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sábado, 29 de junho de 2019

LAMPIÃO E SEUS PROTETORES NO AGRESTE PERNAMBUCANO POR:ANTONIO VILELA

Antonio Vilela e Gonzaga de Garanhuns

Antes de abraçar o mundo do crime, o jovem Virgulino Ferreira da Silva andava pelo agreste meridional de Pernambuco como almocreve, pois comprava vários produtos, em especial o café, para vender na ribeira do Pajeú. Após o assassinato de José Ferreira, Lampião encontrou um lugar seguro pra seus irmãos em Bom Conselho do Papa Caça. Mesmo inocentes, eram perseguidos pelos inimigos de Lampião. Em Bom Conselho a família Ferreira encontra a proteção do coronel José Abílio de Albuquerque Ávila, que por incrível que pareça era parente do tenente José Lucena Albuquerque Maranhão, o assassino de José Ferreira. A família Ferreira fixa residência na terra do Papa Caça até 1924, quando vão morar em Juazeiro do Norte-CE. Outro grande protetor de Lampião no agreste pernambucano era o coronel Audálio Tenório de Albuquerque, me Águas Belas. 

Em destaque Águas Belas ; agreste pernambucano

O seu refugio era a casa grande da fazenda nova, no riacho fundo. Ali, Lampião se refugiava por dias, protegido pelo coronel Audálio Tenório, um dos homens mais influentes na política do interior de Pernambuco. 

Na propriedade do coronel Audálio, os cangaceiros descansavam em um abrigo com cinco quartos, duas salas e uma grande cozinha, e que permitia uma visão total do seu entorno. Mas as volantes nunca passaram por aquelas bandas. O coronel foi considerado um dos grandes coiteiros de Lampião em Pernambuco, e responsável, segundo alguns pesquisadores, pelo contato de Lampião com o Sírio-Libanês Benjamin Abrahão que resultou nas imagens registradas em 1936 no Capiá da Igrejinha – AL, há poucas léguas de Águas Belas. 

Cel. Audálio Tenório de Águas Belas

Já o coronel Abílio tinha uma grande amizade com Lampião e era fornecedor de armas e munição. Em 1923, Lampião viajou com seus irmãos para Bom Conselho, ao povoado, nesse entremeio, chegou o coronel Abílio, procedente do Recife trazendo de automóvel muito armamento e munição envolvidos numa lona, destinados a Lampião, a quem entregou. 

O coronel era uma espécie de banco particular de Lampião, guardando parte da fortuna. Teve a ousadia de levar o Capitão cego para Recife para fazer o tratamento oftalmológico com o Dr. Isaque Salazar. Disfarçado de fazendeiro, cabelo e barba crescidos, óculos escuros, Lampião chegou à capital pernambucana em outubro de 1926. Andou de bonde, passeou pela Veneza brasileira e chegou até a assistir um filme. Esta viagem foi feita de trem, Garanhuns-Recife. 

Imagens de Bom Conselho, Pernambuco

O rei vesgo ainda tinha também a amizade e proteção do coronel Gerson Maranhão, em Itaiba. O que me chama a atenção nesses protetores era a ligação de parentesco com José Lucena de Albuquerque Maranhão. Acredito que Lampião, José Abílio, Audálio, Gerson Maranhão e José Lucena eram “farinha do mesmo saco”.

Antônio Vilela de Souza - Garanhuns
Sócio da SBEC


A CASA DE ADÍLIA, A EX-CANGACEIRA

*Rangel Alves da Costa

Ali no Alto de João Paulo, logo após a passagem molhada que separa a cidade de Poço Redondo, no sertão sergipano, da importante e histórica comunidade, distando apenas cerca de dois quilômetros desde o centro urbano, avista-se a casa onde morou Maria Adília de Jesus, a cangaceira Adília, companheira de Canário nas lides cangaceiras, e irmã do também cangaceiro Delicado (João Mulatinho).
A ex-cangaceira era mulher alta, esguia, de amorenado forte, cabelos escorridos, de poucas palavras, mas sempre cordial e amigueira. Diferentemente da ex-cangaceira Sila (espalhafatosa, conversadeira, cheia dos luxos e dos requintes), Adília, até mesmo por ser humilde e viver na humildade, era pessoa de absoluta simplicidade. Não falava de seu tempo de cangaço nem se arvorava do que havia sido. Quem a visse era como se nada sobre aquela mulher guardasse tantos segredos e tantas histórias.
Adília entrou para o cangaço com menos de dezesseis, influenciada pelo grande amor de sua vida, o conterrâneo e também cangaceiro Canário (Bernardino). Como a sua família não aceitava o namoro, a menina prometeu ao namorado que iria com ele até o inferno se fosse preciso. E foi. Em 36 seguiu com ele para as agonias entre os açoites das balas e os espinhos sangrentos do mandacaru.
Também dessa comunidade do Alto é a origem de outros quatro irmãos cangaceiros: Sila (Ilda Ribeiro de Souza), Novo Tempo (Du), Mergulhão (Gumercindo) e Marinheiro (Antônio), filhos de Paulo Braz São Mateus, pai do famoso vaqueiro e homenageado João Paulo, por isso mesmo a denominação atual de Alto de João Paulo. Por todos aqueles arredores há um histórico de participação cangaceira, tivesse sido como cabra de Lampião, coiteiro ou participante ativo naquele mundo sertanejo carregado de sangue, valentia e sofrimento.


