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sexta-feira, 30 de março de 2012

Comentário

Por: Kidelmir Dantas

Comentário de Kidelmir Dantas sobre o artigo "Fotos de cangaceiros", publicado neste blog:

Ô, Mendes!
Esta relação feita pelo Pe. Bezerra Maciel, não está parecendo com aquela do grupo que atacou Mossoró? Afora alguns nomes, a maioria está nela. Inclusive SABINO, que morreu em menos d'um ano após o ataque a Mossoró em 13 de junho de 1927. JARARACA? Deve ter sido outro! Temos que ver a data desta prisão do Mineiro Que o Padre gostava de romancear, lemos isto no seu trabalho, agora que fazia o milagre da ressurreição... É novidade... Pelo menos pra mim.

Kydelmir Dantas Mossoró - RN.

De Mossoró para a 'bagunça' em Salvador: conheça a história da dupla que parou a capital baiana


Por: Gilvan Reis - gilvan.reis@redebahia.com.br
Pais de gêmeos presos com maconha na av. Paralela virão a Salvador para buscar filhos

Os gêmeos Diogo e Diego Leão chamaram a atenção dos soteropolitanos pelas fantasias irreverentes e discursos surreias

O que era para ser uma viagem séria de cunho político, virou piada nos principais meios de comunicação da Bahia. Dois roqueiros, vestidos como manda o figurino, chegam no principal corredor de Salvador, a Av. Paralela, param o carro em horário movimentado, travam a pista, descem para fazer flexões no asfalto em pleno calor baiano, se confundem em explicações e histórias sem pé nem cabeça, tripudiam das autoridades locais e trocam carícias incestuosas diante das câmaras. Pode até parecer encenação, mas a história dos gêmeos de Mossoró, Diego e Diogo Leão, é bem mais comovente do que parece.

Nascidos e criados no interior do Rio Grande do Norte (RN), à 300 km da capital Natal, os dois jovens, de 28 anos, sempre levaram uma vida tranquila. Estudaram no Colégio Dom Bosco e depois na Rede Geo de ensino. Filhos de pais comerciantes - Nilza Leão e Francisco Leão - os gêmeos sempre tiveram uma educação mais severa, quase conservadora, segundo amigos da família. Dessa formação, inclusive, teria vindo o gosto pela rebeldia do rock.

Juntos, ingressaram na Faculdade de Direito e cursaram somente os quatro primeiros semestres. É que nos anos iniciais da graduação o sonho de formar uma banda e de seguir carreira artística pareceu-lhes mais promissor do que a toga e os tribunais. Foi aí que, com o amigo Rafaum Costa, fundaram o grupo indie Leões de Minerva e começaram a se destacar na cena alternativa da cidade. Shows, participações em eventos, festivais e um intenso trabalho de dedicação à música.

Numa destas surpresas da vida, quando a empolgação já tomava conta dos garotos, a
notícia de que Rafaum pretendia deixar o grupo, em outubro do ano passado, deu início a uma série de transtornos na vida dos gêmeos e dos demais parentes. Preocupados com as apresentações já agendadas e com a proximidade da turnê, eles não suportaram a carga e tiveram o primeiro surto.

"Eu me lembro que isso ocorreu uma semana antes do nosso filho completar um ano. Eles tinham começado a trabalhar na pastelaria da família e estavam levando uma vida mais normal. Na crise, ele [Diogo] dizia que tinha matado o nosso filho, falava coisas sem nexo mesmo, fora da realidade. Ele não tinha noção do que dizia", diz Iana Gongalves Fontes, 24 anos, ex-namorada de Diogo, com quem teve uma criança, Apolo Gongalves Leão de Moraes. Segundo
ela, os dois chegaram a receber medicamentos, foram tratados em Fortaleza, no Ceará, onde ficaram 15 dias, mas acabaram saindo por vontade própria.

