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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Poetisa e o Mar - 20 de Dezembro de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento


O que é um sonho senão um desejo ardente que se instala dentro da gente e nos faz suspirar? Uns sonham com riqueza, com luxo, com os prazeres que o dinheiro pode proporcionar; outros, os mais sensíveis, sonham com coisas mais simples como conhecer o mar. Estes, principalmente, quando realizam seus sonhos sentem-se felizes, pois a felicidade consiste em saber o que se quer e querê-lo apaixonadamente.



Assim sonhou Zila Mamede, na sua pureza de criança nascida no interior, que apenas ouvia falar da grandeza e beleza do mar, mas não podia imaginar como ele seria. Tanto assim que quando aos doze ou treze anos de idade, a caminho de Recife/PE, vendo aquela coisa imensa, balançando de um lado para outro, perguntou ao pai:
“- Meu pai, isso é o mar?
Ele disse:
- Não. Isso é um canavial”.

Mas quando finalmente conheceu o mar, apaixonou-se por ele e dele tirou inspiração para a sua obra. A ele dedicou poemas; a ele entregou a sua vida.
Zila da Costa Mamede nasceu em Nova Palmeira/PE, em 15 de novembro de 1928, onde viveu até os cinco anos de idade. Mudou-se com a família para o Rio Grande do Norte, indo morar na cidade de Currais Novos, onde seu pai instalou uma máquina de beneficiamento de algodão. O sertão norte-rio-grandense, naquela época grande produtor de algodão mocó, era bem conhecido dos pais de Zila, pois a família de seu pai era de Caicó e o seu avô materno de Jardim do Seridó, cidades vizinhas a que Zila ia morar.
Seus primeiros estudos deu-se na própria casa, tendo a sua mãe como alfabetizadora. Em Currais Novos matriculou-se no Grupo Escolar Capitão-mor Galvão. De mudança para Natal, estudou no Colégio da Imaculada Conceição e no Atheneu. Fez, ainda em Natal, um curso breve de biblioteconomia que nortearia os rumos da profissão da qual seria mestra. Uma bolsa de estudos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, conseguida através do poeta Manoel Bandeira, correspondente e amigo, é o passaporte para bacharelar-se em Biblioteconomia, em 1956. Longo caminho para uma menina ingênua, nascida e criada no interior, que sonhava conhecer o mar. Mas não parou por ai; ousou vôos mais altos: fez cursos de administração em bibliotecas na Syracue University Library, nos Estados Unidos.
Como profissional, organizou e dirigiu as principais bibliotecas do Estado, como a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que hoje tem seu nome, e a Biblioteca Pública “Câmara Cascudo”.
Zila Mamede participou ativamente da movimentação intelectual do Rio grande do Norte. Sua produção compreende trabalhos que vai da biblioteconomia a literatura. Sua poesia tem três pontos essenciais: a solidão, o espaço e o mar. Sempre o mar, que viria a ser forte presença em sua obra.
Em 1951 começou a colaborar com a imprensa publicando poesias, que posteriormente transformaram-se em seu primeiro livro que seria Rosa de Pedra, de 1953. Esse livro foi bastante elogiado pela crítica, recebendo até elogios do poeta Manoel Bandeira que considerou-o “um dos melhores livros de versos brasileiros”. E não parou mais de escrever: Em 1958 publicou “Salinas”; em 1959, Arado. Publicou uma “Bibliografia sobre Chico Santeiro”, em 1966; Em 1968 escreveu “Luís da Câmara Cascudo: um pesquisador”, e em 1970 “Luís da Câmara Cascudo: cinqüenta anos de vida intelectual – 1918-1968. Esse foi, talvez, o livro mais difícil que escreveu. Iniciou as pesquisas em julho de 1964 para um trabalho de mestrado que deveria apresentar no final de 1965 na Universidade de Brasília, para obtenção de grau de Mestre em Biblioteconomia, depois de dois anos de curso de pós-graduação (1964-1965). Por motivos superiores abandonou o curso antes de concluí-lo. Ao voltar a Natal, a Fundação José Augusto mostrou-se interessada em publicar o seu trabalho como uma das comemorações com que o Rio Grande do Norte celebraria os 50 anos de Luís da Câmara Cascudo, como escritor. Teve então de ampliar as pesquisas, já que a idéia inicial do trabalho abrangia o período de 1918 a 1964. Para atender a solicitação da Fundação, teve que amplia-lo até 1968, ano do cinqüentenário. A dificuldade maior, segundo a autora, foi que quando achava que havia levantado toda a produção do período, descobria outros artigos publicados por Cascudo que nem mesmo ele lembrava. Como os originais eram datilografados, acontecia de precisar datilografar novamente o capítulo inteiro para inserir uma informação. Mas sua produção literária continuou e em 1974 publicou “Os vários caminhos de Maria Alice Barroso”, em 1975 “Exercício da Palavra”, em 1978 “Navegos”, e em 1984 “A Herança”. Colaborou com jornais e revistas literárias do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Colaborou ainda em revistas estrangeiras como a “Revista de Cultura Brasileira”, editada na Espanha pela Embaixada do Brasil em Madri. Em 1987, já depois de sua morte, foi publicado: “Civil geometria crítica e anotada de João Cabral de Melo Neto 1924-1982 (Obra póstuma)”.
No poema “Partida”, Zila confessa:
“Quero que os céus me levem; meu intento
é ganhar novas rotas; mas os traços
do virgem mar molhando-me de abraços
serão brancas tristezas, meu tormento.