A família de Adília, do tronco dos Mulatinho, possuía parentesco com a família Braz São Mateus, de Sila e demais, e ainda hoje a comunidade é formada pelas raízes vingadas daqueles primitivos habitantes. Parentes de Adília e Delicado, bem como de Sila, Novo Tempo, Mergulhão e Marinheiro ainda estão por lá. Outros arribaram para o centro urbano mais adiante, mas todos ainda compartilham, um tanto orgulhosos e sem medo, do sangue famoso que carregam nas veias.
Pois bem, esta a casa de Adília, de cor esverdeada e porta e janela à frente, levantada no tijolo e cimento, é hoje habitada por familiares. Contudo, a ex-cangaceira nem nasceu nesta residência nem nela habitou logo após sua saída do cangaço. A originária casa dos Mulatinho era no barro e cipó, na simplicidade sertaneja de então. E ao retornar a seu berço de origem, após as durezas dos embates cangaceiros, foi também numa casinha de barro e cipó que a valente mulher fixou moradia, do outro lado de onde hoje está a moradia que fez de lar até falecer em março de 2002, aos 82 anos.
Desse modo, todo aquele que por interesse histórico ou mesmo para uma visita e conhecimento da comunidade do Alto, basta atravessar a ponte do riachinho e seguir adiante, e a casa logo estará visível ao olhar. Atualmente desconhecida ou vista apenas como mais uma casa ali do Alto, mas guardando dentro de si um relicário de históricas recordações e saudades muitas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

DESTINOS DIFERENTES A FAMÍLIA DE LAMPIÃO EM JUAZEIRO DO NORTE,CE

Por: Leandro Cardoso

Muita gente não sabe, mas a família de Lampião viveu em Juazeiro do período de 1923 a 1927, com a permissão do Padre Cícero. Na segunda década do século passado, por duas vezes, a família Ferreira teve que se mudar em razão dos entreveros com o vizinho José Alves de Barros, o Zé de Saturnino. Na primeira vez, obedecendo a um pacto de acomodação arbitrado pelo Coronel Cornélio Soares de Vila Bela, mudaram-se para a Vila de Nazaré (hoje Carqueja–PE).

Na segunda vez, demandaram à cidade alagoana de Mata Grande, ocasião em que morreram os genitores de Lampião, José Ferreira (vítima da volante de José Lucena Maranhão) e Dona Maria (vítima de um ataque cardíaco).

Em 1922, o jovem cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, já definitivamente com o pé fincado no cangaço, assume a chefia do bando do célebre Sinhô Pereira, que deixava o Nordeste em fuga para Goiás.

A família Ferreira, sem possibilidade de retornar para Vila Bela, procura abrigo em Juazeiro do Norte. Com a morte dos pais, João Ferreira (o único dos irmãos que não entrou para o cangaço), assume a chefia da família. Após conversa com o Padre Cícero, recebe permissão para se estabelecer em Juazeiro com as irmãs, cunhados, primos (os Paulo) e sobrinhos.

Lampião e familiares em Juazeiro do Norte

Na passagem de Lampião por Juazeiro do Norte, em 1926, foram tiradas várias fotografias da família. Na célebre foto da família reunida (que é vista acima), vemos na extrema esquerda sentado, Antônio Ferreira e na extrema direita, Lampião; a segunda sentada da direita para a esquerda é Dona Mocinha (tendo seu marido, Pedro Queiroz, atrás de si); ao lado direito de Pedro está João Ferreira; do lado esquerdo de João está Ezequiel (que depois entraria para o cangaço com o vulgo de Pente Fino); e, finalmente, o segundo da direita para a esquerda, em pé, é Virgínio (seria o futuro cangaceiro Moderno, chefe de grupo), casado com uma irmã de Lampião, que logo morreria de parto em Juazeiro.

