualmente, em frente  à igreja que funcionou como trincheira é encenada um musical chamado: Chuva de bala no país de Mossoró, que remonta todo o fato histórico e mantém viva a memória.

Os heróis da resistência de Mossoró, de toda forma foram bravos sim!

Mas por que o santificado é um cangaceiro e não um dos resistentes? 
Por  que não santificaram o prefeito de Mossoró que liderou a resistência?  Por que as fotos dos heróis da resistência são tão pequenas e a dos cangaceiros estão expostos em painéis enormes? Parece até que o povo de Mossoró não se identificou muito com os heróis da resistência!
Memorial da Resistência.
A história por trás do túmulo de Jararaca se confunde muito com o misticismo, com a conduta cultural de um povo. Jararaca apenas foi consagrado, por conta de sua bravura. O povo sempre busca o menor para enaltecê-lo. É perceptível essa situação no próprio cemitério, quando o túmulo de Rodolfo Fernandes não recebe o mesmo número de visitas correspondentes ao túmulo onde está Jararaca.

Fonte sobre o túmulo de Jararaca – Valdecy Alves, “MOSSORÓ EXPULSOU O BANDO DE LAMPIÃO A BALA – DISSE NÃO À EXTORSÃO DO CANGACEIRO – UM GRANDE FATO NA HISTÓRIA DO NORDESTE – FATOS E FOTOS!” – http://valdecyalves.blogspot.com/2011/12/mossoro-expulsou-o-bando-de-lampiao.html

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LIVRO SOBRE CANGAÇO ADQUIRA LOGO O SEU


O cientista cearense de Lavras da Mangabeira Melquiades Pinto Paiva, publicou entre 2001 e 2008 uma coleção de 5 exemplares com o titulo "Bibliografia Comentada do Cangaço. 

Em 2011 resolveu reunir os 5 volumes, com mais outros apontamentos, num único Volume, com o titulo" CANGAÇO: uma ampla bibliografia comentada", com 390 páginas, capa dura, papel especial, edição de luxo, Editora IMEPH. 

Este trabalho contém o comentário sério e fundamentado de 200 livros, 55 Revistas, 200 artigos de jornais, 140 cordéis e 12 filmes e documentários. 

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QUIXERAMOBIM EM FESTA CELEBRANDO "CONSELHEIRO VIVO" 2019.

Manoel Severo presente a Festa do "Conselheiro Vivo"

Quixeramobim; no sertão central cearense; a mais nova sede do Cariri Cangaço e que recebe no mês de maio a 23ª edição do Cairi Cangaço, celebra nesta semana os 189 anos do mais famoso de seus filhos: Antônio Vicente Mendes Maciel, o líder de Canudos, Antonio Conselheiro. Neste ano 2019 o evento conta com lançamento de livros, palestras temáticas, entrega de comendas, apresentações de alunos da rede municipal, cavalgada, apresentações culturais e ainda visita de comitiva de Canudos-BA ao município . São seis dias intensa programação histórico-cultural na terra de Antônio Conselheiro, e agora também, "Casa do Cariri Cangaço".

Com o Tema “Luta, Fé e Resistência no Sertão” Quixeramobim mobiliza entre os dias 08 e 13 deste mês de março de 2019, pesquisadores, escritores, poetas, professores e principalmente os alunos do município numa grande celebração pelos 189 anos de Conselheiro.O evento teve seu inicio nesta sexta-feira, dia 08, com cortejo de abertura nas ruas da cidade com a presença das escolas rurais, exibição do Documentário "Sobreviventes: Filhos da Guerra de Canudos" e ainda uma roda de conversa sobre Antônio Conselheiro e Canudos com o Professor Doutor. Paulo Emílio Martins Matos, da UFF-RJ.

Manoel Severo e o Professor Paulo Emílio Martins Matos
 Professor Neto Camorim e Manoel Severo
 Manoel Severo e Aílton
Neto Camorim, Paulo Emílio e Manoel Severo

No sábado, dia 09, a festa ficou por conta da espetacular apresentação cultural das escolas da rede púbica municipal de Quixeramobim, uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação. As apresentações com temáticas voltadas para a história e memória de seu filho mais ilustre:Antônio Conselheiro e sua Canudos, traziam no cenário, no figurino, nas musicas, na poesia e sobretudo no olhar e representação daqueles "pequenos e pequenas" a grandeza do personagem, o homem que saiu de Quixeramobim para tornar-se o mítico Conselheiro .

 Festa espetacular com a apresentação cultural das escolas da rede púbica municipal
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Conselheiro; nascido Antônio Vicente Mendes Maciel há exatos 189 anos atras nessa cidade de Quixeramobim; certamente permanece como um ilustre desconhecido para as novas gerações de pequenos quixeramobienses, iniciativas como a do "Conselheiro Vivo" são de fundamentais importância para aproximar a figura, a historia e memoria desse grande brasileiro a todos de sua cidade natal.