Zila Mamede morreu afogada, em 13 de dezembro de 1985, dia de Santa Luzia, em Natal/RN. O mar, que ela tanto amou, talvez por ciúmes, tirou-a de nós. Mas, se a vida é formada por corpo e alma, o que o mar nos tirou foi apenas o corpo, pois a alma de Zila Mamede, difundida nos seus livros, permanece entre nós, imortal, eterna.

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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fonte:
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O MOSSOROENSE, 4º JORNAL DO PAÍS EM CIRCULAÇÃO

Por: Jota Maria
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Jornal O Mossoroense, fundado a 17 de outubro de 1987, por 

Jeremias da Rocha Nogueira (24/03/1844 – 29/06/1881), filho de Floriano da Rocha Nogueira e de Anna Rodrigues Braga, a ANNA FLORIANO, um maçom que defendida os interesses do Partido Liberal. Na história do jornalismo brasileiro, está catalogado entre os três mais antigos do País e o quarto da América Latina em circulação. A partir de hoje, o jornal apresenta um novo visual, com o aperfeiçoamento da equipe e a reformulação de um projeto gráfico implantado há um ano e que objetiva tornar uma leitura mais fácil e dinâmica, que vai proporcionar também um maior número de informações. Um dos quatro jornais mais antigos do País, primeiro é o Diário de Pernambuco, fundado a 7 de novembro de 1825, o segundo é o Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, fundado a 1º de outubro de 1827; e o terceiro é o Monitor Campista, da cidade do Goitacaz-RN, fundado a 4 de janeiro de 1834, o quarto da América Latina e o mais antigo do Rio Grande do Norte, em circulação. Porém, não foi o primeiro jornal potiguar, e sim, o primeiro norte-rio-grandense foi O NATALENSE, fundado a 2 de setembro de 1832, posteriormente vários outros jornais foram fundados, porém, todos extintos. 
Como diário, o jornal se encontra em sua 5ª fase, desde a fundação no dia 17 de outubro de 1872, pelo advogado provisionado Jeremias da Rocha Nogueira, auxiliado por José Damião e Ricardo Vieira quando então se chamava apenas Mossoroense, e se dispunha a defender a ideologia abolicionista do Partido Liberal. 
O jornal nasceu como semanário, com quatro páginas, no fim do chamado primeiro período do jornalismo brasileiro, que se estendeu de 1808, com o surgimento da Gazeta do Rio de Janeiro, fundado a 10 de setembro de 1808, pertencente ao governo monárquico, e do Correio Braziliense ou Armazém Literário, de Hipólito da Costa, cujo primeiro número foi impresso a 1° de julho de 1808, em Londres e circulou até o ano de 1880.