Na ocasião da foto, Dona Mocinha (Maria Ferreira de Queiroz) estava recém-casada com Pedro e, nas várias ocasiões em que a entrevistei, ela sempre externou a enorme benevolência do Padre Cícero, e que todos da família se sentiam seguros em Juazeiro. Dona Mocinha, hoje com 96 anos, única remanescente viva dos irmãos e irmãs de Lampião, mora em São Paulo e foi diversas vezes entrevistada por mim. Contou-me que aprendeu a dançar com Virgulino tocando “harmônica” no terreiro da fazenda “Passagem das Pedras”, em Vila Bela, e que o irmão vivia na casa da avó, Dona Jacosa Lopes. Refere-se aos irmãos sempre com muito carinho, dizendo que o mais fechado era Antônio e o mais brincalhão era Livino Ferreira. E, em todas as vezes que conversamos, sempre externou a excelente acolhida que a família teve em Juazeiro, e gratidão de todos ao Padre Cícero. Tanto é que seu primogênito é afilhado do Padre Cícero.

Rememora com muita satisfação dos familiares de João Mendes de Oliveira, de quem se tornaram amigos. Dona Mocinha casou em Juazeiro com Pedro Queiroz e só deixou a Meca nordestina quando a polícia pernambucana intimou seu marido em Vila Bela, e o prendeu arbitrariamente. Então, Dona Mocinha (e parte da família), teve que deixar Juazeiro em 1927 para residir em Serra Talhada.

Para finalizar, deixo minhas homenagens à Dona Mocinha, que hoje, quase centenária e lúcida, é um repositório vivo da história recente do Brasil e de Juazeiro do Norte, uma vez que foi expectadora de camarote de um dos períodos mais interessantes e polêmicos da nossa história recente, além de ser testemunha inconteste do desprendimento e da bondade incondicionais do Padre Cícero Romão Batista.
 O autor com Dona Mocinha

O autor é médico, cordelista, escritor, residente em Teresina, PI – Foto


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SÓ PARA DESOPILAR - O QUE ELES PROCURAM NO CHÃO?

Por José Mendes Pereira

Você tem ideia o que é que eles estão procurando no chão?

Ex-governador do Rio Grande do Norte Tarcísio de Vasconcelos Maia

Veja que o Dr. Tarcísio Maia o segundo da esquerda, ex-governador do Rio Grande do Norte, dá impressão que achou o que perderam, mas não arrisca apanhar. Voltará em outra ocasião.

Aureliano Chaves

Aureliano Chaves que é o da frente ladeado por Tarcísio Maia e José Agripino Maia finge que não está interessado encontrar. Mas se achar, não dividirá com ninguém. E suspirou fundo.

Deputado Márcio Marinho

O deputado Márcio Marinho preferiu ficar perto das flores, pois se achar o que perderam, fingirá que irá pegar uma flor.

Ex-senador José Agripino Maia

Já o José Agripino Maia senador do Rio Grande do Norte está apenas cumprindo pauta. Ainda é muito jovem e tem muita vida pela frente. Não irá se preocupar com isso. Muitas e muitas coisas as encontrará na sua longa estrada da vida.

Lá no fundo da foto aparecem dois senhores. Um é civil. E pela pose que faz, ele colocou as mãos para traz para não se misturar com políticos. E se achar o que perderam, apanhará com os próprios pés.

Mas o outro é militar. E ameaça os outros, que se algum deles encontrar e não dividir o achado também com ele, não perdoará. Será tangido para o quartel, já que os 4 são políticos, e político é uma conveniência, isto é, farinha do mesmo saco e todos calçam igualmente 40.

Geraldo Melo

O ex-governador do Rio Grande do Norte Geraldo Melo disse que as pessoas costumam dizer que, "todo político calça 40", mas ele diz sem medo de errar que calça 39. 

Geraldo Melo foi muito honesto como governador do Rio Grande do Norte, mas para os professor ele foi cruel, vingativo e o mais rancoroso para a classe educadora. 

Ele disse: 

"Nunca vi ninguém morrer de fome porque não estudou".

Você já ouviu dizer que usineiro é bom?

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COMO ERA DIFÍCIL IR À GROTA DO ANGICO EM POÇO REDONDO NO ESTADO DE SERGIPE

Por Aderbal Nogueira

1997 quase não consigo um barqueiro para ir à Grota "vai ver o que lá, lá num tem nada não"realmente tinha lugar que a trilha era fechada e o movimento devia ser pouco ou quase nada.



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HISTÓRIAS DO CANGAÇO

Para tirar a raça.