Nos meses subsequentes, eles se recusaram a tomar a medicação orientada e seguiram para Natal. Na capital, fizeram um
curso sobre a profissionalização e empreendedorismo de bandas. Voltaram decepcionados com as aulas, acharam que era uma enganação e ficaram indignados com a situação da cultura no município. "Foi aí que tiveram a ideia de sair daqui para discutir o sistema cultural com a presidenta Dilma Rousseff. Todo mundo sabia que eles estavam indo para Brasília, não houve surpresa nisso. E só levaram a roupa do corpo", conta Iana.

Mesmo sem ter a confirmação ainda de que o carro utilizado, um Chevrolet Ágile,  foi tomado com ou sem autorização do
pai, a mãe de Apolo acredita que os seis mil reais encontrados com a dupla sejam mesmo da família. "Os pais deles não tem conta em banco, não tem cartão de crédito, guardam tudo no cofre de casa. Seria mais fácil o acesso para eles". Além da quantia, outro elemento que fez com que a polícia baiana concluísse que os jovens não estavam no estado normal foi a presença de uma quantidade considerável de maconha dentro do veículo.

Nos depoimentos, diziam que, no trajeto de Mossoró,  viam placas estranhas com nomes deles. A mãe de Apolo, entretanto, afirma desconhecer o uso da maconha na rotina dos jovens. "Eles eram certos. Queriam trabalhar duramente para ver o sucesso da banda". Opinião semelhante foi compartilhada por um comerciante da cidade, próximo da família dos jovens. "Nunca fizeram nada de errado. São boas pessoas. Até imaginei que eles apreciassem a erva, mas que não usassem por conta do trabalho mesmo".
Surtos
Apesar disso, outra pessoa que conviveu com a dupla e que prefere se identificar, confirma que parte do surto veio pelo uso abusivo de drogas. "Em Mossoró tem muita gente rica e pouca coisa para fazer. Eles começaram a usar drogas muito pesadas como daime, muito pó (cocaína), ácido e fizeram muitas coisas erradas por lá. Roubaram os pais e inventavam que tinham sido contratados. Essas coisas", relata.

A questão financeira é uma das características mais presentes nos surtos. "Eles ficam preocupados com o dinheiro. Diogo é o que mais fala, sabe? Diego é mais observador, mais calado". Neste segundo dia de detenção, na Delegacia de Roubos e Furtos, eles caíram no choro e não demonstraram mais a mesma habilidade ou gracejo para falar sobre a legalização da'cannabis', discussão que eles, consumidores de maconha desde os 21 anos, alegam ter sido o mote da viagem.

"Quando liguei para o Diogo e ele me disse que estava passando pela Bahia não imaginei que fossem parar na Av. Paralela. Desde que eles viajaram quem sente mais a falta deles é o filho. Perguntou no dia que eles saíram e vive perguntando porque o Diogo e o Diego também sempre, todos os dias, vinham ver e brincar com Apolo.", afirma Iana. Segundo ela, Diogo, nestes um ano e seis meses, tem sido um pai exemplar: "Ele não é o tipo de homem que só dá a pensão e pronto. Ele participa de tudo. Isso tudo é um pesadelo".

A dupla aguarda em Salvador a
chegada de um familiar que deverá ajudar na liberação. Os pais seguem em Mossoró esperando a resolução do caso. Depois que soube do ocorrido, a mãe, segundo depoimentos, tem tido febres e não está em condições de dar declarações.
Vídeos do Youtube

