Por Fabio Previdelli (Revista Aventuras na História)
"Lampião foi as duas coisas — e muito mais", diz documentarista.
'Lampião, o governador do
sertão', de Wolney Oliveira, que estreou no último dia 5, desvenda os caminhos
entre o homem, o mito e as controvérsias que o envolvem
Por Fabio Previdelli (Revista
Aventuras na História)
No dia 4 de junho de 1898, nascia em Serra Talhada, Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva, o maior cangaceiro da história do Brasil, popularmente conhecido como Lampião. Líder do movimento de banditismo, o Rei do Cangaço reinou no Sertão nordestino entre as décadas de 1920 e 1930.
Agora, 127 anos depois de seu
nascimento, sua história é revivida pelo diretor Wolney Oliveira através do
filme Lampião, o governador do sertão, que desvenda os caminhos entre o homem,
o mito e as controvérsias que o envolvem. A produção estreia neste dia 1º em
Fortaleza e chega nas demais cidades brasileiras em 5 de junho.
Lampião já é, ao lado de Maria
Bonita, a figura mais notória do cangaço, com todas as controvérsias em torno
de sua figura histórica. E essas controvérsias influenciam diretamente também
em suas representações já feitas, algumas dando destaque ao seu aspecto da
bandidagem, outras com enfoque em sua luta pelos mais pobres", diz Wolney
em entrevista ao Aventuras.
"Com meu filme, o que quero
não é escolher uma das facetas de Lampião para retratar, mas tentar retratar
ele como um todo, sejam coisas boas ou ruins, com a intenção de valorizar
principalmente sua história, quem ele realmente foi", prossegue.
Retrato do Sertão
Lampião, o governador do sertão
contrapõe a imagem do temido líder cangaceiro à força simbólica e cultural que
seu nome carrega até os dias de hoje. Ao mergulhar na complexidade de sua
figura, o longa revela como Lampião transcendeu a história para se tornar um
ícone duradouro da identidade nordestina.
Apesar do lançamento neste dia
1ª, Wolney nos conta que as filmagens começaram ainda em 2006. "Naquela
época, eu comecei a desenvolver um projeto sobre o cangaço, e eu tinha duas
opções: contar a história de Lampião ou focar em outra história, de Moreno e
Durvinha, o último casal de cangaceiros, que ainda estavam vivos, lúcidos e
ambos com mais de 90 anos".
Considerando o achado de Moreno e
Durvinha como "peças raras", Oliveira acabou optando pela produção do
documentário Os Últimos Cangaceiros, lançado em 2011. "Mas a ideia de
fazer algo sobre Lampião nunca saiu da minha cabeça. E anos depois, entre 2018
e 2020, comecei a gravar o primeiro documentário dedicado a ele".
"E eu quis iniciar esse
projeto porque, até então, não existia nenhum documentário sobre o Lampião,
mesmo que ele já tenha sido representado várias vezes pela mídia. E ele, como
um símbolo do sertão nordestino, era uma figura que chamava atenção para o que
acontecia no Nordeste daquela época, por isso eu queria contar essa
história".
Para buscar fidelidade à época,
Wolney Oliveira aproveitou da longa pesquisa que fez para Os Últimos
Cangaceiros, e mergulhou profundamente no dia a dia destas pessoas e da região
em que atuavam.
"Já sobre o Lampião em si,
também foram aproveitados vários relatos e documentos históricos, que por si só
colocam maior verdade no personagem, que já é uma importante figura cultural do
cangaço. Além disso, também trabalhamos com cuidado nas roupas utilizadas nos
figurinos, para não nos afastarmos muito do material fonte e também sermos mais
fidedignos a como era", explica.
Herói ou vilão?
Uma das grandes discussões em
torno da figura de Virgulino Ferreira da Silva é justamente sobre sua imagem e
legado. Afinal, para uns, ele foi um herói; para outros, um bandido. Mas como o
filme trata esse dilema?
No filme, não quis focar
exatamente se Lampião era bandido ou herói. A verdade é que ele foi as duas
coisas — e muito mais", ressalta Wolney.
O diretor, assim, destaca as duas
faces do mesmo personagem. "Por um lado, ele era chamado de bandido
implacável, que cometeu horrores em vários lugares que passou e sendo caçado
pelas autoridades. Por outro, ele também ficou conhecido por lealdade aos
moradores pobres do sertão, entrando em conflito e disputa principalmente com
as pessoas mais ricas, e ajudando outras pessoas".
"O que busquei foi
apresentar a figura e a história dele com toda a complexidade que ela carrega,
deixando para o espectador decidir o que pensa sobre Virgulino Ferreira da
Silva, deixando o espectador pensando justamente sobre essas controvérsias após
assistir", diz.
Apesar da discussão em torno de
Virgulino, Oliveira salienta que o maior legado deixado por Lampião é outro: a
história do cangaço em si. "Ele trouxe a atenção do Brasil para o
Nordeste".
Justificando sua resposta, o
diretor relembra que a atenção em torno de Lampião era tamanha que até mesmo
ganhou o olhar do então presidente Getúlio Vargas, quem ordenou a caçada ao
cangaço.
"Fora isso, até hoje, a
memória e influência dele são muito visíveis em várias regiões do Nordeste,
como no Ceará, que têm ruas, prédios e até pratos típicos com nomes dos
cangaceiros. Tem também lugares onde a economia e o turismo ainda giram em torno
dessa história, com a venda de artesanatos que remetem ao cangaço, bem como
outras peças de vestimento e acessórios", prossegue.
Wolney aponta que o legado e a memória do cangaço seguem vivos até hoje e impactam diretamente o dia a dia de muitas pessoas que vivem nas regiões onde ele fez história.
Para o longa, Wolney e equipe
registraram os encantos do Raso da Catarina (BA). (Foto: Léo Oliveira -
Site/revistacariri.com.br"Fato é que até hoje, um
século após o cangaço, Lampião continua sendo lembrado. Então é inegável que
sua história tenha continuado relevante, mesmo entre as gerações mais jovens.
Sendo sua história ainda contada, seja pelo ponto de vista dos crimes que
cometeu, seja pela resistência que ele enfrentou como líder do cangaço, essa
história continua com grande relevância entre os mais jovens também por muitas
culturas e regiões ainda se sustentarem muito graças aos vestígios do
cangaço".
"Então espero que sim, que o
filme consiga atrair atenção dos mais jovens para essa figura tão importante da
história nacional e do nordeste brasileiro, que é marcante até hoje e que
também merece um olhar crítico sobre si", finaliza.
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