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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

UMA BOA TARDE PARA TODOS! QUE DEUS LHE CONCEDA PAZ, MUITA PAZ!

Por Bismarch Martins de Oliveira
À esquerda sentados: Arruda Emmanuel, Luiz Firmo Ferraz, Everaldo Quirino Silva, Jair Tavares, Gilmar Leite e Irani Medeiros. Em pé: Jorge Remígio, Professor José Marconi, Professor Francisco Pereira Lima, Bismarck Martins de Oliveira e Narciso Dias.).

A literatura, os livros, os escritos, as livrarias, e os meios literários, além de fontes inesgotáveis de aprendizado e saber, servem para que nós conheçamos grandes pessoas e façamos inestimáveis amizades.

Hoje tive a enorme satisfação de reencontrar e prosear com grande estudiosos e pesquisadores da história e literatura do Nordeste.

Um grande abraço em todos!

(participando de uma reunião do GPEC (GRUPO PARAIBANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO) SE REUNIU HOJE 18/01/2019, NA LIVRARIA DO LUIZ, JOÃO PESSOA-PB CENTRO. Com a maior certeza, concretizou-se em um dos melhores bate papos da história do grupo que está completando sete anos da sua formação em janeiro de 2012. Conversas de alto nível. Parabéns! A todos presentes. 

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CABRAS DE LAMPIÃO O ESPETÁCULO

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Estreou em 20 de jan de 2019

Cabras de Lampião é um grupo de xaxado de Serra Talhada (PE). Surgiu há 24 anos como grupo de dança e foi se fortalecendo até se transformar numa ong chamada Fundação Cultural Cabras de Lampião, que mantém o grupo de dança (que percorre o país e já se apresentou no exterior), realiza pesquisas sobre o tema e dissemina a cultura nordestina, assim como a história dos cangaceiros.

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CANGAÇO: FESTA DOS MORTOS EM MACEIÓ

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.045

31.07.1938. Maceió (AL). Em Bebedouro, Maceió, uma multidão já aguardava. Dali ao Quartel foi um corre-corre da multidão em duas alas, para vê as cabeças que eram mostradas de minuto a minuto. Os troféus acompanhavam as cabeças, também mostrados ao povo.



As cabeças chegaram acompanhadas por uma caravana de 50 automóveis, segundo notícias do jornal “Folha da Manhã”. (Sergipe. 03.08.1938).
         
Após 16 horas de viagem, chegou o caminhão ao quartel do R.P.M. aproximadamente às 21 horas. As cabeças foram entregues ao comandante da Polícia Militar.
       
Da sacada do quartel o sargento Sylvestre Vianna Silva, apresentou ao povo os troféus.
       
As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram mostradas do alto do caminhão. Em seguida foram levadas para o necrotério à responsa do Dr, Lages Filho, legista.
       
Bezerra chegou à noite do domingo, ficou internado no Pavilhão de Cirurgia no Hospital de São Vicente com uma bala alojada na coxa esquerda, para cirurgia. Inúmeras pessoas foram visitá-lo. Deu entrevista a Gazeta. (25).
       
01.08.1938. Maceió (AL). O trem do dia 10 trouxe as cabeças de Palmeira dos Índios, que faltavam, indo para o necrotério. As nove cabeças ficaram expostas ao púbico, de manhã no necrotério.
      
A cabeça de Lampião foi estudada pelo legista de Maceió “Serviço Médico Legal”, Dr. Lages Filho: “A cabeça de Lampião chegou sem cérebro”.
       
Fora as cabeças de Lampião e de Maria Bonita, as outras estavam já sem condições e foram sepultadas em Maceió.
       
Bezerra fez uma viagem ao Rio de Janeiro para um encontro com Getúlio Vargas, depois caiu no esquecimento. Foi nomeado, após, delegado regional de São José da Lage (AL). Passou vinte anos lá.
       
Todos foram promovidos. O governo do estado distribuiu cinquenta contos de reis com todos, cabendo para os soldados, à média de um conto e duzentos. Oficiais 10%; sargentos, 5% e o restante dividido em partes iguais para os praças. O crédito foi aberto pelo interventor estadual, em torno de 03.04.1939.