Cangaço


As causas do surgimento do cangaço foram de natureza variada. A pobreza, a falta de esperanças e a revolta não foram as únicas. Isso é mais que certo. Mas foram estas circunstâncias as mais importantes para que começassem a surgir os cangaceiros. Muitos, como dissemos, eram pequenos proprietários, mas mesmo assim tinham que se sujeitar aos coronéis. Do meio do povo sertanejo rude e maltratado surgiram os cangaceiros mais convictos de que lutavam pela sobrevivência.
- Se não me dão os meios de conseguir, eu tomo. - pareciam dizer.
Virgolino Ferreira era um trabalhador. Do tratamento duro e injusto que o trabalhador Virgolino Ferreira e sua família receberam surgiu Lampião, o "Rei do cangaço ".
Lampião nunca foi um líder de rebeliões ou um ídolo que servisse para a formação de camponeses revoltados. Política nunca foi parte de sua vida. Mas as populações humilhadas e ofendidas viam em Lampião um exemplo, naquele meio termo entre temer o que ele era e querer ser igual a ele, quase a justificar sua existência de bandoleiro errante.
Lampião subverteu a ordem imposta, mesmo que não fosse esse seu objetivo. Latifúndios que, durante décadas e até mesmo séculos imaginavam-se intocáveis, sentiram o peso de sua presença e o terror das consequências do não atendimento de suas exigências.
O caminho que Lampião traçou nas sendas da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, hoje claramente observado nos mapas e na memória viva da história do cangaç ;o, praticamente não foi alterado nos últimos 60 anos. E pouco, talvez nada, será alterado durante os próximos 60 anos ou mais.
Onde lutou Lampião ainda estão, nos dias de hoje, as sobras da subserviência, a presença maciça da ignorância, a exploração dos pequenos e dos humildes. E, de forma geral, também a indiferença nacional continua a mesma.
A economia brasileira progrediu, mas esse progresso deixou de lado a estrutura caótica e ultrapassada das distâncias sertanejas.
Existem dois países neste nosso Brasil: um mantém a mesma ordem, a mesma estrutura e os mesmos vícios do passado; o outro caminha para o progresso, modificando-se e modernizando-se, seguindo os modelos apresentados por outras nações.
No norte-nordeste até a imagem física das localidades permanece quase a mesma do século passado. Quase nada mudou desde os tempos em que Lampião decidiu que não seria mais o trabalhador Virgolino Ferreira, já que não valia a pena. E o pouco de paciência que tivera se acabara por causa dos abusos.
Se quase nada mudou, se as circunstâncias continuam as mesmas, podemos concluir que o terreno que gerou Lampião ainda está lá, esperando novas sementes. Se existe alguma germinando, neste exato momento, é difícil saber.
Talvez alguns prefiram não pensar a respeito.
O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império da caatinga, nome que significa "mata branca". Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito possível da situação.
Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água".
Os sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe serviram de palco para o drama que envolveu milhares de nordestinos, apesar de existirem, em meio à aridez da região, verdadeiros oásis. Em Pernambuco, por exemplo, está Triunfo, a 1180 metros acima do nível do mar, onde existe uma cachoeira de 60 metros de altura. A temperatura chega a cair, durante a noite, a 5 graus, e existem árvores frutíferas em abundância. No sertão do Cariri, no Ceará, há uma região coberta de mata, formando uma floresta tropical com árvores de até 40 metros de altura. Outros exemplos de locais de clima ameno são Garanhuns e a região de Serra Negra, no município de Floresta, ambos em Pernambuco.
Já de aspecto completamente oposto, o Raso da Catarina e a região de Canudos são pontos em que a natureza aprimorou-se em deixar a terra nua e sáfara, totalmente árida.
A fauna nordestina varia dependendo do tipo de clima.
Quando Lampião andava por aqueles sertões, ali existiam onças pintadas, suçuaranas, onças pretas, veados e tipos variados de serpentes, como jararacas, jibóias, cascavéis, etc.
O gavião carcará é um dos mais conhecidos habitantes dos sertões, assim como diversas espécies de lagartos. Papagaios, periquitos, canários, juritis, azulões, pássaros pretos e emas eram também numerosos naquela época. À beira do Rio São Francisco encontrávamos jacarés guaçú, pipira, tinga, o de papo amarelo, etc.
Hoje é uma outra história, pois o homem teima em destruir a natureza.
Fonte: www.infonet.com.br

COMUNICADO

Gastei 28 minutos para postar este comunicado.
Se a Internet colaborar comigo, ainda hoje  postarei algumas pesquisas.