A grande parte dos editoriais publicados na primeira fase do centenário jornal que se estendeu até 1876 tinha como alvo os conservadores. Um desses textos, assinado por José Damião, com o pseudônimo de "Velho da Montanha", atacava o bispo da região chamando-o de celerado e o vigário mossoroense de fingido e subserviente. 
No primeiro número, tinha em seu frontispício a marca de "Semanário, político, comercial, noticioso e literário", o manifesto aberto com versos do poeta T. Ribeiro já apresentava suas intenções. 
A partir do número 28, de 26 de abril de 1873, que O Mossoroense passa a adotar em sua linha editorial a famosa inscrição: "Semanário, político, comercial, noticioso e antijesuítico", mantida até 8 de novembro do mesmo ano. 
Na edição de 2 de fevereiro de 1874, O Mossoroense já é "Órgão do Partido Liberal de Mossoró - Dedicado aos interesses do município, da província e da humanidade em geral".


O historiador Vingt-un Rosado diz, em Mossoró: "Jeremias da Rocha Nogueira é o pai da imprensa mossoroense. Possuído daquela coragem do português do século das descobertas, aquele descendente do alferes Manoel Nogueira de Lucena nunca se acovardou ante o coronelismo dos políticos de seu tempo. 
Por isto, nós nos acostumamos a ver O Mossoroense o órgão reto e sensato da elite intelectual de Mossoró. Nele colaboraram os expoentes maiores da nossa inteligência: Jeremias da Rocha Nogueira, José Damião de Souza Melo, o português-brasileiro, na expressão de Almino Afonso, Alfredo de Souza Melo, Antônio Gomes de Arruda Barreto, João da Escóssia e outros". 
O jornal era impresso na tipografia de Jeremias, por José Soares de Couto Lima, chamava-se Typographia Mossoroense, mudando em 22 de dezembro de 1872 para Typographia Liberal Mossoroense.

A reabertura, marcando a 5ª fase, aconteceu em 1985. O também médico 


Laíre Rosado Filho, diretor presidente desde então, recebeu as ações do primo Rosado Cantídio e fez com que, após a enchente daquele ano, O Mossoroense voltasse a circular, desta vez dirigida por Eder Andrade de Medeiros, que permaneceu na função até 1987. 
Na administração de Eder Medeiros, o diretor presidente do jornal, Laíre Rosado, comprou, em Recife, o primeiro terminal de vídeo denominado Forma Composer, substituto das máquinas eletrônicas ET-125 que, por sua vez, haviam substituído as linotipos, nos quais os digitadores compunham as matérias datilografadas na redação. Depois de Eder veio Emery Costa, 1987 a 1989, em cujo período administrativo foi implantado o segundo terminal Forma Composer. A década de 80 é o ponto culminante da informatização dos jornais brasileiros. Os grandes, desde a década anterior, já experimentavam a manipulação de textos por meio dos terminais de vídeo. Após Emery Costa, sucederam-se os seguintes diretores: José Walter da Fonsêca (1989), Cid Augusto (1989 a 1991), Pedro Almeida Duarte (1991) e Valney Moreira da Costa (1992).Na administração de Larissa Daniela da Escóssia Rosado Andrade, de 1992 a 1998, foi comprada uma segunda impressora offset, modelo ATF Chief 25.
O jornal ganhou grande impulso em sua informatização, com a compra de computadores PCs e impressoras a laser. A partir de 1995, a diagramação e a redação também foram informatizadas. 
O marco mais importante desse período foi a democratização da linha editorial. Sem perder suas características políticas, O Mossoroense, graças ao esforço que envolveu desde os proprietários aos servidores mais humildes, ampliou os seus horizontes, abrindo espaços cada vez maiores para pessoas de outras correntes de pensamento. Com a saída de Larissa, o jornal passou a ser administrado pelo professor José Cristóvão de Lima, tendo Alvanilson Medeiros Carlos na gerência e o jornalista Pedro Carlos como diretor de redação. Nesta última gestão, vieram novos avanços no campo da informática, com a instalação de microcomputadores avançados em todos os setores do jornal, colocando todos os computadores em rede. Atualmente estão como diretor de redação Emerson Linhares e Márcio Costa, editor-chefe. Em 24 de agosto de 1999, O Mossoroense deu um importante passo na sua trajetória, que foi a inauguração de sua página na Internet, possibilitando a leitura diária de suas notícias em várias partes do mundo. Por O Mossoroense passaram grandes nomes da intelectualidade e do jornalismo do Estado. 
Hoje, ele é um jornal com administração, redação e diagramação completamente informatizadas. Apesar da idade, é jovem nas idéias e crê no culto ao passado como único meio de planejar o futuro. Como sempre, enfrenta dificuldades financeiras, mas tem fôlego para lutar por mais algumas centenas de anos pelos "interesses do município, da província e da humanidade em geral". 
POLICROMIA – 22 de setembro de 2002, um dia muito especial para os mossoroense que viram o jornal O Mossoroense sobreviver a enchentes, a críticas e a inúmeras outras dificuldades circulando pela primeira vez em policromia. “Eu nem tenho palavras para explicar o quanto fiquei feliz ao ver o jornal que comecei a ler em 1974, porém, através de dona Maria Lúcua, do Museu Municipal de Mossoró já havia lido as suas primeiras edições e conseqüentemente, várias edições, daí sempre sonhava com os jornais de Mossoró circular em olicromia, porém, não esperava ser o Mossoroense, e sim, a Gazeta do Oeste e ao completar exatamente 130 anos de existência, sair com sua capa principal colorida.. Refiro-me a Gazeta tendo em vista ser o maior jornal do interior do Rio Grande do Norte, porém, dos jornais mossoroense, o Gazeta do Oeste foi o último a implantar policromia.