Promovidos:

Adrião Pedro de Souza (morto em combate), soldado, a terceiro sargento;
José Lucena de Albuquerque Maranhão, tenente-coronel a Coronel;
João Bezerra da Silva, 10 tenente, a capitão;
Francisco Ferreira de Mello, aspirante, a primeiro tenente;
Aniceto Rodrigues da Silva, 30sargento, a aspirante;
Porfírio de Oliveira Lima, aspirante, a 20 tenente;
Valdemar da Silva Góis, 30 sargento, a aspirante.

Extraído do livro:


CHAGAS, Clerisvaldo B. & Fausto, Marcello. Lampião em Alagoas, Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 407-408.
  

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MEU AMIGO MONSTRO

*Rangel Alves da Costa

Eu tenho um amigo monstro. Acreditem, pois monstro mesmo. Ele tem feição indefinida, às vezes aparece peludo, mais alto ou mais baixo, todo feio e desengonçado, coisa de espantar qualquer um que não fosse eu. Mas já estou acostumado com ele, tanto que se tornou meu amigo.
Tudo nasceu há muito tempo, durante a minha criancice e infância, quando diziam que se eu não dormisse o bicho-papão iria me pegar. Cantavam música falando do bicho-papão, a todo instante ameaçavam com a presença do tal bicho se eu deixasse de fazer isso ou aquilo.
Mas nunca tive medo daquele bicho-papão que tanto me lançavam como verdade. Muitas vezes, eu ficava acordado a noite inteira esperando sua aparição. E nada. Então fui criando um bicho-papão na minha imaginação. Com ele eu toda noite conversava, sorria e chorava, compartilhava minhas dúvidas da idade.
Fui crescendo e nunca mais me desapartei do bicho-papão. Eu sempre sentia a necessidade de sua presença, pois confiando nele muito mais que nas pessoas ao meu redor. E depois, já adulto, o bicho-papão foi se transformando noutro bicho, que achei por bem chamá-lo de monstro.
Então ainda hoje o monstro é meu cordial e sincero amigo. Entro no quarto, fecho a porta e logo o procuro. Ele me aconselha por que diz que me acompanha aonde eu vou e vê o que faço certo ou errado. Acho interessante essa preocupação, pois sei que muitos humanos e que se dizem amigos não estão nem aí. Mas com o monstro é diferente.


Outro dia, encontrei-o de olhos entristecidos, chorosos. Perguntei o que tinha acontecido e ele, cabisbaixo, respondeu: “Um dia já não estarei com você. E temo pelos outros monstros que estejam ao seu redor!”. Algo como um presságio, como uma despedida, mas a verdade é que no dia seguinte não o encontrei mais. Nunca mais retornou. Até que sonhei com ele me dando adeus e dizendo que tivesse muito cuidado.
Passei a ter mais cuidado sim, e por isso mesmo jamais o esquecerei. Sei que na vida existem muitos outros monstros. E monstros humanos de verdade. Mas ainda assim nem os detesto nem os temo. Aprendi com o meu amigo que nada deve ser acreditado apenas pela aparência ou pelo que dizem.
Meu amigo monstro era tão feio e desengonçado, tão amedrontador e temeroso, mas tão singelo e afetivo. Com ele aprendi que o monstro é aquilo que criamos em nossas mentes e aspirações. E que monstros realmente não existem na forma e no jeito que os demais apregoam, mas simplesmente na ideal de mal que tanto desejam que acreditemos.
Então criamos monstros e temos monstros por todo lugar. E a realidade não é bem assim. Existe outro lado que precisamos conhecer antes que espalhemos suas existências. Como num jardim não existem somente espinhos, bem assim na vida humana e seus labirintos.

Escritor
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4 DE MARÇO DE 1926, LAMPIÃO É ENTREVISTADO PELO MEDICO DO CRATO-CE, DR: OCTACILIO MACEDO:



Tranquilamente, sentado em um tamborete com seu rifle no colo, olhos atentos, em frente ao medico, Lampião é entrevistado, alguns cangaceiros ao seu redor, atentos, Lampião foi perguntado e respondeu:
Qual o seu nome de origem?