Por: Leonardo Motta.

Sempre que o coração cruel de Lampião se abrandava num gesto compassivo, Sabino Gomes, seu lugar-tenente, resmungava, contrariado. Quando foi, por exemplo, da ocupação da cidade cearense Limoeiro, Lampião rendeu-se às súplicas do Vigário local para não saquear as casas de comércio. Sabino, visivelmente irritado, mandava o Padre rezar e cuidar da sua igreja, não se metendo em coisas que não são da conta de quem veste batina.

Sabino foi morto pelo próprio Lampião, que sempre o temeu, se arreceou do seu crescente prestígio no bando e se tornou cobiçado dos cinquenta e tantos pacotes que Sabino trazia sob a cartucheira.

– Antes que ele me queira jantar, eu o almoço! decidiu Lampião, suspeitoso de que Sabino, mais hoje, mais amanhã, o abatesse com um tiro, para se apoderar da centena de contos de réis que também ele, Virgolino, acarinhava de encontro à cinta.

Uma das preocupações de Sabino na vida de crimes a que se entregou era vingar a morte dum seu irmão, o Gregório, rapaz pacato e benquisto, eliminado numa emboscada pelo Zé Favela. Nunca se pôde saber a causa desse assassínio.

Um dia, casualmente chegando a uma fazenda, Sabino e seus cabras encontraram o Zé Favela desarmado. Reconhecê-lo e arrastá-lo para o terreiro, a fim de ser sangrado, foram coisas simultâneas. Antes, porém, que a vingança se consumasse, a dona da casa, com um crucifixo à mão, implorou do sicário, aos gritos:

– Seu Sabino, lhe peço por esta image: não mate o home! É o premêro pedido que lhe faço e se alembre que o Sr. nunca chegou nesta casa que não tivesse comidoria e arrancho e a gente não lhe botasse no piso da poliça! Me faça isso, seu Sabino, não mate o home!

Sabino quedou um instante e falou pro Zé Favela:

– Cabra, tu vai me dizer uma coisa: por que foi que tu matou meu irmão?

Zé Favela, sobranceiro como um nobre condenado, que altivamente aguardasse a morte, redarguiu, sem pestanejar:

– Seu Sabino, eu matei seu irmão, enganado.

– Enganado como, cabra mentiroso?

– Cabra mentiroso, não seu Sabino! Eu matei seu irmão enganado! Matei ele, enganado, porque eu ia matar era o senhor!

A confusão era verdadeira, mas brutal! Os companheiros de Sabino sentiram que o Favela não seria poupado. Mas o interrogatório prosseguia:

– Me matar por quê, cabra, se eu nunca te fiz mal?

– Eu ia matar o Sr., pra ganhar 50$000 do Joaquim Manduca, da “Boa Esperança”.

– Bem! deliberou Sabino. Você agora vai nos mostrar o caminho daqui pra “Boa Esperança”.

De novo, a mulher choramingou:

– Seu Sabino, lhe vem uma raiva em caminho e o Sr. acaba é matando este home numa volta da estrada! Seu Sabino, me atenda! Seu Sabino…

– Ora, larguemo de mamãezada! aborreceu-se o próprio Zé Favela, em favor de quem eram os rogos da dona da casa. O home só morre que a hora é chegada! Quem morre na véspera é porco ou piru. Vambora, seu Sabino!

– E saiu, resoluto, a guiar o grupo de cangaceiros. Quando avistaram a “Boa Esperança”, Zé Favela pediu:

– Seu Sabino, me dê um rife que o “serviço” no Joaquim Manduca quem faz sou eu. Se o Sr. me aceita, eu caio na vida da espingarda, debaixo de suas orde. Lhe prometo não lhe fazer vergonha, porque eu cá sou um cabra ditriminado e tanto me faz morrer hoje como na sumana que vem!

Sabino esteve a refletir e, logo com firmeza:

– Não! eu não posso me esquecer nunca de que foi você que matou meu irmão… Agora, puxe por ali! Depressa, se não quer que eu faça com você o que você fez com o Gregório…

Zé Favela rodou nos calcanhares.

Aos seus cabras, estupefatos ante aquele gesto de clemência, Sabino explicou, acendendo um cigarro:

– Eu não perdoei este peste, devido a diabo de rogativa de mulher, não! Perdoei porque ele teve a coragem de me dizer a verdade. Cabra macho de todos os seiscentos: tudo quanto era de faca fora das bainha, ele me disse, de cara e sem tremer o beiço, que matou meu irmão, enganado: – ia matar era a mim! Numa apertada hora daquelas, pra um home me dizer o que este cabra me disse, precisa não saber o que diabo é medo!