Extraído do blog: Oeste News - Mossoró

http://oestenews-mossoro.blogspot.com/2009/03/comunicacao-mossoroense.html
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Depoimento de Maria José de Oliveira, de Itiúba

Por: Rubens Antonio
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Maria José de Oliveira e Robério Pinto de Azeredo


Meu nome é Maria José de Souza... Solteira, eu era Maria José de Oliveira... Nasci e cresci na Fazenda Campinhos... Eu tinha somente seis anos de idade, mas foi um acontecimento tão assim que eu lembro muito bem tudo... lembro como se fosse ontem... Em 1931, não lembro o mês, eu estava na casa do meu pai, com a minha mãe e a minha irmã... A minha mãe tinha acabado de preparar o almoço... Lá comiam dezessete pessoas... Naquele dia, ela tinha preparado uma leitoa... farofa... quando chegaram aqueles homens, a cavalo... Estavam todos montados... Tinha uma mulher com eles... O que era o chefe deles... dava para ver que era ele quem mandava... entrou na casa e foi até um móvel que tinha uma gaveta... Ali ficavam guardadas as coisas da família... Ele pegou uma faca e começou a forçar a gaveta para abrir... A minha mãe, Abrosina Maria de Oliveira, não deixou... Chegou perto e pediu a ele que não arrombasse a gaveta... Que ela daria um jeito naquilo... O meu pai era quem sabia onde estava a chave, mas ele tinha saído para ir na casa da minha avó Elvira... que era mãe dele... Então, minha mãe pediu à minha irmã, Edite Maria de Oliveira, que casada virou Edite Maria Brasileiro, que fosse chamar meu pai... E ele veio logo... Enquanto isto, os cangaceiros pediram à minha mãe para botar o almoço para eles... Como tinha a leitoa pronta, com farofa, minha mãe foi colocando a comida no prato e passando para eles... Ele lembro de eu ficar com medo, atrás dela, enquanto ela se mexia rápido pra colocar o almoço... Eles estavam comendo quando o meu pai chegou... Ele se apresentou e foi pegar a chave... Abriu a gaveta e os homens pegaram tudo... Tinha muito dinheiro... muitos réis... e anéis e cordões de ouro... Pois eles levaram o dinheiro e os ouros... Meu pai conversava com eles, quando eles comiam... Ele perguntou a um homem como chamava o nome dele... Ele disse que era Volta–Seca... 



E o meu pai perguntou como se chamava a mulher... e ele disse que ela se chamava Iolanda...
Eles, então, foram saindo com os pratos na mão... comendo... Levaram os pratos... Então, eles montaram e foram até a casa da minha avó Felícia, mãe da minha mãe, que eles tinham sabido que tinha ouro... Mas ela negou... Eles exigiram... e ela negou que tivesse... Aí bateram nela muito...
Então, pediram ao meu primo Anjo... o Ângelo... para levarem eles até o Ariri... É que lá morava o Manezão, e eles tinham informação que ele também tinha muito ouro... que era rico... Saíram daqui e seguiram em direção a Pintada... que é caminho de Ariri... Mas o meu primo, não sei como, conseguiu desviar eles em direção ao Umbuzeiro... Acabaram deixando meu primo para trás...
A minha mãe, depois, foi um pouco no rastro deles e disse...
-Olha um prato ali!
Eles foram comendo, acabando, e jogando os pratos pelo caminho...