– “Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva e pertenço a humilde família Ferreira, Riacho de São Domingos, município de Vila Bella. Em Água Branca foi meu pai, José Ferreira, barbaramente assassinado pela polícia, no ano de 1921. Não confiando na ação da justiça pública porque os assassinos contavam com a escandalosa proteção dos grandes, resolvi fazer justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte do meu progenitor.”

Que idade tem?

– “Vinte e oito anos.”

Seu nome já é conhecido em todo o Brasil, mas por onde mesmo você tem andado no Nordeste e como enfrenta os policiais destes estados?

– “Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas e uma pequena parte do Ceará. Com as policias destes estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é uma polícia disciplinada e valente que muito cuidado me tem dado; a da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, mais parecendo à força pernambucana.”

Seu grupo recebe proteção de muita gente?

– “Não tenho tido propriamente protetores…de todos os meus protetores só um me traiu miseravelmente. Foi o Coronel José Pereira de Lima (Zé Pereira), chefe político de Princesa ( Princesa Isabel – Paraíba), homem perverso, falso e desonesto, a quem durante anos servi, prestando os mais vantajosos serviços de minha profissão.”

No caso de insucesso com a polícia, quem o substituirá como chefe do bando?

– “Meu irmão Antonio Ferreira ou Sabino Gomes.”

Dizem que você está rico. Até onde isto é verdade?

– “Tudo quanto tenho – convenho conseguido na minha vida de bandoleiro do mal tem chegado para as vultosas despesas do meu pessoal – aquisições de armas e munições – convido notar que muito tenho gasto com distribuição de esmolas aos necessitados.”

Ao longo de sua vida nas armas e quantos combates já esteve envolvido e quantas pessoas foram mortas em batalha?

– “Não posso dizer ao certo o número de combates em que já tive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira do meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente, de que além de civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados era-me impossível guardar na memória os que foram levados para o outro mundo.”

Você sabe de tudo que acontece dos movimentos da polícia, de planos para lhe capturar?

– “Tenho também um excelente serviço de espionagem, dispendioso, embora utilíssimo.”

É comum dizerem que os cangaceiros, por onde passam deixam um rastro de sangue. Como é o seu comportamento?

– “Tenho cometido violências e depredações vingando-me dos que me perseguem e em represálias a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias humildes que sejam, e quando sucede algum do meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente.”

Como anda a sua saúde, se sofre tantos ferimentos?

– “Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre esses, uma na cabeça, do qual só por milagre escapei. Os meus companheiros também; vários deles têm sido feridos. Possuímos, porém, no nosso grupo, pessoas habilitadas para tratar dos feridos, de modo que sempre somos convenientemente tratados. Por isso estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo raramente, ligeiros ataques reumáticos.”

O que imagina do futuro dentro do cangaço?

– “Estou me dando bem no cangaço e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso trabalhar ainda uns três anos. Tenho que visitar alguns amigos, o que ainda não fiz por falta de oportunidade. Depois talvez me torne comerciante.”

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MEMORIAL MILITARES MORTOS... BAIANOS E NA BAHIA


O levantamento do número de militares mortos em combate, seja baianos ou na Bahia, tem surgido apenas esparsamente, muito dado a erros e imprecisões.

Esta listagem é uma contribuição que aponta aqueles mortos que estão referenciados em diversas publicações, especialmente aquelas reconhecidas, no momento, pela própria Secretaria de Segurança da Bahia.

O seu acompanhamento é interessante ao demonstrar evidente o despreparo inicial da polícia baiana, no combate ao Cangaço. No seu passo, a correta dimensão do problema e a profissionalização crescente permitiu, primeiramente, a queda do número de militares mortos. Em segundo lugar, a inversão, com a progressão de cangaceiros eliminados.

Outro ponto que chama a atenção foi a desatenção descuidadosa do Estado, em relação aos seus mortos.
Inumados em sepulturas simples, seus restos, em sua maior parte, perderam-se.