Fez uma pausa e, depois, soltando com força uma baforada de cigarro:

– Um cabra destes não se mata! Deixa isso viver pra tirar raça!




Fonte: Livro "No tempo de Lampião" de Leonardo Motta. 


JOÃO DE SOUSA LIMA CEDE ENTREVISTA SOBRE OS 80 ANOS DA MORTE DE LAMPIÃO À RÁDIO CBN


Eu não consegui repassar o vídeo para o blog

Clique no link e assita ao vídeo, 


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RELENDO - PRAZER EM CONHECER: LAMPIÃO ACESO ENTREVISTOU SÉRGIO DANTAS

Por Kiko  Monteiro


"SD" é como a "Turma da base" o chama.  

Desde quando o conheci em 2005, me impressionei com seus artigos e informações, além das fotografias que eu buscava e estavam ali disponibilizadas na sua comunidade do Orkut "Lampião, Corisco e Cangaço". Um material que eu pensava que nunca teria acesso gratuito. 
O lema era combater a mitificação e os exageros existentes e ainda resistentes. A pesquisa de Sérgio nos inspirou, me identifiquei com suas intuições. Através de seus tópicos, provocações e consultas via email. Iniciei uma reciclagem e aprimoramento de minhas opiniões e conhecimento.

Depois da extinção desta primeira comunidade, vieram a "Cangaço, Discussão Técnica" a alternativa "Confraria Fuleira do Cangaço" (Criada para discutir assuntos como posso dizer... menos relevantes...Risos). De repente ele não quis mais a gerência do tal do 'yokurt'. Passou a bola, porem não ficou de fora, como moderador dava suas contribuições nas demais. 


Na desconhecida "Discussão" éramos poucos e as vezes desestimulados. Migramos para a pioneira, gigante, porem bagunçada "Lampião, Grande Rei do Sertão" Só depois que passou a ser doutrinada e administrada pelo rev... quer dizer pelo Dr. Ivanildo Silveira, é que a coisa mudou de figura. Galhofas deram lugar a compromissados e contagiados participantes, e de repente, estava instituído o melhor fórum de debates do cangaço na Web.

Não se trata de clubes virtuais pra trocar figurinhas, é uma escola do mais alto nível. Uma irmandade da 'gôta serena'. 

Através das análises, investigações de: SD, Ivanildo, Rostand Medeiros, Netinho Nogueira e Geziel Moura é que verdadeiramente ingressei na ciência 'cangaceiróloga'. Exalto aí estas cinco gratas e inesquecíveis amizades que a internet me proporcionou.


Certo dia ao ligar na TV Aperipê... (canal local de Aracaju)- Apois num é o Dr. ?!- Sim, o dono da comunidade, acompanhado pela anfitriã e amiga Vera Ferreira, concedendo entrevista para o Valadão, convidando os sergipanos para o lançamento de seu primeiro livro. Eu que pensava que o cabra só escrevia pra internautas, estreou na literatura com uma obra referencial. 

Estive lá na Escariz, pra adquirir o meu exemplar, cumprimentá-lo e acho que assim nossa amizade saiu do campo virtual. Um dia destes ele veio à Aracaju. Depois de um intervalo de cinco anos nos reencontramos pessoalmente e combinamos uma viagem até o baixo e Sertão do São Francisco. 

Pousamos em Canhoba, depois Fazenda Jaramataia de Eronides e por fim retornando à capital pelas vizinhas Capela e Dores. Em meio dia fizemos 4 rotas de Lampião em Sergipe. 