Ainda dentro da programação do sábado o auditório da Faculdade de Quixeramobim - UNIQ , outro importante conjunto de palestras sobre a temática acabou marcando com muita qualidade mais uma edição do festejado "Conselheiro Vivo". Com os poetas Maílson Furtado, Renato Pessoa, Alan Mendonça e Bruno Paulino uma roda de conversa contagiante com o tema “Conselheiro e as cidades”, em seguida novamente a brilhante palestra do professor Paulo Emílio, desta vez com a palestra "Conselheiro e a Invenção de Canudos" como também o lançamento do livro – A Reinvenção do Sertão: A estratégia organizacional de Canudos, do mesmo autor. No final da noite Quixeramobim recebeu o vereador de São Paulo, ex-Senador Eduardo Suplicy para uma Mesa com o Tema "O Desenvolvimento Sustentável da Cidade" que contou ainda com a participação do Dr. Pedro Igor.

Bruno Paulino ao lado de Fabiano Piúba, Renato Pessoa, Alan Mendonça e 
Mailson Furtado em noite de Conselheiro Vivo em Quixeramobim.
Dr Pedro Igor e Senador Eduardo Suplicy

Roda de Conversa Literária...

A semana cultural em Quixeramobim contemplando a espetacular iniciativa do "Conselheiro Vivo" ainda contou de forma paralela com um momento precioso na Biblioteca da E.E.P. José Alves da Silveira com uma Roda de Conversa sobre poesia, literatura e as coisas do coração... 


 Poetas, Renato Pessoa, Bruno Paulino, Mailson Furtado e Alan Mendonça 
numa manhã de afeto e poesia 
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O encontro precioso em um ambiente especial, reuniu turmas dos cursos técnicos profissionalizantes da Escola Dr José Alves da Silveira. A convite da coordenação da escola, professora Rosângela, os escritores e poetas cearenses da nova geração: Maílson Furtado, Renato Pessoa, Alan Mendonça e Bruno Paulino compartilharam de forma mais que especial e leve suas experiências literárias, suas formações, as influências, as paixões e acima de tudo o amor incondicional à poesia.


Bruno Paulino, Renato Pessoa, Manoel Severo, Maílson Furtado, 
Alan Mendonça e o pequeno Fernando, nomes mais que confirmados 
para o Cariri Cangaço Quixeramobim 2019.
Coordenadora Rosângela e Manoel Severo
Luana, Alan Mendonça e Ingrid Rebouças
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"O que mais me impressionou foi sem dúvida a profunda afinidade com a literatura e com a poesia desses jovens; meninos e meninas com idade que variavam entre 15 e 18 anos; da escola José Alves, sensacional mesmo, uma garotada com uma sensibilidade incrível, isso não tem preço, além da imensa alegria de testemunhar esse verdadeiro encontro de Gigantes; meu irmão querido Bruno Paulino, dos estimados Alan e Renato e ainda do festejado Maílson Furtado; ganhador do Prêmio Jabuti 2018; e o mais importante, todos estão confirmados para o Cariri Cangaço Quixeramobim 2019, avante!" Confirma o curador do Cariri Cangaço, Manoel Severo Barbosa.


 Roda de Conversa Literária na Escola José Alves da Silveira
 Ingrid Rebouças, Alan Mendonça, Bruno Paulino, Isabelle Oliveira e Renato Pessoa
Grupo Dirigente da Escola Profissionalizando em dia de Roda Literária

Prêmio Jabuti 2018...


A obra de poesia "à cidade" (Autor Independente), de Mailson Furtado Viana, foi escolhida como o livro do ano no 60º Prêmio Jabuti. O prêmio foi entregue pela Câmara Brasileira do Livro - CBL, esta que é a mais tradicional premiação literária do país. O autor, Mailson Furtado,  foi escolhido entre os ganhadores de todas as categorias do Jabuti 2018, em cerimônia no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. As categorias do Jabuti estão divididas em quatro eixos: Literatura, Ensaios, Livro e Inovação. Este último contempla ações de incentivo à leitura. Prêmio Jabuti: Eixo -  Literatura tendo como Livro do ano: "à cidade" (Autor Independente), de Mailson Furtado Viana.


Conselheiro Vivo 2019
Quixeramobim, Ceará
09 de Março de 2019

E Vem aí...
Cariri Cangaço Quixeramobim
24 a 26 de Maio de 2019
Antônio o Conselheiro do Brasil

http://cariricangaco.blogspot.com/2019/03/quixeramobim-em-festa-celebrando.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com