1927
Quarta–feira 18 de fevereiro de 1927 - Picos, em Santo Antônio da Gloria
soldado Paulo Sant’Anna

1928
22 de dezembro - Fazenda Curralinho, no Cumbe (Atualmente Euclides da Cunha)
sargento José Joaquim de Miranda, (que aparece também citado como João Joaquim de Miranda, apelidado “Bigode de Ouro”).
soldado Juvenal Olavo da Silva, (Que aparece também citado como Juvenal A. da Silva).
soldado Francellino Gonçalves Filho, (Que aparece também citado como Francisco G. Filho).
1929
7 de janeiro de 1929 - Arraial de Abóbora, em Jaguarary (Atualmente é povoado de Juazeiro)
soldado José Rodrigues
soldado Manoel Nascimento de Souza
João Alves Guimarães, testemunha do combate de Abóbora, aponta a localização da entrada do antigo cemitério de Abóbora. Os soldados foram enterrados próximo à quina branca que se vê à esquerda. um novo cemitério foi instalado em outra localização, entretanto, os restos dos mortos não foram retirados. Daí, os restos dos soldados ainda repousam nos mesmos sítios, sob o pavimento da nova Abóbora.

26 de fevereiro de 1929 - Novo Amparo
+ soldado desconhecido
+ soldado desconhecido
4 de junho de 1929 - Brejão da Caatinga - Campo Formoso
cabo Antônio Militão da Silva
soldado Pedro Santana
soldado Cecílio Benedito da Silva, (Que aparece também citado como Cecílio Bernardino Alves).
soldado Manoel Luiz França, (Que aparece também citado como Manoel Luis de França).
soldado Leocádio Francisco da Silva, (Que aparece também citado como Leocádio Francisco dos Santos).

Os corpos dos soldados mortos em Brejão da Caatinga foram exumados e levados para a cidade de Campo Formoso, em cujo cemitério foram enterrados. Em uma reforma no cemitério, os restos de diversos mortos foram retirados e agregados em uma cova comum, em uma quina do cemitério. Entre eles estavam os restos dos militares. Na imagem, o coveiro atual, Eduardo Costa Sebastião, mostra onde repousam os mortos de Brejão da Caatinga, na quina, sob a árvore e os tocos de madeira.

20 de setembro de 1929 - Tanque Novo - Juazeiro
+ soldado desconhecido
+ cabo João Soares
21 de outubro de 1929 - Patamuté
soldado Olegário C. da Silva
Soldado Pantaleão da Silva foi dado por Felippe Castro (1975) como morto, mas foi apenas ferido, tendo sido promovido.
Soldado Pantaleão da Silva,
ferido, recuperando-se em Salvador.

18 de dezembro de 1929 - Uauá
soldado Vitorino Baldoino Lopes
soldado João Felix de Souza
19 de dezembro de 1929 - Santa Rosa - Jaguarary
soldado Vitorino Baldoino Lopes
soldado João Felix de Souza
+ soldado desconhecido
cabo João S. da Silva
22 de dezembro de 1929 - Queimadas
anspeçada Justino Nonato da Silva
soldado Olympio Bispo de Oliveira
soldado Aristides Gabriel de Souza
soldado José Antônio do Nascimento
soldado Ignacio Oliveira
soldado José Antônio da Silva, (Que aparece também citado como Antônio José da Silva).
soldado Pedro Antônio da Silva
1930
1 de agosto de 1930 - Fazenda Lagoa dos Negros - Tucano
tenente Geminiano José dos Santos
sargento José de Miranda Mattos, (Que aparece também e erradamente citado como José Miranda Marques).
soldado Argemiro F. dos Reis, (Que aparece também citado como Francisco Almiro dos Reis e Aquino Francisco dos Reis).
soldado Arnaldo Claudio de Souza, (Que aparece também citado como Arnaldo Cândido de Souza).
+ soldado André Avelino de Souza, (Que aparece também citado como André Avelino dos Santos).
1931
30 de janeiro de 1931 - Brejo do Burgo
+ soldado desconhecido
3 de fevereiro de 1931 - Vassouras
+ soldado desconhecido
24 de abril de 1931 - Fazenda Touro - Paulo Afonso
sargento Leomelino Rocha
1932
15 de abril de 1932
+ soldado Odilon G. da Silva
1933
2 de outubro de 1933 

soldado Pedro Emygdio de Oliveira (Ferido em tiroteio, trazido a Salvador, faleceu no Hospital da Força).