Extraído do blog: Cangaço na Bahia do professor Rubens Antonio

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25 de maio de 1928

Por: Rubens Antonio
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25 de maio de 1928, no “Diario de Noticias”:

A endemia do cangaceiro!

“Os sertões, diz–nos o ex–delegado regional dr. Prado Ribeiro, continúam sem garantias”

O dr. Prado Ribeiro, quando occorreu a tragedia de Jurema, achava–se proximo ao local. S.s. chegado a esta capital foi ouvido pela nossa reportagem:
– O sertão bahiano, como eu tenho sempre affirmado, continúa sem garantias.
A situação é invariavelmente a mesma de todos os tempos. O que se disser em contrario é mentira, é intrugisse, como se diz na giria carioca. Nada se tem feito até agora para melhorar esse estado de coisas.
Tenho lido muita mensagem bonita, ouvido muita rethorica, sabido de muita promessa, mas, o problema está insoluvel.
O banditismo na Bahia já é uma endemia, como a febre amarella, a politicagem e outras pragas maldicyas que dissangram e flagellam, dolorosamente, a decantada Moema de seios titanicos.
Quando se quer extinguir–se, combate–se!
O dr. Góes Calmon – continuou – começou a fazer alguma coisa quando me incumbiu de exterminar o banditismo numa das mais ricas regiões do Estado, fronteiriça aos Estados de Piahy e Goyaz.
O que fiz consta do meu relatorio o qual, não sei por que, nunca foi publicado. Nelle enumero os bandidos que morreram em combate, resistindo á força publica e os que se regeneravam pelo trabalho na localidade em que residiam.
Appéllo para os viajantes commerciaes desta praça para que digam se de facto essa região após a minha acção não ficou policiada e completamente pacificada.
Só comprehendo extincção do banditismo assim a ferro e fogo, agarrando–se o banditismo na sua toca e o eliminando, caso elle venha a resistir, o que é um bem para a sociedade.
A acção é essa: não dar treguas nem guarida aos bandidos até que fujam ou morram nas refregas da liuta armada.
Medidas indispensaveis
– Como se livrar os sertões da jagunçada?
– Se a minha experiencia lograsse ser ouvida, eu faria, aqui, algumas considerações suggerindo mesmo, medidas que supponho melhoraram muito esse estado de coisas quando não resolverssem cabalmente o referido problema.
O dr. Madureira de Pinho, titular da Secretaria de Policia, a quem devo muitas distincções pela sua fidalguia de trato bem poderia chamar a si essa benemerencia, atacando de frente o banditismo e o estirpando do Estado; iniciando para o sertão uma éra promissora de paz, de bem estar e de tranquilidade absoluta.
Duas grandes medidas administrativas, entretanto, são preliminarmente necessarias, sem o que tudo será de balde: o aperfeiçoamento da policia militar com os expurgo dos maus elementos e o exterminio dos nucleos de homens armados pertencentes aos chefes politicos municipaes, os quaes são ameaças constantes ao proprio governo do Estado, como no caso de Lençóes, por exemplo.
Alem disso é preciso adaptar–se a nossa força armada ás regiões do nosso vasto “hinterland”, creando–se a policia volante, em diversas regiões, apetrechada e montada para se deslocar com facilidade e attender as necessidades urgentes em outros pontos.
– Ha mais, quanto á tropa: o alliciamento sem selecção, “pret” insignificante e difficil de ser recebido, o que difficulta as diligencias, trabalhando com má vontade.
Uma praxe má adoptada
– Quero me referir á praxe adoptada, numa imitação do que faziam os celebres “batalhões patrioticos”: a policia toma, á força, os animaes e arreios dos sertanejos. Ao commandante da Policia, um brioso official, meu velho camarada, communico o facto, do qual ignoram as auctoridades superiores.
As façanhas de Antonio Souza é uma prova da deficiencia de nossa policia a e de que o banditismo, aqui, domina todas as zonas.
São dezenas de desgraçados que diariamente caem, varados por balas assassinas ao mando de politicos e bandidos desapiedados. E vem logo á mente a pergunta seguinte: – A policia o que fez?... Nada, por que nada poderia fazer... Muitas vezes nem a imprensa chega a saber o que se passara, pois a propria policia não tem nenhum interesse que essas noticias sejam divulgadas. Finalmente o sertão é ainda o de cem annos atraz, com a differença que os homens estão peores.
Antonio Souza, official da policia pernambucana!
– Uma prova da degradação dos nossos homens publicos: o governo de Pernambuco commissionára Antonio Souza como official da sua policia.
Mesmo conhecendo os precedentes desse criminoso, pois o seu chefe de policia dr. Lauro Leão disso fôra scientificado em Janeiro.
Falando franco como amigo leal
Concluiu o dr. Prado Ribeiro:
– Sou dos que tem grande esperança na administração do dr. Vital Soares. Creio, com sinceridade, que, se elle conseguir extirpar alguns males enraizados em nossa terra, fará um optimo governo, já, pois, pelo seu descortinio intellectual, já porque elle vem das predicas do velho Ruy, as quaes têm sido tambem o meu phanal, durante estes meus curtos e já longos dias de existencia. Nas dobras da bandeira gloriosa do grande apostolo, é que comecei a espalhar, com este calor e esta vehemencia que me caracterizam, os ideaes de regeneração e de liberdade, pois, como elle, quero uma Patria livre, grande, democratica e verdadeiramente republicana. Estou, pois, falando como amigo. O mal do nosso pais é que os homens publicos se cercam, commummente, de aduladores e aulicos, os quaes nunca dizem a verdade, com receio de melindrar aos seus amos politicos. Eu, porém, que não tenho senhores e nem tenho a quem adular, pois nasci, quando já não existiam escravos, costumo sempre dizer o que a minha consciencia dita.