Atribuo a criação do blog Lampião Aceso não só pela necessidade de divulgar os tópicos para quem não gostava ou não fazia ideia do que acontecia no Orkut e mais por uma sugestão e incentivo do homiEu estou aqui me considerando como o menos aplicado dos seus "discípulos" procurando barbeirar o mínimo possível no trato com o incrível mundo do Cangaço.
Sérgio Augusto de Souza Dantas é um potiguar de 48 anos, natural da capital (embora com avós sertanejos pelos quatro costados, em uma curiosa fusão de ancestrais de norte-riograndenses, paraibanos e pernambucanos). Assim, considera-se um ‘quase’ sertanejo. É Magistrado concursado, exercendo a função desde dezembro de 1993, ali mesmo no Rio Grande do Norte.
Em meados de 1998 quando, casualmente, acompanhava um colega, também Magistrado, que iria tomar posse na cidade de Tabira, alto Sertão de Pernambuco. Após a solenidade, foram para Serra Talhada, onde pernoitaram. Na manhã seguinte, antes do retorno ao RN, fizeram uma visita importante: naquele dia tiveram o prazer de conhecer o legendário David Jurubeba. Interessante que, naquela época, não lhe passava pela cabeça adentrar no tema cangaço.
Conhecer David aconteceu mais por insistência deste colega, o Roberto, pelo qual tinha grande admiração e alguma amizade com o velho combatente de Nazaré. Confessa que foi até sem grande interesse; na verdade, apenas para fazer companhia. Mas lá esteve. Aquele bate-papo (que foi gravado em fita K7), porém, se impressionou sobremaneira, de modo que, em pouco tempo, adquiriu dois livros: “Lampião, o Rei dos Cangaceiros” (De Billy Chandler) e “Lampião na Bahia” (de Oleone Fontes).
 Reunião de "CSI´S" Sabino Basseti, Antonio Amaury, 
Sérgio Dantas e Leandro Cardoso.
Uma cópia daquela fita K7, com pouco mais de 45 minutos de prosa – e solicitada meses mais tarde ao colega Roberto -, ainda está em seu poder, embora já bastante danificada pelo tempo. Mas, voltando ao tema, a partir de Chandler foi, muito lentamente, adquirindo livros que estavam relacionados na parte final daquela obra e a coisa foi se tornando cada vez mais interessante.
 Com Expedita Ferreira Nunes, filha única de Lampião e Maria.
Set. 2011
Veio a sede da pesquisa e do ‘saber mais’. Porém, naquela época, jamais lhe passou pela cabeça escrever algo. Naquela época, contentava-se em ler a maior quantidade de livros que era possível. Nada, além disso! E o amigo Paulo Gastão, além de me sugerir títulos, me presenteou com alguns, relativos à frustrada tentativa de tomar a cidade de Mossoró. Antônio Amaury foi outro grande incentivador.
Então apresente suas crias! 
- Bom, os meus trabalhos escritos foram fruto de um acaso. 

Na verdade, no início de 2001, eu me inscrevi para fazer uma Especialização em História. Escolhi o tema cangaço porque, além de estar interessadíssimo na história deste movimento armado, trabalhava – e morava – no interior do Estado, o que facilitaria minhas viagens para os pontos de pesquisa. Escolhi, pois, a jornada de Lampião pelo Rio Grande do Norte e fui à luta. Meu objetivo era dar uma maior visibilidade ao cangaço de Lampião em vários municípios de meu Estado. 

Me preocupava, por demais, o foco único no combate de Mossoró e, por outro lado, o gritante esquecimento dos demais episódios ocorridos nas terras potiguares em 1927. Daí nasceu “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE – A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA”

Lançado em março de 2005. Uma tiragem modesta de 1.200 exemplares que, para minha surpresa, esgotou em um ano.

Daí, tomei gosto e tratei de concluir o meu segundo trabalho “ANTÔNIO SILVINO: O CANGACEIRO, O HOMEM, O MITO”. 

Como eu tinha já um bom material sobre esta personagem histórica, bastou sistematizar tudo e lançá-lo, o que foi efetivamente feito em outubro de 2006.

Por fim, veio o terceiro trabalho. Este, foi fruto de observações e de conclusões que tirei de horas de entrevistas (com ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros e testemunhas de fatos havidos em diversos períodos do cangaço de Lampião), da leitura sistemática da minha antiga biblioteca sobre o tema, além de vistas em jornais e documentos públicos os mais diversos. Assim, do confronto de tudo isto com a legislação penal da época, saiu o livro. Confesso, porém, que este terceiro trabalho – LAMPIÃO ENTRE A ESPADA E A LEI. 

Poderia ter sido mais maturado. Na verdade eu o publiquei (não o lancei) em fins de 2008, com o objetivo de aproveitar a data de 70 anos da morte de Lampião. Poderia ter deixado a publicação para data posterior (o que me teria poupado alguns aborrecimentos e, também, a sensação de que ‘ainda ficou algo a dizer’...) No futuro, quem sabe, cuidaremos de uma segunda edição. Mas, por enquanto, tal não passa de um projeto distante.