1934
21 de abril de 1934 - Paripiranga
+ soldado João Pereira de Souza
De uma maneira geral são estes os nomes e as datas. Caso haja outros dados referenciados, basta comunicar que serão inseridos.

Colhido no fértil Cangaço na Bahia

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CANUDOS -O FIM DO TREME-TERRA


 Por Raul Meneleu Mascarenhas

Moreira Cesar

Uma onda de temor varreu o sertão. Lá vinha ele: o Anticristo, o Corta-Cabeças. o Treme-Terra. Muito tempo depois da guerra, ele ainda serviria de inspiração para os cantadores. Como nesta quadra, recolhida por José Calazans: 

Moreira César foi ao céu 
Com Tamarindo ao seu lado 
Sdo Pedro falou assim: 
A que cara de malvado! 

Antônio Moreira César era o seu nome,  coronel a sua patente. O oficial talvez mais celebrado do Exército, a quem se atribuía bravura sem igual. Era considerado o herdeiro do marechal Floriano Peixoto, falecido havia dois anos, ídolo dos militares e patrono-mor dos "jacobinos", como eram chamados os defensores mais intransigentes do regime republicano. 

Euclides da Cunha o descreve: "O aspecto reduzia-lhe a fama. De figura diminuta — um tórax desfibrado sobre pernas arcadas em parênteses —, era organicamente inapto para a carreira que abraçara. (...) Apertado na farda, que raro deixava o dólmã feito para ombros de adolescente frágil agravava-lhe a postura. A fisionomia inexpressiva e mórbida completava-lhe o porte desgracioso e exíguo". E no entanto, quanto respeito — e quanto medo — impunha à sua volta. Consideravam-no um herói por sua atuação na repressão aos dois movimentos que haviam desafiado o regime florianista — a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, e a Revolução Federalista, no Sul. 

Em Santa Catarina para onde foi enviado com plenos poderes, para apagar os últimos fogos da Revolução Federalista distinguiu-se pela ferocidade. Quando não fuzilava, decapitava os adversários. Agora ia entrar na legenda do sertão. 


"Na Guerra de Canudos, depois de Antônio Conselheiro e Euclides da Cunha, Moreira César é o principal personagem", diz Oleone Coelho Fontes, outro dos canudistas baianos, autor de um livro sobre Moreira César, O Treme-Terra." 

O elenco da epopeia do sertão pode ser prolongado ao infinito: coronel Tamarindo, o segundo de Moreira César, cabo Roque, herói efêmero de uma bravura que não houve; marechal Bittencourt, o ministro da Guerra. Do lado dos conselheiristas, a turma dos jagunços valentes, alguns formados na escola do cangaço antes de se juntar ao Conselheiro e se tomar os cabeças de seu Exército improvisado: João Abade, o "comandante da rua", como era conhecido — "rua" no sentido de "arraial", de "cidade", de "área urbana" e comandante porque era o chefe militar supremo: Pajeú, o temível guerrilheiro das estocadas ardilosas, "forma retardatária de troglodita sanhudo", segundo Euclides; Pedrão, que veio a morrer só em 1958, com tanto gosto de lutar que dizia a José Calazans, quando já nonagenário, e entrevado: 

"Faz pena um homem como eu morrer sentado". O mesmo Pedrão, que mais de trinta anos depois de Canudos seria contratado pelo interventor Juraci Magalhães para combater Lampião, justificava-se: "O coração pedia para brigar". 

A estes, acrescentem-se os acólitos religiosos do Conselheiro: Antônio Beatinho, José Beatinho, Paulo José da Rosa. José Beatinho, com sua bela voz, fazia as rezas mais bonitas e mais pungentes. Havia o sineiro Timotinho. Até o fim, não importava o vareio de balas, o troar de canhões e o mar de cadáveres que se interpunham em seu caminho, nas ruas estreitas do arraial. Timotinho cumpria a obrigação de tocar o sino. Morreram juntos, ele e o sino, um arremessado para cada lado, quando uma bala de canhão atingiu a torre da igreja velha. 