Extraído do blog: Cangaço na Bahia do professor Rubens Antonio
http://cangaconabahia.blogspot.com/

Informação ao leitor:

O português usado neste artigo foi da década de trinta, do século XX, não podendo ser corrigido. 

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19 de maio de 1928

Por: Rubens Antonio
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19 de maio de 1928, no “Diario de Noticias”:

Lampeão novamente consegue escapar depois de tiroteio com as forças policiaes 


Lampeão! Novamente a policia trava tiroteio om o celebre bandido, mas... o grupo foge

RECIFE, 18 – Argos – O chefe de policia recebeu o seguinte telegramma:

“Água Branca – Communico a vocencia que o sargento Zé Grande cercou o grupo Lampeão neste municipio, sustentando vivo e cerrado tiroteio, resultando na morte de dois individuos, fugindo o grupo em completa debanda, deixando fuzis, munições, embornaes. cpmchas, cabaças, etc.

A força verificou depois que os individuos mortos eram coiteiros que foram levar viveres ao grupo e que alli se encontraram na mesma ocasião do tiroteio.

A força, apezar da galhardia com que se bateu, não conseguiu exito melhor porque Lampeão e seus apaniguados presentiram a approximação da mesma, preparando a resistencia, havendo dado as primeiras descargas.

O sargento continúa na pista dos bandidos, havendo seguido tambem em diligencia o capitão Ferreira, tomando providencias para que todas as forças se aproximassem na direcção do grupo. – Major Lucena, commandante das forças alagoanas.”

Extraído do blog: Cangaço na Bahia, do professor Rubens Antonio

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Rua das Flores - 05 de Janeiro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento
Esse era o nome de uma das avenidas de Mossoró no passado. Em 1932 o Prefeito Municipal Tertuliano Ayres trocou o nome pitoresco da Avenida por Bezerra Mendes, nome esse que permanece até os dias atuais. 

A curiosidade da Rua das Flores estava em que só possuía casas de um lado. Do outro, em toda a sua extensão, ficava uma fachada lateral do Mercado Público. 

Mas quem foi Bezerra Mendes? 

Foi um herói na campanha contra a escravidão, por cujo êxito sacrificou tranquilamente saúde e haveres. Presidente da Sociedade Libertadora Mossoroense presidiu a memorável sessão em 30 de setembro de 1883, no Paço Municipal. E ai proferiu a grande frase: Mossoró está livre: aqui não há mais escravos. 

Faleceu em Fortaleza, a 16 de abril de 1903.