Livro de outro autor? Por que?
- Olha, pela sua profundidade e por abranger o cangaço desde os primórdios, em uma metodologia – e linguagem - rigorosamente acadêmica, creio que o livro “Guerreiros do Sol”, de Frederico Pernambucano de Mello, é o que mais me interessou até o momento. Há outros vários, inclusive de confrades desta nova geração de escritores/pesquisadores. Mas o “Guerreiros” dá uma nova roupagem – e outro modo de ver - ao estudo do cangaço.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro?
Recomendado
- A pergunta é um pouco difícil, pois há muitos títulos bons. Mas indicarei dois: para um estudo formal, cronológico e concatenado da vida de Lampião (já que se trata do principal cangaceiro), indico, sem pestanejar, o livro ‘LAMPIÃO, O REI DOS CANGACEIROS’, do brasilianista Billy Jaynes Chandler. Chandler, a meu ver, foi muito além da fonte oral. Em sucessivas viagens ao Brasil, vasculhou Cartórios, Arquivos Públicos e Institutos Históricos em vários Estados da Federação. O resultado foi um trabalho científico de alto nível, feito dentro de critérios acadêmicos e com texto leve e direto. Apesar de não ser brasileiro, não se pode deixar de reconhecer seu mérito.

Outro livro que indico é ‘DE VIRGOLINO A LAMPIÃO’, de Antônio Amaury e Vera Ferreira, por ser um resumo cronológico da vida atribulada do cangaceiro. Creio ser este trabalho um bom ponto de partida para um estudo mais aprofundado do personagem ‘Lampião’ - o mais notório de todos os cangaceiros. Mas, como disse, existem muitos outros trabalhos interessantes sobre o cangaço de um modo geral.

Com quantos e quais personagens desta história você teve contato?
- Não foram tantos. Eu comecei tarde, pois 1998 foi um dia desses. Mas ainda tive oportunidade de conhecer alguns ex-cangaceiros (Vinte e Cinco, Candeeiro, Sila, Moreno, Durvinha, Aristéia, Adilia, etc.); poucos ex-volantes (Luiz Flor, João Gomes de Lira, David Jurubeba, Pompeu Aristides, Neco de Pautília, Elias Marques, Josias Valão, Antônio Vieira). Além destes, alguns ex-coiteiros e pelo menos umas duas centenas e meia de pessoas que entrevistei nestes poucos anos. Pessoas comuns que testemunharam - de forma direta ou indireta - algum episódio ligado ao cangaço.
Maria Ferreira Queiroz a "Dona Mocinha" 
irmã de Lampião ainda viva.

 Rostand Medeiros, o saudoso tenente João Gomes de Lira e Sergio Dantas.

 Almoçando com os saudosos Moreno e Durvinha 
na residência dos mesmos em BH.

 Igualmente saudoso Antonio Vieira, 
soldado volante do grupo do aspirante Francisco Ferreira. 

Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis?
- Diria ‘o menos fácil’. Foi o José Alves de Matos, o ‘Vinte e Cinco’. Não pela abordagem em si, mas porque o amigo José Alves não gosta muito de falar daquele passado nebuloso. Conta alguma coisa. Às vezes, é um pouco reticente..Mas, sei que ali é um arquivo vivo de vários acontecimentos importantes. Ademais, é um homem extremamente correto e verdadeiro.
 "Vinte e Cinco" Ainda firme e forte.

Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado?
- Nenhum. Quem eu procurei, me recebeu.
Aqui com Dona Antónia, 
uma das companheiras do cangaceiro "Gato".

Saudosa memória: O sargento Elias Marques, 
falecido aos nove dias de fevereiro deste ano.

Manoel Dantas Loyola, o gentil "Candeeiro". 
Um dos últimos remanescentes vivos da era Lampiônica. 

Com o ex-comandante de Polícia, Manoel Cavalcanti de Souza, 
o Nazareno 'Neco de Pautilia', que ainda vive em Floresta, PE. 

Com qual remanescente gostaria de ter conversado?
- Algum ‘chefe de grupo’. Como quase todos os principais não sobreviveram ao cangaço, seria uma tarefa impossível para mim (risos). Porém, talvez tivesse gostado de conhecer o Labaredaou o Zé Sereno, afinal, chefiaram grupos. Seria interessante ouvir deles algo sobre estratégia de combate, os critérios para arregimentação de novos ‘cabras’, as ligações com o coronelato de barranco, as relações entre os subgrupos.. Coisas assim. Mas quando comecei o estudo, mesmo estes dois que citei já haviam falecido.

Qual é o seu capitulo preferido?
- A saga de Antônio Silvino, apesar deste personagem ter sido totalmente apagado pelo brilho das façanhas de Lampião.

Um cangaceiro (a)?
Luiz Pedro, pela fidelidade ao amigo e chefe, além do comedimento em seus atos. Poucas vezes chegou, a meu ver, às raias da violência extremada.
No Sítio Retiro, zona rural de Triunfo, PE. 
Com António Pedro, sobrinho legítimo de Luiz Pedro.