Blogdomendesemendes

Familia Camboa - Amâncio Raimundo Nogueira

Por: Grismarim
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Amâncio Raimundo Nogueira era filho de Raimundo Nogueira de Lucena e de Maria Xavier. Amâncio foi um abastado comerciante no setor portuário, casado com Inocência Nogueira de Lucena, sua prima , esta irmã do capitão Targino Nogueira de Lucena. Foi um abnegado habitante de Porto de Santo Antônio, tendo ali atuado com esforço, dinheiro e obstinação em favor de qualquer melhoramento que viesse beneficiar a coletividade, inclusive construindo, por duas vezes, capela para orago padroeiro dos habitantes daquele reduto. Na seca de 1877, foi o único comerciante que ali permaneceu com seu estabelecimento aberto. Os demais não se sustentaram. Era Amâncio Raimundo Nogueira benquisto, em meio de um grande circulo de amizade que desfrutava, dotado de um espírito varonil, alguns de seus filhos se tornaram alto comerciantes em Mossoró e Areia Branca, onde vários dos seus descendentes se ramificaram e formaram família. Um de seus irmãos de nome Pedro Nogueira de Lucena faleceu no Amazonas com 112 anos de idade.
Pesquisa feita por mim.
Grismarim

Mulheres Mossoroenses III - 25 de Março de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento


 
Hoje traçaremos o perfil de mais uma mulher mossoroenses que, por seus atos, por sua luta, por sua coragem, permanece nos anais da história de Mossoró. Trataremos hoje de Ana Rodrigues Braga, ou Ana Floriano, como ficou sendo conhecida e do se protesto contra a obrigatoriedade do alistamento militar para o exército e armada. Vamos aos fatos:

Mulheres Mossoroenses - III
Geraldo Maia do Nascimento
Gemaia1@gmail.com 



 
Em 30 de agosto de 1875, numa Segunda-feira, Mossoró viveu o mais esdrúxulo de seus movimentos libertatórios que foi “O Motim das Mulheres”. Naquela data, cerca de trezentas mulheres saíram pelas ruas em passeata, com o objetivo de protestar contra a obrigatoriedade do alistamento militar. 
Tudo começou quando o Gabinete do Visconde do Rio Branco aprovou o regulamento do recrutamento para o Exército e Armada. Esse regulamento teve repercussão desfavorável na Província do Rio Grande do Norte, onde várias comunidades se levantaram em sinal de protesto. Ninguém desejava que seus filhos fossem apanhados para o serviço militar, notadamente quando era sabido das intenções dos chefes políticos dominantes em darem sua preferência a filhos de adversários, como estava acontecendo em Mossoró. Desse modo, tomando conhecimento de levantes que estavam acontecendo em outros municípios, as mulheres mossoroenses promoveram uma manifestação e conseqüente passeata pelas ruas da cidade, rasgando os editais afixados na Igreja Matriz de Santa Luzia e dirigindo-se a casa do escrivão do Juiz de Paz de quem tomaram e rasgaram o livro e papéis relativos ao alistamento. Partiram depois para à redação do jornal “O Mossoroense”, onde destruíram cópias dos mesmos que ali estavam para serem publicadas. Concluída a tarefa da destruição dos editais, as revoltosas partiram para a Praça da Liberdade, onde entraram em choque corporal com um grupo de soldados da Força Pública que ali estavam para dominar a rebelião. Algumas saíram feridas, não se agravando mais o movimento, graças à interferência de pessoas neutras que foram ajudar a acabar com a confusão. 