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NOTA: Só retornarei com os links dos artigos que não estarão mais na página principal, somente quando o blog normalizar. Não estou tendo acesso a algumas ferramentas que são necessárias para postagens. 

PROVÁVEIS HIPÓTESES SOBRE A MORTE DO AMOR (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Não gosto nem de lembrar. Coisa mais terrível, chocante, assustadora. Um amor que parecia ser duradouro, cheio de mimos e afagos, e de repente morto, acabado, destruído.

Estava lá estendido, jazendo sem vida, silenciosamente quieto no leito da manhã. Um semblante ainda guardando certa vividez, um tom enrubescido na pele, parecendo até mesmo que apenas adormecia esperando a sorte dos anjos.

Mas fato é que estava morto, irrefutavelmente sem vida. Mas teria morrido de que o amor?

De morte natural não haveria razão de ser. Mostrava plena força, vigor, saúde, alegria, disposição para os enfrentamentos da vida. Nunca reclamou de nada, de nenhum sintoma, nunca disse que suspeitava alguma coisa. Aliás, até ontem estava aos beijos e abraços, sorridente caminhando de mãos dadas com a sua paixão.

Também não haveria de se cogitar suicídio. Chega até ser impensável imaginar o amor se destruindo com as próprias mãos, usando como arma os próprios sentimentos. Não, isso não. Era um amor amante, gostava de amar e ser amado, partilhar carinho e compreensão, fazia planos maravilhosos para o futuro. E duvido que pudesse modificar os seus planos se desamando assim, a ponto de se auto ferir no coração.

Morte súbita, ataque cardíaco, algum problema que fez o coração disparar e parar. Talvez tenha sido, pois o amor amava demais e o coração de quem ama assim nunca está imune ao surgimento de repentinos problemas. Mas o que teria feito o amor sofrer tanto para não suportar um distúrbio no lugar que mais conhecia, que era precisamente o coração?

O amor teria sido envenenado, com uma dose de veneno tão sutil que não havia deixado nenhum sintoma aparente de que teria sido consumido, devastado por dentro? Certamente que não se pode deixar de cogitar sobre tal hipótese. Por mais que o amor tenha amado, o fez acreditando apenas no seu poder de amar, sem ter a certeza de que o outro correspondia na mesma medida. Então surge a cruel indagação: e se aquele que fingia amar envenenou com palavras o amor que não suportou a dose de infidelidade e covardia e morreu?

Ou será que o amor não morreu, apresenta apenas um quadro de morte aparente, aquele mesmo onde há um estado transitório de perda das funções vitais, provocada por sincopia, asficticia, apoplexia ou traumatismo. Se for sincopal, a causa provável foi um estado de choque profundo no coração; se for asfíctica, tudo leva a crer que pode ter sido causada por alguma visão ou notícia que paralisou seus mecanismos de respiração; se for apoplética, poderá ter sido por congestão daquilo que teve de engolir e tentou suportar para manter a relação; se for traumática, provavelmente foi ocasionada pelas desilusões amorosas que de repente surgiram.

Contudo, por mais que possa buscar causas para a morte do amor, ainda assim será incompreensível demais atentar para o fato de que ele não existe mais. A não ser uma morte aparente, de resto ele não existirá mais tão lindo e encantador como era, tão seguidamente tido como exemplo para todos aqueles que procuram, através de suas possibilidades, a paz, o fortalecimento interior, a beleza da vida a dois.

Sou daqueles que preferem acreditar na continuidade da vida, na impossibilidade de que o bem possa morrer completamente, esvanecer como uma nuvem que não passará mais sobre o ceu. Acredito que a força do bem que se diz ausente se emana perpetuamente entre nós. E haverá bem maior do que o amor, do que o verdadeiro amor?

Por isso mesmo o amor não morreu e jamais morrerá. Não se pode concluir diferentemente se ainda existem aqueles que amam de coração, que respeitam seu par, que fazem da conjunção de vidas o motivo maior para vencer as barreiras da existência. Não poderia imaginar viver sem o amor que tenho, que sinto, que continuamente busco. De sua imortalidade é que eternizo também o amor que viverá em mim até que os dias me chamem, deixando na terra o amor semeado.

E não se poderia esquecer que o amor é presença constante e renascimento, espiritualidade que se eterniza naqueles que amam.

Rangel Alves da Costa

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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