A Guerra de Canudos é tão rica de personagens quanto a — releve-se a insistência na comparação — de Troia e de personagens que igualmente foram se credenciando à mitologia, tal a maneira como os descrevem, e tais as façanhas que lhes atribuem. 

Se o Brasil fosse os Estados Unidos, e produzisse filmes como Hollywood, haveria aqui mais filmes com Moreira César e Pajeú, Tamarindo e João Abade, do que há nos Estados Unidos com o general Custer e Touro Sentado. 

Canudos, entre outras coisas, é uma esplêndida história, com uma trama de emoções e imprevistos. A guerra começou com um equívoco. Correram rumores em Juazeiro, à margem do Rio São Francisco a noroeste de Canudos, de que por causa do atraso na entrega de uma encomenda de madeira para a construção da nova igreja do arraial, os conselheiristas preparavam uma invasão da cidade. A população assustou-se com o boato, o juiz local notificou o governador do Estado, Luís Viana, e este resolveu enviar a Canudos — estamos em novembro de 1896 — uma expedição punitiva. 


Tinha 104 homens, era comandada por um tenente, Pires Ferreira, e estava destinada ao primeiro dos sucessivos vexames que seriam impostos aos militares. Quando os soldados estavam estacionados no povoado de Uauá, já perto de Canudos, sentiram a aproximação de um estranho cortejo — uma fila de gente que rezava e entoava cânticos religiosos, tendo à frente uma grande cruz e um estandarte do Divino. "Parecia uma procissão de penitência", escreve Euclides. Era um batalhão do Conselheiro, armado com o que foi possível juntar na circunstância — velhos trabucos, facões, paus, pedras, foices. Depois de quatro horas de combate, embora com muito mais perdas do que o inimigo, puseram-no a correr. Terminava aquela que passou para a História como a primeira expedição. 

A segunda expedição, comandada pelo major Febrônio de Brito, quintuplicou de tamanho — 550 homens — e pela primeira vez usou Monte Santo como base de apoio e ponto de partida da ofensiva, algo que se repetiria nas expedições seguintes. Monte Santo, 100 quilômetros ao sul de Canudos, é, hoje como há 100 anos, o lugar mais interessante da região. O Monte Santo que lhe empresta o nome é a Sena de Piquaraçá, que se eleva atrás da cidadezinha. Na verdade, a cidadezinha é como outras do sertão. O que há de interessante no lugar é o monte, que lhe serve de majestoso pano de fundo — um monte sulcado por um caminho que o vai galgando, sinuosamente, subindo sempre, subindo até quase perder de vista e todo salpicado de capelinhas, como se fosse, como escreveu Euclides da Cunha, "uma escada para os céus". 

Febronio de Brito

Lá no alto, no fim do caminho, há uma igreja maior, a Igreja de Santa Cruz. Trata-se de uma via-sacra, em que as capelinhas representam as passos da Paixão. Foi construída no século XVIII. 100 anos antes de Canudos, por um capuchinho italiano, frei Apolônio de Todi. A subida até Santa Cruz, longa de 3 km, é penosa. O caminho é não só íngreme, quase a desafiar alpinistas, como composto de chão rude de pedras, cortantes algumas, escorregadias outras. No alto, bate um vento forte e descortina-se um panorama deslumbrante da região.

O Monte Santo de frei Apolônio, reprodução do que ele imaginava fosse o Calvário de Jesus — na verdade muito mais alto, mais íngreme e mais penoso de subir do que o Calvário ao qual se é apresentado em Jerusalém —, é o mais eloquente símbolo material do catolicismo do sertão: um catolicismo feito de penitência de severidade, de purgação atormentada e permanente dos pecados.

Hoje, ao chegar a Monte Santo, depara-se com uma placa: "Benvindo. Welcome. Bienvenido. Monte Santo. Altar do Sertão". Como se a cidadezinha perdida nos fundões do Brasil fosse visitada por estrangeiros. Não é, mas os sertanejos continuam a procurá-la. Na Semana Santa, costuma atrair milhares de devotos. Mas mesmo no resto do ano, e especialmente nas sextas-feiras, o dia da feira na cidade, o movimento é grande. É o dia preferido pelos pagadores de promessa. 