Encabeçando o movimento estava Ana Floriano, uma mulher forte, de olhos azuis, cabelos louros e estatura considerada acima do normal para o seu sexo, juntamente com D. Maria Filgueira, esposa do Cap. Antônio Secundes Filgueira e D. Joaquina Maria de Góis, genitora do historiador Francisco Fausto de Souza. 
Logo após o movimento, o Juiz de Direito, Dr. João Antônio Rodrigues comunicou o fato ao Presidente da Província, Bacharel João Bernardo Galvão Alcanforado Júnior, que mandou instaurar inquérito contra a promotora do Motim das Mulheres, cuja peça processual desapareceu do arquivo do Departamento de Segurança Pública.
               
Em seu depoimento, o Dr. João Antônio Rodrigues afirma que o movimento contou com um número de cinqüenta a cem mulheres e que as mesmas eram lideradas por D. Maria Filgueira, mulher do capitão Antônio Filgueira Secundes, 3º suplente de Juiz Municipal deste Termo, juntamente com D. Joaquina de Tal e D. Ana de Tal, que mal aconselhadas por seus maridos e parentes cometeram o criminoso ato. O referido Juiz não admitia que o movimento tivesse partido das mulheres e sim do capitão Antônio Filgueira Secundes, seu adversário político, que assim procedera para lhe prejudicar. Quanto ao número das revoltosas? “De cinqüenta a cem mulheres”, foi o que ele disse para diminuir a gravidade do movimento. E quanto a D. Ana de Tal, tratava-se de D. Ana Rodrigues Braga, ou Ana Floriano, assim chamada por ser esposa de Floriano da Rocha Nogueira, pais do jornalista Jeremias da Rocha Nogueira, Diretor proprietário do jornal “O Mossoroense”.
               
Francisco Romão Filgueira, prócer abolicionista de 1883, falecido a 7 de setembro de 1958, deu depoimento ao historiador Vingt-un Rosado sobre o fato por ele presenciado. Segundo o mesmo, o movimento teria contado realmente com cerca de trezentas mulheres e que as mesmas eram chefiadas por D. Ana Floriano.
               
O historiador Raimundo Nonato registra que “ao tempo, Romão Filgueira era um jovem impetuoso, rapaz de boa família, exaltado, que devia se encontrar no meio da rebelião, agarrado no cós de sua mãe, Dona Maria Filgueira, esposa do capitão Antônio Filgueira Secundes, figura de prestígio do município. O jovem Romão Filgueira corria pela casa dos 16 anos fogoso e turbulento”./
Geraldo Maia do Nascimento

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Fonte:

CRÔNICAS E POESIAS


Millor Fernandes (*)
Quem aumenta seu conhecimento aumenta a sua dor”
(Eclesiastes, I, 18)
Não é o lar o último recesso do homem civilizado, sua última fuga, o derradeiro recanto em que pode esconder suas mágoas e dores. Não é o lar o castelo do homem. O castelo do homem é seu banheiro. Num mundo atribulado, numa época convulsa, numa sociedade desgovernada, numa família dissolvida ou dissoluta só o banheiro é um recanto livre, só essa dependência da casa e do mundo dá ao homem um hausto de tranqüilidade. É ali que ele sonha suas derradeiras filosofias e seus moribundos cálculos de paz e sossego. Outrora, em outras eras do mundo, havia jardins livres, particulares e públicos, onde o homem podia se entregar à sua meditação e à sua prece.
Desapareceram os jardins particulares, pois o homem passou a viver montado em lajes, tendo como ilusão de floresta duas ou três plantas enlatadas que não são bastante grandes para ocultar seu corpo da fúria destrutiva da proximidade forçada de outros homens. Não encontrando mais as imensidões das praças romanas que lhe davam um sentido de solidão, não tendo mais os desertos, hoje saneados, irrigados e povoados, faltando-lhe as grutas dos companheiros de Chico de Assis, onde era possível refletir e ponderar, concluir e amadurecer, o homem foi recuando, desesperou e só obteve um instante de calma no dia em que de novo descobriu seu santuário dentro de sua própria casa — o banheiro. Se não lhe batem à porta outros homens (pois um lar por definição é composto de mulher, marido, filho, filha e um outro parente, próximo ou remoto, todos com suas necessidades físicas e morais) ele, ali e só ali, por alguns instantes, se oculta, se introspecciona, se reflete, se calcula e julga. Está só consigo mesmo, tudo é segredo, ninguém o interroga, pressiona, compele, tenta, sugere, assalta, Aqui é que o chefe da casa, à altura dos quarenta anos, olha os cabelos grisalhos, os claros da fronte, e reflete, sem testemunhas nem cúmplices, sobre os objetivos negativos da existência que o estão conduzindo — embora altamente bem sucedido na vida prática — a essa lenta degradação física. Examina com calma sua fisionomia, põe-se de perfil, verifica o grau de sua obesidade, reflete sobre vãs glórias passadas e decide encerrar definitivamente suas pretensões sentimentais, ânsia cada vez maior e mais constante num mundo encharcado de instabilidade. É nesse mesmo banheiro que o filho de vinte anos examina a vaidade de seus músculos, vê que deve trabalhar um pouco mais seus peitorais, ensaia seu sorriso de canto de boca, fica com um olhar sério e profundo que pretende usar mais tarde naquela senhora mais velha do que ele mas ainda cheia de encantos e promessas. É aqui que a filha de 17 anos vem ler a carta secreta que recebeu do primo, cujos sentimentos são insuspeitados pelo resto da família. Já leu a carta antes, em vários lugares, mas aqui tem o tempo e a solidão necessários para degustá-la e suspirá-la. É aqui também que ela vem verificar certo detalhe físico que foi comentado na rua, quando passava por um grupo de operários de obras, comentário que na hora ela ouviu com um misto de horror e desprezo. É aqui que a dona de casa, a mãe de família, um tanto consumida pelos anos, vem chorar silenciosamente, no dia em que descobre ou suspeita de uma infidelidade, erro ou intenção insensata da parte do marido, filho, filha, irmãos. Aqui ninguém a surpreenderá, pode amargurar-se até aos soluços e sair, depois de alguns momentos, pronta e tranqüila, com a alma lavada e o rosto idem, para enfrentar sorridente os outros misteriosos e distantes seres que vivem no mesmo lar.
Não há, em suma, quem não tenha jamais feito uma careta equívoca no espelho do banheiro nem existe ninguém que nunca tenha tido um pensamento genial ao sentir sobre seu corpo o primeiro jato de água fria. Aqui temos a paz para a autocrítica, a nudez necessária para o frustrado sentimento de que nossos corpos não foram feitos para a ambição de nossas almas, aqui entramos sujos e saímos limpos, aqui nos melhoramos o pouco que nos é dado melhorar, saímos mais frescos, mais puros, mais bem dispostos. O banheiro é o que resta de indevassável para a alma e o corpo do homem e queira Deus que Le Corbusier ou Niemeyer não pensem em fazê-lo também de vidro, numa adaptação total ao espírito de uma humanidade cada vez mais gregária, sem o necessário e apaixonante sentimento de solidão ocasional. Aqui, neste palco em que somos os únicos atores e espectadores, neste templo que serve ao mesmo tempo ao deus do narcisismo e ao da humildade, é que a civilização hodierna encontrará sua máxima expressão, seu último espelho — que é o propriamente dito.
Xantipa, que diabo, me joga essa toalha!

LEIA MAIS EM:

CARTAS DE GUERRA (Crônica)

Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa
                                       

CARTAS DE GUERRA

Dizem que noutro dia encontraram um velho baú familiar em cujo fundo estavam guardadas verdadeiras relíquias. Fotografias amareladas, bilhetes já ilegíveis, papéis de presentes sem nenhuma oferenda, livretos de poemas com folhas marcando páginas, mas principalmente umas estranhas cartas, missivas de guerra.
Um desses poemas dizia: “Hoje é o tempo do ontem/ Porque o amanhã será o tempo do passado/ E tudo que existiu ainda existirá/ Porque o querer se repete se for bem-querer...”. E as cartas, uma por cima da outra segundo a data do envio, só mesmo abrindo-as para saber do que tratavam.
Quando o baú foi descoberto e alguns mais antigos sabendo a quem pertencia, então logo costuraram com maestria a colcha de retalhos do passado para encontrar a verdade. E a verdade, segundo afirmaram, é que aquelas velhas cartas haviam sido enviadas pelo pracinha esposo da dona do baú, já na distância, desde o campo de batalha nas terras italianas.
Quando em agosto de 1942 o Brasil decidiu apoiar os Aliados (liderados por Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos) contra as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e em 1944 enviou para a região de Monte Cassino cerca de vinte e cinco mil pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, o jovem esposo da dona do baú, recém casados, foi um dos que embarcaram na segunda leva. Começou a lutar logo que chegou.
Não se sabe por quais vias, nem quais os caminhos e dificuldades para conseguir tal intento, mas a verdade é que já nos campos de batalha, enfrentando as durezas da guerra e as ameaças dos inimigos, o pracinha começou a escrever cartas para o seu amor, para a sua querida esposa, uma jovem e bela mulher em constante tristeza na sua janela.
Talvez ficasse tanto tempo na janela na expectativa de chegar mais uma cartinha escrita no calor da refrega, mais uma missiva cheia de saudades, contendo palavras que mais pareciam choradas do que escrita. Em envelopes carimbados de solo italiano, abria cada cartinha e em seguida, após as lágrimas serem enxugadas ao sol, colocava naquele baú das aflições.
“Ontem, aqui no Monte Castelo, os inimigos avançaram com toda ferocidade do mundo. Contudo, não temo nada disso que acontece, pois estou preparado para a luta. Mas não poderei dizer se vou conseguir vencer a inimiga chamada saudade nem essa dificuldade chamada distância...”.
“Os inimigos estão cada vez mais ferozes. Derrubamos um tanto e logo temos que derrubar outro monte que se esconde por trás dessas montanhas. Estou há três dias sem dormir, mas por nada que tenha me ocorrido por aqui. A saudade é demais, a vontade de estar ao seu lado é demais, tudo é demais e demasiadamente dolorido longe dos teus braços...”.
“Nunca imaginei que um dia passaria o que estou sendo forçado a passar. Só suporto colocar na boca essa comida fria e sem gosto que servem porque começo a lembrar do seu feijãozinho temperado, do seu arroz com ervilha e do lombo de forno que só você sabe fazer. Mas não há como deitar nessa cama dura de campanha, roendo os ossos e pinicando a pele, e lembrar do calorzinho bom da nossa dormida, sempre abraçadinhos. Prefiro nem passar as noites pensando nisso, pois seria sofrimento demais...”.
“O meu comandante me avisou que amanhã iremos para outro lugar, combater noutro ponto. Falou-me que os inimigos estão em volta de Camaiore e Monte Prano. Mas meu maior inimigo, agora sinto, sou eu mesmo que não sei me dar asas para voar até nosso ninho e repetir uma coisa que agora se faz mais fortemente como nunca no meu coração: te amo, meu amor, te amo...”.
E pela data esta foi a última carta enviada. Pelo que se sabe ele não pôde retornar, pois tombou em Camaiore tendo ao lado uma fotografia da esposa. E esta, até morrer de definhamento e saudade, ficou ali na janela esperando outra carta que não chegou.

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Oferenda de lua e gente (Poesia)



Oferenda de lua e gente


Ganhei uma lua
imensa e bela
e pensei que o sertão
era o paraíso
e era

depois me deram
uma paz e um sossego
e pensei que o sertão
era a felicidade
e era

depois me pediram
pra caminhar
seus caminhos
viver o seu povo
entender sua gente
conhecer a humildade
sentir o sentido da fé
e pensei que o sertão
não era isso tudo
e era
e sou...


Rangel Alves da Costa