Um volante?
- Apesar de ser tido como extremamente cruel, Odilon Flor. E o elejo não por essa ‘qualidade’, mas pela obstinação em perseguir. Não devemos esquecer que, em que pese ser de Nazaré/PE, migrou para outro Estado, a Bahia, e lá continuou sua busca por Lampião.
 Lendário Odilon Flor, 
um dos líderes da Saga Nazarena contra Lampião.

Um coadjuvante? 
- Massilon Leite. Poderia ter sido até um grande cangaceiro, mas resolveu dar um passo além das suas possibilidades. De fato, a partir do fracasso assalto a Mossoró (1927), caiu no anonimato e morreu assassinado no ano seguinte. Se não fosse o recente trabalho de Honório Medeiros, o nome deste personagem estaria fadado ao esquecimento; atirado em algum porão da História.

Uma personagem secundária? 
- O obscuro João Maria de Carvalho, da antiga Serra Negra (hoje Pedro Alexandre/BA). Há, ainda hoje, poucas informações sobre este ‘figurante’.

Geralmente todo pesquisador é colecionador, qual é o foco de sua coleção?
- Já colecionei alguma coisa, principalmente armas, mas doei quase tudo em 2009 e 2010. Como cheguei muito tarde, não tenho mesmo como colecionar peças da época. Assim, decidi não procurar e nem comprar mais nada. Hoje me contento com o aprendizado da temática. E esse é um campo de estudo inesgotável.

Entre as peças tem alguma relíquia? 
Os óculos e foto da ocasião da doação.
- Hoje, quase mais nada. Um punhalpequeno, de prata trabalhada; um cartaz recompensa de 1929, mas já bem surrado. Também ainda guardo um par de óculos que me foi presenteado por um antigo morador de uma fazenda situada no pé da serra do Martins, aqui no RN. Trata-se do Sr. Zacarias Vaz, da fazenda Ribeiro. Os cangaceiros passaram ali – rumo a Mossoró – ao fim da tarde do dia 11 de junho de 1927. Após a rápida ‘visita’ da cabroeira, o pessoal do sítio se enfurnou em casa, com medo. Só saíram com o dia claro. Aí o pai de seu Zacarias, encontrou, no terreiro do sítio, este par de óculos de vidros esverdeados e com armação banhada a ouro.

 Além dele, uma bala de fuzil. O senhor Zacarias – infelizmente, já falecido – me entregou estas duas peças em 2003. Disse-me que estava perto de morrer e por isso me presenteou: “meus filhos não ligam para isso” – me disse na ocasião. Porém, não tem tenho qualquer elemento para afirmar a qual cangaceiro do bando os óculos pertenceriam. Seria demasiadamente leviano de minha parte.

Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário, enfim, sem exagero da ficção, lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia. Enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou? Por que?
- O ‘Baile Perfumado’, por dois motivos: a fotografia excelente e a habilidosa união da realidade e ficção em um único roteiro. É, sem dúvida, uma película interessante.
 Cena de Baile Perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.


Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?
- Vou passar esta (risos). Já ouvi muita bobagem, não posso negar. Todavia, em respeito às pessoas que as disseram – as quais foram bastante simpáticas e solícitas para comigo quando as entrevistei-, deixarei de declinar os ‘causos escabrosos’ a mim relatados.

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico, alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”; “João Peitudo, filho de Lampião”; “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias”?
- São temas polêmicos, é fato. No entanto, quem os defende, tem seus argumentos. E eu os respeito. Posso até não aceitar este ou aquele ponto de vista, mas, por outro lado, tento discordar de forma cortês. Afinal, vivemos em um país onde a liberdade de expressão e opinião ‘ainda’ é livre...E, convenhamos, a dialética é saudável ao debate, até para se chegar a uma mínima verossimilhança dos fatos - já que a ‘verdade absoluta’ é impossível em História.

E Lampião, morreu baleado ou envenenado?
- Hemorragia causada por ferimento de arma de fogo.

Não precisa detalhar, mas em que assunto ou personagem está trabalhando. Ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim, qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?
- Talvez uma segunda edição do meu primeiro trabalho Lampião e o Rio Grande do Norte – A História da Grande Jornada, devidamente revisada e reescrita em uma linguagem menos acadêmica. Todavia, como é um livro grande, com 452 páginas, isso vai levar algum tempo ainda. E, de toda forma, ainda é um projeto. Não sei se terei condições de levar a cabo essa tarefa em razão de obrigações outras.
Pra concluir, um registro da nosso visita à histórica "Fazenda Jaramataia"  
ou o que restou da mesma em Gararu/Sergipe (Setembro 2011). 

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