Monte Santo , Bahia

O caminho de pedras que sobe morro acima registra então um contínuo vaivém. Hoje são raros, mas ainda há os que sobem de joelhos ou carregando pedras. Fica-se a perguntar que tanto se peca, no sertão, que tanto se precisa de penitência? Monte Santo evoca tanto a religião como cidade santuário, quanto a Guerra de Canudos. No tempo de suas peregrinações pelo sertão, antes de estabelecer-se no arraial. Antônio Conselheiro visitou-a várias vezes. Um ano antes de estabelecer-se em Canudos, encetou. com seus seguidores, trabalhos de restauração em algumas das capelinhas da montanha. 

Quando os soldados se reuniram em Monte Santo, segundo Euclides, a cidade tomou ares de festa. Barracas militares, centenas de forasteiros: "Tudo aquilo era uma novidade estupenda". A segunda expedição demorou quinze dias na cidade antes de se pôr a caminho. E então, tudo foi muito rápido. Bastaram dois dias, ao se aproximar de Canudos, para que ela também, fosse desarticulada e posta a correr, depois de ter sido surpreendida pelo inimigo emboscado nos morros próximos do arraial insurreto. A humilhação era demasiada. O irredentismo dos fanáticos" sertanejos, como começavam a ser qualificados, virava questão nacional. O histerismo que tão frequentemente caracteriza a vida política brasileira, materializado ora em denúncias arrasadoras, ora em invectivas que desqualificam o adversário num dia como um "comunista" no outro como "neoliberal", consolidava uma fantasia: a de que Canudos era a ponta-de-lança de uma reação monarquista. 

Lembre-se de que o regime republicano fora inaugurado havia apenas sete anos. O novo regime já enfrentara o desafio da Revolta da Armada e da Revolução Federalista. Agora, sob o disfarce do fundamentalismo religioso, vinha dos sertões uma revolta que sem dúvida se ramificava pais afora, nos arraiais monarquistas, e quem sabe tinha até apoio do exterior. Para debelá-la. só um bravo como Moreira César. Paulista de Pindamonhangaba, então com 47 anos, o coronel foi convocado para chefiar os 1.300 homens que formariam na terceira expedição. Da lenda de Moreira César faz parte uma coleção de marcos na região. Na cidade de Euclides da Cunha, a antiga Cumbe. apontarão ao visitante a casa em que ele ficou, quando por lá passou, a caminho de Canudos — um sobrado hoje vazio e fechado, atrás da igreja. 

Em Queimadas, Monte Santo, em cada cidade se mostram os lugares de alguma forma ligados à sua memória. No lugar chamado Umburanas, em Canudos, por onde corre o riacho do mesmo nome há uma cruz, no meio do mato. Uma lápide explica, embaixo: 

"Neste lugar foi abandonado, 
no dia 4 de março de 1897, 
o cadáver do coronel Moreira César..."


O marco, mandado edificar por Oleone Coelho Fontes, José Calazans, Renato Ferraz e outros estudiosos de Canudos, foi inaugurado no dia 4 de março último, centésimo aniversário do evento que rememora. Como pôde o coronel acabar desse jeito? Ele vinha tão confiante... Ao se aproximar de Canudos, ordenou que se disparassem dois tiros de um de seus quatro canhões Krupp. "Lá vão dois cartões de visita ao Conselheiro", disse. Ao longo da marcha, sua preocupação maior era que os conselheiristas abandonassem o arraial, privando-o da glória de derrotá-las. 

À medida que se aproximava, o otimismo aumentara: "Vamos tomar o arraial sem disparar mais um tiro, a baioneta". Ocorre que Moreira César rinha outro adversário, tão difícil de vencer quanto o Conselheiro — ele próprio. Era epilético, num tempo em que não se tinha como conter a doença. Sofreu dois ataques durante a campanha de Canudos. Além disso. apresentava um temperamento instável e impulsivo. Certa vez, navegando para o Rio de volta da campanha de Santa Catarina, com seus soldados, mandou prender o capitão do navio, por suspeitar de uma traição para a qual não havia evidência alguma. 



Em Canudos, da mesma forma como lhe sobrava confiança, faltou-lhe previdência. Mandou seus homens ao ataque depois de longo dia de marcha penosa. sem descanso. Fê-los avançar até para dentro do arraial e entrar numa luta corpo-a-corpo com os conselheiristas — o que, além de facilitar a movimentação do adversá-rio familiarizado com o labirinto de ruelas, inutilizou a artilharia que não podia disparar sob pena de atingir os próprias companheiros.   


A situação se complicava. Moreira César ordenou um ataque de cavalaria mais desastroso ainda em se tratando não de uma planície aberta. mas de um inimigo entrincheirado num reduto cheio de barreiras. Com a situação cada vez mais feia o coronel deixou seu posto de comando, endireitou o cavalo em direção ao arraial e avançou, dizendo: "Vou dar brio àquela gente". Não foi muito além. Atingido no ventre por uma bala, vergou-se. largando as rédeas. Os companheiros cercaram-no. "Não foi nada, um ferimento leve", disse. Morreu naquela noite. Os infortúnios de Moreira César e sua expedição estão magistralmente descritos em "Os Sertões".  


Morto o comandante, a desarticulação da tropa foi geral. O coronel Pedro Nunes Tamarindo, que deveria sucedê-lo no comando — um homem "simples, bom e jovial", segundo Euclides, que já chegara aos 60 anos e não aspirava senão a uma reforma tranquila — proferiu então sua frase famosa, um clássico de todos os tempos das debandadas militares: "É tempo de murici, cada um cuide de si". Tamarindo seria por seu turno abatido horas depois, quando transpunha o Córrego do Angico. Seu corpo foi recolhido pelos conselheiristas, empalado e erguido num galho. para assustar os imprudentes que porventura ainda viessem a ousar uma nova expedição contra o arraial sagrado. Os soldados não tinham como salvar os cadáveres ilustres. 



No atropelo da fuga, com os sertanejos ao seu encalço, fustigando-os e roubando-lhes as armas e as munições, abandonaram o corpo de Moreira César nas Umburanas... 

A morte do cultuado coronel elevou à potência máxima o clima nacional de histeria. As turbas invadiram as ruas do Rio de Janeiro. "A correria do sertão entrava arrebatadamente pela civilização adentro", escreveu Euclides. "Vingança" e "morte aos monarquistas" eram as palavras de ordem. Jornais monarquistas foram empastelados. Um monarquista, o coronel Gentil de Castro, fiel escudeiro do último primeiro-ministro do Império, o visconde de Ouro Preto, foi assassinado. Criavam-se fantasias. Correram rumores de que um certo cabo Roque, ordenança de Moreira César, heroicamente, tinha permanecido ao lado do corpo do chefe e resistira até o último cartucho, preferindo a morte a permitir que o inimigo profanasse a sagrada relíquia. 
  
Uma rua no Rio e outra em São Paulo foram batizadas com o nome do cabo Roque. Eis então que Roque aparece são e salvo, entre as últimos fujões retardatários e destrói o Roque da fantasia. O cabo Roque de verdade, desprovido de qualquer glória veio a morrer prosaicamente em 1900, de peste bubônica, no Rio. Quanto a seu malogrado chefe, ficava agora entregue aos cantos do sertão, mesmo que equivocados, confundindo o local em que foi abandonado o corpo com o da morte: 

Coronel Moreira César 
Olho de cana caiana. 
Tomou chumbo em Canudos 
Foi morrer nas Umburanas. 

Raul Meneleu Mascarenhas
Pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço
https://meneleu.blogspot.com/2016/04/canudos-o-fim-do-treme-terra.html?m=1&fbclid=IwAR2rViEj1kNihM4aAThhyDvEaoumPKaGRsDs-HFFq6UTfwU1AZFGNsjS_UI




E Vem aí...
Cariri Cangaço
Antônio, O Conselheiro do Brasil
Quixeramobim - Maio de 2019


https://cariricangaco.blogspot.com/2019/01/canudos-o-fim-do-treme-terra-porraul.html?fbclid=IwAR1jVo_rGeOaqZz173KcBpXo941pFMvoyKxMqcok0I5vJNnzccA36G21a7c

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